Deepak Chorpa Corpo Sem Idade Mente Sem Fronteiras[1]

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eu gostaria que voc, leitor, se juntasse a mim numa viagem de descobertas. exploraremos um lugar onde as regras da existncia comum no se aplicam. estas regras estipulam explicitamente que envelhecer, tornar-se frgil e morrer o destino final de todos. e assim tem sido um sculo aps o outro. quero, no entanto, que voc deixe de lado suas concepes sobre o que chamamos de realidade para que possamos nos tornar pioneiros em uma terra onde o vigor da juventude, a renovao, a criatividade, a alegria, a realizao e a perenidade so a experincia comum da vida, onde a idade avanada, a senilidade, a enfermidade e a morte no existem e no so sequer consideradas como uma possibilidade. se existe um tal lugar, o que nos impede de ir para l? no se trata de ura continente sombrio ou de um mar perigoso ainda no desbravado. o nosso condicionamento, a nossa atual viso coletiva do mundo que nos foi ensinada por nossos pais, professores e pela sociedade. este modo de ver as coisas o velho paradigma tem sido apropriadamente chamado de ' 'a hipnose do condicionamento social'', uma fico na qual coletivamente concordamos em participar. o seu corpo est envelhecendo fora do seu controle porque foi programado para viver de acordo com as regras desse condicionamento coletivo. se existe algo de natural e inevitvel acerca do processo de envelhecimento, no pode ser conhecido seno quando os grilhes das nossas velhas crenas forem rompidos. a fim de criar a experincia de um corpo sem

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idade e uma mente sem fronteiras no tempo, que a inteno deste livro, voc tem que se desfazer de dez idias a respeito de quem voc e qual a verdadeira natureza da mente e do corpo. essas idias formam o alicerce da viso de mundo que compartilhamos com os nossos semelhantes: 3. h um mundo objetivo independente do observador, e nossos corpos so um aspecto deste mundo. 4. o corpo composto de conjuntos de matria separados um do outro no tempo e no espao. 5. corpo e mente so separados e independentes um do outro. 6. o materialismo primrio, a conscincia, secundria. em outras palavras, somos mquinas fsicas que aprenderam a pensar. 7. a conscincia humana pode ser completamente explicada como um produto da bioqumica. 8. como indivduos, somos entidades desconectadas e autosuficientes. 9. nossa percepo do mundo automtica e nos d um quadro preciso de como as coisas realmente so. 10.nossa verdadeira natureza totalmente definida pelo corpo, ego e personalidade. somos fios de lembranas e desejos envoltos em pacotes de carne e ossos. 11.o tempo existe como um valor absoluto, e ns somos cativos desse absoluto. ningum escapa devastao causada pelo tempo. 10. o sofrimento necessrio parte da realidade. somos vtimas inevitveis da doena, do envelhecimento e da morte. tais concepes vo muito alm da questo do envelhecimento e definem um mundo de separao, decadncia e morte. o tempo visto como uma priso da qual ningum escapa; nossos corpos so mquinas bioqumicas que, como todas as mquinas, se desgastam. "a uma certa idade", afirmou certa vez lewis thomas, "est em nossa natureza nos desgastarmos, ficarmos desengonados e morrer, e pronto." esta posio, a

linha dura da cincia materialista, desconsidera o muito que h na natureza humana. somos as nicas criaturas na face da terra capazes de mudar nossa biologia pelo que pensamos e sentimos. possumos o nico sistema nervoso consciente do fenmeno do envelhecimento. lees e tigres velhos no percebem o que est acontecendo com eles mas ns sim. e porque somos conscientes, nossos estados mentais influenciam aquilo de que temos conscincia. seria impossvel isolar um simples pensamento ou sentimento, uma simples crena ou suposio, que no tenha algum efeito sobre o envelhecimento, direta ou indiretamente. nossas clulas esto constantemente bisbilhotando nossos pensamentos e sendo modificadas por eles. um surto de depresso pode arrasar com o sistema imunolgico; apaixonar-se, ao contrrio, pode fortific-lo tremendamente. o desespero e a desesperana aumentam o risco dos ataques de corao e do cncer, encurtando a vida. a alegria e a realizao nos mantm saudveis e prolongam a vida. isto significa que a linha entre a biologia e a psicologia na verdade no pode ser traada com qualquer grau de certeza. a recordao de uma situao de estresse, que no passa de um fio de pensamento, libera o mesmo fluxo de hormnios destrutivos que o estresse propriamente dito. pelo fato de a mente influenciar cada clula existente no corpo, o envelhecimento humano um processo fluido e cambivel; pode ser acelerado, reduzido, parar por algum tempo e at mesmo reverter-se. centenas de descobertas fruto de pesquisas realizadas nas trs ltimas dcadas comprovaram que o envelhecimento muito mais dependente do indivduo do que jamais se sonhou no passado. no entanto, o avano mais significativo no fica limitado em descobertas isoladas uma viso de mundo completamente nova. as dez suposies do antigo paradigma no descrevem acuradamente a nossa realidade. so invenes da mente humana que transformamos em regras. para desafiar o envelhecimento em sua essncia, tem que ser desafiada primeiro toda essa viso de mundo, pois ningum dispe de mais poder sobre o corpo do que as crenas de nossa mente. cada pressuposio do velho paradigma pode ser substi-

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tuda por uma verso mais completa e expandida da verdade. estas novas convices tambm so apenas idias criadas pela mente humana, mas nos concedem muito mais liberdade e poder. elas nos do a capacidade de reescrever o programa de envelhecimento que atualmente comanda nossas clulas. as dez novas suposies so as seguintes: 12.o mundo fsico, inclusive nossos corpos, uma resposta do observador. criamos os nossos corpos assim como criamos a experincia do nosso mundo. 13.em essncia, nossos corpos so compostos de energia e informao, no de matria slida. esta energia e informao so manifestaes dos infinitos campos de energia e informao que alcanam todo o universo. 14.corpo e mente so inseparveis. a unidade que sou "eu" separa-se em dois cursos de experincia. expe-riencio o curso subjetivo como pensamentos, sentimentos e desejos. experiencio o curso objetivo como meu corpo. em um nvel mais profundo, contudo, os dois cursos se encontram em uma nica fonte criativa. a partir desta fonte que somos destinados vida. 15.a bioqumica do corpo um produto da conscincia. crenas, pensamentos e emoes criam as reaes qumicas que sustentam a vida de cada clula. uma clula que envelhece o produto final da conscincia que se esqueceu de como permanecer jovem. 16.a percepo parece ser automtica, mas na verdade um fenmeno aprendido. o mundo onde voc vive, inclusive a experincia do seu prprio corpo, completamente ditado pelo modo como voc aprendeu a perceb-lo. se mudar a sua percepo, voc mudar a experincia do seu corpo e do seu mundo. 17.impulsos de inteligncia criam o seu corpo em novas formas a cada segundo. voc se constitui na soma total desses impulsos, e, ao mudar seus padres, voc tambm mudar. 18.embora cada pessoa parea ser separada e independente, todos ns estamos ligados a padres de inteli-

gncia que governam todo o cosmos. nossos corpos so parte de um corpo universal, nossas mentes so um aspecto de uma mente universal. 19.o tempo no existe enquanto valor absoluto, apenas a eternidade. o tempo a eternidade quantificada, a perenidade fragmentada em pedaos (segundos, horas, dias, anos) por ns mesmos. o que chamamos de tempo linear um reflexo de como percebemos as mudanas. se pudssemos perceber o imutvel, o tempo conforme o conhecemos cessaria de existir. podemos comear a aprender a metabolizar a no-mudan-a, a eternidade, o absoluto. ao faz-lo, estaremos prontos a criar a fisiologia da imortalidade. 20.cada um de ns habita uma realidade que jaz alm de todas as mudanas. bem no fundo, desconhecido dos cinco sentidos, existe uma essncia ntima do ser, um campo de no-mudana que cria a personalidade, o ego e o corpo. este ser a nossa essncia quem somos ns de verdade. 10. no somos vtimas do envelhecimento, da doena e da morte. essas coisas so parte do cenrio e no daquele que v, o qual imune a qualquer forma de mudana. este que v o esprito, a expresso do ser eterno. estas so suposies vastas, componentes de uma nova realidade, e no entanto todas so aliceradas nas descobertas que a fsica quntica fez h quase cem anos. as sementes deste novo paradigma foram plantadas por einstein, bohr, hei-senberg e outros pioneiros da fsica quntica, que perceberam que o modo geralmente aceito de ver o mundo fsico era falso. embora as coisas "l fora" paream ser reais, no h qualquer prova de sua realidade independente do observador. no h duas pessoas que compartilhem exatamente o mesmo universo. cada viso de mundo cria seu prprio mundo. quero convenc-lo de que voc muito mais do que seus limitados corpo, ego e personalidade. as regras de causa e efeito tais como voc as aceita reduziram-no ao volume de um cor-

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po e durao de uma vida. na realidade, o campo da vida humana aberto e sem limites. uma vez que voc se identifique com essa realidade, a qual consistente com a viso qun-tica do mundo, o processo de envelhecimento se modificar fundamentalmente.

acabando com a tirania dos sentidos por que aceitamos uma coisa como real? porque podemos v-la e toc-la. todo mundo nutre um preconceito em favor de coisas que so confortadoramente tridimensionais e que nos so apresentadas como tais por nossos cinco sentidos. viso, audio, tato, paladar e olfato servem para reforar a mesma mensagem: as coisas so o que parecem. de acordo com esta realidade a terra plana, o cho sob os nossos ps estacionado, o sol nasce no leste e se pe no oeste, tudo porque assim parece aos nossos sentidos. enquanto os cinco sentidos foram aceitos sem questionamento, tais fatos permaneceram imutveis. einstein percebeu que tempo e espao so tambm produtos de nossos cinco sentidos; vemos e tocamos coisas que ocupam trs dimenses, e experimentamos os fatos como acontecendo em ordem seqencial. no entanto, einstein e seus colegas foram capazes de remover a mscara das aparncias. eles reorganizaram tempo e espao em uma nova geometria que no tinha princpio nem fim, nem margens nem solidez. cada partcula slida no universo passou a ser um feixe espectral de energia vibrando num imenso vazio. o velho modelo de espao-tempo foi esmigalhado, substitudo por um campo fluido, intemporal, de transformao constante. este campo quntico no separado de ns ele ns. onde a natureza vai para criar estrelas, galxias, quarks e lp-tons, voc e eu vamos para criar-nos a ns mesmos. a grande vantagem desta nova viso de mundo o fato de ser to imensamente criativa o corpo humano, como tudo mais no cos-

mos, est sendo refeito a cada segundo que passa. embora os seus sentidos lhe digam que voc habita um corpo slido no tempo e no espao, esta to-somente a camada mais superficial da realidade. seu corpo algo muito mais miraculoso um organismo que flui com a fora de milhes de anos de inteligncia. esta inteligncia dedicada a observar a mudana constante que tem lugar dentro de voc. cada clula um terminal em miniatura conectado ao computador csmico. por esta perspectiva dificilmente parece possvel que os seres humanos envelheam. por mais fraco e desamparado que parea um beb recm-nascido superiormente defendido contra a devastao causada pelo tempo. se um beb pudesse preservar seu estado de imunidade quase invulnervel, ns todos viveramos pelo menos duzentos anos, de acordo com as estimativas dos fisiologistas. se o beb pudesse preservar suas artrias cintilantemente lisas, to flexveis quanto seda, o coles-terol no encontraria ponto algum para se alojar e as doenas cardacas seriam desconhecidas. cada uma dos cinqenta trilhes de clulas do recm-nascido lmpida como uma gota de chuva, sem um nico trao de resduos txicos; tais clulas no tm motivo para envelhecer, porque nada dentro delas comeou a perturbar seu perfeito funcionamento. no entanto, as clulas do beb no so novas os tomos que h nelas esto circulando no cosmos h bilhes de anos. mas o beb foi feito novo por uma inteligncia invisvel voltada para a tarefa de modelar uma forma de vida nica. o campo perene inventou um novo passo de dana, os ritmos pulsantes de um corpo recm-nascido. envelhecer uma mscara para a perda desta inteligncia. a fsica quntica nos diz que no h fim para a dana csmica o campo universal de energia e informao nunca cessa de se transformar, tornando-se novo a cada segundo. nossos corpos obedecem ao mesmo impulso criativo. um nmero estimado de 6 trilhes de reaes tm lugar em cada clula a cada segundo. se este fluxo de transformao um dia for interrompido, as clulas entram em desordem, o que sinnimo de envelhecimento. o po velho azeda porque fica simplesmente ali, vtima

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da umidade, dos fungos, da oxidao e de vrios processos qumicos destrutivos. um paredo de calcrio desmorona com o tempo porque castigado pelo vento e pela chuva e porque no tem poder para se reconstruir. nossos corpos tambm so submetidos ao mesmo processo de oxidao e so atacados por fungos e vrios germes; e so expostos ao mesmo vento e mesma chuva. mas, ao contrrio de um paredo de calcrio ou de um pedao de po, ns somos capazes de nos renovar. nossos ossos no se limitam a armazenar clcio do jeito que o paredo de calcrio faz eles fazem o clcio circular. tomos novos de clcio entram constantemente em nossos ossos e os deixam de novo para se tornarem parte do sangue, pele ou outras clulas de acordo com as necessidades do corpo. a fim de permanecer vivo, o corpo deve viver nas asas da mudana. neste exato momento voc est exalando tomos de hidrognio, oxignio, carbono e nitrognio que um instante antes estavam presos em uma matria slida; seu estmago, fgado, corao, pulmes e crebro esto se desvanecendo no ar, sendo substitudos to rpida e interminavelmente quanto vo se desgastando. a pele se substitui uma vez por ms, o revestimento do estmago a cada cinco dias, o fgado a cada seis semanas e o esqueleto de trs em trs meses. a olho nu, esses rgos parecem os mesmos a cada momento em que so examinados, mas na verdade esto sempre em fluxo. l pelo final do ano, 98% dos tomos do seu corpo tero sido substitudos por outros. uma imensa proporo desta mudana interminvel trabalha em seu benefcio. s uma enzima em milhes reage com um aminocido menos que perfeitamente; caso rarssimo quando um neurnio entre bilhes falha; num filamento de dna cifrado com bilhes de informaes genticas, uma pode falhar, para reparar a si prpria quando ocorrer o dano. estes raros enganos so imperceptveis, e seria o caso de se pensar que no so l muito importantes. o corpo humano como o grande ator shakespeariano capaz de representar ham-let mil vezes e tropear exclusivamente em uma slaba. s que as rachaduras invisveis na perfeio do corpo tm importncia. a preciso de nossas clulas decai gradativamente. a renovao torna-se ligeiramente menos nova. envelhecemos.

comeando aos 30 anos de idade e prosseguindo ao ritmo lentssimo de l7o ao ano, o corpo humano normal comea a ter problemas: aparecem as rugas, a pele perde o tnus e o frescor, os msculos comeam a ceder. em vez de indicar trs vezes mais msculos do que gordura, a proporo passa a ser igual, a viso e a audio so reduzidas, os ossos se afinam e se tornam quebradios. a vitalidade e a resistncia declinam progressivamente, tornando difcil a realizao do mesmo trabalho que se costumava fazer. a presso arterial sobe e muitos elementos bioqumicos afastam-se de seus nveis timos; a maior preocupao dos mdicos com o colesterol, que vai aumentando gradualmente com o passar dos anos, marcando o insidioso progresso das doenas do corao, o que mata mais gente que qualquer outra enfermidade. em outras frentes, mutaes celulares comeam a sair do controle, criando tumores malignos que matam uma pessoa em cada trs, principalmente aps os 65 anos de idade. com o tempo, essas vrias "mudanas provenientes da idade", como os gerontologistas as denominam, exercem poderosa influncia. so elas os milhares de minsculas ondas que trazem a mar da idade avanada. mas a qualquer momento o envelhecimento responde por apenas 1% da mudana total que toma lugar no interior do corpo. em outras palavras, 99% da energia e inteligncia de que voc composto permanecem intocadas pelo processo do envelhecimento. em termos do corpo enquanto processo, a eliminao deste 1% de disfuno terminaria com o envelhecimento. mas como agir sobre este 1%? para responder, temos que encontrar o boto do controle que manipula a inteligncia interior do corpo. a nova realidade que nos trazida pela fsica quntica tornou possvel pela primeira vez manipular a inteligncia invisvel que est por trs do mundo visvel. einstein nos ensinou que o corpo fsico, como todos os objetos materiais, uma iluso, e tentar manipul-lo pode ser como querer agarrar uma sombra sem encontrar sua substncia. o mundo invisvel o mundo real, e quando estivermos dispostos a explorar os nveis invisveis de nossos corpos, poderemos recorrer imensa fora criativa que jaz na nossa fonte. permitam que eu me de-

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tenha nos dez princpios do novo paradigma luz deste potencial oculto espera sob a superfcie da vida. 1. no h mundo objetivo independente do observador o mundo que voc aceita como real parece ter qualidades definidas. algumas coisas so grandes, outras pequenas; umas so duras, outras, moles. no entanto, nenhuma dessas qualidades significa qualquer coisa que no seja a sua percepo. tome qualquer objeto, como, por exemplo, uma cadeira de dobrar. para voc ela no muito grande, mas para uma formiga imensa. para voc a cadeira dura, mas um neutri-no passaria direto atravs dela, porque para uma partcula subatmica os tomos da cadeira so separados por quilmetros. a cadeira parece estar fixa, mas se voc observasse do espao sideral a veria girando, juntamente com tudo mais na terra, a mil milhas por hora. da mesma forma, qualquer outra coisa que voc possa descrever relacionada com a cadeira pode ser completamente alterada simplesmente com a mudana da sua percepo. se a cadeira for vermelha, voc pode fazer com que parea preta vendo-a atravs de culos verdes. se a cadeira pesar cinco quilos voc poder fazer com que pese dois, colocando-a na lua, ou cem mil, pondo-a no campo gravita-cional de uma estrela de grande densidade. por no existirem qualidades absolutas no mundo material, inclusive falso dizer que h um mundo independente "l fora". o mundo um reflexo do mecanismo sensorial que o registra. o sistema nervoso humano apreende apenas a menor das fraes, menos que uma parte de um bilho, da energia total que vibra no ambiente. outros sistemas nervosos, tais como o de um morcego ou de uma cobra, refletem um mundo diferente, coexistindo com o nosso. o morcego sente um mundo de ultra-som, a cobra, um mundo de luz infravermelho, ambos imperceptveis a ns. tudo o que h realmente "l fora" so dados informes, em estado natural, esperando para serem interpretados por vo-

c, o sujeito que vai capt-los. voc toma "uma sopa fluida e radicalmente ambgua de quantum", como os fsicos a chamam, e usa seus sentidos para congel-la e traz-la para o mundo slido tridimensional. o eminente neurologista britnico sir john eccles demole a percepo sensorial com uma afirmao espantosa, mas irrefutvel: "quero que voc perceba que no h cor no mundo natural e no h som; nada deste tipo; nada de texturas, padres, beleza, perfume..." resumindo, nenhum dos fatos objetivos sobre os quais geralmente baseamos a nossa realidade fundamentalmente vlido. por mais perturbador que possa parecer, incrivelmente libertador perceber que voc pode mudar o seu mundo inclusive o seu corpo simplesmente por mudar a sua percepo. o modo como voc v a si mesmo est causando imensas mudanas no seu corpo neste exato momento. para dar um exemplo: nos estados unidos e na inglaterra, a aposentadoria compulsria aos 65 anos de idade funciona como uma data limite arbitrria para a utilidade social da pessoa. at a vspera do dia em que faz 65 anos, ela contribui com seu trabalho e seu valor para a sociedade; no dia seguinte passa a ser um dos dependentes dessa sociedade. sob o ponto de vista mdico, os resultados desta mudana de percepo podem ser desastrosos. nos primeiros anos aps a aposentadoria as estatsticas de enfartes e cncer aumentam drasticamente, e a morte prematura abate homens que eram saudveis at o dia em que se aposentaram. "a morte por aposentadoria precoce", como a sndrome chamada, depende da percepo de que os dias teis da pessoa terminaram; trata-se apenas de uma percepo, mas para quem a sustenta com firmeza suficiente para criar doena e morte. por comparao, em sociedades onde a idade avanada aceita como parte do tecido social, os idosos permanecem extremamente vigorosos desempenhando atividades que no aceitamos como normais entre os nossos velhos. se voc examinar as clulas velhas, como, por exemplo, as que formam as chamadas manchas de senilidade na nossa pele, com a ajuda de um microscpio poderoso, o que se v um cenrio to devastado quanto uma praa de guerra. tra-

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os fibrosos por aqui e por ali; depsitos de gordura e resduos metablicos no-descartados formam grumos repugnantes; pigmentos escuros, amarelados, chamados de lipofuscina, acumularam-se a ponto de ocupar, como uma espcie de lixo, de 10 a 30% do interior da clula. esta cena de devastao foi criada por processos subcelulares que saram errados, mas se voc examin-la com lentes menos materialistas, ver que as clulas velhas so como mapas da experincia da pessoa. as coisas que fizeram voc sofrer foram impressas aqui, juntamente com as que lhe trouxeram alegria. situaes de estresse esquecidas h muito tempo no nvel consciente ainda transmitem sinais, como microchips enterrados, tornando-o ansioso, tenso, fatigado, apreensivo, ressentido, duvidoso, desapontado reaes estas que cruzam a barreira psicossomtica para se tornarem parte de voc. os depsitos txicos que entopem as clulas velhas no aparecem uniformemente; algumas pessoas apresentam esse tipo de reao em quantidade muito maior do que outras, mesmo quando so nfimas as diferenas genticas entre elas. quando voc chegar aos 70 anos, as suas clulas tero uma aparncia nica, espelhando as experincias igualmente nicas que voc processou e metabolizou no interior dos seus tecidos e rgos. ser capaz de processar as vibraes caticas da "sopa quntica" e transform-las em pedaos de realidade ordenados e significativos algo que abre enormes possibilidades criativas. estas possibilidades, contudo, s existem quando voc tem conscincia delas. enquanto voc est lendo este livro, grande parte da sua conscincia est engajada em criar seu corpo sem sua participao. o sistema nervoso chamado de autnomo ou involuntrio destina-se a controlar funes das quais no temos conscincia. se voc sai andando pela rua em transe, os centros involuntrios do seu crebro ainda assim estaro atentos ao mundo, continuando a preveni-lo do perigo, prontos para ativar a reao ao estresse de uma hora para outra. uma centena de fenmenos aos quais voc no presta ateno respirar, digerir, criar novas clulas, reparar as clulas velhas danificadas, purificar as toxinas, preservar o equilbrio hormonal, converter a energia armazenada de gordura em a-

car no sangue, dilatar as pupilas, aumentar e diminuir a presso arterial, manter constante a temperatura do corpo, conservar o equilbrio enquanto voc anda, enviar sangue em mais quantidade para os grupos de msculos ou rgos que estiverem em maior atividade e sentir os movimentos e sons no meio ambiente tudo isto segue sem cessar. estes processos automticos desempenham um papel preponderante no envelhecimento, pois, medida que ficamos mais velhos, nossa capacidade para coordenar essas funes vai declinando. viver inconscientemente leva a numerosas deterioraes, enquanto que uma vida de participao consciente as impede. o simples fato de prestar ateno s funes corporais, em vez de deix-las por conta do piloto automtico, modificar o modo como envelhecemos. toda funo denominada involuntria, do batimento cardaco respirao ou regulao dos hormnios, pode ser controlada conscientemente. a era do biofeedback (tcnica de usar o feedback de uma reao corporal normalmente automtica a um estmulo, a fim de se adquirir o controle voluntrio dessa reao) e da meditao nos ensinou isso pacientes cardacos foram treinados em laboratrios psicossomticos a reduzir sua presso sangnea ou a reduzir as secrees cidas que criam lceras, entre dezenas de outras coisas. por que no usar esta capacidade no processo de envelhecimento? por que no trocar os antigos padres de percepo por novos? h inmeras tcnicas, conforme veremos, para influenciar o sistema nervoso involuntrio em nosso benefcio. 2. nossos corpos so compostos de energia e informao para transformar os padres do passado voc tem que saber de que eles so feitos. o seu corpo parece ser composto de matria slida que pode ser subdividida em molculas e tomos, mas a fsica quntica nos diz que todo tomo composto de mais de 99,9999% de espao vazio, e as partculas subatmicas que se movem velocidade da luz atravs deste espa-

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o na verdade so feixes de vibrante energia. estas vibraes, contudo, no so aleatrias e sem significado; elas carregam informaes. assim, um feixe de vibraes codificado como um tomo de hidrognio, outro como oxignio; cada elemento , na verdade, seu cdigo prprio e nico. os cdigos so abstratos, assim tambm como, em ltima anlise, o nosso cosmos e tudo o que h nele. o exame da estrutura fsica do corpo at a sua origem termina quando as molculas cedem a vez aos tomos, os tomos s partculas subatmicas e estas partculas por sua vez a manifestaes de energia que se desenvolvem no vazio. vazio este que misteriosamente impresso com informaes mesmo antes de qualquer informao ser impressa. assim como milhares de palavras existem silenciosamente em sua memria antes de serem pronunciadas, o campo quntico contm todo o universo em forma ainda no dotada de expresso; tem sido assim desde o big bang, quando bilhes de galxias foram comprimidas em um espao milhes de vezes menor do que o ponto final desta frase. no entanto, mesmo antes deste ponto infinitesimal, a estrutura do universo existia em uma forma no-manifesta. o que h de essencial no universo, inclusive o seu corpo, nomatria, s que no no-matria comum. uma no-matria que pensa. o vazio no interior de cada tomo pulsa com informaes invisveis. os geneticistas localizam estas informaes basicamente no interior do dna (cido desoxirri-bonuclico), mas isto feito apenas por ser mais conveniente. a vida se desenvolve quando o dna compartilha suas informaes codificadas com seu gmeo ativo, o rna (cido ribo-nuclico), que, por sua vez, dirige-se ao interior da clula e distribui partculas de informaes para milhares de enzimas, as quais usam ento suas informaes especficas para fabricar protenas. em todos os pontos desta seqncia foram trocadas energia e informaes caso contrrio teria sido impossvel haver o surgimento da vida a partir de matria inerte. o corpo humano obtm sua energia bsica atravs da queima de acar, que transportado para as clulas em forma de glicose, ou acar do sangue. a estrutura qumica da glicose intimamente semelhante do acar de mesa comum, a

sacarose. s que se voc queimar acar comum, no ter as estruturas sofisticadas e complexas de uma clula viva; ter apenas um punhado calcinado de cinzas e traos de guas e di-xido de carbono no ar. o metabolismo mais do que um processo de queima; um ato inteligente. o mesmo acar que permanece inerte em um torro sustenta a vida com sua energia porque as clulas do corpo o impregnam com novas informaes. o acar pode contribuir com sua energia para o rim, o corao ou uma clula do crebro, por exemplo. cada uma delas contm uma forma absolutamente distinta de inteligncia as contraes rtmicas de uma clula cardaca so completamente diferentes das descargas eltricas de uma clula cerebral ou das trocas de sdio de uma clula do fgado. por mais maravilhoso que seja esse tesouro de informaes diversificadas, 110 fundo h uma nica informao compartilhada por todo o corpo. o seu fluir que mantm voc vivo, e quando cessa de fluir, no momento da morte, todo o conhecimento armazenado no seu dna passa a ser intil. medida que envelhecemos, esse fluxo de informaes vai se comprometendo de diversas maneiras. a inteligncia especfica dos sistemas imunolgico, nervoso e endrocrinolgico comea a ser prejudicada; e, como do conhecimento dos fisio-logistas, esses sistemas funcionam como os controles principais do corpo. suas clulas imunolgicas e suas glndulas en-dcrinas so equipadas com os mesmos receptores para sinais emitidos pelo crebro que os seus neurnios; assim sendo, funcionam como uma extenso do crebro. a senilidade no pode ser considerada ento como simplesmente uma doena confinada nossa massa cinzenta; quando a informao perdida no sistema imunolgico ou no endocrinolgico, a senilidade de todo o corpo est se instalando. j que tudo isso acontece a um nvel invisvel, no manifesto, as perdas seguem despercebidas at atingirem um estgio muito adiantado, quando so expressas como um sintoma fsico. os cinco sentidos no podem ir fundo o bastante para experimentar os bilhes de trocas qunticas que criam o envelhecimento. o ritmo de mudana ao mesmo tempo rpido

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e lento demais: rpido porque as reaes qumicas individuais se passam em menos que 1/10.000 do segundo, lento porque seu efeito cumulativo no aparece seno em alguns anos. essas reaes envolvem informaes e energia em uma escala milhes de vezes menor que um nico tomo. a deteriorao que vem com a idade seria inevitvel se o corpo fosse exclusivamente matria, j que todas as coisas materiais so vtimas em potencial da entropia, ou seja, da tendncia dos sistemas ordenados de se tornarem desordenados. o exemplo clssico de entropia o carro que enferruja abandonado num ferro-velho; a entropia degrada a mquina e a transforma em ferrugem esfarelenta. no h chance de que o processo funcione em sentido inverso que um monte de ferrugem volte a ser um carro novo. mas a entropia no se aplica inteligncia uma parte invisvel de ns imune s vicissi-tudes do tempo. a cincia moderna comea a descobrir as implicaes destes fatos, mas h sculos que tradies espirituais nos do conta da existncia de mestres que preservaram a juventude de seus corpos at idade muito avanada. a ndia, a china e o japo, e, em nmero menor, o ocidente cristo, viram nascer sbios que perceberam sua natureza essencial como um fluxo de inteligncia. preservando e nutrindo este fluxo ano aps ano, esses sbios venceram a entropia a partir de um nvel mais profundo da natureza. na ndia o fluxo da inteligncia chamado de prema (geralmente traduzido como "fora vital"), que pode ser aumentado e diminudo ao sabor da vontade. mexido aqui e ali e manipulado para manter o corpo em ordem e jovem. como veremos adiante, a capacidade de contatar e usar o prana est dentro de todos ns. um iogue movimenta o prana usando apenas o poder de concentrao, pois, a um nvel profundo, concentrao e prana so a mesma coisa a vida conscincia, e conscincia vida. 3. mente e corpo so inseparveis a inteligncia muito mais flexvel do que a mscara de matria que a esconde. a inteligncia pode se expressar como

pensamentos ou como molculas. uma emoo bsica como o medo pode ser descrita como um sentimento abstrato ou como uma molcula tangvel do hormnio chamado adrenalina. sem a sensao no h hormnio; sem o hormnio no h sensao. do mesmo modo, no h dor sem os sinais nervosos que transmitem a dor; no h alvio da dor sem as en-dorfinas que se ajustam nos receptores da dor para bloquear esses sinais. a revoluo que chamamos de medicina da mente e do corpo, ou seja, psicossomtica, baseia-se nesta descoberta muito simples: onde quer que v o pensamento, ir um elemento qumico. esta descoberta transformou-se numa ferramenta poderosa que nos permite compreender, por exemplo, por que vivas recentes tm duas vezes mais chances de desenvolver cncer de mama e por que as pessoas que sofrem de depresso crnica tm quatro vezes mais probabilidades de adoecer. em ambos os casos, os estados mentais angustiados so convertidos em elementos bioqumicos que criam as doenas. em minha prtica mdica, vejo dois pacientes cardacos que sofrem de angina do peito, com a mesma presso, a mesma dor de tirar o flego tpica da doena cardaca. um paciente ser capaz de correr, nadar e talvez at mesmo de escalar uma montanha, ignorando totalmente sua dor ou mesmo no sentindo nada, enquanto que o outro quase desmaia de dor quando se levanta de sua poltrona. meu primeiro instinto ser procurar uma diferena fsica entre eles, mas posso encontrar ou no encontrar nada. os cardiologistas esperam que a dor da angina aparea quando pelo menos uma das trs artrias coronrias esteja 50% bloqueada. este bloqueio tem quase sempre a forma de um ateroma, uma leso da parede interna das artrias provocando a formao local de depsitos de colesterol, clulas mortas, cogulos de sangue e placas de gordura. o bloqueio de 50% no passa, contudo, de uma regra geral. alguns pacientes de angina so incapacitados pela dor quando tm apenas uma nica leso pequena que mal obstrui o fluxo do sangue em uma artria, enquanto outros pacientes sofrendo bloqueios mltiplos e macios de at 85% j correram maratonas. (a angina no sem-

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pre causada pelo bloqueio fsico da artria, eu deveria acrescentar. as artrias so forradas por uma camada de clulas musculares que podem contrair-se num espasmo e espremer o vaso sangneo fechado, mas esta uma reao nica altamente individual.) em termos psicossomticos, meus dois pacientes esto expressando suas diferentes interpretaes da dor. cada paciente marca sua condio com uma perspectiva nica, e a dor (ou qualquer outro sintoma) emerge em sua conscincia apenas depois que interage com todas as influncias passadas em ao no seu sistema psicossomtico. no h uma reao nica para todas as pessoas ou para a mesma pessoa em duas oportunidades diferentes. os sinais de dor so dados em estado bruto, que podem servir para muitos propsitos. o atletismo que exige grande esforo, como a corrida de longa distncia, sujeita o atleta a uma dor que ele interpreta como sinal de realizao ("sem dor, sem ganho"); mas a mesma dor, em outras circunstncias, seria completamente indesejada. os atletas especializados em maratonas admiram o treinador que os obriga a buscar seus limites, mas poderiam odiar o mesmo tratamento num campo de instruo de recrutas. a medicina est comeando a se utilizar da ligao mentecorpo para curar e derrotar a dor um bom exemplo. recebendo um placebo, ou seja, uma droga incua, 30% dos pacientes experimentaro o mesmo alvio para a dor como se tivessem tomado um verdadeiro analgsico. mas o efeito psicossomtico muito mais holstico. o mesmo comprimido incuo pode ser usado para eliminar a dor, para deter secrees gstricas em excesso em pacientes com lceras, para diminuir a presso arterial ou combater tumores. (todos os efeitos secundrios da quimioterapia, inclusive perda de cabelo e nusea, podem ser induzidos ao se administrar aos pacientes uma plula de acar e lhes assegurando que se trata de uma poderosa droga anticncer, e h casos em que injees de soluo salina estril chegaram a reduzir estgios bem avanados de tumores malignos.) j que o mesmo comprimido incuo pode levar a reaes to diferentes, devemos concluir que o corpo capaz de pro-

duzir qualquer reao bioqumica, uma vez que tenha sido dada mente a sugesto apropriada. o comprimido em si nada significa; o poder que ativa o placebo to-somente o poder da sugesto. esta sugesto ento convertida na inteno do corpo de se curar. assim sendo, por que no economizar o estgio gasto com a plula de acar e ir diretamente inteno? se pudermos efetivamente acionar a inteno de no envelhecer, o corpo reagiria automaticamente. dispomos de evidncias extremamente estimulantes para comprovar que existe tal possibilidade. uma das mais temidas enfermidades da idade avanada o mal de parkinson, um distrbio neurolgico que produz movimentos musculares incontrolveis e uma drstica reduo da velocidade dos movimentos corporais, como, por exemplo, o caminhar, que acaba por resultar num corpo to rgido que o paciente no consegue se mover. o mal de parkinson deve-se a uma inexplicvel carncia de um elemento qumico do crebro chamado dopamina, mas h tambm um mal de parkinson simulado quando as clulas do crebro produtoras de dopamina foram destrudas quimicamente por certas drogas. imaginemos um paciente vitimado por este tipo de manifestao do mal de parkinson em um estgio avanado da imobilizao do movimento. ao tentar caminhar, ele consegue apenas dar um ou dois passos antes de parar, duro como uma esttua. no entanto, se voc desenhar uma linha no cho e disser, "passe por cima", a pessoa miraculosamente ser capaz de caminhar por cima da linha. a despeito do fato de a produo de dopamina ser completamente involuntria e de seus estoques estarem aparentemente exauridos (o que demonstrado pelo fato de o crebro no ser capaz de sinalizar para os msculos das pernas o comando para que dem outro passo), simplesmente por ter havido uma inteno de andar, o crebro despertado. a pessoa pode ficar imvel de novo aps alguns segundos, mas se voc desenhar uma outra linha e novamente pedir que a ultrapasse, o seu crebro reagir. por extenso, a enfermidade e a inatividade exibidas por muitos velhos muitas vezes no passam de letargia. ao renovar sua inteno de viver vidas ativas, com objetivos a serem alcanados, muitas

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pessoas idosas podem melhorar drasticamente sua capacidade motora, agilidade e reaes mentais. a inteno parceira ativa da ateno; o modo atravs do qual convertemos processos automticos em conscientes. usando exerccios psicossomticos simples, praticamente qualquer paciente pode aprender em poucas sesses a converter um corao disparado, um chiado de asma ou uma terrvel ansiedade em uma reao mais normal. o que parece descontrolado pode ser trazido de volta ao controle da pessoa com a tcnica apropriada. so enormes as implicaes disto no processo de envelhecimento. inserindo uma inteno nos seus processos mentais, como, por exemplo, "quero melhorar em energia e vigor a cada dia'', voc pode comear a exercer controle sobre os centros cerebrais que determinam quanta energia ser expressa nas suas atividades. o declnio do vigor na idade avanada , em grande parte, o resultado da expectativa que a pessoa tem desse declnio; inadvertidamente ela implantou em si uma inteno de derrota na forma de uma forte crena, e a ligao mente-corpo automaticamente realiza essa inteno. nossas intenes passadas criam uma programao obsoleta que parece ter controle sobre ns. na verdade, o poder da inteno pode ser despertado a qualquer momento. muito antes de envelhecer, voc pode prevenir tais perdas programando conscientemente a sua mente para permanecer jovem, usando o poder de sua inteno. 4. a bioqumica do corpo um produto da conscincia uma das maiores limitaes do velho paradigma era a noo de que a conscincia no desempenhava nenhum papel na explicao do que est acontecendo no seu corpo. a cura, no entanto, no pode ser compreendida a menos que as crenas da pessoa, suas expectativas, conceitos e auto-imagem sejam tambm compreendidos. embora a imagem do corpo como uma mquina sem mente continue a dominar as principais correntes da medicina ocidental, h provas inquestionveis apontando no sentido contrrio. as estatsticas indicam que as ta-

xas de mortalidade por cncer e enfermidades cardacas so provavelmente mais altas entre pessoas com dificuldades psicolgicas, e mais baixas entre pessoas que tm um forte sentido de objetivo e bem-estar. um dos estudos mdicos mais publicados dos ltimos anos foi realizado pelo psiquiatra de stanford, david spiegel, que se disps a provar que o estado mental dos pacientes no influenciava o fato de eles sobreviverem ou no ao cncer. ele achava, como muitos outros mdicos, que atribuir importncia s crenas e atitudes do paciente faria mais mal do que bem, porque a idia de ter causado cncer em si prprio criaria sensaes de culpa e auto-recriminao. spiegel reuniu 86 mulheres com cncer de mama em estgio avanado (a doena no reagia mais a tratamentos convencionais) e submeteu metade delas a sesses semanais de psicoterapia combinadas com lies de autohipnose. por qualquer medida isto representa uma interveno mnima o que poderia uma mulher fazer em uma hora de terapia por semana, tempo este que tem que compartilhar com diversos outros pacientes, para combater uma enfermidade que inevitavelmente fatal nos estgios avanados? a resposta parece bvia. no entanto, aps acompanhar os objetos de sua pesquisa por dez anos, spiegel ficou surpreso ao descobrir que o grupo que recebia terapia apresentava um ndice de sobrevivncia em mdia duas vezes maior do que o grupo que no recebia. a essa altura apenas trs mulheres estavam vivas, todas pertencentes ao grupo da terapia. o estudo surpreendente porque o pesquisador no esperava qualquer resultado desse tipo. mas uma dcada de achados similares de outros pesquisadores veio reforar a descoberta. um estudo meticuloso datado de 1987 feito em yale, relatado por m.r. jensen, traz luz a descoberta de que o cncer de mama progredia mais rapidamente entre mulheres com personalidades reprimidas, desesperanadas e incapazes de exprimir raiva, medo e outras emoes negativas. descobertas similares foram divulgadas para artrite reu-matide, asma, enxaquecas e outros distrbios. dominados pelo velho paradigma, os mdicos mostraram

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seu preconceito contra tais resultados. como larry dossey observa em seu perspicaz trabalho intitulado medicine and meaning: ' 'a mensagem dominante, proclamada incessantemente nas pginas de editoriais das revistas mdicas e nos plpitos das escolas de medicina, que 'a biologia bsica da doena' esmagadoramente importante e que sentimentos, emoes e atitudes simplesmente servem como acompanhantes." o que o novo paradigma nos ensina que as emoes no so eventos fugidios isolados no espao mental; elas so expresses da conscincia, a matria fundamental da vida. em todas as tradies religiosas, o sopro de vida o esprito. animar ou desanimar algum algo fundamental que o corpo tem que refletir. a conscincia faz uma imensa diferena no processo de envelhecimento, pois embora todas as espcies superiores envelheam, s os seres humanos so capazes de saber o que est lhes acontecendo, e traduzem o que sabem no prprio envelhecimento. o desespero por envelhecer faz com que voc envelhea mais depressa, enquanto que aceitar o envelhecimento graciosamente evita muitos sofrimentos, tanto fsicos quanto mentais. a velha mxima que diz "voc to velho quanto pensa que " tem implicaes profundas. o que um pensamento? um impulso de energia e informao, como tudo mais na natureza. os pacotes de informao e energia que rotulamos como rvores, estrelas, montanhas e oceanos poderiam ser chamados tambm de pensamentos da natureza, mas sob um aspecto importante os nossos pensamentos so diferentes. a natureza fica, de certa forma, imobilizada com seus pensamentos uma vez que o seu padro foi fixado; as estrelas e as rvores seguem um ciclo de crescimento que passa automaticamente pelos estgios do nascimento, desenvolvimento, decadncia e dissoluo. ns, contudo, no estamos presos dentro do nosso ciclo vital; tendo conscincia do que se passa, participamos de cada reao que tem lugar dentro de ns. os problemas surgem quando no assumimos a responsabilidade pelo que estamos fazendo. em seu livro the holographic universe, michael tal-bot traa uma brilhante comparao com o rei midas: j que tudo em que tocava se transformava em ouro, midas no po-

dia saber a real textura de nada. gua, trigo, carne ou penas, ludo s transformava no mesmo metal duro no instante em que eram tocados por midas. de maneira anloga, porque nossa conscincia transforma o campo quntico em realidade material comum, ns no somos capazes de conhecer a verdadeira textura da realidade quntica em si, seja atravs dos nossos cinco sentidos ou por pensar nela, pois um pensamento tambm transforma o campo pega as infinitas possibilidades do vazio e modela um evento espao-tempo especfico. o que voc chama de seu corpo tambm um evento espao-tempo especfico, e por experimentar sua materialidade, voc perde o toque de midas que converte o ouro potencial abstrato em uma coisa slida. a menos que voc se torne consciente da conscincia, no ser capaz de surpreender-se no ato da transformao. 5. a percepo um fenmeno aprendido o poder da conscincia no faria diferena em nossas vidas se a natureza tivesse proporcionado a todos idnticas reaes experincia. claro que no assim; no h duas pessoas que compartilhem a mesma percepo de nada. o rosto do seu bemamado pode ser o rosto do meu pior inimigo, o prato pelo qual voc anseia talvez cause nuseas em mim. as reaes pessoais so aprendidas, e da que se originam as diferenas. aprender uma maneira muito ativa de usar a mente e que leva a mudanas igualmente ativas no corpo. percepes de amor, dio, deleite e nusea estimulam o corpo em direes extremamente diferentes. para resumir, nossos corpos so o resultado fsico de todas as interpretaes que aprendemos a fazer desde que nascemos. alguns pacientes de transplante relatam uma experincia excepcional aps a recepo de um rim, fgado ou corao doados. sem saber quem foi o doador do rgo, comeam a participar de suas lembranas. associaes que pertenciam a outra pessoa comeam a ser liberadas quando os tecidos daquela pessoa so colocados dentro de um estranho. em um caso.

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uma mulher acordou aps um transplante de corao ansiando por beber cerveja e comer chicken mcnuggets; ela ficou muito espantada, porque jamais quisera nem uma coisa nem outra. depois que comeou a ter sonhos misteriosos nos quais um jovem chamado timmy a procurava, ela veio a descobrir quem era o doador do seu corao, do qual s sabia que fora vtima de um acidente fatal de trnsito; quando entrou em contato com a famlia dele, descobriu que se tratava de um rapaz chamado timmy. a mulher ficou atnita ao descobrir que ele gostava muito de beber cerveja e fora atropelado quando voltava para casa vindo de um mcdonakts. em vez de procurar uma explicao no sobrenatural para tais fenmenos, pode-se v-los como uma confirmao de que nossos corpos so feitos de experincias transformadas em expresso fsica. tendo em vista que a experincia algo que incorporamos (literalmente, "fazer entrar num corpo"), nossas clulas foram instiladas com nossas lembranas; assim, receber as clulas de uma outra pessoa receber, ao mesmo tempo, as suas lembranas. as suas clulas esto constantemente processando as experincias e metabolizando-as de acordo com os seus pontos de vista pessoais. no se pode simplesmente captar dados brutos e carimb-los com um julgamento. voc se transforma na interpretao quando a internaliza. quem est deprimido por causa da perda do emprego projeta tristeza por toda parte no corpo a produo de neurotransmissores por parte do crebro reduz-se, o nvel dos hormnios baixa, o ciclo do sono interrompido, os receptores neuropeptdicos na superfcie externa das clulas da pele tornam-se distorcidos, as plaquetas sangneas ficam mais viscosas e mais propensas a formar gru-mos e at mesmo suas lgrimas contm traos qumicos diferentes das lgrimas de alegria. todo este perfil bioqumico ser drasticamente alterado quando a pessoa encontrar um novo emprego, e se for um emprego mais satisfatrio, a produo de neurotransmissores, hormnios, receptores e todos os outros elementos bioqumicos vitais, at o prprio dna, comear a refletir esta sbita mudana para melhor. embora consideremos que o dna um

depsito fechado de informaes genticas, seu gmeo ativo, o rna, responde pela existncia do dia-a-dia. estudantes de medicina em poca de exames mostram uma produo menor de interleucina 2, um elemento qumico crtico na reao do sistema imunolgico que combate o cncer. a produo de interleucina 2 controlada pelo mensageiro rna, o que significa que a ansiedade do estudante frente aos exames est se dirigindo diretamente a seus genes. este ponto refora a grande necessidade de usar nossa conscincia para criar os corpos que realmente desejamos. a ansiedade por causa de um exame acaba passando, assim como a depresso por causa de um emprego perdido; o processo de envelhecimento, contudo, tem que ser combatido a cada dia. sua interpretao de como voc est envelhecendo importantssima para o que vai acontecer nas prximas quatro, cinco ou seis dcadas. em termos neurolgicos, um sinal cerebral apenas um conjunto de flutuaes de energia. se voc estiver em corna, esses sinais no tm significado; quando voc est alerta e consciente, os mesmos sinais abrem-se para infinitas interpretaes criativas. shakespeare no estava sendo metafrico quando escreveu a fala de prspero que diz: "ns somos feitos da mesma matria dos sonhos." o corpo como uni sonho manifesto, urna projeo em trs dimenses de sinais ceiebrais quando estes se transformam em um estado que chamamos de "real". o envelhecimento no passa de um conjunto de transformaes mal dirigidas, processos que deveriam permanecer estveis, equilibrados e auto-renovadores, mas que se desviam do curso adequado. isto aparece como uma mudana fsica, e no entanto o que realmente aconteceu foi que sua conscincia a da sua mente ou a de suas clulas, no importa desviou-se primeiro. ao tornar-se consciente do desvio ocorrido, voc pode trazer a bioqumica do seu corpo para a trilha certa novamente. no h bioqumica fora da conscincia; cada clula do seu corpo totalmente consciente de como voc pensa e de como se sente a seu prprio respeito. uma vez aceito este fato, toda a iluso acerca de ser vitimado por um corpo irracional e que se degenera de forma aleatria desaba.

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6. impulsos de inteligncia criam constantemente o corpo em novas formas a cada segundo criar o corpo em novas formas necessrio a fim de fazer frente s exigncias da vida, sempre a mudar. a viso da realidade de uma criana, por exemplo, contm muita coisa que no familiar, e at que a criana aprenda mais a respeito do mundo, seu corpo se expressa atravs de comportamentos no-treinados e descoordenados. aos trs meses o beb no capaz de distinguir entre uma escada e o desenho de uma escada. sua mente no sabe reconhecer o que uma iluso de tica. aos seis meses a sua realidade j se modificou; os bebs j reconhecem iluses de tica com esta idade e, usando este conhecimento, seus corpos so capazes de transpor espaos tridimensionais (espelhos no parecem ser buracos nas paredes, escadas de verdade podem ser galgadas, mas no suas representaes, o que redondo diferente do que chato etc.) esta mudana de percepo no simplesmente um processo mental; todo um modo novo de usar os olhos e as mos foi adquirido, e as dimenses fsicas dos vrios centros cerebrais para o reconhecimento de formas e a coordenao motora so afetadas. desde que novas percepes continuem a entrar em seu crebro, o seu corpo pode reagir de novas maneiras. e no h segredo de juventude mais poderoso. como diz um paciente meu de 80 anos, sucintamente: 'as pessoas no envelhecem. quando param de crescer que ficam velhas." novos conhecimentos, novas habilidades, novos modos de ver o mundo mantm a mente e o corpo crescendo e, enquanto isto acontece, expressa-se a tendncia natural de ser novo a cada segundo. no mundo quntico a mudana inevitvel, o envelhecimento no. a idade cronolgica dos nossos corpos fsicos irrelevante. a pessoa de 50 anos com a aparncia de mais jovem possivelmente tem molculas com a mesma idade da pessoa de 50 anos que exibe uma aparncia de mais velha. em ambos os casos a idade cronolgica do corpo pode ser expressa como sendo de 5 bilhes de anos (a idade dos vrios tomos), ou 1 ano (o tempo que esses tomos levam para serem

substitudos em nossos tecidos), ou 3 segundos (tempo necessrio para uma clula produzir suas enzimas para processar alimento, ar e gua). a verdade to-somente que voc tem a idade da informao que gira atravs de seu corpo, e uma sorte que seja assim. pode-se controlar o contedo informativo do campo quntico. embora haja uma certa quantidade de informaes fixas nos tomos de alimento, ar e gua que constituem cada clula, o poder de transformar essa informao sujeito ao nosso arbtrio. se h algo que voc pode ter com toda a liberdade e clareza neste mundo a sua interpretao dele. h casos clnicos extraordinrios de crianas, por exemplo, que se sentiram to desamadas que pararam de crescer. esta sndrome, chamada de nanismo psicossocial, ocorre em crianas que sofreram duras agresses, as quais convertem sua falta de amor e afeto na suspenso da produo do hormnio do crescimento, contrariando o fato de que o hormnio do crescimento deve ser liberado dentro de uma preprogramao impressa no dna de cada criana. nestes casos, o poder da interpretao impe-se sobre a programao gentica, gerando uma mudana nos campos de informao do corpo. as interpretaes surgem da auto-interao de cada um. experimenta-se isto como um dilogo interno. pensamentos, julgamentos e sentimentos giram sem cessar pela cabea de cada um. "eu gosto disso, no gosto daquilo, tenho medo de a, no tenho medo de b" etc. o dilogo interno no uma ba-rulheira mental aleatria; gerado em um nvel profundo pelas suas crenas e suposies. uma crena essencial definida como algo que voc presume que seja verdadeiro acerca da realidade, e enquanto ela for mantida, conservar os campos de informao do corpo restritos a certos parmetros voc perceber algo como agradvel ou no, aflitivo ou prazeroso, de acordo com o modo como se ajusta a suas expectativas. quando a interpretao de algum muda, tem lugar tambm uma mudana em sua realidade. no caso de crianas sofrendo de nanismo psicossocial, coloc-las em um ambiente amoroso comprovadamente mais efetivo do que administrar o hormnio do crescimento (a crena de no serem desejadas

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pode ser to forte que seus corpos no crescero nem mesmo se os hormnios lhes forem administrados). no entanto, se pais adotivos amorosos forem capazes de transformar a crena essencial das crianas acerca de no serem amadas, estas podero reagir com descargas de hormnio do crescimento naturalmente produzido, o que s vezes as conduz de volta sua altura, peso e desenvolvimento normais. quando elas se vem diferentemente, sua realidade pessoal alterada em nvel fisiolgico. esta uma metfora poderosa para ilustrar como o nosso medo de envelhecer e nossa crena profunda de que fomos feitos para envelhecer transformam-se no prprio envelhecimento, uma profecia que se realiza por ter sido formulada e que foi gerada por uma auto-imagem destruidora. para fugir desta priso, precisamos reverter as crenas sustentadas pelo medo. em lugar de acreditar que o seu corpo degenera com o tempo, alimentar a crena de que ele um corpo novo a cada minuto. em vez de crer que seu corpo uma mquina sem mente, alimentar a crena de que ele est impregnado com a profunda inteligncia da vida, cujo nico propsito sustentar voc. estas novas crenas no so apenas mais agradveis de se conviver; elas so verdadeiras ns experimentamos a alegria da vida atravs de nossos corpos, portan to apenas natural acreditar que nossos corpos no estejam voltados contra ns e sim que desejam o que ns desejamos. 7. a despeito de parecermos indivduos distintos, ns todos somos ligados aos padres de inteligncia que governam o cosmos voc e seu ambiente so um s. olhando para si prprio, voc percebe que seu corpo termina em um certo ponto; ele separado da parede do seu quarto ou de uma rvore ao ar livre pelo espao vazio. em termos qunticos, contudo, a distino entre "slido" e "vazio" insignificante. cada centmetro cbico do espao qunieo pleno de uma quantidade de energia quase infinita, e a menor das vibraes parte dos vastos campos de vibrao que unem galxias inteiras: com cada

inspirao voc respira centenas de milhes de tomos de ar que foram exalados por algum na china. todo o oxignio, gua e luz do sol em torno de voc so praticamente indistin-guveis daquilo que est no seu interior. se quiser, voc poder experimentar sentir-se em um estado de unidade com tudo aquilo com que entra em contato. em estado de viglia normal, possvel encostar um dedo numa rosa e senti-la como slida, mas, em verdade, um feixe de energia e informao seu dedo est entrando em contato com outro feixe de energia e informao a rosa. seu dedo e a coisa em que ele toca so apenas afloramentos mnimos do campo infinito a que chamamos de universo. esta verdade inspirou os antigos sbios da ndia a declarar: assim como o microcosmo, o macrocosmo. assim como o tomo, o universo. assim como o corpo humano, o corpo csmico. assim como a mente humana, a mente csmica. no se trata apenas de ensinamentos msticos e sim de experincias reais daqueles que puderam isolar sua conscincia de um estado de separao passando a identific-la com a unidade de tudo. na conscincia da unidade, pessoas, coisas e eventos "l fora", tudo se torna parte do seu corpo; na verdade, voc apenas um espelho dos relacionamentos centrados sobre estas influncias. o famoso naturalista john muir declarou: "sempre que tentamos pegar qualquer coisa isoladamente, descobrimos que ela est ligada a tudo mais no universo." isto no deveria ser uma experincia rara, mas sim o primeiro bloco do alicerce de tudo o que sabemos. a possibilidade de experimentar a unidade tem inmeras implicaes no processo de envelhecimento, porque quando h uma interao harmoniosa entre voc e seu corpo expandido, voc se sente alegre, saudvel e jovem. "o medo nasce da separao", afirma o velho provrbio indiano; esta afirmao reflete bem o motivo pelo qual envelhecemos. vendo-nos como entidades separadas, criamos o caos e a desordem entre i.i.s e as coisas "l fora". guerreamos com outras pessoas e

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destrumos o meio ambiente. a morte, o ltimo estgio da separao, avulta como o temvel desconhecido; a prpria perspectiva de mudana, que parte da vida, cria um temor indi-zvel porque significa perda. o medo inevitavelmente traz a violncia em sua esteira. estando separados das outras pessoas, coisas e eventos, queremos for-los a ser o que queremos que sejam. em harmonia no h violncia. em vez de tentarmos futilmente controlar o incontrolvel, uma pessoa em unidade aprende a aceitao, no porque tenha de faz-lo, mas porque h realmente paz e ordem em si prpria e no seu corpo expandido. o sbio contemporneo j. krishnamurti chegou aos 90 anos com um esprito maravilhosamente alerta, sabedoria e sua vitalidade integral. lembro-me de t-lo visto subindo os degraus de um plpito aos 85 anos, e fiquei muito emocionado quando uma mulher, que o conhecia h muitos anos, me disse: "uma coisa aprendi a respeito dele um homem completamente sem violncia." a viso quntica do mundo no uma viso espiritual em suas equaes e postulados, mas einstein e seus colegas uniram-se numa reverncia mstica por suas descobertas. niels bohr comparou o aspecto ondular da matria mente csmica; erwin schrdinger terminou seus dias acreditando que o universo fosse uma mente viva (ecoando isaac newton, que sustentava que a gravidade e todas as outras foras eram pensamentos na mente de deus). a verdade que ao sondar o prprio esprito o ser humano sempre atinge os limites do esprito num sentido mais amplo. ao colocar este encontro em termos objetivos, o novo paradigma na realidade nos permite atravessar a fronteira que dividia mente, corpo e esprito. a transformao do estado de separao para a unidade, do conflito para a paz, o objetivo de todas as tradies espirituais. "no vivemos no mesmo mundo objetivo?" perguntou uma vez um discpulo ao seu guru. "sim", respondeu o mestre, "mas voc se v no mundo e eu vejo o mundo em mim. esta mudana quase imperceptvel de enfoque faz toda a diferena entre liberdade e servido." todos ns estamos submetidos desordem que criamos

por nos ver como separados e isolados. o exemplo perfeito a personalidade do tipo a, com seu comportamento frustrado e impulsivo, sua constante sensao de estar sendo pressionado por datas limites. incapaz de relaxar e de se entregar a qualquer tipo de aceitao ou fluxo, uma tal pessoa alimenta suas mgoas como raiva; este turbilho reprimido se projeta no meio ambiente como hostilidade, impacincia, culpa e pnico inconsciente. sempre tentando controlar os outros, este tipo de pessoa reage s mnimas tenses com crticas speras tanto a si prprio quanto aos outros. no ato de criar tanto caos, a pessoa tipo a, particularmente no mundo dos negcios, levada a pensar, iludida, que est competindo com sucesso. na verdade, o nvel de trabalho eficiente muito baixo e, medida que as frustraes aumentam, as informaes que a pessoa com personalidade do tipo a recebe do seu corpo expandido criam mais devastao dentro do corpo fsico. o nvel de colesterol e a presso arterial sobem; o corao fica sujeito a um desnecessrio estmulo estressante, aumentando seriamente o risco de um ataque fatal ou de um infarto. o tipo a um exemplo extremo do mal criado quando no sabemos interagir harmoniosamente com o nosso corpo expandido. como veremos, o estresse percebido no meio ambiente diretamente relacionado com a maioria das mudanas causadas pela idade que ocorrem em todos os seres humanos. o que nos envelhece no tanto o estresse e sim a. percepo do estresse. quem no vir o mundo "l fora" como uma ameaa pode coexistir com o ambiente, livre do dano causado pela reao do estresse. de muitos modos, a coisa mais importante que voc pode fazer para experimentar o mundo sem envelhecer alimentar a convico de que o mundo voc. 8. o tempo no absoluto. a realidade subjacente a todas as coisas eterna, e o que chamamos de tempo , na verdade, a eternidade quantificada embora nossos corpos e todo mundo fsico estejam em mudana constante, a realidade maior do que o processo. o

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universo nasceu e est evoluindo. quando nasceu, entraram em ao o tempo e o espao. antes do momento em que se deu o big bang, tempo e espao no existiam tal como os conhecemos hoje. no entanto, a mente racional acha quase impossvel fazer perguntas como "o que havia antes do tempo?" e "o que maior do que o espao?" at mesmo einstein, quando era um jovem fsico elaborando os princpios qunti-cos pela primeira vez, aferrava-se antiga noo abraada por newton, de que o universo existe em estado estacionrio o tempo e o espao so constantes eternas, jamais nascendo ou morrendo. essa verso estacionaria da realidade ainda a que os nossos cinco sentidos nos relatam. no se pode ver ou sentir o tempo quando ele acelera ou atrasa, muito embora einstein tenha provado que isto acontea; no se pode sentir o espao quando ele expande ou se contrai, e no entanto isto tambm parte de um universo rtmico. ir alm, imaginar as regies sem dimenses onde nascem tempo e espao, requer uma modificao radical na percepo. modificao esta que nos imposta porque o universo tinha que ter alguma fonte sem limite de tempo e o mesmo se aplica a ns. voc percebe a si prprio existindo na dimenso tempo porque o seu corpo composto de mudanas e para mudar preciso ter um fluxo ou uma seqncia. numa seqncia h um antes e um depois antes desta respirao houve uma ltima respirao, aps esta batida do corao haver a prxima batida. mas, teoricamente, tendo-se o tempo e o equipamento, seria possvel fazer um eletrocardiograma de todos os batimentos cardacos de uma vida, e com a sua representao grfica nas mos, o passado, o presente e o futuro estariam contidos em um nico lugar. seria possvel examin-la de cabea para baixo ou de trs para frente; seria possvel dobrar o papel ao meio de modo que o ltimo batimento e o primeiro ficassem juntos um do outro. este tipo de manipulao o que a fsica quntica revela acerca dos eventos espao-tempo mais bsicos da natureza. quando trocam estados de energia, duas partculas podem se mover para trs no tempo to facilmente quanto para a fren-

te; coisas que aconteceram no passado podem ser alteradas por eventos de energia no futuro. o conceito de tempo como uma flecha disparada inexoravelmente para a frente estilhaou-se na geometria complexa do espao quntico, onde cordas e arcos multidimensionais conduzem o tempo em todas as direes e fazem inclusive com que pare. o nico absoluto que nos resta a ausncia do tempo, pois agora percebemos que todo o nosso universo no passa de um incidente que se projeta para fora de uma realidade maior. o que sentimos como segundos, minutos, horas, dias e anos so fragmentos de uma realidade maior. depende de voc, o ser que percebe, fragmentar o eterno como quiser; a sua conscincia que cria o tempo que voc experimenta. quem sente o tempo como um bem escasso constantemente a fugir cria uma realidade pessoal completamente diferente de quem entende que dispe de todo o tempo do mundo. voc sente a presso do tempo a cada dia? voc sofre dos sintomas ofegantes e cheios de pnico da "doena do tempo", que o corpo traduz em batimentos irregulares ou rpidos demais do corao, ritmos digestivos distorcidos, insnia e presso arterial alta? estas diferenas individuais expressam como percebemos as mudanas, pois a percepo das mudanas cria nossa experincia de tempo. quando a sua ateno est voltada para o passado ou para o futuro, voc se encontra no campo do tempo, criando o envelhecimento. um mestre indiano que tinha uma aparncia notavelmente jovem para sua idade a explicava dizendo o seguinte: "a maior parte das pessoas vive suas vidas ou no passado ou no futuro, mas minha vida est supremamente concentrada no presente." quando uma vida concentra-se no presente ela mais real, porque o passado e o futuro no se chocam com ela. neste exato momento, onde esto o passado e o futuro? em lugar nenhum. somente o momento presente existe; passado e futuro so projees mentais. se voc puder se libertar dessas projees, tentando nem reviver o passado nem controlar o futuro, abre-se o espao para uma experincia completamente nova a experincia do corpo sem idade e da mente sem fronteiras.

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ser capaz de identificar-se com uma realidade que no limitada pelo tempo extremamente importante; de outro modo no h como escapar da decadncia que o tempo traz, inevitavelmente. pode-se vislumbrar a inexistncia do tempo com um exerccio psicossomtico muito simples: escolha uma hora do dia em que voc se sinta relaxado e livre de presses. sente-se tranqilamente numa poltrona bem confortvel e tire o seu relgio, colocando-o perto de modo que possa consult-lo facilmente, sem ter que se levantar ou mover muito a cabea. em seguida feche os olhos e tome conscincia de sua respirao. concentre-se no fluxo da respirao que entra e sai do seu corpo. imagine todo o seu corpo subindo e caindo com o fluir de cada respirao. aps um minuto ou dois, voc ter conscincia do calor e do relaxamento impregnando os seus msculos. quando voc se sentir bem acomodado e tranqilo por dentro, abra devagar os olhos e d uma espiada no ponteiro dos segundos do relgio. o que ele est fazendo? dependendo de quo relaxado voc esteja, o ponteiro dos segundos vai se comportar de maneiras diferentes. para algumas pessoas ele ter parado inteiramente, e este efeito se prolongar qualquer coisa entre um e trs segundos. para outras pessoas, o ponteiro hesitar por meio segundo e a ento voltar ao seu funcionamento normal. outras pessoas ainda percebero o ponteiro se movendo, mas a um ritmo mais lento do que o usual. a menos que voc j tenha tentado esta pequena experincia, ela parecer muito pouco provvel, mas depois que tiver vivido a experincia de ver um relgio parar, voc nunca mais duvidar que o tempo um produto da percepo. o nico tempo que existe o tempo de que se tem conscincia. voc pode aprender a levar sua conscincia para a regio onde o tempo no existe sempre que quiser e a meditao a tcnica clssica para dominar essa experincia. na meditao a mente ativa recua para a sua fonte; assim como este universo em mudana teve que ter uma fonte no sujeita a mudanas, a mente, com toda a sua atividade incansvel, manifesta-se a partir de um estado de conscincia que transcende o pensamento, as sensaes, as emoes, o desejo e a memria.

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esta uma experincia pessoal profunda. no estado de conscincia transcendental onde o tempo no existe, voc tem a sensao de plenitude. em lugar de mudana, perda ou decadncia, o que h constncia e plenitude. voc sente que o infinito est em toda parte. quando esta experincia se transforma em realidade, os temores associados mudana desaparecem; a fragmentao da eternidade em segundos, horas, dias e anos torna-se secundria, e a perfeio de cada momento passa a ser essencial. agora que a meditao passou a fazer parte da experincia cultural predominante do ocidente, pesquisadores aplicaram avaliaes cientficas experincia subjetiva do silncio, da plenitude e da eternidade. descobriram que o estado fisiolgico dos indivduos que praticam a meditao sofre mudanas no sentido de um funcionamento mais eficiente. centenas de descobertas individuais mostram respirao com ritmo reduzido, menor consumo de oxignio e taxa metablica diminuda. em termos de envelhecimento, a concluso mais significativa de que o desequilbrio hormonal associado ao estresse e que se sabe acelerar o processo de envelhecimento revertido. isto, por sua vez, reduz o ritmo ou mesmo reverte o processo de envelhecimento, como se pode medir por vrias mudanas biolgicas associadas ao envelhecimento. da minha experincia com estudos de pessoas que praticam a meditao transcendental, verifiquei que quem pratica meditao h muito tempo pode ter uma idade biolgica de 5 a 12 anos menor do que sua idade cronolgica. o aspecto mais fascinante desta pesquisa, que levou mais de duas dcadas, que o processo biolgico do envelhecimento em si no tem que ser manipulado; os resultados desejados podem ser atingidos apenas atravs da conscincia. em outras palavras, a meditao altera o sistema de coordenadas que d pessoa sua experincia de tempo. no nvel quntico, os eventos fsicos no espao-tempo como a pulsao e os nveis de hormnio podem ser afetados simplesmente por se levar a mente a uma realidade onde o tempo no desempenhe um papel to preponderante. o novo paradigma est nos demonstrando que tem muitos nveis e todos nos so disponveis em nossa conscincia.

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9. todo mundo habita uma realidade de no-mudana que jaz alm de todas as mudanas. a experincia desta realidade submete as mudanas ao nosso controle no momento, a nica fisiologia que voc pode manter aquela que se baseia no tempo. no entanto, o fato de o tempo ser vinculado conscincia implica que se pode manter um estilo de funcionamento inteiramente diferente a fisiologia da imortalidade que corresponderia experincia da no-mudana. a no-mudana no pode ser produto da mudana. requer a transformao da nossa conscincia vinculada ao tempo em uma conscincia sem limites de tempo. h muitas gradaes para esta mudana. por exemplo, se voc estiver sob extrema presso no trabalho, a reao do seu organismo a essa presso no ser automtica; algumas pessoas se agigantam sob a presso do tempo, usando-a para alimentar sua criatividade e energia, enquanto outras so derrotadas por ela, perdendo o incentivo e sentindo um fardo que no lhes trar satisfao, se compararmos com o estresse que cria. a pessoa que reage com criatividade aprendeu a no se identificar com a presso do tempo; transcendeu-a pelo menos parcialmente, ao contrrio da pessoa que sente constrio e estresse. para esta, a identificao com o tempo tornou-se esmagadora ela no pode escapar do tique-taque do seu relgio interno, e o corpo no pode seno refletir seu estado de esprito. de vrias maneiras sutis, as clulas se ajustam constantemente nossa percepo do tempo; um bilogo diria que arrastamos, ou seqenciamos uma srie de processos envolvendo milhes de eventos relacionados com a mente-corpo. importantssimo saber que se pode atingir um estado em que os processos vinculados ao tempo podem ser realinhados. uma analogia simples demonstra isto: olhe para o seu corpo fsico como uma espcie de cpia impressa dos sinais que esto sendo mandados para a frente e para trs entre o seu crebro e cada clula. o sistema nervoso, que determina o tipo de mensagens sendo enviadas, funciona como o software do corpo; as mirades de diferentes hormnios, neurotransmissores e outras molculas mensageiras so o input que processado nes-

se software. tudo isto constitui a programao visvel do seu corpo. mas onde est o programador? no visvel, mas tem que existir. milhares de decises so tomadas no sistema mente-corpo a cada segundo, escolhas incontveis que capacitam sua fisiologia a se adaptar s demandas da vida. se vejo uma cobra em uma trilha na ndia e pulo para trs de medo, o aparato visvel controlando este evento pode ser visto nas reaes musculares que exibo, as quais so disparadas por sinais qumicos oriundos do meu sistema nervoso. minha pulsao acelerada e respirao ofegante so outros sinais visveis de que o hormnio denominado adrenalina entrou na corrente sangnea, secretado pela glndula supra-renal em resposta a um elemento qumico especfico do crebro (acth) produzido pela pituitria. se um bioqumico pudesse seguir a pista de cada molcula envolvida em minha reao de pnico, ainda assim sentiria falta do ser invisvel que toma as decises e que resolveu ter aquela reao, pois muito embora eu tenha reagido numa frao de segundo, meu corpo no pulou para trs de qualquer maneira. algum com uma programao inteiramente diferente exibiria reaes tambm inteiramente diferentes. um colecionador de cobras poderia ter se debruado, interessado; um devoto hindu, reconhecendo a forma de shiva, talvez se ajoelhasse, com respeitoso temor. a verdade que qualquer reao possvel poderia ter ocorrido pnico, raiva, histeria, paralisia, apatia, curiosidade, deleite etc. o programador invisvel no tem limites quanto aos modos pelos quais pode programar o aparato visvel do corpo. no momento em que tropecei na cobra, todos os processos bsicos da minha fisiologia respirao, digesto, metabolismo, eliminao, percepo e raciocnio passaram a depender do significado que a cobra tinha pessoalmente para mim. v-se assim como verdadeira a afirmao de aldous huxley: "experincia no o que acontece com voc; o que voc faz com o que lhe acontece." onde se pode localizar um significado? a resposta rpida e fcil seria dizer que no crebro, mas este rgo, como qualquer outro, est sempre fluindo. como aves migratrias, bilhes de tomos saem e entram no crebro a cada segundo.

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ele turbilhona com ondas eltricas que nunca formam o mesmo padro duas vezes no prazo de uma vida. sua qumica bsica pode mudar se diferentes tipos de alimentos forem ingeridos no almoo, ou se for experimentada uma sbita mudana de estado de esprito. no entanto a minha lembrana da cobra no se dissolve neste mar de mudanas. as minhas lembranas so disponveis para o programador que se situa acima da memria, observando silenciosamente a minha vida, levando em conta as minhas experincias, sempre pronto para levar em considerao a possibilidade de novas escolhas. para este programador no h nada seno a conscincia da escolha. ele aprecia a mudana sem se sentir esmagado; assim, escapa s limitaes de tempo do mundo normal de causa e efeito. a parte de mim que tem medo de cobras aprendeu esse medo em algum ponto do passado. todas as minhas reaes so parte essencial do eu vinculado ao tempo e suas tendncias. em menos de um milsimo de segundo o medo preprogramado desperta toda a seqncia de mensagens corporais que produzem minhas aes. para a maioria das pessoas nenhum outro "eu" aparente porque no aprendemos a nos identificar com quem toma as decises, a testemunha silenciosa, cuja conscincia no definida pelo passado. no entanto, de um modo sutil, todos ns sentimos que alguma coisa no nosso ntimo no mudou muito, se que mudou, desde que ramos crianas de colo. quando acordamos pela manh h um segundo de conscincia pura antes do velho condicionamento se apoderar de ns automaticamente; neste segundo voc apenas voc, nem feliz nem triste, nem importante nem humilde, nem velho nem jovem. quando acordo de manh este "eu" veste o manto da experincia muito rapidamente; em questo de segundos lembro-me que sou, por exemplo, um mdico de 46 anos de idade que tem uma esposa, dois filhos, uma casa nas cercanias de boston e dez minutos para chegar na clnica. esta identidade o produto de mudana. o "eu" que existe alm da mudana poderia acordar em qualquer parte como um garoto de cinco anos em nova deli sentindo o cheiro da comida da av, ou como um sujeito de 80 anos na flrida ouvindo o vento farfalhar nas

palmeiras. este "eu" imutvel, a quem os velhos sbios da ndia chamam simplesmente de self, serve como meu ponto de referncia real para experincia. todos os outros pontos de referncia se prendem a mudanas, decadncia e perda; todos os outros sentidos do "eu" so identificados com dor ou prazer, pobreza ou riqueza, alegria ou tristeza, juventude ou idade avanada todas as condies vinculadas ao tempo que o mundo relativo impe. na conscincia da unidade, o mundo pode ser explicado como um fluxo do esprito, que a conscincia. o nosso objetivo global estabelecer um relacionamento ntimo com o eu enquanto esprito. na medida em que conseguimos criar esta intimidade, a experincia do corpo sem idade e da mente sem fronteiras ser realizada. 10. no somos vtimas de envelhecimento, doena e morte. essas coisas so parte do cenrio, no daquele que v, que imune a qualquer forma de mudana a vida na sua fonte criao. quando voc entra em contato com sua inteligncia interior, entra em contato com a essncia criativa da vida. no velho paradigma, o controle da vida era imputado ao dna, uma molcula incrivelmente complexa que revelou menos que 1% de seus segredos aos geneti-cistas. no novo paradigma o controle pertence conscincia. todos os exemplos aqui citados as crianas capazes de sustar a produo do hormnio do crescimento, dos estudantes de medicina que alteram sua produo de interleucina quando se sentem ansiosos, dos iogues que podem alterar sua pulsao quando bem entendem indicam que os processos corporais mais bsicos respondem ao nosso estado de esprito. os bilhes de mudanas que ocorrem em nossas clulas so apenas o cenrio passageiro da vida. por trs de sua mscara est aquele que v, que representa a fonte do nosso fluxo de conscincia. tudo o que eu possa experimentar comea e termina com a conscincia; cada pensamento ou emoo que captura minha ateno um minsculo fragmento de conscincia; todos os objetivos e expectativas que estipulo para mim

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so organizados em conscincia. o que os antigos sbios chamavam de self pode ser definido em modernos termos psicolgicos como um continuum de conscincia, e o estado conhecido como conscincia da unidade o estado em que a conscincia completa a pessoa conhece todo o continuum de si prpria sem mscaras, iluses, hiatos e fragmentos rompidos. por no mantermos a continuidade de nossa conscincia, todos ns camos em brechas de um tipo ou de outro. vastas reas da existncia corporal saem de nosso controle, levando doena, ao envelhecimento ou morte. mas isto apenas deve ser esperado quando a conscincia se torna fragmentada. em uma famosa srie de experincias na clnica menninger no incio da dcada de 1970, um renomado adepto da filosofia indiana, swami rama, demostrou a capacidade de elevar suas pulsaes de 70 para 300, um ndice muito alm do normal. na verdade seu corao passava a bater em ritmo exagerada-mente acelerado, deixando de bombear sangue normalmente. numa pessoa comum, palpitaes cardacas podem causar o que se chama de insuficincia e outros problemas srios ou mesmo fatais. tais ocorrncias incidem em milhares de pessoas que de nada suspeitavam. swami rama, contudo, no era afetado por isso, pois se tratava de algo sob o direto controle da sua conscincia. o que isto implica que uma pessoa que morre em questo de minutos por causa de uma interrupo sbita na sua pulsao normal (esta categoria inclui todos os tipos de arritmia, fibrila-o e taquicardia) na verdade sofreu uma perda de conscincia. na nossa viso do mundo materialista, localizamos esta perda no msculo cardaco, dizendo que os sinais eletroqu-micos que coordenam uma pulsao saudvel se desorganizaram. em vez de orquestrar suas contraes individuais em uma pulsao suave e unificada por todo o corao, os bilhes de clulas cardacas mergulham em contraes isoladas e caticas, fazendo o corao se parecer com um saco cheio de serpentes a se contorcer. no entanto, este espetculo horrvel, que todo cardiologista teme, secundrio; o que bsico a perda de conscincia entre as clulas do corao. perda de conscincia esta que

no local e sim geral. a prpria pessoa perdeu a comunicao com os nveis profundos de inteligncia que governam e controlam suas clulas na verdade, cada clula no passa de inteligncia organizada em vrias camadas de padres visveis e invisveis. um perito como swami rama demonstra que a nossa conscincia no destinada a ser assim to fragmentada e truncada. se uma pessoa se conhecesse como realmente , perceberia ser a fonte, o curso e o objetivo de toda a inteligncia. o que as tradies religiosas do mundo chamam de esprito a inteireza, a continuidade da conscincia que supervisiona todos os seus fragmentos. so os hiatos em nosso autoconhecimento que nos tornam vtimas da doena, do envelhecimento e da morte. perder conscincia perder inteligncia; perder inteligncia perder o controle do produto final da inteligncia, ou seja, o corpo humano. assim sendo, a lio mais valiosa que o novo paradigma pode nos ensinar a seguinte: se quiser mudar o seu corpo, mude primeiro sua conscincia. tudo o que acontece a voc resultado de como v a si prprio, a um ponto que pode ser considerado bastante estranho. nas batalhas navais da primeira grande guerra, marinheiros alemes ficaram vagando em botes salva-vidas por dias ou semanas depois que seus navios foram torpedeados, invariavelmente, os primeiros homens a morrer eram os mais jovens. este fenmeno permaneceu um mistrio at que se percebeu que os marinheiros mais velhos, que tinham sobrevivido a naufrgios anteriores, sabiam que a crise podia ser superada; sem esta experincia, os jovens marinheiros pereciam porque se viam presos numa soluo sem sada. aproveitando o que foi aprendido com incidentes assim, pesquisadores da vida animal foram capazes de induzir rpido envelhecimento, doena e morte prematura em ratos de laboratrio, submetendo-os a situaes de intenso estresse, como, por exemplo, jogando-os dentro de tanques de gua de onde no podiam fugir. os animais que nunca tinham enfrentado uma situao dessas antes, a viam como totalmente desesperada e rapidamente desistiam e morriam. j os animais que tinham sido gradualmente condicionados aos tanques per'

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severaram e sobreviveram, nadando por longas horas sem sinais de deteriorao dos tecidos induzida pelo estresse. quase toda a histria do envelhecimento humano tem sido caracterizada pela desesperana. as terrveis imagens do processo de envelhecimento, associadas s altas taxas de doenas e esclerose entre os velhos, resultaram em expectativas melanclicas que acabam se realizando por terem sido formuladas. a idade avanada era uma poca de declnio e perda inevitveis, de crescente fragilidade da mente e do corpo. agora toda a nossa sociedade est despertando para uma nova conscincia do envelhecimento: as pessoas de 60 e 70 anos esperam, rotineiramente, ser to vigorosas e saudveis como no tempo em que tinham 40 ou 50 anos. mas um conceito subjacente a essa idia que os seres humanos tm que envelhecer no foi radicalmente modificado. ter que envelhecer um fato que herdamos do velho paradigma, teimosamente fixado em nossa viso de mundo at que uma mudana na conscincia possa trazer luz novos fatos. a viso de mundo apenas um meio de arranjar a infinita energia do universo num sistema que faa sentido. envelhecer faz sentido num esquema da natureza onde todas as coisas se modificam, se debilitam e morrem. mas faz muito menos sentido em um mundo onde um interminvel fluxo de inteligncia sempre a se renovar est presente nossa volta. que viso voc deve adotar algo que depende de voc. a escolha sua. voc pode escolher ver a rosa fenecer e morrer ou pode preferir ver a rosa como uma onda de vida que jamais termina, pois no ano que vem novas rosas nascero das sementes desta. a matria um momento cativo no tempo e no espao, e por ver o nosso mundo e a ns mesmos de modo material, fazemos com que os aspectos cativos do universo assumam demasiada importncia. medida que for lendo este livro, quero que voc experimente como a existncia pode ser fluida e sem esforo quando sua viso do mundo se modifica. a despeito de sua aparncia fsica slida, o seu corpo muito parecido com um rio, parecido com o rio sagrado to lindamente descrito por hermann hesse em seu romance espiritual sidd-harta. neste livro chega um ponto em que siddharta, aquele

que busca a iluminao, finalmente encontra a paz. depois de vagar durante anos, ele termina ao lado de um grande rio, onde uma voz interior sussurra, "ame este rio, permanea junto dele, aprenda com ele". para mim, este sussurro diz algo a respeito do meu corpo, que segue fluindo o tempo todo nos processos de sua vida. como um rio, meu corpo muda quando o momento muda, e, se eu puder fazer o mesmo, no haver hiatos em minha vida, memrias de traumas antigos para desencadear novas dores ou antecipao de mgoas futuras para me fazer contrair de medo. seu corpo o rio da vida que sustenta voc e no entanto ele o faz humildemente, sem pedir reconhecimento. se voc se sentar e ouvi-lo, descobrir que uma poderosa inteligncia mora em e com voc. no uma inteligncia de palavras, mas comparada com os milhes de anos de sabedoria existentes numa clula, o conhecimento demarcado pelas palavras no parece ser to grande. siddartha quis aprender com o rio e ouvir, o que tremendamente importante. voc tem que querer integrar-se ao fluxo do corpo antes que possa aprender com ele, e isto significa que voc tem que estar disposto a se abrir ao conhecimento que foi desprezado no seu antigo modo de ver. hesse continua: "pareceu a ele que quem quer que compreendesse aquele rio e seus segredos, compreenderia muito mais, muitos segredos, todos os segredos." tudo o que j aconteceu a voc est registrado no seu corpo, mas, mais importante, as novas possibilidades tambm esto. o envelhecimento parece ser algo que est lhe acontecendo, quando na verdade uma coisa que seu corpo basicamente aprendeu a fazer. ele aprendeu a levar a cabo a programao inserida por voc, o programador. j que a grande parte desta programao inconsciente, ditada pelas suas crenas e presunes que voc mal sabe que nutre, importante derrubar todo o edifcio de pensamento que lhe deu o mundo material como voc o conhece. precisamos agora retornar ao corpo, pois a experincia ntima que temos das nossas pessoas fsicas contm a verdade mais pessoal. estar vontade com o momento presente significa permitir que voc fuja da sombra de ameaa que paira sobre tudo quando a ordem est perdendo a batalha com a

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entropia. este o mundo em que fomos ensinados a acreditar. h uma outra maneira em um outro mundo. esta foi a maior das lies que siddharta aprendeu com o rio. ao fim do romance ele fala a este respeito com seu amigo e companheiro mais antigo, vasudeva: "voc aprendeu tambm aquele segredo do rio, que no h essa coisa chamada tempo?" um sorriso brilhante abriu-se no rosto de vasudeva. "sim, siddharta. isto que voc quer dizer? que o rio est em toda parte ao mesmo tempo, na nascente e na foz, na queda d'gua, na barca, na correnteza, no oceano e nas montanhas, em toda parte, e que s existe o presente para ele, nem uma sombra do passado, nem uma sombra do futuro?" "isto mesmo", disse siddharta, "e quando aprendi isto, examinei minha vida e ela tambm era um rio, e siddharta o menino, siddharta o homem maduro e siddharta o velho eram separados apenas por sombras, e no pela realidade." ele falou com deleite, mas vasudeva apenas so