DANIELA- Antologia Poética

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Escola Secundária Artística António Arroio Disciplina de Português 10º Ano Profª Eli Março de 2008 Vinte Poemas Possíveis Antologia Poética Daniela Moço Antologia Poética

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Trabalho para a disciplina de português - 2º período - 2008

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Antologia Poética

Introdução

Este trabalho, no âmbito da disciplina de Português, consiste numa antologia poética, com poemas seleccionados por mim, com a finalidade de demonstrar as minha preferências no campo da poesia.

Tentei diversificar autores e temáticas., mas tive como objectivo pessoal colocar poemas com que me identificasse de alguma forma. Oxalá apreciem a minha selecção – textos e ilustrações.

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Lembra-teque todos os momentosque nos coroaramtodas as estradasradiosas que abrimosirão achando sem fimseu ansioso lugarseu botão de floriro horizontee que dessa procuraextenuante e precisanão teremos sinalse não o de saberque irá por onde fomosum para o outrovividos

Mário Cesariny

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Lembra-te

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E por vezes as noites duram mesesE por vezes os meses oceanosE por vezes os braços que apertamosnunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meseso que a noite nos fez em muitos anosE por vezes fingimos que lembramosE por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanossó o sarro das noites não dos meseslá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramosE por vezes por vezes ah por vezesnum segundo se envolam tantos anos.

David Mourão Ferreira

 

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E por vezes as noites duram meses

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É urgente o amor.É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,Ódio, solidão e crueldade,Alguns lamentos,Muitas espadas.

É urgente inventar a alegria,Multiplicar as searas,É urgente descobrir rosas e riosE manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luzImpura, até doer.É urgente o amor, é urgentePermanecer.

Eugénio de Andrade

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URGENTEMENTE

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Pelo sonho é que vamos,Comovidos e mudos.Chegamos? Não chegamos?Haja ou não frutos,Pelo Sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos.Basta a esperança naquiloQue talvez não teremos.Basta que a alma demos,Com a mesma alegria, ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

-Partimos. Vamos. Somos.

Sebastião da Gama

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O SONHO

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Música, levai-me:

Onde estão as barcas?Onde são as ilhas?

Eugénio de Andrade

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Olhar-te bem nos olho: que coragem!Ouvir-te a voz na alma: que estridênciaÉ tao difícil termos a coragemDe nos vermos enfimque complanência. É tão difícil regressar de viagemE descobrir no rastro da tua ausência...Mas os meus olhos, súbito, reagem.À tua voz chega o silêncio e vence-a. Nos pulsos vibra ainda a memóriaQue no delta dos dedos se extasiaE moroso reflui o coração O gesto de acusar-te? Suspendio-oMas foi só aguardando melhor diaEm que tenha lugar a execução.

David Mourão Ferreira

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Adiantamento

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 Chega a metaEstafado Pra serCondecoradoLaureadoNacionalizadoPoeta.

Mendes de Carvalho

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Consagração

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Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio E suportar é o tempo mais comprido.

Peço-Te que venhas e me dês a liberdade, Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.

Há muitas coisas que eu quero ver.

Peço-Te que sejas o presente. Peço-Te que inundes tudo. E que o teu reino antes do tempo venha. E se derrame sobre a Terra Em primavera feroz pricipitado.

Sophia de Mello Bryner Anderson

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Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio

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Não mais sono, mas sono limpode todo excremento romantico.A isso aspira, deus expulsode um Olimpo onde sonhar eram versões de existirNão á morte: ao sonoque petrefica a morte e vai além e me completa em finidade, ser insento de ser, predestinadoao prémio excelso de exalar-se.Não mais, não mais gozode instantes de delícia, pasmo, espasmoQueru a última ração do vacuo, a última danação, parágrafo, penultimodo estado- menos isso – de não ser.

Carlos Drummond de Andrade

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Sono limpo

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São como um cristal,as palavras.Algumas, um punhal,um incêndio.Outras,orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.Inseguras navegam:barcos ou beijos,as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,leves.Tecidas são de luze são a noite.E mesmo pálidasverdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quemas recolhe, assim,cruéis, desfeitas,nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

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As palavras

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Quando eu sonhava, era assimQue nos meus sonhos a via;E era assim que me fugia,Apenas eu despertava,Essa imagem fugidiaQue nunca pude alcançar.Agora que estou desperto,Agora que a vejo fixar...Para quê? – Quando era vaga,Uma ideia, um pensamento,Um raio de estrela incertoNo imenso firmamento,Uma quimera, um vão sonho,Eu sonhava – mas vivia:Prazer não sabia o que era,Mas a dor não na conhecia...

Almeida Garrett

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QUANDO EU SONHAVA

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Um gosto de amoracomida com sol. A vidachamava-se "Agora".

Guilherme de Almeida

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gosto de pensar que a arte plásticaé flexívele estou disposto a aprendero limite das formasaceito como fimter feito à mão livreuma elipsesem nuncaa ter terminado

Carlos Peres Feio

Arte Plástica

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Sim, foi por mim que gritei. Declamei, Atirei frases em volta. Cego de angústia e de revolta.

Foi em meu nome que fiz, A carvão, a sangue, a giz, Sátiras e epigramas nas paredes Que não vi serem necessárias e vós vedes.

Foi quando compreendi Que nada me dariam do infinito que pedi, -Que ergui mais alto o meu grito E pedi mais infinito!

Eu, o meu eu rico de baixas e grandezas, Eis a razão das épi trági-cómicas empresas Que, sem rumo, Levantei com sarcasmo, sonho, fumo...

O que buscava Era, como qualquer, ter o que desejava. Febres de Mais. ânsias de Altura e Abismo, Tinham raízes banalíssimas de egoísmo.

Que só por me ser vedado Sair deste meu ser formal e condenado, Erigi contra os céus o meu imenso Engano De tentar o ultra-humano, eu que sou tão humano!

Senhor meu Deus em que não creio! Nu a teus pés, abro o meu seio Procurei fugir de mim, Mas sei que sou meu exclusivo fim.

Sofro, assim, pelo que sou, Sofro por este chão que aos pés se me pegou, Sofro por não poder fugir. Sofro por ter prazer em me acusar e me exibir!

Senhor meu Deus em que não creio, porque és minha criação! (Deus, para mim, sou eu chegado à perfeição...) Senhor dá-me o poder de estar calado, Quieto, maniatado, iluminado.

Se os gestos e as palavras que sonhei, Nunca os usei nem usarei, Se nada do que levo a efeito vale, Que eu me não mova! que eu não fale!

Ah! também sei que, trabalhando só por mim, Era por um de nós. E assim, Neste meu vão assalto a nem sei que felicidade, Lutava um homem pela humanidade.

Mas o meu sonho megalómano é maior Do que a própria imensa dor De compreender como é egoísta A minha máxima conquista...

Senhor! que nunca mais meus versos ávidos e impuros Me rasguem! e meus lábios cerrarão como dois muros, E o meu Silêncio, como incenso, atingir-te-á, E sobre mim de novo descerá...

Sim, descerá da tua mão compadecida, Meu Deus em que não creio! e porá fim à minha vida. E uma terra sem flor e uma pedra sem nome Saciarão a minha fome. Jose Régio

 

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Amo-te tanto meu amor... não canteO humano coração com mais verdade...Amo-te como amigo e como amanteNuma sempre diversa realidade.

Amo-te enfim, de um calmo amor prestanteE te amo além, presente na saudade.Amo-te, enfim, com grande liberdadeDentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmenteDe um amor sem mistério e sem virtudeCom um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúdeÉ que um dia em teu corpo de repenteHei de morrer de amar mais do que pude.

Vinicios de Moraes

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Soneto do amor total

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para a escrita não bastaa canetao papel pode serobrigatóriomas mais necessárioé o lugar de criaçãono momento fatalo som certonem sempre músicauma esfera envolvente não identificada

então o tremor internoe a poesiasai-te da mão

Carlos Peres Feio

Lugar de Criação

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Há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijamComo se tivessem boca.Palavras de amor, de esperança,De imenso amor, de esperança louca. Palavras nuas que beijas Quando a noite perde o rosto;Palavras que se recusamAos muros do teu desgosto. De repente coloridasEntre palavras sem cor,Esperadas inesperadasComo a poesia ou o amor.

(O nome de quem se amaLetra a letra reveladoNo mármore distraídoNo papel abandonado) Palavras que nos transportamAonde a noite é mais forte,Ao silêncio dos amantesAbraçados contra a morte.

Alexandre O’Neill

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Antologia Poética

Quero-te ao pé de mim na hora de morrer.Quero, ao partir, levar-te, todo suavidade,Ó doce olhar de sonho, ó vida dum viverAmortalhado sempre à luz duma saudade!

Quero-te junto a mim quando o meu rosto brancoSe ungir da palidez sinistra do não ser,E quero ainda, amor, no meu supremo arrancoSentir junto ao meu seio teu coração bater!

Que seja a tua mão tão branda como a neveQue feche o meu olhar numa carícia leveEm doce perpassar de pétala de lis…

Que seja a tua boca rubra como o sangueQue feche a minha boca, a minha boca exangue!…………………………………………….Ah, venha a morte já que eu morrerei feliz!…

Florbela Espanca

Desejo

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Pelo céu às cavalitas,Escondi nos teus caracóis,A estrela mais bonita, que eu já vi

Eu cresci com um encanto,De ser caçador de sóis,Eu já corri tanto, tanto para ti

Fui um príncipe encantadoMontado nos teus joelhos,Um eterno enamorado, a valer

Lancelot de algibeira,Mas segui os teus conselhosPara voltar à tua beiraE ser o que eu quiser

Os teus olhos foram esperançaOs meus olhos girassóisFomos onde a vista alcança da nossa janela

Antologia Poética

Já deixei de ser criança e tu dormes à lareiraAinda sinto a minha estrela nos teus caracóis

Os teus olhos foram esperançaOs meus olhos girassoisFomos onde a vista alcança da nossa janela

Já deixei de ser criança e tu dormes à lareiraAinda sinto a minha estrela nos teus caracóis

Os teus olhos foram esperançaOs meus olhos girassoisFomos onde a vista alcança da nossa janela

Já deixei de ser criança e tu dormes à lareiraAinda sinto a minha estrela nos teus caracóis

Ala dos namorados

Caçador de sois

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No canto escuro da salaMurmuravam dois poetasFiquei preso à minha almaSeguindo as conversas

Ouvi Caetano e ouvi PalmaCantar versos proibidosDaqueles que noutros temposCantavam só entre amigos

Sobre mim um compasso mais forteSei que posso nele naufragarQuando estiver à beira do fimVolto a começar

Antologia Poética

E se a estrada pode ser diferenteQuanto mais depressa quiser chegarSe tiver que parar de repenteVou recomeçar

Guardo nas minhas gavetas Velhos discos de cantigasDe contracapas já negrasDe tantas vezes mexidas

Quando tudo nos esmagaFicamos comprometidosCom uma sede danadaDos tais versos proibidos

João Pedro Pais

Versos Proibidos

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Desejo

Florbela Espanca

Este poema é caracterizado pelo tom romântico, simbólico e confidencial de um eu-lírico que desejava/ quer ter alguém em especial a seu lado, momentos antes da morte que se aproxima.Este declama a uma segunda pessoa, a vontade de a ter por perto em momento tão fulcral de sua vida, a morte. Essa vontade vem adicionada ao desejo carnal que o eu declara.O sujeito poético demonstra que apenas poderá morrer feliz e realizado se “Quero-te ao pé de mim na hora de morrer.”.Em relação a figuras de estilo, existência de anáforas “Quero-te ao pé de mim na hora de morrer./ Quero, ao partir, levar-te, todo suavidade/Quero-te junto a mim quando o meu rosto branco ”; comparações nos versos: “Que seja a tua mão tão branda como a neve/ Que seja a tua boca rubra como o sangue ”; eufemismo na expressão” fechar os olhos e a boca”, nos dois segundos versos das duas últimas estrofes, encarada pelo factor da morte.O poema é finalizado por reticências, influência simbólica que ratifica essa imprecisão, dando ao poema a ideia de incerteza, conferindo também a ideia de satisfação, percebendo-se que o sujeito poético deseja ter um momento único de prazer, instantes antes da morte que se aproxima.

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Antologia Poética

A maioria dos poemas que decidi colocar na minha antologia eram-me desconhecidos antes deste trabalho, pelo que tive de realizar pesquisas em várias fontes. Outros, porém,como, “Versos Proíbidos” e “Arte Plástica” têm um significado mais simbólico, tendo surgindo na minha vida de modo diferente, apesar disto, não significa que tenha uma maior preferência em relação aos restantes. Todos os poemas constantes desta “Antologia” têm um caractér importante pois todos me “dizem” algo, quer através do seu significado geral, quer através duma expressão mais vincada, como “Música, levai-me”. Considero que com este trabalho talvez tenha encontrado o meu autor de eleição, “do coração”, Eugénio de Andrade”. Ao ler uma vasta variedade de poemas deste poeta, senti que poderia colocar muitos mais, e, embora tenha dificuldade em escolher, talvez o meu preferido seja “Urgentemente”. Um outro poema que me impressionou muito foi “Desejo”, de Florbela Espanca, e sobre ele me deti mais pormenorizadamente.Em síntese, os poemas aqui constantes têm um motivo e razão comuns: a minha prefência sobre todos os outros - que já conhecia antes ou os que passei a conhecer graças a este trabalho que, embora tendo carácter obrigatório, me deu muito prazer efectuar.

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Fim