Debates técnicos sobre concreto usinado

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Debates Técnicos Concreto dosado em central Prazo de validade do concreto usinado torna seu fornecimento dependente de planejamento rigoroso e de uma relação de confiança com fornecedores Por Gisele C. Cichinelli Edição 155 - Junho/2014 http://construcaomercado.pini.com.br/negocios-incorporacao-construcao/155/artigo313030- 3.aspx Apenas 20% do cimento produzido no Brasil é destinado a centrais dosadoras de concreto. O número explicita uma realidade do setor: a utilização do produto em território nacional está muito aquém de outros países em desenvolvimento. No Panamá, por exemplo, 40% da produção de cimento segue para as usinas, enquanto no Chile esse índice é de 44% e no México, 35%. A comparação com os países desenvolvidos mostra uma distância ainda maior. As centrais alemãs, portuguesas e espanholas consomem aproximadamente 80% do cimento produzido nesses países. A autoconstrução é apontada como o grande obstáculo para o avanço do produto no mercado brasileiro. "Nas periferias, há prédios de até sete andares sendo construídos com concreto virado em obra, de modo totalmente informal", conta Arcindo Vaquero y Mayor, coordenador técnico da Associação Brasileira de Empresas de Serviços de Concretagem (Abesc). Mesmo com as dificuldades de avançar no mercado informal, o setor reconhece a necessidade de conquistar mais espaço. A aposta é na demanda das obras de infraestrutura. "Há espaço para crescimento, mas para que isso ocorra, precisamos superar entraves, como as limitações burocráticas para a compra de caminhões", observa George Hilton Beato, gerente técnico da InterCement. O avanço do uso do concreto usinado em programas habitacionais, bem como a venda direta do produto para o consumidor final, poderiam contribuir para mudar o panorama do setor. Daniel Franco da Silva, gerente de controle tecnológico da Falcão Bauer, conta que atualmente as centrais dosadoras são normatizadas e seguem os procedimentos padrões indicados pela NBR 7.212 - Execução de Concreto Dosado em Central, podendo atender desde pequenas a grandes obras. Ele lembra, porém, que a mesma norma define que o volume mínimo Recebimento de concreto usinado no canteiro requer do construtor planejamento apurado. As concreteiras, por sua vez, têm como desafio a garantia do fornecimento nos prazos e qualidade contratados

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Debates Técnicos

Concreto dosado em central

Prazo de validade do concreto usinado torna seu fornecimento dependente de planejamento rigoroso e de uma relação de confiança com fornecedores Por Gisele C. Cichinelli Edição 155 - Junho/2014 http://construcaomercado.pini.com.br/negocios-incorporacao-construcao/155/artigo313030-3.aspx

Apenas 20% do cimento produzido no Brasil

é destinado a centrais dosadoras de concreto.

O número explicita uma realidade do setor:

a utilização do produto em território

nacional está muito aquém de outros países

em desenvolvimento. No Panamá, por

exemplo, 40% da produção de cimento

segue para as usinas, enquanto no Chile esse

índice é de 44% e no México, 35%. A

comparação com os países desenvolvidos

mostra uma distância ainda maior. As

centrais alemãs, portuguesas e espanholas

consomem aproximadamente 80% do

cimento produzido nesses países.

A autoconstrução é apontada como o grande

obstáculo para o avanço do produto no

mercado brasileiro. "Nas periferias, há

prédios de até sete andares sendo

construídos com concreto virado em obra,

de modo totalmente informal", conta

Arcindo Vaquero y Mayor, coordenador

técnico da Associação Brasileira de

Empresas de Serviços de Concretagem

(Abesc).

Mesmo com as dificuldades de avançar no

mercado informal, o setor reconhece a necessidade de conquistar mais espaço. A aposta é na demanda das

obras de infraestrutura. "Há espaço para crescimento, mas para que isso ocorra, precisamos superar entraves,

como as limitações burocráticas para a compra de caminhões", observa George Hilton Beato, gerente técnico

da InterCement.

O avanço do uso do concreto usinado em programas habitacionais, bem como a venda direta do produto para o

consumidor final, poderiam contribuir para mudar o panorama do setor. Daniel Franco da Silva, gerente de

controle tecnológico da Falcão Bauer, conta que atualmente as centrais dosadoras são normatizadas e seguem

os procedimentos padrões indicados pela NBR 7.212 - Execução de Concreto Dosado em Central, podendo

atender desde pequenas a grandes obras. Ele lembra, porém, que a mesma norma define que o volume mínimo

Recebimento de concreto usinado no canteiro requer do construtor planejamento apurado.

As concreteiras, por sua vez, têm como desafio a garantia do fornecimento nos prazos e

qualidade contratados

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de carga por caminhão deve ser de 3 m³ de concreto, o que restringe o uso em obras de menor porte. A

construção de residências, por exemplo, geralmente consome 2 m³ de concreto.

Cuidados na contratação

A compra do concreto dosado em central requer uma série de cuidados, como a contratação de empresas

idôneas e homologadas para fornecer o material. "É fundamental cobrar das concreteiras certificados de

aferição dos equipamentos, relatórios de ensaios dos materiais e, ainda, pedir informações sobre o tipo e marca

de cimento utilizado", diz o engenheiro Rubens Curti, responsável pelo laboratório de concreto da Associação

Brasileira de Cimento Portland (ABCP).

Procurar saber quem é o técnico responsável pela elaboração das dosagens e verificar qual é a distância da

central até a obra são outros pontos relevantes na avaliação de fornecedores. O ideal é, sempre que possível,

escolher a usina mais próxima. "O fator preço não deve prevalecer na hora de fechar o negócio", completa

Curti.

ENTREVISTA RUBENS CURTI

Maior controle

Como está a qualidade do concreto dosado em central?

Houve uma evolução grande, principalmente no que diz respeito

à informatização dos equipamentos. Isso diminuiu a

possibilidade de um erro humano. Vale lembrar que o controle

sobre esse tipo de concreto é muito maior do que o virado em

obra. Mas independentemente de quem o preparou, todo o

concreto deve ter o acompanhamento de laboratório tecnológico

acreditado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e

Tecnologia (Inmetro).

Quais foram os grandes avanços tecnológicos do concreto

nos últimos anos? Como eles têm impactado a construção

civil?

Além da informatização nos processos de produção, também

temos os aditivos, que têm o poder de melhorar algumas

propriedades do concreto. Hoje em dia não se faz um bom

concreto do ponto de vista técnico e econômico sem a utilização

desses produtos. O concreto autoadensável é outro avanço

tecnológico que possibilita a redução de mão de obra, elimina a

necessidade de vibradores, confere melhor acabamento para o concreto e ainda permite uma

execução mais rápida.

Os aditivos só reagem com clínquer e não com as escórias. A grande variabilidade permitida

de adição desse item no cimento pode interferir na qualidade da mistura?

Engana-se quem acha que o cimento CP III é um cimento de baixa qualidade pelo fato de ter

adição de escórias. Todo cimento pode ser usado em qualquer tipo de obra. Há alguns cimentos

que são mais adequados para determinadas utilizações, por isso é muito importante saber com

qual cimento a concreteira trabalha.

Quais são os erros mais comuns envolvendo concreto usinado?

Eventuais erros podem ser causados por equipamento sem calibração e pela aplicação do concreto

com tempo vencido. O período máximo de utilização do concreto é de 150 minutos, desde a hora

"Além da informatização

nos processos de produção,

também temos os aditivos

que têm o poder de melhorar

algumas propriedades do

concreto. Hoje em dia não se

faz um bom concreto do

ponto de vista técnico e

econômico sem a utilização

desses produtos" Rubens Curti engenheiro responsável pelo

laboratório de concreto da Associação Brasileira

de Cimento Portland (ABCP)

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que saiu da central até o término da descarga na obra. Esses descuidos podem acarretar a perda de

resistência do concreto e o retardamento do endurecimento, que pode ser causado por uma

dosagem em excesso de aditivo.

Os dados de projeto devem ser passados para o contratado, evitando a compra errada. O projeto deve

estabelecer, entre outros itens, se o concreto será armado (CA) ou protendido (CP), as idades de controle e os

limites de resistência adequados, além das classes de agressividade ambiental do local onde a obra está situada

(conforme a NBR 12.655). Também devem ser especificados o fator água-cimento, a classe do concreto e o

consumo mínimo de cimento.

A etapa de recebimento do produto merece atenção redobrada. É importante observar na nota fiscal se o

concreto entregue está de acordo com o que foi pedido, bem como a quantidade de água aplicada antes da

descarga do caminhão-betoneira. O volume do concreto, abatimento (slump) e resistência à compressão (fck)

devem ser checados junto ao documento de entrega.

A partir da primeira adição de água, o tempo de transporte do concreto até a obra deve ser inferior a 90

minutos e, ao fim da descarga, não pode ultrapassar 150 minutos (para concreto transportado em caminhão- -

betoneira). Problemas no planejamento logístico podem afetar esses limites de tempo e, consequentemente, as

características de resistência do concreto. Daí a importância de transparência e confiança na relação entre

fornecedores e construtoras.

A relação entre água e cimento é um dos pontos-chave para que o concreto não desande em obra.

O excesso de água produz uma pasta mais porosa, deixando o concreto sujeito a futuras

patologias. "É preciso estar muito atento também à umidade do local da obra. Em épocas de

chuva, o concreto absorve muita água. Esse detalhe tem de ser considerado para que não haja

diminuição da sua resistência", explica Franco da Silva. A adição de água em obra, diga-se, jamais

deve ser feita sem o aval do laboratório responsável pelo controle tecnológico do concreto.

Além dos cuidados nas etapas de lançamento e adensamento, é fundamental respeitar os

procedimentos para a cura, que pode ser úmida ou química. Eles devem ser iniciados assim que a

superfície apresentar resistência à ação da água (após algumas horas) e prolongada por, no

mínimo, sete dias.

"A melhor alternativa é fazer a cura com água. No caso da cura química, é preciso cuidado

redobrado em lajes piso zero, pois os produtos aplicados podem afetar a aderência do

revestimento posteriormente", alerta Franco da Silva. O engenheiro lembra ainda que um

problema comum em obras é o uso de concreto com abatimento de 80 mm para peças armadas,

como pilares e vigas, em vez de 160 mm, o que seria mais adequado. "A vibração terá de ser

muito maior para atingir um bom acabamento, mas como esse concreto é mais duro e resistente,

a tendência é a de que haja segregação", explica.

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Mesa-redonda

O concreto virado em obra ainda domina na autoconstrução. Os fornecedores de concreto

dosado em centrais se mobilizam de alguma forma para atender ao segmento de baixa renda?

Arcindo Vaquero y Mayor - Começamos a atender esse perfil de obra com o Programa Minha

Casa, Minha Vida. Mas, na autoconstrução, não possuímos entrada porque são obras sem projeto e

engenharia envolvidos. Esse segmento está fora do nosso escopo.

Luiz de Brito - Quando falamos de obra autogerida, falamos de obras de nenhum valor agregado,

sem especificações das características do concreto. As grandes empresas que são seguidoras de

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norma acabam concorrendo nesse mercado com outras que atuam de forma desqualificada. É um

problema sério, pois estamos em uma concorrência díspar.

Mayor - Fora o preço, temos o empecilho da acessibilidade. Como vamos entrar com betoneiras

dentro das comunidades mais carentes? Além de a logística ser muito difícil, falta infraestrutura

para trabalhar. Muitas vezes não há água nem luz e ainda há problemas sociais e de segurança.

A relação entre construtoras e concreteiras sempre foi conflituosa. Agora, com o refreamento

do mercado, os problemas de entrega e qualidade melhoraram?

Paulo Caracik - Comercialmente, o relacionamento é muito bom. No Brasil, o foco da construção

é em concreto, ou seja, dependemos das concreteiras para construir nossas obras e elas

dependem de nós para vender seu produto. Na parte técnica, alguns fornecedores estão mais

presentes, outros nem tanto. Quando aparece um problema na qualidade do concreto, como baixa

resistência, sentimos que alguns fornecedores são mais solícitos e dispostos a resolver o

problema, enquanto outros acabam se omitindo das suas responsabilidades. Outro ponto de

conflito é a entrega. Hoje a logística de fornecimento é um dos maiores gargalos do setor e o

problema tende a se agravar. Muitas empresas estão passando por reformulações nas suas

gestões, implantando sistemas SAP, o que tem sido problemático. Contratos são perdidos,

fornecimentos são travados. É um processo transitório, mas indigesto. Por fim, na parte de

abastecimento, as obras pecam nas suas programações, mas vale lembrar que isso acontece por

uma questão de insegurança. Programa-se o recebimento de 100 m³ em uma semana, mas o

histórico é de ter o fornecimento negado por falta do produto. Então é comum que elas façam

reserva para três dias seguidos. É preciso que haja transparência nessa relação. Os fornecedores

devem ser claros sobre a possibilidade ou não de entrega do concreto na data programada.

Roberto Pastor - O engenheiro está no meio do fogo cruzado, pois tem de administrar a mão de

obra terceirizada que fica parada, ficando na dependência de vários fornecedores. Também

temos que lidar com as limitações de horários de trabalho. É difícil equalizar tantas agendas.

Carlos Grazina - Entre os principais pontos de conflito, há as condições de atendimento das obras

pelo horário que se libera o concreto. A prática da grande maioria das usinas é liberar o concreto

muito cedo, mas sem garantir que nossa programação seja atendida.

Carlos Abs Yasbek - Por outro lado, temos que enaltecer a modernização tecnológica das

concreteiras. No início do boom imobiliário, a situação se tornou caótica. Em pouco tempo as

empresas se adequaram, adquiriram caminhões e equipamentos modernos. Hoje, os problemas

são pontuais e se restringem às falhas de programação.

"Do volume total do concreto fornecido em São Paulo, apenas 2% apresentam variações. A

qualidade do cimento melhorou muito e as concreteiras investiram em tecnologias de

produção. Há três anos esse índice era de até 6%"

Daniel Franco da Silva

gerente de controle tecnológico da Falcão Bauer

Por que é tão difícil acertar as programações para evitar as falhas de atendimento?

Brito - Há uma série de ações viciadas dos dois lados, além dos acontecimentos diários das

cidades. Manifestações, incêndios, acidentes impactam a logística de entrega. Muitas vezes,

ficamos engessados, esperando outros fornecedores que chegaram atrasados descarregarem seus

produtos no canteiro. Isso gera um efeito dominó, atrasando todas as demais entregas.

Pastor - Por outro lado, quando o comercial das empresas fecha uma obra, sabe que deve levar

em conta esses contratempos. Diferentemente do aço, madeira e outros materiais que podem ser

estocados, o concreto tem de chegar na hora da sua aplicação. A solução para o problema

depende mais das concreteiras do que das construtoras.

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Grazina - O ideal é que as centrais trabalhem com margem de reserva para encaixes ou

atendimentos a essas situações de gargalos provocados por problemas na logística de transporte.

Quais seriam os melhores dias para programar a concretagem?

George Hilton Beato - Segundas e terças são dias tranquilos. A construtora que consegue adequar

seus ciclos e ter fôrmas e armações prontas para receber concretagem nesses dias da semana,

raramente enfrenta problemas. Quintas e sextas são dias mais complicados.

Pastor - Seria interessante se as concreteiras fornecessem incentivos, inclusive preços mais

baixos, para quem pedisse concreto para esses dias da semana.

Brito - Em cada lugar do mundo as concreteiras trabalham de uma maneira. E os gargalos de

logística existem sempre. Alguns países, por exemplo, estabelecem multas por programação

errada. Aqui não se estabelece esse tipo de punição porque quem faz o preço é o mercado. A

construtora também não consegue punir as concreteiras, pois quando os problemas são

investigados, geralmente percebe-se que os dois lados têm responsabilidades.

Quanto à qualidade, as resistências especificadas estão sendo atendidas?

Daniel Franco da Silva - Os problemas com resistência diminuíram muito. Do volume total do

concreto fornecido em São Paulo, apenas 2% apresentam variações. A qualidade do cimento

melhorou e as concreteiras investiram em tecnologias de produção. Há três anos, por exemplo,

esse índice era de até 6%. A NBR 6.118 - Projetos de Estrutura de Concretos - Procedimentos

permite que haja uma variação de até 5% do fck. O problema é que uma única obra pode ser

"sorteada", recebendo todo o concreto com resistências mais baixas.

Pastor - Não temos tido problemas com a resistência do concreto, mas eles já foram frequentes.

Hoje, nossa insegurança maior é com relação ao volume entregue. É preciso controlar o consumo

direto em todas as concretagens.

Como é feito o controle para verificação do volume recebido em obra?

Brito - As grandes concreteiras são informatizadas. Muitas vezes, os construtores desconfiam do

volume entregue, mas nas centrais automatizadas os carregamentos são pesados e essas

informações são gravadas. Os materiais do concreto são pesados, a mistura é feita e os relatórios

de pesagem são extraídos. Se detectarem que o volume está mais baixo, o carregamento não sai

da concreteira.

Caracik - O sonho da transparência seria ter um hidrômetro para o concreto. Hoje, há cerca de

10% de perda, o que aumenta o custo desse item. Como não sabemos a partir de que momento o

problema começou, é difícil exigir uma solução retroativa para compensar todo o volume em

defasagem. A resolução desse problema sempre é muito desgastante.

Pastor - Estamos acompanhando o consumo de concreto laje a laje e, por enquanto, não temos

tido problemas de volume.

Grazina - Na Cyrela a técnica adotada para a verificação de volume é a de massa específica. Com

apoio tecnológico, expomos esse acompanhamento em dosagens aleatórias e sem aviso prévio à

concreteira contratada. O volume total é checado dentro da betoneira e dele é extraído uma

amostra da qual checamos a massa específica. Se houver discrepâncias, o comercial é acionado

imediatamente. Na época do boom, sofremos com variações de volume. Hoje, esse problema está

menos frequente.

Mayor - Nas nossas associadas, cada caminhão é pesado e lacrado, todos são rastreados. Não há

interesse nenhum dos fornecedores em comprometer sua relação com as construtoras.

Franco da Silva - Fazemos controles de massa específica e pesagem nas centrais e eles nunca

computaram volumes menores. Os relatórios são apresentados para as construtoras. Geralmente,

nunca estão fora do que é permitido por norma.

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E no caso contrário, quando sobra concreto, o que fazer?

Brito - Hoje, 2% do concreto dosado em central produzido no mundo volta para as concreteiras.

No Brasil, dos 4,5 milhões de metros cúbicos produzidos por centrais, devolvemos 900 mil m³,

seja por problemas em obras ou por volumes superdimensionados. O ideal é que esse concreto

seja reciclado, transformado em agregados ou reaproveitado em outras obras. Algumas

construtoras já têm feito isso visando a pontuações para a obtenção da certificação Leadership in

Energy and Environmental Design (Leed).

As construtoras estão sabendo contratar o serviço de concretagem?

Mayor - Em mercados menos maduros, é comum o pedido de concretos fora de especificação.

Muita gente ainda pede fck 20, por exemplo. Outro ponto problemático é a falta de informação

sobre a classe de agressividade requerida em projeto. Para minimizar esses problemas, a Abesc

desenvolveu um modelo de especificação com os dados necessários para uma venda correta.

Grazina - Os dados devem ser levantados pelo projetista, cabe ressaltar.

Como está a demanda pelo concreto usinado fora do eixo Rio-São Paulo?

Mayor - Temos centrais em todos os Estados brasileiros. Mas há a dificuldade de trabalhar com

empresas estruturadas, que exijam mais de nossas usinas. A falta de laboratórios de ensaio de

concreto Brasil afora é outro gargalo sério do setor. Os problemas de logística também se

replicam em outras capitais e em grandes cidades.