Definição de sociedade em rede

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Definição de SOCIEDADE EM REDE De definição ainda em crescendo, a Sociedade em Rede carateriza-se (tomando como base o entendimento do autor do conceito, Manuel Castells) por uma sociabilidade assente numa dimensão virtual, possível e impulsionada pelas novas tecnologias, que transcende o tempo e o espaço (Castells, 2002). É hoje possível assumir-se que sociabilizar em rede é o termo indicado para caracterizar grande parte das interações sociais no mundo ocidental e nos países desenvolvidos desde o aparecimento da Internet. A Sociedade em Rede, alicerçada no suporte digital, encontra-se vinculada ao nosso quotidiano e às nossas interações com o mundo. Lemos os jornais na Internet (podendo, interativamente, comentar essas mesmas notícias), comunicamos através de redes sociais, pesquisamos informações, partilhamos conhecimentos, algo que está a acontecer numa qualquer parte do mundo pode ser noticiado de imediato em tempo real. Com estas pequenas rotinas e hábitos do nosso dia-a-dia estamos a sociabilizar com pessoas que podemos ou não conhecer pessoalmente sem, por vezes, termos essa noção. Logo, podemos dizer, antes de mais, que a Sociedade em Rede revela uma vivência social diferente, aproveitando as potencialidades da comunicação que a Internet (ou, noutras palavras, a possibilidade de permanente Conetividade através dela) oferece para a partilha de sentimentos, ideias, conhecimentos, informações, conceitos, entre outros, sendo a sua principal particularidade a diminuição da distância e do tempo, deixando o mundo mais pequeno e à distância de um simples "clique". Numa sociedade conectada em rede, é cada vez mais raro agirmos isoladamente: qualquer área em qualquer lugar do mundo pode colaborar em projetos, ideias ou observações. Segundo Lévy (1999) "Os pesquisadores e estudantes do mundo inteiro trocam idéias, artigos,

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Definição realizada pela turma do mestrado em Pedagogia do eLearning (MPeL6)

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Definição de SOCIEDADE EM REDE

De definição ainda em crescendo, a Sociedade em Rede carateriza-se (tomando como base o

entendimento do autor do conceito, Manuel Castells) por uma sociabilidade assente numa

dimensão virtual, possível e impulsionada pelas novas tecnologias, que transcende o tempo e

o espaço (Castells, 2002). É hoje possível assumir-se que sociabilizar em rede é o termo

indicado para caracterizar grande parte das interações sociais no mundo ocidental e nos países

desenvolvidos desde o aparecimento da Internet.

A Sociedade em Rede, alicerçada no suporte digital, encontra-se vinculada ao nosso

quotidiano e às nossas interações com o mundo. Lemos os jornais na Internet (podendo,

interativamente, comentar essas mesmas notícias), comunicamos através de redes sociais,

pesquisamos informações, partilhamos conhecimentos, algo que está a acontecer numa

qualquer parte do mundo pode ser noticiado de imediato em tempo real. Com estas pequenas

rotinas e hábitos do nosso dia-a-dia estamos a sociabilizar com pessoas que podemos ou não

conhecer pessoalmente sem, por vezes, termos essa noção.

Logo, podemos dizer, antes de mais, que a Sociedade em Rede revela uma vivência social

diferente, aproveitando as potencialidades da comunicação que a Internet (ou, noutras

palavras, a possibilidade de permanente Conetividade através dela) oferece para a partilha de

sentimentos, ideias, conhecimentos, informações, conceitos, entre outros, sendo a sua

principal particularidade a diminuição da distância e do tempo, deixando o mundo mais

pequeno e à distância de um simples "clique".

Numa sociedade conectada em rede, é cada vez mais raro agirmos isoladamente: qualquer

área em qualquer lugar do mundo pode colaborar em projetos, ideias ou observações.

Segundo Lévy (1999) "Os pesquisadores e estudantes do mundo inteiro trocam idéias, artigos,

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imagens, experiências ou observações em conferências eletrônicas organizadas de acordo com

interesses específicos". O mundo está cada vez mais colaborativo e interconectado. As pessoas

estão a trabalhar em conjunto sem necessariamente estarem juntas.

Já Jonhson (2001) contrapõe um aspeto do pensamento sobre tecnologia e cultura que

estamos acostumados a ter quando diz que "Há uma coisa engraçada acerca da fusão de

tecnologia e cultura. Ela fez parte da experiência humana desde o primeiro pintor de cavernas,

mas temos tido muita dificuldade em enxergá-la até agora". Vale a pena reforçar que aqui

estamos a falar de uma Sociedade em Rede e não de uma nova sociedade ligada à tecnologia,

visto que a nossa sociedade sempre esteve imersa na tecnologia, seja ela uma tecnologia

ligada à pedra ou ao silício.

Muitos são, ainda, os sinónimos (ou conceitos) que se confundem e são atribuídos à Sociedade

em Rede, nomeadamente:

• Sociedade de Informação: “A Sociedade da Informação é um conceito utilizado para

descrever uma sociedade e uma economia que faz o melhor uso possível das Tecnologias da

Informação e Comunicação no sentido de lidar com a informação, e que torna esta como

elemento central de toda a atividade humana (Castells, 2001).” (Borges, 2004).

“A sociedade da informação é a sociedade que está atualmente a construir-se, na qual são

amplamente utilizadas tecnologias de armazenamento e transmissão de dados e informação

de baixo custo.” (Meirinhos, 2000, p.2).

• Sociedade do Conhecimento: “O Conhecimento por ser, em grande parte, resultado da

partilha coletiva de significados, é necessariamente construído em sociedade, promovendo

valores como a colaboração, a partilha e a interação” (Borges, 2004).

Por outro lado, a sociedade do conhecimento é também aquela onde a sua posse toma uma

dimensão e uma relevância tais que determina as atuações em todas as outras áreas,

potenciando o surgimento de conflitos que levam à necessidade da criação de acordos e de

legislação para proteger os direitos da propriedade intelectual (Tedesco, 1999).

“A característica marcante destas sociedades é que o conhecimento teórico e os serviços

baseados no conhecimento tornam-se os componentes principais de qualquer atividade

econômica.” (EULAKS, s/d).

• Sociedade da Informação e do Conhecimento: sobre a relação entre Sociedade da

Informação e Sociedade do Conhecimento, “... o subdiretor geral da UNESCO para a

Comunicação e Informação, Abdul Waheed Khan, declara: Sociedade da Informação é o tijolo

para construir o edifício de Sociedades do Conhecimento.” (EULAKS, s/d).

Apesar destas convergências, é necessário referir a discordância de Manuel Castells:

“Frequentemente, a sociedade emergente tem sido caracterizada como sociedade de

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informação ou sociedade do conhecimento. Eu não concordo com esta terminologia. Não

porque conhecimento e informação não sejam centrais na nossa sociedade. Mas porque eles

sempre o foram, em todas as sociedades historicamente conhecidas. O que é novo é o facto de

serem de base microelectrónica, através de redes tecnológicas que fornecem novas

capacidades a uma velha forma de organização social: as redes.” (Castells M., Cardoso G.,

2005, p.17)

A Sociedade em Rede é uma entidade que transcende e atravessa qualquer uma das

categorizações atribuídas à Sociedade da Informação, à Sociedade do Conhecimento ou à

Sociedade da Informação e do Conhecimento.

Os indivíduos, ao organizarem-se em grupos mais ou menos hierarquizados, estabelecem um

conjunto de relações, formando redes de maior ou menor grau de complexidade. Na

Sociedade em Rede podemos encontrar um conjunto de elementos conexos entre si, que têm

vindo a adquirir uma dimensão que ultrapassa o espaço convencional/físico, levando assim à

necessidade de se introduzir um novo conceito de espaço: o espaço virtual/ciberespaço. As

barreiras/fronteiras físicas deixaram de ser um fator decisivo na propagação de

acontecimentos, notícias, costumes, hábitos, levando a que se formasse o que Marshall

Macluhan apelidou de uma aldeia à escala global.

Deu-se assim início a um conjunto de alterações que decorrem a uma velocidade muito rápida,

comparativamente a períodos passados da nossa História, lançando nos diferentes elementos

da sociedade um sentimento de insegurança/receio/exclusão, que é transversal a todas as

organizações (desde o Estado até à Família), que só poderá ser superado se, entre outros, os

indivíduos tiverem acesso às ferramentas e meios que permitam a inclusão de todos aqueles

que não o têm.

Considerada como estádio superior do desenvolvimento humano, a compreensão da

Sociedade em Rede enquanto tipo particular de estrutura social deixa em aberto "o

julgamento valorativo do significado da sociedade em rede para o bem-estar da humanidade".

(Castells M., Cardoso G., 2005, p.18).

A Sociedade em Rede exige ao ser humano uma nova maneira de estar e encarar tudo na

sociedade. Por exemplo, a família tradicional em plena crise do patriarcalismo requer

mudanças radicais no sistema educativo, mas também nos conteúdos e organização do

processo de aprendizagem. As sociedades que não forem capazes de lidar com este e outros

aspetos irão enfrentar grandes problemas económicos e sociais no mundo atual em processo

de mudança estrutural.

A Sociedade em Rede pode então ser vista como um "entrançado social" que se vai

multiplicando e densificando através de interações complexas e difusas, num mundo em que

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as fronteiras entre interior e exterior se esfumam e em que os espaços privados e públicos se

confundem.

Neste sentido, a Sociedade em Rede torna-se mais inacessível e de difícil observação,

carregando em si um misto de instabilidade, de incerteza e de desorientação. Daí advém a

urgência no surgimento (de forma contraditória mas igualmente humana) de novas

apropriações e delimitações, tais como, por exemplo, as de “reenquadramento” do indivíduo

(nomeadamente em cibercomunidades), através da reformulação das identidades, da revisão

das pertenças, da reconstrução de cultura (cibercultura), da Netiqueta (ética de comunicação e

relacionamento na Internet), entre outras.

Em suma, poder-se-á dizer que a Sociedade em Rede, de uma inevitabilidade e

irreversabilidade constrangedoras, é pautada pela coexistência, sobreposição e conexão

entre binómios fundamentais que afetam e são reconhecíveis em quaisquer das suas várias

dimensões (social, política, financeira, geográfica,…) e campos (Educação, Ciência,

Comunicação…). Esses binómios, que são transversais, podem agrupar-se como:

• Descentralização vs. Centralização (que, por sua vez, se pode particularizar noutros

binómios como Horizontalidade vs. Verticalidade, Hierarquia vs. Distribuição);

• Global vs. Local (numa dinâmica que é transportada para o binómio do Indivíduo vs. Grupo,

Ativo vs. Passivo, Abertura vs. Fechamento, Inclusão vs. Exclusão);

• Virtual vs. Físico (onde se redefinem as noções de Tempo e Espaço, elas próprias compostas

por binómios como Flexível vs. Inflexível ou Instantâneo vs. Diferido);

• Público vs Privado (relacionado com o binómio Conetividade vs. Isolamento e também com

as noções de Espaço e Tempo);

• Tecnologia vs Humanização (num fluxo simbiótico e constante).

Estes binómios, mais do que antagónicos, criam sinergias através de interações complexas

(entre si e uns com os outros) possibilitadas pela inexistência das fronteiras no ciberespaço. É

necessário então abandonar a noção de que estes são conceitos opostos, para se reconfigurar

a forma como o Homem se define a si próprio e às suas relações sociais.

Os opostos dão lugar a noções (e realidades) como Rizoma e Conetividade, que justificam que

a sociedade possibilitada (mas não limitada) pela emergência e generalização da

microeletrónica tenha sido cunhada como Sociedade em Rede.

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Obras de Referência:

Borges, L. (Novembro de 2004). Sociedade da Informação. Porto: Universidade

Fernando Pessoa. Retrieved from:

http://www2.ufp.pt/~lmbg/reserva/lbg_socinformacao04.pdf

Castells, M. (2002). A Sociedade em Rede. A Era da Informação: Economia, Sociedade e

Cultura - Volume I. Fundação Calouste Gulbenkian.

Castells, M.,Cardoso, G. (2005). A Sociedade em Rede: Do Conhecimento à Acção

Política. Imprensa Nacional - Casa da Moeda. Retrieved from:

http://www.cies.iscte.pt/destaques/documents/Sociedade_em_Rede? CC.pdf

EULAKS. (s.d.). Sociedade da Informação versus Sociedade do Conhecimento. Retrieved

from: http://www.eulaks.eu/concept.html?_lang=pt

Johnson,S. (2001). Cultura da Interface -Como o computador transforma nossa

maneira de criar e comunicar. Rio de Janeiro: Zarzar Editora

Lévy,P. (1999). Cibercultura. São Paulo: Editora 34

Meirinhos, M. (2000). A Escola Perante os Desafios da Sociedade de Informação,

Encontro As Novas Tecnologias e a Educação - Instituto Politécnico de Bragança

Tedesco, J. C. (1999). O Novo Pacto Educativo: Educação, competitividade e cidadania

na sociedade moderna. Porto: Fundação Manuel Leão

Definição realizada pela turma do mestrado em Pedagogia do eLearning (MPeL6), no âmbito

da Unidade Curricular de Educação e Sociedade em Rede.