De Lado a Lado Com a Vida - A Condição Feminina No Início Do Século XX

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    DE LADO A LADO COM A VIDA: A CONDIO FEMININA NOINCIO DO SCULO XX.

    Jos Evanilson de Freitas Lima. 1

    Thiago Accio Raposo2

    Patrcia Cristina Arago Arajo3

    RESUMO

    Este artigo objetiva discutir sobre a condio social da mulher no contexto histrico brasileiro no

    inicio do sculo XX. Tomamos como referncia para nossa anlise a novela Lado a lado, paradiscutirmos sobre os lugares do feminino neste perodo, fazendo uma articulao entre novela ehistria no campo dos estudos de gnero. Nesta pesquisa, trabalhamos a partir da abordagem deHamburger (1998), Marques e Lisba Filho (2012) nas questes em torno de mdia e gnero.Metodologicamente, partimos de anlises das cenas da novela, que consistiu na nossa fonte depesquisa. Discutir sobre a mulher nos possibilita visualizar os mltiplos aspectos s praticas sociais,culturais e histricas nas quais as mulheres se inserem.

    Palavras chaves:Mulher. Novela. Histria. Condio social.

    INTRODUO

    Este artigo visa discutir sobre as condies sociais das mulheres no inicio do sculo

    XX, atravs da novela Lado a Lado, produzida e exibida pela a Rede Globo no ano de

    2012. Buscamos a partir desse estudo analisar as condies das mulheres que viveram no

    neste perodo, especificamente entre os anos de 1903 a 1910, tempo este em que a obra est

    situada. A anlise centra-se na vida das duas mulheres que so protagonistas da trama e que

    so respectivamente, Laura e Isabel interpretadas pelas atrizes Marjorie Estiano e Camila

    Pitanga.

    Organizamos este texto em dois momentos, inicialmente, fizemos a contextualizao

    da histria da televiso e da novela no Brasil, em que nos respaldamos em Hamburger (1998),

    Marques e Lisba Filho (2012), e em um segundo momento apresentamos o contexto do Rio

    de Janeiro no incio do Sculo XX. Devido ao nosso recorte cronolgico est inserido em um

    1Aluno graduando do curso de histria da Universidade Estadual da Paraba -UEPB. E-mail:[email protected]

    Aluno graduando do curso de histria da Universidade Estadual da Paraba-UEPB . E-mail:[email protected] Doutora em educao. Professora de histria da Universidade Estadual da Paraba-UEPB. E-mail:

    [email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    perodo de mudanas para a cidade do Rio de Janeiro utilizamos as reflexes elaboradas sobre

    este perodo a parte dos horizontes tericos de Sevcenko (2006) e Wissenbach (2006) e com

    Rosemberg (2012), Nepomuceno (2012) e Bassanezi Pinsky (2012), no intuito de enfatizar o

    cotidiano das mulheres no contexto histrico elencado para estudo.

    A novela proposta importante para compreender as questes histricas, culturais e

    sociais dos brasileiros, a partir do Rio de Janeiro, no perodo compreendido entre 1903 e

    1910. Utilizamos da produo audiovisual a partir de selees de cenas de captulos que

    foram assistidas e analisados para podermos compreender o lugar do feminino na leitura danovela.

    Para abordagem da nossa pesquisa dividimos este artigo em trs momentos: No

    primeiro momento abordamos sobre a histria da mdia a partir da novela, logo em seguida

    contextualizamos o Rio de Janeiro no perodo demarcado para o trabalho e por ultimo

    analisamos a condio feminina em Lado a Lado.

    BREVE HISTRIA DA NOVELA E TELEVISO NO BRASIL

    De acordo com a Hamburger (1998) a insero da televiso no Brasil esta gerida em

    diversos locais tanto na rea urbana como na rural, pois, a TV conquistou espaos entre as

    diversas hierarquias sociais. Foi no ano de 1950, em que Assis Chateaubriand inaugurou a

    primeira emissora de televiso no Brasil a Rede Tupi dando assim incio histria da

    televiso em nosso pas. Durante os seus primeiros vinte anos a emissora liderou no mercado

    de televiso, entretanto, no ficou isenta da concorrncia mesmo nos seus anos iniciais.

    Surgiram os canais Record, Paulista, Cultura, Itacolomi e a Rio, ambas no perodo da dcadade 1950. Apesar da diversidade de emissoras surgidas nos primrdios da TV Tupi, na

    dcada de 1970 que a mesma se consolida no pas.

    O surgimento das novelas no Brasil ocorre quase que simultneo com histria da

    televiso, apesar de s ter atrado a preferncia da audincia em fins da dcada de 1960 e

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    inicio de 1970 ocorrendo que, as tramas configurassem entre a lista dos 10 programas mais

    assistidos pelo o IBOPE4. As novelas inspiraram-se nas experincias das radionovelas.

    Porm, nos primrdios da telenovela o formato atual como conhecemos no era usado

    a primeira novela brasileira a ser transmitida pela extinta TV Tupi, foi Sua vida me pertence,

    em 1951, com captulos semanais de durao mdia de 20min (MARQUES e LISBOA

    FILHO, 2012, p75).

    Com um tempo a novela foi ganhando os contornos do padro atual, por exemplo, o

    estilo altera-se a partir do final dos anos 60 e seguindo modelo proposto na Tupi, as novelas

    globais se contrapuseram ao estilo fantasioso que dominava a produo anterior, propondo

    uma alternativa realista. (HAMBURGER, 1998, p, 463). A autora Glria Magadan destaca-

    se pelo o seu estilo fantasioso, pois, suas tramas situavam-se em tempo e espaos distantes

    seus personagens possuiam nomes estrangeiros, Sheik de Agadirfoi exibido no ano de 1963

    sendo um dos seus maiores sucessos. a partir da novela Beto Rockfeller, escrita por Brulio

    Pedroso e dirigida por Lima Duarte e produzida por Cassiano Cabus Mendes, que um novo

    estilo de trama surge. A Rede Globo inspira-se no novo modelo e lana Vu de Noiva em1969, a qual adotava uma linguagem coloquial e referncias contemporneas.

    No final da dcada de 1960 e incio de 1970 as novelas tornam o principal produto da

    Rede Globo nacionalmente e internacionalmente e passam a serem produzidas pela Globo em

    feedback tornando obras abertas, na qual podem serem alteradas de acordo com a opinio do

    telespectador. No ano de 1973 O Bem Amado transmitido a cores e torna-se a primeira

    produo brasileira exportada pela a TV Globo.

    A discusso no campo de gnero acompanhou tambm a trajetria da televiso e a

    novela. Atualizao ao mundo moderno das mulheres refletida nas tramas problemas como

    separaes de casamentos infelizes, segundas unies, independncia das mulheres na vida

    financeira, sexo antes do casamento, entre outras questes foram abordadas nas produes da

    4 IBOPE a sigla de Instituto Brasileiro de Opinio e Estatstica, empresa brasileira de pesquisas de opinio eestudos de mercado onde so feitas as medies em audincia dos programas de televiso.

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    teledramaturgia.

    Na novela Gabriela(1975) a personagem titulo da trama apresentada nua no horrio

    das dez. No seriado Malu Mulher, o orgasmo apresentado pela a primeira vez atravs da

    mo fechada que abre como um espasmo. Esse seriado de inspirao feminista pode ser

    considerado paradigmtico do enfoque adotado pelas as novelas para abordar modelos

    legtimos de mulher, famlia e sexualidade. (HAMBURGER, 1998, p, 472). O seriado narrou

    histria de uma mulher independente, exercendo a profisso de jornalista que decide separar

    do seu marido por no esta satisfeito com o seu amor. O seriado representava as ansiedadesdas mulheres contemporneas. O uso da mo para representar o orgasmo esteve presente

    tambm na novela das oito horasPai Heri(1979), a qual tinha o seu desfecho em uma cena

    na cama em que o cdigo da mo era repetido.

    Lado a Lado,novela objeto de nossa pesquisa, alm de trazer abordagem referente no

    campo do gnero traz elementos histricos, que podem ser usados no ensino de histria.

    Podemos elencar diversas abordagens para compreenso da histria do Rio de Janeiro num

    perodo de transformaes do nosso pas.

    OLHARES SOBRE O RIO DE JANEIRO NO INCIO DO SCULO XX

    A novela trabalhada Lado a Lado situada no incio do sculo XX na cidade do Rio

    de Janeiro. Este perodo abordado um tempo de grandes transformaes no Rio de Janeiro e

    na histria do Brasil.

    Durante o inicio do sculo XX, o Brasil se encontrava em momentos significativos de

    transformaes econmica, politica, social e cultural. A primeira fase de Lado a Lado inicia

    no ano de 1903 e atravs da mesma analisamos as transformaes brasileiras. durante este

    perodo que a sociedade comea a adaptar-se ao novo sistema de governo Republicano

    proclamado no ano de 1889 atravs de um golpe militar. A abolio da escravatura no ano de

    1888 foi um marco em nossa histria onde as estruturas de nossa sociedade modificaram-se.

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    a partir destes dois marcos da sociedade brasileira em fins do sculo XIX que a cidade do Rio

    de Janeiro sofreu alteraes refletidas no inicio do sculo XX.

    Wissenbach (1998) em sua obra Da escravido liberdade: dimenses de uma

    privacidade possvelnos apresenta como ocorreu o processo de inchao urbano nas cidades

    brasileiras especificamente no Rio de Janeiro. A intensidade do crescimento urbano foi um

    dos traos caractersticos na transio do sculo XIX para o XX. O aumento populacional

    tambm reflexo da migrao interna e externa. A autora ressalta que:

    Nessa poca, o adensamento de populaes nas grandes cidades ocorreu sem que houvesseuma correspondncia na expanso da infla estrutura citadina e na oferta de empregos e demoradias, transformando esse avolumar menos num desenvolvimento e mais num inchao, oque acentuou o contraste entre as desigualdades sociais que a se fizeram presentes.(WISSENBACH, 1998, p 91).

    Partindo da afirmao da Wissenbach percebemos o desordenamento provocado pela o

    crescimento populacional no Brasil. As cidades neste perodo possuam traos coloniais e uma

    industrializao incipiente onde crises de carestia e fome eram frequentes e os improvisos no

    dia a dia das camadas populares estavam alastrados em moradias perenes. Com todos os

    desencadeamentos ocorridos nas cidades a fisionomia tornava algo deselegante ao olhar da

    elite onde o reflexo que projetavam era de uma desordem citadina.

    Vale salientar, que os habitantes deste perodo eram em grande parte negros que foram

    libertos no processo de abolio da escravatura em 1888. O local urbano foram espaos que

    os libertos procuraram para construir suas vidas aps o regime escravista, pois, as cidades

    atraiam parte deles para o trabalho informal destacando respectivamente as profisses como

    balaieiro, engraxate, vendedores a domiclio, condutores de Peru e entre outros. Porm, apesar

    de toda a atrao, esses tipos de trabalhos foram considerados empecilhos para o processo de

    modernizao da cidade.

    Destacamos os modelos de habitaes que se formaram no fim do sculo XIX ao

    inicio do XX, estes locais surgiram de formas irregulares. Os tipos de habitaes decorrente

    do perodo, eram os cortios, casares antigos e penses. O repartimento do interior das

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    moradias era tambm desordenados e sofria de escassez de recursos. O viver em cortios, para

    pessoas que no tinham condies financeira, era um elemento presente da poca.

    As moradias no ofereciam condies favorveis a quem nela morava. As elites no

    acreditavam que as moradias fossem consideradas habitaes, devido este aspecto. Essa ideia

    foi bastante difundida a partir das questes higinicas com os respectivos locais, pois, os

    mesmos eram propcios a surtos de doenas como bem discorre a autora que:

    Entre os anos de 1890 e 1920, surtos de febre amarela, de febre tifoide, de varola, de peste

    bubnica e da terrvel influenza, a gripe espanhola, apareceram, expandiram-se e dizimaramparcelas dos moradores citadinos, atingido especialmente seus setores mais pobres, mas noexclusivamente a eles. (WISSENBACH, 1998, p 104).

    A partir das condies desfavorveis e sub-humanas, que se encontravam o meio

    urbano da poca surge a poltica de higienizao das cidades brasileiras. Os relatrios dos

    agentes sanitrios eram provas das condies precrias que se encontravam as moradias

    populares do perodo onde a proliferao de doenas propcias de acontecer. Diante do

    cenrio urbano do incio do sculo XX surgiu o projeto de modernizao. A remodelao da

    sociedade carioca deparou com a forma de vida das classes populares, pois, seus modos deviver foram vistos com desprezo pelas as elites que em decorrncia disso defendia as aes

    pblicas de sade como forma de remodelar a capital com ares de uma civilizao francesa

    inspirada na Belle poque.

    Sevcenko (1998) discorre que a poltica de higienizao vem junto do bota abaixo,

    episdio que ficou conhecido pelas as derrubadas das moradias que representava focos de

    epidemias de doenas perigosas a exemplo da Varola. Alm do combate as proliferaes de

    doenas o autor nos afirma que a cidade do Rio de Janeiro passava pelo o processo deurbanizao onde as ruas estreitas dariam lugar s avenidas, smbolo de modernidade, o

    governo do prefeito Pereira Passos foi o que investiu bastante na urbanizao da capital

    federal. Porm o projeto urbanstico no trouxe benefcios s camadas populares que

    perderam suas casas com o bota abaixo desencadeando assim o processo de favelizao tal

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    qual conhecemos atualmente.

    A CONDIO FEMININA NA NOVELA LADO A LADO

    Isabel (Camila Pitanga) e Laura (Marjorie Estiano) so as personagens da novelaLado

    a Lado trabalhadas em nossa Pesquisa. A primeira uma mulher batalhadora que trabalha

    desde os seus 14 anos na casa da madame Bersanon (Beatriz Segall) uma francesa que

    ensinou a falar o idioma francs fluentemente, ajuda nas dispensas da casa e filha do seu

    Afonso (Milton Gonalves) ex-escravo. A segunda personagem Laura jovem e filha da

    Constncia (Patrcia Pilar) e Assuno (Werner Schunemann), adora os livros e as artes,

    muito a frente do seu tempo est sempre em confronto com sua me, a qual foi uma baronesa

    no perodo imperial, casa-se com Edgar (Thiago Fragoso) para firmao de um compromisso

    de seus pais, porm, com o decorrer da trama os dois se apaixonam.

    Durante o percurso da novela as personagens Isabel e Laura tornaram amigas e juntas

    vo superar os preconceitos da rgida sociedade carioca. A amizade das duas inicia durante o

    casamento de ambas. Porm, Isabel no consegue realizar seu matrimnio, pois, o seu noivo

    Z Maria (Lazaro Ramos) preso durante o episdio do bote abaixo, enquanto que a

    cerimnia de Laura ocorre sem nenhum problema.

    De acordo com as cenas do primeiro capitulo podemos analisar que o noivado de

    Laura foi apenas para manter as aparncias de sua famlia que precisava se consolidar no

    governo republicano, pois, durante o Imprio seus pais foram bares e a partir do novo

    sistema seus ttulos deixaram de ter prestigio. Os dilogos das personagens de Constncia e

    Celinha (Isabela Garcia) tia de Laura em uma cena no captulo 1 evidncia a forma, a qual foiconduzido o noivado da sua sobrinha, quando esta pronuncia da seguinte forma: Celinha

    (Isabela Garcia) - Eu acho muito bonito, muito romntico, mas no sei como Laurinha

    vai conseguir noivar por correspondncia por tanto tempo. A partir da indagao da

    personagem vemos que a preocupao da famlia da noiva era apenas manter o compromisso,

    pois, neste perodo as mulheres de respeito deveriam seguir o curso regrado pela a sociedade

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    de contrair matrimnio e cuidar do seu lar destino reservado para uma moa de boa famlia.

    Vemos tambm que o projeto de casamento imposto na vida de Laura ia de confronto

    com seus planos almejados profissionalmente, pois, o seu desejo era de ser professora, desejo

    esse relegado por sua me que enxergavam essa situao com preconceitos. Durante alguns

    dilogos vemos que Constncia menciona que o curso de sua filha foi feito apenas para passar

    o seu tempo enquanto esteve solteira e que aps o casamento ela deveria esquecer e reservar o

    seu tempo para a vida conjugal. De acordo com Flvia Rosemberg (2012), a educao das

    mulheres um fato recente em nossa histria. Segundo Bassanezi Pinsk (2012), a famliadeveria ser algo central na vida de uma mulher, ou seja, um referencial na identidade

    feminina. Podemos ento analisar que para a personagem Laura o casamento era algo em

    segundo plano, provocando a indignao de sua me que no aceitava as ideias de sua filha.

    O lugar da mulher o lar, e sua funo consiste em casar, gerar filhos para a ptria e

    plasmar o carter dos cidados de amanh (MALUF e MOTT, 1998, p 374). De acordo com

    a afirmao das autoras podemos perceber a funo delegada ao mundo feminino no perodo

    da Repblica Velha. A maior funo das mulheres era de manter sua imagem vinculada a boadona de casa, esse discurso era pregado pela a igreja e ensinado tambm pelos mdicos e

    juristas. Vemos ento que Laura moa de boa famlia deveria seguir o percurso destinado

    sua vida, pois, as moas oriundas de famlia de posse eram preparadas para corresponder

    satisfatoriamente aos papis sociais a elas designados (FANINI, 2009, p 95).

    Apesar do casamento se concretizar percebemos que a personagem Laura e Edgar nos

    primeiros dias de conjugues se tratam como dois estranhos, em algumas cenas da novela

    chegam a dormir em quartos separados. Aos poucos por compartilhares das mesmas ideias

    Laura e Edgar vo se apaixonando. Devido ao casamento, a personagem da filha Constncia

    doa os livros da Laura para uma biblioteca, pois, de acordo com a mesma uma mulher casada

    tem por obrigao dedica-se plenamente ao lar de sua casa. Vale salientar que o casamento de

    Laura para os seus pais deveria obter xito, por ser uma entrada dos antigos bares a

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    sociedade carioca no sistema republicano que encontrava em seus primrdios.

    Na 1 fase do folhetim os jovens casais apaixonam-se e viver harmoniosamente,

    porm, Laura descobre que seu marido tem uma filha fora do casamento e que o prprio no

    tinha conhecimento desta, o que ocasiona crise em sua vida matrimonial. Com a chegada da

    filha de Edgar que vem acompanhada de sua me o casamento deles abalado, ocasionado

    separao. Para que a sociedade no tome conhecimento do divorcio de sua filha, Constncia

    diz a todos que Laura afastou-se da capital para um tratamento de sade.

    Em cenas da 2 fase da novela quando Laura regressa a capital a preocupao para que

    ningum tome conhecimento da situao do estado civil por sua me constante, pois, o seu

    pai se tornou senador e sua imagem poderia ser manchada. Com a personagem Isabel vemos a

    representao do universo das mulheres negras que luta pela a igualdade racial no mundo ps-

    abolio. Segundo Bebel Nepomuceno (2012), as mulheres negras utilizaram de estratgias

    pela a sua sobrevivncia no cotidiano do inicio do sculo XX. A autora nos mostra que muitas

    delas trabalhavam em casas como criadas para seus sustentos.

    Vale ressalta que apesar da Repblica trazer o progresso em um novo sculo onde a

    monarquia foi deposta e um novo sistema de governo nasce de um ato orquestrado por uma

    pequena elite, em 1889, trazendo consigo um projeto de Brasil pautado de uma imagem de

    modernidade no qual progresso e civilizao, praticamente sinnimos poca, eram palavras

    de ordem (NEPOMUCENO, 2012, p 383), esta apenas foi um projeto pensado por uma parte

    da sociedade onde algumas pessoas foram excludas da modernidade e s mulheres negras

    faziam parte desta excluso social.

    Nas cenas iniciais da novela conhecemos Isabel uma trabalhadora e apaixonada pelo o

    samba. No primeiro capitulo a jovem apaixona-se pelo o Z Maria onde posteriormente torna-

    se sua noiva e marcam o casamento. Porm, durante o dia do matrimnio o noivo luta contra

    os policias do movimento bote abaixo, o que provoca sua priso impedido de ir ao

    casamento. A personagem ento a espera do seu amado sente-se abandonada ao altar sem

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    saber de nenhuma notcia e acreditando ento que o mesmo a rejeitou. Com a situao que a

    vida da moa tomou, surge o personagem Albertinho (Rafael Cardoso), irmo de sua amiga

    Laura, o mesmo seduz a jovem e logo depois a abandona.

    Isabel engravida e expulsa de seu emprego. Entretanto, ela encontra um novo

    trabalho no teatro se tornando camareira da atriz Div (Maria Padilha). Aps a gestao, seu

    filho trocado por outro menino morto sob as ordens de Constncia que tem medo da

    sociedade descobrir a existncia de um neto bastardo. Devido a todos os eventos ocorridos em

    sua vida personagem conhece Jeanett Dorleac (Maria Fernanda Candido), uma artista francesade vanguarda que se encanta com a forma de Isabel danar o samba prope um trabalho na Europa

    como danarina.

    Na segunda fase da novela no ano de 1910, Isabel consolidada como uma grande danarina

    faz sucesso na Europa, enquanto sua amiga Laura encontra-se divorciadamorando no interior para

    que a sociedade carioca no tome conhecimento de sua situao. Aps anos vivendo na Europa a

    jovem decide retornar ao Brasil e volta a viver na sociedade conservadora do sculo XX, ao

    regressar encontra-se com sua amiga Laura.

    A partir de algumas cenas podemos observar o preconceito que Isabel sofria por ser

    danarina no capitulo 61, quando a mesma retorna ao pas em uma cena conversando com Laura

    vemos a viso que os jornais tinham de suas apresentaes. IsabelMe chamavam de indecente e

    de indolente.A partir dessa afirmao fica explcito o conceito que a sociedade possua a respeito

    da vida artstica e inclusive o seu pai que no aceitava o modo de vida da filha.

    Em algumas cenas observamos que o pai de Isabel renega a filha por se tornar uma artista,isso fica evidente quando afirma que o dinheiro conseguido pela artista algo sujo e marcado pelo

    pecado. Vemos ento que o discurso da mulher dona do lar ainda continua vigente apesar dos

    avanos culturais que marcaram o inicio do sculo XX.

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    CONSIDERAES FINAIS

    A partir do estudo dessas duas personagens fictcias na teledramaturgia brasileira podemos

    perceber o cotidiano feminino no inicio do sculo XX. O perodo em estudo como rico de

    transformaes na histria da humanidade, devido os avanos na tecnologia, na moda, no mundo

    cientifico,pois, ocorreram de uma forma surpreendente e o Rio de Janeiro foi palco das grandes

    transformaes. Porm, salientamos que apesar da modernidade ser um marco em nossa capital

    nesse tempo ideias conservadoras ainda eram fortes. Ao exemplo disto vimos s condies do

    mundo das mulheres a famlia como modelo patriarcal era o que vigorava.

    As novelas so produtos miditicos que podemos analisar como fontes riqussimas em

    pesquisas nas diversas reas do conhecimento.Lado a Lado, objeto analisado neste artigo trouxe

    dados de grande relevncia para o campo de gnero proposta oferecida em nossa discusso, porm

    devemos tambm enxergar que, alm da questo feminina estudada esta novela nos oferece outras

    abordagens como a histria do nosso mundo aps a escravido e monarquia e o processo de

    excluso da camada popular vivida nesta poca.

    REFERNCIAS

    FANINI, Michele Asmar. Educao como instruo: os bices profissionalizao femininano Brasil da virada do sculo XIX para o XX. 2009. Disponvel: Acesso em: 15 abr. 2015.

    HAMBURGER, Esther. Diluindo fronteiras a televiso e as novelas no cotidiano. IN:NOVAIS, Fernando (dir.) SCHWARCZ, Lilia Moritz (org.).Histria da Vida Privada noBrasil. Vol.4. So Paulo. Companhia das letras. 1998.

    MALUF, Marina e MOTT Maria Lcia. Recnditos do Mundo Feminino IN: NOVAIS,Fernando (dir.)/ SEVECENKO, Nicolau (org.). Histria da vida privada no BrasilRepblica: da Belle poque Era do Rdio. Vol. 3. So Paulo: Companhia das Letras,1998.

    MARQUES, Darciele Paula e LISBA FILHO, Flavi Ferreira. A Telenovela brasileira:percursos e histria de um subgnero ficcional. Revista Brasileira de Histria da Mdia, v.1, n. 2, jul., 2012.

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    PINSKY, Carla Bassanezi. A Era dos Modelos Rgidos IN: ____________________ ePEDRO, Joana Maria (org.).Nova Histria das mulheres. So Paulo: Contexto, 2012.

    ROSEMBERG, Flvia. Mulheres Educadas e a Educao de Mulheres IN: PINSKY, CarlaBassanezi e PEDRO, Joana Maria (org.).Nova Histria das mulheres. So Paulo: Contexto,2012.

    SEVCENKO, Nicolau. A Capital Irradiante: tcnicas, ritmos e ritos do Rio IN: NOVAIS,Fernando (dir.)/ SEVECENKO, Nicolau (org.). Histria da vida privada no Brasil

    Repblica: da Belle poque Era do Rdio. Vol. 3. So Paulo: Companhia das Letras,1998.

    WISSENBACH, Maria Cristina Cortez. Da escravido a liberdade: dimenses de umaprivacidade possvel IN: NOVAIS, Fernando (dir.) SEVECENKO, Nicolau (org.).Histriada vida privada no Brasil Repblica: da Belle poque Era do Rdio. Vol. 3.So Paulo:Companhia das Letras, 1998.