Deixa tombar
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JORNAL DA
27JAN12
Deixa tombar...
MINISTRO DA EDUCAÇÃO PROMETE FIRMEZA EM FRAUDE DO PROUNI EM SALVADOR pág. 26
Sem projetos concretos da Prefeitura Municipal e do Governo do Estado, o Centro Antigo de Salvador, que compreende
bairros como Tororó, Nazaré, Santo Antônio e Comércio, é a imagem perfeita da gestão da cidade. Promessas sem fim
não convencem quem convive com a deterioração, a violência e o livre comércio de drogas na região. Págs. 4, 5 e 6
MANUELA CAVADAS
ABR
Salvador, 27 de janeiro de 20124
cidadeOcupação informalO último levantamento apontou 16.687 registros de edificações, sendo 58% de ocupações informais con-solidadas. São 1.101 imóveis em estado de vacância, sendo que 44% estão fechados e 42%, em ruínas.
PopulaçãoJuntos, o Centro Histórico e o Centro Antigo de Salva-dor possuem, conforme levantamento feito em 2010, 88.031 habitantes, o que corresponde a 3,6% da popu-lação total de Salvador.
Tesouro ameçadoSem classificação de patrimônio histórico, Centro Antigo de Salvador povoa cenário de deterioração
“DERRUBAR, DEITAR ao chão, deixar cair”. O verbete ‘tombar’ anda bem aplicado no Centro Antigo de Salvador (Centro, Barris, Tororó, Nazaré, Saúde, Barbalho, Macaúbas, parte do espigão da Liberdade, Santo An-tônio e Comércio). As primeiras ruas da cidade, recheadas de ca-sarões e palacetes do século XX, padecem no abandono, malcon-servadas e violentas, à espera de
políticas públicas para as cente-nas de pessoas que trabalham e vivem na região, muitas na rua. Enquanto a revitalização não vem, o patrimônio histórico lite-ralmente desaba na soterópolis.
O Centro Histórico de Salva-dor é o único na lista bianual da World Monuments Fund (WMF), que lista sítios do patrimônio histórico mundial em risco. São 67 locais em 41 países.
Na Baixa dos Sapateiros e Barroquinha, além dos imóveis a desabar, moradores de rua
acomodam-se nas esquinas em busca de abrigo para o descanso ou o consumo de drogas. Sob as marquises, em casas abandona-das e passeios, disputam espaço com tonéis de lixo, pedestres, ambulantes e pontos de drogas.
Na Ladeira da Barroqui-nha ou R. do Couro, a situação constrange. Além da sujeira e da falta de organização do dia-a-dia, nos fins de semana o cenário é de horror. A poucos metros, na Pça. Castro Alves, tombada como patrimônio
histórico, onde fica o espaço de Cinema Glauber Rocha, o cenário é outro.
“Graças a Deus, temos con-tado com o apoio da polícia jun-to aos nossos seguranças. Algu-mas pessoas já falaram que não vinham por achar que não tinha segurança, mas a praça não tem esse problema”, afirmou a ge-rente do espaço, Sandra Santos. Para ela, no entanto, a Barroqui-nha, logo abaixo do cinema, é perigosa. “Até os funcionários comentam”, afirma.
Texto Clarissa [email protected]
Fotos Geraldo Melo
Comércio informal, mendicância e venda de drogas estão entre
os problemas
Salvador, 27 de janeiro de 2012 5
cidadeRisco socialCerca de três mil famílias encontram-se em situa-ção de risco social no Centro Antigo de Salvador. A verba do PPA deve alcançar cerca de mil famílias com dificuldades habitacionais.
Recursos insuficientesO Centro Histórico (do Mostei-
ro de São Bento ao Santo Antônio
Além do Carmo), que virou patri-
mônio nacional em 1984 e da hu-
manidade em 1985, passa por uma
restauração capitaneada pelo gover-
no do Estado. Mas o Centro Antigo,
contíguo à área de proteção rigoro-
sa, só é protegido pela Lei Municipal
3.289/83, de preservação do patrimô-
nio, praticamente inócua.
A maior parte dos bairros da
Saúde e Nazaré, por exemplo, não
é tombada, e faltam recursos para
revitalização. Quase R$ 2 milhões
foram usados em obras que deve-
riam terminar em abril de 2011, o
que não aconteceu.
É o caso da Fonte do Gravatá,
na rua de mesmo nome. Lá, mora-
dores e turistas se assustam com
o comércio diuturno de drogas.
Segundo o secretário municipal de
Reparação, Ailton Ferreira, cabe à
Prefeitura cuidar de detalhes como
limpeza, pavimentação das ruas
do entorno, fiscalização do comér-
cio e segurança, o que, na prática,
deixa a desejar. Para ele, a troca de
metais usados por drogas atrai os
viciados à região. “Não é saudável
Salvador ter um lugar naquelas
condições, como estão o Gravatá e
a Independência”, completa.
Secretário da reparação admite que a situação é grave
Edificações em ruínas, prestes a desabar, oferecem risco aos passantesNa Baixa dos Sapateiros, casarões abandonados aguardam reforma há anos. Somente o escoramento foi feito.
-se em situa- de Salvador. mil famílias
MANUELA CAVADAS
Salvador, 27 de janeiro de 20126
cidadeSimples nacionalEmpresários tem até 31/1 para optar pelo Simples Nacional e enquadramento no Simei, para microempreendedores in-dividuais. Os pedidos devem ser feitos no Portal do Simples Nacional: www.receita.fazenda.gov.br/SimplesNacional.
A coordenadora geral do Es-
critório de Referência do Centro
Antigo de Salvador (Ercas), Bea-
triz Lima, diz que há programas
para o Centro Antigo em fase de
captação de recursos. Segundo
ela, são ações emergenciais que
devem acontecer até 2015, com
verba de R$ 430 milhões.
Para a recuperação e conser-
vação do Centro Histórico, há o
PAC das Cidades Históricas, que
anda mais do que empacado – os
recursos da Bahia caíram 93% e
só quatro obras, de 46, saíram
do papel –, e o Monumenta, do
Governo Federal. No Ercas, liga-
do ao gabinete do governador
Jaques Wagner (PT), o foco é
no fomento econômico, preser-
vação, qualificação dos espaços
culturais e requalificação da in-
fraestrutura. Em dois anos, o es-
critório confirmou a construção
de casas e equipamentos urba-
nos da Vila Nova Esperança (Ro-
cinha), a criação de residências
estudantis em casarões no Largo
d’Ajuda e a requalificação de fa-
chadas na Baixa dos Sapateiros.
Projetos são a longo prazo
Cracolândia soteropolitanaAs ruas do Gravatá, do Bângala,
do Castanhêda e, ironicamente, do
Paraíso, na região da Barroquinha,
são hoje a “cracolândia soteropolita-
na”. Sem policiamento reforçado, o
desmando reina.
Ailton Ferreira diz que há ação
da polícia, que resultou inclusive na
desativação de ferros-velhos que ali-
mentavam o tráfico. “Não podemos
tirar as pessoas porque elas estão se
drogando. Elas têm o direito de ir e
vir”, defende. Na opinião dele, o ‘pa-
vor’ criado em torno do Pelourinho é
excessivo. “É um lugar seguro”.
Segundo a coordenadora-geral
do Escritório de Referência do Cen-
tro Antigo de Salvador (Ercas), Bea-
triz Lima, a Secretaria da Segurança
Pública do estado (SSP-BA) atua no
entorno e o problema do crack será
combatido, assim como haverá polí-
ticas públicas para os moradores de
rua. “O programa lançado pela pre-
sidente Dilma será adotado também
aqui na Bahia”, explicou. Comerciantes informais, moradores de rua e usuários de drogas dividem espaço nas calçadas da cracolândia baiana
Recursos do PAC das Cidades Históricas
caíram 93% na Bahia