DECOMPONDO A PRODUTIVIDADE BRASILEIRA ENTRE 1995 E 2008

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Por Antônio Marcos Hoelz Pinto Ambrozio e Filipe Lage de Sousa Economistas da APE Visão do Desenvolvimento nº 101 7 mai 2012 Visão do Desenvolvimento é uma publica- ção da área de Pesquisas Econômicas (APE), do Banco Nacional de Desenvolvimento Eco- nômico e Social. As opiniões deste informe são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente o pensamento da administração do BNDES. Decompondo a produtividade brasileira entre 1995 e 2008 O aumento da produtividade é um elemento crucial para im- pulsionar o crescimento econômico. O eco- nomista Paul Krugman cunhou uma expres- são que sintetiza sua importância: “Produ- tividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo”. 1 A experiência brasileira ilus- tra a relevância de ganhos de produtivida- de para o desenvolvimento econômico. A Tabela 1 mostra o crescimento do PIB e da produtividade do trabalho entre 1951 e 2010. Enquanto entre 1951 e 1980, perío- do de rápida expansão do produto (acima de 7% a.a), houve significativo avanço na produtividade (3,6% a.a), na década per- dida (80) o PIB cresceu apenas 1,6% a.a., associado a uma queda na produtividade 1 Krugman P. (1997) “The Age of Diminishing Expectations: U.S. Economic Policy in the 1990s”. do trabalho de 1,8% a.a. nesse período. Nos últimos vinte anos, a produtividade vol- tou a crescer (1,2% a.a.) impulsionando o crescimento da renda (3% a.a.). A recuperação do crescimento da produti- vidade brasileira nas últimas duas décadas, no entanto, ficou aquém da performance dos EUA, indicando ausência de convergência em relação às economias mais desenvolvidas. Numa comparação com países em desen- volvimento, a produtividade da economia brasileira continua maior que a de alguns países relevantes, tais como China e Índia, porém a produtividade do trabalho chinesa cresceu por volta de 8% a.a. e a indiana quase 5% a.a., ambos entre 1993 e 2010 (segun- do dados do The Conference Board). Mostraremos nesse informe que o princi- pal entrave para o crescimento mais acele- rado da produtividade brasileira no período Efeito tecnológico foi o principal responsável por ganhos no período

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EFEITO TECNOLÓGICO FOI O PRINCIPAL RESPONSÁVEL POR GANHOS NO PERÍODO.

Transcript of DECOMPONDO A PRODUTIVIDADE BRASILEIRA ENTRE 1995 E 2008

Por Antônio Marcos Hoelz Pinto Ambrozioe Filipe Lage de SousaEconomistas da APE

Visãodo Desenvolvimento

nº 101 7 mai 2012

Visão do Desenvolvimento é uma publica-ção da área de Pesquisas Econômicas (APE),do Banco Nacional de Desenvolvimento Eco-nômico e Social. As opiniões deste informesão de responsabilidade dos autores e nãorefletem necessariamente o pensamento daadministração do BNDES.

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Decompondo a produtividadebrasileira entre 1995 e 2008

O aumento daprodutividade éum elementocrucial para im-

pulsionar o crescimento econômico. O eco-nomista Paul Krugman cunhou uma expres-são que sintetiza sua importância: “Produ-tividade não é tudo, mas no longo prazo équase tudo”.1 A experiência brasileira ilus-tra a relevância de ganhos de produtivida-de para o desenvolvimento econômico. ATabela 1 mostra o crescimento do PIB e daprodutividade do trabalho entre 1951 e2010. Enquanto entre 1951 e 1980, perío-do de rápida expansão do produto (acimade 7% a.a), houve significativo avanço naprodutividade (3,6% a.a), na década per-dida (80) o PIB cresceu apenas 1,6% a.a.,associado a uma queda na produtividade

1 Krugman P. (1997) “The Age of Diminishing Expectations:U.S. Economic Policy in the 1990s”.

do trabalho de 1,8% a.a. nesse período.Nos últimos vinte anos, a produtividade vol-tou a crescer (1,2% a.a.) impulsionando ocrescimento da renda (3% a.a.).

A recuperação do crescimento da produti-vidade brasileira nas últimas duas décadas,no entanto, ficou aquém da performance dosEUA, indicando ausência de convergência emrelação às economias mais desenvolvidas.Numa comparação com países em desen-volvimento, a produtividade da economiabrasileira continua maior que a de algunspaíses relevantes, tais como China e Índia,porém a produtividade do trabalho chinesacresceu por volta de 8% a.a. e a indiana quase5% a.a., ambos entre 1993 e 2010 (segun-do dados do The Conference Board).

Mostraremos nesse informe que o princi-pal entrave para o crescimento mais acele-rado da produtividade brasileira no período

Efeito tecnológicofoi o principalresponsável porganhos no período

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Tabela 1: Crescimento do PIB e Produtividade Brasil 1951 / 1980 1981 / 1990 1991 / 2010 Cresc. PIB 7,1% a.a. 1,6% a.a. 3,0% a.a. Cresc. Produtividade 3,6% a.a. -1,8% a.a. 1,2% a.a. EUA Cresc. Produtividade 1,8% a.a. 1,4% a.a. 1,8% a.a.

Fonte: PIB do IBGE e Produtividade do The Conference Board

2 Embora seja possível obter a divisão em 56 setores, osresultados com 12 setores mostram-se qualitativamente seme-lhante aos dados mais desagregados.

recente não se deveu a uma baixa eficiênciatécnica, mas sim ao fato de que a força detrabalho não se deslocou para os setoresmais produtivos da economia. No caso daseconomias indiana e chinesa, houve tantoum aumento de eficiência técnica como umdeslocamento da mão de obra para setoresmais produtivos, explicando então o eleva-do crescimento da produtividade.

Há duas formas de aumento da produtivi-dade: ou aumento de produtividade dossetores em si, ou deslocamento de traba-lhadores para setores mais produtivos. Noúltimo caso, há evidências de que o cresci-mento da produtividade brasileira até 1980pode ser parcialmente explicado pelo pro-cesso de urbanização da população brasi-leira, pois a produtividade dos setores nomeio urbano é maior que na agricultura. Poroutro lado, uma explicação usual para o cres-cimento da produtividade a partir de 1990se refere ao aumento de eficiência dos se-tores produtivos brasileiros em virtude dasmudanças estruturais ocorridas nesse perío-do, como por exemplo, estabilização mo-netária, abertura comercial e privatização.

O objetivo desse Visão do Desenvolvimentoé decompor o crescimento da produtivida-de brasileira, no período pós-estabilização

da economia entre 1995 a 2008, a fim dequantificar qual a importância de cada umdesses efeitos – aumento da produtividadeintra-setor ou deslocamento de trabalhado-res entre setores com níveis de produtivida-de distintos – para explicar o crescimentoda produtividade.

A evolução da produtividade dotrabalho no Brasil: 1995-2008

Em primeiro lugar, verificaremos como secomportou a produtividade e a participaçãodo trabalho entre 1995 e 2008. Decompomosa economia brasileira em 12 setores, e defini-mos a produtividade do trabalho como o va-lor adicionado (preços constantes de 2000)dividido pelo número de trabalhadores, paracada setor, obtido nas Contas Nacionais. 2 Osresultados são apresentados na Tabela 2.

A produtividade do trabalho na economiabrasileira cresceu 0,9% a.a. entre 1995 e2008. Alguns setores tiveram crescimentoexpressivo (acima de 2% a.a. em 5 deles)com destaque para a Agropecuária com oaumento de 6,7% a.a.. O expressivo ganhode produtividade nesse setor pode ser expli-cado tanto por uma maior intensidade nouso dos insumos (aumento na qualificaçãoda mão de obra empregada e mecanizaçãocrescente, por exemplo) como por aumentode eficiência (onde se destacam os ganhosproporcionados pelos investimentos em pes-

beneficiou do deslocamento de trabalhado-res para setores de maior produtividade.

Os períodos 1995-1999 e 2001-2008 tive-ram resultados bastante distintos no efeitoemprego. Nos anos da década de noventa,houve uma realocação de trabalhadores tan-to para setores menos produtivos como parao desemprego, o que acabou por reduzir aprodutividade média da economia brasilei-ra no período. Nos anos da década seguin-te, a inserção de pessoas no mercado detrabalho elevou a produtividade no Brasil.

Diante desse diagnóstico, é possível anali-sar como a produtividade média da econo-mia brasileira pode progredir nos próximosanos. Do ponto de vista do efeito composi-ção, ainda há um espaço para elevação daprodutividade com o deslocamento de mãode obra para setores mais produtivos. Umdesafio para que se possa aumentar o cres-cimento da produtividade por esse canal serefere à capacidade da economia brasileiraem apresentar vantagens comparativas emsegmentos de alto valor agregado.

No entanto, os ganhos mais significativosdevem advir do efeito tecnológico. Apesardeste efeito ter tido um impacto positivo comonos países asiáticos, a produtividade da eco-nomia brasileira está num nível menor quandocomparado aos Tigres Asiáticos. Portanto, hábastante espaço para o crescimento da pro-

dutividade da economia brasileira, inclusive nossetores mais dinâmicos, como por exemplo, aIndústria de Transformação. Por outro lado, atendência mundial de aumento da importân-cia econômica nos setores de Comércio e deServiços os coloca em posição de destaquepara elevação da produtividade média da eco-nomia. Portanto, um aumento de produtivi-dade desses três setores via efeito tecnológicoé primordial para o aumento da produtividademédia da economia brasileira.

Assim, o crescimento da produtividade nolongo prazo requer um aumento da eficiên-cia nos diversos setores de forma a reduzir adistância do nível de produtividade da eco-nomia brasileira em comparação ao das eco-nomias mais avançadas. O desempenho dosetor Agropecuário nesse período (crescimen-to de 6,7 a.a.) mostra que essa performanceé possível. Nesse sentido, o setor público possuium papel importante nesse processo, vistoque as oportunidades de aumento de pro-dutividade são consideráveis e precisam serpotencializadas com apoio governamentalcomo ocorreu no setor Agropecuário. Políti-cas de apoio à inovação e difusão de novastecnologias, voltadas para melhorias na ca-pacidade de gestão empresarial e tambémde qualificação da mão de obra, são algu-mas áreas onde o governo pode colaborar.

Tabela 5: Ganho de Produtividade e os Efeitos incluindo a Taxa de Desemprego

Anual 1995-2008 1995-1999 2001-2008 1. Efeito Tecnológico 0,8% 1,2% 0,8% 2. Efeito Composição 0,0% -1,8% 0,7% 2.a Efeito Comp s/ Emp 0,1% -0,7% 0,3% 2.b Efeito Emprego -0,1% -1,0% 0,4% Ganho de Produtividade 0,8% -0,6% 1,5%

Fonte: Elaboração própria

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3 Gasques, J; Bastos, E e Bacchi, M. “Produtividade e fontesde crescimento da agricultura brasileira” em “Políticas deIncentivo à Inovação Tecnológica no Brasil” IPEA, 2008.

Tabela 2: Produtividade e Participação do Trabalho por setor Produtividade = Valor Adicionado / Trabalhador

Produtividade em 1995

Produtividade em 2008

Ganho de Produtividade a.a.

Perc. Trab. 1995

Perc. Trab. 2008

Total 12.570 14.021 0,9% 100% 100%

Agropecuária 2.552 4.785 6,7% 26,0% 17,8%

Indústria Extrativa 53.552 84.246 4,4% 0,4% 0,3%

Indústria de Transformação 18.226 17.801 -0,2% 13,0% 13,0%

Eletricidade, Água e Esgoto 82.869 108.331 2,4% 0,5% 0,4%

Construção civil 11.478 9.718 -1,2% 6,0% 7,2%

Comércio 9.278 9.402 0,1% 15,0% 16,1%

Transporte, armazenagem e correio 16.476 14.865 -0,8% 3,6% 4,5%

Serviços de informação 88.817 30.175 -5,1% 0,4% 1,9%

Serviços Financeiros 63.806 97.133 4,0% 1,2% 1,0%

Atividades imobiliárias e aluguéis 163.918 236.921 3,4% 0,8% 0,7%

Outros serviços 8.316 8.188 -0,1% 23,7% 26,3%

Administração Pública 19.212 18.096 -0,4% 9,6% 10,8%

Fonte: Sistema de Contas Nacionais (SCN) do IBGE

Tabela 4: Variação do Emprego - Principais Setores Empregadores Anual 1995-1999 2001-2008

Agropecuária -0,4% -0,5% Indústria de Transformação -0,3% 0,2% Comércio 0,0% 0,0% Outros serviços 0,4% 0,1%

Fonte: SCN/IBGE

quisa da EMBRAPA)3. Nos setores com gran-de participação do trabalho (Outros Servi-ços, Comércio e Indústria de Transforma-ção), nota-se uma certa estagnação da pro-dutividade, que se deve ao fato do valoradicionado ter crescido praticamente às mes-mas taxas que o emprego nesses setores.

Por outro lado, alguns setores experimen-taram queda de produtividade. Esse resul-tado, no entanto, deve ser qualificado pelofato de que em todos os casos houve cres-cimento do valor adicionado, apenas o cres-cimento do emprego se deu em uma pro-porção maior. No setor de serviços de infor-mação, onde ocorreu a redução mais ex-pressiva na produtividade (-5,1% a.a.), o va-lor adicionado duplicou no período, sendoo melhor desempenho entre todos os 12setores, mas houve um aumento proporcio-nalmente muito maior (multiplicação por 7)no total de pessoas ocupadas. Para

exemplificar seu dinamismo, havia 260 milpessoas trabalhando nesse setor em 1995,enquanto o mesmo empregava mais de 1,8milhão de pessoas em 2008.

Mensurando os efeitos tecnológicose de composição

A primeira coluna da Tabela 3 mostra queo crescimento de produtividade entre 1995e 2008 pode ser explicado basicamente peloefeito tecnológico, quase 90% do total (verBox para maiores detalhes). O efeito com-posição tem apenas uma contribuição mar-ginal. Assim, o aumento da eficiência den-tro dos diversos setores foi o fator que es-sencialmente impulsionou o aumento da pro-dutividade nesse período.

Esse resultado é corroborado no estudode Rodrik e McMillan (2011)4, no qual osautores decompõem a variação da produti-vidade de uma gama de países. Segundo osautores, os ganhos de produtividade dospaíses asiáticos e latino-americanos são bas-tante semelhantes no efeito tecnológico. Agrande diferença está no efeito composi-

lhadores do setor menos produtivo para al-gum outro setor com produtividade positiva.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostrade Domicílios (PNAD)6, a taxa de desempregoem 1995 foi 6,7%. Após quatro anos, opercentual de pessoas procurando empregocresceu para 10,4% em 1999. Em outras pala-vras, houve um aumento de pessoas desem-pregadas na década de 90, o que impactaránegativamente a produtividade. Em 2001, ataxa se manteve no mesmo patamar do fimda década de 1990, registrando 10%. No en-tanto, essa taxa reduziu-se para 7,8% em 2008.Dessa forma, deve haver um impacto positivosobre a produtividade decorrente da quedado desemprego nos anos 2000.

A inclusão desse 13º setor nos dará qual éo impacto da variação de mão de obra em-pregada no efeito composição. Denomina-remos esse impacto de efeito emprego. Comisso, o efeito composição total será a somado efeito emprego com o efeito composi-ção encontrado anteriormente sem a taxade desemprego. A Tabela 5 mostra os resul-tados considerando esse setor adicional.

De uma forma geral, nota-se que a taxa dedesemprego tem um efeito significativo na pro-dutividade média da economia, visto que oseu aumento de 6,7% em 1995 para 7,8%

em 2008 anulou o efeito composição total.No entanto, os subperíodos mostram resulta-dos distintos. Na década de 1990, o efeitoemprego reduz a produtividade devido ao au-mento da taxa de desemprego. Como resul-tado, a produtividade média ficou negativanesse período, diferentemente do encontra-do sem a taxa de desemprego. Por outro lado,a queda do desemprego na década seguinteteve um efeito positivo sobre a produtividadeda economia. Portanto, a inclusão de pessoasno mercado de trabalho aumentou a produti-vidade média da economia.

Considerações finais

Esse Visão do Desenvolvimento procurouidentificar os efeitos que explicaram o au-mento de produtividade na economia brasi-leira entre 1995 e 2008: tecnológico e com-posição, incluído dentro desse último o efei-to emprego. O efeito tecnológico, o aumen-to de eficiência dentro dos setores, foi oprincipal responsável pelo aumento de pro-dutividade da economia, sendo que o efei-to composição teve pouco impacto. Cabedestacar que os países asiáticos, considera-dos exemplos de desenvolvimento no fimdo século XX, tiveram tanto ganhos de efi-ciência, como no caso brasileiro, mas tam-bém significativos ganhos via efeito compo-sição. Assim, em contraste com a experiên-cia asiática, a produtividade brasileira não se

4 Rodrik, D. and McMillan, M. (2011) “Globalization,Structural Change and Productivity Growth”, mimeo.

6 A PNAD não foi realizada no ano 2000, motivo pelo qual esseano não foi considerado quando comparamos os subperíodos1995-1999 e 2001-2008.

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5 Bonelli, R. (2002) “Labor Productivity in Brazil During the1990’s” Texto para Discussão, No 906, IPEA, Rio de Janeiro.

to os países asiáticos apresentam uma mag-nitude desse efeito semelhante ao tecnoló-gico, os países latino-americanos não apre-sentam ganho substancial no efeito compo-sição. Logo, a diferença de ganhos de pro-dutividade entre esses dois grupos de países

não decorre de um aumento de eficiênciasignificativamente maior nos países asiáticos,mas porque, em média, a força de trabalhonesses países está migrando para setores maisprodutivos, enquanto os latino-americanosnão apresentam essa tendência.

A fim de analisar a decomposição da pro-dutividade em maior detalhe, iremos consi-derar dois subperíodos distintos: 1995 a 1999e 2001 a 2008. A motivação para essa sepa-ração é que a economia brasileira experimen-tou mudanças estruturais substanciais entreesses períodos, com reflexos sobre a produti-vidade. Em particular, entre 1995 e 1999, oBrasil estava consolidando seu plano de es-tabilização econômica, com um regime decâmbio fixo em um contexto de abertura co-mercial e aprofundamento do programa deprivatizações. Ainda, nesse período o país es-teve sujeito aos efeitos de fortes crises exter-nas. De 2001 a 2008, a produtividade evoluinum período de crescimento econômicopós-reformas, com um novo arcabouçomacroeconômico(por exemplo,câmbio flutuante)e um cenário ex-terno (à exceçãoda bolha das empresas de alta tecnologiaem 2001) bem mais favorável.

Na comparação entre os dois subperíodos,nota-se que o ganho de produtividade foimais que o dobro entre 2001 e 2008 emrelação ao período anterior. Esse resultado,entretanto, é explicado pelo efeito compo-sição. Embora o efeito tecnológico tenhasido maior entre 1995 e 1999, influenciadopelas reformas estruturais que ocorreramnesse período, o efeito composição foi for-te o suficiente para fazer com que o ganhototal de produtividade fosse maior entre 2001e 2008. Enquanto na década de 1990 o efei-to composição foi negativo (-0,7%), na dé-

cada seguinte foi positivo (0,3%). Em outraspalavras, a redistribuição da mão de obra nadécada de 1990 foi direcionada para seto-res menos produtivos. Já na década seguin-te, essa realocação destinou-se a setoresmais produtivos.

O principal determinante do efeito com-posição negativo entre 1995 e 1999 foi oaumento da participação do trabalho emOutros Serviços e a respectiva redução naIndústria de Transformação, conforme ilus-trado na Tabela 4. Cabe destacar que esseresultado também é encontrado em Bonelli(2002)5, onde o ganho de produtividade éexplicado pelo efeito tecnológico, mas o efei-to composição diminui os ganhos obtidos.Já entre 2001 e 2008, o aumento da partici-

pação do tra-balho na Indús-tria de Transfor-mação e OutrosServiços em de-

trimento da Agricultura define o sinal positi-vo do efeito composição.

Incluindo desemprego

Um ponto importante a se destacar é queos ganhos de produtividade computados naanálise anterior ignoram a existência de pes-soas desempregadas na economia. Essaspessoas poderiam estar empregadas e, con-seqüentemente, gerando um nível de pro-dução positivo. É possível criar, seguindo su-gestão de Rodrick e McMillan, um 13º setorcom trabalhadores possuindo produtivida-de zero (afinal, o produto originado pelosdesempregados é nulo). Assim, variações nataxa de desemprego influenciariam o efeitocomposição. Uma queda na taxa de desem-prego significa um deslocamento de traba-

Decompondo os Ganhos de Produtividade

A variação da produtividade num certo período pode ser decomposta em um ganho deprodutividade dentro de cada setor e uma mudança na produtividade média decorrenteda realocação de emprego entre setores com diferentes produtividades – onde em umdos exercícios o desemprego será incorporado na análise como um setor com produtivi-dade nula.

Escrevendo a produtividade de uma economia como uma média ponderada das produ-tividades setoriais, onde o peso é dado pela participação de cada setor no emprego totalda economia, podemos decompor a mudança na produtividade da seguinte forma:

(1) ∆Yt = ∑i θi,t-1.∆yi,t + ∑i yi,t.∆θi,t

Onde Yt é a produtividade na economia no período t, i é a participação do empregono setor i e yi,t é a produtividade no período t, em cada setor i.

O primeiro termo representa o crescimento de produtividade dos setores, ponderadospela participação deles (no início do período) na economia. Denominaremos esse termode efeito tecnológico, visto que representa o quão mais produtivo cada setor ficou aolongo do tempo. Esse termo capta, por exemplo, o aumento de produtividade ocorridona economia por conta das transformações econômicas ocorridas na década de 90.

O segundo termo é a variação da participação do trabalho nos setores, ponderadopela produtividade (no fim do período) em cada setor. Esse termo será chamado deefeito composição, pois representa, por exemplo, o aumento de produtividade médiada economia oriundo da realocação da mão de obra para setores mais produtivos. Oefeito composição captura o efeito sobre a produtividade resultante do deslocamentoda população rural para as cidades, pois a produtividade da agricultura, apesar de seucrescimento recente, é menor que a das atividades no meio urbano.

Vantagem da Ásia ocorreu pordeslocamento de mão de obrapara setores mais produtivos

Tabela 3: Ganho de Produtividade e os Efeitos Anual 1995-2008 1995-1999 2001-2008 Efeito Tecnológico 0,8% 1,2% 0,8% Efeito Composição 0,1% -0,7% 0,3% Ganho de Produtividade 0,9% 0,5% 1,1%

Fonte: Elaboração própria

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5 Bonelli, R. (2002) “Labor Productivity in Brazil During the1990’s” Texto para Discussão, No 906, IPEA, Rio de Janeiro.

to os países asiáticos apresentam uma mag-nitude desse efeito semelhante ao tecnoló-gico, os países latino-americanos não apre-sentam ganho substancial no efeito compo-sição. Logo, a diferença de ganhos de pro-dutividade entre esses dois grupos de países

não decorre de um aumento de eficiênciasignificativamente maior nos países asiáticos,mas porque, em média, a força de trabalhonesses países está migrando para setores maisprodutivos, enquanto os latino-americanosnão apresentam essa tendência.

A fim de analisar a decomposição da pro-dutividade em maior detalhe, iremos consi-derar dois subperíodos distintos: 1995 a 1999e 2001 a 2008. A motivação para essa sepa-ração é que a economia brasileira experimen-tou mudanças estruturais substanciais entreesses períodos, com reflexos sobre a produti-vidade. Em particular, entre 1995 e 1999, oBrasil estava consolidando seu plano de es-tabilização econômica, com um regime decâmbio fixo em um contexto de abertura co-mercial e aprofundamento do programa deprivatizações. Ainda, nesse período o país es-teve sujeito aos efeitos de fortes crises exter-nas. De 2001 a 2008, a produtividade evoluinum período de crescimento econômicopós-reformas, com um novo arcabouçomacroeconômico(por exemplo,câmbio flutuante)e um cenário ex-terno (à exceçãoda bolha das empresas de alta tecnologiaem 2001) bem mais favorável.

Na comparação entre os dois subperíodos,nota-se que o ganho de produtividade foimais que o dobro entre 2001 e 2008 emrelação ao período anterior. Esse resultado,entretanto, é explicado pelo efeito compo-sição. Embora o efeito tecnológico tenhasido maior entre 1995 e 1999, influenciadopelas reformas estruturais que ocorreramnesse período, o efeito composição foi for-te o suficiente para fazer com que o ganhototal de produtividade fosse maior entre 2001e 2008. Enquanto na década de 1990 o efei-to composição foi negativo (-0,7%), na dé-

cada seguinte foi positivo (0,3%). Em outraspalavras, a redistribuição da mão de obra nadécada de 1990 foi direcionada para seto-res menos produtivos. Já na década seguin-te, essa realocação destinou-se a setoresmais produtivos.

O principal determinante do efeito com-posição negativo entre 1995 e 1999 foi oaumento da participação do trabalho emOutros Serviços e a respectiva redução naIndústria de Transformação, conforme ilus-trado na Tabela 4. Cabe destacar que esseresultado também é encontrado em Bonelli(2002)5, onde o ganho de produtividade éexplicado pelo efeito tecnológico, mas o efei-to composição diminui os ganhos obtidos.Já entre 2001 e 2008, o aumento da partici-

pação do tra-balho na Indús-tria de Transfor-mação e OutrosServiços em de-

trimento da Agricultura define o sinal positi-vo do efeito composição.

Incluindo desemprego

Um ponto importante a se destacar é queos ganhos de produtividade computados naanálise anterior ignoram a existência de pes-soas desempregadas na economia. Essaspessoas poderiam estar empregadas e, con-seqüentemente, gerando um nível de pro-dução positivo. É possível criar, seguindo su-gestão de Rodrick e McMillan, um 13º setorcom trabalhadores possuindo produtivida-de zero (afinal, o produto originado pelosdesempregados é nulo). Assim, variações nataxa de desemprego influenciariam o efeitocomposição. Uma queda na taxa de desem-prego significa um deslocamento de traba-

Decompondo os Ganhos de Produtividade

A variação da produtividade num certo período pode ser decomposta em um ganho deprodutividade dentro de cada setor e uma mudança na produtividade média decorrenteda realocação de emprego entre setores com diferentes produtividades – onde em umdos exercícios o desemprego será incorporado na análise como um setor com produtivi-dade nula.

Escrevendo a produtividade de uma economia como uma média ponderada das produ-tividades setoriais, onde o peso é dado pela participação de cada setor no emprego totalda economia, podemos decompor a mudança na produtividade da seguinte forma:

(1) ∆Yt = ∑i θi,t-1.∆yi,t + ∑i yi,t.∆θi,t

Onde Yt é a produtividade na economia no período t, i é a participação do empregono setor i e yi,t é a produtividade no período t, em cada setor i.

O primeiro termo representa o crescimento de produtividade dos setores, ponderadospela participação deles (no início do período) na economia. Denominaremos esse termode efeito tecnológico, visto que representa o quão mais produtivo cada setor ficou aolongo do tempo. Esse termo capta, por exemplo, o aumento de produtividade ocorridona economia por conta das transformações econômicas ocorridas na década de 90.

O segundo termo é a variação da participação do trabalho nos setores, ponderadopela produtividade (no fim do período) em cada setor. Esse termo será chamado deefeito composição, pois representa, por exemplo, o aumento de produtividade médiada economia oriundo da realocação da mão de obra para setores mais produtivos. Oefeito composição captura o efeito sobre a produtividade resultante do deslocamentoda população rural para as cidades, pois a produtividade da agricultura, apesar de seucrescimento recente, é menor que a das atividades no meio urbano.

Vantagem da Ásia ocorreu pordeslocamento de mão de obrapara setores mais produtivos

Tabela 3: Ganho de Produtividade e os Efeitos Anual 1995-2008 1995-1999 2001-2008 Efeito Tecnológico 0,8% 1,2% 0,8% Efeito Composição 0,1% -0,7% 0,3% Ganho de Produtividade 0,9% 0,5% 1,1%

Fonte: Elaboração própria

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3 Gasques, J; Bastos, E e Bacchi, M. “Produtividade e fontesde crescimento da agricultura brasileira” em “Políticas deIncentivo à Inovação Tecnológica no Brasil” IPEA, 2008.

Tabela 2: Produtividade e Participação do Trabalho por setor Produtividade = Valor Adicionado / Trabalhador

Produtividade em 1995

Produtividade em 2008

Ganho de Produtividade a.a.

Perc. Trab. 1995

Perc. Trab. 2008

Total 12.570 14.021 0,9% 100% 100%

Agropecuária 2.552 4.785 6,7% 26,0% 17,8%

Indústria Extrativa 53.552 84.246 4,4% 0,4% 0,3%

Indústria de Transformação 18.226 17.801 -0,2% 13,0% 13,0%

Eletricidade, Água e Esgoto 82.869 108.331 2,4% 0,5% 0,4%

Construção civil 11.478 9.718 -1,2% 6,0% 7,2%

Comércio 9.278 9.402 0,1% 15,0% 16,1%

Transporte, armazenagem e correio 16.476 14.865 -0,8% 3,6% 4,5%

Serviços de informação 88.817 30.175 -5,1% 0,4% 1,9%

Serviços Financeiros 63.806 97.133 4,0% 1,2% 1,0%

Atividades imobiliárias e aluguéis 163.918 236.921 3,4% 0,8% 0,7%

Outros serviços 8.316 8.188 -0,1% 23,7% 26,3%

Administração Pública 19.212 18.096 -0,4% 9,6% 10,8%

Fonte: Sistema de Contas Nacionais (SCN) do IBGE

Tabela 4: Variação do Emprego - Principais Setores Empregadores Anual 1995-1999 2001-2008

Agropecuária -0,4% -0,5% Indústria de Transformação -0,3% 0,2% Comércio 0,0% 0,0% Outros serviços 0,4% 0,1%

Fonte: SCN/IBGE

quisa da EMBRAPA)3. Nos setores com gran-de participação do trabalho (Outros Servi-ços, Comércio e Indústria de Transforma-ção), nota-se uma certa estagnação da pro-dutividade, que se deve ao fato do valoradicionado ter crescido praticamente às mes-mas taxas que o emprego nesses setores.

Por outro lado, alguns setores experimen-taram queda de produtividade. Esse resul-tado, no entanto, deve ser qualificado pelofato de que em todos os casos houve cres-cimento do valor adicionado, apenas o cres-cimento do emprego se deu em uma pro-porção maior. No setor de serviços de infor-mação, onde ocorreu a redução mais ex-pressiva na produtividade (-5,1% a.a.), o va-lor adicionado duplicou no período, sendoo melhor desempenho entre todos os 12setores, mas houve um aumento proporcio-nalmente muito maior (multiplicação por 7)no total de pessoas ocupadas. Para

exemplificar seu dinamismo, havia 260 milpessoas trabalhando nesse setor em 1995,enquanto o mesmo empregava mais de 1,8milhão de pessoas em 2008.

Mensurando os efeitos tecnológicose de composição

A primeira coluna da Tabela 3 mostra queo crescimento de produtividade entre 1995e 2008 pode ser explicado basicamente peloefeito tecnológico, quase 90% do total (verBox para maiores detalhes). O efeito com-posição tem apenas uma contribuição mar-ginal. Assim, o aumento da eficiência den-tro dos diversos setores foi o fator que es-sencialmente impulsionou o aumento da pro-dutividade nesse período.

Esse resultado é corroborado no estudode Rodrik e McMillan (2011)4, no qual osautores decompõem a variação da produti-vidade de uma gama de países. Segundo osautores, os ganhos de produtividade dospaíses asiáticos e latino-americanos são bas-tante semelhantes no efeito tecnológico. Agrande diferença está no efeito composi-

lhadores do setor menos produtivo para al-gum outro setor com produtividade positiva.

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostrade Domicílios (PNAD)6, a taxa de desempregoem 1995 foi 6,7%. Após quatro anos, opercentual de pessoas procurando empregocresceu para 10,4% em 1999. Em outras pala-vras, houve um aumento de pessoas desem-pregadas na década de 90, o que impactaránegativamente a produtividade. Em 2001, ataxa se manteve no mesmo patamar do fimda década de 1990, registrando 10%. No en-tanto, essa taxa reduziu-se para 7,8% em 2008.Dessa forma, deve haver um impacto positivosobre a produtividade decorrente da quedado desemprego nos anos 2000.

A inclusão desse 13º setor nos dará qual éo impacto da variação de mão de obra em-pregada no efeito composição. Denomina-remos esse impacto de efeito emprego. Comisso, o efeito composição total será a somado efeito emprego com o efeito composi-ção encontrado anteriormente sem a taxade desemprego. A Tabela 5 mostra os resul-tados considerando esse setor adicional.

De uma forma geral, nota-se que a taxa dedesemprego tem um efeito significativo na pro-dutividade média da economia, visto que oseu aumento de 6,7% em 1995 para 7,8%

em 2008 anulou o efeito composição total.No entanto, os subperíodos mostram resulta-dos distintos. Na década de 1990, o efeitoemprego reduz a produtividade devido ao au-mento da taxa de desemprego. Como resul-tado, a produtividade média ficou negativanesse período, diferentemente do encontra-do sem a taxa de desemprego. Por outro lado,a queda do desemprego na década seguinteteve um efeito positivo sobre a produtividadeda economia. Portanto, a inclusão de pessoasno mercado de trabalho aumentou a produti-vidade média da economia.

Considerações finais

Esse Visão do Desenvolvimento procurouidentificar os efeitos que explicaram o au-mento de produtividade na economia brasi-leira entre 1995 e 2008: tecnológico e com-posição, incluído dentro desse último o efei-to emprego. O efeito tecnológico, o aumen-to de eficiência dentro dos setores, foi oprincipal responsável pelo aumento de pro-dutividade da economia, sendo que o efei-to composição teve pouco impacto. Cabedestacar que os países asiáticos, considera-dos exemplos de desenvolvimento no fimdo século XX, tiveram tanto ganhos de efi-ciência, como no caso brasileiro, mas tam-bém significativos ganhos via efeito compo-sição. Assim, em contraste com a experiên-cia asiática, a produtividade brasileira não se

4 Rodrik, D. and McMillan, M. (2011) “Globalization,Structural Change and Productivity Growth”, mimeo.

6 A PNAD não foi realizada no ano 2000, motivo pelo qual esseano não foi considerado quando comparamos os subperíodos1995-1999 e 2001-2008.

2 7

Tabela 1: Crescimento do PIB e Produtividade Brasil 1951 / 1980 1981 / 1990 1991 / 2010 Cresc. PIB 7,1% a.a. 1,6% a.a. 3,0% a.a. Cresc. Produtividade 3,6% a.a. -1,8% a.a. 1,2% a.a. EUA Cresc. Produtividade 1,8% a.a. 1,4% a.a. 1,8% a.a.

Fonte: PIB do IBGE e Produtividade do The Conference Board

2 Embora seja possível obter a divisão em 56 setores, osresultados com 12 setores mostram-se qualitativamente seme-lhante aos dados mais desagregados.

recente não se deveu a uma baixa eficiênciatécnica, mas sim ao fato de que a força detrabalho não se deslocou para os setoresmais produtivos da economia. No caso daseconomias indiana e chinesa, houve tantoum aumento de eficiência técnica como umdeslocamento da mão de obra para setoresmais produtivos, explicando então o eleva-do crescimento da produtividade.

Há duas formas de aumento da produtivi-dade: ou aumento de produtividade dossetores em si, ou deslocamento de traba-lhadores para setores mais produtivos. Noúltimo caso, há evidências de que o cresci-mento da produtividade brasileira até 1980pode ser parcialmente explicado pelo pro-cesso de urbanização da população brasi-leira, pois a produtividade dos setores nomeio urbano é maior que na agricultura. Poroutro lado, uma explicação usual para o cres-cimento da produtividade a partir de 1990se refere ao aumento de eficiência dos se-tores produtivos brasileiros em virtude dasmudanças estruturais ocorridas nesse perío-do, como por exemplo, estabilização mo-netária, abertura comercial e privatização.

O objetivo desse Visão do Desenvolvimentoé decompor o crescimento da produtivida-de brasileira, no período pós-estabilização

da economia entre 1995 a 2008, a fim dequantificar qual a importância de cada umdesses efeitos – aumento da produtividadeintra-setor ou deslocamento de trabalhado-res entre setores com níveis de produtivida-de distintos – para explicar o crescimentoda produtividade.

A evolução da produtividade dotrabalho no Brasil: 1995-2008

Em primeiro lugar, verificaremos como secomportou a produtividade e a participaçãodo trabalho entre 1995 e 2008. Decompomosa economia brasileira em 12 setores, e defini-mos a produtividade do trabalho como o va-lor adicionado (preços constantes de 2000)dividido pelo número de trabalhadores, paracada setor, obtido nas Contas Nacionais. 2 Osresultados são apresentados na Tabela 2.

A produtividade do trabalho na economiabrasileira cresceu 0,9% a.a. entre 1995 e2008. Alguns setores tiveram crescimentoexpressivo (acima de 2% a.a. em 5 deles)com destaque para a Agropecuária com oaumento de 6,7% a.a.. O expressivo ganhode produtividade nesse setor pode ser expli-cado tanto por uma maior intensidade nouso dos insumos (aumento na qualificaçãoda mão de obra empregada e mecanizaçãocrescente, por exemplo) como por aumentode eficiência (onde se destacam os ganhosproporcionados pelos investimentos em pes-

beneficiou do deslocamento de trabalhado-res para setores de maior produtividade.

Os períodos 1995-1999 e 2001-2008 tive-ram resultados bastante distintos no efeitoemprego. Nos anos da década de noventa,houve uma realocação de trabalhadores tan-to para setores menos produtivos como parao desemprego, o que acabou por reduzir aprodutividade média da economia brasilei-ra no período. Nos anos da década seguin-te, a inserção de pessoas no mercado detrabalho elevou a produtividade no Brasil.

Diante desse diagnóstico, é possível anali-sar como a produtividade média da econo-mia brasileira pode progredir nos próximosanos. Do ponto de vista do efeito composi-ção, ainda há um espaço para elevação daprodutividade com o deslocamento de mãode obra para setores mais produtivos. Umdesafio para que se possa aumentar o cres-cimento da produtividade por esse canal serefere à capacidade da economia brasileiraem apresentar vantagens comparativas emsegmentos de alto valor agregado.

No entanto, os ganhos mais significativosdevem advir do efeito tecnológico. Apesardeste efeito ter tido um impacto positivo comonos países asiáticos, a produtividade da eco-nomia brasileira está num nível menor quandocomparado aos Tigres Asiáticos. Portanto, hábastante espaço para o crescimento da pro-

dutividade da economia brasileira, inclusive nossetores mais dinâmicos, como por exemplo, aIndústria de Transformação. Por outro lado, atendência mundial de aumento da importân-cia econômica nos setores de Comércio e deServiços os coloca em posição de destaquepara elevação da produtividade média da eco-nomia. Portanto, um aumento de produtivi-dade desses três setores via efeito tecnológicoé primordial para o aumento da produtividademédia da economia brasileira.

Assim, o crescimento da produtividade nolongo prazo requer um aumento da eficiên-cia nos diversos setores de forma a reduzir adistância do nível de produtividade da eco-nomia brasileira em comparação ao das eco-nomias mais avançadas. O desempenho dosetor Agropecuário nesse período (crescimen-to de 6,7 a.a.) mostra que essa performanceé possível. Nesse sentido, o setor público possuium papel importante nesse processo, vistoque as oportunidades de aumento de pro-dutividade são consideráveis e precisam serpotencializadas com apoio governamentalcomo ocorreu no setor Agropecuário. Políti-cas de apoio à inovação e difusão de novastecnologias, voltadas para melhorias na ca-pacidade de gestão empresarial e tambémde qualificação da mão de obra, são algu-mas áreas onde o governo pode colaborar.

Tabela 5: Ganho de Produtividade e os Efeitos incluindo a Taxa de Desemprego

Anual 1995-2008 1995-1999 2001-2008 1. Efeito Tecnológico 0,8% 1,2% 0,8% 2. Efeito Composição 0,0% -1,8% 0,7% 2.a Efeito Comp s/ Emp 0,1% -0,7% 0,3% 2.b Efeito Emprego -0,1% -1,0% 0,4% Ganho de Produtividade 0,8% -0,6% 1,5%

Fonte: Elaboração própria

Por Antônio Marcos Hoelz Pinto Ambrozioe Filipe Lage de SousaEconomistas da APE

Visãodo Desenvolvimento

nº 101 7 mai 2012

Visão do Desenvolvimento é uma publica-ção da área de Pesquisas Econômicas (APE),do Banco Nacional de Desenvolvimento Eco-nômico e Social. As opiniões deste informesão de responsabilidade dos autores e nãorefletem necessariamente o pensamento daadministração do BNDES.

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Decompondo a produtividadebrasileira entre 1995 e 2008

O aumento daprodutividade éum elementocrucial para im-

pulsionar o crescimento econômico. O eco-nomista Paul Krugman cunhou uma expres-são que sintetiza sua importância: “Produ-tividade não é tudo, mas no longo prazo équase tudo”.1 A experiência brasileira ilus-tra a relevância de ganhos de produtivida-de para o desenvolvimento econômico. ATabela 1 mostra o crescimento do PIB e daprodutividade do trabalho entre 1951 e2010. Enquanto entre 1951 e 1980, perío-do de rápida expansão do produto (acimade 7% a.a), houve significativo avanço naprodutividade (3,6% a.a), na década per-dida (80) o PIB cresceu apenas 1,6% a.a.,associado a uma queda na produtividade

1 Krugman P. (1997) “The Age of Diminishing Expectations:U.S. Economic Policy in the 1990s”.

do trabalho de 1,8% a.a. nesse período.Nos últimos vinte anos, a produtividade vol-tou a crescer (1,2% a.a.) impulsionando ocrescimento da renda (3% a.a.).

A recuperação do crescimento da produti-vidade brasileira nas últimas duas décadas,no entanto, ficou aquém da performance dosEUA, indicando ausência de convergência emrelação às economias mais desenvolvidas.Numa comparação com países em desen-volvimento, a produtividade da economiabrasileira continua maior que a de algunspaíses relevantes, tais como China e Índia,porém a produtividade do trabalho chinesacresceu por volta de 8% a.a. e a indiana quase5% a.a., ambos entre 1993 e 2010 (segun-do dados do The Conference Board).

Mostraremos nesse informe que o princi-pal entrave para o crescimento mais acele-rado da produtividade brasileira no período

Efeito tecnológicofoi o principalresponsável porganhos no período