Das Três Trasformações

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 OS DISCURSOS DE ZARATUSTRA  DAS TRÊS TRANSFORMAÇÕE S 1 Tr ês tran sformaçõ es do esp íri to vos me nci ono : como o espírito se torna camelo, e o camelo em leão, e o leão, finalmente, em criança. Há muitas coisas pesadas para o espírito, para o espírito forte e sólido, respeitável. A força deste espírito está pedindo por coisas pesadas, e das mais  pesadas. O ue !á ue se"a pesado# $ per%unta o espírito de suportação. & a"oel!a'se como camelo e uer ue o carre%uem (em. )ue !á mais pesado, !eróis $  per%unta o espírito de suportação $ para ue eu o coloue so(re mim, para ue a min!a força se ale%re#  *ão será re(ai+armos'nos para o nosso or%ul!o  padecer# ei+ar (ril!ar a nossa loucura para -om(armos da nossa sensate-# Ou será separarmos'nos da nossa causa uando ela cele(ra a sua vitória# &scalar altos montes para tentar o ue nos tenta# Ou será sustentarmos'nos com (olotas e erva do con!ecimento e padecer fome na alma por causa da verdade# Ou será estar enfermo e despedir a consoladores e travar ami-ade com surdos ue nunca ouvem o ue ueremos# Ou será su(mer%imos 'nos em á%ua su"a uando a á%ua da verdade, e não afastarmos de nós as frias rãs e os uentes sapos# Ou será amar os ue nos despre-am e estender a mão ao fantasma uando nos uer assustar# O espírito de suportação so(recarre%a'se de todas es tas coisas pesadíss imas/ e 0 seme l!ança do camelo ue corre carre%ado pelo deserto, assim ele corre pelo seu deserto.  *o deserto mais solitário, porm, se efetua a se%un da trans formação: o espír ito torna 'se leão/ uer conuistar a li(erdade e ser sen!or no seu  próprio deserto. 1rocura então o seu 2ltimo sen!or, uer ser seu inimi%o e de seus dias/ uer lutar pela vitória com o %rande dra%ão. )ual o %rande dra%ão a ue o espírito "á não uer 3   *4&T567H&, 8rederic!. Assim Falava Zaratustra. Tradução (ase: 9os endes de 6ou-a. ;e rsão para e<oo= >???.e(oo=s(rasil.com@ c!amar eus, nem sen!or# Tu devesB, assim se c!ama o %rande dra%ão/ mas o espírito do leão di-: &u ueroB. O tu devesB está postado no seu camin!o, como animal escamoso de áureo ful%or/ e em cada uma das suas escamas (ril!a em douradas letras: Tu devesCB ;a lores milenares (ril!am nessas escamas, e o mais  poderoso de todos os dra%ões fala assim: &m mim (ril!a o valor de todas as coisasB. Todos os valores foram "á criados, e eu sou todos os valores criados. 1ara o futuro não deve e+istir o eu ueroCB Assim falou o dra%ão. eus irmãos, ue falta fa- o leão no espírito# *ão  (astará a (esta de car% a ue a(dica e venera# 7riar valores novos coisa ue o leão ainda não  pode/ mas criar uma li(erdade para a nova criação, isso pode o poder do leão. 1ara criar a li(erdade e um santo *DO, mesmo  perante o dever/ para isso, meus irmãos, preciso o leão. 7onuistar o direito de criar novos valores a mais terrível apropriação aos ol!os de um espírito de suportação e de respeito. 1ara ele isto uma ve rd adeira ra pi na e co isa  própria de um animal rapinante. 7omo o mais santo, amou em seu tempo o tu devesB e a%ora tem ue ver a ilusão e ar(itrariedade at no mais santo, a fim de conuistar a li(erdade 0 custa do seu amor. E preciso um leão para esse feito. i-ei' me , por m, irm ãos: u e pod erá a cri anç a fa-er ue não !a"a podido fa-er o leão# 1ara ue será preciso ue o altivo leão se mude em criança# A criança a inocência, e o esuecimento, um novo começar, um (rinuedo, uma roda ue %ira so(re si, um movimento, uma santa afirmação. 6im/ para o "o%o da criação, meus irmãos, preciso uma santa afi rma ção : o esp írito ue r a%o ra a  sua vontade, o ue perdeu o mundo uer alcançar o  seu mundo. Três tra nsf orm açõ es do esp íri to vos mencio nei : como o espírito se transformava em camelo, e o camelo em leão, e o leão, finalmente, em criançaB. Assim falava 5aratustra. & nesse tempo residia na cidade ue se c!ama ;aca al!adaB.

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Nietzsche

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OS DISCURSOS DE ZARATUSTRA

OS DISCURSOS DE ZARATUSTRA DAS TRS TRANSFORMAES

Trs transformaes do esprito vos menciono: como o esprito se torna camelo, e o camelo em leo, e o leo, finalmente, em criana.

H muitas coisas pesadas para o esprito, para o esprito forte e slido, respeitvel. A fora deste esprito est pedindo por coisas pesadas, e das mais pesadas.

O que h que seja pesado? pergunta o esprito de suportao. E ajoelha-se como camelo e quer que o carreguem bem. Que h mais pesado, heris pergunta o esprito de suportao para que eu o coloque sobre mim, para que a minha fora se alegre?

No ser rebaixarmos-nos para o nosso orgulho padecer? Deixar brilhar a nossa loucura para zombarmos da nossa sensatez?

Ou ser separarmos-nos da nossa causa quando ela celebra a sua vitria? Escalar altos montes para tentar o que nos tenta?

Ou ser sustentarmos-nos com bolotas e erva do conhecimento e padecer fome na alma por causa da verdade?

Ou ser estar enfermo e despedir a consoladores e travar amizade com surdos que nunca ouvem o que queremos?

Ou ser submergimos -nos em gua suja quando a gua da verdade, e no afastarmos de ns as frias rs e os quentes sapos?Ou ser amar os que nos desprezam e estender a mo ao fantasma quando nos quer assustar?

O esprito de suportao sobrecarrega-se de todas estas coisas pesadssimas; e semelhana do camelo que corre carregado pelo deserto, assim ele corre pelo seu deserto.

No deserto mais solitrio, porm, se efetua a segunda transformao: o esprito torna-se leo; quer conquistar a liberdade e ser senhor no seu prprio deserto.

Procura ento o seu ltimo senhor, quer ser seu inimigo e de seus dias; quer lutar pela vitria com o grande drago.Qual o grande drago a que o esprito j no quer chamar Deus, nem senhor?

Tu deves, assim se chama o grande drago; mas o esprito do leo diz: Eu quero.

O tu deves est postado no seu caminho, como animal escamoso de ureo fulgor; e em cada uma das suas escamas brilha em douradas letras: Tu deves!

Valores milenares brilham nessas escamas, e o mais poderoso de todos os drages fala assim:

Em mim brilha o valor de todas as coisas.

Todos os valores foram j criados, e eu sou todos os valores criados. Para o futuro no deve existir o eu quero! Assim falou o drago.

Meus irmos, que falta faz o leo no esprito? No bastar a besta de carga que abdica e venera?

Criar valores novos coisa que o leo ainda no pode; mas criar uma liberdade para a nova criao, isso pode o poder do leo.

Para criar a liberdade e um santo NO, mesmo perante o dever; para isso, meus irmos, preciso o leo.Conquistar o direito de criar novos valores a mais terrvel apropriao aos olhos de um esprito de suportao e de respeito.

Para ele isto uma verdadeira rapina e coisa prpria de um animal rapinante.

Como o mais santo, amou em seu tempo o tu deves e agora tem que ver a iluso e arbitrariedade at no mais santo, a fim de conquistar a liberdade custa do seu amor. preciso um leo para esse feito.

Dizei-me, porm, irmos: que poder a criana fazer que no haja podido fazer o leo? Para que ser preciso que o altivo leo se mude em criana?

A criana a inocncia, e o esquecimento, um novo comear, um brinquedo, uma roda que gira sobre si, um movimento, uma santa afirmao.

Sim; para o jogo da criao, meus irmos, preciso uma santa afirmao: o esprito quer agora a sua vontade, o que perdeu o mundo quer alcanar o seu mundo.

Trs transformaes do esprito vos mencionei: como o esprito se transformava em camelo, e o camelo em leo, e o leo, finalmente, em criana.

Assim falava Zaratustra. E nesse tempo residia na cidade que se chama Vaca Malhada. Nietzsche, Frederich. Assim Falava Zaratustra. Traduo base: Jos Mendes de Souza. Verso para eBook