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Agosto a Dezembro, 2016 Belo Horizonte Centoequatro + Teatro Espanca! 5ª Janela de Dramaturgia

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Apresentação

Curadoria

Abertura

Mostra

Encerramento

Ficha Técnica

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Janela de Dramaturgia: uma mostra de tex-tos teatrais inéditos de autoras e autores con-temporâneos. Consolidada na capital minei-ra como um importante espaço de difusão, fomento e crítica da nova dramaturgia, a mostra se dá através de leituras dramáti-cas seguidas de bate-papo com seus autores. Inicialmente voltado para a produção mineira, o projeto já recebe desde a sua última edi-ção dramaturgos de outras regiões do país e da América Latina. A realização de oficinas e workshops, palestras e rodas de conver-sa, lançamento de livros e produção crítica completa a proposta deste projeto: expandir e ventilar as paisagens dramatúrgicas do nosso tempo.

Esta é a quinta edição do Janela de Drama-turgia, que vai de agosto a dezembro de 2016. Na programação de abertura, um encontro com a dramaturga Silvia Gomez, mineira ra-dicada em São Paulo. A autora, destacada no cenário teatral paulista dos últimos anos, propõe uma dramaturgia baseada não em significados fixos e respostas prontas, mas em perguntas e incômodos. “Se está tudo bem, por que escrever uma peça?” – eis a questão proposta pela dramaturga quando entrevistada para um site. Ainda na abertura: o lançamento da coleção Janela de Drama-turgia – três livros que reúnem textos tea-trais mostrados nas três primeiras edições do projeto. A coleção, publicada pela Edito-ra Perspectiva – cujo projeto de publicação foi contemplado pelo Programa Rumos Itaú Cultural – é a maior reunião de dramatur-gias contemporâneas mineiras já impressa; faz um retrato do criativo momento que a cidade vive na sua produção textual para teatro e contempla uma diversidade de for-mas e sentidos.

A mostra deste ano apresenta dez textos inéditos de autores de diferentes regiões do país – critério primeiro que dirigiu a cura-doria da edição, realizada pelos organiza-dores do projeto Sara Pinheiro e Vinícius Souza, e pelos artistas convidados Daniel Toledo e Eid Ribeiro. Além da diversidade geográfica, a qualidade artística (entendida de maneira plural e flexível) e a disparidade formal e temática entre os textos foram ba-ses para a composição desta mostra, após o recebimento de quase setecentos materiais vindos de vinte e quatro estados do país. O resultado não se pretende um panorama da produção dramatúrgica brasileira, antes um recorte, discreto mas colorido, desta mesma produção. As estruturas textuais variam – das mais dramáticas àquelas fragmentadas ou descontruídas; bem como seus assuntos: de questões políticas e sociais urgentes aos de veias mais existenciais ou metafísicas. Os cenários vão da guerra na Síria ao sertão nordestino. Os sujeitos postos em cena vão da famosa ovelha clonada em 1996 ao índio colonizado pelo homem branco. Variam tam-bém em tamanho, movimento e velocidade! Ampliando e aprofundando ideias sobre as dramaturgias desta edição, a mostra con-ta com a participação de dez profissionais – entre artistas, críticos e pesquisadores, para a realização de debates e a produção de críticas.

O encerramento da 5ª Janela de Dramaturgia homenageia Eid Ribeiro: dramaturgo, rotei-rista, diretor e curador mineiro de longa es-trada no teatro brasileiro. Aos 73 anos, Eid segue como um dos artistas mais inquie-tos e provocativos da cena mineira, como um interlocutor generoso das novas gera-ções e um singular contador de histórias.

Apresentação

A ele é dedicada esta edição! Em dezembro, um texto inédito do autor será lido e a co-leção de obras teatrais de sua autoria, publicada pela editora Javali, será lançada na mesma noite.

Abrir uma janela não é tarefa fácil, tampou-co mantê-la aberta – sobretudo em tempos capitalizados e desmemoriados. Promover um evento de longo prazo dedicado à drama-turgia brasileira (sua divulgação, formação e crítica) significa agora não só oferecer e alargar possibilidades teatrais e artísticas, mas ocupar-se em resistir a qualquer crise política ou econômica; insistir no encontro e na convivência; perceber o entorno, encon-trar posição e mirar algum horizonte – é para isso que serve uma janela.

Este projeto é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo a Cultura de Belo Horizonte. Ele conta ainda com a parceria e colaboração de uma série de artistas, grupos e instituições que nele apostam.

Boa Janela!

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Daniel Toledoé pesquisador, criador e crítico em artes cênicas, performance e artes visuais. Mestre em Sociolo-gia da Cultura pela UFMG, com pesquisa sobre arte contemporânea, participação política e site specificity. Dramaturgo, diretor e ator, fundou em 2010 o coletivo T.A.Z., criando de sua auto-ria a Trilogia do Trabalho, com os espetáculos Fábrica de Nuvens, Clínica do Sono e Controle de Estoque. Como roteirista, dramaturgo e diretor assistente, colaborou com o coletivo Toda Deseo, a Cia. Afeta, o grupo Madame Teatro e a diretora Rita Clemente. Trabalhou por três anos como repórter e crítico de artes do Jornal O Tempo (MG), e atualmente é co-editor do site Horizonte da Cena e integrante da DocumentaCena – Pla-taforma de Crítica.

“Reunindo, mais uma vez, criações de todas as regiões do Brasil, o apanhado de textos teatrais enviados à 5ª Janela de Dramaturgia certamente confirma a diversidade de vozes, tempos e ima-ginários que nos constituem como país. Como forma de organizar essa diversidade, pareceu-me interessante privilegiar trabalhos capazes de sub-verter os discursos hegemônicos que nos cer-cam, contribuindo, cada um à sua maneira, para a expansão da nossa consciência e do nosso olhar crítico sobre o complexo contexto social e simbólico que compartilhamos e (re)construímos juntos, a cada dia. Avante!”

Curadoria

Eid Ribeiro

é dramaturgo, roteirista, curador e diretor teatral. Destacado como um dos artistas mais inventivos do cenário mineiro, atuando em Belo Horizonte desde a década de 60. Foi curador e diretor de programação do Festival Internacional de Tea-tro Palco & Rua de Belo Horizonte. Tem no seu percurso a fundação do Grupo Geração, coletivo teatral que atuou na resistência à ditadura mili-tar, a direção de históricos espetáculos como: Fala baixo senão eu grito de Leilah Assumpção (1973) e Há vagas para moças de fino trato de Alcione Araújo (1974), além da autoria de mais de quinze peças, dentre elas: Anjos e abacates e Lusco-fusco ou Tudo muito romântico. Dirigiu e escreveu para coletivos como Grupo Teatro Delle Radici (Suíça), Grupo Galpão, Grupo Trama, Cia Acômica e Grupo Armatrux.

“Essa curadoria do Janela foi um aprendizado para mim, chegou na hora certa para desestru-turar meu conceito de dramaturgia. Mesmo sem saber ainda por onde andar, ela me abriu novos caminhos nesse vale tudo da criação contempo-rânea. Hoje todo mundo escreve, bem ou mal, não importa, a internet democratizou o pensa-mento e haja palavras para edificar essa babel de sons e significados, entre soltas, poéticas, malditas, egocêntricas, absurdas, juntas ou mis-turadas elas podem formar apenas uma frase, o suficiente para inspirar a criação de um espetá-culo, por que não? Ah, dramaturgia então é isso?”

8 95º Janela de Dramaturgia

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Sara Pinheiroé atriz e dramaturga. Formada em Letras pela UFMG, e em Teatro pelo CEFAR e École Philippe Gaulier. Foi cofundadora da Cia. do Chá, com a qual atuou e experimentou escritos drama-túrgicos, e colaboradora do grupo PIGMALIÃO Escultura que mexe. É, junto de Vinícius Souza, realizadora da mostra Janela de Dramaturgia. Como autora, seus últimos trabalhos foram: S/Título, óleo sobre tela (Cia. do Chá), Noturno (grupo Teatro Invertido) e Cine Splendid (resi-dência dramatúrgica pelo programa Iberescena).

“Curadoria vem do latim cura, que significa cuidado, atenção. A função do curador, então, tem mais a ver com estar atento a algo do que estabelecer um julgamento. Mas cabe a pergunta: estar atento a quê?

Foram 3 encontros. 4 curadores, cada qual com seu gosto. E muitos, muitos textos. Diferentes pro-postas, formas, temas e lugares de enunciação. No final das contas, para entendermos a potência de cada texto, tivemos que chegar a critérios flexíveis. Criar os critérios a partir do contato com as peças (e não o contrário!)Variar os critérios de acordo com cada proposi-ção dramatúrgica.

Estarmos atentos, não somente aos textos, mas aos olhos que usamos para lê-los.”

Curadoria

Vinícius Souzaé dramaturgo, ator, diretor, pesquisador e produ-tor cultural. É mestrando em Teatro pela UFMG e formado como ator pelo CEFAR-Palácio das Artes. É idealizador e coordenador do Janela de Dramaturgia, junto com Sara Pinheiro. Com Assis Benevenuto: assinou os textos Ensaio de Mentira (espetáculo que comemorou os quinze anos do projeto Oficinão do Galpão Cine Horto) e Cachorro frio (desenvolvido em projeto de residên-cia no bairro Renascença, em BH); dirige a Javali, editora mineira dedicada a publicações de teatro; e coordena o Núcleo de Pesquisa em Dramaturgia do Galpão Cine Horto. Dentre seus últimos tex-tos autorais estão O leão no aquário, Três Tigres Tristes e Bestiário. Foi fundador da Cia do Chá em 2009 e integra o coletivo seis dramaturgos.

“Textos e pessoas podem ser organizados e reorganizados de muitos modos sob diferentes critérios – e haverá, sempre, no meio dessa com-posição, um desvio, um furo, como tudo o que é orgânico e está em movimento. Assim, a reu-nião das dramaturgias que propusemos para esta edição é provisória e certamente revela brechas – para questionamentos, para outros arranjos, para surpresas; é resultado do encontro e diálogo de quatro artistas e pensadores, sob determi-nadas condições de tempo e espaço, circun-dados pela vida que nos atravessa. Poderia ser muito diferente, fosse outro contexto. Da minha parte, além dos critérios definidos aos poucos pelo quarteto, prevaleceu a extrema curiosidade por textos que provocam uma certa arritmia – especialmente, na maneira como se apresentam no papel e desafiam a possível cena, instigando por consequência a própria vida. Não é fácil en-contrar isso assim, por aí. Mas intuo que temos boas apostas.”

10 115º Janela de Dramaturgia

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Encontrocom a dramaturga Silvia Gomez (São Paulo/SP)

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Lançamento da Coleção Janela de Dramaturgia (Livros 1, 2 e 3)Editora Perspectiva

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Encontro

com a dramaturga Silvia Gomez

(São Paulo/SP)

Silvia Gomez

é dramaturga e jornalista. Mineira, radicada em São Paulo. Formada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Minas Gerais. De 2003 a 2011, integrou o Círculo de Dramaturgia do Centro de Pesquisas Teatrais (CPT-SESC), grupo de estudos dirigido por Antunes Filho, onde escreveu e viu encenada pelo diretor Eric Lenate a peça O céu cinco minutos antes da tempestade, publi-cada pela primeira vez no livro Círculo de Dramaturgia, em 2006, pela Editora Sesc. Traduzido para o espanhol, o texto também figurou no livro Teatro Contemporáneo Brasileño, lançado em 2014 pelo Ministério das Rela-ções Exteriores no Festival Ibero-americano de Teatro de Bogotá, e teve versões para inglês, italiano, chinês, sueco, francês e alemão. Em 2010, escreveu O amor e outros estranhos rumores, peça baseada em contos de Murilo Rubião, dirigida por Yara de Novaes e, em 2014, lançou a peça Abra a Janela antes de começar, dirigida por Fabio Mazzoni. Em 2013, foi uma das dramaturgas convidadas pelo governo brasileiro para a Feira do Livro de Frankfurt, na qual o Brasil participou como país ho-menageado. No final de 2014, foi selecionada pelo Centro Cultural São Paulo para compor a Mostra de dramaturgia em pequenos formatos cênicos com a peça Mantenha fora do alcance do bebê, que estreou em 12 de junho de 2015 e recebeu os prêmios APCA 2015 e Aplauso Brasil 2015, além da indicação ao Prêmio Shell, todos por melhor autoria. Em 2015, integrou o projeto Curioso, residência de dramaturgia e intercâmbio cultural Bra-sil-Escócia organizada pelo British Council em parceria com o Playwrights’ Studio e o Núcleo de Dramaturgia SESI-British Council. Também assina traduções, como as das peças O Continente Negro, do chileno Marco Antonio de la Parra, e Contrações, do inglês Mike Bartlett.

Leitura

Mantenha fora do alcance do bebê

24 de agostoquarta-feira, às 20hCentoequatroPraça Rui Barbosa, 104, CentroEntrada franca

Uma mulher é entrevistada por uma assistente social, parte integrante do processo de adoção de um bebê. Porém, durante a conversa, as coisas fogem de con-trole e, como medida emergencial, Rubens, o marido da entrevistada, é chamado ao local. Fora dali, uma superpopulação de lobos toma as ruas, calçadas e linhas de metrô. Dentro da sala, um lobo selvagem acompanha em silêncio o desenrolar do encontro.

+

Bate-papo com a autoraMediação: Vinícius Souza

Workshop de criação

24 e 25 de agostoQuarta e quinta-feira, 15 às 18hTeatro Espanca! Rua Aarão Reis, 542, CentroInscrição gratuita

O workshop será um encontro com a premiada drama-turga Silvia Gomez. Os participantes vão se aproximar de procedimentos e ideias da autora no campo dramatúr-gico e, a partir daí, despertar e investigar suas próprias escritas teatrais. A dramaturgia como um campo de perguntas, a escrita pelos ouvidos e a singularidade de cada autor serão disparadores desse encontro.

MULHER 1 (perturbada pelo som): Ele já vem com roupinha?

MULHER 2 Ah, sim, quero dizer, ele virá vestido com alguma coisa, você sabe, qualquer coisa que encontrarem.

MULHER 1 Vai ser homem, não é?

MULHER 2 Por favor, mal começamos.

MULHER 1 Pode ser uma blusa listrada com uma calça lisa. Tons de caramelo.

MULHER 2 Como?

MULHER 1 A calça deve ter o mesmo tom das listras da blusa, fica bom assim. Se ele gostar, pode calçar tênis, eu não me importo.

MULHER 2 Os bebês não se vestem sozinhos.

MULHER 1 Ele não acompanha uma mala?

MULHER 2 O sexo, isso ainda não está decidido.

Um bebê longe. O som confunde cada vez mais a Mulher 1.

MULHER 1 Quero dizer, como nos kits prontos...

MULHER 2 Kits?

MULHER 1 ...você sabe, como nos pacotes completos que prometem a viagem, o café da manhã, a hospedagem ou o hambúrguer, o refrigerante500 ml e as batatas fritas.

MULHER 2 Não vendemos pacotes turísticos.

MULHER 1 Vocês não avisaram a ele?

MULHER 2 Olha, não temos tempo para esse tipo de conversa, tudo bem?

Um bebê ri longe. ”

155º Janela de Dramaturgia14 Abertura 24 e 25 de agosto | Entrada franca

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25 de agosto, às 20hCentoequatroPraça Rui Barbosa, 104, CentroEntrada franca

Janela de Dramaturgia (Livros 1, 2 e 3) é uma co-leção, publicada pela Editora Perspectiva, de textos teatrais apresentados nas três primeiras edições do projeto: dramaturgias de autoras e autores atuantes em Minas. Os livros, apresentados por Grace Passô e Luciana Romagnolli, fazem um registro de grande parte da produção dramatúrgica contemporânea na capital mineira – vários dos textos já receberam suas versões cênicas. A coleção contém textos teatrais de seus orga-nizadores, Sara Pinheiro e Vinícius Souza, e dos autores e autoras: Alice Vieira, Assis Benevenuto, Byron O’Neill, Daniel Toledo, Diego Hoefel, Éder Rodrigues, Glauce Guima, Guilherme Lessa, João Filho, João Valadares, Júlio Vianna, Júnia Pereira, Luísa Bahia, Marcelo Dias Costa, Marco Túlio Zerlotini, Marcos Coletta, Marina Viana, Rafael Fares, Raysner de Paula, Ricardo Alves Jr., Wesley Marchiori e Wester de Castro. O projeto da publicação foi contemplado pelo programa Rumos Itaú Cultural.

+

Discotecagem Rádio Lampejo

Eles já encarnaram Batman e Robin ao tocar no 16º Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto (BH) e semanalmente colocam discos pra tocar na rádio_lampejo. Eclética, a dupla de artistas gráficos – Filipe Costa e João Emediato – desta vez roda músicas pra se lançar um livro.

Lançamento

da Coleção Janela de Dramaturgia

(Livros 1, 2 e 3) | Editora Perspectiva

175º Janela de Dramaturgia16 Abertura 24 e 25 de agosto | Entrada franca

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No Teatro Espanca!Rua Aarão Reis, 542, Centro

Ingressos R$5

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Câmara EscuraGuilherme Dearo (SP, São Paulo)

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HojeLuciana Romagnolli (Belo Horizonte, MG)

Bate-papo com os autores

Debatedora convidada: ELISA BELÉM é atriz e pesquisadora de teatro. Realizou residência de Pós-Doutorado no Instituto de Artes da UNICAMP (2015-2016), bolsa PNPD/CAPES e na Escola de Belas Artes da UFMG (2014-2015), bolsa FAPEMIG/CAPES. Doutora em Artes da Cena pelo Instituto de Artes da UNICAMP, bolsa FAPESP (2010-2014). Mestre em Teatro (Estudos da Performance) pela Royal Holloway, University of London (2004/2005). Tem artigos publicados em revistas da área como Sala Preta (USP), Urdimento (UDESC) e Moringa (UFPB). Participou como atriz-criadora de trabalhos como: Paisagens Poéticas: o nome disso é rua; Haikai – Somente as nuvens nadam no fundo do rio; e Quero que isso seja uma cena.

Escrita de crítica

ANA LUISA SANTOS é artista visual da performance e escritora. Mestre em Comunicação Social/UFMG e Pós-Graduada em Arte da Performance/FAV/RJ, trabalha como performer e curadora em artes da pre-sença. Desenvolve projetos de criação, pesquisa e formação em dramaturgia e figurino, atuando tam-bém em dança e teatro. É codiretora da plataforma de publicações independentes O que Você Queer e do documentário Alfaiates de Belo Horizonte. Coordena os Núcleos de Pesquisa do Galpão Cine Horto.

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20 Mostra Terças-feiras, 20h no Teatro Espanca! | R$5 215º Janela de Dramaturgia

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Câmara Escura

Guilherme Dearo

(SP, São Paulo)

“Câmara Escura” conta a história real do jovem sírio Molhem Barakat que, em 2013, com apenas 17 anos, se tornou um fotógrafo da agência Reuters para cobrir a guerra civil na Síria. O texto mostra o processo de transformação de Molhem, de aspirante a terrorista a fotojornalista de guerra, e sua relação com seu irmão, um combatente rebelde. “Câmara Escura” foi escrito com um sentido de urgência, buscando lembrar aqueles que, neste exato instante, morrem em mais uma guerra sem sentido e de consequências profundas para a humanidade. Sem fazer julgamentos, o texto reflete sobre o que é viver e morrer na Síria; sobre o que é, em meio ao caos, ser apenas um adolescente de gostos prosaicos e que ama seus amigos e sua família.

Guilherme Dearo é natural de São Paulo. Formado em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, trabalha na área desde 2009. Publicou um livro de poesia, Duas Hipóteses Para Um Acontecimento (Editora Giostri, 2014), e trabalha em seu segundo livro. Autor de quatro peças, teve três delas encenadas em São Paulo, em diferentes edições do Festival Satyrianas. Trabalhou como dramaturgista na companhia paulistana Os Satyros, em 2015 e 2016, e atualmente prepara um livro-reportagem sobre o gru-po. Tem pesquisas sobre a história do Teatro de Arena de São Paulo e sobre a censura ao teatro durante a Ditadura Militar no Brasil.

Processo de escrita

Quando li duas reportagens que falavam de um jovem fotógrafo sírio (um texto da jornalista brasileira Dorrit Harazim e outro da britânica Hannah Lucinda Smith), foi como uma pequena epifania. Sabia que precisava passar a história adiante. Havia um sentimento de ur-gência, algo de essencial naquela tragédia. Algo que precisava, como forma de respeito, ser contado e co-nhecido. Assim decidi que Molhem seria o protagonista de minha nova peça. Para compor a ficção, uma extensa pesquisa na realidade: reportagens e dados sobre a Síria e a guerra, fotografias tiradas por ele e outros fotógrafos, mensagens de suas redes sociais. O segundo passo foi buscar a poesia na imagem. As referências de Roland Barthes, Susan Sontag, Robert Capa e Josef Koudelka foram básicas para refletir sobre o ato fotográfico e o que isso significa para o ser humano que sonha, tem medo, ama, morre. O terceiro passo foi o enfrentamento

de um grande impasse. Tudo parecia uma fraude, inútil. Como ser verossímil, coerente ou digno quando se é um escritor de São Paulo que tenta dar voz a um jovem desconhecido da Síria que viu a guerra, que perdeu familiares, que perdeu a vida? Há compaixão suficiente? É possível “entender”? “Personificar”? Um texto e sua peça no Brasil podem reproduzir o calor e o barulho das bombas? Este impasse permanece.

Dramaturgia contemporânea

O primeiro desafio do dramaturgo contemporâneo é pro-var que o drama e o palco permanecem relevantes e essenciais como espaço sociopolítico de debate e trans-formação. Em um mundo sobrecarregado de imagens, sons e estímulos, em um mundo marcado por uma ba-nalidade efêmera, onde a mensagem é descartada tão rapidamente quanto foi recebida, a dramaturgia precisa lutar por espaço, atenção e valor. Ela precisa se reafirmar como uma pulsão humana básica a ser exercida cotidia-namente por qualquer um que esteja disposto a pensar seu tempo presente, sua realidade e a si próprio. Daí vem o segundo desafio que, imagino, seja o mesmo desde a Grécia Antiga: a árdua tarefa do dramaturgo de entender e decodificar o seu próprio tempo. Cabe ao Teatro levar ao centro do debate o que não é passado ou futuro, sim o que ainda acontece e desperta incertezas, medos, incô-modos, curiosidades. Esse fazer teatral se dá ao mesmo tempo em que transcorre o agora, a ele se unindo e nele apontando caminhos, possibilidades, saídas.

O JOVEM Quero ser terrorista. É este meu desejo agora.

UMA TESTEMUNHA Quando o vi pela primeira vez, não imaginei essa frase saindo de sua boca.

O JOVEM Eu preciso ser um terrorista. Enquanto estou aqui, pensando nisso, ele empilha os corpos, um por um, com a frieza de um tecnocrata em seu terno de muitos mil dólares.

UMA TESTEMUNHA Ele causa esse efeito nas pessoas.

O JOVEM O futuro não podia me reservar mais nada. Não tinha como ser diferente. Tinha?

UMA TESTEMUNHA Eu não sei.

O JOVEM Olhe para mim. Veja o que fizeram com minha família. Veja meu irmão. Tinha como ser diferente?

UMA TESTEMUNHA Cabelo cortado de acordo com a moda. Jaqueta de couro, camisa da Grã-Bretanha. Calça jeans. Sapatos caros. Smartphone no bolso.

O JOVEM Eu amarraria bombas em meu corpo.

UMA TESTEMUNHA Ele sorri para as fotos. Tira as suas com um iPhone. Posa na frente de espelhos, brinca com os reflexos. Fotografa os seus amigos, que lhe sorriem.

O JOVEM Eu vi o meu amigo morrer. E ontem uma criança foi retirada dos escombros.

UMA TESTEMUNHA Ele olha para a câmera com decisão. Sorri de canto de boca. Fixa os olhos direto em seu interlocutor. Não tem medo. Sorri. Ele sabe o que não sabemos.

O JOVEM É preciso por um fim nisso tudo.

UMA TESTEMUNHA Ele tem um perfil no Facebook. E no Twitter. E no Instagram. Ele sabe falar inglês.

O JOVEM Aqui tinha uma rua. Eu costumava andar por aqui. Nessas pedras.

UMA TESTEMUNHA É um garoto normal. É seu amigo, seu vizinho.

O JOVEM Serei o próximo?

UMA TESTEMUNHA Dias normais em um mundo anormal.

O JOVEM Ele se veste como um ocidental. Eu me visto como um ocidental? Somos parecidos? ”

22 Mostra 23Terças-feiras, 20h no Teatro Espanca! | R$5 5º Janela de Dramaturgia

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Hoje

Luciana Romagnolli (Belo Horizonte, MG)

Uma mulher, que é só um amontoado de células, se coloca diante dos outros. Ela vem falar do assassi-nato do seu pai. Mas não fala de si. O assassino é sempre o outro, não é?

Luciana Romagnolli nasceu em Curitiba (PR) e vive há cinco anos em Belo Horizonte (MG). É jornalista, pesquisadora e crítica de teatro. Especialista em Literatura Dramática e Teatro (UTFPR), mestre em Artes (EBA-UFMG) e doutoranda em Artes Cênicas (ECA-USP). Foi repórter nos jornais O Tempo (MG) e Gazeta do Povo (PR). Fundou em 2012 o site Horizonte da Cena. Atua como crítica em diversos festivais de artes cênicas brasileiros. Foi curadora da ocupação “Conexões”, realizada na Funarte-MG de outubro a dezembro de 2015; jurada da Seleção Brasil em Cena/CCBB 2015; e ministrou oficinas de crítica de teatro em Belo Horizonte, Curitiba e Rio de Janeiro. É coordenadora de Crítica do Janela de Dramaturgia.

Processo de escrita

Hoje (título provisório) nasceu de exercícios de escrita nos encontros do Ateliê de Dramaturgia, coordenado por Assis Benevenuto e Vinicius de Sousa na Funarte MG, em 2013, e no Galpão Cine Horto, em 2014. Lá, esbocei algumas cenas a partir dos estímulos dos dois orienta-dores e do diálogo e das trocas com colegas. Recorri também a alguns escritos anteriores, autobiográficos ou autoficcionais, e depois criei outras cenas e reescrevi todo material algumas vezes até sentir que encontrava alguma coerência no caos. Como obra gestada numa tentativa de resposta criativa a uma experiência traumática, esta peça vasculha sentimentos reais e imaginados, é uma escrita em busca, tateante, vacilante, que assume essa instabilidade, a incerteza, as lacunas e os impossíveis da expressão e do compartilhamento de um trauma, mas também da perseguição de um de ideal de justiça – igualmente, inescapavelmente, fracassado.

As questões que atravessam essas palavras são in-dagações íntimas sobre a perda, o luto, a saudade, a memória, os afetos, as ligações familiares, o medo, a raiva, a vítima, o assassino, viver e morrer. Um caldo quente no qual tudo isso se mistura, se confunde. Desde o início, tinha em mente um lugar: o teatro. Esse espaço de encontro de um ser humano com outros, do corpo a corpo, do olho no olho, das afetações imprevisíveis. Tinha a imagem dessa atriz que entra num rompante

e desanda a falar meio desconexa, tentando se expres-sar, começar um diálogo, despertar a escuta, estabele-cer um convívio, na corda bamba entre os estímulos do dentro e do fora. Toda escrita foi, então, uma negociação entre a ficção e o performativo, entre a materialidade do teatro e a possibilidade de desenhar outro mundo em cena, muitas vezes vencida pelo que há de concreto e de real no acontecimento. A presença do especta-dor sempre foi um fantasma no processo, assim como a presença do pai. Esses dois espectros presentes- -ausentes determinaram muito do texto, se não nas luzes da superfície, nas suas sombras e interstícios. Resta dizer que este foi um processo de escrita intuitivo, árduo e extremamente pessoal, mas sempre, a cada tecla apertada, considerando a perspectiva relacional, numa vontade de comunhão.

Dramaturgia contemporânea

Diz um crítico de teatro argentino, o Jorge Dubatti, que o pesquisador de teatro, tanto quanto o crítico, precisa ser politeísta. Os vários deuses são as formas e linguagens diversas que as artes cênicas assumem com toda sua riqueza de possibilidades. Como crítica de teatro e pesquisadora, exercito o politeísmo dentro do teatro de pesquisa, sempre interessada nas investigações sobre as formas dramatúrgicas, os modos de expressão possíveis por palavras, corpos e outros materiais, e como redesenham a experiência humana, criam oásis, bolsões de ar, espaços de reinvenção da vida e de alargamento das fronteiras, ressignificando o cotidiano. A política no teatro começa, para mim, nesse gesto de oferecer uma experiência extracotidiana moldada por outra lógica e outros afetos, que nos permita perceber o mundo para além da estreiteza do dia a dia normativo e saber que outras configurações humanas são possíveis. Mas há, nesse universo, um recorte que me é especialmente prazeroso: o das dramaturgias que implicam o espectador na construção dos sentidos, que o percebem, evocam memórias, palavras e corpos, reforçando na plateia a sensação de estar fazendo parte de algo fora de seu cotidiano, de algo que se cria pela ação conjunta dos seres humanos, por sua capacidade sensível, poética e crítica.

Troveja. A luz vacila, vai e volta.

ELA Hoje faz exatamente dez anos. Não exatamente. É como se. Como se ele estivesse viajando. Como se ele morasse em outro país. Em outro planeta. Como se ele pudesse entrar aqui. A qualquer momento. Agora.

Eu vim aqui. Eu vim falar. Eu vim falar da morte. Do meu pai. Do assassinato. Do meu pai. Eu não vim falar de mim. O assassino é sempre o outro. Não é. O morto é sempre o outro. Não é.

ELE Não aqui.

ELA Talvez aqui. Hoje. Talvez aqui hoje. Apesar da chuva. Apesar do medo. Nós que nem nos conhecemos bem. Nós possamos enterrar nossos mortos.

ELE E desenterrar os monstros?

ELA DESAFIANDO-O Talvez hoje. Talvez aqui. Possa acontecer um julgamento. Vocês farão parte disso. Vocês serão o júri. Vocês são o júri. O júri popular. Vão julgar

ELE as vítimas

ELA os carrascos dessa história.

Aí, sim. Talvez, então, sim. Possamos enterrar nossos mortos.Estão prontos?Vai começar o julgamento. ”

24 Mostra 25Terças-feiras, 20h no Teatro Espanca! | R$5 5º Janela de Dramaturgia

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Isso é outra história: manual para se ler a dramaturgia-primeiraFrancisco Mallmann (Curitiba, PR)

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Outras rosasAnderson Feliciano (Belo Horizonte, MG)

Bate-papo com os autores

Debatedor convidado: CLÓVIS DOMINGOS é ator e diretor. Atua como professor de Teoria e História do Teatro. Doutorando na Escola de Belas Artes da UFMG. Integrante do Obscena - agrupamento inde-pendente de pesquisa cênica (BH).

Escrita de crítica

JOYCE ATHIE é atriz com passagens pela Compa-nhia de Teatro - Escola de Arte. Encontrou-se nas artes cênicas no exercício da escrita. É repórter de teatro do jornal O Tempo. Graduada em Comunica-ção Social pela FAFICH-UFMG, especialista em Ges-tão Cultural pela UNA e mestre em jornalismo pela FAFICH-UFMG, com pesquisas na área de Textuali-dades e Narrativas, escritas biográficas e construção de personagens no jornalismo. Desde 2015, colabora como crítica de teatro para o site Horizonte da Cena.

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26 Mostra Terças-feiras, 20h no Teatro Espanca! | R$5 275º Janela de Dramaturgia

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Isso é outra história: manual para se ler a dramaturgia-primeira

Francisco Mallmann

(Curitiba, PR)

Um grande projeto de reescritura. Contar outra his-tória. Propor uma narrativa com outra origem. Outro destino. Tomar a palavra. Ficcionalizar as nossas existências, manter as marcas em exposição. Falar sobre a nossa arte e não negar as lutas diárias. Não Temer. Amar até o fim do fundo. Não ser vítima, não ser bandido. Ser humano. Fazer da nossa banalidade o meio e o motivo. Mobilizar identidade e vaidade. Fazer dançar nas fronteiras os corpos dissidentes. Isso é outra história não foi pensada como uma peça. Isso é outra história foi pensada como uma outra-peça. Um exercício sobre simultaneidade. O texto do subterrâneo - o que está por baixo de todo espetáculo. Dramaturgia. Texto de cena. Fala. Diário de bordo. Caderno de campo. Registro de ar-tista. Os nomes guardam pretensão e insuficiência. Aqui: várias metodologias, diferentes paisagens. Sala de ensaio e festa infantil. A grande avenida e o quarto que não meu. Tudo isso para apresentar um manual – daqueles que já nascem fracassados.

Francisco Mallmann possui graduação em Artes Cênicas pela Faculdade de Artes do Paraná (FAP) e em Comunicação Social - Habilitação Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Atua na intersecção entre poesia, performance, jornalismo, literatura, dramaturgia, filosofia, antropologia e crítica de arte, investigando junto a coletivos artísticos em Curitiba, dentre os quais a Selvática Ações Artísticas. Atualmente especializa-se em Antropologia Cultural pela PUC-PR e é mestrando em Filosofia pela mesma instituição.

Processo de escrita

Isso é outra história - manual para se ler a dramaturgia--primeira surgiu em um momento em que foi inevitável olhar para nós. Nós: jovens artistas brasileiros. Nós: coletivo artístico. Nós: uma companhia provisória de teatro. Ainda que o texto estivesse sempre lá – ele é um texto do subterrâneo porque faz parte da camada de baixo de todas as coisas a que estamos e estivemos envolvidos – ele precisou de um tempo para ser gerado. Ele encontra em palavras-fenômenos como empode-ramento e militância um lugar de discussão. Ele é um texto muito diferente de todos os outros que eu já as-sinei. Ele é direto. Ele, às vezes, é quase um diário. E é também por isso que a dramaturgia entrou em questão: é sobre limites e nomenclaturas. Como chamar essas palavras registradas? Caderno de artista. Texto de cena.

Diário de bordo. São várias as possibilidade e, talvez, nem seja algo para ser propriamente verbalizado. Então, como usar essas palavras registradas? A oralidade é também questão. Pode ser que seja um plano – para lidar com o diretor misógino, a atriz machista, a falta de esclarecimento. O ataque homofóbico. O xingamento na esquina. O assédio em toda parte. As nossas fis-suras e inconsistências. O amor que nos une. A nossa transitoriedade. A nossa insistência. O nosso fracasso.

Dramaturgia contemporânea

Foi importante, para mim, entender que um certo tipo de dramaturgia, por si só, não dá certeza de nada. Talvez disponibilize algumas pistas, algumas indicações e sugestões. O desafio da escrita teatral, hoje, para mim, parece estar nos acordos, nos pactos, nos entendimentos, nas posições, necessariamente intercambiáveis, nas formas de se comunicar em todas as partes do processo, do projeto, do fenômeno teatral. Até onde é possível ir com o meu trabalho como artista, como artista-dramaturgo, dramaturgista, como o cara-que-assina-o-texto, como o pesquisador que conceitua e alarga o campo de trabalho? Como trabalhar as questões que envolvem autoria, autoridade, hierarquia, divisão de trabalho? É sempre importante repetir a história de como não se pode fazer sozinho o teatro – assim também parece acontecer com as palavras: elas não surgem sozinhas. Aprender como se convida, como se apresenta, como se propõe. Como se manter fiel ao ímpeto e como ser flexível frente as circunstâncias. Como criar circunstâncias e novos ímpetos. Por isso, a sala de ensaio, o espaço de criação, são, de certo modo, um dos meus principais motivos. Tentar fazer com que a escrita solitária dê espaço a outros modos de produção que não a aniquilem, mas a integrem, a expandam.

Uma mãe. Uma criança. Olhos fechados. Mãos dadas. Parece choro. Aquele pranto que, mudo, de repente, parece riso. Não sei explicar. Mas o palco está vazio. Estão essas duas figuras ali. Você entendeu? Uma mãe e uma criança, olhos fechados, mãos dadas, parece choro, um pranto que parece riso, de repente.

Duas bichas. Elas riem tanto a ponto de encontrar a dor. São lindas, gordas. Parecem não se importar com nada. Mas morrem, de repente. Tiros. Arma de fogo. Morrem. Caem ao chão. Mais tarde se levantam para gargalhar.

A travesti chora, inconsolável. Toda dor do mundo, agora, dentro dela. Ninguém há de fazer mal a esse ser que sofre. Mas vai haver o chute, daqui a dois minutos. Seguido de uns socos nos olhos. Vão ficar inchadíssimos.

Duas mulheres. Paradas. Elas conversam. Riem. Alguém joga algumas coisas na direção delas. Faz sangrar. Faz o corpo deformar. Muito rapidamente. É estranho, porque ninguém viu. Mais estranho ainda é que, de hora para outra, todos sabem. São palavras. As coisas, na direção delas: são palavras.

A negra-sapatão. Tem uma moto. Ela volta para o subúrbio depois do ensaio na sua moto. Ela não tem cabelo, pois se tivesse eles voariam com o desenho do vento. Ela é cercada, no caminho. Cai da moto. Cospem nela, gritam várias coisas. Uma delas ela lembra e diz “morre, filha da puta”. Choramos todos.

A bailarina. Gostosíssima. Difícil a espera do ônibus, às 23h. É quando alguém diz: você pode sentar aqui, ó, gracinha. É um homem, e ao dizer isso ele indica o próprio corpo. Mostra com as mãos a parte que fica abaixo da cintura. Ri, desconcertada com medo do ataque. Depois chora de raiva até chegar em casa.

O menino-magro. Muito magro, tem os cabelos encaracolados. Pinta as unhas todas as segundas-feiras de manhã. Assopra bastante para que sequem. Sai para a rua com o rosa nos dedos. Ouve insultos até o fim da quadra. Depois leva pedradas. Não dá tempo de chorar. Mas vai continuar rindo mansinho. ”

28 Mostra 29Terças-feiras, 20h no Teatro Espanca! | R$5 5º Janela de Dramaturgia

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Outras rosas

Anderson Feliciano

(Belo Horizonte, MG)

Uma mulher. Um acento. Uma decisão: levantar-se, sentando-se.

Anderson Feliciano é dramaturgo e performer. Coor-dena o LED (Laboratório de Experimentos Dramáticos) e desenvolve um mestrado em Dramaturgia (Universidad Nacional de las Artes - Buenos Aires / Argentina). Tem es-crito para coletivos de Brasil, Argentina, Chile, Equador e Itália. No início de 2016 cria com Yosjuan Piña em Buenos Aires o coletivo Quilombismo Poético; com Aline Vila Real é responsável pela curadoria da Mostra Polifônica dos artistas contemporâneos em Belo Horizonte. Em 2015 foi convidado para ministrar em parceria com a dramaturga Grace Passô a oficina: Autorolalidade Negra no FAN (Festival de Arte Negra - BH), onde apresentou também a performance: Apologia I.

Processo de escrita

Outras Rosas foi bordado dentro do marco da Resi-dência artística intitulada: Tropeço, organizado pelo Laboratório de Experimentos Dramáticos em articula-ção com o mestrado em Dramaturgia da Universidade Nacional das Artes em Buenos Aires.

O objetivo era ampliar e aprofundar pesquisas relacio-nadas às temáticas raciais no intuito de elaborar/criar/inventar de forma sistemática propostas estéticas que levassem em consideração experiências cotidianas de criadores negros. Pensar uma cena onde o dramático (texto) e o cênico (performativo) pudessem estar im-bricados e refletissem sobre os limites entre o repre-sentacional e o ficcional, uma dramaturgia no qual pu-déssemos elaborar uma escrita performativa, de ideias que não são vistas apenas como representações, mas como palavras/corpos que possibilitassem modos de repensar nosso mundo cada vez mais complexo e de-sigual. O corpo negro, como enunciado, em um equilí-brio precário numa sociedade racista era potencia para criação/construção da cena.

No primeiro momento decidi trabalhar com o relato vivi-do por Rosa Parks, uma modista norte americana que desafiou as normas racistas com o simples gesto de escolher um acento num ônibus, o que me permitiu a apropriação e a (re)interpretação de uma narração histó-rica, reatualizando a possibilidade de gerar nova memó-ria sobre os mesmos eventos, trazendo consigo novas subjetividades. Já no segundo momento estabeleci a sínteses e a repetição como proposta dramatúrgica.

Dramaturgia contemporânea

* O desejo de bordar/elaborar/criar/inventar/construir uma proposta estética capaz de processar a “reposição do negro de objeto enunciado a sujeito enunciador”.

* Bordar propostas dramatúrgicas que articulem a ex-periência estética e existencial do negro na construção de uma fala alternativa, elaborando assim uma escrita performática e poética que desafia o mundo que limita nossas falas e ignora nossas vidas.

* A busca por outras formas de subjetivação: performa-tização de corpos negros.

* A possibilidade de criar uma dramaturgia atravessada pelas tensões raciais que envolvam o famigerado coti-diano de nós negros.

Eu não penso que deveria ter que me levantar. Eu não penso que deveria ter que me levantar.Eu não penso que deveria ter que me levantar. Eu não penso que deveria ter que me levantar.Eu não penso que deveria ter que me levantar. Eu não penso que deveria ter que me levantar. ”

30 Mostra 31Terças-feiras, 20h no Teatro Espanca! | R$5 5º Janela de Dramaturgia

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Minador das almasIsac Tufi (Salvador, BA)

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...Ricochete!!!Rita Clemente (Belo Horizonte, MG)

Bate-papo com os autores

RAYSNER DE PAULA é ator, dramaturgo e professor, graduado na Licenciatura em Teatro da UFMG. É um dos fundadores do grupo Mamãe tá na plateia, onde assina o texto da última peça do coletivo: Elefante Branco. É autor dos espetáculos Ópera de Sabão, do grupo Maria Cutia, Rioadentro, dirigido por Lira Ribas, Danação, um monólogo com Eduardo Moreira, dirigi-do por Marcelo Castro e Janeiros, último trabalho do grupo Carroça de Mamulengos. Em 2013, foi um dos premiados no concurso SESC Jovens Dramaturgos com o texto João e Maria, escrito em 2012 e apre-sentado na primeira edição do Janela de Dramaturgia.

Escrita de crítica

SORAYA BELUSI é jornalista, crítica e pesquisadora teatral. Mestre em Artes na UFMG, graduada em Jornalismo pelo Centro Universitário de Belo Horizonte e atriz formada pelo Teatro Universitário da UFMG. Atuou durante oito anos como repórter especializada em artes cênicas no jornal O Tempo (BH) e colaborou com diversos veículos do país. Atua ainda como crítica-convidada de mostras e festivais de artes cênicas no Brasil. É cocriadora do Núcleo de Pesquisa em Jornalismo Cultural, do Galpão Cine Horto; foi cocuradora da ocupação Conexões na Funarte-MG, em 2015; e coordenadora das ações críticas da MITsp - Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, em 2014, 2015 e 2016.

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32 Mostra Terças-feiras, 20h no Teatro Espanca! | R$5 335º Janela de Dramaturgia

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Minador das almas

Isac Tufi

(Salvador, BA)

Em meio a um sertão fantástico, onde o que mais seca são as ilusões, duas irmãs, Sá Minina e Dona Moça dedicam-se a uma tarefa devocional: tecer um manto de palha para cobrir o seu irmão mais novo, como parte de um ritual de cura. Este ritual consiste em mantê-lo dependurado ao relento de ponta-cabeça sobre uma bacia que recolhe os cor-rimentos das inúmeras chagas que ele traz sobre a pele, desde a infância, sem perspectiva de cura ou diagnóstico por parte da medicina. Minador das Almas é uma corrida pela cura, pelo resgate de uma vida consumida, num cenário ávido por água e deserto de esperanças.

Isac Tufi, baiano de Salvador, 34 anos, estudou Letras e Psicologia na Universidade Federal da Bahia, mas encontrou no Teatro o seu melhor recurso de expressão. Estreou como dramaturgo em 2005 com o espetáculo Pá Lavra, dirigido pelo argentino Walter Rozadilla e com as atrizes Cláudia di Moura e Frieda Gutmann. Após um período de longa pesquisa e extensa produção literária, voltou à cena em 2014, na autoria do espetáculo Bonde dos Ratinhos, sob a direção de Zeca de Abreu e com atores do Teatro Vila Velha, indicado ao Prêmio Braskem de Melhor Espetáculo Infantil. Em 2015, coescreveu o roteiro da cerimônia de entrega do Prêmio Braskem, sob a direção de Fernando Guerreiro. Ainda em 2015, teve seu texto Acontece a primavera selecionado para o ciclo de leituras dramáticas da terceira edição do projeto Nova Dramaturgia da Melanina Acentuada (Teatro Dulcina, Rio de Janeiro), sob a direção de Claudio Simões. Em 2016 escreve e dirige o espetáculo Era Uma Vez - Ou Mais, com Marcos Barreto, a estrear em Salvador neste mês de agosto.

Processo de escrita

A origem de Minador das Almas (carinhosamente cha-mado “Minador”) remonta a um momento em que eu estava sendo apresentado à escrita dramatúrgica. Esse é o meu segundo texto dramático, que nasceu duran-te o processo de encenação do primeiro. Em ambos, Pá Lavra e Minador, a ideia principal surgiu de uma perspectiva visual. Em Minador, me ocorreu primeiro o homem pendurado de ponta-cabeça, como na carta do Enforcado no tarô. Tempos depois, veio a dupla de costureiras, que em princípio seriam ciborgues atadas às suas máquinas de costura. Após a experiência de conhecer a procissão de São Lázaro e deparar com

as enormes franjas de palha da costa, porém, como num insight, as imagens que pareciam desconexas e vazias de sentido tornaram-se uma unidade potente e repleta de espiritualidade. Os “bonecos mentais” que eu havia desenhado ganharam personalidade e pas-saram a viver e a contar uma história que não teria tido gênese se não fosse esse caleidoscópio caótico que foi sendo estruturado entre 2005 e 2006. Apesar de reunidos, estes seres mantêm-se em planos distintos, empregando inclusive de vieses diferentes do idioma. Devotadas ao trabalho, as duas mulheres reinventam a linguagem e ironicamente se constituem um oásis lexical em pleno semiárido. Já o homem “crucificado” utiliza-se da voz do pensamento que, por não ter necessidade de comunicação, mas tão-somente de expressão, traz o português na forma culta, referência aos livros bíblicos, especialmente as súplicas de Jó, e ergue uma muralha dialógica à sua frente. A partir daí, como uma premência, me vi motivado a falar sobre a desertificação do ser, quando privado de seus recursos mais elementares, principalmente da saúde. O sertão composto para esta obra é um esforço alegórico de representar as ranhuras estorricadas nas almas de quem sofre diuturnamente as intempéries geográficas e as injustiças sociais, as dores do corpo e da alma, até que edifica no mais absoluto vazio um monumento à desesperança.

Dramaturgia contemporânea

O desafio do dramaturgo é compromisso sincero com as suas questões éticas e estéticas. O fazer artístico está obviamente a serviço do artista que faz uso dos recursos estilísticos para se expressar, mas também, especialmente no caso das artes cênicas, serve ao público, sequioso de identificação. Para aquele que escreve é oportuno também ler as demandas sociais, principalmente aquelas constituídas pelos movimentos que lutam pela descentralização do poder, e articular--se a elas. Isso não significa necessariamente ceder a todas as urgências identitárias e abandonar a sua pró-pria enquanto autor. Mas sim entender qual o seu lugar entre tantas bandeiras para que qualquer que seja a sua escolha (inclusive a de não levantar bandeira alguma) esteja alicerçada em um propósito a respeito de sua produção criativa.

SÁ MININA Deve de ser essa vida rançosa aqui do sertão. Se nós continua vivendo é por castigo. Ou teimosia. Só sei que deus acende a lamparina e o fogo vai comendo a gente toda, esse suplício que não chega, água que é bom não desce, o gogó da gente cheinho de poeira, os bofe deve de estar tudo rachado que nem o barro do chão.

DONA MOÇA A terra aberta em casca de ferida... É, Sá Minina... É bem capaz de tu estar é certa. ”

34 Mostra 35Terças-feiras, 20h no Teatro Espanca! | R$5 5º Janela de Dramaturgia

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...Ricochete!!!

Rita Clemente

(Belo Horizonte, MG)

Que caminhos podem ser traçados na vida de dois rapazes de vinte e poucos anos? Pra onde vão, ou querem ir... E os caminhos de uma mãe, uma jovem senhora de 50 anos que tem na profissão sua mais precisa arma contra a imprevisibilidade da vida? Que geometria poderia traduzir, dese-nhar com clareza e com precisão a trajetória de um projétil que inadvertidamente alcança a car-ne, depois de se debater em matéria mais densa e bruta, como que procurando em paredes, ferros e chumbo uma fresta pra repousar inerte... É um despropósito a exatidão do alvo se comparada à imprecisão do disparo: Alex, Laura e Leopoldo es-tão entrelaçados pelo percurso de uma bala. Laura , vítima do acaso, Alex, alvo perfeito e o perdido Leopoldo que ao procurar fugir e se esconder de um crime, dispara em sua direção.

Rita Clemente é graduada em Música pela Universidade estadual de Minas Gerais e formada em Teatro pela Fundação Clóvis Salgado (CEFAR - Palácio das Artes), onde lecionou durante 10 anos no Curso Técnico de Formação de Atores. Foi ainda professora no Curso de Licenciatura em Artes Cênicas da Universidade Federal de Ouro Preto. Foi diretora de premiados espetáculos como Dias felizes: Suíte em 9 movimentos, Fluxorama (em parceria com atores diretores/diretores cariocas), O que você foi quando criança, Amores Surdos (Grupo Espanca!) e Nesta data querida (Cia Luna Lunera). Como autora, Rita Clemente estreia em 2015 com Matinê e 19:45, este último é o primeiro estudo da pesquisa Bala Perdida.

Processo de escrita

Questões políticas e supra sociais não me inquietam. O que me instiga na arte nunca foi carregar uma ban-deira e se fosse seria aquela bandeira que diz da inope-rância do fato social sobre a arte, quer dizer, que o fato social é basicamente o mesmo, mas o estar no mun-do, a existência e suas questões intimamente ligadas à vida e à morte são essencialmente paradoxais. Cada persona (ator/ personagem) carrega em si infinitas pos-sibilidades quando sua interlocução com o mundo par-te de dentro dele. É sobre isso que quero falar e ouvir, já que somos seres político-sociais, por contingência, o que difere e extrapola essa condição, me inquieta.

Meus desejos estéticos, a lida com tempo, o espaço, a linguagem... Isto também me norteia. ...Ricochete!!!

nasce de um conceito que dei nome de Bala Perdida; é um fundamento que impulsiona a criação deste texto. Com este conceito proponho uma dramaturgia que tem suas bases em contextos, situações e estruturas cêni-cas ligados à inevitabilidade de acontecimentos vistos pelo senso comum como sincrônicos ou coincidentes, ou simples acaso. Também é uma experiência voltada para a ‘dramaturgia de diretor’ e, por isso, pensada, estruturalmente, a partir das relações cênicas. Assim, a direção/dramaturgia, se apoia, desde o inicio, em uma estrutura que interliga personagens a partir das situa-ções. As situações são estabelecidas por uma geogra-fia espacial sugerindo uma “cena” que possa receber diferentes ambiências durante a peça e admitindo o “tempo” como eixo estruturante e total protagonismo. Pretende-se um jogo não linear, no entanto, dentro de uma narrativa com a seguinte estrutura cronológica: antes do almoço/almoço/depois do almoço. Este jogo que pode envolver estruturas de composição de cena com entrelaçamentos recorrentes da vida dos perso-nagens, suas angústias, metas, trajetórias emocionais divergentes, argumentos dialéticos; a presença contra-ditória do linear e não linear no desencadeamento das cenas é o motivador desta escrita, sempre pensada para ser encenada.

Dramaturgia contemporânea

As motivações são, evidentemente, diversas e por isso o que chamamos contemporaneidade não me parece algo específico, fechado ou fácil de definir. O que nos impulsiona hoje pode se assemelhar mais a uma es-pécie de olhar sobre o passado... Agamben (filósofo italiano nascido em 1942) fala um pouco disso quando discute o ‘contemporâneo’ e eu digo isso aqui falando do fato de que não estamos diante de uma arte re-cente, estamos em 2016. Este século em tudo parece já inventado e, ao mesmo tempo, quebrado, fraturado. De toda forma escrever dramaturgia é também e tal-vez acima de tudo, criar. A invenção é o que me move, pois inventar tem um pouco de enfrentamento existen-cial. As angústias contidas no ato de criar ficção são próprias da insatisfação humana diante da realidade. Aos 50 anos ainda mais. Com o passar do tempo, de vida, a morte fica mais perto e é como uma sombra sua ou daquilo que você pensa ser. Na dramaturgia ou na cena propriamente, hoje, sou guiada por um pres-suposto para a criação: não me alinhar a uma doutrina específica, não desconsiderar a natureza contraditória do teatro. Uma qualidade que, pra mim, se estende a toda expressão artística, mas no teatro ainda mais.

Já sentaram-se à mesa do café

ALEX O pão

LAURA amanhã você tem uma entrevista

ALEX Você me disse isso... Ontem

LAURA Estou dizendo... Hoje

ALEX Mãe, não tem manteiga?

LAURA Amanhã você tem uma entrevista

ALEX Eu ouvi... Manteiga! Não tem?

LAURA às 10 da manhã... Tem.

ALEX Não gosto de margarina... Não gosto.

LAURA às 10, não se atrase... É mais saudável!

ALEX Eu não estou nem aí...

LAURA Mais barato também, sabia.

ALEX Eu gosto de manteiga.

LAURA E eu não estou nem aí... ”

36 Mostra 37Terças-feiras, 20h no Teatro Espanca! | R$5 5º Janela de Dramaturgia

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Memória da almaFabiano Barros (Porto Velho/RO)

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O papalaguiIvana Andrés e Luciano Luppi (Belo Horizonte/MG)

Bate-papo com os autores

SORAYA MARTINS é mestre em Teoria da Literatura pela FALE/UFMG. Graduada em Letras - Licenciatura Português e Italiano. Atriz cofundadora da Sofisticada Companhia de Teatro, que em 2013 venceu o Prêmio Marcelo Castilho Avelar de Estímulo às Artes e estreou, em 2014, o espetáculo Como Matar a Mãe – 3 atos. Formada no Teatro Universitário, cursou Semiologia do Teatro, com Marcos De Marinis, no DAMS – Dipartimento di Musica e Spettacolo da Università degli Studi di Bologna, Italia. Desde 2011, atua no cenário artístico mineiro como atriz e pesquisadora do teatro afro-brasileiro e realizou trabalhos com Companhia Candongas, Grupo do Beco e Caixa de Fósforos.

Escrita de crítica

VICTOR GUIMARÃES é doutorando em Comunicação Social pela UFMG. Crítico de cinema na revista Cinética e colaborador de revistas como Senses of Cinema (Austrália), Desistfilm (Peru) e La Furia Umana (Itália). Foi professor de Cinema e Audiovisual no Centro Universitário UNA, programador do Cineclube Comum e da mostra Argentina Rebelde (Caixa Cultural/2015). Colaborou como crítico convidado do projeto Janela de Dramaturgia em 2014 e escreve sobre teatro no Horizonte da Cena.

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38 Mostra Terças-feiras, 20h no Teatro Espanca! | R$5 395º Janela de Dramaturgia

Page 21: de Dramaturgia 5ª Janela · PDF fileJanela de Dramaturgia: uma mostra de tex-tos teatrais inéditos de autoras e autores con - temporâneos. Consolidada na capital minei-ra como um

Memória da alma

Fabiano Barros

(Porto Velho/RO)

Em uma cela de cadeia: um diálogo entre uma mãe e seu filho de 18 anos que acabou de ser preso por ser acusado de assassinar várias crianças e seu pai. Segundo texto de uma trilogia que se apropria de três patologias ligadas à mente humana, Memória da alma é um convite a percorrer a construção da lembrança, sua instabilidade e sua perda.

Fabiano Barros é natural de Recife e radicado em Rondônia desde 1999, iniciou seus trabalhos com teatro ainda em Pernambuco. Formou-se em Letras pela Universidade Interamericana de Porto Velho, e em teatro pela Universidade Federal de Brasília, especializou-se em Gestão Cultural pelo SENAC MT. Dirige a Cia de Artes Fiasco, que atua há quinze anos nas Artes Cênicas em Porto Velho; escreveu cerca de vinte textos de teatro. Já participou de diversas curadorias de projetos nacionais como: Palco Giratório, Prêmio Myriam Muniz, Jovens Dramaturgos, entre outros. Atualmente pesquisa as lendas amazônicas trazendo um olhar humanizado das mesmas para sua dramaturgia.

Processo de escrita

Memória da Alma faz parte de uma tríade de verdades isoladas que, por suas semelhanças, proporcionou a escrita de três dramaturgias que se cruzam de uma forma sutil. O processo se inicia através de conversas inesperadas com pessoas comuns que por algum mo-tivo confiam um “segredo” ao autor e ao término da nar-rativa faz a seguinte pergunta: “ Você consegue escrever um texto, sem que as pessoas saibam que sou eu?”. Todo PRÉ–TEXTO/PRETEXTO vira um turbilhão de pos-sibilidades, de sentimentos e de grande preocupação com a experiência do outro. Como administrar fatos tão fortes? Como escrever sobre um amor que mata, que machuca e destrói? Perguntas são feitas e verdades são misturadas com possíveis verdades proporcionando criar uma estória de mentiras possíveis. Tudo é galgado em um único propósito: criar um caminho de paz para o detentor da verdade.

Dramaturgia contemporânea

Tudo já foi escrito! De todas as formas, te todos os tamanhos, com inícios e fins diferentes. Formulas são criadas, etilos são sugeridos e ainda há as encomendas! Malditas encomendas. Escrever para o teatro por si só já é um desafio. Uma dramaturgia há de ser encenada, pois se não, já nasce morta. Dramaturgias são esque-letos a serem preenchidos e “almados”. Ser “ação” é o maior motivo de criar dramaturgias. A verdade é o maior motivo da escrita.

MULHER Deus que te perdoe, porque acho que eu não consigo.

RAPAZ Estou pedindo perdão da senhora não. Porque quando eu precisei de ajuda da senhora e de Deus nenhum dos dois me ouviu. Vai vê que os dois estavam ocupados um com o outro. Já que a senhora diz que vive pensando nele.

MULHER Pede perdão a Deus menino. Tira essa coisa ruim de dentro de você, esse demônio.

RAPAZ (Começa a rir baixo) - Pedi tanta ajuda, tanta ajuda a Deus e só recebi dor. Depois nem sabia mais o que era sentir alguma coisa. MULHER Fala isso não, ele castiga. RAPAZ Castiga? Que castigo eu mereço?

(Silêncio) ”

40 Mostra 41Terças-feiras, 20h no Teatro Espanca! | R$5 5º Janela de Dramaturgia

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O papalagui

Ivana Andrés e Luciano Luppi

(Belo Horizonte/MG)

O cacique Tuiávii, a bordo de um navio guiado por europeus, conta o que viu e pensou do “mundo civilizado”. O papalagui, que significa “homem branco”, é inspirado no livro homônimo do alemão Erich Scheurmann e escrito para ser encenado por atores e bonecos.

Luciano Luppi é ator, autor e diretor de teatro desde 1969. Tem participação incessante nos movimentos artísticos e culturais incluindo ópera, dança, televisão e cinema. Autor de mais de 12 textos adultos e infantis encenados em Belo Horizonte e em diferentes partes do Brasil. Já recebeu, junto com Ivana Andrés, o Prêmio de Melhor Texto Infantil Usiminas/Sinparc por sua adaptação, em 2003, de O Rei de Quase Tudo.

Ivana Andrés é artista plástica, dramaturga, cenógra-fa e aderecista desde 1975 e cantora da MPB desde 1986. É atriz desde 1991. Autora de 9 textos encena-dos em Belo Horizonte e em outros estados. Já rece-beu o Troféu Fundacen de melhor trilha sonora pelo espetáculo Vida de Cachorro, de sua autoria, em 1988.

Processo de escrita

O impulso surgiu desde a primeira leitura do livro O Papalagui, que são cartas do cacique Tuiávii para seus irmãos das ilhas Samoa, sobre o homem branco, que ele denomina O Papalagui. O desejo de traduzir o impacto causado pelo conteúdo da obra em texto teatral obrigou-nos a fazer várias experiências dramatúrgicas, até a escolha de usar bonecos e atores como forma de retratar a dicotomia homem x natureza, presentes nos comentários do cacique e em toda a nossa história civilizatória. O índio, integrado à natureza, tão distanciado está de nós que parece um ser de outra espécie, sem nenhum poder que o habilite a reivindicar seus direitos. É quase um boneco nas mãos de marionetistas invisíveis. Resta-lhe utilizar sua inteligência e sensibilidade para construir argumentos que possam evitar a extinção de sua cultura. A nossa opção pela derrota e morte de Tuiávii foi inspirada na dura realidade enfrentada pelos povos indígenas. Entretanto, como ativistas que acreditam na possibilidade de transformação, escolhemos um final que aponta uma perspectiva de redenção do homem branco, a longo prazo, através de novas escolhas, baseadas em outros valores.

Dramaturgia contemporânea

O teatro, como arte puramente presencial, encontra-se constantemente ameaçado pelo uso descontrolado de novas formas de comunicação virtual, baseada em no-vas tecnologias. O mesmo acontece com a dramaturgia contemporânea: ela necessita se afirmar e deixar sua marca, mas não pode prescindir de seus fundamentos – é uma escrita com vias a se tornar uma atividade en-tre seres humanos numa troca ao vivo. Dissecar con-teúdos essenciais e transformá-los numa composição que permita romper a inércia e motivar pessoas para a experiência do contato real e orgânico se apresenta como um desafio. O que nos motiva como escritores é a luta para manter as relações humanas como uma troca viva, imediata e essencial.

COMANDANTE Você decidiu, de livre e espontânea vontade, vir para a Europa. Estava doido para vir, lembra-se?

TUIÁVII É claro que eu quis vir. Meus irmãos de Samoa vivem o que a vida lhes dá a cada dia, nunca perguntam o porque das coisas. Mas eu, desde pequeno, quando os missionários brancos chegaram, eu sempre estive de olhos abertos. E é claro que meus olhos abertos queriam saber tudo sobre vocês, homens brancos. Por que vocês possuem tantas coisas, e etc, etc, etc e mais etc. Mas agora, que eu já sei de tudo, quero voltar.

COMANDANTE Voltar para que, Tuiávii?

TUIÁVII Para contar tudo que vi para meus irmãos de Samoa.

COMANDANTE Mal visitou alguns países da Europa e já diz: Sei de tudo... Do que você sabe, Tuiávii? ”

42 Mostra 43Terças-feiras, 20h no Teatro Espanca! | R$5 5º Janela de Dramaturgia

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Ovelha DollyO mundo é um zoológico a céu abertoFernando Carvalho (Brasília/DF)

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Os indicadosVinícius Souza (Belo Horizonte/MG)

Bate-papo com os autores

GRACE PASSÔ é diretora, dramaturga e atriz. Trabalha em parceria com artistas e companhias teatrais brasileiras. Dentre seus últimos trabalhos estão o solo Vaga Carne; a direção de Contrações (Grupo3 de Teatro), Os Bem Intencionados (Grupo LUME); e Sarabanda (com Ricardo Alves Jr.); a atuação em Rasante (No Ar Cia. de Dança) e Krum (Companhia Brasileira de Teatro). Integrou o grupo Espanca!, com o qual criou espetáculos como Líquido Tátil, Marcha para Zenturo, Congresso Internacional do Medo, Amores Surdos e Por Elise (estas quatro últimas, publicadas pela editora Cobogó). Foi cronista semanal do jornal O Tempo. Recebeu prêmios como Shell SP, APCA, Questão de Crítica e APTR.

Escrita de crítica

BREMMER GUIMARAENS é ator, crítico de teatro e editor do blog Cena em Pauta. É aluno do curso técnico em Arte Dramática do CEFART e cursa a graduação em Comunicação Social/Jornalismo na UFMG. Trabalha como produtor e repórter do programa Agenda da Rede Minas. Também foi produtor e repórter do programa Movimento da TV UFMG (2013-2014). Em 2012, ingressou no In Cena, curso livre de teatro da Cia Luna Lunera. Entre 2013 e 2015, participou do curso livre de teatro do Galpão Cine Horto e dos núcleos de pesquisa em jornalismo cultural, crítica teatral e dramaturgia.

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Leituras

44 Mostra Terças-feiras, 20h no Teatro Espanca! | R$5 455º Janela de Dramaturgia

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Ovelha Dolly

O mundo é um zoológico a céu aberto

Fernando Carvalho

(Brasília/DF)

Ovelha Dolly e O Mundo é um Zoológico a céu aberto são tentativas de relatos das contradições humanas no tempo contemporâneo; trazem mar-cas da vida brasiliense e as incoerências de quem vive no centro do interior do país. Arte, ciência e religião são tratadas de maneira irônica e bem--humorada.

Fernando Carvalho é ator, dramaturgo e diretor tea-tral. Bacharel em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília – UnB e estudou Direção Teatral com Emílio García Wehbi em Buenos Aires. É integrante fundador do Grupo Liquidificador. No grupo dirigiu os espetá-culos ULTRA-ROMÂNTICO e A Cartomante. Foi pro-gramador do Teatro da Caixa em Brasília por 10 anos. Foi por sete anos membro da companhia Arte e Sonho, onde além de ator, dirigiu as peças Crimes Delicados e Noite na Taverna. Foi ator de espetáculos dirigidos por Adriana Lodi, Hugo Rodas e Felícia Johanson. Tem pesquisa em comicidade e práticas de clown influen-ciada pelos trabalhos com os diretores Zé Regino, Felícia Johansson e Ana Flávia Garcia e pelos cursos com Marcio Libar, João Artigos, Chaccovachi, João Porto e Cia UdiGrudi.

Processo de escrita

As duas peças passam por uma vontade de expor questões da classe média de uma forma mais trágica, ou patética ou patológica. Também passam por uma fascinação pelo mundo dos animais, suas diversas dinâmicas de interação e convivência.

Dramaturgia contemporânea

O desafio maior é transformar em teatro. Trabalhar ao ponto que os atores e envolvidos na montagem esque-çam que aquilo era um texto, pois se transformou em algo orgânico para aquele grupo de pessoas. O sen-tido que vejo em escrever é que a escrita vire de fato cena/experiência.

Viver é um grande mistérioQuando eu nasciEu não queria viverNão queria ser uma celebridade instantâneaEu queria ser como o Roberto CarlosUm grande artista da músicaQue veio de baixoVeio do brejoE fez o nome no grande pasto do mundoE hoje faz o que quiserCheira o que quiserAnda por onde quiserIsso sim é cidadaniaSe algum dia eu tiver um quintoDa cidadania do Roberto CarlosEu cheguei no topo da minha montanhaComo uma CabraRoberto Carlos é o grande Bode sagradoUm exemplo a seguirUm ciborgueAfinal, ele também é um resultado da ciênciaLança todo ano o mesmo discoE continua tendo grande respeitoE carismaGostaria que as pessoas me quisessem bemComo querem ao RobertoEu fui abatida e ninguém soubeNinguém deu bolasSe o Roberto fosse abatido hojeSeria feriado nacionalEu gostaria de ser assimUma ovelha glutonaDecadenteDe lã falha e manias estranhasE ao meu redor tivessem uma porção de palhaços saltitantesDizendo o quanto eu sou lindaGenialCensuradoraO quanto meu trabalho é relevanteBebendo vinhos muito carosDegustando cafés e leites de cabraE passeando por lugares incríveis no LeblonDesfrutar da glória que grandes artistas desfrutamDescobrir lugares pequenos e preciosos ondePosso fazer coisas comunsE interessantesOs amigosA culináriaAs estrelasAs drogasAs putasAs cabritasEncher o cu de caviares e grama verdinhaRuminarRuminarE vomitar em cima de todosE todos me acharem demasiadamente ovelhaUm belo espécime de ovelha ”

46 Mostra 47Terças-feiras, 20h no Teatro Espanca! | R$5 5º Janela de Dramaturgia

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48 Mostra 49Terças-feiras, 20h no Teatro Espanca! | R$5

Os indicados

Vinícius Souza

(Belo Horizonte/MG)

50 minutos – é o tempo que eles têm para preparar um discurso que será lido numa importante ce-rimônia, para uma grande plateia, caso recebam o prêmio ao qual foram indicados. Seria o tempo suficiente, não fosse um estranho imprevisto.

Vinícius Souza é dramaturgo, ator, diretor, pesquisador e produtor cultural. É mestrando em Teatro pela UFMG e formado como ator pelo CEFAR-Palácio das Artes. É idealizador e coordenador do Janela de Dramaturgia, junto com Sara Pinheiro. Com Assis Benevenuto: dirige a Javali, editora mineira dedicada a publicações de teatro; coordena o Núcleo de Pesquisa em Dramaturgia do Galpão Cine Horto; e assinou os textos Ensaio de Mentira (espetáculo que comemorou os quinze anos do projeto Oficinão do Galpão Cine Horto) e Cachorro frio (desenvolvido em projeto de residência no bairro Renascença, em BH). Dentre seus últimos textos autorais estão O leão no aquário, Três Tigres Tristes e Bestiário. Foi fundador da Cia do Chá em 2009 e integra o coletivo seis dramaturgos.

Processo de escrita

Eu costumo anotar ideias aleatórias num bloco de no-tas. Às vezes a ideia é uma circunstância, às vezes um título. Eu andava pensando numa situação extraordi-nária onde dois personagens precisassem, apesar de suas extremas divergências, decidir por algo comum – talvez reflexo de experiências reais que tenho (temos) vivido nos últimos anos. Depois, por acaso, eu encon-trei um livro chamado Os prêmios, do famoso austríaco Thomas Bernhard – da passada de páginas me veio na cabeça um título e uma ambientação. Segui acu-mulando imagens, tentando conectar umas às outras. Fazer dramaturgia pra mim tem sido quase sempre isso: o exercício de colecionar ideias e desvendar a maneira como podem estruturar-se, apontar uma direção, um discurso. “A escrita é um impulso em direção ao sen-tido”, disse o autor francês Michel Vinaver. Mas esse caminho ao sentido é tão instigante quanto doloroso; requer escuta e paciência. Rascunho diálogos, imagi-no situações cênicas, busco uma voz – às vezes me levanto da cadeira, vou da tela ao espaço, como quem quer corporificar o que se escreve. Sou ator também quando faço dramaturgia. Tenho me interessado por investigar o teatro como um espaço para três acon-tecimentos: um inventado (uma fábula, personagens, espaço-tempo fictício); outro real (o aqui e agora do

evento teatral, os atores, os espectadores); e esses dois acontecimentos, o dramático e o performáti-co, juntos na direção de um terceiro acontecimento, secreto, que de maneira muito delicada vem à superfície quando menos se espera. Esse terceiro acontecimen-to talvez se encontre nos interstícios dos outros dois. Seria isso o sentido? – aquele mesmo que só vem com o tempo?

Um dia eu conversava com um antigo colega de es-cola e por um instante tive a impressão de que não seríamos capazes de habitar o mesmo mundo porque o projeto de cada um extinguia o outro. Tive medo – então comecei a adentrar o sentido de Os indicados.

Dramaturgia contemporânea

a escrita como invenção – o desvio como meio e fim – o delírio da comunicação – a brincadeira da língua – o escape ao tédio – o projeto de uma cena – a estrutura como discurso – o irremediável encontro entre ator e público – a palavra como catalisadora de alguma coisa – o espaço como texto – o texto como testemunha – os aristóteles e os anti-aristóteles – uma bula para cada peça – aquilo que se esconde lá no fundo – o maravilhoso labirinto das possibilidades – o passo em falso da personagem – a fábula – a imagem – o corpo como texto – as dramaturgias que não parecem mas são – a curva dramática para quem precisa – de vez em quando aparece uma moda – conseguiremos resolver dramaturgicamente a questão dos celulares ligados no teatro? – o texto como texto mesmo – o jogo com o tempo – os sentidos múltiplos – a realidade se esfregando na cara do teatro – o drama – as outras todas dramaturgias dessa vida (e de outras) – eu tentando escrever quase tudo o que eu penso sobre dramaturgia contemporânea.

5º Janela de Dramaturgia

– E aí você me pergunta pra quem eu estou batendo palmas, o que é que estamos comemorando com esse brinde, a quem eu devia oferecer um copo d’água, uma taça de vinho, em nome do quê eu estou acordando todos os dias, me levantando, inventando isso tudo aqui, a quem eu dedicaria um livro, uma canção, pra quem eu estou acendendo velas, se eu devia falar ou não falar de deus, o que é que está escrito na minha camisa, qual caminho eu faço pra chegar até o mar, que bandeira eu estou balançando na janela do meu quarto, qual recado eu mando pro pessoal de casa, quem aquela criança salva quando brinca de super-herói?

– E o que é que você me responde? ”

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CentoequatroPraça Rui Barbosa, 104, CentroEntrada Franca

Homenagem ao dramaturgo Eid Ribeiro (Belo Horizonte/MG)

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Encerramento

Homenagem ao dramaturgo

Eid Ribeiro

(Belo Horizonte/MG)

Eid Ribeiro

é dramaturgo, roteirista, curador e diretor teatral. Destacado como um dos artistas mais inventivos do cenário mineiro, atuando em Belo Horizonte desde a década de 60. Foi curador e diretor de programação do Festival Internacional de Teatro Palco & Rua de Belo Horizonte. Tem no seu percurso a fundação do Grupo Geração, coletivo teatral que atuou na resistência à ditadura militar, a direção de históricos espetáculos como: Fala baixo senão eu grito de Leilah Assumpção (1973) e Há vagas para moças de fino trato de Alcione Araújo (1974), além da autoria de mais de quinze peças, dentre elas Anjos e abacates e Lusco-fusco ou Tudo muito romântico. Dirigiu e escreveu para coletivos como Grupo Teatro Delle Radici (Suíça), Grupo Galpão, Grupo Trama, Cia Acômica e Grupo Armatrux.

Leitura

às 20h

Nightvodka

Um bar imaginário frequentado por todas as clas-ses sociais, sem se misturarem. Fragmentos de um Brasil alucinado, regado a álcool, drogas, traição, crimes, conspiração, ternura e música ao vivo para adocicar a barbárie. Um pequeno retrato de nos-sos sonhos e mazelas.

Lançamento da Coleção Eid RibeiroEditora Javali

às 21h

Os volumes que compõem a Coleção trazem as peças escritas desde o início de sua trajetória dramatúrgica nos anos sessenta, além de suas crônicas publicadas no jornal O Tempo entre os anos de 1996 e 2001. A Coleção reafirma a importância e o legado de Eid Ribeiro para a dramaturgia nacional.

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DiscotecagemJoanadarc e Leviana

Duo inédito de não-DJs. Pleased to meet you, hope you guessed my name. Leviana e Joanadarc são os surdos da escola de samba. Por força desse destino, absur-dos de um renovado fevereiro (ei, Chapolin! Joga água em mim!) nos caem bem melhor que um jazz mineiro. Ao sol de Ipanema, cinema e televisão. Viva Eid Ribeiro! A mosca na sopa, o dente do tubarão. Só quem já mor-reu na fogueira sabe o que é ser carvão.

GARÇOM Não trabalhamos com essa cerveja, é nova na praça?

PIMENTA Como? Sem a Bóson de Higgs, cara, você não existiria, essa mesa não existiria, e a porra desse bar não estaria rodando bolsinha ao redor do sol e se prostituindo pela Via Láctea.

GARÇOM Como é mesmo o nome da cerveja?

PIMENTA Bóson de Higgs, uma maravilha, é como saborear uma partícula de Deus.

GARÇOM Vou fazer um pedido pra fábrica, não sei se vão demorar a entregar. Vai querer mais uma Vodka?

PIMENTA Vou pensar, sem a Bóson de Higgs não passo de uma sombra morta lutando contra a Lei da Gravidade.

GARÇOM (COMEÇANDO A PERDER A PACIÊNCIA) Então pensa logo porque já ia arriar as portas do bar quando você chegou.

PIMENTA Tá querendo me mandar embora, porra?

GARÇOM Ordem dos traficantes da comunidade.

PIMENTA Deixa comigo, os traficantes também só existem graças ao Bóson de Higgs, se ele não tivesse juntado os Prótons, os Nêutrons e os Elétrons a cocaína não estaria divertindo o pessoal do Congresso lá em Brasília, sabia?

GARÇOM Você é maluco assim mesmo ou tá fazendo hora com a minha cara?

PIMENTA Você já ouviu falar em Newton, Einstein, Nietzsche e na morte de Deus?

GARÇOM O toque de recolher começa daqui a cinco minutos, vai querer mais nada, já vou fechar a conta.

PIMENTA Calma, tô esperando um amigo que diz ter encontrado Deus no facebook, você acha isso possível?

GARÇOM Pergunta mais besta, sem Deus a gente não seria nada, nem vento.

PIMENTA E com Deus somos o quê?

GARÇOM Homem, mulher, macaco, veado, cachorro, cobra, formiga, pernilongo.

PIMENTA Mas isso é a natureza, garçom.

GARÇOM E a natureza foi criada por quem, pelo Diabo?

PIMENTA Antes fosse, antes fosse. ”

535º Janela de Dramaturgia52 Encerramento 07 de dezembro, às 20h, no Centoequatro | Entrada franca

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54 555º Janela de Dramaturgia

Ficha Técnica

Idealização, direção artística e produçãoSara Pinheiro e Vinícius Souza

Coordenação geralVinícius Souza

Curadoria da mostraDaniel Toledo, Eid Ribeiro, Sara Pinheiro e Vinícius Souza

Assessoria de planejamento e gestãoLeonardo Lessa

Coordenação de críticaLuciana Romagnolli

Coordenação técnicaJésus Lataliza

ComunicaçãoVinícius Souza

Projeto gráficoEstúdio Lampejo

Fotos do projeto gráficoMarco Aurélio Prates

Fotos do eventoAthos Souza

VídeosByron O’Neill

ContabilidadeThaís Souza

ApoioCentoequatro, Teatro Espanca! e Hoteis Othon

AgradecimentosCláudia de Lourdes Abreu, Débora Tavares, Grazi Medrado, Hernane Luiz, Jade Marra, João Luiz Silva Jr, Luisa Bahia, Luiza Bastos Lages, Mateus Sá, Pablo Lamar e Paulo Marcelo Oz

Este catálogo foi realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Projeto nº240/2014.

Locais

CentoequatroPraça Rui Barbosa, 104, Centro

Teatro Espanca!Aarão Reis, 542, Centro

Mais detalhes da programação, da ficha técnica das leituras e a produção crítica da mostra podem ser acessados em:

www.janeladedramaturgia.comfb.com/janeladedramaturgia

Mais formaçõ[email protected] (31) 3582-8702

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Apoio

Realizado com os recursos da

Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte. Projeto nº 240/2014