De passagem na folia
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diário de bordoCurvelo - Inimutaba, 23 de maio de 2009 - Concluído às 00h:33min15
Quem quiser encontrá-los, é só perguntar pelo mestre
da folia velha. São antigos conhecidos dos moradores da
região. Andam por aí há mais de sessenta anos – andam,
cantam e dançam. O grupo cultural São Francisco de Assis
Folia de Reis, de Inimutaba, trouxe as pessoas para perto
do palco no FestiVelhas Sertões, em Curvelo. Uma delas
ficou ainda mais próxima.
Uma senhora se destacou na grande platéia. Ou melhor,
fora dela. O casaco colorido se misturava às roupas dos
foliões e da tenda. Logo no início já se pôs de pé, atraída
pelo presépio cantado: a história do nascimento do menino
Jesus em versos. O som de chocalhos, violões, cavaquinho
e do canto do grupo era acompanhado pelas palmas da pla-
téia. Os três Reis Magos seguravam a bandeira do Santo
Rei. Envolvida pela dança, a velhinha entrou na festa e bei-
jou a imagem com devoção.
“É grande a emoção de ver a platéia aplaudir”, conta o
mestre Euclides da Costa. O grupo já passou por quatro ge-
rações. Entre o Natal e o dia de Reis, 6 de janeiro, a popula-
ção já espera pela passagem deles e abrem as portas para
receber a festa e a benção.
Sobre a sensação de estar na folia, a senhora elogiou
a beleza do momento. Ela apareceu por acaso. Estava pas-
sando e resolveu ficar. Não descobrimos mais nada. Per-
guntamos, mas ela não entendeu muito bem. Só tinha ou-
vidos pra folia mesmo.
Jessica Soares e Victor Vieira,
estudantes de Comunicação Social da UFMG
No caminho
Na folia,a festa é tão boa que dá vontade de estar dentro dela
Foto
: Jes
sica
So
ares
Em 2003, época da primeira Expedição, Curvelo não tratava seu
esgoto. Apenas 59% dele era coletado, ou na rede geral, ou na pluvial,
e nenhuma parte dele era tratada. Um fator preocupante era a signifi-
cativa quantidade de fossas rudimentares, 32,61%. A porcentagem de
fossas sépticas representava somente 2,13% do total das residências.
6,19% das casas mandavam o esgoto direto para valas, rios e lagos ou
simplesmente não possuíam nenhum tipo de instalação sanitária.
O esgoto e os resíduos industriais da cidade de Curvelo continuam
sem tratamento e são despejados, em sua maioria, nas águas dos ri-
beirões Santo Antônio, Riacho Fundo e Grota Passaginha. Entretanto,
a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da cidade deve ficar pronta
até outubro deste ano e tratar 100% do esgoto. As obras estão quase
finalizadas, 60% da ETE já está construída e 80% dos interceptores
que levarão o esgoto até ela já estão prontos. Hoje, cerca de 80% são
coletados e ao final das obras esse número vai subir para 95%.
Quanto ao lixo da cidade, são produzidas aproximadamente 80
toneladas por dia. 100% dos resíduos da sede urbana são coletados e
destinados ao aterro controlado, sendo que a cidade já possui a licen-
ça de instalação para um aterro sanitário. Cenário bem diferente do
encontrado em 2003, quando a cidade produzia cerca de 40 toneladas
de lixo que eram depositadas à céu aberto. Parte do lixo sequer era
coletada. 21,81% dele eram queimados ou enterrados e 4,28% joga-
dos em terrenos baldios, rios ou lagos.
Stéphanie Bollmann, estudante de Comunicação Social da UFMG
Mais informações: www.manuelzao.ufmg.br/expedicao2009
De passagem na folia
Informativo da Expedição pelo Velhas 2009. Promoção Projeto Manuelzão. Expediente: Elton Antunes, Humberto Santos, Carolina Scott, Anna Carolina Aguiar, Ártemis Brant, Filipe Motta, Gabriella Hauber, Jessica Soares, Ketrily Andrade, Pâmilla Vilas Boas, Stéphanie Bollmann, Thais Marinho, Victor Vieira. Coordenação: Marcus Vinícius Polignano. Diagramação:Elton Antunes e Filipe Motta . Tiragem: 200
Pá de cal - ou a história da barragem“Como cabeça de bacalhau: todo mundo já ouviu falar,
mas ninguém nunca viu”. Assim, um dos presentes no Ciclo
de Debates definiu seu nível de informações sobre o pro-
jeto de uma barragem no Rio das Velhas. Ontem, em Pre-
sidente Juscelino, o empreendimento foi uma das pautas
das discussões da Expedição. Além deste município, ele
atingiria Santo Hipólito, Curvelo e Inimutaba.
Ainda não confirmada, a obra é uma proposta da Com-
panhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e
Parnaíba (Codevasf) para regularização do nível de água do
Velho Chico. Uma forma para que não haja diferença nos
níveis de água do São Francisco entre as estações de cheia
e seca. A Companhia argumenta que a represa ajudaria na
navegação do rio e na criação de áreas de irrigação. Do
outro lado, membros dos comitês de bacia hidrográfica do
rio São Francisco e do Rio das Velhas, vêem na barragem
uma forma de se garantir água no São Francisco no pós-
transposição.
Como apontou o biólogo do Projeto Manuelzão, Car-
los Mascarenhas, a barragem no Velhas é uma pá de cal
na revitalização da bacia. Ela acabaria com a possibilidade
de migração das espécies de peixe pelos rios. E, devido às
características do Rio, a água parada do reservatório pode
transformá-lo num poço de água podre. A barragem pre-
judicaria não só o trecho de impacto direto, mas também
todo investimento que já foi feito pela Meta 2010.
Agenda - Curvelo9h - Apresentação do “Show Chuá” (Brincadeiras, jogos e cantigas)
10h às 12h - Oficinas infanto-juvenis: desenho e brinquedos
10:30h às 12h - Ciclo de Debates
12:30h - Coral “Canto das Garças” – Morro da Garça /MG
13h30h - Grupo de Percussão “Batuque do Sertão” – Morro da Garça / MG
14h às 16h - Ciclo de Debates
16h às 18:30h - Oficinas de fotografia, teatro e artesanato (arranjos de palha de milho)
18h - Frajolla e Mariola
19h - Grupo Acadêmicos do Sertão – Cordisburgo /MG
20h - “A novela de Miguilim”
Grupo Miguilim Contadores de Histórias – Cordisburgo / MG
21h -Trio Lampião
22h - Show com o violeiro João Araújo
Santa Rita do Cedro08h - Partida dos canoístas em direção à Inimutaba
LandimTodo o dia - Feira gastronômica; artesanato; capoeira; painéis; teatro; momento musical “Valores da Terra” ; Banda Maestro José Mendes da Silva; grupo Cultural de Seresta São Francisco de Assis
15h - Recepção dos canoístas
16h - Bate papo com os navegadores
Projeto da barragem no Velhas prevê que a histórica Senhora da Glória fique submersa
Foto
: Filipe Mo
tta
Desde 2006 especulações sobre a obra tem sido fei-
tas no médio Velhas. Principalmente depois que técnicos a
serviço do governo federal passaram a fazer levantamen-
tos na região. Além da inquietação causada pelos boatos
sobre a obra, problemas como especulação imobiliária, co-
meçaram a ocorrer. Somente em março deste ano técnicos
da Codevasf admitiram os estudos sobre o empreendimen-
to, durante reunião feita à pedido do Comitês de Bacia do
São Francisco.
Filipe Motta, estudante de Comunicação Social da UFMG
Falar de coisa séria brincando. Foi assim que começou
neste sábado o FestiVelhas em Curvelo. Cheios de gingado,
nove crianças levaram pequenas histórias em sotaque do
interior para cima do palco. Era o Grupo Caipiras Bons de
Bico, parte do Projeto “Construindo cidadania, refazendo
nossa história”. Além de resgatar personagens marcantes,
como os do Sítio do Pica Pau Amarelo, os atores mirins
falaram de meio ambiente e preservação à platéia repleta
de colegas da Escola Municipal Antônio Frederico Ozanam.
Só de brincadeira?
Manuelzão expedicionário não é coisa de hoje. Já tinha
acontecido antes mesmo de 2003. O vaqueiro que empres-
ta o nome ao Projeto, Manuel Nardi, percorreu durante 10
dias o sertão mineiro. A viagem, de Três Marias à Araçai,
foi contada por Guimarães Rosa no conto “Manuelzão e
Minguilim”. A história inspirou também o filme Mutum, da
diretora Sandra Kogut, que foi exibido ontem na praça Cen-
tral do Brasil. Além de ter sido gravado na região, o elenco
foi formado pela população local.
De viagem