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DANIEL MURARO GERMINAÇÃO EM SUBSTRATOS ALTERNATIVOS AO XAXIM E ASPECTOS FENOLÓGICOS E REPRODUTIVOS DE Vriesea incurvata Gaudich.: SUBSÍDIOS À PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL CURITIBA - PR

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DANIEL MURARO

GERMINAÇÃO EM SUBSTRATOS ALTERNATIVOS AO XAXIM E ASPECTOS FENOLÓGICOS E REPRODUTIVOS DE Vriesea incurvata

Gaudich.:SUBSÍDIOS À PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL

CURITIBA - PR

2006

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DANIEL MURARO

GERMINAÇÃO EM SUBSTRATOS ALTERNATIVOS AO XAXIM E FENOLOGIA REPRODUTIVA DE Vriesea incurvata Gaudich.:

SUBSÍDIOS À PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL

Dissertação apresentada ao Programade Pós-Graduação em Agronomia, áreade concentração em Produção Vegetal,Departamento de Fitotecnia eFitossanitarismo, Setor de Ciências Agráriasda Universidade Federal do Paraná, comoparte das exigências para obtenção do titulode Mestre em Ciências Agrárias.

Orientadora: Profa. Dra. Raquel R. B. Negrelle

Co-orientadora: Dra. Solange R. Zaniollo

Curitiba2006

TERMO DE APROVAÇÃO

DANIEL MURARO

GERMINAÇÃO EM SUBSTRATOS ALTERNATIVOS AO XAXIM E

ASPECTOS FENOLÓGICOS E REPRODUTIVOS DE Vriesea incurvata Gaudich.:

SUBSÍDIOS À PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL.

Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre noPrograma de Pós-Graduação em Agronomia, área de concentração em produçãovegetal, do Departamento de Fitotecnia e Fitossanitarismo, Setor de CiênciasAgrárias da Universidade Federal do Paraná, pela seguinte banca examinadora:

Profª. Dra. Raquel Rejane Bonato NegrelleOrientadora e Presidente – Laboratório OIKOS, UFPR

Profª. Dra. Márcia M. C. MarquesPrimeira Examinadora

Profª. Dra. Adriana Martinelli SenemeSegunda Examinadora

Curitiba, 14 de fevereiro de 2006

ii

À minha mãe Leocádia, pela sua ajuda inestimável

compreensão e fé, a meu pai Amado, pelo exemplo de perseverança,

E a todos os amigos que ajudaram com as “pedras no caminho”.

DEDICO

AGRADECIMENTOS

À Deus, por tudo que colocou no meu caminho.

À Profa. Dra. Solange Ribas Zaniolo, pela co-orientação.

Ao Prof. Henrique Soares Koehler pelo auxílio nas análises estatísticas;

À Profa. Fernanda Rita Aguiar Zambon pela amizade ajuda e compreensão

À Direção do Parque Florestal do Rio da Onça, pelo apoio e infra-estrutura

disponibilizada;

À Gisele M. A. C. Lorenzi pelos auxílios prestados ao longo do curso, e em

especial na finalização dos trabalhos;

À Luciane Roswalka pela grande ajuda, amizade e companheirismo;

À Adilson Anacleto pela grande amizade, ajuda nos trabalhos e apoio;

Aos amigos estagiários do Laboratório OIKOS: Claudinei C, P, Ribas,

Luciana Lopes Corrêa, Betina Bruel, Gustavo Seixas, Marilia de Fátima Ceccon,

Thiago Piazzetta Valente, Rosemari Morokawa e Elaine Pinto, pelo auxílio prestado;

À Fabrício Vieira Crisanto pelo auxílio nos trabalhos na floresta;

À Lucimara Antunes, secretária do curso de Pós-Graduação, pelo seu

sempre pronto atendimento, dedicação e amizade;

Aos amigos e companheiros do Curso da Pós-Graduação, pelos laços de

amizade criados;

Ao Departamento de Fitotecnia e Fitossanitarismo e a coordenação do curso

de Pós-Graduação em Agronomia/Produção Vegetal da Universidade Federal do

Paraná pela oportunidade da realização do curso;

Especialmente, à Profª. Dra. Raquel R. B. Negrelle, pela oportunidade única,

orientação, inúmeras sugestões, paciência, amizade, e compreensão.

iv

Os imensos corredores

Cheiram sabedoria

Tlek tlek dos tamancos no tablado

Loucura?... Magia?...

E cai a tarde

E a mente invade

Em busca do saber grafado

Que só, ficou

Na lousa fria

Daniel Muraro

BIOGRAFIA DO AUTOR

Daniel Muraro, filho de Amado Muraro e Leocádia M. Muraro, nascido em

Curitiba PR aos quatro dias do mês de agosto de 1971, cursou o primeiro grau na

Escola Estadual Ângelo Volpato e o segundo grau no Colégio Estadual Professor

Francisco Zardo, ambos em Curitiba (PR).

Em 1996 cola o grau de Engenheiro Agrônomo pela Universidade Federal

do Paraná. Neste mesmo ano inicia sua atividade profissional como empresário na

área de piscicultura e como consultor técnico na área agrícola.

Em 2003 inicia o Curso de Mestrado em Agronomia - Produção Vegetal, na

Universidade Federal do Paraná. Também assume o cargo de professor substituto

na disciplina de Olericultura desta mesma instituição.

vi

SUMÁRIO

Lista de figuras.......................................................................................................... viiiLista de tabelas........................................................................................................... ixRESUMO xIntrodução 1

Local de estudo........................................................................................................ 6Vriesea incurvata Gaudich.: Aspectos botânicos, ecológicos e usos.................... 13

1 Aspectos fenológicos e reprodutivos de Vriesea incurvata Gaudich...................... 22Resumo ................................................................................................................. 22Introdução.............................................................................................................. 26Material e Métodos................................................................................................. 28Resultados............................................................................................................. 31Discussão............................................................................................................... 35Considerações....................................................................................................... 39

2 Vriesea incurvata GaudIch. (Bromeliaceae): germinação em diferentes substratosalternativos à fibra de xaxim................................................................. 44

Resumo ................................................................................................................. 44Introdução ............................................................................................................. 46Material e métodos................................................................................................. 48Discussão............................................................................................................... 56Conclusões............................................................................................................. 59

CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES................................................. 64

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Localização do Parque Estadual do Rio da Onça (América do Sul, Brasil,Paraná, Matinhos) e da área de estudos dentro do Parque...................8

Figura 2 – Dados climáticos históricos 1998 – 2003, média mensal de precipitação ede 2000 a 2003 média mensal de temperatura (Fonte:SIMEPAR,Guaratuba).............................................................................................. 9

Figura 3 - Dados de precipitação média, de temperatura máxima, média e mínimapara o ano de 2004 (Fonte SIMEPAR Guaratuba) .............................10

Figura 4 - Fotoperíodo mensal anual (Fonte: Sunrise & Sunset (2005).................... 10Figura 5 – Detalhe da vegetação na área do Parque Estadual do Rio da Onça, com

a comum ocorrência de bromélias (Foto: Adilson Anacleto – Matinhos-PR - 29/03/2005).................................................................................. 12

Figura 6 – Detalhe de Vriesea incurvata Gaudich. em condições naturais (Foto:Adilson Anacleto – Matinhos–PR - 29/03/2005)................................... 14

Figura 7– Vriesea incurvata Gaudich.: a) detalhe da flor; b) detalhe do fruto (Foto:Adilson Anacleto – Matinhos–Paraná - 16/04/2004 e 23/10/2004)...... 16

Figura 1.1 – Fenofases apresentadas por Vriesea incurvata Gaudich. (janeiro adezembro/2004), em área representativa de regeneração moderado-avançada de Floresta Ombrófila Densa Aluvial (Matinhos, Paraná).... 32

Figura 1.2 – Vriesea incurvata Gaudich. a) detalhe da inflorescência; b) detalhe dadispersão de sementes. (Foto: Daniel Muraro, Matinhos PR23/10/2004).......................................................................................... 33

Figura 2.1– Dados do monitoramento climático na estação meteorológica do ParqueRio da Onça para o período de realização de experimento degerminação e sobrevivência de plântulas de Vriesea incurvataGaudich. em diferentes substratos. Matinhos (PR), outubro –dezembro/ 2003.................................................................................... 49

Figura 2.2 – Experimento sobre germinação de Vriesea incurvata Gaudich.: a)sementes b) vasos com diferentes substratos (b1 – casca de Pínushumificada, b2– casca de pínus; b3 – fibra de coco, b4 – fibra dexaxim, b5 – serapilheira); c) proteção de tela utilizada nos vasos; d)vasos fixados aos forófitos (parte mediana) sob dossel (ParqueEstadual Rio da Onça, Matinhos, PR; 2003. Fotos: Daniel Muraro15/10/2003).......................................................................................... 51

Figura 2.3 – Vriesea incurvata Gaudich. plântulas de V. incurvata sobre substratocasca de pínus (Experimento sobre germinação; Parque Estadual Rioda Onça, Matinhos, PR; outubro- dezembro/2003. Fotos Daniel Muraro– Matinhos-PR – 15/10/2003)............................................................... 55

viii

LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 - Correlações de Spearman (rs) entre as fenofases observadas para V.incurvata Gaudich. e as variáveis climáticas (jan-dez/2004). (NS= nãosignificativo/ p< 0,05)............................................................................ 34

Tabela 1.2 - informações fenológicas obtidas junto aos herbários do MuseuBotânico Municipal(MBM) e Universidade Federal do Paraná (UPCB)....35

Tabela 2.1 – Síntese dos resultados de germinação de sementes de Vrieseaincurvata Gaudich. (Bromeliaceae) em cinco diferentes substratos.Matinhos (PR), Outubro a Dezembro 2003. (n=25).............................. 55

Tabela 2.2 – Resumo da análise de variância da germinação de sementes deVriesea incurvata Gaudich. (Bromeliaceae) em seis tipos diferentes desubstrato............................................................................................... 56

Tabela 2.3 – Tempo médio (t) e velocidade média de germinação (v), comrespectivas variâncias (s2t; s2v), para sementes de Vriesea incurvataGaudich. (Bromeliaceae) submetidas a diferentes substratos. Matinhos(PR), Outubro – Dezembro / 2003........................................................ 56

GERMINAÇÃO EM SUBSTRATOS ALTERNATIVOS AO XAXIM E FENOLOGIAREPRODUTIVA DE Vriesea incurvata Gaudich.: SUBSÍDIOS À PRODUÇÃO

SUSTENTÁVEL.

RESUMO

Apresenta-se resultados de pesquisa sobre aspectos fenológicos e

reprodutivos e germinação em diferentes substratos de Vriesea incurvata Gaudich.,

planta ornamental alvo de extrativismo indiscriminado e cuja produção comercial é

ainda incipiente. Visou-se gerar subsídios para a proposição de plano de manejo

sustentável ou a implantação de sistema de cultivo para essa espécie que figura

entre as dez bromeliáceas mais extraídas e comercializadas no litoral do Estado do

Paraná. Registraram-se a ocorrência das fenofases de floração, frutificação,

dispersão e emissão de brotos laterais, e as correlações destas com as variáveis

climáticas temperatura, precipitação e fotoperiodo. Paralelamente avaliou-se o

número de frutos formados e quantidade de sementes. Realizou-se o teste de

germinação em diferentes substratos sob dossel em área correspondente a fase de

regeneração moderado-avançada de Floresta Ombrófila Densa Aluvial no Parque

Estadual do Rio da Onça (Matinhos-PR). Os resultados são apresentados

seqüencialmente nos capítulos que compõem esta dissertação incluindo descrição

detalhada do local de estudo e revisão de literatura no que concerne a aspectos

botânicos e ecológicos da espécie estudada.

Palavras-chave: bromélias, plantas ornamentais, produção vegetal,

produtos vegetais não madeiráveis, conservação ambiental.

x

GERMINATION IN ALTERNATIVE SUBSTRATA TO XAXIM AND REPRODUTIVEFENOLOGY OF Vriesea incurvata Gaudich.: SUBSIDIES TO THE

SUSTAINABLE PRODUCTION.

The results of a phenology and germination study of a bromeliad species (Vrieseaincurvata Gaudich.) are presented. This is an ornamental plant threatened byindiscriminate exploitation of natural areas and almost none commercial production.The main objective was to provide scientific basis for the establishment ofmanagement plans and/ or for the implementation of cultivation systems of thisspecies, which is among the ten most extracted and commercialized bromeliads inthe costal area of Paraná State. Flowering, fructification, seed dispersal andsprouting were monitored, and the correlated with precipitation and photoperiod.Fruits and seeds production were quantified and seed germination was tested indifferent subtracts under forest canopy (moderate-advanced regeneration stage ofAlluvial Dense Ombrophilous Forest at Rio da Onça State Park – Matinhos, Parana,Southern Brazil). The results of those studies are presented in the chapters thatcompose this dissertation including a detailed description of the study area and aliterature revision concerning the ecological and botanical aspects of the studiedspecies.Key words: bromeliads, ornamental plants, plant production, non-wood forestproducts, and environment conservation.

Keywords: bromeliads, ornamental plants, plant production, non timber

forest products, environmental conservation.

Introdução

Bromeliaceae constitui uma grande família botânica (56 gêneros e 2880

espécies) composta principalmente por plantas epífitas (Benzig, 2000), crescendo

quase que exclusivamente apenas nas Américas, sendo portanto designados

como neotropicais. A maioria destes ocorre na América do Sul com a maior

diversidade específica sendo encontrada na Floresta Atlântica brasileira (ca. 1200

espécies) (Leme, 1998; Aragão, 1999; Grossi, 2000; Benzig 2000). Distribuem-se

desde o Chile e Argentina, na América do Sul, através da América Central e

Caribe, alcançando o seu limite norte próximo à Virginia no sudeste norte-

americano. Apenas uma espécie (Pitcairnia feliciana (A. Chev.) Harms e Mildbraed)

é encontrada na costa oeste africana.

A quase totalidade dos representantes desta família são classificados

como organismos fitotelmos com ramets rosulados - plantas formadoras de

rosetas. Nas cisternas ou tanques, formados pelo imbricamento das folhas destes

indivíduos, é comum o acúmulo de água que suporta uma variedade de outros

organismos incluindo algas, protistas, invertebrados e vertebrados (Wheeler, 1921

e 1942; Laessle, 1961; Dejean e Olmsted, 1997; Wittman, 2000; Dias e Brescovit,

2004). Hadel (1989) descreveu 27 tipos diferentes de organismos associados a

estes pequenos corpos d’água. Em alguns casos, estão presentes orquídeas e

algumas aráceas como Philodendron selloun e P. melanorrhizum (Reitz, 1983;

Kalifa, 1995; Pompelli, 2002).

Estes organismos, genericamente designados “bromélias”, podem ser

encontrados desde o nível do mar até acima de 4.000 m. Também, distribuem-se

em uma grande variedade de habitats, desde desérticos quentes e secos até

florestas úmidas e regiões montanhosas mais frias (Benzig, 2000; BSI, 2005). É,

também, bastante variada a gama de situações de crescimento destes

organismos, incluindo espécies terrícolas assim como saxícolas e rupícolas. Os

organismos epifíticos são encontrados sobre outras plantas, geralmente arbóreas,

arbustivas ou cactáceas mas, algumas vezes, são encontrados sobre linhas de

transmissão ou postes. Esta capacidade de captar nutrientes e água da atmosfera

determinou a designação de “plantas do ar” ("Air Plants") aplicada às bromélias

(BSI, 2005).

O corpo de tamanho reduzido, hábito rizomatoso, caule fitotélmico,

tricomas para absorção foliar, fotossíntese via CAM, suculência e outras

adequações xeromórficas são características que determinam o sucesso de

colonização das bromélias em ambientes e situações tão diversos e,

freqüentemente, estressantes (Benzig, 2000).

Bromeliaceae possui uma longa história de uso etnobotânico,

especialmente associada aos povos pré-hispânicos americanos. Pelo menos nove

categorias de usos não exclusivos podem ser associadas a esta família, incluindo

ser fonte de fibras, alimentos, forragem e medicamentos além de uso ornamental e

místico (Bennett, 2000). Estas categorias refletem, principalmente, antigas

aplicações e percepções indígenas e nem sempre coincidem com o seu uso

moderno (Benzig, 2000).

O abacaxi (Ananas comosus (L.) Merr.), único representante da família

cultivado como fonte de alimento, está fortemente associado à história dos povos

das Américas tanto como alimento quanto como elemento simbólico de rituais

(Levins, 2005). Espécies de bromélias têm sido empregadas pelos aborígenes

americanos como fontes de fibras desde antes da chegada de Colombo ao Novo

Mundo. Entre estas, cita-se o próprio abacaxi (Brucher, 1989; Bennet, 1992b);

Aechmea magdalenae (André) André ex Baker (Ticktin et al., 2003; Ticktin e

Nantel, 2004 ); Tillandsia usneoides (L.) L. (Bennett, 1986; Mabberley, 1987) e

Neoglaziovia variegata (Arruda) Mez (Benzig, 2000; BSI, 2005).

Os frutos do abacaxi também contêm uma enzima denominada bromelina

que os protege de predação por larvas de insetos e cuja importância está em

ascenção devido a sua aplicabilidade na indústria farmacêutica (face a sua

atividade anti-helmíntica, antinflamatória e anti-cancerígena) e na indústria química

(amaciante de carnes vermelhas, hidrolizante de complexos proteína-taninos na

produção de cerveja, pães, leite de soja e ovos desidratados) (Freiman e Sabaa

Srur, 1999). Uma outra enzima denominada hemisfericina, produzida por

representantes do gênero Bromelia apresenta também grande potencialidade de

ser usada nestes mesmos segmentos industriais (Cathcart, 1995).

Nas últimas décadas, as bromélias tornaram-se mais amplamente

empregadas como plantas ornamentais. Originalmente encontradas apenas em

2

jardins botânicos ou de colecionadores europeus, ganharam popularidade entre

paisagistas e jardineiros devido à beleza de suas formas e cores, durabilidade das

inflorescências, baixa demanda de cuidados e fácil adaptabilidade a jardins

pequenos (Benzig, 2000; Kiss, 2001; BSI, 2005; Schoellhorn, 2005). Hoje as

bromélias são consideradas como elementos requintados e exóticos de jardins ao

redor do mundo (ver Steens, 2003 e Brandies, 2004).

O uso ornamental de bromélias no Brasil foi iniciado a partir da década de

setenta, quando Aechmea fasciata (Lindley) Baker, uma planta nativa do Rio de

Janeiro, despertou grande procura por parte de consumidores de plantas

ornamentais. A insuficiência de produção de plantas desta espécie provocou o

extrativismo, que também se difundiu para outras espécies de menor expressão

comercial. Iniciava-se nesta época, portanto, o ciclo de extrativismo de bromélias

com finalidade lucrativa no Brasil. Este processo, primeiramente observado no Rio

de Janeiro, também ocorreu em vários outros Estados (Coffani-Nunes, 1997).

Frente à crescente demanda associada à alta disponibilidade de bromélias em

ambiente natural e o acesso amplamente facilitado à estas, o extrativismo de

bromélias no Brasil teve contínua ampliação e pouco investimento se fez no

sentido de implementar sistemas de cultivo destas plantas (SBB, 2005). Esta ação

predatória, associada à redução e fragmentação da Floresta Atlântica, sem a

reposição natural dos estoques nas florestas, provocou grandes danos ambientais,

entre estes a redução da diversidade específica de bromélias e de outras espécies

co-existentes (ver Nahoum, 1994; Leme, 1998 e Anacleto, 2001).

Em 1990, registra-se que várias espécies de bromélias estavam

ameaçadas de entrar em processo de extinção como, por exemplo: Aechmea

apocalyptica Reitz e Vriesea pinottii Reitz (Brasil, 1992). Dentre as 107 espécies

oficialmente listadas como extintas ou ameaçadas de extinção em Brasil (1992), 15

são bromélias. Vários outros registros originados em nível estadual também

explicitam situação análoga (e.g.SEMA/SP, 2004).

Um efeito paralelo da exploração extrativista de bromélias é o impacto

severo sobre o xaxim – Dicksonia selowiana (Presl.) Hook.– uma samambaia

primitiva arborescente – cuja parte aérea é fonte das fibras utilizadas como

substrato para bromélias (e orquídeas). Esta espécie nativa da Floresta Atlântica

está inserida em listas oficias nacionais e internacionais de espécies altamente

ameaçadas de extinção devido à intensa exploração comercial relacionada a

produção de flores e jardinagem (ver IBAMA, 2005b).

Especificamente no que tange ao Estado do Paraná, observa-se que os

níveis de extrativismo de bromélias também são alarmantes. Levantamentos

efetuados pela EMATER-PARANÁ (1999) no Município de Guaratuba apontam

que, somente em 1999, foram retiradas da Floresta Atlântica cerca de 200.000

exemplares. A comercialização destas plantas movimentou aproximadamente R$

550.000,00. Reforçando este quadro, em Bittencourt et al. (2002) registra-se que

em 2001 foram retiradas em torno de 150.000 plantas das unidades de

conservação do Estado do Paraná. Tanto o extrativismo quanto a comercialização

de bromélias são realizados, geralmente, por pequenos agricultores inseridos em

comunidades de baixa renda na zona litorânea que vêem neste produto uma

alternativa de incremento na sua renda precária.

Simultaneamente ao extrativismo de bromélias, ocorre a exploração de

outras espécies florestais que também possuem interesse econômico. Entretanto,

estas atividades no litoral do Paraná são procedidas de maneira ilegal na medida

que são executadas sem plano de manejo e sem autorização das entidades legais

competentes, neste caso representado pelo Instituto Ambiental do Paraná –IAP

(Anacleto, 2001). Também, a comercialização das bromélias oriundas do

extrativismo é praticada por um preço insatisfatório em função da baixa qualidade

visual que as plantas apresentam, uma vez que estas são retiradas das florestas e

disponibilizadas para venda sem que recebam tratos culturais adequados. Assim,

passa a ser uma atividade fortuita e sem eficiente conexão com potenciais

mercados receptores e sem regularidade de comercialização, porém mesmo assim

determina um expressivo acréscimo financeiro nas famílias envolvidas com o

extrativismo, ampliando desta forma a pressão extrativista (Negrelle et al., 2005).

Neste sentido, este trabalho apresenta os resultados de estudos

ecológicos e agronômicos de Vriesea incurvata Gaudich. Buscou-se fornecer

subsídios para o estabelecimento de sistemas de cultivo e manejo sustentável

desta espécie considerada de grande potencial ornamental (Kämpf e Ordovas,

1994) e uma das preferidas pelo mercado consumidor (Angerami, 1999), figurando

entre as dez bromeliáceas mais extraídas e comercializadas no litoral do Estado do

Paraná (Negrelle et al., 2005) Entretanto, não existe produção comercial suficiente

para atender a demanda de mercado e desta forma sua exploração tem sido

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fortemente dependente do extrativismo (Kämpf e Ordovas, 1994, Negrelle et al.

2005). Como resultado, esta espécie já tem sido reportada como ameaçada de

extinção em algumas regiões de sua ocorrência natural (SEMA-PR, 1995). Por

outro lado, registra-se uma grande lacuna de conhecimento ecológico e

agronômico imprescindíveis para embasar a elaboração de planos de manejo para

a exploração sustentável desta espécie.

Os resultados desta pesquisa são apresentados seqüencialmente nos

capítulos que compõem esta dissertação incluindo descrição detalhada do local de

estudo e revisão de literatura de V. incurvata no que concerne a aspectos

botânicos, ecológicos e uso ornamental.

No capítulo 1 apresenta-se os resultados de pesquisa exploratório-

descritiva abrangendo o monitoramento dos fenômenos fenológicos e da

quantificação da produção de sementes de V. incurvata. O registro da variação das

características fenológicas das espécies é de suma importância, não só pela

compreensão da dinâmica das comunidades florestais, mas também como

indicador da resposta destes organismos às condições climáticas e edáficas de um

determinado local ou região (Fournier, 1974), sendo fundamental para o

entendimento da ecologia evolutiva de muitas espécies (Santos, 2001). O

conhecimento da dinâmica fenológica é, portanto, indispensável para a elaboração

de estratégias de conservação e manejo de espécies.

O capítulo 2, versa sobre estudo da germinação de sementes de V.

incurvata. As tentativas de produção desta espécie por sementes têm ocorrido de

forma empírica utilizando-se substrato a base de pó de xaxim que, por sua vez,

tem restrições legais de uso por ser uma espécie ameaçada de extinção (ver

Brasil, 1992; IBAMA, 2005a). Frente a esta problemática, este estudo objetivou

avaliar a germinação em diferentes tipos de substratos que pudessem ser

alternativos ao pó de xaxim, porém de fácil acessibilidade aos potenciais

produtores e que pudessem ser utilizados em situação ambiental e infra-estrutura

similar à geralmente encontrada pelas comunidades litorâneas envolvidas com o

extrativismo desta espécie.

Conclui-se o presente documento apresentando um conjunto de

recomendações visando contribuir para a implementação de programas de

extrativismo ou cultivo sustentável de Vriesea incurvata Gaudich. no litoral do

Paraná.

Local de estudo

Parque Florestal Rio da Onça

O Parque Estadual Rio da Onça (Matinhos, PR, 25º 50‘ S e 48º 30’ W),

criado pelo Decreto nº 3.825 de 04 de junho de 1981, localiza-se na planície

litorânea paranaense praticamente ao nível do mar (2 – 3 m s. n. m.), a cerca de

400 m da linha de maré (Figura 1). Nesta porção litorânea, a Floresta Ombrófila

Densa Aluvial intercala-se com áreas de formação pioneira, representadas por

caxetais, brejos graminóides e restingas, resultantes das linhas de acumulações

arenosas provocadas pelo recuo do mar no quaternário recente (Roderjan, 1980).

Durante anos de exploração, a planície litorânea do Estado do Paraná,

teve a maior parte de sua vegetação original destruída para dar lugar a cultivos

agrícolas, sendo que a quase totalidade das áreas de florestas hoje existentes

ocorrem devido à regeneração natural a partir do abandono da atividade agrícola

(Roderjan, 1980). Este cenário se confirma na área do Parque Estadual do Rio da

Onça. Através de relatos de funcionários e também de fotos históricas expostas no

local, é possível detectar que esta área, há cerca de vinte e cinco anos atrás, foi

utilizada para cultivo e extração de madeira - principalmente a Tabebuia

cassinoides (Lam.) DC. (caxeta), e também para criação extensiva de bubalinos.

Mais recentemente, há cerca de cinco anos, parte desta mesma área abrigou um

depósito de lixo proveniente do Município de Matinhos e seus balneários, existindo

ainda restos visíveis de lixo em alguns locais do parque.

Desta forma, atualmente, a área correspondente ao Parque abriga

diferentes estádios sucessionais de Floresta Ombrófila Densa Aluvial, intercalados

a áreas de formações pioneiras. A vegetação é muito heterogênea e varia de

acordo com o tamanho de antigas clareiras e respectivo grau de recuperação

destas. Nas áreas correspondentes a porções mais maduras de Floresta Ombrófila

Densa Aluvial, representadas por associação arbórea de dossel irregular variando

entre 12 a 16 metros de altura, emergem Clusia criuva Camb. (manguirana),

Calophyllum brasiliense Camb (guanandi), Andira anthelminthica Benth. (jacarandá

6

lombrigueiro). No estrato de 8 metros surgem Pera glabrata (Schott) Poepp. ex

Baill. (tabocuva), Psidium cattleianum Sabine (araçá) e Inga subnuda Salzm ex

Benth. (ingá). Nas áreas alagadiças, há dominância de Tabebuia cassinoides

(Lam.) DC. (caxeta). O sub-bosque é relativamente aberto, o extrato herbáceo-

arbustivo é composto basicamente por bromeliáceas terrestres em especial

Nidularium inocentti Lem., pteridófitas alem da ocorrência esporádica de

palmáceas.

As áreas de restinga correspondem à vegetação desenvolvida sobre a

acumulações arenosas de antigas dunas, constituídas por um estrato arbóreo

denso e de porte reduzido, composto por Ilex theazans Mart (caúna), Psidium

cattleianum Sabine (araçá), entre outras (Roderjan, 1980). Nas áreas de solo com

melhor drenagem é comum a presença de bromélias terrícolas que ali se

desenvolvem, sendo que grande parte destas corresponde a re-alocação de

plantas apreendidas pelo Instituto Ambiental do Paraná durante a fiscalização.

Os solos da região onde o Parque está inserido são classificados como

espodossolos e espodossolos cárbicos ocorrendo ainda neossolos quartzênicos e

também solos orgânicos (EMBRAPA, 2000). A topografia é caracterizada por

planície de pequena declividade onde ocorrem cordões litorâneos poucos visíveis

devido a atividades antrópicas, determinando um relevo com ondulações

pequenas, com áreas mais baixas de drenagem lenta e susceptível ao constante

alagamento e áreas com drenagens perfeitas (Barbosa, 2002).

O clima da região de Matinhos, tipo Af segundo a classificação de

Köeppen, é tropical superúmido, sem estação seca e isento de geadas, com

temperatura média no mês mais frio, nunca inferior a 18º C. A precipitação média

anual é de 2100 mm, sendo a precipitação nos meses mais secos (maio a agosto)

superior a 60 mm. No verão, a precipitação é mais regular e intensa atingindo

valores superiores a 800 mm no trimestre. A umidade relativa do ar é elevada, em

torno de 85% (IAPAR, 1994).

Figura 1 – Localização do Parque Estadual do Rio da Onça (América do Sul, Brasil, Paraná,Matinhos) e da área de estudos dentro do Parque.

Dados climáticos históricos de 1998 até 2003, obtidos junto à estação

metereológica do SIMEPAR (Sistema Metereológico do Paraná) em Guaratuba,

(25º 86’ S, 48º 56’ W), distantes 10 Km aproximadamente da área de estudos,

confirmam este padrão de clima quente e úmido. A precipitação foi maior durante

os meses de verão, podendo atingir valores próximos aos 400 mm de chuva ao

mês, com uma acentuada queda durante os meses de inverno. A temperatura

8

média anual registrada de 2000 à 2003 se manteve próxima aos 20º C, com um

ligeiro aumento nos meses de verão, podendo chegar aos 25º C. No inverno, a

temperatura mínima registrada foi próxima à 10º C (Figura 2).

O ano de 2004 que corresponde ao período de estudo, mostrou-se atípico

com elevada precipitação para o outono e inverno e variações durante o verão com

meses de precipitação superior à média e outros inferiores, bem como a

temperatura se manteve maior que a média histórica praticamente durante todos

os meses desse ano (Figura 3).

O fotoperíodo, para esta região onde insere-se o Parque, apresenta uma

variação de aproximadamente 14 horas de luz no verão para pouco mais de 8

horas durante o inverno (Figura 4).

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

PP c

m

0

5

10

15

20

25

30

35

T ºc

PP 98/2003/cm T 2000/2003 MÉD,

Figura 2 – Dados climáticos históricos 1998 – 2003, média mensal de precipitação e de 2000 a2003 média mensal de temperatura (Fonte:SIMEPAR, Guaratuba)

0

5

10

15

20

25

30

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

T ºc

0

5

10

15

20

25

30

35

PP c

m

PP 2004 T med 2004 T min 2004 T max 2004

Figura 3 - Dados de precipitação média, de temperatura máxima, média e mínima para o ano de2004 (Fonte SIMEPAR Guaratuba)

00:00,0

02:52,8

05:45,6

08:38,4

11:31,2

14:24,0

17:16,8

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Com

p di

a (h

oras

)

Figura 4 - Fotoperíodo mensal anual (Fonte: Sunrise & Sunset (2005).

Na área do Parque existem trilhas que recortam a vegetação e são

destinadas a facilitar tanto a visitação quanto atividades educativas. A sede

administrativa localiza-se próxima à entrada do parque cerca de 400 m da rodovia

entre Matinhos e Paranaguá.

10

O Parque é administrado por um gerente, que permanece na sede e conta

com dois guarda-parque que trabalham em sistema de revezamento. A visitação é

permitida de terça-feira a domingo, sendo maior no período de verão quando a

população de Curitiba desce para os balneários atingindo algo em torno de 6000

visitantes (SEMA Matinhos, 2003).

A escolha do Parque Estadual do Rio da Onça como área de estudo

deveu-se principalmente às suas características vegetacionais, dado que são

similares às encontradas em muitas outras regiões do litoral paranaense.

Adicionalmente, o Parque também ofereceu estrutura logística adequada à

pesquisa assim como segurança quanto a pressões extrativistas que pudessem

comprometer os experimentos.

Área de estudo

Para realização do estudo envolvendo experimentos de germinação e

monitoramento fenológico de Vriesea incurvata Gaudich., estabeleceu-se uma

parcela de 0,5 ha, localizada na margem direita do trecho mais distante da trilha de

visitação do Parque do Rio da Onça, em local denominado de “Trilha do Barro” há

aproximadamente 1144 m da sede. Nesta área, segundo entrevistas com

moradores locais, no período compreendido entre 1940 a 1950, foi praticado o

extrativismo de Tabebuia cassinoides (Lam.) DC. (caxeta), seguido de criação

extensiva de bubalinos. Finalmente, ocorreu o corte raso de todas as árvores e

implante de lavouras de arroz e mandioca para agricultura de subsistência. Estes

locais utilizados para a prática da agricultura foram abandonados totalmente na

década de 1970, em função dos constantes alagamentos devido à influência da

preamar. Quando da realização desta pesquisa, a vegetação correspondia à fase

de regeneração moderado-avançada de Floresta Ombrófila Densa Aluvial, com

cobertura arbórea e dossel parcialmente fechado. O seu interior era densamente

populado por pteridófitas, orquidáceas e bromeliáceas terrestres e epífitas,

assemelhando-se à formação primitiva, conforme descrito em Roderjan (1980)

(Figura 5).

Figura 5 – Detalhe da vegetação na área do Parque Estadual do Rio da Onça, com a comumocorrência de bromélias (Foto: Adilson Anacleto – Matinhos-PR - 29/03/2005)

O Relevo apresentava-se bastante irregular com topografia ondulada com

acúmulo constante de água e ausência de vegetação em alguns locais do sub-

bosque formando vazios de cinco a seis metros de diâmetro apenas recobertos

pelo dossel formado por plantas adjacentes, porém com a presença de muitas

raízes superficiais. Nos locais mais elevados e secos, observou-se acúmulo

acentuado de serapilheira e inúmeros troncos caídos, muitos deles totalmente

colonizados por pteridófitas, briófitas e principalmente bromélias. Nestes observou-

se presença de bromélias terrestres formando um verdadeiro “tapete verde”

preenchendo muitas vezes quase todos os espaços vazios.

12

Vriesea incurvata Gaudich.: Aspectos botânicos, ecológicos e usos

Classificação botânica

A descrição das bromeliáceas remonta ao final do século XVII, sendo

atribuída ao padre e explorador francês Charles Plumier. Este, ao se deparar com

um conjunto de plantas diferentes, resolveu batizá-las de bromélias em

homenagem ao botânico Sueco Olaf Bromel. Em 1789, Jussieu estabeleceu

formalmente a reunião destas plantas na família que designou por “Bromeliae”

(MOBOT, 2005; Anacleto, 2005). Atualmente Bromeliaceae é considerada a

segunda maior família de monocotiledôneas epífitas, sendo superada em número

apenas por Orchidaceae (Madison, 1977).

Bromeliaceae subdivide-se em três subfamílias: 1. Pitcairnoideae -

composta por plantas de hábitos exclusivamente terrícolas, cujas sementes aladas

são dispersas pelo vento, 2. Bromelioideae - engloba em sua maioria epífitas e

eventualmente terrícolas, com frutos em forma de baga que são dispersos por

animais e 3. Tillandsioideae - composta de plantas exclusivamente epífitas, com

sementes plumosas também dispersas pelo vento (Aragão, 1999; Benzing, 1980).

Paula e Silva (2004) citando revisão efetuada por Luther (2000), informam que a

família está constituída atualmente por 56 gêneros e 2880 espécies. Segundo

Leme e Marigo (1996), o Brasil conta com 1100 destas espécies.

O gênero Vriesea foi proposto por Lindley em 1843, homenageando o

botânico e físico holandês Willem Hendrik de Vriese. Este gênero engloba 31 257

espécies dispersas desde o México e Cuba até o sul do Brasil e nordeste da

Argentina (Reitz, 1983).

Vriesea incurvata (Figura 6), foi descrita por Gaudichaud em 1843, sendo

que o termo “incurvata” refere-se às suas brácteas aduncas semelhantes às garras

de leão (Reitz, 1983).

Figura 6 – Detalhe de Vriesea incurvata Gaudich. em condições naturais (Foto: Adilson Anacleto –Matinhos–PR - 29/03/2005)

Botanicamente, esta espécie está assim categorizada (MOBOT, 2005;

Plants Database, 2005):

Divisão Magnoliophyta

Classe Liliopsida

Subclasse Zingiberidae

Ordem Bromeliales, Domortier, 1829

Família Bromeliaceae Juss, A. L. de Jussieu, 1789.

Subfamília Tillandsioideae

Gênero Vriesea Lindl, 1843.

Vriesea incurvata Gaudichaud1

1 Publicado em: Voyage autour de Monde éxécuté pendant les Années 1836 et 1837 sur la Corvette la Bonite .. . Botanique pl. 68. 1843. {Voy. Bonite, Bot.}. Specimen tipo: Gaudichaud 120, sem data, Brasil: SantaCatarina: sem local, provavelmente Ilha de Santa Catarina.

14

Sinonímia (MOBOT, 2005)

Tillandia incurvata (Gaudich.) Baker

Vriesea psittacina var. truffautiana André

Vriesea rostrum – aquilae Mez

Vriesea truffautiana hort. ex Baker

Nomes populares em Santa Catarina – Gravatá, monjola, bromélia,

espada-de-Daví (Reitz, 1983).

Descrição botânica

Vriesea incurvata Gaudich. é uma planta herbácea de pequeno porte,

acaule, com até 50 cm de altura apresentando 10 ou mais folhas verde escuras,

lisas sem espinhos, escamadas de ambos os lados, medindo de 20 a 30 cm por 30

mm de largura, dispostas em forma de roseta formando assim um receptáculo

onde se acumula água (Reitz, 1983).

Apresenta poucas raízes, que podem alcançam de 10 – 20 cm e servem

mais para fixação que para a absorção de nutrientes (Kalife, 1995). Essa

funcionalidade pode ser influenciada pelo ambiente (Grossi, 2000), sendo que

muitas espécies quando cultivadas em vasos desenvolvem um sistema radicular

bastante eficiente (Kämpf e Ordovas, 1994).

A inflorescência é submultifloral, densa e sub-espigada, em geral com

cerca de 30 cm ou mais de altura e aproximadamente 7,5 cm de largura.

Apresenta brácteas sub-membranáceas, incurvas bem côncavas e carinadas com

uma forte coloração púrpura avermelhada e margens alaranjadas, que vistas de

perfil parecem garras de leão (Reitz, 1983).

As flores são zigomorfas, hermafroditas, com corola tubular e cálice

reduzido, com seis anteras e estigma com ampla superfície (Matos, 2000) (Figura

7a). Freqüentemente, ocorre formação de expressiva quantidade de óvulos por flor

(Reitz, 1983), sendo registrados em média 360,5 grãos de pólen para cada óvulo

formado (Matos, 2000). Esta taxa de produção de pólen é considerada como um

indicativo de polinização cruzada, registrada para a maioria das espécies de

bromélias (Reitz, 1983).

Os frutos são secos, deiscentes em forma de cápsula reta subcilíndrica,

maior que os sépalos e menores que as brácteas, com abertura longitudinal

(Figura 7b). Produz grande quantidade de sementes plumosas e dispersas pelo

vento (Matos, 2000; Reitz, 1983).

a b

Figura 7– Vriesea incurvata Gaudich.: a) detalhe da flor; b) detalhe do fruto (Foto: Adilson Anacleto –Matinhos–Paraná - 16/04/2004 e 23/10/2004)

Origem, distribuição e aspectos ecológicos

Vriesea incurvata Gaudich. é endêmica da Floresta Ombrófila Densa

Atlântica, distribuindo-se pelos estados do Rio Grande do Sul, Santa Cantarina,

Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro (Reitz, 1983; Fischer e Araújo, 1995).

Geralmente agrupadas em touceiras, são encontradas desde o nível do mar até

900 m de altitude, podendo ocorrer tanto em fundos de vale quanto em meia

encosta e topos de morro sem afloramento rochoso (Rogalski, 2002) preferindo,

porém, as florestas aluviais de planície ou início de encostas (Reitz, 1983).

Espécie epífita que prefere luz difusa, fixa-se principalmente na parte

inferior e mediana dos troncos ou galhos de árvores ou arvoretas e, muito

raramente, no solo (Reitz, 1983). Quando encontrada junto ao solo, geralmente

está sobre galhos caídos ou raízes expostas. A altura média de fixação varia de

acordo com o estádio de regeneração da floresta. Posiciona-se mais baixo na

floresta secundária (em torno de 2 m), quando comparada com a floresta primária

(em torno de 4 m) (Bonnet, 2001), sendo que a altura máxima de fixação pode

chegar a até 8 m (Fischer e Araújo, 1995).

16

Assim como outras bromélias, é classificada como semelpara (um único

evento de reprodução sexuada) e monocárpica (morre após este evento) (Sampaio

et al. 2005). Apresenta crescimento clonal, caracterizado pela produção repetitiva

(iteração) de unidades modulares não reprodutivas, ou unidades de construção,

que são morfologicamente semelhantes denominadas “ramets” (Harper, 1979;

Harper, 1985; Menescal, 1996). Estas unidades permanecem interligadas à planta

parental durante seu desenvolvimento e são interconectadas por caules

plagiotrópicos modificados (rizomas) chamados “espaçadores” (Bell, 1984), que

permitem o transporte de água, nutrientes e assimilados entre ramets (Pitelka e

Ashmun, 1985). Uma vez estabelecidos, podem formar novos indivíduos se

separados uns dos outros por processos naturais ou injúrias (Kays e Harper,

1974).

Usos e aplicações

Vriesea incurvata Gaudich. é usualmente empregada como planta

ornamental em função de sua rusticidade associada à beleza e longevidade do

escapo floral.

O tamanho reduzido (entre 30 – 40 cm de altura), arquitetura compacta,

folhas verdes, lisas, brilhantes e sem espinhos, que contrastam com a

inflorescência vermelha conferem à espécie características apropriadas para o

cultivo em vaso (Kämpf e Ordovas, 1994). A preferência desta planta por

ambientes de luz difuza (Reitz, 1983), lhe confere também aptidão para ser usada

em ornamentação de ambientes internos.

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1 Aspectos fenológicos e reprodutivos de Vriesea incurvata Gaudich..

Resumo

Apresentam-se resultados de monitoramento fenológico e quantificação da

produção de sementes de Vriesea incurvata Gaudich., realizados no Parque

Estadual Rio da Onça (Município de Matinhos/PR, 25º 50’S e 48º 30’ W). Foram

monitorados, de janeiro a dezembro de 2004, 30 indivíduos em área de 0,5 ha, em

parcela representativa da fase de regeneração moderado-avançada de Floresta

Ombrófila Densa Aluvial. Registraram-se a ocorrência das fenofases de floração,

frutificação, dispersão e emissão de brotos laterais. Paralelamente coletaram-se 30

inflorescências em duas oportunidades (agosto 2003 e 2004), sendo estas

avaliadas quanto ao tamanho, número de frutos formados e quantidade de

sementes. O início de floração foi evidenciado a partir de janeiro e fevereiro, com

pico em abril e maio. A frutificação e a emissão de brotos clonais iniciaram em abril

com pico em junho e julho e a dispersão teve início em agosto seguindo até

dezembro. Houve correlação positiva entre a fenofase de emissão de

inflorescência e o fotoperiodo observado três meses de antecedência (rs=0,69,

p<0,05) e temperatura registrada dois meses antes (rs=0,61, p<0,05).

A frutificação e emissão clonal apresentaram correlações negativas para

fotoperíodo durante o monitoramento (rs=-0,81, p<0,05) e (rs=-0,72, p<0,05),

positiva para quatro meses de antecedência (rs=0,59, p<0,05) e (rs=0,45, p<0,05)

sendo o mesmo para temperatura (rs=-0,62, p<0,05) e (rs=-0,58, p<0,05), (rs=0,61,

p<0,05) e (rs=0,51, p<0,05) respectivamente. O número médio de flores por

inflorescência (27,6 ± 4,32 flores; n= 30; máximo= 35; mínimo= 20; moda = 24,

para 2003 e 26,8 ± 4,03 flores; n= 30; máximo = 37; mínimo = 18; moda= 28, para

2004), foi bastante superior ao número médio de frutos (2,53 ± 2,53 frutos; n= 30;

máximo= 8; mínimo= 0; moda = 1, para 2003 e 2,60 ± 1,86 frutos; n= 30; máximo =

6; mínimo = 0; moda= 2, para 2004), não sendo detectada correlação entre

intensidade de produção de flores e produção de frutos. A produção média de

sementes foi similar nos dois anos analisados, (443,86 ± 250,67 sementes; n= 30;

máximo= 855; mínimo= 210; moda = 0, para 2003 e 549,33 ± 250,67 sementes; n=

30; máximo = 841 mínimo = 221; moda= 521, para 2004).

22

Palavras-chave: fenologia, Bromeliaceae; bromélia; planta ornamental; produto

vegetal não madeirável.

Abstract

It is presented the results of phenologic monitoration and quantification of

seed production of Vriesa incurvata Gaudich, carried out in the dependences of

State Park Rio da Onça, (city of Matinhos-PR, 25 ° 50´S and 48° 30´W). 30

individuals were monitorated, from January to December of 2004 in an area of 0,5

ha, in a representative parcel of the moderated-advanced regeneration stage of an

Alluvial Dense Ombrofilous Forest. It was registered the occurrence of floration,

fructification and dispersal phases and the emission of sprouts. Parallely, 30

inflorescences were collected in two opportunities (August 2003 and 2004), these

being evaluated in relation to size, number of developed fruits and seed quantity.

The beginning of floration was evidenced since January and February,

peaking in April and May. Fructification and the emission of clone sprouts began in

April peaking in June and July and dispersal had its beginning in August continuing

through December. It was observed positive correlations between the phenophases

of inflorescence emission and photoperiod observed three months of antecedence

(rs=0,69, p<0,05) and registered temperature two months (rs=0,61, p<0,05). The

fructification and emission of clone sprouts had presented negative correlation for

fotoperíodo during monitoration (rs=-0,81, p<0,05) and (rs=-0,72, p<0,05), positive

for four months of antecedence (rs=0,59, p<0,05) e (rs=0,45, p<0,05) being the

same for temperature (rs=-0,62, p<0,05) and (rs=-0,58, p<0,05), (rs=0,61, p<0,05)

and (rs=0,51, p<0,05), respectively. The mean number of flowers per inflorescence

(27,6 ± 4,32 flowers; n= 30; maximum= 35; mínimum= 20; mode = 24, for 2003 and

26,8 ± 4,03 flowers; n= 30; máximum = 37; mínimum = 18; mode= 28, for 2004),

was quite superior to the mean number of fruits (2,53 ± 2,53 fruits; n= 30;

máximum= 8; mínimum= 0; mode = 1, for 2003 and 2,60 ± 1,86 fruits; n= 30;

máximum = 6; mínimum = 0; mode = 2, for 2004), and it was not detected the

correlation between the intensity of flower production with fruit production. The

mean seed production was similar between the 2 years of study (443,86 ± 250,67

24

seeds; n= 30; máximum= 855; mínimum= 210; mode = 0, for 2003 and 549,33 ±

250,67 seeds; n= 30; máximum = 841 mínimum = 221; mode= 521, for 2004).

Key words: Phenology; Bromeliaceae; bromeliad; ornamental plant; non-

wood forest product

Introdução

Fenologia corresponde ao estudo dos eventos periódicos naturais que

ocorrem durante a vida das plantas, tais como floração, frutificação, brotação,

ramificação e abscisão foliar (Fournier, 1976; Volpe, 1992; Villalpando e Ruiz,

1993; Schwartz, 1999). A dinâmica fenológica pode ser influenciada por um

conjunto de fatores abióticos incluindo precipitação (Opler et al., 1976), estresse

hídrico (Borchert, 1980, Reich e Borchert, 1984), irradiação (Wright e van Schaik,

1994) e fotoperíodo (Rivera e Borchert, 2001), fatores estes que determinam a

variabilidade dos eventos fenológicos principalmente em têrmos de intensidade,

duração e periodicidade (vide Rathcke e Lacey; 1985; Ferraz e al.; 1999; Pedroni

et al., 2002). Condições endógenas das espécies e seus vetores ecológicos como,

por exemplo, a reprodução cruzada entre indivíduos e abundância de polinizadores

(Augspurger 1996), dispersores (Snow 1965) e predadores de sementes (Janzen

1971), também influenciam esta dinâmica.

O registro da variação das características fenológicas das espécies é de

suma importância, não só pela compreensão da dinâmica das comunidades

florestais, mas também como indicador da resposta destes organismos às

condições climáticas e edáficas de um determinado local ou região (Fournier,

1974), sendo fundamental para o entendimento da ecologia evolutiva de muitas

espécies (Santos, 2001). O conhecimento da dinâmica fenológica é, portanto,

indispensável para a elaboração de estratégias de conservação e manejo de

espécies. Aspectos da biologia reprodutiva, informações sobre sistema

reprodutivo, fluxo de pólem e sementes e ecologia da polinização e dispersão de

sementes são conhecimentos imprescindíveis também para a implementação de

programas de produção de espécies nativas. Entre outras coisas, este

conhecimento pode subsidiar a coleta de sementes de modo racional, na época

mais provável para cada espécie. Possibilita, também, avaliar a quantidade de

sementes produzidas pelas diferentes espécies além de fornecer informações

básicas sobre reprodução e crescimento (Mantovani et al., 2003; Mariot et al.,

2003).

26

A densidade e distribuição espacial dos indivíduos dentro de uma

população refletem a heterogeneidade de habitats e as interações sociais a que

esta população esta sujeita (Ricklefs, 2003). Adicionalmente, refletem também a

disponibilidade de determinado recurso de interesse comercial. Por sua vez, dados

fenológicos somados a quantificação da produção de semente fornecem um

panorama da dinâmica de crescimento e da oferta de determinado recurso. Desta

forma, a integração destes conhecimento gera indicativos importantes no contexto

do estabelecimento de planos de manejo de uma dada espécie.

As aplicações agronômicas da fenologia de plantas são amplas, das quais

se pode destacar a avaliação do desempenho de culturas; determinação de

exigências eco climáticas (caracterização das necessidades e sensibilidades das

espécies); determinação de períodos críticos; planejamento de culturas;

zoneamento agrícola e manejo de culturas (Bergamaschi, 2005).

Várias culturas de interesse agrícola no Brasil contam com escalas

fenológicas que orientam a produção, como por exemplo, a soja (Fehr e Caviness,

1977); o milho (Hanway, 1966; Fancelli, 1986); o trigo e outros cereais de estação

fria (Large, 1954) e o arroz (Arkansas Rice Check off EMBRAPA/ EPAGRI/ IRGA,

1999). Entretanto, para muitas outras espécies este conhecimento ainda é

escasso. Este é o caso dos representantes da família Bromeliaceae, persistindo

uma lacuna de conhecimento sobre sistemas reprodutivos e dinâmica fenológica

para a quase totalidade das espécies aí contidas, apesar do considerável interesse

hortícola que estas têm despertado (Kress, 1986; Martinelli, 1997; Siqueira Filho e

Machado, 2001). Em função de sua rusticidade e da beleza e durabilidade de suas

flores, registra-se espécies utlizadas como ornamentais em todos os gêneros de

Bromeliaceae encontrados no Brasil (Mercier e Guerreiro Filho, 1990). Porém,

devido à sua alta disponibilidade e fácil acessibilidade em ambiente natural, pouco

tem sido feito no sentido de estabelecer sistemas de cultivo de bromélias para

suprir a demanda crescente destas no mercado de plantas ornamentais. Assim, as

cadeias de comercialização da maioria das espécies de bromélias são fortemente

dependentes do extrativismo gerando pressões negativas adicionais e expondo

muitas destas espécies ao risco de extinção (Angerami, 1999; Anacleto, 2005).

Neste sentido, este trabalho apresenta os resultados de pesquisa

exploratório-descritiva abrangendo o monitoramento dos fenômenos fenológicos e

da quantificação da produção de sementes de Vriesea incurvata Gaudich. Visa-se

fornecer subsídios para o estabelecimento de sistemas de cultivo e manejo

sustentável desta espécie com grande potencial ornamental (Kämpf e Ordovas,

1994) e considerada uma das preferidas pelo mercado consumidor (Angerami;

1999), figurando entre as dez bromeliáceas mais extraídas e comercializadas no

litoral do Estado do Paraná (Negrelle et al., 2005) Entretanto, não existe produção

comercial suficiente para atender a demanda de mercado e desta forma sua

exploração tem sido fortemente dependente do extrativismo (Kämpf e Ordovas,

1994). Como resultado, esta espécie já tem sido reportada como ameaçada de

extinção em algumas regiões de sua ocorrência natural (SEMA-PR, 1995). Por

outro lado, registra-se uma grande lacuna de conhecimento ecológico e

agronômico imprescindíveis para embasar a elaboração de planos de manejo para

a exploração sustentável desta espécie.

Especificamente, buscou-se: a) avaliar densidade e distribuição espacial

de Vriesea incurvata Gaudich. em parcela representativa fase de regeneração

moderado-avançada de Floresta Ombrófila Densa Aluvial (Mun. Matinhos, PR); b)

monitorar os eventos fenológicos (floração, frutificação, dispersão e emissão

clonal), de modo a subsidiar a elaboração da escala fenológica para esta espécie;

c) quantificar a produção de sementes; d) confrontar os dados obtidos com dados

de monitoramento climático (temperatura, pluviosidade e fotoperíodo), visando

identificar potenciais determinantes da dinâmica fenológica observada; e) analisar

os dados obtidos, comparando-os aos citados na literatura pertinente, de modo a

identificar variações regionais.

Material e Métodos

Densidade e distribuição espacial

Para determinação da densidade e distribuição espacial, sub-divididiu-se a

área de estudo (0,5 ha) em 50 sub-parcelas de 10 x 10 m, promovendo-se duas

amostragens coincidentes com o pico de fase de emissão de escapos florais desta

espécie (abril de 2003 e abril de 2004). Em cada uma delas registrou-se a

28

ocorrência de todos os indivíduos2 de V. incurvata em fase reprodutiva presentes

nas distintas sub-unidades amostrais (reconhecidos pelo escapo floral). Indivíduos

vegetativos de V. incurvata não foram considerados nesta amostragem em virtude

da dificuldade para distinguí-los de outras espécies de Vriesea ocorrentes na

mesma área de estudo.

A distribuição espacial horizontal foi determinada com base na frequência

dos indivíduos inseridos nas sub-parcelas estabelecidas. Para análise dos dados

empregou-se o Índice de Morisita (Id) como proposto por Krebs (1989): Id = n (Σx2 -

Σx)/ ((Σx)2 -Σx), onde: n = número de parcelas; Σx = somatório do número de

plantas presentes nas parcelas estudadas; Σx2 = somatório do quadrado do número

de plantas por parcela. Adotou-se como critério para a caracterização da

distribuição espacial os valores de Id obtidos, sendo: Id = 1 – distribuição aleatória;

Id > 2 - distribuição agrupada; Id < 1 distribuição regular. Aplicou-se o teste de

significância do Id utilizando-se o teste Qui-quadrado (χ2), sendo χ2 = Id (Σx –1) + n

- Σx ∴ n=1 (graus de liberdade).

A distribuição espacial vertical baseou-se no registro da altura de fixação

da planta no forófito (estimativa visual) efetuado por ocasião das amostragens e

marcação das plantas para monitoramento fenológico.

Monitoramento fenológico

Durante o período de floração da espécie em 2003, 30 indivíduos foram

aleatoriamente marcados e, a partir de janeiro de 2004, iniciou-se o monitoramento

fenológico mensal destes indivíduos ocorrentes na parcela de estudo. Durante o

período de monitoramento (12 meses), registraram-se as variações fenológicas de

emissão de inflorescências, antese floral, produção de frutos, liberação de

sementes e emissão clonal.

Considerou-se início de emissão de inflorescência quando esta se

apresentava visível logo acima do término da roseta foliar. O aparecimento da

primeira flor aberta por inflorescência foi considerado como início da antese floral.

O registro da deiscência do primeiro fruto de cada escapo floral foi designado

como início de liberação de sementes (dispersão). Determinou-se como início da2 Em caso de indivíduos em touceiras, considerou-se um indivíduo cada unidade clonal que apresentavaescapo floral.

emissão clonal quando pode ser observada uma primeira folha do futuro clone na

axila da folha da planta matriz.

Os dados fenológicos obtidos (emissão de inflorescência, antese floral,

frutificação, emissão clonal e dispersão de sementes) foram correlacionados ao

dados climáticos (temperatura média, precipitação e fotoperíodo) utilizando-se a

correlação de Spearman (rs) que é recomendada para dados que não apresentam

distribuição normal (Zar 1999). Dado que as plantas podem apresentar resposta

fenológica atrasada a um dado estímulo ambiental (Marques et al., 2004),

verificou-se também a correlação entre a fenologia e as variáveis climáticas de um

a quatro meses anteriores às observações, conforme Marques e Oliveira (2004)

Paralelamente, buscou-se registrar informações sobre época de

frutificação e floração da espécie estudada em diversas fontes bibliográficas assim

como junto ao Herbário da Universidade Federal do Paraná (UPCB) e Herbário do

Museu Botânico Municipal de Curitiba (MBM) de modo a complementar a analise

fenológica, especialmente no que concerne à variações regionais.

Quantificação da produção de frutos e sementes

A produção de frutos e sementes foi avaliada em novembro de 2003 e

novembro de 2004, com o intuito de determinar a existência de possíveis variações

na produção anual, além de garantir-se maior segurança nos dados médios

obtidos. Em cada uma destas, 30 inflorescências coletadas aleatoriamente na área

de estudo, distintas das utilizadas para monitoramento fenológico, foram

acondicionadas em saco de papel e submetidas à secagem em estufa simples

durante um mês aproximadamente. Após a secagem, para cada inflorescência

coletada efetuou-se determinação de seu comprimento, número de total brácteas

presentes (utilizado como indicativo do número de flores, após a queda destas) e

número total de frutos.

Do total de frutos registrado nos escapos florais, 30 foram escolhidos

aleatoriamente, para determinação do número de sementes por contagem simples.

30

Resultados

Densidade e distribuição espacial

No total, 113 e 71 indivíduos reprodutivos foram identificados na área de

estudo em 2003 e em 2004, respectivamente.

Em ambos os censos, detectou-se padrão “agrupado” de distribuição

espacial horizontal (Id2003= 3,24; χ2= 158,27; Id2004= 2,18; χ2= 106,82), ou seja, os

indivíduos não estavam dispersos homogeneamente, mas, concentrados em

determinados locais na área de estudo.

Nesta área, observou-se que todos os representantes de V. incurvata

ocupavam o estrato inferior do sub-bosque (um a três metros acima do solo),

aderidos aos troncos e ramos de forófitos arbóreos. Apenas um indivíduo em

floração, em 2003, encontrava-se próximo ao solo sobre um tronco caído. Em

geral, as plantas apresentavam-se formando touceiras com número variado de

indivíduos clonais, registrando-se a existência freqüente de mais de uma touceira

em alturas distintas num mesmo forófito.

Monitoramento fenológico

De maneira geral, os eventos fenológicos correspondentes à emissão de

inflorescências, antese floral, frutificação, emissão clonal e dispersão ocorreram de

forma seqüencial, com marcada concentração temporal (Figura 1.1). O início da

emissão da inflorescência (Figura 1.2a) ocorreu em fevereiro, sendo este

fenômeno particularmente expressivo de março a maio quando a maioria dos

indivíduos amostrados apresentava escapo floral em distintos estádios de

desenvolvimento. Observou-se a produção de apenas um escapo por indivíduo.

Em junho, todos os trinta indivíduos monitorados apresentavam inflorescência

completamente desenvolvida. Durante o período de monitoramento (1 ano),

registrou-se apenas um evento de floração por indivíduo.

A antese ocorreu no sentido da base para o ápice da inflorescência, sendo

que logo após o termino da antese o escapo perdeu a coloração vermelho púrpura

característica,

Em maio registrou-se, também, o aparecimento dos primeiros clones em

quatro dos indivíduos monitorados. Em junho, verificou-se que apenas nove

plantas ainda não haviam iniciado a emissão de clones. Em julho, todos os 30

indivíduos apresentavam, em média 2 ± 0,37 emissões clonais, sempre em lados

opostos da roseta da planta matriz (máximo = 3; mínimo = 1; moda = 2).

A frutificação teve início em meados de abril. A partir de setembro, 16,7 %

dos indivíduos iniciaram a dispersão de sementes (Figura 1.2b). Este fenômeno foi

gradativamente sendo ampliado e, em novembro, pode ser observado na

totalidade dos indivíduos monitorados.

0

5

10

15

20

25

30

35

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov Dez

MESES

Nº I

ND

IVID

UO

S

Inflorescência Sementes Clones Antese Frutificação

Figura 1.1 – Fenofases apresentadas por Vriesea incurvata Gaudich. (janeiro a dezembro/2004), emárea representativa de regeneração moderado-avançada de Floresta Ombrófila DensaAluvial (Matinhos, Paraná).

32

B

a b

Figura 1.2 – Vriesea incurvata Gaudich. a) detalhe da inflorescência; b) detalhe da dispersão desementes. (Foto: Daniel Muraro, Matinhos PR 23/10/2004)

Não detectou-se correlação significativa das distintas fenofases com a

média de precipitação registrada nos respectivos meses de monitoramento ou

mesmo quando considerada a defasagem de um a quatro meses anteriores ao

início do monitoramento.

Houve correlação positiva entre a fenofase de emissão de inflorescência e

o fotoperíodo observado três meses antes do início deste fenômeno (rs=0,69,

p<0,05). Para esta fenofase também evidenciou-se correlação positiva da

temperatura registrada dois meses antes (rs=0,61, p<0,05) (Tabela 1.1).

A fenofase de frutificação apresentou correlação negativa para fotoperíodo

registrado durante o período de monitoramento (rs=-0,81, p<0,05). Por outro lado,

apresentou correlação positiva quando considerados os valores de fotoperíodo

relativos a quatro meses de antecedência (rs=0,59, p<0,05), seguindo o mesmo

padrão para temperatura (rs=-0,62, p<0,05) e (rs=0,61, p<0,05), respectivamente.

Para emissão clonal, observou-se o mesmo padrão identificado para a

frutificação, tanto para fotoperíodo (rs=-0,72, p<0,05) e (rs=0,45, p<0,05), quanto

para temperatura, (rs=-0,58, p<0,05) e (rs=0,51, p<0,05) (Tabela1.1).

O levantamento efetuado junto aos Herbários MBM e UPCB evidenciaram

que V. incurvata apresenta variação nas épocas de ocorrência das distintas

fenofases, com plantas em emissão de inflorescência, antese floral e frutificação

praticamente durante todos os meses do ano. Para locais próximos ao local de

estudo, registrou-se maior similaridade na época de ocorrência destas fenofases

(Tabela 1.2).

Tabela 1.1 - Correlações de Spearman (rs) entre as fenofases observadas para V. incurvataGaudich. e as variáveis climáticas (jan-dez/2004). (NS= não significativo/ p< 0,05)

Meses de antecedência0 1 2 3 4

Fenofases rs rs rs rs rs

FotoperíodoEmissão da inflorescência NS NS NS 0,61 NSFrutificação -0,81 NS NS NS 0,59Emissão clonal -0,72 NS NS NS 0,45

TemperaturaEmissão de inflorescência NS NS 0,61 NS NSFrutificação -0,62 NS NS NS 0,61Emissão clonal -0,58 NS NS NS 0,51

Produção de frutos e sementes

Os escapos coletados em 2004, em média, com 31,6 cm de comprimento

(n= 30; máximo= 43,5; mínimo= 20,5; moda = 40); apresentavam, em média, 27,6

± 4,32 flores (n= 30; máximo= 35; mínimo= 20; moda = 24). Em 2003, registrou-se

26,8 ± 4,03 flores por escapo (n= 30; máximo = 37; mínimo = 18; moda= 28),

sendo estes valores iguais aos de 2004 (Teste Tukey, p > 0,05).

Em 2004, a produção média por escapo floral foi de 2,53 ± 2,25 frutos

(máximo= 8; mínimo= 0; moda = 2). Estes valores não foram significativamente

distintos daquele obtidos em 2003 (média = 2,60 ± 1,86; máximo = 6; mínimo = 0;

moda= 1) (Teste Tukey, p > 0,05).

De maneira geral, a produção de frutos foi bem inferior a produção de

flores, detectando-se correlação entre número de flores produzidas e número de

frutos gerados em 2004 (r=0,41; N=30, p<0,05) e inexistência desta correlação em

2003.

A produção média, registrada para 2003, foi de 443,86 ± 250,67 sementes

por fruto (n = 30; máximo = 855; mínimo= 210; moda=não há). Em 2004, registrou-

se produção média de 549,33 ± 250,67 sementes (n=30; máximo = 841; mínimo =

221; moda= 521), sendo estes valores iguais aos obtidos no ano anterior (Teste

Tukey, p > 0,05).

34

Tabela 1.2 - informações fenológicas obtidas junto aos herbários do Museu Botânico Municipal(MBM) e Universidade Federal do Paraná (UPCB).

LOCAL LATITUDE/LONGITUDE DATA FENOFASESFlor Flor e Fruto Fruto

ILHA DO MEL PR 25°31' S 48°18' W 02/198603/1986

03/1986 X

XX

GUARAQUECABA PR 25°18' S 48°20' W 01/199805/199408/1998

10/1997 12/1995

XXX

X

ITAPOA SC 26°07' S 48°37' W 02/199307/1992

ADRIANOPOLIS PR 24°39' S 48°59' W 01/2000 X

JOINVILLE SC 24°39' S 48°59' W 04/1997

MORRETES PR 25°29' S 48°50' W 01/199901/200010/1997

11/1999X

XPIRAQUARA PR 25°27' S 49°04' W 08/2004 X

BARRA VELHA SC 26°38' S 48°41' W 01/1998

BOCAIUVA DO SUL PR 25°12' S 49°07' W 07/1986

ALTO DA SERRA DO MAR PR 25°22' S 49°05' W 04/1948 X

MORRO DO ANHANGAVA PR 25°22' S 49°05' W 05/1994

GUARATUBA PR 25°53' S 48°34' W 01/197005/199406/1963

11/1983 X

X

X

Discussão

A densidade de bromélias em uma dada área, é dependente da

organização estrutural da vegetação que, por sua vez, varia conforme o estádio

sucessional em que esta se encontra, tendendo a ser mais abundante em áreas

pristinas (Matos, 2000). De acordo com Hoeltgebaum (2003), além da quantidade

de indivíduos de cada espécie, decresce também o número de espécies com o

aumento do grau de degradação da Floresta. A densidade registrada no Parque

Estadual do Rio da Onça (113 indivíduos em 2003 e 71 em 2004) foi similar à

registrada em outras florestas secundárias (ver. Matos, 2000). Desta forma, esta

densidade pode ser um reflexo do histórico de ocupação prévia da área de estudo

e da categorização atual desta como representativa de fase de regeneração

moderado-avançada de Floresta Ombrófila Densa Aluvial. A ação extrativista com

vistas à exploração comercial da espécie corresponde a outro fator que poderia ter

determinado a incidência de indivíduos de V. incurvata registrada na área

estudada.

A ocorrência de um ambiente heterogêneo, em termos de oferta de

microsítios favoráveis, em associação com o modo de propagação vegetativo

poderia, desta forma, estar determinado a ocupação horizontal agrupada

observada para V. incurvata na área de estudo. Por outro lado, a seletividade

preferencial para ambientes de luz difusa pode ser o determinante maior para

ocupação vertical desta espécies no estrato inferior do tronco dos forófitos (1 a 3

m), como também observado por outros autores (e.g. Fischer e Araújo, 95; Matos,

2000; Bonnet, 2001; Rogalski, 2002; Hoeltgebaum, 2003). Segundo Matos (2000),

esta espécie não apresenta preferência por ritidoma ou espécie de forófito.

A estratificação vertical das epífitas, está correlacionada com a integração

de um conjunto de fatores envolvendo gradientes de umidade, disponibilidade de

nutrientes (Medina, 1996; Hietz e Briones, 1998; Zotz e Hietz, 2001), intensidade

luminosa (Benzing, 1990) e tipos disponíveis de substratos (Cogliatti-Carvalho e

Rocha, 2001; Winkler et al., 2005). A estratificação, portanto, é determinada por

um lado pela formação de microsítios adequados e por outro, pela resistência à luz

solar, à sombra e também pela habilidade fotossintética de cada espécie. As

sementes dependem de condições adequadas específicas de microclima e

substratos para sobrevivência e establecimento da futura planta (Winkler et al,

2005). Em comunidades de bromélias, especialmente a disponibilidades lumínica

36

afeta a distribuição espacial, tanto vertical como horizontalmente, devido a alta

sensiblidade de muitas espécies frente a este fator (Pittendrigh 1948; Benzing

1980; Cogliatti-Carvalho et al. 1998).

Vriesea incurvata caracteriza-se dentro do padrão de floração anual,

conforme Newstron (1994). Entretanto, essa espécie apresenta época de floração

bastante variável em relação à época do ano e grau de perturbação do ambiente,

dada a divergência de resultados obtidos para esta espécie em distintos locais

(Vide tabela 1.2). O período de ocorrência das diferentes fenofases em épocas

variáveis de região para região pode ser uma resposta à correlações existentes

entre estas fenofases e variáveis climáticas ( vide tabela1.1).No monitoramento

realizado no Parque Estadual do Rio da Onça, a floração teve inicio em fevereiro,

com picos em maio/junho sendo totalmente ausente a partir de outubro. Reitz

(1983) citou floração de agosto a março, para representantes desta espécie em

Santa Catarina. Matos (2000), descreve uma variação na época de floração da

espécie em áreas de floresta em estádio sucessional primário e secundário

também em Santa Catarina, com a ocorrência da floração durante todo o ano. Em

floresta primária, o pico de floração ocorre durante a primavera, especialmente

outubro e novembro. Em floresta secundária, no verão, durante os meses de

janeiro e fevereiro. Araújo et al. (1994) indicaram floração de agosto a janeiro para

V. incurvata ocorrente na Floresta Pluvial Atlântica, na região de São Paulo.

Winkler (1982) descreveu um período de floração que vai de outubro até meados

de fevereiro para indivíduos ocorrentes no Rio Grande do Sul. Possivelmente, esta

disparidade está associada à posição latitudinal, que gera condições climáticas

específicas que podem estar influenciando os distintos eventos fenológicos,

conforme sugerido em Steege e Persuade (1991).

Dado o padrão histórico de fraca sazonalidade da pluviosidade na região

litorânea-sul paranaense, que mantém-se relativamente constante ao longo do ano

com moderado pico crescente nos meses de verão, a ausência de correlação

desta variável climática com as distintas fenofases de V. incurvata era esperada.

Segundo, Hilty (1980) a sazonalidade fenológica pode ser independente da

sazonalidade de chuvas. Ressalta-se adicionalmente que o ano de monitoramento

mostrou-se atípico em relação ao padrão regional, o que de certa forma poderia

estar também determinado as discrepâncias de registros de floração acima

referidas.

Em regiões onde a pluviosidade não representa fator limitante, os eventos

fenológicos estariam mais fortemente influenciados pelo fotoperíodo e temperatura

(Morelatto et al.,1989), especialmente em áreas mais afastadas do equador

(Rivera e Borchet, 2001). Este padrão foi confirmado para os representantes de V.

incurvata monitorados. E, assim como observado para outras espécies tropicais

(ver Marques et al., 2004), estes indivíduos apresentaram uma correlacão

fenológica em relação a estas variáveis climáticas registradas com até quatro

meses de antecedência ao evento fenológico.

V. incurvata enquadrou-se no padrão observado entre plantas

hermafroditas caracterizado por altos índices de produção de flores e baixa

produção de frutos (ver Stephenson, 1981; Sutherland e Delph, 1984; Sutherland

1986 e 1987). Conforme Holland et al. (2004), a capacidade de atração de

polinizadores, a quantidade de produção e eficiência da transferência de pólen

assim como a falta de recursos estariam entre os principais fatores determinantes

deste padrão e várias hipóteses têm sido testadas no sentido de explicá-lo. Se o

número de flores polinizadas é menor do que o máximo de recursos disponíveis,

então a produção de frutos seria limitada pela produção de pólen e outros fatores

associados a polinização (Stephenson, 1981). Por outro lado, se o número de

flores polinizadas é maior do que o máximo de frutos permitidos pela

disponibilidade de recursos, então a produção de frutos é limitada pela falta de

recursos. Neste caso, algumas flores polinizadas seriam abortadas de maneira que

a maturação dos frutos fosse adequada aos recursos disponíveis (Stephenson,

1981; Sutherland, 1987). Segundo Matos (2000), a produção de frutos de V.

incurvata estaria limitada pela eficiência e disponibilidade de polinizadores e

também pela ocorrência de intensa predação das flores na fase pré-polinização.

Entretanto, nos indivíduos monitorados no P. E. Rio da Onça, esta predação não

foi registrada. Estudos adicionais, focados especificamente no teste de hipóteses

associando os eventos de floração e frutificação, poderão fornecer maiores

subsídios para o entendimento deste padrão.

Apesar da baixa quantidade de frutos formados em relação à produção de

flores, a produção de sementes é relativamente expressiva. Reitz (1983) descreve

V. incurvata como grande produtora de sementes. Entretanto, os índices de

germinação desta espécie em condições naturais são relativamente baixos (ver

capítulo 4). Em condições controladas de temperatura, umidade e luminosidade,

38

provavelmente estes valores de germinação seriam mais altos, assim como

observado para outras espécies de Vriesea (ver Mercier e Guerreiro Filho, 1990).

Detectou-se a formação de número reduzido de brotos clonais nos

indivíduos V. incurvata monitorados, similarmente ao já observado para esta

espécie (ver Reitz, 1983; Matos, 2000). Desta forma, como indicado em Rauh

(1979), a propagação por sementes representaria potencialmente o método

comercial mais eficiente de produção desta espécie, dada sua elevada produção

natural de sementes. Entretanto, o êxito deste procedimento depende da escolha

criteriosa do substrato que deve apresentar condições semelhantes às

encontradas no ambiente natural de ocorrência das bromélias (SBB, 1998; Martins

et al., 1999; Handreck e Black, 1999).

Considerações

A espécie apresentou uma seqüência nas fenofases marcada pelo início

de emissão de inflorescência, que parece estar determinando uma dependência

nos períodos de ocorrência das demais fenofases.

As baixa quantidade de frutos formados com relação ao número de flores

observa-se para todas as plantas não ocorrendo plantas com grandes diferenças

quanto ao número de frutos formados.

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2 Vriesea incurvata GaudIch. (Bromeliaceae): germinação em diferentessubstratos alternativos à fibra de xaxim.

Resumo

Apresentam-se resultados de pesquisa experimental sobre germinação de

Vriesea incurvata Gaudich. realizada no Parque Florestal Rio da Onça (Matinhos-

PR; outubro a dezembro/ 2003). Testaram-se 4 tipos de substratos potenciais

substitutos para fibras de xaxim (Dicksonia selowiana (Presl.) Hook.). e de fácil

acessibilidade e baixo custo para o produtor rural, sendo: casca de Pínus, casca

de Pínus humificada, fibra de coco e serapilheira. A fibra de xaxim foi utilizada

como substrato testemunha. O experimento foi delineado em blocos ao acaso com

quatro blocos e cinco tratamentos contendo 25 sementes por unidade

experimental. Utilizaram-se sementes oriundas de plantas existentes no Parque. O

experimento foi realizado em ambiente natural sob dossel florestal, em vasos

plásticos presos aos troncos das árvores, buscando reproduzir a situação

ambiental e infraestrutura disponível para as comunidades litorâneas envolvidas

com o extrativismo desta espécie. Leituras semanais, durante 58 dias a partir da

semeadura, avaliaram a germinação e sobrevivência das plântulas. O substrato

com melhor desempenho como substituto alternativo foi a casca de Pínus, em

função dos valores de germinabilidade (32,75 ± 11,67%) e sobrevivência (100 %);

significativamente iguais aos obtidos com xaxim (40,50 ± 12,87%; 100 % - Teste

Tukey, p<0.05).

Palavras-chave: bromélias, plantas ornamentais, produção vegetal, produtos

vegetais não madeiráveis, conservação ambiental.

44

Abstract

It is presented the results of an experimental research on germination of

Vriesa incurvata Gaudich. carried out in Rio da Onça State Park (Matinhos-PR,

from October to december/2003). Four types of potential substitutes (fragments

Pínus bark; decomposed Pínus bark; coconut fiber and forest litter) to the

“Xaxim’(Dicksonia selowiana (Presl.) Hook) fiber were tested, being these easily

accessed by the local dwellers and with low cost for them. The xaxim fiber was

used as control group. The experiment was randomly delineated in 4 blocks with 5

treatments each, containing 25 seeds per experimental unity. Seed proceeding

from plants in the Park were used. The experiment was carried out in a natural

environment under forest canopy, in plastic vases attached to the tree trunks,

aiming to reproduce the environmental situation and the infrastructure available for

the coast communities involved with the extrativism of this species. Weekly reading,

during 58 days after sowing, evaluated the germination and survival of plants. The

alternative substitute substract with best performance was the Pínus bark, in

function of the germinability values (32 ± 11,67%) and survival of 100%;

significantly similar to those obtained with Xaxim fiber (40,50 ± 12,87%; 100 % -

Teste Tukey, p<0.05).

Keywords: bromeliads, ornamental plants, plant production, non timber forest

products, environmental conservation.

Introdução

Nas últimas décadas, as bromélias tornaram-se amplamente empregadas

como plantas ornamentais. Originalmente encontradas apenas em jardins

botânicos ou de colecionadores europeus, ganharam popularidade entre

paisagistas e jardineiros devido à beleza de suas formas e cores, durabilidade das

inflorescências, baixa demanda de cuidados e fácil adaptabilidade a jardins

pequenos (Benzig, 2000; Kiss, 2001; BSI, 2005; Schoellhorn, 2005). Hoje as

bromélias são consideradas como elementos requintados e exóticos de jardins ao

redor do mundo (ver Steens, 2003 e Brandies, 2004).

A exploração comercial de bromélias no Brasil teve início na década de

setenta (Coffani-Nunes, 1997). Deste então, devido a sua alta disponibilidade e

fácil acessibilidade em ambiente natural, poucos investimentos têm sido feitos no

sentido de estabelecer sistemas de cultivo de bromélias para suprir a demanda

crescente destas no mercado de plantas ornamentais. Assim, as cadeias de

comercialização da maioria das espécies de bromélias têm sido fortemente

dependentes do extrativismo. Tanto a coleta quanto a comercialização de

bromélias são realizadas freqüentemente por pequenos agricultores inseridos em

comunidades de baixa renda na zona litorânea do Paraná, que tem neste produto

uma alternativa de incremento renda (Anacleto & Costa, 2001 e Bittencourt et al.

2002, entre outros).

Desta forma, espécies anteriormente abundantes no interior das florestas

brasileiras, hoje estão em vias de extinção ou extintas face a sua exploração

indiscriminada somada à redução dos seus ambientes naturais de ocorrência

(Brasil, 1989; SEMA, 1995). Dentre as 107 espécies oficialmente listadas como

extintas ou ameaçadas de extinção em IBAMA (1992), 15 são bromélias. Vários

outros registros originados em nível estadual também explicitam situação análoga

(SEMA/SP, 2004).

Um efeito paralelo da exploração extrativista de bromélias é o impacto

severo sobre o xaxim – Dicksonia selowiana (Presl.) Hook.– uma samambaia

primitiva arborescente – cuja parte aérea é fonte das fibras utilizadas como

46

substrato para bromélias (e orquídeas). Esta espécie nativa da Floresta Atlântica

está inserida em listas oficias nacionais e internacionais de espécies altamente

ameaçadas de extinção devido à intensa exploração comercial relacionada a

produção de flores e jardinagem (ver Brasil, 1992; IBAMA, 2005).

Infelizmente, apesar de existirem instrumentos de proteção legal que

impedem a comercialização e extração de bromélias nativas e do xaxim, estas são

práticas ainda existentes no país (Silva, 1994; Anacleto, 2001; Negrelle et al.

2005). Além de ser utilizado no fabrico de vasos e placas de fixação, o xaxim

também fornece a fibra utilizada como substrato para cultivo de bromélias

(Angerami 1999).

Uma solução alternativa para diminuir a pressão extrativista sobre

populações naturais seria a implantação de sistemas agro-florestais para cultivo de

espécies nativas de interesse comercial (Martin, 1995). Porém, o sucesso desses

sistemas de cultivo está fundamentado na sua adaptação à realidade local (Ticktin

et al., 2003) e no conhecimento auto-ecológico e agronômico das espécies

envolvidas (Negrelle, 1998).

O êxito deste procedimento também depende da escolha criteriosa do

substrato que, por sua vez, deve apresentar condições semelhantes às

encontradas no ambiente natural de ocorrência das bromélias. Além de adequada

capacidade nutricional, os substratos utilizados na produção de mudas devem ser

permeáveis e porosos para evitar acúmulo de água e facilitar a germinação (SBB,

1998; Martins et al., 1999) bem como apresentar reduzida suscetibilidade a

infestação de patógenos (Barbosa & Barbosa, 1985) e baixa presença de

fitotoxinas (Handreck & Black, 1999) . Além destas características essenciais, o

substrato empregado no cultivo de bromélias deve igualmente ser acessível ao

produtor, localmente abundante, ecologicamente correto e de baixo custo (Silva,

1994).

Por atender a maioria destes requisitos, o substrato à base de fibra de

xaxim foi durante anos o mais utilizado e recomendado por colecionadores e

cultivadores (Faria et al. 2001; Paula & Silva, 2004), sendo utilizado em quase a

totalidade dos sistemas de cultivo de bromélias na região sul e sudeste do Brasil

(Angerami, 1999). Entretanto, face a proibição legal de uso deste material, outros

materiais alternativos têm sido testados com vista a serem empregados como

substrato de plantas ornamentais (e.g. Demattê, 1992; Roriz, 1998; Kanashiro,

1999 e Rocha, 2002).

Selecionou-se Vriesea incurvata devido à esta ser uma das bromélias

preferidas para uso ornamental (Negrelle et al., 2005), ser facilmente acessível

dada a baixa altura de fixação dentro da floresta (Matos, 2000; Bonnet, 2001),

apresentar arquitetura compacta, folhas sem espinhos e bela inflorescência de

longa duração (Reitz, 1983). Entretanto, sua produção comercial é incipiente e sua

exploração permanece como atividade extrativista (Kampf & Ordovas, 1994).

Adicionalmente, esta espécie apresenta número reduzido de brotos clonais

(ver Reitz, 1983; Matos, 2000; Muraro, 2005). Desta forma, como indicado em

Rauh (1979), a propagação sexuada representaria potencialmente o método

comercial mais eficiente de produção desta espécie, dada sua elevada produção

natural de sementes.

Sob esta perspectiva, apresentam-se resultados de pesquisa experimental

sobre germinação de Vriesea incurvata Gaudich com intuito de subsidiar a

produção desta espécie a partir de sementes, utilizando-se substratos alternativos

de fácil acessibilidade e baixo custo para o produtor rural da região litorânea

paranaense.

Material e métodos

Local do experimento

O teste de germinação de Vriesea incurvata foi realizado em condições

naturais, sob dossel de floresta ombrófila densa aluvial, em parcela de 0.5 ha,

localizada na margem direita do trecho mais distante da trilha de visitação do

Parque em local denominado de “Trilha do Barro”, há aproximadamente 1144 m da

sede (vide descrição do parque, pag. 06).

Durante o período de 59 dias, correspondente à realização do experimento

de germinação (outubro/dezembro de 2003) registrou-se, segundo dados

coletados junto à estação metereológica do parque, uma temperatura máxima

próxima aos 35º C, com a média mantendo-se acima dos 20º C para quase todo o

48

período, bem como a mínima se manteve sempre entre os 15 – 25º C. Para quase

todos os dias houve precipitação, sendo registrada um valor máximo de 150 mm

num único dia e os demais se mantendo entre 10 e 50 mm (Figura 2.1).

0

20

40

60

80

1 00

1 20

1 40

1 60

1 80

2 00

1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34 37 40 43 46 49 52 55 58

PP

mm

;

0

5

1 0

1 5

2 0

2 5

3 0

3 5

T º

c

P re c . Tº min. Tº ma x. Tº me d.

Figura 2.1– Dados do monitoramento climático na estação meteorológica do Parque Rio da Onçapara o período de realização de experimento de germinação e sobrevivência de plântulas

de Vriesea incurvata Gaudich. em diferentes substratos. Matinhos (PR), outubro –dezembro/ 2003.

Delineamento experimental

As sementes utilizadas neste experimento foram coletadas de 20

indivíduos de V. incurvata, selecionados aleatoriamente na área de estudo, dentre

aqueles que apresentavam-se em inicio de deiscência da cápsula, de modo a

evitar possíveis sementes imaturas (Figura 2.2a)

Imediatamente após a coleta e miscigenação das sementes, procedeu-se

a semeadura (15/outubro/2003), utilizando-se como substrato: fibra de xaxim

(testemunha), fibra de coco, serapilheira, casca de Pínus fragmentada e casca de

Pínus humificada (Figura 2.2b).

O experimento foi delineado em blocos ao acaso com quatro blocos e

cinco tratamentos contendo 25 sementes por unidade experimental, conforme

recomendado por Mercier & Guerreiro Filho (1990). Utilizaram-se sementes

oriundas de plantas existentes no Parque. O experimento foi realizado em

ambiente natural sob dossel florestal, em vasos plásticos (12 cm de diâmetro, 10

cm de altura e 09 cm de diâmetro de base), protegidos por tela de arame de malha

fina (n.º 1,5) de modo a evitar possíveis danos ou predação por pássaros e

animais (Figura 2.2c). Simulando a situação de ocorrência natural da espécie,

citada como esciófita, ou de luz difusa (Reitz, 1983; Machado-Santos, 2000), os

vasos foram alocados sob dossel na parcela, sendo fixados na parte mediana

inferior de troncos de indivíduos arbóreos presentes no local (Figura 2.2d).

A distribuição dos vasos foi estabelecida com base na densidade natural

de V. incurvata em cada uma das sub-parcelas (10 x 10m) da grande parcela (0.5

ha) previamente censeada. Desta forma, o fator de bloqueamento correspondeu

ao número natural de plantas por sub-parcela. Considerou-se: bloco I = área sem

ocorrência de plantas; bloco II = área com 01 a 04 plantas; bloco III = área com 05

a 07 plantas e bloco IV = área com 08 a 11 plantas.

O período total de monitoramento foi de 59 dias, sendo registrado

semanalmente o número de sementes germinadas (presença de primórdios

foliares visíveis) e a sobrevivência das plântulas.

Findo o período de monitoramento, conforme descrito em Santana e Ranal

(2000), determinou-se o percentual médio de germinação com respectivas

medidas de dispersão (mediana= Md, moda= Mo, variância= s2, desvio padrão= s,

amplitude= R, coeficiente de variação= CV e erro padrão= sx); o tempo médio (t) e

velocidade média de germinação (V) com respectivas variâncias (s2t ; s2v). O

percentual de sobrevivência de plântulas foi determinado considerando-se o total

de sementes germinadas no pico de germinação e o número final de plântulas

vivas no 58º. dia de monitoramento. A homogeneidade das variâncias foi verificada

pelo teste de Bartlett e a comparação das médias de germinação foi realizada pelo

teste de Tukey, ambos ao nível de 5% de probabilidade (Sokal & Rohlf, 1995).

50

A b1 b2

b3 b4 b5

c d d

Figura 2.2 – Experimento sobre germinação de Vriesea incurvata Gaudich.: a)sementes b) vasos com diferentes substratos (b1 – casca de Pínushumificada, b2– casca de pínus; b3 – fibra de coco, b4 – fibra de xaxim, b5 –serapilheira); c) proteção de tela utilizada nos vasos; d) vasos fixados aosforófitos (parte mediana) sob dossel (Parque Estadual Rio da Onça,Matinhos, PR; 2003. Fotos: Daniel Muraro 15/10/2003)

Substratos

a) fibra de xaxim

A fibra de xaxim utilizada nesta pesquisa foi adquirida em uma loja de

artigos agropecuários localizada próxima a área de estudo.

Este material é obtido de plantas representantes de Cyatheaceae e

Dicksoniaceae (Bellé, 1999), espécies de crescimento lento e folhagem ornamental

que atingem de 2 a 4 m de altura. São conhecidas popularmente como xaxim,

samambaiaçu, samambaiaçu imperial ou feto arborescente, cujo tronco em

pedaços ou em fibras da origem a substrato para cultivo de várias espécies de

plantas (Lorenzi & Souza, 1995). Geralmente, apresenta pH que pode variar de 3,2

quando novo até 4,85 após 3 anos de uso, com densidade em torno de 63,79

g/litro. Normalmente, apresenta concentrações de N = 0,81%; P = 0,11%; K =

1,17%; Ca = 0,85%; Mg = 0,20%; S = 0,16%; 10 ppm de B; 46 ppm de Cu; 4750

ppm de Fe; 137 ppm de Mn; 40 ppm de Zn e 0,01 ppm de Mo (Demattê, 1992).

b) casca de Pínus

A casca de Pínus fragmentada foi obtida junto a uma serraria,

selecionando-se apenas os pedaços menores que 3 cm, aproximadamente, com

peneira malha nº,,,,,,,,,,,,,,,,.

A utilização de resíduos provenientes de produtos derivados da área

florestal em substratos para cultivo de plantas é crescente (Muchovej & Pacovski,

1997), sendo a casca de Pínus muito utilizado como base na composição de

substratos por possuir boa drenagem, e ao mesmo tempo boa capacidade de

retenção de água.

Este material também é considerado como de fácil decomposição, com pH

entre 3,5 a 5 (Matteo, 2002). Este tipo de substrato é composto de fragmentos de

vários tamanhos, desde 1 cm até pó, sendo que quanto menor suas partículas

maior a capacidade de retenção de água e menor a aeração. Com densidade em

torno de 118 g/l (Bellé, 1999), apresenta composição química (Pínus elliottii

Engelm.) com as seguintes concentrações: N = 0,28%; P = 0,02%; K = 0,10%;Ca =

0,51%; Mg = 0,14%; 9 ppm de B; 77 ppm de Cu; 790 ppm de Fé; 119 ppm de Mn e

114 ppm de Zn (Gonsalves, 1992).

52

c) Fibra de côco

As fibras de côco foram adquiridas também na loja de artigos

agropecuários localizada próxima à área de estudo.

Este material é usualmente proveniente da moagem das cascas do fruto

de Cocos nucifera L. e tem se mostrado de grande aproveitamento para uso como

substrato agrícola. Seu pH pode variar entre 6,2 a 6,8 e sua composição química

apresenta as seguintes concentrações: N = 210; P205 = 51; K2O = 270; Ca = 800

Mg = 140; S = 174; B = 2,45; Cu = 10,40; Fe = 28,95; Mn = 7,4; Mo = 5,00 e Zn =

9,2. Possui propriedades similares às turfas quando devidamente compostadas,

porém são menores e possuem aeração também ligeiramente menor

(Kanashiro,1999), possui densidade de 150 g/l (Amafibra, inf. pes.3).

d) Casca de Pínus humificada

A casca de Pínus humificada foi adquirida em uma floricultura de Curitiba.

Este material tem sido atualmente utilizado como substrato para floreiras e

canteiros e também para cobertura de gramados, encontrando-se à venda em

embalagens de 60 kg. É derivado da compostagem aeróbica das cascas de Pínus

trituradas durante um período de 6 meses.

Alguns componentes da matéria orgânica, classificados sob o termo

fitotoxinas, causam injúrias e eventualmente matam plantas quando presentes em

substratos. Muitas cascas e serragens utilizadas contêm fitotoxinas, com variações

de acordo com a espécie (Handreck & Black, 1999). Booman (2000), alerta sobre

teores de tanino tóxico, especialmente na casca de coníferas. Yates & Rogers

(1981) e Ortega et al. (1996) também demonstram a influência negativa de

compostos fenólicos presentes em cascas de árvores na germinação e no

desenvolvimento vegetal. Casca de coníferas e serragens de madeira podem, no

entanto, ter o nível de fitotoxinas reduzido através da compostagem, o que

contribui igualmente para redução da relação C:N (Handreck & Black, 1999). É

importante, no entanto, que esse processo seja conduzido de forma aeróbia, a fim

3 Amafibra Fibras e Substratos Agrícolas da Amazônia Ltda. – contactada via email([email protected])

de evitar a formação de outros compostos prejudiciais ao desenvolvimento vegetal

como ácido acético, e compostos fenólicos e alcalóides (Bilderback, 2000).

e) Serapilheira

A serapilheira utilizada no experimento foi coletada sob dossel, nas

margens da trilha de acesso à área de estudo, sendo removidos os pedaços de

galhos e folhas maiores.

Este substrato corresponde ao material composto principalmente de folhas,

partes reprodutivas e galhos que se deposita sobre o solo florestal. Geralmente, a

fração “folhas” é a mais representativa na serapilheira, apresentando-se em torno

68,08% para estádios intermediários de sucessão de Floresta Ombrófila Densa de

Terras Baixas conforme Boeger et al. (2000). E, em torno de 68% da composição

total da serapilheira em remanescentes de Floresta Ombrófila Densa Sub-

Montana, segundo Santos (1997).

Para esta fração, em Floresta de Planície Litorânea, estimou-se a

densidade de 195 g/l. BRITEZ (1994) descreve a seguinte composição química

para este tipo material: 0,5 a 3,0 para N; 0,02 a 0,41 para P; 0,16 a 1,0 para K;

0,22 a 3,1 para Ca e 0,20 a 0,54 para Mg (valores em g/100g M.S.). Os valores de

pH variam de 6,26 até 6,78 para esta fração em fase intermediária de sucessão

em Floresta Ombrófila Densa das Terras Baixas (Pinto, 2001).

Resultados

O início da germinação de Vriesea incurvata Gaudich. ocorreu no 36o dia

de monitoramento e o pico de germinação foi registrado no 50º dia para a quase

totalidade das repetições nos diferentes tratamentos (Figura 2.3).

Ao final do experimento os valores de germinabilidade média obtidos com

fibra de xaxim (41% ± 12,87), casca de Pínus fragmentada (33% ± 11,67),

Serapilheira (30 ± 13,58) e a casca de Pínus humificada (27 ± 7,93) não diferiraram

estatisticamente o menor valor foi obtido com fibra de côco o qual diferiu dos

demais (Tabela 2.1).

54

Figura 2.3 – Vriesea incurvata Gaudich. plântulas de V. incurvata sobre substrato casca de pínus

(Experimento sobre germinação; Parque Estadual Rio da Onça, Matinhos, PR; outubro-dezembro/2003. Fotos Daniel Muraro – Matinhos-PR – 15/10/2003)

Tabela 2.1 – Síntese dos resultados de germinação de sementes de Vriesea incurvata Gaudich.(Bromeliaceae) em cinco diferentes substratos. Matinhos (PR), Outubro a Dezembro 2003.(n=25)

Tratamento Germinação (%)x * Md Mo S2 S R CV sx

Serapilheira 30,00 ab 24,50 N 13,58 3,68 29 12,22 0,92Xaxim 40,50 a 37,50 N 12,87 3,58 29 8,83 0,89Fibra côco 8,75 b 8,50 N 5,67 2,38 12 27,20 0,59CascaPínus

32,75 a 36,00 N 11,67 3,41 27 10,41 0,85

Pínus

Humif.

27,25 ab 27,00 N 7,93 2,81 19 10,31 0,70

*Os valores seguidos de mesma letra não diferem estatisticamente entre si (Teste Tukey p<0,05).

Os resultados da análise de variância para a germinação das sementes de

Vriesea incurvata Gaudich evidenciaram não existir diferença estatística

significativa entre os substratos à base de casca de Pínus, serapilheira e casca de

Pínus humificada, em relação a fibra de xaxim (testemunha). Entretanto, o

substrato à base de fibra de coco diferiu significativamente do substrato à base de

fibra de xaxim (testemunha), não diferindo dos substratos à base de serapilheira,

casca de Pínus e casca de Pínus humificada. (Tukey a 5% de probabilidade)

(Tabela 2.2).

O menor tempo médio de germinação foi obtido com casca de Pínus

humificada (42,93 ± 3,36 dias). O valor máximo de tempo médio de germinação foi

obtido para serapilheira (43,30 ± 4,38 dias). Entretanto não foi detectada diferença

significativa de velocidade de germinação nos distintos substratos (Tabela 2.3).

Os valores de sobrevivência de plântulas se mantiveram em 100% para

todos os tratamentos, no período monitorado, que encerrou-se no 59º dia após a

implantação.

Tabela 2.2 – Resumo da análise de variância da germinação de sementes de Vriesea incurvataGaudich. (Bromeliaceae) em seis tipos diferentes de substrato.

Fonte de var Graus de liberdade Quadrado médioSubstratos 4 34,250*Blocos 3 08,144**Erro 12 07,110Teste de Bartlet (x2) 2,49Coeficiente de variação % 38,39* significativo ao nível de 5% de probabilidade** não significativo ao nível de 5% de probabilidade

Tabela 2.3 – Tempo médio (t) e velocidade média de germinação (v), com respectivas variâncias(s2

t; s2v), para sementes de Vriesea incurvata Gaudich. (Bromeliaceae) submetidas a

diferentes substratos. Matinhos (PR), Outubro – Dezembro / 2003

TratamentoTempo Médio degerminação (dias)

Velocidade de germinação(dias)

t (d) s2t (d2) V (d-1) S2

v (d-2)

Serapilheira 43,30a 4,38 0,000460 a 1,97-13

Xaxim 43,12a 3,95 0,000463 a 1,82-13

Fibra côco 43,21a 4,32 0,000463 a 1,98-13

Casca Pínus 43,21a 6,78 0,000462 a 3,11-13

PínusHumificado

42,93a 3,36 0,000465 a 1,58-13

*Os valores seguidos de mesma letra não diferem estatisticamente entre si (Teste

Tukey, p<0,05).

Discussão

No geral, V. incurvata apresentou baixos valores de germinabilidade,

confirmando o padrão reportado para outras espécies do gênero Vriesea, em

56

condições naturais (e.g. Mekers, 1977; Mercier & Kerbauy, 1995; Droste et al.,

2005). Em condições de temperatura e umidade controladas, aparentemente

estes valores de germinabilidade podem ser elevados (ver Garcia-Franco, 1990;

Mercier & Guerreiro Filho, 1990). Esta discrepância entre os valores obtidos in situ

e em laboratório explicitam que certos fatores ambientais devem estar

determinando condições sub-ótimas de germinação nas áreas de ocorrência

natural destas espécies (Wrinkler et al, 2005). Infelizmente, a germinação é ainda

um dos aspectos menos estudados em Bromeliaceae (Benzig, 2000; Wrinkler et al,

2005) e a confirmação de quais fatores são preponderantemente determinantes da

baixa germinabilidade in situ ainda permanece em aberto para a grande maioria

das bromélias, incluindo V. incurvata.

Os resultados obtidos confirmam a possibilidade da substituição da fibra de

xaxim por casca de pínus e serrapilheira. A espécie estudada parece não ser

afetada pela alta concentração de tanino geralmente encontrada na casca não

humificada de coníferas, conforme indicado em Booman (2000). Também, parece

não ter sido afetada pelo baixo pH apresentado por este tipo de material. Outras

espécies de bromélia apresentaram melhor germinação e desenvolvimento de

mudas com valores de pH expressivamente mais elevados, como por exemplo

Alcantarea imperialis cuja melhor germinação e desenvolvimento das mudas

foram observados em substratos com valores de pH igual a 7,1 e com alto teor de

nutrientes (vide Rodrigues, 2004). Ballester - Olmos (1992) obtiveram maior

crescimento de mudas de bromélias em substrato com pH entre 5,8 a 6,3 e com

baixo teor de nutrientes.

Provavelmente, o equilíbrio entre drenagem e a capacidade de retenção de

água deste tipo de material podem ter favorecido a obtenção de valores de

germinabilidade próximos aos obtidos com xaxim. Registra-se um aumento

significativo de espécies do gênero Vriesea de acordo com o avanço da

regeneração florestal, indicando a preferência destas por condições de maior

sombreamento e umidade, fatores que propiciam sua reprodução, estabelecimento

e crescimento (Reitz 1983; Bonnet, 2001). A preferência destas plantas por este

tipo de ambiente mais úmido e sombrio poderia ser considerada como indicativo de

que um substrato com maior capacidade de retenção de água poderia também

proporcionar um maior índice de germinação.

Hartmann et al. (1991) reiterou que o potencial de hidratação e drenagem

da casca de Pínus determinam ótimos resultados de enraizamento e crescimento

de plantas, tornando-a um material confiável para a composição de substratos.

Kanashiro (1999) indica a casca de Pínus como potencial substituto da fibra de

xaxim em misturas para substrato. Por outro lado, Rocha (2002), aponta para a

possibilidade do uso da casca de Pínus misturada com fibras de xaxim como um

substrato de bons resultados para cultivo de bromélias.

A utilização de substratos à base de cascas de árvores pode também

ajudar a solucionar a problemática da geração de resíduos das indústrias

madeireiras e de celulose. Em muitas regiões do País, onde a utilização de

madeira derivada de reflorestamento abastece um número crescente de serrarias,

é freqüente o acúmulo deste tipo de resíduo. Desta forma, este material

apresenta-se como um substrato altamente atrativo, dada a sua alta

disponibilidade, fácil acesso, baixo custo e boa resposta à germinação, justificando

o seu uso como alternativa ao xaxim (Diksonia sellowiana Hook) (Bellé,1999).

Entretanto, deve considerar-se que a porcentagem de germinação pode

ser influenciada pelo tamanho dos fragmentos de casca que compõem o substrato,

sendo que quanto menor suas partículas maior a capacidade de retenção de água

e menor a aeração. Desta forma, os valores de germinabilidade obtidos na

pesquisa com V. incurvata poderiam ter sido diferenciados com uma padronização

e redução no tamanho dos pedaços de casca que compunham o substrato

utilizado no teste. Quando da sua utilização, deve-se promover uma melhor

homogeneização de modo a obter-se apenas partículas com tamanho aproximado

de 1 cm2. Durante a realização desta pesquisa, observou-se que algumas

sementes podem depositar-se sob os fragmentos maiores, que por sua vez,

podem gerar condições diferenciadas de germinação e emergência.

A serapilheira, desde que observadas as restrições ambientais e dinâmicas

de reposição natural, também se mostra como boa alternativa para substituição da

fibra de xaxim. Este tipo de substrato alternativo tem sido também recomendado

pela SBB (1998). Com produção que ultrapassa 6.000 kg/ha ano, em áreas de

Floresta Ombrófila Densa (vide Varjabedian, 1986; Oliveira & Lacerda, 1984;

Santos, 1997; Britez, 1994; Boeger et al., 2000), seria material apropriado para uso

em pequena escala. Outro fator positivo do uso da serapilheira é a reciclabilidade

58

deste material que, após a repicagem, pode ser reutilizado ou devolvido ao

ambiente natural sem danos ambientais adicionais (Anacleto, 2005).

No tocante a sobrevivência de plântulas, embora não tenha sido observada

mortalidade durante o período de monitoramento, é importante salientar que a

heterogeneidade do habitat sob dossel pode afetar de maneira substancial o

estabelecimento de plântulas de bromélias. A mortalidade de plântulas

corresponde ao fator mais expressivo da distribuição de bromélias epífitas no

ambiente florestal, e não a germinação. Com poucos sítios seguros para germinar

e alta mortalidade de plântulas, as alterações climáticas e ambientais podem afetar

primariamente as populações epifíticas no seu estádio inicial de desenvolvimento

(Wrinkler et al., 2005). Desta forma, é importante garantir que o substrato pós-

repicagem e as condições ambientais de desenvolvimento das mudas de V.

incurvata sejam adequadas às exigências biológicas desta espécie, bem como

fazem-se necessário maiores estudos para avaliar o impacto causado pela retirada

de sementes destinadas a produção.

Conclusões

Nas condições em que se realizou o experimento, e considerando ainda o

atual cenário onde o pínus é a base da exploração madeireira, o substrato a base

de casca de pínus seria o que mais se adequaria para substituição da fibra de

xaxim, dado seu baixo custo, abundância, facilidade no manejo e obtenção e bons

resultados de germinação obtidos.

O uso de tecnologias alternativas e de baixo custo é possível para a

germinação desta espécie conforme resultados obtidos e relatado neste capítulo.

Referências

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CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

“O extrativismo de produtos

florestais não madeiráveis – PVNM -

usualmente apresenta um menor nível

de impacto em ecossistemas florestais

do que o extrativismo de madeira. Pode

também prover um conjunto de

benefícios sociais e econômicos para as

comunidades e, assim, ser uma

importante ferramenta no manejo de

ecossistemas florestais” (Forest

Stwarship Council, 2002).

ornamental, apenas poucas espécies de Bromeliaceae são cultivadas em

escala comercial. Desta forma, o comércio da grande maioria das espécies desta

família ainda é baseado no extrativismo. Geralmente, este é procedido de forma

insustentável e tem baixa expressividade na melhoria da qualidade de vida da

comunidade extrativista, favorecendo apenas atores externos com melhores

condições de acesso a mercados (ver Negrelle et al.2005).

Especificamente para Vriesea incurvata Gaudich. observa-se que este

processo é bastante explícito. A facilidade de coleta de espécimens nativos, a

dificuldade de obtenção de licença para extrativismo dada a ausência de posse da

terra e falta de conhecimento técnico científico associados à falta de alternativa de

renda das comunidades rurais litorâneas paranaenses e alta demanda de

mercado, propiciam grande pressão extrativista sobre esta espécie.

Com os resultados aqui apresentados, espera-se contribuir para o

estabelecimento de sistemas de cultivo ou de planos de manejo sustentável V.

incurvata. A possibilidade de substituição das fibras de xaxim por substratos

alternativos como a casca de Pínus ou serrapilheira, favorecem o alcance de maior

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sustentabilidade e menor impacto nestas atividades, utilizando-se tecnologias

simplificadas e de baixo custo . Adicionalmente, face às caracteristicas fenológicas

explicitadas pela V. incurvata, evidencia-se alta capacidade de suprimento das

demandas de mercado ao longo do ano.

No entanto, com base no exposto por Belcher, Ruiz-Perez,

Achdiawan (2003), enfatiza-se que a chave para o sucesso de qualquer

empreendimento desta natureza está em prioritariamente considerar os seguintes

aspectos:

a exploração deste recurso não madeirável deve estar integrada à outras

atividades econômicas;

comunidades pobres são pobres porque tem precário acesso a mercados,

insuficiente capital humano, insuficiente capital produtivo, instituições fracas e,

geralmente, fraco poder de barganha;

V. incurvata, assim como outras espécies de bromeliaceae oferecem

grande potencial de criação de empregos e oportunidades de renda, mas

tranformar este potencial em realidade requer investimentos em capacitação

humana, promoção de associativismo, melhoria nas condições de acesso ao

recurso e do acesso deste aos potenciais mercados, entre outros aspectos;

a participação comunitária, em todas as etapas de concepção e execução,

é uma das bases do sucesso de projetos desta natureza;

os sistemas de intervenção devem ser propostos a partir de delineamento

interdisciplinar abrangendo as dimensões ecológica, social, institucional, política e

de mercado;

mesmo as intervenções sem fins lucrativos, como os adensamentos

florestais, podem ter impactos sociais e ambientais altamente negativos se não

forem respeitadas as dinâmicas ecológicas naturais concernentes as espécies e

ecossistemas envolvidos.

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BELCHER, B., M. RUIZ-PEREZ, R. ACHDIAWAN. Global Patterns and Trends inNTFP Development. Bogor: Center for International Forestry Research, Draft. 5,October 2003.

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