de Qualidade da Técnica de PCR -...

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Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto Mestrado em Controlo de Qualidade Controlo e Garantia de Qualidade da Técnica de PCR Ana Elisabete Pereira Correia de Oliveira Dezembro 2008

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Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto 

 Mestrado em Controlo de Qualidade 

Controlo e Garantia de Qualidade da Técnica 

de PCR

Ana Elisabete Pereira Correia de Oliveira 

 

Dezembro 2008 

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto 

 Mestrado em Controlo de Qualidade 

Controlo e Garantia de Qualidade da Técnica de PCR

 

 

 

 

 

Área: Medicamentos e Plantas Medicinais 

 

Orientador: 

Professor Doutor Rui Manuel de Medeiros Melo Silva 

Co‐orientadora: 

Professora Doutora Maria de São José Garcia Alexandre Nascimento da Fonseca 

 

Dissertação de Candidatura ao Grau de Mestre 

 apresentado à Faculdade de Farmácia da 

Universidade do Porto. 

Trabalho realizado no laboratório de  

Oncologia Molecular do IPO‐Porto  

e financiado pela Fundação Astrazeneca. 

 

 

Ana Elisabete Pereira Correia de Oliveira 

 

Dezembro 2008 

ii  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Declaração relativa à reprodução: 

 

É autorizada a reprodução integral desta dissertação apenas para efeitos de investigação 

mediante declaração escrita do interessado, que a tal se compromete. 

 

 

 

iii  

Agradecimentos 

 

  O presente trabalho não seria possível sem a ajuda e o apoio de determinadas pessoas que 

demonstraram  o  seu  apoio  e  carinho  incondicional.  Tentando  não  esquecer  ninguém,  quero 

agradecer:  

  Em primeiro lugar, à Fundação Astrazeneca, que financiou este projecto. 

  À  Professora  Doutora Maria  Beatriz  Prior  Pinto  Oliveira,  coordenadora  do Mestrado  em 

Controlo de Qualidade, pela  sua preocupação,  atenção  e  apoio prestados, pela  rápida  resposta  e 

bons  conselhos  sempre  que  solicitada,  aproveitando  para  felicitá‐la  pela  excelente  coordenação 

deste mestrado. 

  Ao Professor Doutor Rui Medeiros, meu orientador neste trabalho, pela simpatia e prontidão 

com que me recebeu, pelo apoio, pela ginástica temporal para me  incluir na sua agenda, por si só 

cheia, pela paciência e entendimento, e principalmente pela orientação neste projecto inesperado. 

  À  Professora  Doutora  Maria  de  São  José  Nascimento,  minha  co‐orientadora  que 

prontamente  aceitou  co‐orientar  este  projecto,  pelas  palavras  reconfortantes  de  força  e 

disponibilidade, que sempre me foi transmitindo nos últimos anos e pelo seu optimismo contagiante, 

que se revelou muito útil nos últimos meses.  

  À Doutora Albina Marinho, do laboratório de Virologia do IPO‐Porto, pela simpatia e atenção 

prestada e pela partilha de conhecimentos que em muito enriqueceram este trabalho. 

  A todos os meus colegas e recentes amigos do  laboratório de Oncologia Molecular do  IPO‐     

‐Porto, pela simpatia com que me receberam e se deixaram observar nas suas rotinas diárias. 

  A  todos  os  meus  antigos  colegas  e  amigos  do  departamento  de  Química  Orgânica  da 

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, especialmente à Professora Doutora Maria  José 

Gonzalez e ao Carlos, pela grande amizade, alegria e apoio que sempre me demonstraram.  

  A todos os meus familiares e amigos, pela presença e apoio constante. 

À Cátia, amiga e antiga companheira de laboratório e mestrado, pela amizade incondicional. 

  Aos meus pais, pelo enorme carinho e apoio com que acompanharam as diversas fases deste 

mestrado, desculpando todos os pequenos momentos de má disposição e falta de disponibilidade. 

  Ao Hélder, meu irmão, a pessoa que mais acredita em mim, por todas as horas infindáveis de 

conversa e carinho. 

  Ao Pedro, que me acompanhou desde sempre neste mestrado, pela confiança,  incentivo e 

carinho nas horas certas. 

 

 

iv  

Resumo 

 

  Esta dissertação pretende apresentar uma proposta de avaliação  interna da qualidade das 

técnicas de PCR‐RFLP e Real‐Time PCR, utilizadas diariamente no laboratório de Oncologia Molecular 

do  IPO‐Porto,  com  fins  de  diagnóstico  e  investigação  epidemiológica  e  farmacogenómica.  Este 

trabalho baseou‐se apenas na sua utilização qualitativa em projectos de investigação.  

 

  O controlo e a garantia de qualidade têm um papel vital hoje em dia, ajudando a garantir a 

fiabilidade de resultados e produtos. Os critérios de qualidade tornaram‐se essenciais para assegurar 

a correcta utilização de tecnologias genéticas que se desenvolveram nas últimas décadas, como é o 

caso da amplificação dos ácidos nucleicos.  

  Desde a sua descoberta, a amplificação dos ácidos nucleicos  in vitro, através da  técnica de 

PCR,  tornou‐se uma  ferramenta muito poderosa em  laboratórios de diagnóstico. No entanto, uma 

das desvantagens apontadas  tem sido a  falta de requisitos e regulamentos padronizados para esta 

técnica,  assim  como  a  dificuldade  de  controlar  todas  as  variáveis  intervenientes,  podendo 

comprometer a qualidade dos resultados. Sendo assim, e face à nova tendência universal de garantia 

de qualidade, é necessário implementar protocolos de controlo e sistemas de gestão de qualidade.  

O  HACCP  é  uma  metodologia  preventiva  que  assenta  numa  abordagem  científica  e 

sistemática  de  identificação  e  avaliação  de  perigos  específicos  em  todas  as  etapas  da  produção. 

Apesar do uso do HACCP não  se  ter ainda expandido ao  laboratório de  técnicas genéticas, a base 

deste sistema pode ser adaptada a diferentes sectores, com alta probabilidade de sucesso.  

Através  de  uma  cuidada  observação  do  laboratório  de  Oncologia  Molecular  e  seus 

colaboradores e utilizando as bases do sistema de gestão de qualidade HACCP, foram elaborados os 

fluxogramas das  técnicas de PCR‐RFLP e Real‐Time PCR, e preenchidas  tabelas de  identificação de 

perigos, pontos críticos de controlo, medidas de controlo e correctivas, reunindo todos os cuidados e 

acções a  realizar durante a  técnica e na  resolução de problemas. A partir daqui,  foram adaptados 

critérios  de  avaliação  dos  vários  sectores  do  laboratório,  utilizados  na  observação  diária  e  que 

poderão  ser  implementados  futuramente  como  medidas  de  avaliação  interna  do  local,  sua 

organização e colaboradores. 

Com a utilização dos fundamentos do HACCP, os critérios e a observação, concluiu‐se que os 

principais  requisitos  de  trabalho  eram,  em  geral,  cumpridos, mas  que  faltava  um  protocolo  que 

avaliasse internamente a qualidade dos vários passos, para além dos resultados. Tendo em conta os 

pontos críticos identificados e a necessária adaptação ao local, elaborou‐se um plano de controlo de 

qualidade interno, a experimentar, melhorar e implementar num futuro próximo.  

v  

Abstract 

 

This thesis aims to present a proposal for assessing internal quality of the technique of PCR‐   

‐RFLP and Real‐Time PCR, used daily  in  the  laboratory of Molecular Oncology of  IPO‐Porto. These 

techniques are used for purposes of diagnosis and epidemiological and pharmacogenomics research. 

This work was based only on their qualitative use in research projects.  

 

  Quality control and assurance play a vital role nowadays helping to ensure the reliability of 

tests results and  industrial products. The criteria of quality have become essential to ensure proper 

use of genetic technologies that have been developed in recent decades, such as the amplification of 

nucleic acids. 

  In vitro amplification of nucleic acids using PCR has become, since  its discovery, a powerful 

diagnostic  tool. However,  the  lack of officially approved,  standardized  regulations and  instructions 

has been pointed as one of  the disadvantages, as well as  the difficulty  to control all  the variables. 

Both can compromise the quality of the results. So, it is necessary to introduce a quality control plan 

and management system, in order to achieve the new universal trend of quality assurance. 

  HACCP is a preventive approach based on a scientific and logical system designed to identify 

and  evaluate  specific  hazards  at  all  stages  of  the  process. Despite  the  use  of HACCP  has  not  yet 

expanded to the genetic laboratory, the foundation of this system can be adapted and implemented 

in different sectors, with high probability of success. 

Through a careful observation of the laboratory of Molecular Oncology and its collaborators, 

and using the fundamentals of quality management system HACCP, the flowcharts were developed 

for PCR‐RFLP and Real‐Time PCR techniques, as well as tables for the identification of hazards, critical 

control  points,  control  and  corrective measures,  bringing  together  all  the  care  and  actions  to  be 

undertaken during the technique and problem‐solving. From here, some criteria were also adjusted 

for evaluating  the various  sectors of  the  laboratory, and used  for daily observation. These  criteria 

may  be  implemented  as  future measures  of  internal  evaluation  of  the  site,  its  organization  and 

employees. 

Using  the  fundamentals of HACCP,  the  criteria and observation,  it was  concluded  that  the 

main  requirements  of work were  generally  satisfied,  but we  needed  a  protocol  to  evaluate  the 

internal quality of the various steps, in addition to the results. Given the critical points identified and 

the necessary adaptation  to  local, a plan of  internal quality  control was prepared,  to experiment, 

improve and implement in the near future. 

 

vi  

Objectivos e Organização da Dissertação 

 

  Face  à  importância  actual  da  qualidade  e  à  falta  de  documentos,  registos  e  alguns 

procedimentos  que  controlem  e  comprovem  a  qualidade  dos  resultados  e  ensaios  em  geral 

praticados no laboratório de Oncologia Molecular do IPO‐Porto, foi objectivo desta dissertação iniciar 

um capítulo de integração do controlo e garantia da qualidade no laboratório, começando assim por 

exercer um controlo interno dos seus próprios ensaios.  

Alguns termos relativos a material, reagentes ou técnicas foram mantidos em inglês ao longo 

da dissertação, pela sua utilização habitual no laboratório. 

 

 

  A dissertação está organizada em 4 partes. 

  Na  primeira  parte,  denominada  Introdução,  efectua‐se  uma  abordagem  geral  ao  termo 

Qualidade, à sua história e evolução até ao tempo actual.  

A segunda parte, Controlo da Qualidade de Técnicas Genéticas, pretende rever o sector da 

qualidade nos ensaios genéticos e está subdividida em três pontos. No primeiro descreve‐se, de uma 

forma geral, a importância do controlo de qualidade nas técnicas genéticas; no segundo, faz‐se uma 

abordagem do controlo  interno utilizado em ensaios genéticos, das variáveis que podem afectar os 

ensaios e que é necessário controlar; no terceiro, referem‐se brevemente os esquemas de controlo 

externo e de ensaios interlaboratoriais já existentes para as técnicas genéticas. 

Na  terceira  parte,  intitulada  HACCP,  faz‐se  uma  descrição  deste  sistema  de  gestão  da 

qualidade, a sua história, normas, utilização presente e futura. 

A quarta parte, Proposta de Modelo de Controlo e Garantia de Qualidade, constitui a parte 

principal deste trabalho, em que são apresentados os fluxogramas, as tabelas HACCP, os critérios e a 

proposta de plano de avaliação.  

Na  quinta  parte,  denominada  Resultados  e  Discussão,  apresentam‐se  os  resultados  da 

observação diária dos colaboradores do  laboratório e da aplicação dos critérios referidos na quarta 

parte. Segue‐se uma breve discussão desses resultados e do próprio modelo proposto. 

A  sexta  parte,  Conclusões  e  Perspectivas,  resume  as  principais  conclusões  que  foram 

retiradas a partir deste trabalho e como se pretende evoluir a partir daqui.  

Por último, a sétima parte compreende a Bibliografia utilizada na realização deste trabalho. 

 

 

vii  

Índice Geral  

 

Agradecimentos  iii

 

Resumo  iv

 

Abstract  v

 

Objectivos e Organização da Dissertação  vi

 

Índice de Figuras  ix

 

Índice de Tabelas  x

 

Abreviaturas e Símbolos  xii

 

I. Introdução  1

 

II. Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas  7

1. Considerações Gerais  8

2. Controlo de Qualidade Interno de Técnicas de Amplificação de Ácidos Nucleicos ‐ PCR  13

3. Esquemas de Controlo Externo  26

 

III. HACCP  31

 

IV. Proposta de Modelo de Controlo e Garantia de Qualidade  37

1. Adaptação de um Plano HACCP  38

2. Critérios de Avaliação  54

3. Plano de Avaliação de Qualidade  63

 

V. Resultados e Discussão  66

1. Adaptação de um Plano HACCP  67

2. Análise dos Resultados da Observação dos Colaboradores e Utilização dos Critérios  67

3. Plano de Avaliação de Qualidade  79

viii  

 

VI. Conclusões e Perspectivas  80

 

VII. Bibliografia  83

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ix  

Índice de Figuras  

 

Figura 1 ‐ Ciclo de Shewart/Deming  4

 

Figura 2 ‐ Evolução histórica da qualidade em Portugal  5

 

Figura 3 ‐ Variáveis pré‐analíticas em testes de laboratório  22

 

Figura 4 ‐ Erros presentes nas três fases do processo de um teste de laboratório  23

 

Figura 5 ‐ Anatomia de um esquema de controlo externo  27

 

Figura 6 – Fluxograma de PCR‐RFLP  40

 

Figura 7 – Fluxograma de Real‐Time PCR  41

 

Figura 8 – Árvore de decisão de pontos críticos de controlo  50

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

x  

Índice de Tabelas  

 

Tabela  1  ‐  Princípios  de  controlo  de  qualidade  interno  para  métodos  de  genotipagem 

baseados em PCR 

14

 

Tabela 2 ‐ Operações realizadas em técnicas de ácidos nucleicos e potenciais fontes de erro  16

 

Tabela 3 ‐ Falsos positivos ‐ controlo e melhorias  17

 

Tabela 4 ‐ Falsos negativos ‐ causas, prevenção e detecção  19

 

Tabela 5 ‐ Fases do processo de um laboratório médico e possíveis erros  21

 

Tabela 6 ‐ Indicadores de qualidade e especificações (limites de aceitabilidade) da fase  

pré‐analítica 

28

 

Tabela 7 ‐ Indicadores de qualidade e especificações (limites de aceitabilidade) da fase  

analítica 

28

 

Tabela 8 ‐ Indicadores de qualidade e especificações (limites de aceitabilidade) da fase  

pós‐analítica 

29

 

Tabela 9 – Descrição do produto final  39

 

Tabela 10 – Índice de risco para diferentes valores de severidade e probabilidade  42

 

Tabela 11 – Descrição dos perigos, respectivas causas e medidas de controlo de cada  

etapa pré‐analítica 

43

 

Tabela 12 – Descrição dos perigos, respectivas causas e medidas de controlo de cada  

etapa analítica 

47

 

Tabela 13 – Descrição dos perigos, respectivas causas e medidas de controlo de cada  

etapa pós‐analítica 

49

xi  

Tabela 14 – Identificação de pontos críticos de controlo  51

 

Tabela 15 – Monitorização e medidas correctivas de cada ponto crítico de controlo  52

 

Tabela 16 ‐ Cumprimento de critérios pré‐analíticos  68

 

Tabela 17 – Cumprimento de critérios analíticos  69

 

Tabela 18 – Cumprimento de critérios pós‐analíticos  72

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

xii  

Abreviaturas e Símbolos 

 

A260  Absorvância a 260nm 

A280  Absorvância a 280nm 

ACMG  American College of Medical Genetics 

ASAE  Autoridade de Segurança Alimentar e Económica 

ASCO  American Society of Clinical Oncology 

AZF  Factor de Azoospermia 

BRCA  Cancro da Mama Hereditário 

CAC  Codex Alimentarius Commission 

CAP  College of American Pathologists 

CE  Comissão Europeia 

CEE  Comunidade Económica Europeia 

CF  Fibrose Cística 

CLIAC  Clinical Laboratory Improvement Advisory Committee 

CLIA  Clinical Laboratory Improvement Amendments 

CMGS  Clinical Molecular Genetics Society 

CMQ  Ciclo de Melhoria da Qualidade 

CMT  Doença de Charcot‐Marie‐Tooth 

DMD  Distrofia Muscular de Duchenne 

DNA   Ácido Desoxirribonucleico 

DNAse  Desoxirribonuclease 

ε  Coeficiente de Extinção Molar 

xiii  

EDTA  Ácido Etilenodiaminotetracético 

EMQN  European Molecular Genetics Quality Network 

EQA  External Quality Assessment 

EQUAL  Multinational External Quality Assay programmes in Clinical Molecular 

Diagnostics based on Performance and Interpretation of PCR assay methods 

EU‐QCCA  European Union Quality Control Concerted Action 

FA  Anemia de Fanconi 

FAO  Food and Agriculture Organization 

FDA  Food and Drug Administration 

FDCA  Federal Food, Drug and Cosmetic Act 

FMIA  Federal Meat Inspection Act 

GMP  Good Manufacturing Practices (Boas Práticas de Fabrico) 

HACCP  Hazard Analysis Critical Control Point 

HCV  Hepatitis C Virus (Vírus da Hepatite C) 

HD  Doença de Huntington 

IEC  International Electrotechnical Commission 

IPO  Instituto Português de Oncologia 

IR  Índice de Risco 

ISO  International Standard Organization 

NASA  National Aeronautics and Space Administration 

NCCLS  National Committee for Clinical Laboratory Standards 

NIBSC  National Institute for Biological Standards and Control 

OMS  Organização Mundial de Saúde 

xiv  

PCC  Ponto Crítico de Controlo 

PCR  Polymerase Chain Reaction (Reacção de Polimerização em Cadeia) 

PDCA  Plan‐Do‐Check‐Act (Planear‐Fazer‐Verificar‐Agir) 

QA  Quality Assurance (Garantia de Qualidade) 

QMS  Quality Management System (Sistema de Gestão da Qualidade) 

RNA   Ácido Ribonucleico 

RNAse  Ribonuclease 

RFLP  Restriction Fragment Length Polymorphism 

SACGT  Secretaries Advisory Committee on Genetic Testing 

SDS  Dodecil Sulfato de Sódio 

SoGAT  Standardization of Gene Amplification Techniques  

SOP  Standard Operating Procedures 

TAN  Técnicas de Amplificação de Ácidos Nucleicos 

TQM  Total Quality Management (Gestão da Qualidade Total) 

UNG  Uracil‐N‐glicosilase 

UV  Ultravioleta 

 

 

 

 

 

 

 

 

  I. Introdução 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Introdução 

2  

  A Qualidade é um  termo muito actual e de difícil definição. De uma  forma geral, pode‐se 

dizer que qualidade é antecipar os requisitos dos clientes e fornecê‐los com precisão todas as vezes. 

Por outro  lado, a qualidade  total,  termo mais actual, é  vista  como uma melhoria  contínua,  tendo 

como  objectivo  satisfazer  os  requisitos  dos  clientes,  a  um  custo  óptimo,  através  do  empenho  de 

todos  [1]. No entanto, o  termo “qualidade” é utilizado em muitas situações diferentes, variando a 

sua definição. 

  Hoje em dia, a qualidade  tem  sido vista  cada vez mais  como uma estratégia efectiva para 

redução de custos, assegurando a vitalidade de um negócio e surgindo como o elemento chave para 

um aumento de produtividade e confiança,  face às exigências cada vez maiores da população. Um 

pequeno grupo de “Gurus da Qualidade”  tem vindo a defender o caminho da qualidade como um 

processo de melhoria, um ciclo  interminável e  indispensável, um caminho que pode ser percorrido 

através de diferentes meios. Quatro dos mais conhecidos são William Deming,  Joseph  Juran, Philip 

Crosby e William Conway, que defendem diferentes abordagens para um mesmo  fim e diferentes 

definições do termo qualidade [2]. 

  Segundo Deming, boa qualidade não é necessariamente um sinónimo de alta qualidade, mas 

sim  “um  grau  previsível  de  uniformidade  e  de  confiança  ao  mais  baixo  custo  e  adaptado  às 

necessidades do mercado”. É um  forte defensor dos métodos estatísticos e cartas de controlo, de 

modo a que não haja somente uma inspecção da matéria inicial e final, mas sim todo um controlo de 

produção, um acompanhamento do processo total [2]. 

  Juran, por sua vez, menciona qualidade como “adequação ao uso” e “conformidade com as 

especificações”,  interessa‐se pela  gestão  global da qualidade  e defende o  conceito de  círculos de 

qualidade, que melhoram a comunicação entre os órgãos de gestão e os trabalhadores [2]. 

  Crosby definiu qualidade como a conformidade com as exigências dos clientes, só podendo 

ser  avaliada  pelo  custo  da  não  conformidade. A  sua  abordagem  defende  que  o  único  padrão  de 

performance aceitável é o de zero defeitos e que a prevenção é o único sistema a utilizar, querendo 

com isso dizer a “perfeição”, não admitindo a existência de níveis estatísticos aceitáveis de qualidade 

[2]. 

  Por último, Conway não fala de uma definição específica de qualidade, mas engloba‐a numa 

definição mais ampla de “gestão pela qualidade”, como sendo “o desenvolvimento, fabrico, gestão e 

um  fornecimento  consistente  de  produtos  e  serviços  a baixo  custo que os  clientes desejam  e/ou 

necessitam”. Defende a necessidade de criação de um novo sistema de gestão, cuja primeira tarefa 

deve  ser  a melhoria  contínua  em  todas  as  áreas.  É  também  um  grande  defensor  dos métodos 

estatísticos [2]. 

  Muitas  outras  definições  de  qualidade  se  podem  encontrar,  como  sendo  o  “grau  de 

satisfação de requisitos dado por um conjunto de características intrínsecas” [3], ou “the right result 

Introdução 

3  

on the right specimen from the right patient that is accurate, timely and properly interpreted” [4,5], 

uma  definição  que  talvez  se  aproxime  mais  do  campo  de  diagnóstico,  ou  uma  definição  mais 

corrente, em que a palavra qualidade é usada para significar “excelência”.  

  De qualquer modo, seja qual for a definição usada, a qualidade é um conceito horizontal, que 

abrange todas as actividades e todos os sectores. É um factor competitivo que pode diferenciar os 

produtos e as competências e que abrange muitos conceitos, como controlo, garantia e gestão de 

qualidade.  

  O controlo de qualidade é utilizado para garantir que os produtos ou serviços são realizados 

ou produzidos de modo a satisfazer ou exceder os requisitos do consumidor. A garantia de qualidade 

(QA, Quality Assurance) é a parte da gestão da qualidade orientada no sentido de gerar confiança 

quanto  à  satisfação  dos  requisitos  da  qualidade  [3]  e  inclui  todas  as  actividades  desde  o  design, 

desenvolvimento, produção,  instalação, manutenção e documentação. No  fundo, a QA  refere‐se a 

processos  de  produção  planeados  e  sistemáticos  que  providenciam  confiança  na  adequação  do 

produto  aos  seus  requisitos  iniciais.  A QA  não  consegue  garantir  completamente  a  produção  de 

produtos  de  qualidade,  mas  torna‐a  mais  provável.  Pode‐se  dizer  que  enquanto  o  controlo  de 

qualidade enfatiza o teste e o bloqueio da libertação de produtos defeituosos, a QA preocupa‐se com 

a melhoria e estabilização da produção de modo a evitar ou, pelo menos, minimizar questões que 

possam levar a produtos defeituosos. Mas a QA não elimina a necessidade de controlo de qualidade, 

pois  alguns  parâmetros  são  de  tal  maneira  importantes  que  o  seu  teste  é  necessário,  como 

prevenção. Dois documentos internacionais importantes onde a garantia de qualidade é mencionada 

e onde se especificam requisitos e meios para a conseguir são a ISO 17025 e a ISO 9000. 

  A gestão da qualidade é o conjunto de actividades coordenadas para dirigir e controlar uma 

organização  no  que  respeita  à  qualidade  [3].  Resumidamente,  assegura  que  todas  as  actividades 

necessárias para desenhar, desenvolver e implementar um produto ou serviço são eficientes, no que 

respeita à sua performance. A gestão de qualidade pode ter três componentes: controlo, garantia e 

melhoria de qualidade, focando‐se não só na qualidade do produto mas também nos meios para a 

alcançar.  Existem muitos métodos  para  gerir  e melhorar  a  qualidade, melhorando  o  produto,  o 

processo  e  a  formação  das  pessoas. Uma  das  estratégias mais  usadas  é  o  Ciclo  de Melhoria  da 

Qualidade  (CMQ),  uma  abordagem  sistemática  e  disciplinada  para  identificar  oportunidades  de 

melhoria  da  qualidade  e  implementar  soluções  duradouras  [1].  A  implementação  baseia‐se  num 

processo em quatro passos, muito utilizado na melhoria de empresas e negócios: Plan‐Do‐Check‐Act 

(PDCA)  ou  Planear,  Fazer,  Verificar  e  Agir, muitas  vezes  conhecido  como  ciclo  de  Deming  ou  de 

Shewhart. As diferentes fases deste processo estão esquematizadas na figura seguinte: 

 

Introdução 

4  

 

Figura 1 ‐ Ciclo de Shewhart/Deming (adaptado de [1]). 

 

  O CMQ ajuda a resolver problemas e a  identificar/implementar soluções. Quando  todos os 

gestores utilizam o mesmo processo, o trabalho em grupo pode ser melhorado de forma significativa 

[1]. Resumidamente, ao planear, estabelecem‐se os objectivos e processos necessários para atingir 

os  resultados esperados, ou seja, para o output ser o esperado; ao  fazer,  implementa‐se um novo 

processo,  uma  nova  solução;  ao  avaliar,  controla‐se  o  novo  processo,  comparando  os  resultados 

obtidos com os esperados, avaliando os desvios e estudando as razões; por último, agir consiste em 

determinar  as  causas  dos  desvios,  implementar  o  processo  e  estudar  ou  reflectir  sobre  o 

desenvolvimento.  

  Outra estratégia designa‐se por gestão da qualidade total (TQM, Total Quality Management). 

Este método é uma estratégia de gestão que visa incorporar a consciência de qualidade em todos os 

processos  organizacionais.  Há  uma  focalização  nos  clientes,  a  participação  de  todos  os  sectores, 

inclusive  clientes  e  fornecedores,  de  modo  a  que  se  possa  avaliar  o  desempenho  de  todos  os 

processos e assim conseguir uma melhoria contínua [5]. A TQM é vista como uma gestão de futuro 

em Portugal, como se pode ver na esquematização da evolução histórica da qualidade em Portugal: 

 

Introdução 

5  

 

Figura 2 ‐ Evolução histórica da qualidade em Portugal (adaptado de [6]). 

 

  Muitas outras estratégias são conhecidas e utilizadas, como os círculos de qualidade, em que 

existe uma abordagem de grupo para a melhoria, ou as normas da qualidade, mundialmente aceites. 

A  International Organization  for  Standardization  (ISO)  criou  as  normas  de  Sistema  de  Gestão  da 

Qualidade  (QMS, Quality Management System), a série  ISO 9000  (9001, 9002 e 9003), aplicáveis a 

diferentes indústrias e que são revistas regularmente. As normas ISO 9000 são um ponto de partida 

que não definem técnicas de gestão da qualidade, mas definem critérios uniformes pelos quais pode 

ser avaliado um sistema de qualidade e, por consequência, melhorado. A revisão do ano 2000 (série 

ISO 9000:2000), por necessidade de alargar o seu âmbito a outros processos,  levou à  integração da 

ISO 9002 e 9003 numa única norma, a ISO 9001:2000. Sendo assim, a ISO 9000:2000 passa a referir‐  

‐se aos fundamentos e vocabulário de sistemas de gestão da qualidade e a ISO 9001:2000 aos seus 

requisitos,  exigências  e  processos  necessários  para  que  o  produto  alcance  as  expectativas  de 

qualidade. Nesta série 9000:2000, formulou‐se também a ISO 9004:2000, que descreve as guidelines 

para uma melhoria da qualidade acima do padrão básico da  ISO 9001:2000, ou  seja, as  linhas de 

orientação para a melhoria do desempenho de um sistema de gestão da qualidade. A nova estrutura 

das  ISO  9000:2000  baseia‐se  no  PDCA  já mencionado,  na  existência  de  um  ciclo  de  qualidade, 

aproximando‐se  muito  da  TQM,  numa  abordagem  por  processos  na  gestão  da  qualidade  [7]. 

Recentemente a  ISO publicou uma nova edição das normas  ISO 9001, a  ISO 9001:2008. Nesta nova 

revisão  não  foram  introduzidos  novos  requisitos,  apenas  algumas  alterações  e  principalmente 

clarificações do texto da norma, resultando numa transição fácil para aqueles que já têm um sistema 

de gestão de qualidade correctamente implementado e de acordo com a ISO 9001:2000. 

  Estas  normas  do QMS  permitem  a  certificação  dos  processos  e  da  organização  e  não  do 

produto ou serviço, não certificando a sua qualidade. Recentemente a ISO lançou a ISO 22000:2005, 

para a indústria alimentar, que cobre os princípios da ISO 9000 e do Hazard Analysis Critical Control 

Introdução 

6  

Point  (HACCP),  originando  uma  única  norma  integrada  para  esta  indústria.  Além  disso,  existem 

algumas normas que suportam a gestão da qualidade, descrevendo processos, como a ISO 12207 e 

ISO 15288, e outras que tratam da avaliação e melhoria, como a ISO 15504. 

  Face  à  cada  vez  maior  preocupação  com  a  qualidade  e  a  vasta  oferta  de  programas  e 

soluções,  cada  empresa  ou  local  deve  adequar  o  seu  sistema  de  qualidade  às  suas  próprias 

possibilidades e necessidades, passando muitas vezes pelo próprio design do modelo de qualidade a 

utilizar, que pode integrar diferentes partes das várias estratégias faladas. 

  O objectivo deste trabalho, a proposta de um modelo de controlo de qualidade interno com 

base  no  HACCP,  passa  por  isso mesmo.  Pretende‐se  iniciar  um  processo,  tendo  como  base  um 

sistema de gestão de qualidade, o HACCP, aproveitando‐se certas características de outros métodos, 

como o PDCA,  cujos objectivos  e  fundamentos nunca devem  ser  esquecidos,  assim  como  as  suas 

ferramentas,  como  a  esquematização,  ou  a  preocupação  da  gestão  por  processos,  retirada  do 

método TQM. Com o HACCP, o planeamento tem de ser muito bem feito, avalia‐se todo o processo, 

todas as possíveis  fontes e causas de erro, as  suas medidas preventivas e correctivas e  respectiva 

avaliação.  A  implementação  futura  de  controlo,  garantia  e  gestão  de  qualidade  deve  ser  feita 

segundo esta abordagem, assim como melhorias após implementação. No fundo, trata‐se de evoluir 

o  laboratório  na  qualidade  da  mesma  forma  que  o  próprio  conceito  foi  evoluindo,  como  está 

representado  na  Figura  2,  permitindo  assim  um  maior  grau  de  confiança,  credibilidade  e 

reconhecimento. 

 

 

 

 

 

 

  

  II. Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

8  

1. Considerações Gerais 

 

  O percurso dos laboratórios de diagnóstico de doenças humanas tem sido permanentemente 

alterado pelo rápido aparecimento e desenvolvimento da tecnologia molecular e pela sequenciação 

do  genoma humano  [8].  Poucas décadas passaram desde que  Kan  e Dozy  reportaram o primeiro 

teste  de  DNA  com  uma  enzima  de  restrição  para  testar  anemia  falsiforme  [9],  assinalando  o 

nascimento da clínica genética e molecular moderna. O que começou como um pequeno conjunto de 

laboratórios  académicos,  que  realizavam  ensaios  genéticos  para  doenças  raras  e  muitas  vezes 

debilitantes,  tornou‐se  essencial  hoje  em  dia,  levando  a  que  as  técnicas  genéticas  e moleculares 

entrassem  em  muitas  áreas  de  diagnóstico  e  clínica.  O  mundo  da  biologia  molecular  está  em 

constante  mudança  e  desenvolvimento,  em  que  cada  novo  e  pequeno  passo  representa  uma 

expansão  do  impacto  e  da  utilidade  que  esta  tecnologia  pode  ter  na  clínica,  nos  pacientes  e 

familiares.  

Os  testes  genéticos  desenvolveram‐se  a  meio  da  década  de  80,  em  laboratórios  que 

tentavam  identificar genes relacionados com determinadas doenças. Nos últimos 15 anos, os testes 

genéticos passaram do “nada” para se tornarem parte principal de um laboratório de medicina [10]. 

Os  ensaios  genéticos  de  DNA  ou  RNA,  para  diagnóstico  de  doenças  infecciosas,  neoplásicas  ou 

genéticas,  têm  sido  amplamente  utilizados  devido  ao  recente  e  enorme  progresso  da  biologia 

molecular  e  da biotecnologia  e  são  essenciais para o  tratamento  e qualidade de  vida do doente, 

providenciando um diagnóstico precoce e mais preciso [11]. 

Os dados sobre o número de testes genéticos que são realizados são escassos, mas sabe‐se 

que  só  no  Reino Unido  são  feitos mais  de  50.000  testes  por  ano,  o  que  indica  que  talvez  sejam 

milhões em todo o mundo. A tendência é para que estes números aumentem, principalmente com o 

conhecimento  da  sequência  genómica  humana.  Para  além  da  sua  utilização  como  método  de 

diagnóstico ou de reconhecimento de uma mutação, os testes genéticos estão a expandir este papel 

mais  tradicional  para  a  previsão,  prevenção  e  tratamento  de  doenças  crónicas,  ou  seja,  para 

determinar  a  susceptibilidade  a  determinadas  patologias,  como  a  diabetes,  doenças  cardíacas, 

cancro [12,13], infecções, e também para uma aplicação farmacogenómica [14], de modo a prever a 

resposta a um fármaco [8,10]. Esta expansão só foi possível através do conhecimento que o indivíduo 

pode ser mais ou menos susceptível a uma doença, dependendo da sua base genética. A combinação 

das  variações  genéticas  e  da  exposição  ambiental  influencia  a  probabilidade  de  um  indivíduo 

desenvolver determinada patologia [8], e é isso que cada vez mais se tenta determinar.  

Com  a  necessidade  de  usar  estas  poderosas  novas  tecnologias  no mundo médico,  pouca 

atenção  se  tem  prestado  aos  critérios  de  qualidade.  O  grande  desenvolvimento  dos  ensaios 

genéticos tornou mais visível a necessidade de regulamentação e padronização e nos últimos anos 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

9  

começaram  a  surgir  esforços  para  implementar  e  testar  a  qualidade  dos  resultados  dos  ensaios 

genéticos.  Esta  necessidade  de  certificação  e  qualidade  é  realçada  pela  alta  expectativa  que  está 

aliada  a esta  tecnologia,  compreensivelmente,  sendo necessário manter um determinado  grau de 

confiança nestas técnicas. Agências regulamentares como a Food and Drug Administration  (FDA), a 

Secretaries  Advisory  Committee  on  Genetic  Testing  (SACGT)  e  a  Clinical  Laboratory  Improvement 

Advisory Committee  (CLIAC) discutem este assunto e principalmente as duas últimas agências  têm 

deliberado  sobre  como  os  testes  genéticos  devem  ser  ordenados,  realizados,  comunicados  e 

supervisionados nos Estados Unidos.  

Os  ensaios  genéticos  são  diferentes  dos  outros  testes  laboratoriais  de  diagnóstico  em 

diversos aspectos, acentuando a necessidade de assegurar a qualidade dos resultados: 

 

A. A  “composição”  genética  de  um  indivíduo  não  se  altera  com  o  tempo,  os  pacientes 

normalmente  são  testados uma  só  vez e um  resultado  incorrecto pode  ficar para  sempre 

como certo [8,10]; 

B. Os resultados de um teste genético podem resultar em consequências para outros membros 

da família [10]; 

C. As  pessoas  em  geral  têm  um  alto  grau  de  confiança  nos  resultados  genéticos  e  poucos 

questionam a sua validade [10]; 

D. No que se refere à avaliação de susceptibilidade, o teste é muitas vezes realizado em pessoas 

assintomáticas  e  os  resultados  podem  ou  não  ser  suportados  por  outros  dados,  como  a 

história familiar [8]. 

 

Sendo  assim,  tudo  o  que  se  referiu  contribui  para  a  necessidade  de  estabelecimento  de 

medidas  de  controlo  de  qualidade.  Já  foram mencionadas  algumas  definições  de  qualidade,  seu 

controlo e garantia, mas dentro do universo dos  laboratórios de  técnicas genéticas, o controlo de 

qualidade  pode  ser  definido  como  o  controlo  de  um  processo  para  garantir  que  os  resultados 

tenham  a  qualidade  exigida  [15,16].  A  aplicação  do  controlo  de  qualidade  nos  laboratórios  foi 

introduzida por Levey e Jennings em 1950, como uma ferramenta para melhorar o desempenho de 

um  laboratório  [16,17].  Desde  aí,  os  fundamentos  práticos  não  sofreram  grandes  alterações, 

podendo‐se  enumerar  algumas modificações  na  frequência  de  análise  de  amostras  controlo,  no 

número de controlos e nas regras de aceitação ou rejeição de um teste, baseando‐se nos resultados 

dos controlos [16]. 

Face à importância que o conceito de controlo de qualidade tem hoje em dia, a garantia que 

é necessário dar e comprovar ao público‐alvo, os  laboratórios procuram  implementar esquemas de 

qualidade e todas as medidas recomendadas, que podem ser indiscutivelmente importantes, como a 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

10  

inclusão de um controlo positivo e negativo em cada ensaio, ou de importância dúbia, como o registo 

diário  da  temperatura  do  frigorífico  [18].  Independentemente  dessa  importância,  um modelo  de 

controlo de qualidade é  concebido  com  todas essas  ferramentas, para que  se  consiga o  resultado 

considerado  como  “certo”. Pode‐se definir um  resultado  “certo” pela negativa, ou  seja, não é um 

falso positivo ou um falso negativo. Um resultado “certo” deve ser sim reprodutível,  independente 

do genótipo, principalmente na quantificação, relevante clinicamente e reembolsável  [18]. É  tendo 

em conta todos os conceitos e a importância relativa de cada um que se vai construindo um modelo 

de controlo de qualidade, passo por passo. 

Um programa de  controlo de qualidade  genérico de diagnóstico deve  ser  constituído por, 

pelo menos, três componentes essenciais: controlos, procedimentos e regras. Os controlos contêm 

um analito em concentração conhecida, usados para se conseguir precisão e  reprodutibilidade. Os 

procedimentos referem‐se essencialmente ao número de vezes que os controlos devem ser testados 

e onde  são  colocados. As  regras definem  como os  resultados dos  controlos  vão  ser  interpretados 

para aceitar, solucionar ou rejeitar um ensaio. Na grande maioria das vezes aplicam‐se aqui as regras 

de Westgard. No  entanto,  se os  controlos  forem  fornecidos  como parte de um  kit, normalmente 

também são fornecidas sugestões ou requerimentos para o uso dos controlos [19]. Estes três pontos 

essenciais cobrem principalmente a fase analítica do processo, mas não o processo total, que se foi 

descobrindo ser essencial num programa de controlo e garantia de qualidade.  

Actualmente, a  implementação de esquemas de controlo de qualidade e a padronização de 

protocolos nos  laboratórios  são  cada  vez mais necessários, englobando  a preparação da amostra, 

laboratório, equipamento, amostras de  referência, acreditação do  laboratório,  treino do pessoal e 

validação  de  protocolos.  Além  disso,  os  estudos  de  controlo  de  qualidade  externo  e  estudos 

interlaboratoriais  são  essenciais  [10,20].  É  com  o  desenvolvimento  de  métodos  de  controlo  de 

qualidade para os testes genéticos humanos que vai continuar o crescimento destas técnicas e a sua 

integração na prática clínica [8]. 

Já  se  têm  desenvolvido  determinadas  guidelines  e  surgem  cada  vez  mais  propostas  e 

recomendações, como é o caso das desenvolvidas pelo National Committee  for Clinical Laboratory 

Standards  (NCCLS), agora conhecido por Clinical and Laboratory Standards  Institute, pelo American 

College of Medical Genetics  (ACMG), pelo Clinical  Laboratory  Improvement Amendments  (CLIA) ou 

pelo College of American Pathologists (CAP), em que alguns surgiram como resposta às deliberações 

do  SACGT  e  estabeleceram  relações  de  trabalho  com  a  FDA  através  de  discussões  com  a  FDA‐                    

‐Professional  Organization  Roundtable,  com  o  objectivo  de  desenvolver  um  plano  prático  de 

supervisionamento [8,21‐25]. 

O  CLIA  define muitos  dos  sistemas  básicos  de  qualidade  que  um  laboratório  requer mas 

faltam‐lhe guidelines específicas para ensaios genéticos e moleculares. No entanto há pelo menos 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

11  

três guidelines com este objectivo que podem ser aplicadas a muitas áreas dos testes moleculares, 

independentemente  do  campo  de  estudo  [26]. O  ACMG  contém  guidelines  que  remetem  para  a 

citogenética,  genética  bioquímica  e  genética molecular.  Para  além  disso,  desenvolveu  guidelines 

específicas  para  determinadas  doenças,  que  remetem  para  problemas  específicos  que  aparecem 

frequentemente em ensaios mais complexos. Todas estas guidelines conseguem cobrir as regras de 

boas práticas num laboratório, validação de ensaios e assuntos técnicos específicos para métodos ou 

doenças [26]. O CAP é a organização por excelência para acreditação dos laboratórios [26]. 

Uma  outra  organização,  a  Clinical  and  Laboratory  Standards  Institute  utiliza  peritos  em 

determinados  campos para desenvolver guidelines para diagnósticos moleculares,  incluindo  testes 

de  genética  molecular,  hematopatologia  molecular,  sequenciação  de  DNA,  diagnóstico  por 

microarray e testes de proficiência [26]. 

Falando mais especificamente da área de oncologia, destaca‐se uma organização, a American 

Society of Clinical Oncology (ASCO), que representa os especialistas da área envolvidos nos cuidados 

dos  pacientes  e  pesquisa  clínica.  Esta  organização  reconheceu  a  necessidade  de  recomendações 

específicas  para  esta  área,  principalmente  na  pesquisa  de  predisposição  genética  para  cancro  e 

medicina  preventiva.  Os  testes  genéticos  envolvidos  têm  de  sofrer  um  controlo  apertado,  para 

garantir resultados de qualidade elevada. Segundo eles, existem elementos críticos que têm de ser 

controlados,  tem  de  existir  supervisão  dos  reagentes,  ensaios,  pessoal  que  realiza  os  ensaios, 

controlo de qualidade e um formato padrão de comunicação dos resultados. Além disso, defendem a 

participação dos laboratórios em programas de controlo externo e de acreditação, como os do CAP e 

ACMG [27]. 

Em  todas as organizações  se assume que os programas de  controlo  interno e externo  são 

estabelecidos para garantir que os  laboratórios  consigam produzir e  reproduzir  resultados de alta 

qualidade. Os testes de proficiência ou controlo externo identificam fraquezas e funcionam como um 

guia  para  o  desenvolvimento  [24].  No  entanto,  um  programa  de  QA  engloba mais  do  que  um 

controlo  interno  e  externo.  Os  programas  podem  variar  entre  laboratórios  mas  em  geral 

compreendem um manual de  garantia de qualidade, os objectivos do programa,  a qualidade dos 

recursos,  os  procedimentos  padronizados  (SOP,  Standard  Operating  Procedures),  controlo  de 

qualidade  interno e externo  [28]. É o conjunto de  todas estas acções e de  todos os dados que vai 

conseguir  minimizar  os  erros  e  garantir  uma  maior  confiança  nos  resultados  dos  testes  do 

laboratório.  

Apesar do  imenso crescimento que a área tem sofrido e do estabelecimento de todas estas 

organizações,  ainda  existem muitos  problemas  no  controlo  e  garantia  de  qualidade  das  técnicas 

genéticas. Entre os factores que mais  impedem o desenvolvimento de programas que assegurem e 

avaliem a qualidade, foi eleito como um dos mais preponderantes, no controlo interno e externo, a 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

12  

falta de amostras positivas ou amostras com mutações bem definidas associadas com doenças de 

saúde pública. Além disso, a  falta de métodos padronizados e os diferentes métodos analíticos de 

cada  laboratório  também  complicam  a  criação  de  um modelo  de  controlo  de  qualidade  global, 

principalmente de controlo externo [8]. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

13  

2. Controlo de Qualidade Interno de Técnicas de Amplificação de Ácidos Nucleicos ‐ PCR 

 

O  controlo  de  qualidade  tem  um  papel  cada  vez mais  importante  na  implementação  das 

técnicas de amplificação de ácidos nucleicos (TAN) no diagnóstico. Nos últimos 10 anos estas técnicas 

revolucionaram  a  medicina,  mas  para  serem  aceites  têm  de  demonstrar  continuamente  a  sua 

precisão, fiabilidade e relevância clínica para o paciente. Sendo assim, os responsáveis do laboratório 

e  os  fabricantes  de  reagentes  e  kits  de  diagnóstico  têm  de  estabelecer  e  implementar  sistemas 

efectivos  de  controlo  de  qualidade  [18].  Nos  primeiros  anos  de  utilização  destas  técnicas  a 

percentagem de resultados errados era muito superior, demonstrando a  importância e a diferença 

que  a  automatização  e  o  controlo  de  qualidade  podem  fazer  [18].  Um  controlo  de  qualidade 

optimizado vai permitir a redução de erros e da comunicação de resultados errados, a comunicação 

de  bons  resultados  de modo mais  rápido  e  seguro  e  a  poupança  de  dinheiro  pela  prevenção  do 

aparecimento de erros e por se implementar apenas o controlo necessário e não o excedente [19]. A 

avaliação  da  qualidade  pode  ser  interna  ou  externa  e,  recentemente,  foram  introduzidos  alguns 

programas  de  avaliação  externa  para  as  técnicas  genéticas,  mas  uma  menor  atenção  tem  sido 

prestada à avaliação interna [29]. 

Uma  definição  de  controlo  interno  foi  estabelecida  pela  Organização Mundial  de  Saúde 

(OMS), através do departamento de External Assessment of Health Laboratories, como sendo “um 

conjunto de procedimentos realizados pelos colaboradores do  laboratório para avaliar o trabalho e 

os  seus  resultados,  de  modo  a  decidir  se  são  suficientemente  fiáveis  ou  não  para  serem 

comunicados”  [30].  Assim,  os  procedimentos  que  se  vão  executar  têm  um  efeito  imediato  na 

actividade do laboratório, com o dever de controlar e não apenas de examinar os resultados [30]. 

 Alguns autores,  tendo em conta a necessidade deste género de controlo,  já começaram a 

investir um pouco mais nesta área. Um exemplo é o grupo de trabalho de Bladbjerg et al. (2002), que 

apresentou um exemplo de esquema de controlo de qualidade interno para análise de polimorfismos 

através da reacção de polimerização em cadeia (PCR, Polymerase Chain Reaction), que pode ser visto 

na Tabela 1. 

 

 

 

 

 

 

 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

14  

Tabela 1  ‐ Princípios de controlo de qualidade  interno para métodos de genotipagem baseados em PCR  (adaptado de [29]). 

Fase  Processo Passos para assegurar qualidade

Variação pré‐analítica  Manuseamento da amostra ‐ Quantificação do DNA 

  Isolamento do DNA ‐ Cálculo do ratio DNA/proteína

    ‐ Teste de DNAses 

    ‐ Diluição das amostras para 

concentração de DNA semelhante 

    ‐ Utilização de tubos e pontas livres de 

DNAse/RNAse 

Variação analítica  Amplificação do DNA (PCR) ‐ Inclusão de amostras com genótipo 

conhecido 

  Digestão com enzima de 

restrição 

‐ Inclusão de branco de reagentes

  Separação de fragmentos por 

electroforese 

‐ Inclusão de marcador de pares de 

bases 

Confirmação de resultados    ‐ Em populações: reanálise de 5‐10%

    ‐ Em pacientes: reanálise de portadores 

do alelo da doença e de 5‐10% de não 

portadores 

    ‐ Reanálise com método diferente, se 

possível 

    ‐ Associação com outra variação

    ‐ Se discordam mais de 5% dos 

resultados, reanalisar toda a série 

Variação pós‐analítica  Leitura dos resultados ‐ Duas leituras independentes 

  Entrada na base de dados ‐ Dupla entrada na base de dados

 

 

A maior  parte  das  técnicas moleculares,  senão  todas,  usa  a  técnica  de  PCR.  A  obtenção 

rápida  de  resultados,  o  bom  limite  de  detecção,  selectividade,  especificidade,  sensibilidade  e 

potencial  para  automatização  compõem  as  suas  principais  vantagens  [31]  e  fazem  com  que  esta 

técnica  seja  utilizada  em  laboratórios de  todo o Mundo,  com diversas  finalidades. Cada  vez mais 

protocolos  específicos  e  automatizados  para  determinado  diagnóstico  estão  a  ser  criados.  São 

exemplos os protocolos para o RNA do  vírus de hepatite C  (HCV, Hepatitis C Virus)  [11] e para  a 

infecção meningocócica [20]. A importância desta técnica para o diagnóstico da infecção viral ou da 

infecção  bacteriana  é  muito  grande,  principalmente  quando  se  trata  do  rastreio  de  doenças 

potencialmente  transmissíveis por  transfusão. Na década de 90 essa  importância  foi descoberta e 

assim, em 1995, no Reino Unido, o Standardization of Gene Amplification Techniques  (SoGAT),  foi 

estabelecido no National Institute for Biological Standards and Control (NIBSC). O SoGAT é um grupo 

de discussão, o único fórum internacional para troca de informação de aspectos científicos da técnica 

de  PCR,  com  o  intuito  de  promover  a  padronização  de  reagentes,  da  amplificação  e  validação, 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

15  

ajudando na definição de protocolos como o do HCV [32]. Face a isto, é notória a importância do PCR 

e,  por  isso mesmo,  os  seus  aspectos  técnicos  e  principais  cuidados  devem  constituir  a  primeira 

camada de um projecto completo de QA [20]. 

No entanto, apesar das grandes vantagens da PCR  relativamente a outros métodos, alguns 

problemas têm sido discutidos. A novidade tecnológica, o  investimento económico e a falta de SOP 

têm sido as desvantagens mais apontadas [31]. A falta de padronização é sem dúvida o problema que 

mais preocupa os laboratórios e tal deve‐se à complexidade dos métodos moleculares. As técnicas de 

amplificação  são  baseadas  em  reacções  enzimáticas  cíclicas  muito  sensíveis  a  qualquer 

contaminação, gerando  facilmente  falsos positivos. A  técnica de PCR é particularmente sensível às 

inúmeras  variáveis, previsíveis ou não, que podem  influenciar negativamente  a  amplificação  [33]. 

Além disso, tal como todos os testes de biologia molecular, é tecnologicamente mais exigente e exige 

maior experiência do que a maioria dos testes convencionais  [34]. Na Tabela 2 estão resumidas as 

principais operações efectuadas numa amplificação e alguns dos potenciais problemas que podem 

aparecer.  

A  maior  parte  destes  aspectos  negativos  refere‐se  a  protocolos  de  amplificação 

inapropriados,  má  preparação  ou  quantificação  dos  ácidos  nucleicos  alvo,  baixa  recuperação, 

presença  de  inibidores,  uso  de  reagentes  ou  termocicladores  ineficientes  e má  interpretação  dos 

resultados [33]. A importância destes pontos é visível em certos estudos como o de Grundmann et al. 

(1997),  que  concluíram  que  utilizando  reagentes  padrão,  de  qualidade  controlada,  protocolos  de 

extracção de DNA e condições de amplificação padronizadas, é possível ultrapassar os problemas de 

reprodutibilidade em diferentes laboratórios [35]. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

16  

Tabela 2 ‐ Operações realizadas em técnicas de ácidos nucleicos e potenciais fontes de erro (adaptado de [19]). 

Extracção/Isolamento do ácido nucleico

RNA ou DNA degradado

Introdução de inibidores ou contaminantes

Extracção incompleta, erro de amostragem

Ligação do analito a um anticorpo ou coluna

Transformação (ex: RNA a cDNA)

Erros de transcrição

Falha da enzima

Amplificação 

Insensibilidade

Não especificidade

Inibição

Contaminação

Degradação enzimática

Detecção 

Inespecificidade

Falha da enzima

Falha de calibração

 

 

Uma técnica de amplificação por si só apresenta, então,  inúmeras variáveis que necessitam 

de  ser controladas. As principais preocupações  concentram‐se normalmente nos  falsos positivos e 

nos falsos negativos. Os falsos positivos são conhecidos desde os anos 90, constituindo uma das mais 

graves  preocupações,  e  devem‐se  principalmente  à  contaminação  por  produtos  que  foram 

anteriormente  amplificados  [18,36,37].  Embora  seja  um  problema  que  possa  estar  presente  em 

diversos  ensaios,  neste  caso  assume  um  carácter  especial,  devido  à  extrema  sensibilidade  destas 

técnicas que, teoricamente, são capazes de detectar um único microorganismo, por exemplo, numa 

amostra de um paciente. As primeiras recomendações para redução do risco de contaminação foram 

descritas por Kwok e Higuchi (1989), que defenderam a importância de um protocolo bem delineado 

como  instrumento  para  evitar  um  mau  desfecho  da  experiência  [38].  Hoje  em  dia,  essas 

recomendações continuam actuais,  foram  incorporadas em programas de controlo de qualidade e 

melhoradas  com a  introdução de novas medidas,  como os  sistemas de  controlo de  contaminação 

enzimáticos ou sistemas automatizados [18], como se pode ver na Tabela 3. 

 

 

 

 

 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

17  

Tabela 3 ‐ Falsos positivos ‐ controlo e melhorias (adaptado de [18]). 

Controlo de contaminação (Kwok e Higuchi, 1989)

Separação física de pré e pós‐PCR

Material próprio de cada área  (micropipetas, pontas, centrífugas,  tubos,  luvas, 

batas, canetas, pessoal) 

Reagentes em alíquotas

Manuseamento semi‐estéril

Controlos positivos (pequeno número, baixa concentração)

Controlos negativos (em maior número)

Melhorias recentes 

Pontas resistentes a aerossóis

Semi‐automatização

Uracil‐N‐glicosilase

Sistema fechado (Real‐Time PCR)

Automatização completa (processamento da amostra + amplificação + detecção)

 

 

Para ultrapassar os falsos positivos e garantir a  integridade de um resultado positivo, foram 

formuladas algumas regras (A‐F): 

 

A. Um  teste  de  PCR  deve  ser  realizado,  pelo  menos,  em  três  áreas  diferentes:  uma  de 

preparação dos reagentes, uma de preparação da amostra e uma terceira de amplificação e 

consequente detecção [34,39]. Embora os cuidados básicos e essenciais dos pontos B‐F não 

variem  de  autor  para  autor,  existem  diferentes  opiniões  quanto  à  divisão  de  espaço.  Por 

exemplo, a Farmacopeia Europeia estabelece guidelines para a técnica de PCR, aconselhando 

a  sub‐divisão em quatro áreas: área de master‐mix, pré‐PCR, amplificação e detecção pós‐     

‐PCR  [40];  Neumaier  et  al.  (1998)  concordam  também  com  esta  divisão  em  quatro 

compartimentos ou espaços: preparação e armazenamento de reagentes ‐ onde se recebem, 

se  dividem  em  alíquotas  e  se  preparam  reagentes  e master‐mix,  preparação  da  amostra, 

amplificação e, por último, análise dos produtos de PCR [41], espaços que vão de encontro 

aos designados pela Farmacopeia Europeia; 

 

B. Estes  espaços  não  devem  ser  adjacentes, mas  sim  em  diferentes  pisos  ou  edifícios  e  o 

sentido de trabalho deve ser unidireccional [34,39‐42]; 

 

C. A organização do  laboratório  é  essencial para  evitar  a  contaminação. Cada  zona deve  ter 

batas,  luvas  e material próprio, não havendo  trocas  entre  áreas. Os  reagentes devem  ser 

armazenados  em  alíquotas,  ou  seja,  guardados  em  pequenos  volumes  para  diminuir  a 

contaminação, e as bancadas devem ser descontaminadas através da utilização de radiação 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

18  

ultravioleta  (UV)  ou  de  químicos  como  o  hipoclorito  de  sódio.  A  técnica  de  pipetagem  é 

também  muito  importante,  devendo‐se  evitar  a  formação  de  aerossóis,  o  que  se  pode 

conseguir  utilizando  condições  de  pressão  positiva no  espaço  dedicado  ao  pré‐PCR  ou  de 

pressão reduzida no espaço dedicado à amplificação [34,39‐42];  

 

D. Cuidado  extra  com  o material  possível  de  contaminar  o  sistema,  principalmente  com  as 

pontas  utilizadas,  utilizando‐se  pipetas  com  filtro  [34].  É  necessário  também  ter  alguns 

cuidados  com  o  equipamento,  como  as  verificações  e  calibrações  das  câmaras, 

termocicladores e micropipetas; 

 

E. Utilização de controlos, em que neste caso é extremamente importante o controlo negativo. 

Se este controlo apresentar um resultado positivo, o ensaio deve ser repetido; se o resultado 

positivo se mantiver, é um  indicador de uma contaminação geral do  laboratório e todos os 

reagentes  devem  ser  novamente  preparados  e  todo  o material,  assim  como  os  espaços, 

devem ser devidamente limpo [34]. As amostras devem ser analisadas em duplicado [41]; 

 

F. Para  detectar  uma  possível  contaminação  do  ambiente  do  laboratório,  um  controlo 

ambiental,  ou  seja  um  tubo  que  contém  a  master‐mix  e  foi  deixado  aberto  no  espaço 

dedicado ao PCR, deve ser analisado, em intervalos regulares [42].  

 

  Ao analisar estas  regras pode parecer que esta  técnica não é de  fácil  implementação num 

laboratório. No  entanto,  é  uma  das mais  utilizadas  hoje  em  dia,  por  isso muitas  das  dificuldades 

foram ultrapassadas. Um dos métodos que ajudou foi um método de controlo bioquímico designado 

uracil‐N‐glicosilase  (UNG),  um  controlo  anti‐contaminação.  A  ideia  básica  é  marcar  os  produtos 

amplificados produzidos durante a PCR para que sejam discriminados do alvo natural de DNA, o que 

vai ser crucial para reconhecer a contaminação com produtos amplificados de um PCR anterior. Este 

método pode permitir que toda a reacção se passe num só espaço, dividido nas três zonas já faladas, 

desde que todas as outras precauções se mantenham [34,36,39,41,42]; pode também ser combinado 

com  uma  amplificação  hot‐start  para  reduzir  a  ligação  não  específica  dos  primers  [42].  Uma 

alternativa  pós‐PCR  é  a  geração  fotoquímica  de  aductos  de  DNA  através  de  compostos  de 

isopsoraleno,  na  presença  de  luz  UV  de  longo  comprimento  de  onda.  Este  método  previne  a 

contaminação, pois os aductos de DNA são refractários à amplificação mas não  interferem com os 

procedimentos de hibridização pós‐PCR [41]. No entanto, é necessário não esquecer que o ideal deve 

ser a prevenção da contaminação e não a utilização de métodos de remoção de contaminação. Estes 

devem ser utilizados com precaução, para não criarem a sensação de falsa segurança [41]. 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

19  

  Um outro problema  grave, que  se  tem  verificado  na  amplificação,  tem  sido o número de 

resultados  falsos  negativos,  como  já  foi  referido.  As  principais  causas, medidas  de  precaução  e 

detecção estão resumidas na Tabela 4. 

 

Tabela 4 ‐ Falsos negativos ‐ causas, prevenção e detecção (adaptado de [18]). 

Causas 

Variações na sequência dos primers

Perda do ácido nucleico da amostra

Digestão do ácido nucleico da amostra (DNAses, RNAses) 

Inibição da Taq polimerase

Prevenção 

Evitar heparina, hemoglobina, etanol, fenol, SDS

Uso de técnicas de extracção apropriadas

Detecção 

Controlos positivos

Controlo interno

 

 

Os resultados falsos negativos podem então gerar‐se devido a imensas possibilidades, como 

os erros técnicos, baixa concentração da amostra, erro humano ou presença de inibidores [34]. Dois 

controlos são essenciais para eliminar/detectar falsos negativos: 

 

A. O uso de um controlo positivo vai ajudar a resolver principalmente os problemas técnicos e 

no caso de dar negativo, todo o ensaio é considerado inválido e deve ser repetido com novos 

reagentes e instrumentos calibrados [34]; 

 

B. O  uso  de  um  controlo  interno,  que  se  destina  a  identificar  a  presença  de  inibidores, 

monitorizando a amplificação em cada  teste PCR. Um controlo  interno é um  fragmento de 

DNA adicionado a uma amplificação e que origina sempre um  resultado positivo. Para  isso 

tem  de  ser  o mais  semelhante  possível  ao  DNA  alvo mas  com  uma  característica  que  o 

distinga deste. Caso haja  inibição o  ensaio deve  ser  repetido;  se não  resultar opta‐se por 

diluir a amostra (1:5‐1:20), de modo a diluir o inibidor a uma concentração que não afecte a 

amplificação. O único cuidado é não diluir o DNA alvo demasiado, para que não deixe de ser 

amplificado. Outras resoluções já foram apresentadas, como aquecimento ou arrefecimento 

da amostra, que ajudará se o inibidor for termolábil, ou a purificação do ácido nucleico [34]. 

   

Para  além  do  uso  de  controlos,  os  primers  são  também  uma  fonte  de  preocupação,  cuja 

qualidade, design, pureza e validação devem ser controladas. Assim, cada novo lote de primers deve 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

20  

ser testado para especificidade, eficiência de amplificação e ausência de  inibidores antes de serem 

aceites e utilizados [40]. 

As causas destes falsos positivos e negativos centram‐se mais na fase analítica do processo, 

mas como se pode ver pelas  tabelas anteriores e pelo que  já  foi  referido, estes  resultados podem 

gerar‐se noutras fases do processo. Sendo assim, o primeiro passo ideal ao analisar um processo de 

PCR será ter em conta a sua divisão em três fases, onde se inserem os erros falados anteriormente e 

identificam‐se as suas causas e respectivas medidas de controlo [29]:  

 

A. Pré‐analítica  (recolha  padronizada  da  amostra,  verificação  dos  dados  do  paciente, 

manuseamento da amostra, isolamento do DNA); 

B. Analítica (amplificação, digestão com enzimas de restrição, electroforese); 

C. Pós‐analítica (leitura, processamento e comunicação dos resultados).  

 

Há mesmo autores que consideram a divisão de qualquer laboratório em cinco fases [43,44]:  

 

A. Pré‐pré‐analítica (estudo do caso e decisão do teste a realizar); 

B. Pré‐analítica; 

C. Analítica; 

D. Pós‐analítica; 

E. Pós‐pós‐analítica (interpretação dos resultados pelo médico e tomada de decisões).  

 

Estas duas fases extra têm outras causas de erros e pontos críticos de controlo e a análise de 

todas as cinco  fases vai permitir controlar todo o processo. A Tabela 5 mostra os principais passos 

dessa análise e exemplos de erros comuns, num teste laboratorial de diagnóstico. 

A  importância  desta  separação  de  fases  é  indiscutível  e  todos  os  conceitos  de  diferentes 

fases, medidas de  controlo e  regras estão  incluídos na  ISO/IEC 15189:2003 Medical  laboratories  ‐ 

particular  requirements  for  quality  and  competence,  desenvolvida  especificamente  para  os 

laboratórios de diagnóstico, onde  se  incluem  também as TAN. Até ao desenvolvimento desta  ISO, 

não havia nenhuma que se referisse à gestão de qualidade e competência técnica nos  laboratórios, 

recorrendo‐se somente à ISO 9001:2000, com os requerimentos de gestão de qualidade aplicáveis a 

qualquer  empresa,  ou  à  ISO  17025:1999,  que  se  refere  à  acreditação  e  calibração.  Assim,  o 

aparecimento  desta  ISO  foi  bem  visto  pela  comunidade  científica  e médica,  cobrindo muitos  dos 

campos que estavam incompletos [45,46]. 

 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

21  

Tabela 5 ‐ Fases do processo de um laboratório médico e possíveis erros (adaptado de [43]). 

Pré‐pré‐analíticaClínico necessita de informação Clínico não interpreta bem a informação do 

paciente Clínico tem uma hipótese  Hipótese erradaClínico decide o teste a realizar Teste errado para a hipótese; Erro de 

comunicação Clínico preenche um formulário ou 

encarrega alguém de o fazer  

Formulário errado

Pré‐analítica Identificação do paciente  Troca de informaçãoEscolha do tubo (tamanho, anticoagulante) Informação errada do paciente no sistemaRecolha de sangue  Tubo errado; técnica de recolha errada Formulário e amostra (sangue) são enviados 

para o laboratório (condições de transporte) Amostra a temperatura errada 

Amostras preparadas para análise Amostra é abanada, tubo contaminado, tubo partido, troca entre amostras  

Analítica Aparelhos são verificados  Amostra não analisadaRealizam‐se as reacções  Amostra colocada no local errado Resultados são enviados para o sistema Diluição errada, falha no controlo de 

qualidade, valor errado, falha no instrumento, protocolo não foi seguido, análise errada  

Pós‐analítica Resultados são verificados   Resultados improváveis não são vistos  Resultados são comunicados  Falha do computadorResultados são escritos   Falha na impressora, erro de cálculo, erro de 

escrita, teste errado comunicado, destino da comunicação errado  

Pós‐pós‐analíticaClínico lê os resultados  Problema de comunicação Clínico interpreta os resultados Má interpretaçãoClínico toma uma decisão  Conclusão errada

 

   

  Embora a fase analítica seja aquela que parece necessitar de uma maior atenção e controlo, 

muitas das precauções têm de ser tomadas  já na fase pré‐analítica. Apesar de ainda haver muito a 

desenvolver, as técnicas estão cada vez mais evoluídas e automatizadas e por isso os erros analíticos 

são cada vez menos prováveis. Os erros que ocorrem nas fases extra‐analítica continuam a ser uma 

grande fonte de preocupação [43,44,47,48]. Lippi et al. (2006) reportaram que a falta de SOP para a 

recolha, qualidade, manuseamento e armazenamento da amostra constituem mais de 93% dos erros 

encontrados num processo de diagnóstico  [47]. A Figura 3 pretende  representar a  importância de 

variáveis “escondidas”, como as variáveis pré‐analíticas: 

 

 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

22  

 

 

 

  De  facto,  a  qualidade  dos  resultados  obtidos  em  biologia  molecular  depende  muito  do 

controlo  dos  erros  pré‐analíticos  e  analíticos  associados  à  técnica.  Erros  pré‐analíticos  ocorrem 

muitas vezes no isolamento do DNA/RNA, em que o detergente usado para lise celular pode afectar a 

amplificação do DNA posteriormente, assim como o anticoagulante escolhido [49]. As variáveis pré‐  

‐analíticas, tal como a amostra, métodos de recolha e condições de armazenamento não conseguem 

ser  monitorizadas  por  métodos  tradicionais  de  controlo  de  qualidade,  apesar  da  inclusão  dos 

controlos para detectar a presença de  inibidores ou a degradação da amostra possa ser muito útil 

para  preencher  esse  vazio  [19].  Um  ponto  essencial  parece  ser  o  controlo  da  contaminação  no 

ambiente de trabalho, minimizando os erros analíticos e extra‐analíticos [49].  

A validade dos  resultados está dependente das medidas adoptadas em  cada uma das  três 

fases do processo,  sendo essencial padronizar  todo o processo desde  a  solicitação do  teste  até  à 

saída dos  resultados, atingindo‐se então o padrão de qualidade desejado. A  importância dos erros 

nas três fases do processo está esquematizada na Figura 4: 

 

Teste de laboratório 

Variabilidade biológica 

Variáveis ambientais 

Identificação do paciente 

Colheita da amostra 

Manuseamento da amostra 

Figura 3 ‐ Variáveis pré‐analíticas em testes de laboratório (adaptado de [47]). 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

23  

 

Figura 4 ‐ Erros presentes nas três fases do processo de um teste de laboratório (adaptado de [44]). 

 

Como a  total eliminação de erros não é possível, especialmente os que se relacionam com 

fases extra‐analíticas, demonstra‐se mais uma vez a grande  importância da existência de SOP, boas 

práticas  de  laboratórios,  sistemas  de  qualidade  e  acreditação  do  laboratório,  de modo  a  não  só 

verificar a existência de um erro mas sim de o prevenir e reduzir. Só reduzindo a elevada frequência 

destes  erros  se  consegue  melhorar  a  qualidade  do  laboratório  e  evitar  o  impacto  negativo  na 

população que estes erros podem causar.  

  No entanto,  toda esta ênfase na melhoria da qualidade e do  seu controlo nas  fases extra‐       

‐analíticas  traz alguns efeitos negativos. Um exemplo ocorreu nos Estados Unidos, em que a CLIA 

propôs uma  redução no  controlo de qualidade para os processos analíticos  como  consequência à 

crescente necessidade de aumentar e melhor assegurar a qualidade nas outras fases [48]. O facto é 

que, apesar do número de erros analíticos ter diminuído e do número de erros extra‐analíticos ser 

mais provável, existem diversas evidências que demonstram que a qualidade analítica ainda é uma 

fonte  de  preocupação  e  não  pode  ser  esquecida,  tendo  sido  descritos  procedimentos  analíticos 

menos  satisfatórios  em  diferentes  campos,  inclusive  no  da  biologia molecular  [48].  É  necessário 

saber  encontrar  o  equilíbrio  que  permite  tentar  controlar  ao máximo  os  erros  possíveis  nas  três 

principais fases do processo.  

 

Quando  se  pensa  num  plano  de  controlo  de  qualidade  relacionado  com  uma  técnica  de 

amplificação como a PCR, uma outra questão essencial e primária, que afecta o modelo de controlo 

de qualidade escolhido e  implementado  refere‐se ao género de ensaio que se está a  realizar, se é 

qualitativo  ou  quantitativo.  Ambos  podem  beneficiar  de  um  sistema  de  controlo  de  qualidade 

implementado, mas cada um tem os seus requerimentos. 

Os  métodos  qualitativos  têm  somente  um  ponto  de  decisão:  positivo/negativo  ou 

presença/ausência. Neste caso, parece que o essencial é ter um controlo de cada posição, ou seja, 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

24  

um controlo positivo/presença e um negativo/ausência, e ambos ajudariam a detectar o erro, o que 

torna estes  controlos bastante úteis e essenciais para a eliminação de  resultados errados  [16,19]. 

Garrett  (2001)  fala  também da hipótese de um único controlo, em que a concentração de analito 

estaria exactamente no ponto de decisão  [19]. Embora possa também ajudar na detecção de erro, 

esta hipótese ainda não conseguiu ser validada e parece ter algumas falhas. 

Os  métodos  quantitativos  validados  devem  ser  testados  pela  sua  linearidade  num 

determinado  intervalo. Aqueles que exibem essa  linearidade requerem normalmente controlos em 

menos pontos desse  intervalo que  aqueles que não exibem  linearidade. Normalmente utilizam‐se 

nestes casos as regras de Westgard, para  identificar um erro ou decidir a rejeição de um ensaio. É 

importante,  tanto nos métodos qualitativos  como nos quantitativos, o  conhecimento do  limite de 

detecção, do viés do teste e da reprodutibilidade [16,19]. 

 

Resumidamente, após a referência a tantas variáveis e possíveis medidas de controlo, torna‐ 

‐se necessário concluir sobre os controlos que realmente devem ser  implementados para a técnica 

de PCR. A nível de controlo de qualidade interno são essenciais os seguintes passos: 

 

A. Controlos  relacionados com a preparação da amostra: no que diz  respeito ao DNA, o mais 

habitual é a electroforese em gel de agarose precedida ou não de uma digestão com uma 

endonuclease,  como  a  EcoRI,  podendo‐se  assim  controlar  a  presença  de  inibidores  da 

actividade  enzimática.  A  presença  de  potenciais  inibidores  é  normalmente  controlada 

usando um espectrofotómetro, fazendo a leitura da absorvância a 260 (A260) e 280nm (A280); 

o  ratio A260/A280  deve  estar  entre  1,75‐2,0. Relativamente  ao RNA,  o método mais  rápido 

baseia‐se na electroforese em gel de agarose, em condições não desnaturantes, tal como no 

DNA. Em caso de dúvida pode‐se utilizar um gel com condições desnaturantes, para verificar 

a sua integridade [41]; 

 

B.  Controlos para a síntese de cDNA e amplificação: a nível de amplificação são importantes o 

controlo positivo e interno, para evitar falsos negativos, e controlo negativo e de reagentes, 

para  evitar  falsos  positivos  [41,42].  A  nível  da  síntese  de  cDNA,  o  controlo  crucial  é  a 

utilização de um controlo interno [41]; 

 

C. Controlos  para  a  avaliação  dos  resultados:  inicialmente  tem  de  existir  um  controlo  da 

digestão com enzimas de  restrição. A digestão do DNA genómico pode  ser diminuída pela 

presença  de  inibidores  enzimáticos,  condições  inapropriadas  ou  actividade  enzimática 

reduzida. Através de uma electroforese em gel de agarose consegue‐se ver os resultados da 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

25  

digestão e podem‐se aplicar determinados critérios que irão ajudar a decidir se a digestão foi 

bem‐feita  ou  não.  Por  exemplo,  verificar  que  há  um  intervalo  de  bandas  com  pesos 

moleculares diferentes, de alta massa molecular até à mais baixa; adicionar uma quantidade 

conhecida  de  um marcador molecular  de  elevado  peso molecular,  cuja  digestibilidade  é 

conhecida; bandas satélites distintas que aparecem devido às sequências repetitivas do DNA 

genómico, indicando uma electroforese bem sucedida. No entanto, nem todas as enzimas as 

conseguem  gerar  [41].  Relativamente  à  electroforese,  o  controlo  envolve  a  presença  de 

marcadores para o tamanho dos fragmentos (marcadores de pares de bases) e concentração 

[41]. 

 

O objectivo deste  trabalho consistiu na proposta de um modelo de controlo e garantia de 

qualidade  interno  para  PCR‐RFLP  e  Real‐Time  PCR,  ambas  as  técnicas  qualitativas.  O  que  já  foi 

referido aplica‐se essencialmente ao PCR‐RFLP, embora também se possa adaptar ao Real‐Time PCR. 

Na parte  IV deste trabalho, ao estabelecer a proposta de controlo e garantia de qualidade, os dois 

métodos são mencionados. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

26  

3. Esquemas de Controlo Externo 

 

  Muitos passos de um teste podem ser controlados, mas apenas com o estudo dos resultados 

dos  testes se consegue chegar a uma conclusão sobre a  fiabilidade destes  [10]. Na Europa é usual 

utilizarem‐se  processos  de  avaliação  externa  de  qualidade,  conhecidos  nos  Estados Unidos  como 

testes de proficiência, em que amostras  idênticas são enviadas para cada  laboratório participante e 

os resultados são comparados entre eles e/ou com um valor padrão ou certo [10]. A necessidade dos 

laboratórios,  incluindo  aqueles que utilizam  TAN, usarem este meio para  assegurar  a qualidade  é 

cada vez mais reconhecida, mas o seu uso é ainda baixo, especialmente nas  técnicas baseadas em 

PCR [50]. 

  Os  esquemas  de  controlo  externo mais  recentes  incluem  o  processo  analítico  completo: 

componentes pré‐analíticas, analíticas e pós‐analíticas. Esta era uma abordagem ainda pouco usual 

em  controlo  externo  mas  que  revela  a  importância  nas  técnicas  genéticas  de  interpretar  cada 

resultado num contexto particular [10] e que se vai afirmando cada vez mais. A estrutura adoptada 

pelo  European Molecular Genetics Quality Network  (EMQN)  é  um  exemplo  típico  de  um modelo 

moderno  de  avaliação  externa  (EQA,  External  Quality  Assessment)  em  técnicas  genéticas  e  está 

representado na Figura 5. 

 

 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

27  

  

Figura  5  ‐  Anatomia  de  um  esquema  de  controlo  externo.  AZF,  Factor  de  Azoospermia;  BRCA,  Cancro  da  Mama Hereditário; CF, Fibrose Cística; CMT, doença de Charcot‐Marie‐Tooth; DMD, Distrofia Muscular de Duchenne; EMQN, European Molecular Genetics Quality Network; FA, Anemia de Fanconi; HD, Doença de Huntington (adaptado de [10]). 

 

  Outros exemplos de organizações/programas para controlo externo são: a Clinical Molecular 

Genetics Society  (CMGS), fundada em 1988 no Reino Unido, para promover a qualidade através do 

treino,  educação,  pesquisa  e  recolha  de  dados  e  estabelecendo  também  esquemas  de  controlo 

externo,  e  dois  programas  desenhados  pelo  CAP,  o  Q‐Probes,  fundado  em  1989,  e  o  Q‐Tracks, 

fundado em 1998. Estes dois últimos programas  lidam com as três fases do processo (pré‐analítica, 

analítica e pós‐analítica) e com as medidas a tomar em cada uma delas, com o objectivo de melhorar 

a  qualidade  [51].  São  identificados  indicadores  de  qualidade,  para  os  processos  extra‐analíticos, 

necessários para os laboratórios clínicos detectarem um fraco desempenho existente numa parte do 

processo e estabelecerem padronização e especificações de qualidade (limites de aceitabilidade). Os 

indicadores de qualidade e especificações para as fases pré‐analítica, analítica e pós‐analítica estão 

reunidos nas Tabelas 6, 7 e 8, respectivamente. Quando os indicadores não estão dentro dos limites 

de aceitabilidade são necessárias medidas correctivas na área em questão [51]. 

 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

28  

Tabela 6 ‐ Indicadores de qualidade e especificações (limites de aceitabilidade) da fase pré‐analítica (adaptado de [51]). 

Indicador de qualidade Relacionado com  Especificação (%)

Pedidos  

Número de pedidos   

 Erros na identificação do paciente 0,08 Falta da identificação do médico 0,50 Especificação errada da unidade hospitalar 0,60 Pedido não perceptível  0,10 Correcção de erros nos testes requisitados 

0,30 

Amostragem     

Número de pedidos      

 Pedido de flebotomia de pacientes internados não 

recolhido 7,00 

Pedido de flebotomia de pacientes ambulatoriais não recolhido 

0,30 

Torniquetes contaminados com sangue 2,50 Acidentes com agulhas por cada 100.000 

venopunções 0,01 

Recolha de sangue para monitorização da terapêutica no tempo errado 

24,0 

Erros nas pulseiras de identificação 

3,00 

Transporte e recepção das amostras      

Número de amostras 

      

 Recolha e transporte inadequado da amostra 0,004Rejeição da amostra (todo o hemograma) 0,45 Rejeição da amostra (química)  0,35 Amostra perdida/não recebida 0,12 Rotulagem não apropriada do tubo 0,002Tubo de recolha não adequado 0,015Amostra danificada no transporte 0,002Amostra coagulada (hematologia) 0,20 Amostra coagulada (química)  0,006Amostra hemolisada (hematologia) 0,009Amostra hemolisada (química) 0,20 Acidente de laboratório  0,004Volume de amostra insuficiente 0,05 Ratio inadequado de volume de 

amostra/anticoagulante 0,02 

 

 

Tabela 7 ‐ Indicadores de qualidade e especificações (limites de aceitabilidade) da fase analítica (adaptado de [51]). 

Indicador de qualidade Relacionado com  Especificação (%)

Resultados inaceitáveis em controlos internos Número de resultados  0,07Resultados  inaceitáveis  em  testes  de  proficiência  do laboratório 

Número de resultados  1,40

 

 

 

 

 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

29  

Tabela 8 ‐ Indicadores de qualidade e especificações (limites de aceitabilidade) da fase pós‐analítica (adaptado de [51]) 

Indicador de qualidade Relacionado com  Especificação

Validação do relatório Número de relatórios 

 

 Relatório com o pedido de teste mas não completo 1,4% Relatório com o teste completo mas não pedido 1,1% Relatório com disparidades no nome do médico 

1,9% 

Relatórios intra‐laboratoriais Número de relatórios 

 Erros de comunicação do laboratório 0,05%Entrega fora do tempo  

11,0%

Serviço de consulta  Tempo médio  de  comunicação  de  valores  críticos 

aos pacientes internados 6min.

Tempo médio  de  comunicação  de  valores  críticosaos pacientes de ambulatório 

14min.

Inquéritos telefónicos não concluídos 

Número de inquéritos telefónicos 

 

21,3 

Disponibilidade do computador do laboratório  Número de episódios de inactividade 30 dias 3 episódiosMédia cumulativa de inactividade 

4h 

Competência do pessoal   Taxa de erros de pessoal não técnico Número de 

empregados 0,9‐2,9%

Taxa de erros de pessoal técnico 0,9‐6,4%

 

 

O objectivo de um esquema de EQA é educar e não punir, de modo a que os participantes 

consigam  atingir  um  padrão  superior  de  qualidade  [10]  e  controlar  o  seu  próprio  modelo  de 

qualidade interno. A organização de modelos de EQA é útil por diversas razões [10]: 

 

A. Erros de genotipagem permitem aos participantes descobrir lacunas no seu controlo interno 

e detectar a fonte dos seus erros; 

B. Erros de genotipagem feitos por vários laboratórios apontam para a existência de lacunas no 

método aplicado; 

C. Os dados dos  laboratórios participantes permitem uma análise geral do progresso  feito na 

qualidade das técnicas genéticas que estão a ser alvo de estudo; 

D. Podem  ser  uma  boa  ferramenta  para  verificar  o  desenvolvimento  de  estratégias/testes 

usados nos laboratórios de diagnóstico. 

 

  Embora muito úteis, alguns destes programas  têm algumas desvantagens: apenas algumas 

amostras são  incluídas no painel (2 a 4), as amostras não são muitas vezes bem caracterizadas e os 

dados geralmente não são publicados [18]. Uma extraordinária excepção é a European Union Quality 

Controlo de Qualidade de Técnicas Genéticas 

30  

Control Concerted Action  (EU‐QCCA), criada em 1998 com o objectivo de estabelecer um programa 

de controlo de qualidade externo para a avaliação de TAN em diagnóstico viral,  já existentes e em 

desenvolvimento. Este programa  foi  continuado e expandido  através de uma nova organização,  a 

Quality  Control  for  Molecular  Diagnostics,  em  colaboração  com  a  European  Society  for  Clinical 

Diseases e a European Society for Clinical Virology [18]. 

Existem programas de controlo externo específicos para doenças, tanto nos Estados Unidos 

como na Europa, mas estão descritos, por um grupo  italiano, os  resultados de um programa mais 

genérico que compara a qualidade dos produtos de amplificação de DNA genómico por PCR, obtidos 

por diversos  laboratórios. Programas de  controlo  externo para  testes de diagnóstico baseados na 

amplificação  de  ácidos  nucleicos  não  têm  sido  muito  implementados  e  ainda  existem  muitas 

limitações.  Neste  estudo,  eles  monitorizaram  a  extracção  de  DNA,  de  forma  quantitativa  e 

qualitativa,  a  PCR  (especificidade  e  eficiência),  resultados  da  electroforese  e  interpretação, 

atribuindo  uma  pontuação  a  cada  laboratório  [24,33].  Este  é  um  modelo  que  tenta  seguir  as 

tendências mais  recentes  do  controlo  externo  de  qualidade  e  que  reflecte  a  qualidade  geral  dos 

ensaios genéticos na Europa. No entanto, as guidelines do CLIA  requerem que os  laboratórios dos 

Estados Unidos participem em programas de controlo externo para cada analito/doença e não para 

cada método. Ambas as opções, a mais expansiva com os desafios de doenças específicas, ou a mais 

redutora com desafios baseados nos métodos gerais têm as suas vantagens e desvantagens [24]. 

Um programa em evidência nos últimos anos é o programa Multinational External Quality 

Assay programmes in Clinical Molecular Diagnostics based on Performance and Interpretation of PCR 

assay methods  (programa EQUAL), que define  três programas de controlo externo diferentes, para 

técnicas  baseadas  em  PCR,  independentemente  do  analito:  EQUAL‐qual,  para  PCR  qualitativo, 

EQUAL‐quant,  para  PCR  quantitativo,  e  EQUAL‐seq,  para  sequenciação  com  PCR  e  ensaios 

relacionados [50,52]. 

Este  programa  tem  em  conta  o  uso  extenso  da  técnica  de  PCR  em  todo  o mundo  e  as 

limitações  existentes  a  nível  de  programas  de  controlo  externo  nesta  técnica,  permitindo  uma 

avaliação  dos  aspectos  analíticos  mais  importantes  e  que  são  comuns  à  maioria  dos  testes 

moleculares que utilizam a PCR [50,52]. 

O  programa  EQUAL‐qual  foi  desenvolvido  para  avaliar  os  ensaios  da  PCR  a  três  níveis: 

extracção de DNA (qualitativa e quantitativamente); PCR (especificidade e eficiência);  interpretação 

dos  resultados após electroforese. Com  tudo  isto consegue actuar a nível pré‐analítico, analítico e 

pós‐analítico, que, como já foi referido, é a forma ideal de controlar a qualidade [52]. 

 

  III. HACCP 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

HACCP 

32  

A  segurança  é um  conceito que  acompanha e que  é  fonte de preocupação  em diferentes 

áreas.  Desde  os  laboratórios  de  diagnóstico  à  indústria  alimentar,  é  visível  a  necessidade  de 

assegurar qualidade, de a controlar e de demonstrar segurança nos resultados ou produtos.  

  A  nível  alimentar  as  preocupações  surgiram  mais  cedo,  o  que  levou  a  uma  melhor 

organização dos programas de controlo de qualidade e da  legislação. Já desde o  início do século XX 

que  a  preocupação  a  nível  alimentar  resultou  na  formulação  de  regulamentos  e  formação  de 

entidades reguladoras, como é o caso da Federal Meat Inspection Act (FMIA) em 1906 ou a Federal 

Food, Drug and Cosmetic Act  (FDCA), que surgiu na mesma época  [53]. No século XXI, a ênfase na 

segurança alimentar continuou, virando‐se agora para um novo conceito, o HACCP. Este sistema de 

gestão  da  qualidade  foi  desenvolvido  pela  Pillsbury  Company  em  associação  com  a  National 

Aeronautics and  Space Administration  (NASA) e os  laboratórios do exército  americano. Devido  ao 

programa  espacial  dos  anos  60,  surgiu  a  necessidade  de manter  a  qualidade  dos  alimentos  dos 

astronautas, principalmente a qualidade microbiológica  [53]. No entanto, só nos anos 70  foi então 

aplicado à indústria conserveira americana e em 1980 a OMS e a Food and Agriculture Organization 

(FAO) recomendaram a sua aplicação às pequenas e médias empresas. Em 1993, através da Directiva 

93/43/CEE,  o  HACCP  entrou  para  a  regulamentação  europeia,  tendo  por  base  de  aplicação  os 

Princípios  expressos  no  Codex  Alimentarius.  Em  2006,  o  Regulamento  (CE)  nº  852/2006  do 

Parlamento  Europeu  e  do  Conselho,  de  29  de  Abril  de  2004,  relativo  à  higiene  dos  géneros 

alimentícios  e  que  revoga  a  Directiva  93/43/CEE,  estipula  que  todos  os  operadores  do  sector 

alimentar devem criar, aplicar e manter um processo ou processos permanentes baseados nos sete 

Princípios  do  HACCP  [54].  A  ISO  22000:2005  providencia  um  sistema  de  gestão  de  segurança 

completo,  fundindo  os  requisitos  da  ISO  9001  com  o  plano HACCP,  sendo  um  passo  à  frente  do 

sistema de gestão HACCP inicial.  

O  sistema  HACCP  consiste  numa  abordagem  científica  e  sistemática  de  identificação  e 

avaliação de perigos específicos em  todas as etapas da produção de alimentos, definindo medidas 

para  o  seu  controlo,  com  o  objectivo  de  garantir  alimentos  seguros  [55].  Trata‐se  de  uma 

metodologia preventiva e que assenta numa forte componente de autocontrolo, com o objectivo de 

evitar  potenciais  riscos  que  podem  causar  danos  aos  consumidores,  através  da  eliminação  ou 

redução de perigos [54]. Uma outra definição é a de Schmidt, 1996: sistema  lógico desenhado para 

identificar  perigos  e/ou  situações  críticas  e  produzir  um  plano  estruturado  para  controlar  essas 

situações [53]. Genericamente, o HACCP baseia‐se na aplicação de princípios técnicos e científicos na 

produção  e  manipulação  dos  géneros  alimentícios  desde  “o  prado  até  ao  prato”  [54].  Foram 

definidos  sete  Princípios  pela  FAO/OMS/Codex  Alimentarius  Commission  (CAC)  e  que  o  CAC 

incorporou num documento que pode ser utilizado em todo o mundo para estabelecer e manter este 

sistema de gestão de qualidade [53]. 

HACCP 

33  

Os  sete  Princípios  em  que  o  sistema  HACCP  se  baseia  são,  de  acordo  com  o  Codex 

Alimentarius [53‐55]: 

 

1. Conduzir  a  análise  de  perigos  –  identificar  quaisquer  perigos  que  devam  ser  evitados, 

eliminados ou reduzidos para níveis aceitáveis; 

2. Determinar os pontos críticos de controlo (PCC) – identificar os PCC na fase ou fases em que 

o controlo é essencial para evitar ou eliminar um risco ou para o reduzir a níveis aceitáveis; 

3. Estabelecer os limites críticos para cada medida associada a cada PCC – estabelecer os limites 

em  PCC,  que  separem  a  aceitabilidade  da  não  aceitabilidade  com  vista  à  prevenção, 

eliminação ou redução dos riscos identificados; 

4. Estabelecer  um  sistema  para  monitorizar/controlar  cada  PCC  –  estabelecer  e  aplicar 

processos eficazes de vigilância em PCC; 

5. Estabelecer  a  acção  correctiva  a  empreender  quando  a  monitorização  indica  que  um 

determinado PCC não está sob controlo; 

6. Estabelecer  procedimentos  de  verificação  para  confirmar  se  o  sistema  HACCP  está  a 

funcionar eficazmente – estabelecer processos a efectuar regularmente, para verificar que as 

medidas referidas nos Princípios 1 a 5 funcionam eficazmente; 

7. Estabelecer documentação acerca de todos os procedimentos e registos apropriados a estes 

Princípios e  sua aplicação – elaboração de documentos e  registos adequados à natureza e 

dimensão das empresas, a  fim de demonstrar a aplicação eficaz das medidas  referidas nos 

Princípios 1 a 6. 

 

Nestes Princípios utiliza‐se os conceitos “perigo” e “ponto crítico de controlo”. Um perigo é 

representado por um agente biológico, químico ou físico presente ou a condição em que este ocorre, 

que  pode  causar  um  efeito  adverso  à  saúde  [55,56].  Um  PCC  é  uma  etapa  na  qual  devem  ser 

aplicadas medidas de controlo, sendo estas essenciais para prevenir, eliminar ou reduzir um perigo a 

níveis aceitáveis [56].  

Uma análise de perigos permite avaliar os perigos potenciais de um processo e determinar se 

são significativos para a segurança do produto em causa e se devem ou não ser  introduzidos num 

plano HACCP. A equipa HACCP tem de identificar o perigo e avaliar o seu risco e significância. O risco 

é  a  probabilidade  do  perigo  ocorrer  e  a  significância  transmite  a  severidade  desse  perigo,  caso 

ocorra.  A  relação  entre  esses  dois  conceitos  é  avaliada  e  determina  se  um  perigo  é  ou  não 

significativo.  Os  perigos  considerados  significativos  são  avaliados  com  o  uso  de  uma  “árvore  de 

decisão”, ou seja, uma sequência de perguntas que vai determinar se esse ponto do processo é um 

PCC ou se consegue ser controlado pelos pré‐requisitos de segurança [53]. 

HACCP 

34  

Os 7 Princípios podem ser implementados num processo industrial ou empresa em 12 Passos 

sequenciais [55]: 

 

1. Designar  a  equipa  HACCP  (deve  incluir  representantes  das  diferentes  actividades  do 

processo); 

2. Descrever  detalhadamente  o  produto  (designação,  características,  condições  de 

armazenagem, etc.); 

3. Identificar o uso pretendido do produto (descrição detalhada do produto final); 

4. Elaborar o diagrama de fluxo e o esquema da área de fabrico (layout); 

5. Confirmar in loco os diagramas de fluxo e layout;  

6. Listar todos os perigos potenciais, conduzir uma análise de perigos e considerar as medidas 

de controlo (Princípio 1); 

7. Determinar os PCC (Princípio 2); 

8. Estabelecer os limites críticos para cada PCC (Princípio 3); 

9. Estabelecer um sistema de monitorização para cada PCC (Princípio 4); 

10. Estabelecer medidas correctivas (Princípio 5); 

11. Estabelecer os procedimentos de validação/verificação (Princípio 6); 

12. Estabelecer a documentação e conservar os registos (Princípio 7 – plano HACCP).  

 

Para  que  a  implementação  de  um  plano  HACCP  seja  feita  correctamente  é  necessário 

esforço, empenho e compromisso por parte da administração, para seleccionar as pessoas, o devido 

cargo de cada pessoa, disponibilizar os recursos financeiros e humanos, agendar reuniões, avaliações 

do  pessoal  e  do  próprio  plano HACCP,  de modo  a  que  possa  ser  revisto  e  alterado  sempre  que 

necessário; a administração está também encarregue de motivar todas as pessoas que fazem parte 

do  sistema  [53].  Tudo  isto  pertence  então  a  um  primeiro  requerimento  fundamental  da 

administração, para que o plano HACCP funcione.  

Um  segundo  requerimento  para  a  implementação  será  a  formação  sobre  a metodologia 

HACCP  [53].  Essa  formação  é  indispensável  e  deve  ter  diferentes  níveis  de  aprofundamento  dos 

conhecimentos, ou  seja, devem‐se  realizar diferentes acções de  formação para a administração, a 

equipa  HACCP,  o  pessoal  de  monitorização  de  qualidade,  os  operadores  envolvidos  e  outros 

colaboradores da empresa. Todos deverão conhecer o plano HACCP existente mas, conforme o seu 

cargo e envolvimento na empresa e no próprio plano, os conhecimentos que têm de adquirir vão ser 

diferentes.  

Um terceiro requerimento será a existência de pré‐requisitos, que serão a base de um plano 

HACCP e vão permitir a sua aplicação efectiva [53,54]. Pode‐se dizer que os pré‐requisitos controlam 

HACCP 

35  

os perigos associados ao meio envolvente do processo e ao cumprimento das boas práticas em geral, 

assim  como os perigos  considerados não  significativos após avaliação, enquanto o  sistema HACCP 

controla  os  perigos  associados  ao  processo  [54].  Para  ser  operacional,  é  fundamental  que  o 

funcionamento  do  sistema  seja  paralelo  com  determinados  procedimentos  previamente 

implementados, como as Boas Práticas de Fabrico  (GMP, Good Manufacturing Practices) e as Boas 

Práticas de Higiene, utilizados a nível industrial. 

Após  a  implementação  do  plano  HACCP  é  necessário  uma  gestão  do  sistema,  ou  seja, 

assegurar  que  o  plano  é monitorizado,  o  que  inclui  a  verificação  e  validação  do  Princípio  6.  A 

verificação pode ser  feita diariamente pelo próprio departamento que desempenha correctamente 

as funções, mas pode ser acompanhada por programas de auditoria interna, que têm de ocorrer com 

determinada e suficiente frequência. Se são identificados erros ou potenciais erros durante a rotina 

diária  ou  nas  auditorias,  devem  ser  documentados,  incluindo  a  sua  causa  e medidas  que  foram 

tomadas [53]. 

 

A nível de laboratórios de diagnóstico e técnicas genéticas, o sistema HACCP não é utilizado. 

No  entanto  é  possível  de  adaptar  e  nos  últimos  anos  já  surgiram  referências  a  esse  cruzamento 

HACCP/genética. Os sete Princípios e os 12 Passos de implementação são possíveis de adaptar a um 

laboratório ou a uma técnica de amplificação e existem pré‐requisitos para diversas técnicas, como 

as  guidelines  existentes  para  a  amplificação  de  ácidos  nucleicos  da  Farmacopeia  Europeia  [40], 

parecendo então que todos os conceitos teóricos do HACCP encaixam na nova tendência de controlo 

de qualidade das  técnicas genéticas. Além disso,  faz parte das etapas da validação de um método, 

como por exemplo qualquer técnica de biologia molecular, o controlo de qualidade e a determinação 

dos PCC [42], o que encaixaria perfeitamente num sistema de HACCP. Foi já referido que o ideal para 

um plano de qualidade será controlar  todo o processo e não só a  fase analítica e de um ponto de 

vista prático e multidisciplinar, o controlo de qualidade de um processo  inteiro, com  identificação, 

redução e prevenção do erro, pode ser conseguido através de um modelo como o HACCP [43,47]. 

Como  se  pode  concluir  com  tudo  o  que  já  foi  referido,  o  objectivo  do  sistema  HACCP  é 

prevenir  os  erros,  levando  a  uma  reforma  eficiente  do  processo,  com  vista  a  um  melhor 

desempenho,  eficiência  e  qualidade.  Assim,  com  todos  os  passos  críticos  identificados  pode‐se 

reajustar o processo nos pontos críticos, com controlos adicionais  intermédios. Pode‐se dizer que o 

HACCP  representa uma abordagem  integral e sequencial de  todo o processo e não apenas parcial, 

como o são outras formas de controlo já existente a nível dos laboratórios [43]. 

Com  a  implementação deste  sistema nas  técnicas  genéticas muitos dos objectivos  citados 

por  alguns  autores  conseguiriam  ser  cumpridos.  Plebani  (2006)  escreve  sobre  a  importância  da 

identificação de erros e não conformidades, segundo as  ISO, de uma acção correctiva e preventiva, 

HACCP 

36  

da revisão do processo total em  intervalos regulares, de modo a conseguir  identificar os erros que 

vão  acontecendo  e  verificar  a  acção  correctiva  e  preventiva,  e  da  introdução  de  indicadores  de 

avaliação de qualidade nas diferentes fases [44]. Tudo isto vai melhorar a qualidade do laboratório e 

pode ser conseguido por uma análise completa dos PCC e pela implementação total do HACCP.  

 

  

IV. Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da 

Qualidade 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

38  

  O objectivo deste trabalho consistiu em sistematizar as condições  ideais e necessárias para 

realizar  a  técnica  de  PCR  com  qualidade  e  avaliar  a  qualidade  dos  resultados. A  proposta  de  um 

modelo de controlo e garantia de qualidade para a execução da técnica de PCR‐RFLP e Real‐Time PCR 

no Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto dividiu‐se em três fases: adaptação de um plano 

HACCP,  proposta  de  guidelines  internas  com  verificação  do  seu  cumprimento  e  proposta  de  um 

plano de avaliação de qualidade interna, apropriado ao local e com potencial implementação. 

 

1. Adaptação de um Plano HACCP 

 

  Na elaboração desta proposta recorreu‐se,  inicialmente, ao sistema de gestão de qualidade 

HACCP.  Tal  como  já  foi  referido,  este  sistema  multidisciplinar  é  uma  abordagem  científica  e 

sistemática,  um  sistema  lógico  de  identificação  e  avaliação  de  perigos  e/ou  situações  críticas  em 

todas as etapas de um processo, com o objectivo de produzir um plano estruturado para controlar 

essas situações [53,54]. Aparentemente, as  linhas do HACCP aplicam‐se mais à gestão de empresas 

do que ao trabalho de rotina de um laboratório. No entanto, a base destas orientações é que todos 

são pessoalmente responsáveis por garantir que a empresa/laboratório onde trabalham produza um 

produto ou serviço de qualidade. 

  Nas Tabelas e  Figuras  seguintes estão esquematizadas  as medidas de  adaptação do plano 

HACCP às técnicas de PCR‐RFLP e Real‐Time PCR. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

39  

A. Descrição do produto final – Produto genético 

 

Tabela 9 – Descrição do produto final. 

Denominação do produto  Produto genético amplificado

Características biológicas Isento de contaminantes biológicosCaracterísticas químicas Isento de contaminantes químicosCaracterísticas físicas Isento de contaminantes físicosCondições de armazenagem  Não aplicável Método de distribuição Não aplicável Prazo de validade Não aplicável Material de embalagem Não aplicável Rotulagem  Não aplicável Requisitos regulamentares  Codex Alimentarius

ISO 22000:2005 Guidelines EMQN 

 

 

B. Identificação do uso pretendido para o produto 

 

Diagnóstico/projecto de investigação. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

40  

C. Fluxograma do processo 

 

i. PCR‐RFLP 

 

 

                                   

 

 

                             

                             

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 6 – Fluxograma de PCR‐RFLP. 

Factores pós‐analíticos 

ou pós‐PCR 

Factores analíticos ou PCR 

Factores pré‐analíticos ou pré‐PCR 

Transporte e armazenamento  Recepção de materiais e reagentes 

e preparação de reagentes Recolha de amostras de sangue  Transporte e armazenamento 

Isolamento de ácidos 

nucleicos  

PCR – Preparação da mistura

Desnaturação 

Hibridação 

Extensão

RFLPElectroforese

Base de dados e estudo estatístico

Confirmação dos resultados

n ciclos

Processamento de sangue

Armazenamento

Leitura dos resultados 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

41  

ii. Real‐Time PCR 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Figura 7 – Fluxograma de Real‐Time PCR. 

Factores pós‐analíticos 

ou pós‐PCR 

Factores analíticos ou PCR 

Factores pré‐analíticos ou pré‐PCR 

Transporte e armazenamento  Recepção de materiais e reagentes 

e preparação de reagentes Recolha de amostras de sangue  Transporte e armazenamento 

Isolamento de ácidos 

nucleicos  

Real‐Time PCR – Preparação 

Desnaturação 

Hibridação 

Extensão 

Base de dados e estudo estatístico

Confirmação dos resultados

n ciclos

Processamento de sangue

Armazenamento

Leitura dos resultados

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

42  

D. Análise de perigos 

 

O  índice de risco (IR) de cada perigo/etapa é calculado multiplicando o valor atribuído à severidade (S) pelo valor atribuído à probabilidade (P) do 

respectivo perigo. Os perigos classificados com IR≥3 foram considerados significativos e seguiram para análise através da árvore de decisão. Os outros foram 

controlados pelos pré‐requisitos. 

 

Tabela 10 – Índice de risco para diferentes valores de severidade e probabilidade (IR = S x P) (adaptado de [55,56]). 

Severidad

(S) 

Probabilidade (P) 

  Baixa (1) Média (2) Alta (3)Baixa (1) 1 2 3Média (2) 2 4 6Alta (3) 3 6 9

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

43  

i. Factores pré‐analíticos ou pré‐PCR 

 

Tabela 11 – Descrição dos perigos, respectivas causas e medidas de controlo de cada etapa pré‐analítica.                                                                                                                

Etapa Descrição dos perigos Causas P S IR Medidas de controloRecepção de materiais e reagentes/ Preparação e 

armazenamento de reagentes 

‐ Contaminantes biológicos, químicos e físicos 

‐ Deficiente manipulação‐ Práticas incorrectas ‐ Fornecedor sem certificado de qualidade ‐ Quando os reagentes são armazenados em grandes frascos, as constantes utilizações podem levar a contaminações ‐ Temperatura de armazenamento inadequada 

1 3 3 ‐ Área separada para preparação e armazenamento de reagentes ‐ Todas as áreas com equipamento/material próprio, não sendo permitidas quaisquer trocas ‐ Sistema unidireccional ‐ Tubos descartáveis livres de DNAse e RNAse ‐ Manutenção do local limpo ‐ Selecção de fornecedores com certificado de qualidade ‐ Verificação da integridade da embalagem, prazo de validade, rotulagem e certificação de qualidade ‐ Etiquetagem (conteúdo e data) ‐ Armazenamento e congelamento em alíquotas  

Transporte de reagentes e materiais          

‐ Contaminantes biológicos, químicos ou físicos 

‐ Temperatura inadequada‐ Transporte inadequado 

1 2 2 ‐ Utilização de métodos de transporte e verificação adequados        

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

44  

Tabela 11 – Descrição dos perigos, respectivas causas e medidas de controlo de cada etapa pré‐analítica (cont.).

Etapa Descrição dos perigos Causas P S IR Medidas de controloRecolha da amostra 

de sangue  

‐ Contaminantes biológicos, físicos e químicos (tubo) ‐ Amostra hemolisada, insuficiente, incorrecta ou coagulada ‐ Alteração da concentração de metabolitos e de volume plasmático ‐ Hemoconcentração (aumento da concentração de moléculas grandes) ‐ Diluição de analitos extracelulares  

‐ Falta de procedimentos padronizados ‐ Exercício físico regular influencia as variações de volume plasmático e metabolitos, influenciando muitas variáveis bioquímicas e hematológicas ‐ Dano vascular e/ou celular durante flebotomia ‐ Estase venosa por prolongamento do tempo de utilização do torniquete ‐ Hemólise in vitro  

1 2 2 ‐ Procedimento padronizado para a recolha de amostra ‐ Antes da recolha da amostra, parâmetros individuais de estilo de vida e ritmos biológicos devem ser tidos em conta, como o exercício físico regular, dieta, stress ‐ Adopção de medidas preventivas para minimizar a influência da estase venosa ‐ Certificação de flebotomistas e treino de toda a equipa de recolha de amostra ‐ Material estéril/autoclavado ‐ Precauções com o anticoagulante escolhido: heparina é um inibidor da amplificação 

Manuseamento da amostra 

(processamento de sangue e extracção de ácidos nucleicos) 

‐ Contaminantes biológicos, físicos e químicos introduzidos ou de amostras anteriores ‐ Degradação do DNA/RNA ‐ Presença de inibidores ‐ Extracção incompleta 

 

‐ Tubos contaminados‐ Contaminação cruzada (amostras, material, bancadas) ‐ Ácido nucleico contaminado com inibidores           

2  3 6 ‐ Área própria, sem troca de material com as outras áreas – sistema unidireccional ‐ Tubos descartáveis ‐ Etiquetagem ‐ Luvas mudadas com frequência ‐ Pontas descartáveis com filtro ‐ Lavagens periódicas das bancadas com lixívia 10% e etanol 70%, podendo‐se recorrer à presença de luz UV (bancadas, microcentrífuga, luvas) para descontaminação ‐ Tubos e pipetas livres de DNase/RNase ‐ Autoclavagem do material de vidro ‐ Separação/processamento da amostra efectuada dentro de 72h após colheita ‐ Reagentes próprios em pequenas alíquotas ‐ Não produzir aerossóis quando se está a trabalhar/pipetar DNA     

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

45  

Tabela 11 – Descrição dos perigos, respectivas causas e medidas de controlo de cada etapa pré‐analítica (cont.). 

Etapa Descrição dos perigos Causas P S IR Medidas de controloManuseamento da 

amostra (processamento de sangue e extracção de ácidos nucleicos) 

(cont.) 

  ‐ Controlo do DNA extraído:a) Controlo do DNA através de electroforese em gel de agarose b) Digestão do DNA com endonuclease, por exemplo EcoRI, seguida de separação electroforética – controlo da presença de inibidores enzimáticos c) Quantificação de DNA d) Diluição das amostras para concentração de DNA semelhante (10ng/µL) ‐ sucesso de amplificação depende da quantidade e da qualidade de DNA e) Avaliação da pureza de DNA (A260/A280)  ‐ Controlo do RNA extraído: a) Electroforese em gel de agarose em condições não desnaturantes (tal como o DNA) e, em caso de dúvida, em condições desnaturantes, para avaliar integridade do RNA                

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

46  

Tabela 11 – Descrição dos perigos, respectivas causas e medidas de controlo de cada etapa pré‐analítica (cont.). 

Etapa Descrição dos perigos Causas P S IR Medidas de controloTransporte e 

armazenamento da amostra/ácidos 

nucleicos 

‐ Degradação do DNA/RNA‐ Alteração da amostra ‐ Contaminantes biológicos, químicos e físicos 

‐ Temperatura inadequada‐ Enzimas que degradam DNA ‐ Práticas incorrectas 

1 3 3 ‐ Conservação do tubo de colheita: até 8h à temperatura ambiente (≈ 22°C) ou até 72h quando acondicionado entre 2‐10°C ‐ Armazenamento do plasma: até 4h à temperatura ambiente, até 7 dias entre 2‐10°C e sem limite a ‐70°C ou inferior ‐ Amostras para análise de DNA devem ser guardadas em tampão de 10mmol/l Tris, 1mmol/l EDTA (pH 7,5‐8,0), a 4°C ‐ Amostras para análise de RNA devem ser guardadas em soluções tamponadas de preferência a ‐80°C ou em azoto líquido; também pode ser como um precipitado de etanol a ‐20°C ‐ Teste DNAse para verificar se houve degradação do DNA durante armazenamento ‐ Armazenamento de amostras deve ser feito na mesma área da sua preparação ‐ Controlo e registo da temperatura ‐ Transporte segundo as normas (quando necessário) 

IR, Índice de Risco; P, Probabilidade; S, Severidade.  

Tabela elaborada com base nas seguintes referências: [19,29,39,41,47,55‐58]. 

 

 

 

 

 

 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

47  

ii. Factores analíticos ou PCR 

 

Tabela 12 – Descrição dos perigos, respectivas causas e medidas de controlo de cada etapa analítica. 

Etapa Descrição dos perigos Causas P S IR Medidas de controlo

Preparação da mistura de 

PCR/Master‐mix 

‐ Contaminantes biológicos, químicos e físicos ‐ Contaminação devido a PCR anterior 

 

‐ Técnicas incorrectas‐ Contaminação 

1 3 3 ‐ Reagentes em alíquotas‐ Área própria, sem troca de material com as outras áreas – sistema unidireccional; ‐ Limpeza (químicos/UV) ‐ Todos os reagentes, excepto o DNA, são misturados num único tubo – Master‐mix 

 

PCR e Real Time PCR+ 

RFLP + 

Electroforese 

‐ PCR e Real‐Time PCR:a) Contaminantes biológicos, químicos ou físicos – falsos positivos e negativos b) Produtos não definidos ou que não eram esperados (falta de especificidade) c) Inibição da reacção d) Contaminação por PCR anterior e) Degradação enzimática f) Protocolos não optimizados (primers longos, alta concentração de sal, etc.) 

‐ Contaminação cruzada‐ Erros (analíticos, humanos, etc.) ‐ Contaminação dos reagentes ‐ Má purificação ‐ Restos de determinados reagentes inibidores 

1 3 3 ‐ PCR e Real‐Time PCR:a) Áreas separadas, sem troca de material com as outras áreas – sistema unidireccional b) Limpeza (químicos/UV) c) Reagentes próprios em alíquotas d) Termociclador regulado e calibrado, micropipetas calibradas e) Optimização das condições f) Uso de controlo positivo, negativo, controlo interno e controlo ambiental g) Dividir a master‐mix em tubos individuais e só depois o DNA é adicionado (aumenta a eficiência e diminui a contaminação) h) Bom uso das câmaras          

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

48  

Tabela 12 – Descrição dos perigos, respectivas causas e medidas de controlo de cada etapa analítica (cont.).

Etapa Descrição dos perigos Causas P S IR Medidas de controlo

PCR e Real Time PCR+ 

RFLP + 

Electroforese (cont.) 

         

‐ RFLP: a) Os sais podem inibir as enzimas, a actividade enzimática pode estar diminuída devido à temperatura ou as condições podem não ser as mais apropriadas  ‐ Electroforese: a) Concentração errada do gel, força iónica ou pH e alta concentração de sais na amostra podem distorcer o resultado 

‐ RFLP:a) Quando a digestão não funciona, permanece uma grande fracção de elevado peso molecular (mas nem sempre é um indicador) b) Adicionar uma quantidade conhecida de um marcador de alto peso molecular e monitorizar a sua digestibilidade c) Utilizar sequências repetitivas de genoma humano, como DNA mitocondrial, que originam bandas satélites, indicando sucesso de digestão (no entanto, nem todas as enzimas originam essas bandas satélites)  ‐ Electroforese: a) Marcador de pares de bases  ‐ Os resultados devem ser confirmados: a) Em populações: reanalisar 5‐10% b) Em pacientes: reanalisar os portadores do alelo responsável pela doença e 5‐10% dos não portadores c) Reanalisar com um método diferente, se possível d) Associar com outra variação 

IR, Índice de Risco; P, Probabilidade; S, Severidade.  

Tabela elaborada com base nas seguintes referências: [18,19,29,34,39,41,42,55,56,58]. 

 

 

 

 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

49  

iii. Factores pós‐analíticos ou pós‐PCR 

 

Tabela 13 – Descrição dos perigos, respectivas causas e medidas de controlo de cada etapa pós‐analítica. 

Etapa Descrição dos perigos Causas P S IR Medidas de controlo

Leitura dos resultados 

‐ Leitura errada leva a conclusões erradas 

‐ Leitura errada 1 3 3 ‐ Leitura feita independentemente por duas pessoas  

Base de dados e estudo estatístico 

‐ Resultados e conclusões erradas 

‐ Erro na digitação 1 3 3 ‐ Entrada dupla dos dados

IR, Índice de Risco; P, Probabilidade; S, Severidade.  

Tabela elaborada com base nas seguintes referências: [29,39,55,56]. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

50  

E. Identificação dos PCC através da árvore de decisão 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Modificar o passo, processo ou produto

Sim Não

Sim

Sim

Sim

Sim

Não

Não

Não

Não

Não é PCC

Não é PCC 

Nesta etapa é necessário um controlo para garantir a segurança?

Questão 2 (Q2): Esta etapa elimina ou reduz o perigo a um nível aceitável?

Questão 3 (Q3): Pode ocorrer contaminação pelo perigo ou aumento deste para valores inaceitáveis?

Questão 4 (Q4): Existe alguma etapa seguinte que elimine ou reduza o perigo a níveis aceitáveis?

PCC 

PCC Não é PCC 

Figura 8 – Árvore de decisão de pontos críticos de controlo (adaptado de [55]). 

Questão 1 (Q1): Existem medidas preventivas e de controlo para o perigo em questão? 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

51  

Tabela 14 – Identificação de pontos críticos de controlo (adaptado de [56]). 

Etapa Q1  Q2 Q3 Q4 PCC (Sim/Não) Nº PCC 

Recepção de materiais e reagentes/Preparação e armazenamento de 

reagentes  

Sim  Não  Sim  Não  Sim  1 

Manuseamento da amostra 

(processamento de sangue e extracção de 

ácidos nucleicos)  

Sim  Não  Sim  Não  Sim  2 

Transporte e armazenamento da 

amostra/ácidos nucleicos  

Sim  Não  Sim  Não  Sim  3 

Preparação da mistura de PCR/Master‐mix 

 Sim  Não  Não  ‐  Não  ‐ 

PCR e Real‐Time PCR+RFLP + Electroforese 

 Sim  Não  Sim  Não  Sim  4 

Leitura de resultados 

Sim  Não  Sim  Não  Sim  5 

Base de dados e estudo estatístico 

Sim  Não  Sim  Não  Sim  6 

PCC, Ponto Crítico de Controlo; Q1, Questão 1; Q2, Questão 2; Q3, Questão 3; Q4, Questão 4. 

 

 

 

 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

52  

F. Plano HACCP 

 

Tabela 15 – Monitorização e medidas correctivas de cada ponto crítico de controlo. 

Nº PCC 

Limite crítico  Monitorização Medidas correctivas Documentos 

Frequência Método Responsável

1  ‐ Limite de temperatura (aplica‐se a reagentes com temperatura controlada) ‐ Bula – certificação da qualidade 

‐ No momento da recepção/elaboração 

‐ Visual‐ Registo 

‐ Funcionário destacado 

‐ Rejeição do produto que não se encontra em boas condições, certificado ou à temperatura adequada  

‐ Registo de recepção, verificação e preparação dos reagentes e materiais 

2  ‐ Separação efectuada dentro de 72 horas após colheita ‐ Electroforese de DNA ‐ Quantidade de DNA adequada ‐ Concentração de DNA semelhante em todas as amostras ‐ 1,75< A260/A280 >2,0  

‐ 0,5‐1% das amostras ‐ Absorvância‐ Electroforese  

‐ Funcionário destacado 

‐ Rejeição das amostras não convenientes ‐ Kits de purificação de DNA ‐ Acertar concentração de DNA ‐ Investigar a causa 

‐ A cada novo controlo de qualidade preencher uma folha de registo com resultados e observações 

3  ‐ Limite de temperatura ‐ Conservação do tubo de colheita: até 8h à temperatura ambiente (≈ 22°C) ou até 72h quando acondicionado entre 2‐10°C ‐ Armazenamento do plasma: até 4h à temperatura ambiente, entre 2‐10°C até 7 dias e a ‐70°C ou inferior sem limite ‐ Teste de degradação do DNA negativo     

‐ Temperatura: todos os dias ‐ Teste de degradação DNA ‐ 0,5‐1% das amostras 

‐ Temperatura‐ Teste de degradação (DNAses) 

‐ Funcionário destacado 

‐ Rejeição das amostras de DNA degradado ‐ Em caso de avaria do equipamento, mudar tudo para outro refrigerador rapidamente ‐ Rejeição se a temperatura limite tiver sido atingida ‐ Investigação da causa 

‐ Registo da temperatura, avarias e manutenção do equipamento 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

53  

Tabela 15 – Monitorização e medidas correctivas de cada ponto crítico de controlo.

Nº PCC 

Limite crítico  Monitorização Medidas correctivas Documentos 

Frequência Método Responsável

4  ‐ Limites de temperatura/tempo dos ciclos ‐ Controlos devem originar os resultados esperados, assim como o marcador de pares de bases ‐ Confirmação dos resultados: a discordância não pode ser superior a 5%       

‐ Os controlos positivos, negativos e interno são utilizados em cada análise, assim como os marcadores ‐ O controlo ambiental deve ser realizado em intervalos regulares (ex: mensalmente) ‐ Termocicladores calibrados com a devida frequência (semestral ou anualmente) ‐ A confirmação é feita em todos os estudos  

‐ Os controlos são incluídos no próprio PCR‐      ‐RFLP, enquanto os marcadores são incluídos na electroforese   

‐ Própria pessoa que está a realizar a análise 

‐ Rejeição dos resultados quando os controlos dão resultados contrários, à primeira vez, e repetir a análise ‐ Repetição de resultados errados: é uma indicação de contaminação geral – todos os reagentes têm de ser novamente preparados e o material tem de ser limpo ‐ Discordância na confirmação de resultados >5%: toda a série de análises tem de ser repetida 

‐ Registo de erros e do resultado do controlo ambiental ‐ Registo de verificação do aparelho 

5  ‐ Erros de leitura < 1%  ‐ Todos os resultados ‐ Leitura independente feita por duas pessoas diferentes 

‐ Funcionário destacado e outro designado pela equipa  

‐ Confirmar e alterar o que está errado ou repetir se necessário  

‐ Registo de erros

6  ‐ Erros de entrada de dados <1%  ‐ 0,5‐1% das amostras ‐ Entrada dupla dos dados; ‐ Verificação por duas pessoas 

‐ Funcionário destacado e outro designado pela equipa 

‐ Alterar o que está errado, verificando fiabilidade dos resultados 

‐ Registo de erros

 PCC, Ponto Crítico de Controlo. 

 Tabela elaborada com base nas referências: [29,34,42,55‐57]. 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

 

54  

2. Critérios de Avaliação 

 

Tendo  em  conta  o  que  foi  sistematizado  nas  Tabelas  11‐15  e  tendo  como  base 

principalmente as guidelines da EMQN [30], elaborou‐se um conjunto de critérios para as várias fases 

do processo. Os  critérios  remetem  tanto para  a parte  laboratorial  (cuidados, material, etc.)  como 

para toda a organização de informação e do próprio laboratório.  

Estes  critérios  foram  utilizados  unicamente  como  guia  durante  a  observação  das  várias 

pessoas que constituem a equipa de investigação do grupo de Oncologia Molecular do IPO‐Porto. O 

objectivo  era  simplesmente  verificar  se  estes  critérios  são  diariamente  cumpridos  ou  não. 

Relativamente aos critérios mais relacionados com a organização do  laboratório e de  informação, o 

seu  cumprimento  também  foi  verificado. No  entanto,  estes  critérios  podem  ter  outras  utilidades 

futuras,  como  servirem de base à elaboração de  fichas de  registo de  cumprimento de  funções ou 

mesmo de auditorias internas. Segue‐se a discrição dos critérios adoptados neste trabalho: 

 

A. Recepção da amostra  

 

i. Informação do paciente armazenada em base de dados, protegida por palavra‐chave, 

com acesso restricto; 

Existência de uma cópia de segurança da informação; 

Pessoal dedicado à manutenção e realização de cópia de segurança da base de dados; 

 

ii. Procedimento para lidar com amostras com informação incompleta ou incorrecta; 

 

iii. Tubos  da  amostra  têm  de  ser  etiquetados  com  pelo menos  duas  informações  de 

identificação que os unem; 

 

iv. Transferência de informação manual? Etiquetas com informação são impressas? 

 

v. Quando  é  alterada  alguma  informação,  como  se  processa?  Inclusão  da  razão  dessa 

alteração? Existe um procedimento padronizado?  

 

 

 

 

 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

 

55  

B. Reagentes – recepção, transporte e armazenamento 

 

i. Minimização da contaminação – limpeza de bancadas e material com álcool 70°; 

 

ii. Área separada para recepção e preparação de reagentes e master‐mix; 

 

iii. O sistema é unidireccional, não se voltando a esta sala; 

 

iv. Material próprio na área, sem trocas com outro compartimento (luvas, batas, pontas, 

micropipetas, etc.); 

 

v. Pontas com filtro e tubos descartáveis livres de DNAse e RNAse; 

 

vi. Utilização de  lâmpadas UV colocadas sobre a bancada e material,  ligadas pelo menos 

15 minutos antes de se iniciar o trabalho; 

 

vii. Fornecedores bem seleccionados, com garantia de qualidade (bula); 

 

viii. Verificação da integridade da embalagem, prazo de validade, rotulagem; 

 

ix. Os reagentes são armazenados em alíquotas, bem etiquetadas (conteúdo e data); 

 

x. Quando se tem de congelar, congela‐se em alíquotas; 

 

xi. Rejeição de reagentes contaminados. 

 

 

C. Transporte e armazenamento da amostra 

 

i. Conservação do  tubo de colheita até 8h à  temperatura ambiente  (≈22°C) ou até 72h 

quando armazenado entre 2‐10°C; 

 

ii. Armazenamento do plasma: até 4h à temperatura ambiente; até 7 dias entre 2‐10°C; 

sem limite a ‐70°C ou inferior; 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

 

56  

iii. DNA armazenado a 4°, ‐20° ou ‐40°C; 

 

iv. Controlo da temperatura; 

 

v. Quando necessário  transporte, as  condições para a amostra/reagente em  causa  são 

respeitadas; 

 

vi. Amostras para análise de DNA guardadas em tampão de 10mmol/l Tris, 1mmol/l EDTA 

(pH 7,5‐8,0), a 4°C; 

 

vii. Amostras para análise de RNA guardadas em  soluções  tamponadas de preferência a     

‐80°C ou em azoto líquido ou como um precipitado de etanol a ‐20°C; 

 

viii. Minimização do processo congelar/descongelar da amostra; 

Alíquota de trabalho armazenada a 4°C enquanto o teste se realiza; 

 

ix. Duplicado  da  amostra  de  sangue/ácido  nucleico  armazenado  antes  e/ou  depois  da 

extracção de ácidos nucleicos; 

Duplicados  são  guardados  por  um  período  mínimo  de  um  ano,  num  segundo 

frigorífico,  de  preferência  noutro  departamento  ou  edifício  ou  realiza‐se 

armazenamento de gotas de sangue em papel 3MM; 

 

x. As etiquetas em amostras de DNA ou papéis com gotas de sangue incluem pelo menos 

duas características de identificação; 

Utilizam mais  registos  em  números  ou  em  letras?  Registos  em  números  são mais 

susceptíveis a erros. 

 

 

D. Processamento de sangue e extracção de ácidos nucleicos  

 

i. Medidas  para  minimizar  o  risco  de  contaminação  durante  a  extracção:  lavagens 

periódicas das bancadas com lixívia 10% e etanol 70%, pode‐se utilizar luz UV em cima 

da bancada e material (centrífuga,  luvas, pontas),  limpeza da bancada e material com 

álcool antes de iniciar o trabalho; 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

 

57  

ii. Uso  de  espaços  dedicados  somente  ao  processo  de  processamento  e  extracção, 

cabines de segurança e material próprio da área (luvas, batas, micropipetas e pontas); 

 

iii. Sistema unidireccional, não se voltando a esta sala; 

 

iv. Processamento da amostra (sangue) efectuado dentro de 72h após colheita; 

 

v. Utilização  de  pontas  com  filtro  e  tubos  descartáveis  livres  de  DNAse  e  RNAse; 

micropipetas bem calibradas; 

 

vi. Material de vidro autoclavado; 

 

vii. Todos os tubos, eppendorfs, etc. devem ser bem identificados; 

 

viii. Controlo da quantidade e qualidade do DNA; 

 

ix. Controlo da quantidade e qualidade do RNA; 

 

x. Diluição das amostras para uma concentração de DNA semelhante (a concentração de 

DNA tem de ser constante (10ng/µl)); 

 

xi. Reagentes e DNA em alíquotas;  

 

xii. Se os reagentes não foram completamente removidos, o DNA é retomado num maior 

volume de tampão e repete‐se a precipitação; 

 

xiii. Produção de aerossóis mínima (pipetar devagar, com cuidado, evitar correntes de ar, 

portas fechadas, para evitar contaminação). 

 

 

 

 

 

 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

 

58  

E. Manuseamento da amostra 

 

i. Todas  as  transferências  de  tubos  durante  a  extracção  de  ácidos  nucleicos,  PCR  e 

digestão  são  independentemente  verificadas  pelo  operador  ou  outro  membro 

qualificado, para minimizar o risco de misturar/contaminar a amostra;  

Folhas realizadas pelo verificador para fornecer uma prova da verificação; 

Alternativamente,  duplicado  da  amostra  é  montado  em  paralelo  e  analisado 

juntamente com o original; 

 

ii. São  guardados  todos  os  números  de  lote  de  todos  os  reagentes  e  soluções  do 

laboratório, para rastreabilidade e resolução de problemas; 

 

iii. Separação das áreas de pré e pós‐PCR. Material próprio em cada área. 

 

F. Preparação da mistura PCR 

 

i. Todos os reagentes misturados num único tubo, excepto o DNA – master‐mix; 

 

ii. Reagentes armazenado em alíquotas; 

 

iii. Área própria, com material próprio, sem trocas ‐ sistema unidireccional; 

 

iv. Pontas com filtro e micropipetas calibradas; 

 

v. Realizado em ambiente semi‐estéril; 

 

vi. No  caso de  câmara de  acrílico: material  (caixa de pontas, micropipetas,  suportes)  é 

limpo  com  álcool,  introduzido  na  câmara,  ligam‐se  os UV  durante  15 minutos  e  só 

depois  se  inicia o  trabalho. No  final,  retira‐se  todo o material,  limpa‐se e  volta‐se a 

ligar os UV por 15 minutos; 

 

vii. No  espaço  dedicado  ao  pré‐PCR  a  pressão  deve  ser  positiva  e  no  espaço  de 

amplificação a pressão deve ser reduzida; 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

 

59  

viii. Primers:  qualidade,  design,  pureza  e  validação  são  controlados.  Cada  novo  lote  é 

testado para especificidade, eficiência de amplificação e ausência de  inibidores antes 

de serem utilizados; 

 

ix. Todas  as  soluções  devem  estar  fora  da  sua  temperatura  habitual  o menor  tempo 

possível – uso de gelo durante a sua utilização; 

 

x. A enzima deve ser retirada do congelador imediatamente antes de ser adicionada e é a 

última a ser introduzida na master‐mix; 

 

 

G. PCR‐RFLP/Electroforese 

 

i. Área  de  amplificação  e  detecção  separada  das  áreas  de  armazenamento  e 

processamento.  A  amplificação  e  a  detecção  podem  ser  ou  não  na  mesma  área. 

Sistema unidireccional; 

 

ii. Material próprio, sem troca; 

 

iii. Micropipetas bem calibradas; 

 

iv. Limpeza das bancas (químicos/UV); 

 

v. Utilização  de  DNA  guardado  em  alíquotas,  recorrendo‐se  ao  DNA  original  apenas 

quando a quantidade da alíquota já não é suficiente; 

 

vi. Identificação  da  amostra  certa  ‐  os  eppendorfs  devem  estar  todos  numerados  na 

tampa e não pode haver erros; 

 

vii. Todas as amostras que vão ser utilizadas têm de ser centrifugadas antes; 

 

viii. Dividir a master‐mix em tubos de PCR e só depois o DNA de cada amostra é adicionado 

(aumenta eficiência e diminui contaminação); 

 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

 

60  

ix. PCR:  uso  de  controlo  positivo  (mutações  específicas)  ou  amostras  de  genótipo 

conhecido, controlo negativo e controlo  interno. Realizar um controlo ambiental, em 

intervalos regulares, para verificar contaminação a partir do meio ambiente; 

 

x. Procedimento  padronizado  a  realizar  quando  os  resultados  dos  controlos  são 

diferentes dos esperados; 

 

xi. PCR: termociclador regulado e calibrado; optimização de protocolo; 

 

xii. RFLP:  tem  de  ser  controlado  –  adicionar marcador  de  peso molecular,  tal  como  na 

electroforese.  Também  se  pode  controlar  utilizando  bandas  satélite.  Inclusão  de 

controlo negativo; 

 

xiii. RFLP: overnight, mínimo de 16 horas. Controlo da temperatura da estufa (37°C). 

 

 

H. Real‐Time PCR  

 

i. Utilização  de  alíquotas  de  DNA,  recorrendo‐se  ao  DNA  original  apenas  quando  a 

quantidade da alíquota já não é suficiente; 

 

ii. Identificação da amostra certa. Os eppendorfs devem estar todos numerados na tampa 

e não pode haver erros; 

 

iii. Centrifugação de cada amostra; 

 

iv. Utilização de controlos negativos em maior número; 

 

v. Utilização de controlo positivo (ou amostras de genótipo conhecido); 

 

vi. A preparação da placa que vai ser  lida é feita em câmara de fluxo  laminar ‐ a câmara 

tem de ser analisada periodicamente; 

 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

 

61  

vii. As luzes UV devem estar ligadas durante 15 minutos. O material tem de ser limpo com 

álcool antes de ser introduzido na câmara e quando se retira. No final voltar a ligar UV. 

O tempo de purga deve ser respeitado; 

 

viii. Micropipetas calibradas; 

 

ix. Neste  caso,  a  master‐mix  já  vem  preparada.  Verificação  das  condições  de 

armazenamento  e  a  bula  que  a  acompanha  para  certificar  que  cumpre  todos  os 

requisitos; 

 

x. Assay: verificação de qualidade pelo fornecedor; 

 

xi. Não esquecer de tapar a placa com tira para não saltar entre poços ao centrifugar nem 

evaporar durante a leitura. 

 

 

I. Resultados 

 

i. Quando não se consegue concluir ou existem dúvidas, tem de se repetir; 

 

ii. Presença de um protocolo de confirmação dos resultados; 

 

iii. Reanálise das amostras com outro método se for possível; 

 

iv. Associação do estudo da variação em causa com outra; 

 

v. Se na reanálise os resultados diferirem mais de 5%, reanalisa‐se toda a série; 

  

vi. A leitura dos resultados é feita independentemente por duas pessoas; 

 

vii. A entrada dos resultados em base de dados é dupla; 

 

viii. Os resultados das experiências são guardados por um período mínimo de 5 anos, em 

formato electrónico, em base de dados. 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

 

62  

J. Documentação 

 

i. Conjunto de protocolos‐padrão para todas as técnicas usadas.  

 

 

K. Validação 

 

i. Testes de diagnóstico são validados para assegurar procedimentos‐padrão e que são 

adequados para o objectivo proposto; 

 

ii. Comparação  com  resultados  obtidos  noutros  laboratórios  (resultados  devem  ser 

consistentes); 

 

iii. Procedimentos de controlo de qualidade. 

 

 

L. Treino da equipa 

 

i. As  pessoas  são  devidamente  qualificadas  e  especificamente  treinadas  nos métodos 

usados e também nas regras de segurança; 

 

ii. A  equipa  é  encorajada  para  fazer  continuamente  uma  actualização  do  seu 

conhecimento, através de leitura de comunicados recentes e presença em seminários 

e conferências apropriadas; 

Mantém‐se um registo dessa formação contínua de cada membro da equipa.  

 

 

 

 

 

 

 

 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

 

63  

3. Plano de Avaliação Qualidade 

 

De  acordo  com  os  PCC  identificados  no  ponto  1,  com  os  critérios  estabelecidos,  com  as 

observações  feitas  nas  instalações  e  com  o  plano  de  controlo  de  qualidade  interno  descrito  por 

Bladbjerg  et  al.  (2002)  [29],  tenta‐se  estabelecer  uma  proposta  para  controlo  e  avaliação  da 

qualidade interna da técnica de PCR efectuada no laboratório de Oncologia Molecular do IPO‐Porto. 

Cumprindo  os  vários  pontos  é  possível  avaliar  o  próprio  processo,  concluir  sobre  a  qualidade  do 

processo e resultados, e instalar uma rotina de controlo.  

O protocolo a experimentar e implementar será o seguinte para cada PCC: 

 

A. PCC nº 1 

 

i. Certificação da qualidade, prazo, embalagem, condições do produto; 

ii. Elaboração  de  uma  ficha  de  registo  por  cada  reagente  ou  material 

recebido/preparado, com lote e data; 

iii. Frequência:  sempre que haja  recepção de novos materiais/reagentes ou preparação 

de novos reagentes. 

 

B. PCC nº 2 

 

i. Controlo da qualidade do DNA extraído; 

ii. Controlo de DNA através de electroforese em gel de agarose; pode ser utilizada uma 

digestão  do  DNA  com  uma  endonuclease  para  controlo  da  presença  de  inibidores 

enzimáticos; 

iii. Quantificação do DNA  extraído  ‐  leitura da  absorvância  a 260nm  (A260)  e  cálculo da 

concentração utilizando o  coeficiente de extinção molar  (ε = 20ml/(mg x  cm));  fazer 

média e desvio padrão dos valores das diferentes amostras; 

iv. Avaliação  da  pureza  de  DNA  –  leitura  da  absorvância  a  260  e  280nm,  divisão  dos 

valores  (A260/A280)  e  verificação  de  que  se  encontram  dentro  do  intervalo 

(1,75<A260/A280>2,0) e quantos estão fora dos parâmetros; 

v. Possibilidade de elaboração de cartas de controlo e registos; 

vi. Frequência: 0,5‐1% das amostras mensais; 

vii. Elaboração  de  ficha  de  registo  da  calibração  das  micropipetas;  estas  devem  ser 

calibradas semestral ou anualmente. 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

 

64  

C. PCC nº 3 

 

i. Elaboração de fichas de registo da temperatura para cada frigorífico e arca – garantia 

de bons processos de conservação; podem‐se elaborar cartas de controlo; 

ii. Frequência  de  registo  da  temperatura:  todos  os  dias,  com  a  assinatura  da  pessoa 

responsável;  

iii. Se possível,  implementar  o  teste de DNAses  –  garantia de DNA  não degradado por 

exclusão  de  enzimas  que  o  degradem  durante  o  seu  armazenamento;  resultado 

positivo ou negativo; 

iv. Frequência do teste de DNAses – em 0,5‐1% das amostras mensais. 

 

D. PCC nº 4 

 

i. Utilização de controlos negativos no PCR‐RFLP e Real‐Time PCR em todas as análises; 

ii. Utilização de controlo positivo ou amostra de genótipo conhecido, quando possível, no 

PCR‐RFLP e Real‐Time PCR; 

iii. Não é viável a utilização de controlo interno; 

iv. Inclusão de marcador de peso molecular na electroforese em todas as análises; 

v. Utilização de um controlo ambiental no PCR‐RFLP e Real‐Time PCR, mensalmente; 

vi. Confirmação dos  resultados:  repetição de 10% dos casos de estudo, aleatoriamente, 

em todos os estudos; 

vii. Registo  de  casos  em  que  os  controlos  ou  a  confirmação  não  dão  os  resultados 

esperados (repetição de toda a série); 

viii. Estudo da percentagem de casos em que os controlos não dão o resultado esperado e 

de reanálises; 

ix. Registo das calibrações e verificações do termociclador (anualmente); 

x. Elaboração  de  ficha  de  registo  da  calibração  das  micropipetas;  estas  devem  ser 

calibradas semestral ou anualmente; 

xi. Elaboração da ficha de registo da temperatura da estufa (37°C) utilizada no RFLP – uma 

vez por dia o operador regista a temperatura e assina.  

 

E. PCC nº 5 

 

i. Leitura feita por duas pessoas, de modo independente, em todas as análises; 

Proposta de Modelo de Controlo e Garantia da Qualidade  

 

65  

ii. Registo de percentagem de erros ocorridos durante o controlo (<1%). 

 

F. PCC nº 6 

 

i. Entrada dupla dos dados,  feita por duas pessoas de modo  independente, em 0,5‐1% 

das amostras; 

ii. Registo de percentagem de erros ocorridos durante o controlo (<1%); 

 

 

 

  V. Resultados e Discussão 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Resultados e Discussão 

67  

1. Adaptação de um Plano HACCP 

 

O plano HACCP apresentado pretende resumir as etapas mais importantes da técnica de PCR 

e  os  seus  principais  cuidados,  identificar  perigos,  PCC,  medidas  preventivas,  de  controlo  e 

correctivas.  Dos  sete  Princípios  do  HACCP,  apenas  foram  cumpridos  os  Princípios  1‐5  e  com  a 

implementação  do  plano  de  avaliação  da  qualidade  interna  tornar‐se‐á  viável  a  realização  dos 

Princípios 6 e 7. Os Princípios 1‐5  foram sendo cumpridos à medida que se seguiram os 12 Passos 

estipulados para a  implementação do sistema HACCP. Os passos 2‐10  foram cumpridos através da 

elaboração das Tabelas 9‐15 e Figuras 6 e 7. Também aqui, os passos em falta (1, 11 e 12) poderão 

ser  cumpridos  ao  implementar  o  plano  da  avaliação  da  qualidade  estipulado.  Com  essa 

implementação vai nascer a necessidade de designar uma equipa HACCP, responsável por cumprir o 

protocolo, por verificar que todo o plano é cumprido e verificar e elaborar os registos, atingindo‐se 

assim  os  pontos  1,  11  e  12.  Não  se  estabeleceu  um  documento  de  requerimentos‐base  e  pré‐              

‐requisitos  do  laboratório  necessários  ao  estabelecimento  deste  plano,  no  entanto,  muitas  das 

indicações descritas nas  tabelas de  cada etapa da  técnica  constituem as boas práticas necessárias 

para o trabalho diário.  

Através da adaptação de um plano HACCP,  foram  identificados  seis PCC para a  técnica de 

PCR e estabelecida uma proposta para o seu controlo e avaliação, como já foi referido. 

Nas  tabelas  foram  referidos os  cuidados e especificações necessárias durante a prática de 

PCR, que  foram  também utilizadas nos critérios. O cumprimento desses critérios será discutido no 

ponto seguinte. 

 

 

2. Análise dos Resultados da Observação dos Colaboradores e Utilização dos Critérios 

 

Após  a  elaboração  dos  critérios,  os  vários  colaboradores  do  laboratório  foram 

acompanhados, na prática de PCR‐RFLP e Real‐Time PCR, com o objectivo de verificar se cumpriam as 

condições necessárias. Essa observação está resumida nas Tabelas 16‐18. 

Resultados e Discussão  

68  

A. Critérios pré‐analíticos 

 

Tabela 16 ‐ Cumprimento de critérios pré‐analíticos. 

  Colaborador (nº)

Etapa/Critério 1  2 3 4 5 6 7 8  9 10 11 12 13 14 15 16 

Processamento de sangue e extracção dos ácidos nucleicos  

                               

Medidas para minimizar risco de contaminação  

‐  ‐  ‐  ‐  ‐  S  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  S  ‐  S  ‐ 

Uso de espaços dedicados somente ao processo de processamento e extracção  

‐  ‐  ‐  ‐  ‐  S  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  S  ‐  S  ‐ 

Utilização de material próprio da área e do protocolo  

‐  ‐  ‐  ‐  ‐  S  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  S  ‐  S  ‐ 

Processamento da amostra (sangue) efectuado dentro de 72h após colheita  

‐  ‐  ‐  ‐  ‐  S  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  S  ‐ 

Controlo da quantidade e qualidade do DNA  

‐  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  N  ‐  ‐  ‐ 

Reagentes e DNA em alíquotas  

‐  ‐  ‐  ‐  ‐  S  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  S  ‐  S  ‐ 

Produção de aerossóis Mínima  

‐  ‐  ‐  ‐  ‐  S  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  S  ‐  S  ‐ 

Etiquetagem ‐  ‐ ‐ ‐ ‐ S ‐ ‐  ‐ ‐ ‐ ‐ S ‐ S ‐ 

Resultados e Discussão  

69  

  Colaborador (nº)

Etapa/Critério 1  2 3 4 5 6 7 8  9 10 11 12 13 14 15 16 

Manuseamento da amostra  

                               

Verificação por outro operador  

N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  ‐  N 

Etiquetagem S  S S S S S S S  S S S S S S ‐ S S, Sim; N, Não. 

 

B. Critérios analíticos 

 

Tabela 17 – Cumprimento de critérios analíticos. 

  Colaborador (nº)

Etapa/Critério 1  2 3 4 5 6 7 8  9 10 11 12 13 14 15 16 

Preparação da master‐mix  

                               

Reagentes em alíquotas 

S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  ‐  ‐  S 

Área própria  

N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  ‐  ‐  N 

Material adequado existente na área  

S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  ‐  ‐  S 

Realizada em câmara 

S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  ‐  ‐  S 

Micropipetas calibradas 

N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  ‐  N 

Funcionamento adequado dos UV da câmara  

S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  ‐  S 

Teste dos primers N  N N N N N N N  N N N N N N ‐ N 

Tabela 16 ‐ Cumprimento de critérios pré‐analíticos (cont.).

Resultados e Discussão  

70  

  Colaborador (nº)

Etapa/Critério 1  2 3 4 5 6 7 8  9 10 11 12 13 14 15 16 

Preparação da master‐mix (cont.)  

                               

Cuidados com a temperatura dos reagentes  

S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  S  ‐  S 

Uso de gelo 

N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  ‐  N 

Adição da enzima em último  

S  S  ‐  S  S  S  ‐  S  S  S  S  S  S  ‐  ‐  S 

PCR‐RFLP  

                               

Áreas separadas 

S  S  N  S  S  S  ‐  S  S  S  S  S  S  ‐  ‐  S 

Sistema unidireccional  

N  N  N  N  N  N  ‐  N  N  N  N  N  N  ‐  ‐  N 

Material próprio da área  

S  S  S  S  S  S  ‐  S  S  S  S  S  S  ‐  ‐  S 

Pipetas calibradas 

N  N  N  N  N  N  ‐  N  N  N  N  N  N  ‐  ‐  N 

Utilização de alíquotas de DNA 

S  S  ‐  S  S  S  ‐  S  S  S  S  S  S  ‐  ‐  S 

Correcta identificação dos casos/controlos  

S  S  S  S  S  S  ‐  S  S  S  S  S  S  ‐  ‐  S 

Centrifugação prévia dos casos  

S  S  S  S  S  S  ‐  N  N  S  S  S  N  ‐  ‐  S 

Primeiro adiciona‐se a master‐mix a cada tubo e só depois o DNA   

S  S  S  S  S  S  ‐  S  S  S  S  S  S  ‐  ‐  S 

Tabela 17 – Cumprimento de critérios analíticos (cont.).

Resultados e Discussão  

71  

  Colaborador (nº)

Etapa/Critério 1  2 3 4 5 6 7 8  9 10 11 12 13 14 15 16 

PCR‐RFLP (cont.) 

                               

Controlo positivo/amostras com genótipo conhecido  

N  N  S  N  N  N  ‐  N  S  N  N  N  N  ‐  ‐  S 

Controlo negativo 

S  S  S  S  S  S  ‐  S  S  S  S  S  S  ‐  ‐  S 

Controlo interno 

N  N  N  N  N  N  ‐  N  N  N  N  N  N  ‐  ‐  N 

Controlo ambiental 

N  N  N  N  N  N  ‐  N  N  N  N  N  N  ‐  ‐  N 

Controlo negativo e marcador de peso molecular  

S  S  S  S  S  S  ‐  S  S  S  S  S  S  ‐  ‐  S 

Real‐time PCR 

                               

Utilização de alíquotas de DNA  

S  S  ‐  S  S  S  ‐  ‐  ‐  ‐  ‐  S  S  S  ‐  S 

Identificação correcta dos casos  

S  S  ‐  S  S  S  S  ‐  ‐  ‐  ‐  S  S  S  ‐  S 

Centrifugação dos casos 

S  S  ‐  S  S  S  S  ‐  ‐  ‐  ‐  S  N  S  ‐  S 

Controlos negativos 

S  S  ‐  S  S  S  S  ‐  ‐  ‐  ‐  S  S  S  ‐  S 

Controlo positivo 

N  N  ‐  N  N  N  S  ‐  ‐  ‐  ‐  N  N  N  ‐  N 

Controlo interno 

N  N  ‐  N  N  N  S  ‐  ‐  ‐  ‐  N  N  N  ‐  N 

Pipetas calibradas  

N  N  ‐  N  N  N  N  ‐  ‐  ‐  ‐  N  N  N  ‐  N 

Tabela 17 – Cumprimento de critérios analíticos (cont.).

Resultados e Discussão  

72  

  Colaborador (nº)

Etapa/Critério 1  2 3 4 5 6 7 8  9 10 11 12 13 14 15 16 

Real‐time PCR (cont.) 

                               

Utilização correcta da câmara: UV/Purga  

S/N  S/N  ‐  S/N  S/N  S/N  S/S  ‐  ‐  ‐  ‐  S/N  S/N  S/N  ‐  S/N 

Cumprimento de todos os cuidados necessários durante a manipulação 

S  S  ‐  S  S  S  S  ‐  ‐  ‐  ‐  S  S  S  ‐  S 

S, Sim; N, Não. 

 

C. Critérios pós‐analíticos 

 

Tabela 18 – Cumprimento de critérios pós‐analíticos. 

  Colaborador (nº)

Etapa/Critério 1  2 3 4 5 6 7 8  9 10 11 12 13 14 15 16 

Resultados  

                               

Confirmação dos resultados   

S  S  ‐  S  S  S  ‐  S  S  S  S  S  S  S  ‐  S 

Leitura dos resultados feita independentemente por duas pessoas  

S  S  N  S  S  S  N  S  S  S  S  S  S  S  ‐  S 

Entrada dupla na base de dados 

N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  N  ‐  N 

S, Sim; N, Não. 

Tabela 17 – Cumprimento de critérios analíticos (cont.).

Resultados e Discussão 

73  

Tendo  em  conta  as  Tabelas  HACCP  elaboradas  para  a  técnica  de  PCR,  os  critérios  que 

remeteram para os colaboradores e a observação destes no  laboratório, podem‐se retirar algumas 

conclusões em cada etapa do processo. De um modo geral,  todos os colaboradores cumpriram os 

requisitos mínimos da prática de PCR. 

 

A. Critérios pré‐analíticos 

 

 Rapidamente  se  verifica  nas  etapas  de  processamento  de  sangue,  extracção  de  DNA  e 

manuseamento da amostra (Tabela 16) que os dois únicos pontos não cumpridos são o controlo da 

qualidade e quantidade de DNA e a verificação por outro operador. O controlo do DNA foi  incluído 

no  plano  de  avaliação  da  qualidade  proposto, mas  a  verificação  por  outro  operador  de  todo  o 

manuseamento da amostra pode ser complicado de implementar e por isso pode ser substituído por 

folhas de registo em que o operador assinala se efectuou ou não todos os requisitos.  

 

B. Critérios analíticos 

 

Relativamente aos critérios analíticos (Tabela 17), é de salientar os seguintes aspectos: 

 

i. Embora  existam  áreas  separadas  e  muitas  das  guidelines  para  as  áreas  sejam 

cumpridas, existem algumas excepções, como é o caso da preparação da master‐mix que é feita na 

mesma  área  de  amplificação  e  de  algumas  das  salas  se  encontrarem  no mesmo  piso,  de modo 

contínuo;  apesar  disso,  existe  uma  boa  separação  das  diferentes  fases  do  processo,  que  parece 

garantir a obtenção de bons resultados; 

 

ii. A  calibração das micropipetas é muito  importante e não existe nenhum  registo da 

sua  frequência,  tendo‐se  verificado  que  grande  parte  se  encontra  descalibrada;  por  essa mesma 

razão  é  proposta  a  elaboração  de  um  registo  e  a  calibração  das  micropipetas  semestral  ou 

anualmente; 

 

iii. Os  primers  não  são  testados  antes  de  serem  utilizados  nos  ensaios;  no  entanto  a 

certificação de qualidade que os acompanha é verificada. Apesar da importância que tem, o controlo 

dos  primers  não  foi  incluído  no  plano  de  avaliação;  futuramente,  se  necessário,  este  ponto  será 

também incluído; 

 

Resultados e Discussão 

74  

iv. O uso de gelo é aconselhado pois, para além de manter a temperatura  ideal para a 

conservação das enzimas utilizadas durante o  trabalho, evita que os  colaboradores  se  levantem a 

meio do PCR, o que pode levar a algumas contaminações (correntes de ar, esquecimento da troca de 

luvas, etc.), assim como se cumpriria melhor o sistema unidireccional de salas; 

 

v. Centrifugação das amostras nem sempre é  feita, provavelmente por esquecimento; 

em amostras com pouca quantidade, a centrifugação é essencial e na maioria das vezes é feita; 

 

vi. A utilização de um controlo positivo de referência ou de uma amostra de genótipo 

conhecido é muito comum em dois colaboradores, em  testes de virologia, onde  também se utiliza 

controlo interno, mas cujos ensaios já obedecem a um plano de controlo de qualidade; no PCR‐RFLP 

e Real‐Time que  se avaliou, não é habitual usar, demonstrando  a dificuldade de obtenção de um 

controlo  de  referência  em  testes  genéticos,  principalmente  quando  se  trabalha  com 

mutações/polimorfismos; o uso de uma amostra cujo genótipo é já conhecido pode representar um 

maior gasto da amostra, que ainda pode ser útil noutros estudos, ficando a cargo do responsável o 

seu uso ou não; 

 

vii. Não  se  utiliza  controlo  interno,  o  que  se  justifica  pelo  alargado  número  de 

polimorfismos que são estudados, o que  iria  introduzir um gasto superior ao normal; registou‐se a 

utilização de controlo interno nos testes de virologia, onde se utilizam kits para identificar a presença 

de alguns vírus e onde o controlo de qualidade está bem implementado, como já se referiu; 

 

viii. O  controlo ambiental não é utilizado, mas está proposto no plano de avaliação da 

qualidade; 

 

ix. A  câmara  de  fluxo  laminar  exige  um  certo  número  de  cuidados  para  o  seu 

funcionamento, como os UV durante 15 minutos (início e fim) e um tempo de purgação (5 minutos); 

só depois destes dois passos se deve iniciar o trabalho na câmara, mas nem sempre é cumprido; no 

entanto, pensa‐se que este pequeno esquecimento não tem sido determinante nos resultados; 

 

x. A câmara de fluxo laminar é verificada todos os anos, já existindo um registo, que se 

encontra actualizado; 

 

Resultados e Discussão 

75  

xi. Um parâmetro de prevenção de contaminação muito  importante é o uso de  luvas. 

Em  geral,  todos os  colaboradores usam  luvas nas mais diversas operações,  com  excepção de um 

esquecimento que  se deveu à  inexperiência do operador. No entanto, a  troca de  luvas não é por 

vezes respeitada. 

 

C. Critérios pós‐analíticos 

 

Em  geral,  todos  os  resultados  são  verificados  por  duas  pessoas. A  introdução  na  base  de 

dados é feita apenas por uma pessoa e não parece exequível que se faça sempre por duas pessoas. 

Por  esta  razão  estabeleceu‐se  no  plano  de  avaliação  da  qualidade  que  só  para  uma  certa 

percentagem de amostras ou ensaios se faria a entrada através de duas pessoas. Nos casos em que 

se verifique que os erros são em grande escala, terão de ser tomadas as medidas adequadas.  

 

D. Critérios gerais referentes ao laboratório 

 

Para além dos critérios relacionados com a prática diária dos colaboradores nas técnicas de 

PCR,  também  foram  adaptados  critérios  gerais  do  laboratório  em  termos  de  organização,  de 

recursos,  etc.,  que  foram  verificados  diariamente,  por  visualização,  ou  por  questões  a  alguns 

colaboradores mais antigos do laboratório. Os critérios são os descritos na parte IV deste trabalho e 

os resultados da visualização/questionário encontram‐se explicados seguidamente. De salientar que 

existe  uma  fase  do  processo  explicada  nas  tabelas  HACCP  que  não  se  encontra  nos  critérios:  a 

recolha da amostra. Esta fase não é feita por nenhum dos colaboradores do laboratório e por isso é 

de  difícil  controlo  por  parte  do  laboratório  de  Oncologia  Molecular.  No  entanto  é  uma  fase 

determinante  do  processo,  que  deve  ser  controlada  pelos  pré‐requisitos,  cumprindo‐se  todos  os 

cuidados. 

 

i. Recepção da amostra 

 

A nível da recepção da amostra, os critérios são em geral cumpridos. A  informação 

está armazenada em base de dados, havendo mesmo um grupo de indivíduos responsável, mas estas 

não possuem palavra‐chave. No entanto, essa é uma medida a  implementar, assim como a criação 

de uma cópia de segurança.  

Quando  uma  amostra  do  IPO  é  recebida  com  uma  informação  incompleta  ou 

incorrecta,  recorrem  ao  arquivo  de  registo  clínico;  se  for  do  Hospital  de  S.  João  ou  do  Hospital 

Resultados e Discussão 

76  

Militar, entra‐se em contacto com o médico responsável pela base de dados desse local. Quando há 

alguma alteração a fazer, actualiza‐se simplesmente a base de dados.  

Os tubos têm etiquetas impressas, com duas ou mais informações do doente. 

 

ii. Reagentes – recepção, transporte e armazenamento 

 

Neste ponto quase  todos os critérios  são cumpridos, desde as  limpezas, ao material 

utilizado, alíquotas e fornecedores. As únicas excepções, já referidas anteriormente, dizem respeito à 

separação  de  áreas  e  sistema  unidireccional, mas  tal  não  parece  comprometer  a  qualidade  dos 

resultados.  

 

iii. Transporte e armazenamento da amostra 

 

Em relação ao transporte e armazenamento da amostra, não se consegue ter um bom 

controlo  no  transporte  dos  tubos  de  colheitas  com  origem  noutro  Hospital  que  não  o  IPO.  No 

entanto, está garantido o processamento do sangue no próprio dia em que a amostra é recolhida e 

recebida.  

Relativamente a todas as outras especificações de temperatura e cuidados da amostra, 

estas  são cumpridas, com excepção do controlo de  temperatura das arcas e  frigoríficos e por  isso 

mesmo  foi sugerido o  registo dessa mesma  temperatura por um membro  responsável. No que diz 

respeito ao duplicado, existe uma reserva de sangue e pellet celular, mas não se armazena gotas de 

sangue em papel 3MM como acontece em alguns  laboratórios de diagnóstico. Na  identificação dos 

tubos  e  eppendorfs  utilizam‐se  mais  dados  em  números,  pois  embora  mais  sujeitos  a  erros, 

correspondem a números internos, o que facilita a procura de informação, quando necessário.   

 

iv. Processamento de sangue e extracção de ácidos nucleicos 

 

Todos  os  cuidados  relativos  à  limpeza  e  material  são  cumpridos,  assim  como  os 

cuidados  de  pipetagem.  Os  restantes  requisitos  de  separação  de  salas,  sistema  unidireccional  e 

cuidados dos colaboradores já foram referidos.  

Existe  um  registo  de  todos  os  tubos  de  sangue  recebidos,  com  as  informações 

necessárias, assinado pelo próprio operador. 

É importante referir que, no decorrer deste trabalho, o laboratório esteve em processo 

de automatização da etapa de extracção dos ácidos nucleicos e vai  ser possível a utilização desse 

sistema em breve. 

Resultados e Discussão 

77  

v. Manuseamento da amostra 

 

Como  já  foi  referido,  as  operações  não  são  habitualmente  verificadas  por  outro 

operador, não existe  registo das várias  fases do processo, nem nenhum duplicado é analisado em 

paralelo, pois não se considera importante nesta fase. No plano de avaliação da qualidade sugere‐se 

um registo que possa ser verificado ou preenchido pelo próprio operador.  

Relativamente aos reagentes, alguns são preparados pelos próprios colaboradores do 

laboratório, ficando isso registado, mas outros são adquiridos aos fornecedores. Quando há recepção 

destes reagentes, para além de todos os cuidados de verificação de embalagem, prazo, certificação 

de  qualidade,  etc.,  deve‐se  criar  uma  folha  de  registo,  com  o  lote,  prazo  e  todas  as  informações 

necessárias, de modo a facilitar a consulta de informação e a identificação de um lote que se conclua 

mais tarde que não se encontra nas devidas condições. Este procedimento ainda não é realizado pelo 

laboratório.  

 

vi. Preparação da mistura PCR, PCR‐RFLP/Electroforese, Real‐Time PCR 

 

Os requisitos referentes a estes três pontos  já foram, na sua maioria, mencionados e 

discutidos anteriormente, a partir da Tabela 17. É importante confirmar que não há controlo sobre as 

condições  de  pressão  atmosférica  nos  locais  de  pré‐PCR  e  de  amplificação, mas  parece  não  ter 

importância o  suficiente para  ser  colocado no plano de avaliação da qualidade. Além disso,  já  foi 

referida  a  necessidade  de  registo  de  funcionamento  do  equipamento,  e  por  isso  se  sugeriu  a 

elaboração de folhas de registo e de calibração dos termocicladores. O protocolo de PCR é sempre 

optimizado no início da experiência. 

Quando  os  controlos  positivos  ou  negativos  apresentam  um  resultado  diferente  do 

esperado, a análise é repetida. No caso de se manter essa diferença, tenta‐se analisar em grupo as 

razões  que  podem  levar  a  esses  resultados  e  como  as  corrigir  (mudança  de  reagentes,  primers, 

melhoria das limpezas efectuadas, etc.).  

 

vii. Resultados 

 

Sempre  que  existe  alguma  dúvida  no  resultado,  o  ensaio  é  repetido  e  já  existe  no 

laboratório um protocolo de confirmação de  resultados que  se manteve no plano de avaliação de 

qualidade  proposto:  confirmação  de  10%  dos  resultados,  escolhidos  ao  acaso.  Na  Tabela  12 

apresenta‐se um plano de  confirmação proposto por Bladbjerg et al.  (2002)  [29], muito  completo 

mas que não é facilmente exequível numa primeira fase, parecendo a confirmação de 10% uma boa 

Resultados e Discussão 

78  

escolha de momento. O cruzamento de resultados dos estudos de diferentes polimorfismos proposto 

nesse mesmo plano de  confirmação dos  resultados  já  é habitualmente  feito pelos  colaboradores. 

Limitou‐se o erro máximo possível na confirmação de resultados a 5% de discordância. Os dados são 

armazenados sem período mínimo, ficando sempre disponíveis para consulta.  

 

viii. Documentação 

 

Relativamente  à  documentação,  durante  o  decorrer  deste  trabalho  estavam  a  ser 

elaborados protocolos‐padrão para cada etapa da técnica de PCR.  

 

ix. Validação 

 

Ainda não existem procedimentos de validação para as  técnicas de PCR utilizadas na 

análise  de  polimorfismos  no  laboratório  de  Oncologia  Molecular  do  IPO‐Porto.  Existe  um  bom 

sistema de  garantia de qualidade para os  testes de  virologia, que poderá, no  futuro,  servir  como 

exemplo, mas que não  é o  âmbito deste  trabalho. Com  a proposta deste modelo de  controlo de 

qualidade  e  a  sua  futura  implementação,  espera‐se  criar  algumas  bases  que  possam  levar  a 

procedimentos de validação.  

Na  validação  devem  ser  incluídos  controlos  de  referência  e  a  participação  em 

esquemas de controlo de qualidade externo, assegurando‐se  regularmente o desempenho  técnico 

dos  testes. Não esquecer, no entanto, que a validação pode ser particularmente difícil para  testes 

genéticos de doenças raras, onde pode ser mais complicado obter controlos positivos de mutações. 

Existem também poucos guias nos requisitos mínimos de validação.  

 

x. Treino da equipa 

 

Cada  colaborador  é  ensinado,  treinado  e  supervisionado  inicialmente,  de  modo  a 

adquirir todas as competências necessárias. Além disso, é continuamente motivado a adquirir mais 

conhecimentos e melhorar os  já existentes, em seminários e conferências, mas não se mantém no 

laboratório um registo dessa actualização constante.  

 

 

 

 

Resultados e Discussão 

79  

3. Plano de Avaliação de Qualidade 

 

O plano de avaliação de qualidade resume a avaliação dos PCC da técnica de PCR, adaptada 

ao  laboratório de Oncologia Molecular do  IPO‐Porto. Este plano  introduz a elaboração de folhas de 

registo de cada etapa e a sua avaliação, novos testes de controlo (ex: teste de DNAses, controlo de 

qualidade do DNA através da  leitura da absorvância) e a proposta de uma  frequência de controlo 

adequada a cada etapa e ao laboratório, de modo a possibilitar o estabelecimento de uma rotina de 

controlo apropriada e de fácil execução. 

O  plano  de  avaliação  de  qualidade  proposto  ainda  não  foi  testado  ou  implementado.  O 

objectivo é o de introduzir este modelo na rotina diária do laboratório e inserir modificações práticas 

que  sejam  necessárias,  para  que  possa  ser  aperfeiçoado  de  forma  contínua,  evoluir  e  ser 

implementado futuramente.  

 

 

 

 

VI. Conclusões e Perspectivas 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Conclusões e Perspectivas  

81  

  Nas  últimas  décadas,  os  grandes  avanços  na  área  da  qualidade,  nomeadamente  no  seu 

controlo, garantia e gestão, fizeram‐se sentir nas mais diversas áreas. Iniciando‐se esta preocupação 

principalmente com a revolução industrial, em que as técnicas de produção passaram a ser baseadas 

no conceito de produção em série, rapidamente se notou a necessidade de uma  inspecção final ao 

produto. Gradualmente este género de controlo foi evoluindo, introduzindo‐se as cartas de controlo, 

a  inspecção  por  amostragem  e  a  necessidade  de  controlar  não  só  o  produto  final mas  todas  as 

diferentes fases do processo. Surgiu posteriormente o conceito de TQM,  já referido neste trabalho, 

como uma metodologia de gestão, fonte inspiradora de modelos de qualidade, em que para além de 

se ter em consideração os princípios da garantia da qualidade,  incorpora‐se também a necessidade 

de cumprir os requisitos implícitos e explícitos dos clientes, accionistas, fornecedores e da sociedade 

em que se integra a organização. 

  O principal e primeiro sector onde todos estes conceitos evoluíram foi o sector industrial de 

produção. No entanto, hoje em dia a qualidade alcançou todos os sectores, empresas, organizações 

e,  inclusive,  laboratórios de análise e diagnóstico, onde a necessidade de padronização, controlo e 

garantia  de  qualidade  se  sentiu,  tornando‐se  pontos  muito  importantes  da  rotina  diária.  O 

laboratório  clínico  actual  está  rapidamente  a  transformar‐se  num  sistema  altamente  eficiente  e 

automatizado, ao qual os testes genéticos não podem escapar, necessitando de controlo e validação 

como qualquer outro ensaio. A técnica de PCR é utilizada em grande parte dos testes genéticos de 

biologia molecular, constituindo uma técnica muito sensível, onde o controlo de qualidade pode, por 

vezes, tornar‐se complicado. 

  Neste  trabalho pretendeu‐se propor um modelo de  avaliação da qualidade  interna para  a 

técnica de PCR‐RFLP e Real‐Time PCR, ambos qualitativos, no laboratório de Oncologia Molecular do 

IPO‐Porto. Ambas são técnicas de rotina, praticadas diariamente neste laboratório para investigação 

de polimorfismos e  também nos  testes de virologia, em que esta última parte não  foi objecto de 

estudo pois possui  já uma forte componente de controlo de qualidade. Utilizou‐se como base para 

este modelo o sistema de gestão de qualidade HACCP, cuja eficiência está já comprovada.  

  Como  já  foi  referido,  o  projecto  consistiu  na  observação  dos  vários  colaboradores  do 

laboratório,  de modo  a  poder  desenhar‐se  os  fluxogramas  das  duas  técnicas,  sintetizar  cuidados, 

critérios, verificar o seu cumprimento e identificar os principais PCC. Posto isto, propor um plano de 

avaliação adoptado ao laboratório em causa. 

  As observações  feitas,  juntamente com a devida  revisão bibliográfica, permitiram a síntese 

dos vários passos, medidas de prevenção, controlo e correcção, onde  se utilizaram os Princípios e 

tabelas HACCP como base do trabalho. Tendo em conta  isto e as guidelines de Patton e Stenhouse 

(2002)  [30], elaboraram‐se  folhas de  critérios,  facilmente utilizadas durante a observação de  cada 

colaborador. No final das observações, e como se pode verificar na parte VI deste trabalho, pode‐se 

Conclusões e Perspectivas  

82  

concluir que, em geral, os cuidados básicos são cumpridos, o que por si só pode garantir a qualidade 

dos  resultados  obtidos.  No  entanto,  existe  falta  de  registos  de  erros,  falta  de  calibração  de 

instrumentos e, principalmente, não existe controlo da qualidade durante o processo, especialmente 

durante o manuseamento da amostra e extracção dos ácidos nucleicos. Por isso mesmo, ao elaborar 

o plano de controlo, introduziu‐se em todas as fases a elaboração de folhas de registos (temperatura, 

verificação  de  procedimentos,  erros,  calibrações,  etc.)  e  uma  fase  de  controlo  a  realizar  após  a 

extracção dos ácidos nucleicos.  

  Apesar da grande necessidade de controlo e garantia de qualidade, não se torna exequível a 

realização  de  todos  os  passos  do  plano  em  todas  as  amostras.  Existem  aqueles  em  que  isso  é 

necessário,  por  exemplo  na  utilização  de  controlo  negativo, mas  em muitos  deles,  para  além  de 

trabalhoso,  seria  um  gasto  desnecessário.  Por  isso,  futuramente,  ao  experimentar  e  implementar 

este plano, convém que se faça apenas numa pequena percentagem de amostras (0,5‐1%), por um 

grupo de pessoas destacadas para o caso.  

  Com o  trabalho  realizado e o modelo proposto  levantaram‐se questões  importantes neste 

laboratório  e  talvez  se  possa  iniciar  uma  nova  etapa  no  futuro,  com  a  implementação  deste 

protocolo  na  rotina  do  laboratório.  Este  trabalho  não  pretende  apresentar  um modelo  final  ou 

estático, mas  sim  um  começo,  algo  que  tem  de  ser  experimentado,  praticado  e  continuamente 

melhorado, de modo a  integrar as tendências mais  futuristas da qualidade, que têm vindo a surgir 

nos últimos anos. Sem dúvida que entramos em anos de revolução de qualidade, de mudança, que 

parecem trazer novas oportunidades para gerir e regular a qualidade de hoje e melhorar a qualidade 

de amanhã, e que todos os laboratórios, de diagnóstico ou investigação, devem tentar acompanhar. 

A forma mais tradicional de controlo de qualidade ainda se mantém, mas cada vez mais o caminho 

certo parece ser o de compreensão de cada passo  isolado, a função de cada passo no processo e o 

processo total, de modo a identificar, corrigir e prevenir. Compreender também o que o sistema de 

controlo de qualidade pode ou não fazer. No fundo, adoptar um conceito de design, de desenhar ou 

adoptar  um  esquema  de  controlo  e  garantia  de  qualidade mais  completo,  que monitorize mais 

pormenorizadamente os elos mais fracos do processo [19].  

No entanto, não se pode esquecer uma questão fundamental: será que todo este movimento 

de  implementar  qualidade  irá  realmente  melhorar  a  qualidade  dos  ensaios  genéticos  e  assim 

proteger os pacientes? Não  irá ele duplicar os mecanismos reguladores e acreditações, aumentar o 

trabalho  administrativo  e  os  custos  de  laboratório  e  assim  limitar  o  acesso  público  aos  testes 

genéticos  [23]?  As  respostas  a  estas  perguntas  ainda  não  são  conhecidas  dos  laboratórios. Mas 

pensa‐se que uma das  vantagens de adoptar um modelo de qualidade desenhado e adaptado ao 

local  será  o  de  contornar  essa  possível  desvantagem,  permitindo  o  desenvolvimento  de  novas 

abordagens para a gestão da qualidade total de um laboratório.  

  VII. Bibliografia 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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