Delírios do poder

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São Paulo, 2016

TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

Delírios do poderPaulo Curi

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Delírios do poderCopyright © 2016 by Paulo CuriCopyright © 2016 by Novo Século Editora Ltda.

coordenação editorialVitor Donofrio

editorialJoão Paulo PutiniNair FerrazRebeca LacerdaVitor Donofrio

gerente de aquisiçõesRenata de Mello do Valeassistente de aquisiçõesAcácio Alvesauxiliar de produçãoEmilly Reis

preparaçãoAlessandra Miranda de Sá

diagramação e capaVitor Donofrio

ilustração de capaAlexandre Santos

revisãoWillians Calazans

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

Curi, PauloDelírios do poderPaulo CuriBarueri, SP: Novo Século Editora, 2016.

(Talentos da Literatura Brasileira)

1. Literatura brasileira. 2. Literatura fantástica brasileira I. Título

16 ‑0534 cdd ‑869

Índice para catálogo sistemático:1. Literatura brasileira 869

novo século editora ltda.Alameda Araguaia, 2190 – Bloco A – 11o andar – Conjunto 1111 cep 06455 ‑000 – Alphaville Industrial, Barueri – sp – BrasilTel.: (11) 3699 ‑7107 | Fax: (11) 3699 ‑7323www.novoseculo.com.br | [email protected]

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1o de janeiro de 2009.

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Para minha esposa, Silvia Maria. Uma permanente fonte de inspiração em minha vida.

Para minhas filhas, Fabiana e Fernanda, pelo entusiasmo e apoio incondicional, desde o início.

E para todos aqueles que me incentivaram e, por meses, me ouviram pacientemente falar

repetidamente sobre este livro.

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[prefácio]

Paulo Curi é um narrador, sem nenhuma dúvida. A linguagem ágil, dinâmica e despojada, mas ainda assim elegante, tem inclinação ci‑nematográfica. É um aspecto relevante do livro que empolga e pren‑de o leitor do início ao fim.

A condução da trama merece ser ressaltada, porque não lhe es‑capa pormenor, e, se algo se insinua em suas páginas sem aplicação imediata, adiante, no decorrer da leitura, é amarrado à estrutura do romance.

Em seu primeiro livro, ele está longe de ser um principiante, utilizando‑se das palavras com fluência irreparável. É o florescer de um novo talento da literatura brasileira.

O romance traz em suas páginas uma mensagem subliminar, servindo como denúncia da corrupção e do viés autoritário presentes em muitos países da América do Sul. No entanto, traz também uma alusão utópica: de que os Anjos Celestiais estão realmente olhando por todos nós e estarão prontos para intervir todas as vezes que o mal extrapolar os limites.

Delírios do poder é um prazeroso entretenimento e uma leitura indispensável para quem aprecia se transportar para um mundo do qual gostaria de fazer parte.

Ivana CuriPedagoga e escritora

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Eliza esperava com ansiedade na recepção do Hotel Luxor Palace, um dos mais luxuosos de San Juan, a capital da Província do Sudeste.

Depois de muita insistência, enfim conseguiu uma entrevista exclusiva com Jorge Stabler, ministro de Minas e Energia.

Eliza Huppert é jornalista do Diário de San Pietro, o principal jornal da Capital Federal e um dos três mais importantes do país. É uma profissional respeitada e especializada em matérias investigati‑vas envolvendo políticos, empresas e instituições do sistema finan‑ceiro. Trata‑se de uma jovem bonita e cheia de energia, que gosta de roupas confortáveis e despojadas. Apesar de ter um ar angelical, que aparenta fragilidade, isso não corresponde à realidade.

O chefe da recepção foi ao seu encontro:– Srta. Huppert! Pode subir ao segundo andar. O ministro a

aguarda na sala 208, que fica bem em frente ao elevador.– Obrigada. Pensei que ele não me atenderia nunca.Dois militares fardados estavam na porta da sala, parecendo cães

de guarda prontos a avançar sobre qualquer intruso.– Sou a jornalista Eliza Huppert. Marquei um encontro com o

ministro Stabler.Um deles pediu a mochila que ela carregava, abriu o zíper e

vasculhou tudo o que tinha lá dentro, enquanto Eliza observava sur‑presa aquela atitude exageradamente invasiva.

– Desligue o celular, moça – ordenou e ficou observando até ela cumprir a ordem.

O mais desagradável ainda estava por vir. O segundo homem pediu que ela levantasse os braços e se encostasse na parede, para que

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ele a revistasse. Ela cogitou não aceitar aquela humilhação, mas não podia perder a chance da entrevista.

Sem demonstrar nenhum constrangimento, o homem apalpou seu corpo dos pés à cabeça, procurando por algum objeto suspeito. Só parou quando se certificou de que ela não levava nada escondi‑do. Talvez receasse que ela estivesse com algum microtransmissor camuflado.

Sem falar uma única palavra, ele abriu a porta e fez sinal para que ela entrasse. O outro se expressou grosseiramente:

– Nada de fotos, muito menos gravações.Na sala estavam o ministro Jorge Stabler e outro militar um

pouco mais velho, que vestia um uniforme impecável e forrado de brasões e medalhas. Eliza prontamente o identificou. Era o general Hector Amon, ministro da Defesa. O que esse homem está fazendo aqui?, pensou desconfiada.

– Sente‑se aqui, senhorita – disse o general, puxando uma ca‑deira próxima ao ministro Stabler, que apenas observava à mesa de reuniões.

O general se afastou e foi sentar‑se no outro extremo da mesa, mas continuou olhando fixamente para Eliza. Insistia em manter um semblante enigmático, que provocava calafrios.

– Estou à sua disposição, jornalista Huppert. O que posso fazer por você? – perguntou educadamente o ministro Stabler.

– O assunto se refere à Usina de Processamento e Armazenagem de Urânio em Santa Fé, no norte da Província do Centro‑Oeste.

– Sim, temos uma usina em Santa Fé.– Eu gostaria que explicasse, ministro, por que dobraram o nú‑

mero de funcionários operacionais daquela usina.– Bem, a razão é muito simples. Detectamos algumas falhas

operacionais e concluímos que aconteciam devido ao número in‑suficiente de funcionários, por isso fizemos contratações adicionais.

– Mas não houve nenhum aumento de produção?

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– Não, não houve. Estamos produzindo os mesmos volumes de antes.

– Não é o que constatei, ministro.– Como assim? Não estou entendendo o que quer dizer.– Para ser bem direta, presenciei um carregamento no meio da

madrugada, que foi entregue na Base Aérea Simón Bolívar, em San Martin, e depois registrei imagens desse mesmo material sendo em‑barcado em um avião de carga na pista da base aérea. Como o senhor me explicaria isso?

O ministro empalideceu. Franzindo a testa, recostou‑se na ca‑deira, sem saber o que dizer. O general Amon decidiu intervir:

– É claro que podemos explicar, senhorita. Temos algumas ope‑rações que são coordenadas pelo Exército, mas não temos tempo para detalhar isso agora. Eu e o ministro temos um compromisso e teremos que deixar essa informação para mais tarde.

– Como quiser, general.– Deixe os dados do hotel onde está hospedada e o número do

seu telefone celular, que mais tarde entrarei em contato para conti‑nuarmos a entrevista. Mandarei alguém buscá‑la – ordenou o general.

Nitidamente, o clima ficou tenso. Eliza anotou os dados em uma folha de papel e a entregou ao general.

Apesar do desconforto, e de o general continuar a parecer frio e impassível, era evidente que não havia gostado nem um pouco do que tinha ouvido. O ministro Stabler, visivelmente nervoso, evitava fazer qualquer comentário.

Eliza deixou a sala e pegou um táxi na porta do hotel.No caminho, ruminava os pensamentos que começaram a sur‑

gir em sua cabeça: O general é um homem perigoso. Não gostei da forma como ele interrompeu a entrevista e pediu o endereço de onde estou hospedada.

Tomou uma decisão: sair do hotel imediatamente.

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Entrou pela recepção e pediu que fechassem sua conta. Subiu ao apartamento, socou as roupas em uma mala e se retirou apressada. Dispensou o táxi oferecido pela recepcionista. Preferiu pegar um na rua, para não deixar registro de para onde ia. Tinha experiência com matérias investigativas, e sua intuição lhe dizia que tinha encontrado a ponta de um iceberg, mas que o terreno era perigoso e precisava tomar o máximo de cuidado.

Ligou para a companhia aérea e ouviu que o próximo voo, com lugares disponíveis para San Pietro, sairia à meia‑noite e meia. Teria que perambular pela cidade para passar o tempo. Decidiu ir a um local onde pudesse se misturar às pessoas. Um shopping center.

Encontrou uma agência de correio e postou uma correspondên‑cia que havia preparado previamente.

• • •

saguão do aeroporto – 23h55

Eliza foi direto ao balcão da companhia em que tinha feito, por telefone, a reserva de uma passagem para San Pietro. Fez o check-in e embarcou sua mala de roupas, ficando com a mochila na qual levava o laptop, sua máquina fotográfica, documentos e todos os ma‑teriais sobre a investigação que vinha fazendo nas últimas semanas. Quando se virou para se retirar, foi surpreendida por três homens postados bem à sua frente. Estavam todos fardados. Eram jovens mi‑litares exibindo orgulhosamente o brasão do Exército.

– Srta. Eliza Huppert? – perguntou um deles. – Sim, sou eu mesma.– Sou o sargento Jonas MacClaude. Preciso que a senhorita nos

acompanhe. O general Amon está à sua espera no hotel.– Desculpe, mas esse encontro terá que ficar para outro dia.

Estou embarcando de volta a San Pietro.

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– Sinto muito, mas não podemos voltar sem a senhorita.– Por acaso estão me prendendo?– Não se trata disso, mas o general precisa falar com a senhorita

com urgência.Como descobriram que eu estava aqui?, perguntou a si mesma.

Percebeu que estava sem saída. Não adiantava gritar nem pedir aju‑da. Eram três militares fardados, que convenceriam qualquer um que tentasse ajudá‑la. Tinha que pensar rápido.

– Tudo bem, eu irei com os senhores, mas primeiro preciso ir urgentemente à toalete.

– Não há problema. A senhorita pode ir que esperamos na porta.Eliza preferiu não arriscar. Tinha que ficar longe daqueles ho‑

mens. Melhor ainda, encontrar uma forma de se livrar deles.Entrou no banheiro feminino para pensar com mais calma e se

deparou com as amplas janelas basculantes que davam para a área de embarque e desembarque de quem chegasse ou saísse do aeroporto. Não teve dúvida. Abriu uma das janelas o máximo que pôde. Primeiro passou a mochila, em seguida deslizou o corpo pela passagem, aterris‑sando na calçada sob os olhares curiosos de quem passava.

• • •

O sargento MacClaude andava de um lado a outro. Estava in‑quieto com a demora de Eliza.

– Ela está demorando muito – balbuciou entre os dentes.– Vamos entrar. Temos que verificar o que está acontecendo.Os três militares entraram na toalete, mas não havia mais nin‑

guém ali. Examinaram cada cabine, na esperança de encontrá‑la, mas foi em vão.

– O general vai nos esfolar vivos! – manifestou‑se o sargento.– Melhor falar que não a vimos – sugeriu o colega.

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– É isso mesmo! Melhor dizer que ela não apareceu – confir‑mou o sargento, teclando o telefone para avisar o general. – Ela mar‑cou assento para o voo da meia‑noite e meia, mas ainda não apareceu por aqui, general.

– Fiquem aí e, se ela aparecer, levem-na para o local que combi-namos – ouviu‑se a voz do outro lado.

– Está bem, general.

• • •

Eliza caminhava apressada pela calçada quando avistou um táxi que desembarcava um passageiro. Não perdeu tempo. O taxista ain‑da não tinha fechado a porta quando ela se meteu dentro do carro.

– Desculpe, moça, mas não sou autorizado a pegar passageiros aqui no aeroporto.

Ela tirou uma nota de cem dólares e entregou para o homem.– Não vai deixar sua sobrinha na mão, não é mesmo?O homem logo entendeu. Entrou no carro, apagou o luminoso e

travou o taxímetro. Saíram do aeroporto sem nenhuma dificuldade.Alguns quilômetros depois, ele estacionou no acostamento.– Muito bem, moça… Acho que temos que conversar.– Obrigada por sua ajuda, senhor, mas eu precisava sair de lá.– Tudo bem, mas e agora? O que pretende fazer?– O senhor está livre para uma corrida bem longa?– Quão longa seria essa corrida?– Quatrocentos quilômetros.– Isso vai lhe custar um bom dinheiro.– Não há problema. Se o senhor estiver disposto a ir, eu pago o

preço justo.– Então, vamos em frente. É só me dizer para onde.

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