De Cumbica a Val-de-Cans

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p po or r L L i i c c o o M M o o t t a a

description

Uma biografia em forma de poesia. Uma história de amor da utopia a realidade.

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ppoorr LLiiccoo MMoottaa

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AgradecimentosAgradecimentosAgradecimentosAgradecimentos

Ao amigo Tim Berners-Lee por ter inventado a internet e possibilitado um

mundo mais integrado.

Ao nerd Khaled Mardam-Bey, inventor do mIRC, por ter permitido que as

pessoas pudessem se comunicar a distância sem precisar esperar uma carta

por dias ou pagar contas astronômicas de telefone.

Ao turco Orkut Büyükkökten por ter fornecido os meios de aproximar pessoas

que haviam perdido contato por muitos anos.

A TIM e a GOL porque apesar de serem pessoas jurídicas, são caras legais e

permitiram que a saudade não machucasse tanto.

E por último, mas principalmente, ao contrário das brincadeiras acima,

agradeço a Deus por ter me reservado alguém especial e temente ao Senhor.

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“Você é um jardim fechado, minha irmã, minha noiva;

você é uma nascente fechada, uma fonte selada”

Cântico dos Cânticos 4:12

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ÍNDICE

MENOR DISTÂNCIA ENTRE : ...........................................................5

QUEM FOMOS?........................................................................................7

E ASSIM FOI... ........................................................................................10

DOIS PONTOS DE PARTIDA ...........................................................12

CARTA SOCIAL .......................................................................................14

CARTA PARA DEUS .............................................................................17

(RE)ENCONTRO ......................................................................................21

CARTAS NA MESA ...............................................................................23

UM PONTO DE CHEGADA ...............................................................25

VÔO LIVRE.................................................................................................29

QUEM SOMOS? .....................................................................................31

PRÓLOGO ..................................................................................................32

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MENOR DISTÂNCIA ENTRE DOIS PONTOSMENOR DISTÂNCIA ENTRE DOIS PONTOSMENOR DISTÂNCIA ENTRE DOIS PONTOSMENOR DISTÂNCIA ENTRE DOIS PONTOS

A distância entre Santos/SP e Belém/PA é em torno de

3000 km.

Numa caminhada a 4 km/h, é possível chegar até Belém

em pouco mais de 1 mês (ou 750 horas sem parar nem pra ir no

banheiro).

Um ônibus viajando a 80 km/h faz o mesmo trajeto em

pouco mais de um dia e meio de jornada. Já um carro viajando a

100 km/h encontrando todos os semáforos abertos e sem

lombadas chega em até 30 horas na capital paraense.

Em um avião comercial partindo do aeroporto de Cumbica

em Guarulhos-SP com destino ao aeroporto de Val-de-Cans em

Belém sem escalas, a distância é compensada em até quatro

horas.

Mas duas pessoas apaixonadas derrubam a barreira da

distância transportados em uma fração de segundos pelo bater

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sincronizado de seus corações.

Não sentem os quilômetros como se estivessem sempre

ali. E de certo modo, estão.

O amor é a menor distância entre dois pontos.

Nada os separa, pois dobram o espaço.

Ignoram o tempo, pois tem disposição por toda a vida.

“A esperança tem asas. Faz a alma voar.

Canta a melodia mesmo sem saber a letra.

E nunca desiste.

Nunca.”

- Emiy Dickinson

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QUEM QUEM QUEM QUEM FFFFOMOS?OMOS?OMOS?OMOS?

Lindenberg de Paula Mota, 34 anos, divorciado, uma

filha. Nascido em Contagem-MG e residente em Santos-SP

durante quase a vida inteira.

Teve a bênção de ser pai de Stephanie Mota em 2007,

período que estava casado.

Após 4 anos, presenciou o encerramento de algo que

deveria ser infindável com a quebra dos votos matrimoniais.

Enquanto um casamento em crise pode se tornar algo

difícil de ser sustentado, um lar destruido é uma ferida aberta

que não cicatriza.

Nao há vencedores em um divórcio. O fim de um lar é

perda irreparável.

Qualquer bem material é superfluo diante da ausência

inevitavel na vida dos filhos.

Deve ser isso que faz com que votos de casamento sejam

eternos e dignos de absoluto respeito.

Temeu que fosse tarde para entender tudo isso, mas

comprovou mais uma vez que para Deus nada é impossível.

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* * * * *

Jamile Dias Pereira, 34 anos, solteira, dois filhos, nascida

e residente em Belém.

Em 1999, teve a primeira filha, Isabella Miranda. Em 2002,

fruto de um outro relacionamento, nasceu André Henrique

Pereira.

A vida com filhos, mas sem um casamento tratou de

mostrar que faltava a sensação de plenitude dentro de seu lar.

Esse propósito ela entendeu apenas em 2005, quando

aceitou Jesus Cristo como Salvador de sua vida.

A Biblia lhe mostrou a importância da família e de um lar

abençoado pelos que temem a Deus e seguem sua Palavra.

Transformou seu entendimento e sua vida para auxiliar na

conversão de toda sua casa.

Porém, mesmo tendo todo o entendimento, ainda lhe

faltava o varão.

Temeu que fosse tarde demais para entender tudo isso,

mas comprovou mais uma vez que para Deus nada é

impossível.

* * * * *

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Relacionamentos podem ser um tanto quanto difíceis de se

manter.

Para que durem para sempre, devem ser alimentados para

sempre. Um ciclo eterno que se recicla.

O primeiro amor outra vez e mais outra até que todo

esforço se torne algo natural. Até que dois sejam um como uma

verdade involuntária.

O casamento é o ser e não o estar; é uma constante

inalterável e não uma condição transitória. Podemos viver

apenas uma vez, morrer muitas e ainda assim, permanecer

juntos.

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E ASSIM FOI...E ASSIM FOI...E ASSIM FOI...E ASSIM FOI...

Foi em Novembro de 1996 que falei com a Jamile pela

primeira vez.

A noção de globalização ainda era um embrião e ninguém

tinha muita idéia do potencial da internet e de onde ela chegaria

na vida das pessoas.

Mas foi em um bate-papo virtual descompromissado que

conheci sem querer a mulher que mudaria minha vida muitos

anos depois.

Ficamos amigos e conversamos mais algumas vezes, eu

teclando de minha casa e ela do laboratório da faculdade.

Como o papo era bom, os laços de amizade estreitaram e

a distância diminuiu. Estendemos nosso contato para o telefone

e chegamos até mesmo a trocar cartas - algo que era mais

comum numa época em que não havia mobilidade na internet e

nem todo mundo tinha conta de e-mail ou pagava um provedor

em casa.

Mesmo morando 3000 km de distância um do outro,

chegamos até mesmo a nos conhecer pessoalmente num breve

encontro na Ilha de Mosqueiro.

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Mas cada vida foi tomando um rumo diferente. A amizade

esfriou e acabamos por ficar distantes novamente.

Foram 13 longos anos até que novamente a internet nos

uniu. O Orkut - rede social que ficou famosa por ajudar que as

pessoas colecionassem amigos em seu perfil e encontrassem

amigos e parentes que há muito perdemos contato - trouxe de

volta a vida de um pra vida do outro.

Curiosos sobre o rumo das vidas dessa valiosa amizade,

voltamos a nos falar. Resgatamos a amizade à distância perdida

no tempo.

Rapidamente esses laços aumentaram e veio a vontade de

se ver pessoalmente.

Novamente coloquei meus pés em Belém do Pará e dessa

vez firmei eles no chão.

Um discreto interesse que começou distante e terminou

como paixão lado a lado, de dedos entrelaçados e sorrisos

bobos.

Teve início uma história de amor que venceu todas as

barreiras e não mais teria fim.

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DOIS PONTOS DE PARTIDADOIS PONTOS DE PARTIDADOIS PONTOS DE PARTIDADOIS PONTOS DE PARTIDA

NOVEMBRO DE 1996

A barra de rolagem subia e descia, enquanto meus olhos

procuravam atentos por nomes na lista de pessoas do canal.

"Só mais um pouco e desligo", repeti pra mim mesmo

tentando me convencer. O limite mensal de gastos de 15 horas

de internet por mês estava pra estourar e quando chegasse a

conta do provedor, meu irmão com certeza ia me matar.

Entre uma centena de nicknames entrando e saindo, um

me chamou a atenção.

* Mille@ has joined chat

Abri uma nova janela despertado pela curiosidade e decidi

relutante arriscar uma conversa onde minha timidez estaria

disfarçada pelo anonimato da sala de bate-papo.

Do outro lado, em um dos micros do laboratório da Unama,

uma jovem morena de cabelos longos e sorriso encantador

recebeu uma janela de alerta com um pedido de conversa

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privada e aceitou.

E o que era pra ter sido apenas mais um jeito de passar o

tempo brincando de jogar conversa fora, acabou se tornando o

início de uma longa jornada.

Conversamos e rimos por mais de uma hora. Fiquei

impressionado porque acabara de conhecer uma garota

inteligente, alegre e talentosa.

Aquela conversa também foi a minha primeira impressão

sobre Belém. Não conhecia nada do Pará a não ser o fato de ser

longe e, claro, dos times de futebol - Remo, Paysandu e Tuna

Luso (o futebol me ensinou muito sobre geografia!).

E naquele dia, tive uma boa impressão sobre o povo do

Pará. Dali por diante, procuraria pessoas de Belém para

conversar, pois sabia que encontraria um povo amistoso e

divertido ainda que de costumes tão diferentes do que eu estava

acostumado na região Sudeste.

Passei a gostar um pouco mais daquela terra sem saber

que um ano depois estaria pisando no chão daquela mesma

Belém, onde conheceria pessoalmente, mesmo que apenas de

passagem na ilha de Mosqueiro, a garota que um dia seria

instrumento de Deus na minha vida.

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CARTA SOCIALCARTA SOCIALCARTA SOCIALCARTA SOCIAL

Após uma ótima primeira impressão, voltamos a sala de

bate-papo pra conversar mais outras vezes.

Trocamos número de telefone numa época onde não havia

celular e só dava pra falar com um cartão telefônico de vez em

quando, apesar de uma ligação interurbana desse porte

consumir todos os créditos.

Por fim, para fortalecer os laços de amizade, trocamos

endereço. Não o endereço de e-mail que hoje é algo mais

comum e até datado, mas sim o endereço de nossas casas para

trocarmos correspondência pelo meio mais romântico: o correio.

O prazer de escrever a carta e depois ficar no aguardo da

outra pessoa receber e prontamente preparar e enviar uma

resposta é estimulante. Foi assim que fiz muitas amizades por

todo o Brasil numa época pré-internet.

Algo mais pessoal e gostoso de se guardar mesmo que as

folhas amarelem com o tempo.

Bastava escrever a carta e depois com apenas um selo de

um centavo e os dizeres “carta social” na frente do envelope,

enviar para o destinatário e aguardar.

Ainda hoje, a Jamile e eu trocamos cartas à moda antiga

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de vez em quando para dizer um ao outro o quanto se ama com

letras escritas pelo próprio punho.

Com o tempo, usamos mais as cartas e menos a internet.

A essa altura eu estava namorando e ela também estava e uma

distância natural foi sendo estabelecida.

Aos poucos, aquela amizade que tinha se fortalecido foi

diminuindo e a vida seguiu seu curso.

O tempo de espera pelas cartas começou a aumentar até

que elas pararam de chegar.

Em 1998, já não tinhamos mais nenhum contato e assim

provavelmente teria se encerrado nossa história.

Mas o mundo dá muitas voltas. Muitas mesmo.

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Depois perguntou Labão a Jacó:

_Por seres meu irmão hás de servir-me de graça? Declara-me, qual será o

teu salário?

Ora, Labão tinha duas filhas; o nome da mais velha era Léia, e o da mais

moça Raquel. Léia tinha os olhos enfermos, enquanto que Raquel era formosa

de porte e de semblante. Jacó, porquanto amava a Raquel, disse:

_ Sete anos te servirei para ter a Raquel, tua filha mais moça.

Respondeu Labão: Melhor é que eu a dê a ti do que a outro; fica comigo.

Assim serviu Jacó sete anos por causa de Raquel; e estes lhe pareciam

como poucos dias, pelo muito que a amava.

Então Jacó disse a Labão:

_ Dá-me minha mulher, porque o tempo já está cumprido; para que eu a

tome por mulher.

Reuniu, pois, Labão todos os homens do lugar, e fez um banquete.

A tarde tomou a Léia, sua filha e a trouxe a Jacó, que esteve com ela.

E Labão deu sua serva Zilpa por serva a Léia, sua filha.

Quando amanheceu, eis que era Léia; pelo que perguntou Jacó a Labão:

_ Que é isto que me fizeste? Porventura não te servi em troca de Raquel?

Por que, então, me enganaste?

_ Não se faz assim em nossa terra; não se dá a menor antes da

primogênita. - respondeu Labão. _ Cumpre a semana desta; então te daremos

também a outra, pelo trabalho de outros sete anos que ainda me servirás.

Assim fez Jacó, e cumpriu a semana de Léia; depois Labão lhe deu por

mulher sua filha Raquel.

Gênesis 29:15-28

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CARTA PARA DEUSCARTA PARA DEUSCARTA PARA DEUSCARTA PARA DEUS

_ Hoje quero que todas as irmãs solteiras pensem no

varão que querem para suas vidas e escrevam sobre ele em um

carta.

Muitos anos se passaram desde as cartas de 1997 e muito

tinha mudado em nossas vidas.

Na ocasião, em Setembro de 2010, sabia apenas que

minha antiga amiga teve dois filhos, havia se convertido e agora

era evangélica como eu graças ao Orkut - a primeira rede social

que fez todo mundo reencontrar as pessoas do seu passado.

E foi em um desses dias que o Pastor lançou o desafio

para que as moças solteiras de sua igreja descrevessem em

detalhes, o que esperavam de um companheiro em uma carta

pra Deus.

A caneta batucava na mesa e o papel em branco era um

desafio de fé. Enquanto isso, as outras moças firmemente

enchiam o papel com características triviais — “tem que ser

bonito, galã de novela, rico de preferência...”. Ela pensou que

isso podia ser bom, mas ainda assim era vago.

Uma das primeiras características únicas anotadas foi:

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“Ele deve morar em outro Estado”.

Não me pergunte porque isso é algo relevante, mas sei

que isso ajudou a Deus me reservar pra essa moça no outro

lado do país.

A caneta começou a percorrer o papel de forma mais

fluida e ela abriu o coração descrevendo tudo que queria pra

Deus.

Mas foi lá pro final da carta que recorreu a Bíblia para as

principais características daquele que queria como seu

companheiro.

A primeira das características veio de uma história de

amor do Velho Testamento:

“Alguém resgatador na minha vida

como foi Boaz na vida de Rute”

Nessa história de amor da Bíblia, Boaz toma Rute como

sua esposa sendo essa viúva, restaurando a sua honra.

A segunda característica veio da história narrada no livro

de Genesis:

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“Alguém que fosse separado pra mim

como Isaque para Rebeca”

Rebeca havia sido escolhida para Isaque em uma clara

resposta de uma oração. E essa carta nada mais era que uma

oração por alguém que pudesse ter certeza que fosse um amor

para sempre como resposta de Deus.

Por fim, a última característica marcante conforme a

Bíblia veio da história do paciente Jacó que trabalhou por 7 anos

pela mão de Raquel e foi enganado, tendo que trabalhar mais 7

anos para ter a mão de Raquel.

“Alguém que me ame como Jacó amou Raquel;

Que não desista de mim, mesmo que as circunstâncias

sejam difíceis”

E a carta foi parar na caixa postal de Deus, mas a própria

Jamile admite que não tinha em mente que aquela carta seria

respondida mais rápida do que um sedex e que ela encontraria

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alguém que apesar de todas as dificuldades, teria certeza do

seu valor, do sacrifício que fez pelos seus filhos, pronto pra

resgatar sua honra perante a sociedade e que esperasse e

superasse as dificuldades que fossem preciso pra estar com ela.

E nunca desistir de algo tão valioso.

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(RE)ENCONTRO(RE)ENCONTRO(RE)ENCONTRO(RE)ENCONTRO

E assim como na história de Jacó, quatorze anos se

passaram até que eu voltasse a ter contato com a minha

Raquel.

Foi em Novembro de 2010, durante o processo do meu

divórcio e provavelmente adentrando o pior momento de toda

minha vida, que recebi uma mensagem da Jamile de felicitações

pelo meu aniversário via Orkut.

Fiquei feliz pela lembrança. Fazia muito tempo que não

falava com a Jamile e lembrava que apesar de pouco contato

que tivemos no passado, sua meteórica passagem pela minha

vida tinha sido de boas recordações.

Olhando fotos de seu perfil vi que seus filhos estavam

grandes, sua vida modificada e ela ainda mais bonita do que eu

lembrava.

Respondi com um agradecimento e começamos a partir

dali a trocar mensagens curtas até que o espaço do Orkut se

tornou pequeno para tudo que queríamos saber e toda conversa

que queriamos colocar em dia.

Assim como foi no passado, trocamos todas as formas de

contato que tinhamos disponíveis. Primeiro por MSN e depois

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telefone.

E como foi bom ouvir aquela voz macia de sotaque

paraense novamente!

Estreitamos laços e ficamos amigos em um momento

crucial na vida um do outro. Participamos da vida do outro

fazendo companhia até que de férias marcadas e cansado da

rotina e dos últimos eventos daqui, tudo que eu mais queria era

passar algum tempo longe. Decidi arriscar e perguntar o que ela

achava se eu voltasse a Belém tantos anos depois e

pudessemos passear como amigos.

Num primeiro momento achei que ela fosse negar o

pedido, mas ela concordou.

Foi então que o que seria apenas o reencontro de bons

amigos se tornou algo mais. Os olhos brilharam, as mãos

suaram, os sinos tocaram.

O que nem cogitavamos no começo se tornou realidade.

O amor estava no ar.

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CARTAS CARTAS CARTAS CARTAS NA MESANA MESANA MESANA MESA

A partir da primeira despedida difícil, a vontade de se ver

de novo se tornava mais forte e inevitável.

Quanto mais pensávamos que seriamos maduros o

suficiente para entender que aquilo era uma ilusão e que um

amor a distância — e com tantas variáveis familiares contrárias —

não foi feito pra durar, mais nossa relação quebrava barreiras

que antes pareciam intransponíveis.

Era notório que precisávamos um do outro.

E foi justamente quando voltei a Belém, ciente de que a

distância se tornara um poderoso inimigo, que tomei uma

decisão importante — talvez a mais importante de todas, mas

não tão difícil quanto parecia.

Escolhi uma tarde tranquila no meio da semana para irmos

até o Restaurante Pier 47 (que nada mais é que um charmoso

navio ancorado no complexo Ver-o-Rio) para um almoço a dois

com direito a surpresa no prato principal.

Esperava uma oportunidade aparecer, mas não sabia

como introduzir o assunto.

Quando ela se ausentou da mesa por um breve minuto,

eis que surgiu a situação ideal.

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Assim que ela voltou, o guardanapo do seu lado da mesa

nitidamente estava cobrindo algo.

Ao afastar o guardanapo, uma pequena caixa aberta

guardava um par de alianças douradas. Por um momento, ela

hesitou confusa e com os olhos brilhando.

_ Você aceita...?

Sem acreditar no quanto havia sido surpreendida e com

um sorriso estampando o rosto, limitou-se a responder:

_ SIM!

E assim, apenas um ano depois de termos voltado a nos

falar, estavamos assumindo um compromisso um com o outro,

uma certeza que esse era o passo que nos levaria a algo maior.

Colocamos as cartas na mesa para todos aqueles que não

acreditavam no quanto nosso relacionamento tendia a ser sério.

Não estavamos blefando.

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UM PONTO DE CHEGADAUM PONTO DE CHEGADAUM PONTO DE CHEGADAUM PONTO DE CHEGADA

_ Essa é a última vez que você vai embora de perto de

mim.

Os nossos encontros estavam ficando cada vez mais

complicados. A demora para se ver novamente e o pouco tempo

disponível quando estavamos juntos começou a pesar e

incomodar.

Mais de quatro meses haviam se passado desde nosso

último encontro e agora uma série de fatores fizeram com que o

nosso tempo juntos durasse menos de uma semana.

No aeroporto de Guarulhos mais uma vez, aguardavamos

o voo da Jamile de volta a Belém. Estava com a sensação de

que esperamos tanto por uma oportunidade de ficar juntos e não

conseguimos aproveitar quase nada.

Cada um daqueles interlúdios de saudade estavam cada

vez mais nos agoniando.

Em um abraço de quinze minutos que tentavamos fazer

durar pra sempre, olhei o relógio e também nossas alianças.

O relógio era implacável. Opressão em forma de ponteiros.

Apressava a necessidade de embarque imediato no portão

reservado aos voos nacionais e me lembrava que estava

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atrasado para retornar ao trabalho.

Por outro lado, as alianças me diziam o grau de

compromisso assumido. Contavam uma história que ignorou

tempo e espaço e não deu ouvidos a pessimistas nem razão a

lógica.

E a crueldade do tempo e o alento do abraço facilitou a

tomada da decisão.

Não mais queria sentir saudade e viver vidas separadas.

Por mais que lutassemos juntos, viviamos realidades distantes.

_ O que? _ ela levantou o rosto que estava reclinado em

meu peito e me olhou confusa.

_ Essa é a última vez que você vai embora de perto de

mim, Jamile. _ eu disse olhando pros seus olhos marejados. _

Essa é nossa última despedida no aeroporto. Nosso próximo

encontro será definitivo. Vou te buscar e você volta comigo. Pra

sempre.

Com um beijo nos despedimos. Entrei no ônibus e sentei

na janela do último banco ao fundo. Não conseguiamos mais

conversar por conta das janelas fechadas, mas ficamos um

tempo nos olhando separados pelo vidro. Tristes pela partida,

mas felizes porque sabíamos que seria a última vez.

O motorista ligou o ônibus e antes que pudesse dar a

partida, aconteceu algo inusitado. Vi a Jamile correr em direção

a porta do ônibus e conversar algo com o motorista.

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O motorista abriu a porta do fundo do ônibus. Ela subiu,

tirou um papel dobrado da bolsa, estendeu o braço em minha

direção pra me entregar e desceu novamente.

Era uma carta escrita a mão dizendo que estava indo

embora, mas que eu não deveria desanimar, pois um dia ela

voltaria para ficar pra sempre ao meu lado. Esperaria o tempo

que fosse por isso.

Olhei pra ela e estava sorrindo. O ônibus partiu e nos

afastamos mais uma vez sem saber quando seria o próximo

encontro.

Não tinha certeza de quando ela escreveu a carta e quanto

tempo esperou para me entregá-la, mas com certeza foi antes

de eu ter dito aquelas palavras. Ela nem imaginava que eu

tomaria a decisão de dar o próximo passo tão cedo.

Naquele momento, tive certeza do que estava fazendo.

Alguns meses depois daquele episódio, eu voltaria para

buscá-la como prometi. Levá-la ao altar e fazer votos diante de

Deus. Celebrar nossa união em uma grande festa de

casamento. A conclusão de uma longa história de muitas pedras

no caminho e que desafiou todas as probabilidades.

Muitas coisas se passaram nesse meio tempo, todas

pensadas e executadas com calma e cuidado para que nosso

objetivo fosse possível. Uma agonia ansiosa querendo logo

resolver e fazer o sonho virar realidade e realização.

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Mas o amor é assim. Acha seu caminho percorrendo

longas distâncias para unir pessoas.

E quando a opressão do tempo parece prevalecer vem o

amor e dura para sempre.

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VÔO LIVREVÔO LIVREVÔO LIVREVÔO LIVRE

Acordei com o solavanco do avião.

Não era a primeira vez durante o vôo que acenderam as

luzes para afivelar os cintos. Não senti medo, mas um incômodo

natural. Aquela sensação de calmaria interrompida que a

turbulência te faz perceber que está a mais de 30.000 pés de

altura viajando entre as nuvens a mais de 800 quilômetros por

hora.

Mesmo quando pensamos estar seguros no céu, ainda

assim há pedras no caminho.

Então olho pela janela e minha mente flutua. Sigo nos

ares, flutuando, planando, quebrando a barreira do som e vejo

seu rosto se formando nas nuvens no horizonte. Sorrio e

continuo em frente, sem asas, rumo ao meu objetivo.

E o mundo diminui a medida que vou ganhando altitude

pensando em você. Sou livre e pedras atiradas não mais me

alcançam.

Chegar de Cumbica a Val de Cans pode parecer

demorado, mas nem sempre temos escolha. A vida não fornece

atalhos ou buracos de minhoca para bons destinos.

E nem sempre podemos pegar vôos diretos e estarmos

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prontos para colocar os pés no chão. Temos muito a aprender

com o percurso.

Vôos com escalas tendem a ser cansativos e demorados.

Costumam vir acompanhados de surpresas e paradas

prolongadas não previstas. Podemos perder muito tempo num

aeroporto desconhecido antes de chegar no nosso destino final.

Mas o tempo não importa. Ele deixa de vigorar aqui em

cima e se transforma em aprendizado.

A distância também não importa. Vencerei os quilômetros

um a um.

Enquanto Ícaro sonha amores platônicos, Santos Dumont

quebra paradigmas para tornar sonho em realidade.

A vida nos ensina a voar e o amor nos guia.

Que Val-de-Cans me aguarde! De luzes acesas na pista,

em festa para celebração de um pouso perfeito.

E depois disso, nunca mais voarei uma longa jornada

sozinho novamente.

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QUEM SOMOS?QUEM SOMOS?QUEM SOMOS?QUEM SOMOS?

E em um ato de amor divino, Lindenberg de Paula Mota e

Jamile Dias Pereira Mota, 34 anos, casados e feizes, passam a

se confundir na mesma pessoa. Deixam de ter duas histórias e

passam a ter o mesmo caminho entre bons e maus momentos.

E um brado de júbilo se ouve ao sexagésimo segundo do

minuto de silêncio. E o que era tristeza dá lugar a alegria, o que

faltava agora se completa.

Dois rostos são um. Sob as bençãos do Senhor, cordão de

três dobras.

Para Deus, nada é impossível.

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PRÓLOGOPRÓLOGOPRÓLOGOPRÓLOGO

O prólogo desse livro estar no final pode parecer estranho.

Mas esse não é apenas um final feliz, tampouco o fim.

Pelo contrário, é o início do resto de nossas vidas.

O início de uma história de amor com as bençãos de Deus.

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Afivelar os cintos

Manter a poltrona na vertical

Respeitar os sinais luminosos

E preparar para voar

Sem medo de tirar os pés do chão

Disposto a ir ás alturas sem pensar na queda

Apenas na sensação de estar nas nuvens com você

Onde nenhuma turbulência é ruim

Aliviar a bagagem

Disparar o coração

Respeitar os sentimentos

E te levar para voar

Entre Val-de-cans e Cumbica

parece não haver tanto espaço assim

Pois você está sempre ao meu lado

Onde a chegada é o ato de decolar

E a partida é parte de um ciclo

Um breve estado de incomodo causado pela distância

A espera de um novo pouso