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Revista de Arqueologia, v.22, n.2, (ago-dez.2009): 55- 76, 2009 55 Artigo APLICAÇÕES DE ISÓTOPOS ESTÁVEIS DE 18/16 O, 13/12 CE 15/14 N EM ESTUDOS DE SAZONALIDADE, MOBILIDADE E DIETA DE POPULAÇÕES PRÉ-HISTÓRICAS NO SUL DO BRASIL Marco Aurélio Nadal De Masi * Resumo Análises de isótopos estáveis de 18/16 Oe 13/12 C das águas e conchas de Anoma- locardia brasiliana da Lagoa Conceição foram utilizadas no estudode sazonalidade das ocupações pré-históricas costeiras. A amostragem de dois anos (1996-1997 e 2002-2003) mostra que os valores de 18/ 16 Oe 13/12 C são baixos quando temperatu- ra e precipitação são elevadas no verão, onde predomina a cor cinza/opaca das conchas. No inverno predominam os va- lores altos de 18/16 Oe 13/12 C, quando preci- pitação e temperatura são baixos e a cor branca/translúcida é predominante. Os resultadosdasanálises demonstraram que as bases residenciais eram ocupadas du- rante o ano todo. Já com a análise dos isótopos estáveis de 13/12 Ce 15/14 N do colá- geno de 82 esqueletos humanos proveni- entes de 15 sítios arqueológicos do litoral * Doutor em Antropologia por Stanford University. Coordenador do Laboratório de Antropologia Cultural e Arqueologia da Unisul Business School, Universidade do Sul de Santa Catarina, Rua Trajano, 219. Florianópolis, Santa Catarina, 88010-010. [email protected] .

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Revista de Arqueologia, v.22, n.2, (ago-dez.2009): 55- 76, 2009 55

Artigo

APLICAÇÕES DE ISÓTOPOS ESTÁVEIS DE 18/16O, 13/12C E15/14N EM ESTUDOS DE SAZONALIDADE, MOBILIDADE EDIETA DE POPULAÇÕES PRÉ-HISTÓRICAS NO SUL DOBRASIL

Marco Aurélio Nadal De Masi* ResumoAnálises de isótopos estáveis de 18/16O e13/12C das águas e conchas de Anoma-locardia brasiliana da Lagoa Conceiçãoforam utilizadas no estudode sazonalidadedas ocupações pré-históricas costeiras. Aamostragem de dois anos (1996-1997 e2002-2003) mostra que os valores de 18/

16O e 13/12C são baixos quando temperatu-ra e precipitação são elevadas no verão,onde predomina a cor cinza/opaca dasconchas. No inverno predominam os va-lores altos de 18/16O e 13/12C, quando preci-pitação e temperatura são baixos e a corbranca/translúcida é predominante. Osresultados das análises demonstraram queas bases residenciais eram ocupadas du-rante o ano todo. Já com a análise dosisótopos estáveis de 13/12 C e 15/14N do colá-geno de 82 esqueletos humanos proveni-entes de 15 sítios arqueológicos do litoral

* Doutor em Antropologia por Stanford University. Coordenador do Laboratório de Antropologia Cultural eArqueologia da Unisul Business School, Universidade do Sul de Santa Catarina, Rua Trajano, 219.Florianópolis, Santa Catarina, 88010-010. [email protected].

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de Santa Catarina, foi possível fazer umainferência indireta sobre a evolução da di-eta destas populações. Os dados indicamuma adaptação costeira com uma dietaessencialmente marinha nos sítios maisantigos, havendo um aumento dos com-ponentes terrestres na dieta com o passardo tempo, mas a mesma continua predo-minantemente marinha, mesmo após aaquisição da tecnologia cerâmica Jê. A pre-sença de indivíduos de grupos caçadorescoletores com uma dieta essencialmenteterrestre é diagnosticada em alguns sítioscom cerâmica Jê mais recentes. A mesmaanálise realizada em resíduos carboniza-dos de fundo de recipientes cerâmicos deuma estrutura subterrânea indica a utiliza-ção de plantas C

4(milho) e plantas C

3(le-

gumes-feijão) por populações das TerrasAltas do sul do Brasil ao redor de 320 a.C..Estesdadossão confirmadosquandocom-parados com os resultados das análisesde isótopos de ä13C, ä15N de colágeno deind ivíduos das Terras Altas os quaisapresentam uso de plantas C4 em suasdietas ao redor de 700 a.C..

Palavras chave: Isótopos 18/16O, 13/12C, 15/

14N; sazonalidade; dieta.

AbstractThe stable isotopes analysis of 18/16O and13/12C fr om wate rs an d shel ls ofAnomalocardia brasiliana from Lagoa daConceição were used to study seasonalityof prehistoric coastal human occupations.Samples from two years (96-97 e 2002-2003) show low values of 18/16O, 13/12C whentemperature and precipitat ion are highduring the summer season when the shellscolor is mainly gray. High values of 18/16Oand 13/12C are predominant dur ing thewinter season when precip itation andtemperature are low and the shells color ismainly white. The analysis results show

that residential bases were occupied duringthe ent ire year. The 13/12 C and 15/14Nanalysis from human colla gen of 82skeletons, from 15 archaeological sitesfr om Santa Catarina coast, made itpossible to determine the diet evolution ofthis popula tion. The data ind ica tes acoastal adaptation with a diet based onmarine resources in the ancient sites, witha trend towards mor e terrest rial die tthrough time, but st ill predominantlymarine, even after the acquisition of Jêpottery. The occurrence of individuals witha terrestrialdiet, typicalof hunter-gatherersis determined in more recent sites with Jêpottery. The stable isotopes analysis ofcarbonized residue from pottery vessels issuggesting the use of C

4plants(maize)and

C3plants (legumes-beans) by the Southern

Brazilian Highlands population at 320 B.C.These data are supported by the results ofä13C and ä15N analys is fr om humancollagen of individuals from the High landswhich indicates the use of C

4plants by 700

B.C.

Key words: stable isotopes of 18/16O, 13/

12C, 15/14N; seasonality; diet.

O objetivo deste artigo é apresentar autilização da análise de isótopos estáveisem arqueologia através de quatro aplica-ções, as quais foram publicadas anterior-mente, e agora foram agrupadas. É impor-tante salientar que o uso de isótopos está-veis ou qualqueroutro tipo de técnica,deveser aplicada para resolver um problema depesquisa ou responder uma pergunta. Aprimeira aplicação de isótopos estáveis de18/16O e 13/12C foi utilizada em estudos demobilidade e sazonalidade de grupos cos-teiros na Ilha de Santa Catarina, LagoaConceição (De Masi, 1999). Mobilidade esazonalidade foram inferidas determinan-do-se o tempo de coleta dos moluscosbivalvos pré-históricos usando uma cole-

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Aplicações de isótopos estáveis de 18/16O, 13/12C e 15/14N em estudos de sazonalidade,mobilidade e dieta de populações pré-históricas no sul do Brasil

ção de referência de dois anos de conchasmodernasdeAnomalocardia brasiliana.Aomesmo tempo, mobilidade é inferida utili-zando-se a análise de cor das conchas,usando as mesmas amostras da coleçãode referência e conchas provenientes dosníveis estratigráficos dos sitios arqueoló-gicos pesquisados.

A segunda aplicação procura de formaindireta determinar o tipo de dieta das po-pulações pré-históricas (terrestre x mari-nha) e o deslocamento destes grupos hu-manos entre o litoral e o planalto (mobili-dade de populações). A anál ise dosisótopos estáveis de 13/12 C e 15/14N foi feitaa partir de colágeno de esqueletos huma-nos provenientes de sítios arqueológicosdo litoral e do planalto (De Masi, 1999).Uma outra aplicação do mesmo tipo deanálise isotópica foi utilizada para deter-minar a dieta das populações antigas queviviam nas diferentes regiões do litoral deSanta Catarina com o objetivo de compre-ender a evolução da dieta destas popula-ções através do tempo de 4280 AP a 710AP (De Masi, 2001). A quarta e última apli-cação de análise isotópica de 13/12C e 15/

14N teve como objetivo determinar os tiposde plantas utilizadas pelos grupos ances-trais dos Jê do planalto meridional, a par-tir de resíduos carbonizados dos fundosde recipientes cerâmicos provenientes dobaixo vale do rio Canoas, Santa Catarina(De Masi, 2006).

Isótopos estáveis de Oxigênio e análi-se da cor da concha são complementares,uma vez que os princípios físico químicosbásicos são os mesmos.A precipitaçãodoscristais de CaCO

3ocorrem em equilíbrio

com a composição química e temperaturada água (Epstein et al,1953). Num sentidogeral, temperatura é a variável principal navariação dos isótopos estáveis, bem comona cor dos incrementos de crescimento daconcha. Certamente, outras variáveis têmum papel mais importante nas condições

ambientais nas quais as conchas crescem(salinidade, precipitação,marés, perturba-ção do substrato onde vivem, localizaçãodo habitat, poluição, etc). Para entenderestas condições, os investigadores têmque definir e correlacionar o crescimentodas conchas com estas e outras variáveispara descobrir qual delas tem um papelprincipal naquele contexto específi co.Quanto maior a variação sazonal em tem-peratura, melhor é a área para ambas asanálises. Inicialmente, esta suposição ex-cluiu áreas tropicais e áreas estuarinaspara a aplicação da técnica por arqueólo-gos (Deith, 1983). Mas hoje se sabe que aprecipitação sazonal apaga o sinal contí-nuo da temperatura em tais áreas e per-mite que a sazonalidadeseja medidausan-do as técnicas de isótopos estáveis e acor da concha. Esta é a condição da áreaem estudo.

A análise de colágeno é um modo indi-reto para determinar dieta pré-histórica emarqueologia. O colágeno é a proteína prin-cipal formadora dos ossos e preserva aassinatura isotópica das fontes de carbo-no e nitrogênio dos recursos que o indiví-duo consumiu, com uma reposição muitolenta de 30 anos (Stenhouse & Baxter,1979). DeNiro (1987), baseado em estu-dos de laboratório com animais tratadoscom dietas específicas, sugeriu que asproporções de carbono nos tecidos ani-mais são ± 2‰ mais positivas que as pro-porções de sua dieta, e as proporções denitrogênio são 2 a 4‰ mais positivas queas proporções de sua dieta. A análise doisótopo de carbono, por si só, não podedistinguir uma dieta marinha de uma dietaa base de plantas C

4, porque uma dieta

marinha apresenta às proporções de car-bono iguais as proporções de carbono deuma dieta baseada em plantas C4. Somen-te a análise dos isótopos de nitrogêniopode diferenciar ambas as dietas. As pro-porçõesde nitrogênio paradietasmarinhas

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são altas e variam de 10‰ a 20‰; e die-tas a base de plantas C

4têm baixas pro-

porções de nitrogênio que variam de10‰ a 5‰. DeNiro & Epstein (1976) su-geriram a aplicação dos isótopos de car-bono e nitrogênio para interpretar dietasmarinhas versus dietas terrestres (Tauber,1981; Chisholm et al, 1982; Lubell et al,1994; Pate, 1995). Somente depois dosexperimentos de laboratório de DeNiro &Epstein (1978, 1981), com ratos tratadoscom dietas diferentes, é que a combina-ção de carbono e nitrogênio na análiseisotóp ica foi instituída . Depois, Scho-eninger & DeNiro (1984) compararam asdietas terrestre e marinha, usando osisótopos de carbono e nitrogênio.

Os primeiros estudos isotópicos paraidentificar a utilização de plantas C

4(mi-

lho) por grupos humanos, utilizavam ape-nas o isótopo de carbono (Vogel & VanderMerwe 1977~ Van der Merwe & Vogel1978~ Bender et al. 1981~ et al. 1982). Oproblema de se analisar somente carbonoé que dietas essencialmente marinhasapresentam um valor isotópico de carbo-no similar ao de dietas baseadas em plan-tas C

4. A única forma de distinguir os dois

tipos de dietas é utilizando-se conjunta-mente a análise do isótopo de nitrogênio,o qual tem valor muito mais elevado emdietas marinhas (Schoeninger, DeNiro &Tauber, 1983~ Schoeninger & DeNiro,1984). As primeira análises de carbono enitrogênio em plantas foram feitas comamostrasdo sítiode Tehuacan,naAmericaCentral,escavado por Macneish (1967).Asamostras analisadas por DeNiro & Epstein(1981) provindas de Tehuacan mostraramum alto valor de nitrogênio, o qual foi in-te rp re tado como modi fi cações pós-deposicionais devido ao processo diage-nético.

Mais tarde Hastorf e DeNiro (1985) ana-lisaram plantas pré-históricas carboniza-das e não carbonizadasprovindas do Peru

e confirmaram que plantas pré-históricasnão carbonizadas têm seus valores denitrogenio alterados após sua deposição.Ao contrário as plantascarbonizadas man-têm seus valores fixos (DeNiro, 1987). Osexper imentos realizados por Hastorf eDeNiro (1985) simulando processos pré-históricos nos quais plantas são carboni-zadas em panelas de barro, demonstra-ram que os valores de carbono e nitrogê-nio não variam mais do que 2 a 3 partespor mil (‰) após carbonização. A ação demicróbios não afeta as plantas carboniza-das em contraste com as não carboniza-das, as quais apresentammodificaçõesdevalores isotópicos. Dessa forma, Hastorfe DeNiro demonstraram que é possívelidentificar três grupos de plantas em res-tos carbonizados presentes em fundos depanelas de barro: plantas C3 (legumes enão legumes), plantas C4 e CAM.

A maioria das plantas é dividida em trêsgrupos, baseada no fracionamento do car-bono durante o processo de fotossíntese.Primeiro, são as plantas C

3, que formam

um ácido com três carbonos (ribulosebifosfato carboxilase). Estas plantas apre-sentam uma proporção de 13/12C variandode -33‰ a -22‰, com uma média de -27‰. Estas plantas incluem a maioria dasespécies de floresta temperada e tropicale também o trigo, o qual é um dos repre-sentantes mais famosos deste grupo.Segundo, são as plantas C

4, que produ-

zem um ácido com quatro carbonos du-rante a fotossíntese (fosfenol piruvatecarboxilase). Os valores da proporção de13/12C variam de -16 ‰ a -9‰, com umamédiade –12,5‰.O milhoé uma das plan-tas bem conhecidas neste grupo, o qualinclui gramas e alguns arbustos de savanasubtropical, regiões áridas e pântanos sal-gados ao longo do oceano (Van DerMerwe, 1982). O terceiro grupo de plantasé chamado CAM (metabolismo ácidocrassuleáceo), que exibe dois tipos de as-

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Aplicações de isótopos estáveis de 18/16O, 13/12C e 15/14N em estudos de sazonalidade,mobilidade e dieta de populações pré-históricas no sul do Brasil

sinatura isotópica, a qual depende do tipode ambiente no qual elas crescem. Ambi-entes áridos produzem uma assinaturaisotópica do tipo C

4. Estas plantas podem

produzir assinaturas isotópicas de plantasC3 em certas condições, se necessário. Onitrogênio não é fracionado durante afotossíntese como é o carbono; ao con-trário, o nitrogênio presente nas plantasreflete as fontes que as plantas usam parasua retirada. O nitrogênio divide as plan-tas em dois grupos adicionais. Eles sãoos legumes (feijões, ervilhas, castanhas)e os não-legumes. O primeiro retira nitro-gênio do ar e o segundo retira nitrogênioda terra. Legumes têm mais baixa propor-ção de nitrogênio do que não-legumes.

I. Metodologia

Isótopos Estáveis de Oxigênio e Análise daCor das Conchas

No primeiro ano de pesquisas foramcoletadas amostras de águas e conchasatuais ao término de cada mês, duranteum ano inteiro (junho/1996-julho/1997),criando uma coleção de referência para aanálise comparativa com conchas pré-his-tóricas. O segundo ano de ampstragem deconchas ocorreu entre junho/2002 e maio/2003. As águas somente foram amos-tradas no primeiro ano e sempre foramamostradasonde as conchas foram amos-tradas, mas as conchas nem sempre fo-ram amostradas onde as águas o foram.Conchas foram amostradas em 17 pontosao redor da lagoa, e águas em 32 pontos,29 deles ao redor da lagoa e três em oce-ano aberto, próximos à praia. Amostras dooceano perto da praia foram coletadaspara contrastar com amostras das águasda lagoa. Conchas de mar aberto não fo-ram coletadas porque a espécie utilizadanesta pesquisa, Anomalocardiabrasiliana,não vive em águas do oceano com pertur-bação de ondas. A água sempre fo i

amostrada onde havia entrada de águadoce, proveniente das fontes ou rios, parase ter um registro durante o ano todo daentrada de água doce no sistema da la-goa. Foram coletadas quarenta conchasem cada local de amostragem, sendo trin-ta para análise de cor de concha e as res-tantes para análise de isótopos estáveis.Conchas de Anonalocardia brasiliana fo-ram desenterradas do seu hábitat na areiaonde vivem a alguns centímetros abaixodo fundo da lagoa. Foram coletadasamos-tras de água em garrafas de plástico, eforam coletadas conchas em sacos plásti-cos.As amostrasde água receberamapro-ximadamente 2g de HgCl para evitar pro-dução de carbono extra por qualquer tipode vida orgânica. As conchas foram pos-tas em álcool (etanol) para matar os ani-mais. Um dia depois,as conchas eram lim-pas e eram empacotadas em sacos plásti-cos e etiquetadas com mês e número doponto de amostragem.

Foram coletadas amostras de conchaspré-históricas depois de as escavaçõesserem completadas e os perf is estra-tigráficos realizados.Foram coletadas seisconchas em pontos verticais e horizontaisdiversos para cada nível estra-tigráfico.Foram coletadas seis amostras adicionaisde cada nível estratigráfico em uma qua-drícula adicional de 40 x 40 cm escavadaao lado das quadrículas. Estas quadrícu-las de 40 x 40 cm foram escavadas porníveis estratigráficos naturais (culturais),depois que as quadrículas de 1 m2 foramescavadas e os perfis completados. Estasquadrículas de 40 x 40 cm também forne-ceram amostras para análise dos restosde alimentação (Claassen, 1991).

No laboratório, as amostras de águaseguiramo procedimento normalpara aná-lise no equilibrator de água de 18/16O queanalisam 20 amostras cada vez. A extra-ção de carbono inorgânicodissolvido (DIC)das águas seguiu o procedimento usado

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pe lo Lawrence Berk eley Na ti onalLaboratory, baseado em Graber e Aharon(1991). Os tubos com carbono são sela-dos hermeticamente e então conduzidosao espectrômetrode massa“Prisma”, ondesão analisados juntamente com amostrasde referência (padrão)de fenilalanina nes-te caso. As datações foram feitas inicial-mente no Lawerence Berkeley NationalLaboratory e finalizadas no LawrenceLivermore National Laboratory, amboslaboratorios de pesquisa do Departamen-to de Energia do Governo dos EstadosUnidos da América.

A composição aragonítica das conchasfoi identificada em um difractograma deRaiox “RigakuGeigerflex” (35 kW, 15 mÅ),no departamento de Ciências Ambientaise Geológia na Universidade de Stanford.Conchas pré-históricas com camadas ex-ternas de aragonita (superfície externa)foram diagnosticadas através de radiogra-fia de raio x, para assegurar a preserva-ção da estrutura mineral. Amostras paraa análise de 18/16O das conchas modernase pré-históricas foram preparadas comosegue.As amostras de conchas foram lim-pas usando um instrumento rotativo pararaspar outros componentes orgânicos dasuperfície da concha; após, as conchasforam lavadas em água deionizada e se-cas em um forno a 85º C. Com o mesmoinstrumento rotativo foi produzido pó dasconchas, raspando a extremidade da con-cha (última linha de crescimento).Algumasamostras foram raspadas na superfície,seguindo as linhas de crescimento da ex-tremidade para o bico da concha, paraobservar a variação isotópica da concha.Os pós obtidos foram analisados no sis-tema isocarb que só é usado para amos-tras relativamente puras (m 20% de car-bonato) de carbonato reagente (calcita,aragonita).Todas as amostrasque usaramo carrossel de carbonato do “Prisma” fo-ram analisadas segundo o procedimento

de McCrea (1950), no qual se usam novereferências (padrão) de carbonato CM-1.

Todas as amostras foram analisadasem um duplo inlet espectrômetro de mas-sa “Prisma” no Geochemistry Center forIsotopes Studies no Lawrence BerkeleyNational Laboratory. As proporções dosisótopos de carbonos dos carbonatos fo-ram expressas em relação à referência(padrão) PDB (Peedee Belemnite) e paraOxigênio das amostras de águas as pro-porções foram expressas em relação àreferência (padrão) VSMOW (Padrão Mé-dio das Águas Oceânicas de Viena), usan-do a seguinte fórmula:

d *X = [{(*X/X) amostra/(*X/X) padrão} -1]x 1000‰,

onde para carbono *X/X é 13/12C e paraOxigênio *X/X é 18/16O.

A precisão das medidas dos isótoposregistradas nestas análises é ± 0.1‰.

Lâminas de conchas modernas foramprimeiroanalisadas para comprendera core a estrutura da concha. Cinco mil noven-centas e oitenta e sete conchas modernastiveram suas extremidades observadasmacroscopicamente em uma lupa bino-cular Zeiss. Conchas pré-históricas paraanálise da cor primeiro foram colocadasem gesso para evitar a destruição da con-cha durante o corte. As conchas foramseccionadas em uma máquina Jem Saw45 no Departamento de Ciências Ambien-ta is e Geolog ia na Universidade deStanford. Depois, as amostras foram ana-lisadas em um microscópio binocular.

A espécie de bivalve usada nesta aná-lise é a Anomalocardia brasiliana (Gmelin,1791), porque é o tipo mais comum demolusco presente nos montes de conchasna costa brasileira meridional, e tambémporque a maturidade sexual desta espé-cie acontece muito cedo em sua vida, nor-

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Aplicações de isótopos estáveis de 18/16O, 13/12C e 15/14N em estudos de sazonalidade,mobilidade e dieta de populações pré-históricas no sul do Brasil

malmente 138 dias depois de nascer, comum tamanho comum de 14 mm (Peso,1980). A espécie ocorre desde as IndiasOcidentais até o Brasil (Warmke & Abade,1961 apud Narchi, 1972). O hábitat da es-pécie se estende até o Uruguai (Rios,1970). Anomalocardia brasiliana vive emgrupos ou isolada em águas calmas domar sem perturbação das ondas, na zonaintertidal, alguns centímetros abaixo dasuperfície em um substrato de areia oulama (Narchi,1972),em regiõesestuarinascom salinidade que varia de 17% a 42,5%(Leonel, Magalhães & Lunetta, 1983).Narchi (1976 apud Rosa, 1989), depois dedois anos de amostragem A. brasiliana nacosta de São Paulo, concluiu que a maiorparte da espécie tem dois períodos princi-pais de gametogênese: um no outono(abril-junho) e outro na primavera (outu-bro-dezembro),mas alguns deles têm pro-dução contínua de gametas, sem descan-so sexual. Dada a importância da espéciecomo fonte de alimentação para popula-ções litorâneas modernas, foram publica-dos vários estudos sobre sua fisiologia,ecologia, e distribuição geográfica (Rosa,1989).

Coleção de Referência

O carbono inorgânico dissolvido (DIC)nas águas da lagoa varia diferentemente

das águas do oceano. Os valores médiosdas águas do oceano oscilam entre 0,9‰e -0,8‰, e os valores das águas da lagoasão negativos, entre -0,9‰ e -2,3‰, apre-sentando os valores mais altos em junhoe julho (inverno), e os valores mais baixosem dezembro, fevereiro, março e abril (ve-rão e outono). Os valores de DIC maisbaixos da lagoa ocorrem durante o verãoquando os picos de precipitação e tempe-raturas do ar são os mais altos. As águasdo oceano têm os valores de DIC maisnegativos, -2,1‰, no começo do inverno,em junho, quando a corrente marinha dasMalvinas sobe em direção ao norte, e astemperaturas baixam. Durante o resto doano as águas do oceano oscilam normal-mente de 1,0‰ a -0,8‰. Os valôres de 18/

16O das águas da lagoa e do oceano sãodiferentes durante o ano.As águas do oce-ano têm, em média, valores positivos amaior parte do tempo e oscilamentre 0,0‰e 0,4‰, exceto setembro e julho, em queregistra -0.2‰ e 0.0‰ respectivamente.Aságuas da lagoa têm os valores mais ne-gativos em janeiro e fevereiro. Dezembroé uma exceção, com um valor de 0,3‰. Atemperatura média mensal mais alta acon-tece no verão, quando os valores de pre-cipitação são os mais altos e as águas dalagoa têm seus valores mais baixos de 18/

16O (figura 1).

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Figura 1 – Variação temperatura e 18/16O das águas da lagoa (A); Variação precipitação e 18/16O das águasda lagoa (B);Variação de 18/16O e DIC (carbono inorgânico dissolvido) das águas da lagoa e variação de 18/

16O das conchas modernas (C).

O pressuposto básico desta análise éde que o CaCO

3da concha precipita em

equilíbrio físico químico com as condiçõesdas águas circunvizinhas, tornando pos-sível reconstruir a temperatura e a salini-dade dos ambientes passados, como foimencionado anteriormente (Epstein et al,1953; Craig, 1965; Mook & Vogel, 1968;Williams et al, 1982; Spero et al, 1977).

Os 18/16O das conchas modernas têm amaioria de seus valores médios positivosem junho e julho, respectivamente, e osvalores médios mais baixos em dezembro,fevereiro, março e abril. Os valores de ou-tono seguem a média de verão com valo-

res mais baixos; os valores da primaveraseguem a média de inverno com valoresmais positivos. Altos valores de precipita-ção e temperatura média do ar acontecemno verão quando 18/16O das conchas sãoos mais baixos. A variação 18/16O da cama-da externa das conchas modernas temseus valores mais baixos durante o verão,quando a temperatura média e a precipi-tação têm os valores mais altos. As águasda lagoa têm os valores mais baixos deDIC e 18/16O durante o verão quando 18/16Odas conchas têm seus valores mais bai-xos (figura 2).

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Aplicações de isótopos estáveis de 18/16O, 13/12C e 15/14N em estudos de sazonalidade,mobilidade e dieta de populações pré-históricas no sul do Brasil

Figura 2 – Variação da precipitação e de 18/16O da superfície externa das conchas (A); Variação mensal de18/16O das conchas e temperatura (B); Variação mensal de 18/16O das conchas e precipitação (C).

Há uma variação sazonal na tempera-tura do ar e na precipitação durante verão(dezembro, janeiro e fevereiro) e inverno(junho, julho e agosto). O verão é a esta-ção chuvosa, com as temperaturas do armais altas, e o inverno é a estação maisseca, com as temperaturas de ar maisbaixas. Tal variação sazonal na tempera-tura do ar e na precipitação causa varia-ções sazonais no 18/16O e DIC das águasda lagoa e os valores de 18/16O das con-chas. Os valores de 18/16O da primavera eoutono se sobrepõem aos valores máxi-mo e mínimo de inverno e verão, respecti-vamente. A precipitação é 50% mais altadurante o verão e outono juntos do quedurante o inverno e primavera juntos. Es-tes dois períodos com esta diferença de50% em precipitação foram aqui denomi-nados de estação “úmida” (verão e outo-no) e estação “seca” (inverno e primave-ra). A variação isotópica sazonal registra-da nas águas modernas e conchas de A.

brasiliana fornece uma excelente coleçãode referência para testar variação sazonal“seca” e “úmida”, a partir de conchas pré-históricas de uma única espécie, permitin-do determinar as estações de ocupaçãodo sítio arqueológico com uma precisãode seis meses.

Outra análise com o mesmo objetivo,de medir sazonalidade, é a análise da cordas conchas. Nesta pesquisa a análise dacor da concha será testada contra a análi-se de isótopos de Oxigênio para medir suaprecisão em determinar ocupação sazo-nal.O padrãoda cor das conchas em 5.987amostras fornecem a base para a deter-minação da sazonalidade. O resultado daanálise da cor das conchas mostra quedurante o verão 89% das conchas são decor cinza, comparado a 57% no inverno eprimavera e 58% no outono. O teste doChi quadrado indica que a freqüência dacor cinza no verão é significativamentemais alta do que nas outras estações

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DE MAIS, M.A.N.

(p<0,01). Como esperado, os valores dosisótopos de Oxigênio das águas da lagoanesta estação são os mais baixos, o quecomprova os pressupostos básicos sobrea formação da cor das conchas, mencio-nados anteriormente. A chance de umaconcha com cor cinza pertencer à estaçãode verão é de 9:1, enquanto a chance dea concha de cor cinza pertencer a outraestação é de 6:4, com uma proporção dechance (odds rate) igual a 6 (5 < ou <8,intervalo com 95% de confiança). Isto sig-nifica que a chance de uma concha de corcinza pertencer à estação de verão é maisalta que para outras estações. Isto permi-te, então, o uso da coleção de referência

de cor da concha para determinar a esta-ção de ocupação dos sítios arqueológicos.O número das amostras dos sítios pré-his-tóricos na análise da cor das conchas va-ria de uma a seis conchas e depende doestado de conservação de suas extremi-dades.

Comparando os dados de cor das con-chas com as variações mensais de 18/16O,13/12C (DIC), precipitação e temperatura doar, é possível concluir que a cor cinza dasconchas é maior durante o verão quandoos valores de 18/16O e 13/12C são os maisbaixos, e os valores da temperatura do are da precipitação são os mais altos (figura3).

Figura 3 – Variação da cor das Conchas 1996/1997 e variação de 18/16 O das águas da lagoa (A); Variaçãoda cor das conchas1996/1997 e 2002/2003 (B).

Determinação da Dieta e Movimento dePopulação

Neste estudo, a análise do colágenotem dois objetivos principais: primeiro, de-finir a dieta das populações pré-históricasdo litoral e das terras altas; e, segundo,deduzir a mobilidade sazonal dos gruposdo litoral e das terras altas.

A preparação e extração do colágenoseguiram os procedimentos de Ambrose(1990), com exceção dos seguintes pas-sos. Colágeno para extração de carbonoe nitrogênio foram feitos em tubos sepa-rados de 9 mm de diâmetro. Os tubos fo-ram preenchidos com colágeno, Cu e CuO

para extração de carbono, e foi adiciona-do o CaO, quando para extração de nitro-gênio. Amostras de referência de fenila-lanina foram usadas nas análises isotópi-cas de carbono para testar o método, umavez que as proporções de carbono dafenilalanina são conhecidas. As amostrasde carbono e nitrogênio foram analisadasem um espectrômetro de massa de duploinlet no Geochemistry Center for IsotopesStudies no Lawrence Berkeley NationalLaboratory. As proporções dos isótopospara carbono são expressadas em rela-ção à referência padrão PDB (PeedeeBelemnite) e para nitrogênio são expres-sadas em relação ao ar atmosférico que é

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Revista de Arqueologia, v.22, n.2, (ago-dez.2009): 55- 76, 2009 65

Aplicações de isótopos estáveis de 18/16O, 13/12C e 15/14N em estudos de sazonalidade,mobilidade e dieta de populações pré-históricas no sul do Brasil

considerada a referência padrão de nitro-gênio. Em ambas as análises a fórmulautilizada é a seguinte:

d *X = [{(*X/X) amostra/(*X/X)referência padrão} -1] x 1,000 ‰

onde carbono *X/X é 13/12C e para nitro-gênio *X/X é 15/14N.

A precisão das medidas dos isótopos éde ± 0.2 ‰.

Tradicionalmente, são medidas as pro-porções de C/N para inferir a preservaçãodo colágeno . De acordo com DeNiro(1985), amostras com proporções de C/Nfora do intervalo -2.9 ‰ a -3.6 ‰ não sãomais colágeno, mas algum outro compo-nente orgânico alterado pela queima oudiaJênese. De acordo com Schwarcz &Schoeninger (1991), as proporções de C/N dentro do limite de -2.9 ‰ a -3.6 ‰ tam-bém não asseguram a presença docolágeno. Para Schwarcz & Schoeninger,as proporções de C/N são supérfluas paramedir a preservação do colágeno, quan-do pelo menos 5 % da matéria orgânicado peso total do osso original está presen-te. Schurr (comunicação pessoal) aceita 2% do resíduo orgânico do pêso total doosso original. Se há menos que 1 %, podehaver o enriquecimento de nitrogênio até15 ‰ relativo ao colágeno original (Sch-warcz & Schoeninger, 1991). Todo o colá-

geno amostrado nesta pesquisa teve maisque 2 % do peso total do osso original.

Foram analisadas amostras de recur-sos provenientes da área de pesquisa paraestabelecer os valores médios dos recur-sos terrestrese marinhoslocais.Dezenoveamostras de plantas e ossos de animaispré-históricos e modernos foram coletadase analisadas para este propósito. As pro-porções isotópicas médias para carbononos recursosterrestres são–25,5 ‰ e paraos recursos marinhos são –12,3 ‰. Asamostras dos recursos terrestressão com-postas por: porco selvagem (Tayassu sp.),anta (Tapirus terres-tris), veado (Mazamasp.), capivara (Hydro-chaeris hidro-chaeris), duas plantas pré-históricas dasquais uma espécie não foi identificada e aoutra é o coquinho (Jer ivá) de umapalmácea (Arecastrum romanzof-fianum).As amostras de recursos marinhos moder-nos são: ta rtaruga, tubarão, pe ixes(Peprilus paru, Pomatomus saltator, Mugilbrasiliens is, Pomadosys corvina-formis,Micropogonias furnieri), golfinhos (Del-phinus sp.) e carne de molusco (Ano-malocardia brasiliana). As amostras derecursos marinhos pré-históricos são: ou-tro tuba rão, leões mar inhos (Arctoce-phalus tropicalis, Arctocephalus australis),baleia(Eubalaena australis) e pingüimcha-mado localmente de Pingüim de Maga-lhães (tabela 1).

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DE MAIS, M.A.N.

Tabela 1 – Recursos Terrestres e Marinhos Amostras de oito indivíduos das terras al-tas foram analisadas, provenientesde qua-tro distritos. Eles são: quatro amostras deSão Joaquim (1.182 AP, CAMS - 51673 e1.290 AP, CAMS - 53143), uma de Ribei-rão da Herta (1.290 AP, CAMS - 53114 ),uma de Alfredo Wagner (1.610 AP, CAMS- 53916) e uma de Urubici (1.735 AP,CAMS - 53915) As datações foram reali-zadas no Center for Accelerator MassSpe ct rome te r (CAMS) do LawrenceLivermore National Laboratory, Departa-mento Nacional de Energia Administraçãoe Segurança Nuclear, Califórnia, USA (ta-bela 3).

Tabela 2 – População do Litoral

Recu rsos terre stres Cron ologia 1 3/ 12 C 15 /14 N

Anim ais

Ta yassu sp. (por co d o ma to) p ré- histórico - 21,52 ‰ 3, 64 ‰

Ma zama sp. (ve ado) p ré- histórico - 18,72 ‰ 4, 73 ‰

Ta pirus terr estris (an ta) p ré- histórico - 21,86 ‰ 2, 36 ‰

Hidro acha eris hid roch aeris (ca pivara ) p ré- histórico - 14,98 ‰

MÉDIA - 19,27 ‰ 3, 57 ‰

DESVIO PADRÃO 3,1 8 ‰ 1 ,18 ‰

M AX - 14,98 ‰ 4, 73 ‰

MI N - 21,86 ‰ 2, 36 ‰

Pla ntas

n ão- id entificado p ré- histórico - 29,50 ‰ 2, 08 ‰

Areca strum ro man zoffianu m(pa lm ácea ) p ré- histórico - 25,57 ‰

phe nila lanina - 31,17 ‰

MÉDIA - 25,57 ‰

Rec ursos Mar in hos

ta rtar uga m ode rno - 13,21 ‰ 8, 65 ‰

tuba rão p ré- histórico - 9,82 ‰ 1 5,96 ‰

tuba rão m ode rno - 9,50 ‰ 1 5,96 ‰

Peprilus paru (gor dinho ) m ode rno - 11,77 ‰ 8, 65 ‰

Pom atom us saltat or (en xova) m ode rno - 11,39 ‰ 1 3,32 ‰

Mu gil bra silien sis (ta inha) m ode rno - 10,37 ‰ 1 0,44 ‰

Po mad asys co rvinafo rmis (cor coro ca) m ode rno - 11,86 ‰ ?

Micro pog onias furinier i (co rvina) p ré- histórico - 9,729 ‰

Arctoce pha lu s trop icalis (le ãomar in ho) p ré- histórico - 10,95 ‰ 1 6,03 ‰

Arcto ceph alus a ustra lis (leãomar in ho) p ré- histórico - 11,4 ‰ 1 6,42 ‰

De lp hinus sp. (go lf in ho) p ré- histórico - 17,28 ‰

eub alaen a au stralis (ba le ia ) p ré- histórico - 15,23 ‰ 6, 85 ‰

ping uim d e ma galh ães p ré- histórico - 11,22 ‰ 1 4,47 ‰

An oma lo card ia br asilian a (car ne) m ode rno - 20,23 ‰ 5, 66 ‰

phe nila lanina - 30,81 ‰

MÉDIA - 12,36 ‰ 1 2,38 ‰

DESVIO PADRÃO 3,2 3 ‰ 4,1 34 ‰

MAX. - 9,50 ‰ 1 6,42 ‰

MIN. - 20,23 ‰ 5, 66 ‰

Uma amostra de um indivíduo do sítioda Armação do Sul da Ilha de SantaCatarina foi adicionada aos dezoito indiví-duos amostrados nos sítios escavados naárea da Lagoa da Conceição (tabela 2).

SE PULTA MENTO Sexo/Idade rec. 14C CA MS 13 /12 C 1 5/14 N

RIO VE RME LHO I

S 1-1 adulto 4070 A P 48543 -1 0,37 ‰ 16,37 ‰

CA NT ODA LAGOAI

CL-1 f/adulto 1300 A P 48866 -1 2,52 ‰ 16,53 ‰

RIO V ERMELHOI I

S 2-1 m/adulto -1 1,54 ‰ 15,64 ‰

S2 -2 criança -1 2,73 ‰ 17,13 ‰

S2 -3 adulto -1 2,96 ‰ 15,76 ‰

S2- 4 adulto 1590 A P 48544 -1 2,55 ‰ 17,70 ‰

S2 -5 m/adulto -1 1,82 ‰ 17,06 ‰

S2 -6 criança -1 2,62 ‰ 16,39 ‰

S2 -7 m/adulto -1 1,08 ‰ 18,47 ‰

S2 -8 m/adulto -1 2,51 ‰ 15,48 ‰

S2 -9 f/adulto -1 1,72 ‰ 16,23 ‰

S 2-10 f/adulto -1 1,30 ‰ 16,80 ‰

S 2-11 criança -1 3,34 ‰ 17,45 ‰

S 2-12 adulto -1 0,82 ‰ 13,33 ‰

S 2-13 adulto -1 3,04 ‰

S2- 14 criança -1 1,93 ‰ 12,39 ‰

S 2-15 adulto -1 1,41 ‰ 13,34 ‰

S 2-16 adulto -9,28 ‰ 13,64 ‰

ARMAÇÃO

A RM-M3* 2770 A P -1 2,08 ‰ 15,48 ‰

A RM-M2* -1 2,06 ‰ 15,48 ‰

* mesmo indivíduo

phen ilala nina -3 0,81 ‰

phen ilala nina -3 0,88 ‰

MEDIA -1 1,86 ‰ 15,75 ‰

DE SV IO PA DRÃ O 1,04 ‰ 1,71 ‰

MAX -9,28 ‰ 18,47 ‰

MIN -1 3,34 ‰ 12,39 ‰

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Aplicações de isótopos estáveis de 18/16O, 13/12C e 15/14N em estudos de sazonalidade,mobilidade e dieta de populações pré-históricas no sul do Brasil

Tabela 3 – População das Terras Altas divíduos de 15 sítios arqueológicos da cos-ta de Santa Catarina e alguns indivíduosda Amazônia da coleção do Museu Uni-versitário Oswaldo Cabral da Universida-de Federal de Santa Catarina (tabela 4 efigura 4). As amostras foram preparadaspara análise no Earth Sciences Laboratoryna Universidade de Stanford, USA, e asanálises isotópicas foram realizadas noLawrenceBerkeley NationalLaboratory naUniversidade da Califórnia em Berkeley,USA. Do sul do estado foram amostradosos sít ios Sambaqui da Caieira (10) ,Sambaq ui da Carni ça (7), SambaquiCongonhas (9), Sambaqui da Vila Nova(1), Sambaqui da Garopaba (1), Imaruí (1).Da região central, Sítio da Armação do Sul(1), Sambaqui da Ponta das Almas (15),Sítio da Tapera (2) e Sambaqui do RioLessa (4). Da região norte Sambaqui dePorto Belo (1), Sambaqui de Laranjeiras(1), Sambaqui Morro do Ouro (5), Sam-baqui da Enseada (17) e Sambaqui doEspinheiro (4). Para contrastar foram utili-zadas amostras da Amazônia da coleçãoTom Wild (3).

A Dieta da População do Litoral

A metodologia segue os mesmos pro-cedimentos ut il izados na anál ise decolágeno, mencionados anteriormente. Aamostra é composta por um total de 82 in-

SEPUL TAMENTO Se xo/I da de re c. 1 4C CAMS 1 3/12 C 1 5/14 N

AL FRED O WAGNER

AW-0 1 16 10 AP 53 91 6 -1 7,9 9 ‰ 7,6 3 ‰

RIBEIR ÃO DA HERTA

SC-VI-1 6 12 90 AP 53 11 4 -1 8,6 8 ‰ 9,5 4 ‰

SÃO JOAQUI M

RA-01 11 82 AP 51 67 3 -1 5,1 4 ‰ 10, 37 ‰

RA-03 12 80 AP 54 14 2 -1 8,1 1 ‰ 8,1 4 ‰

SJ -04 -2 0,6 3 ‰ 8,6 8 ‰

RA-05 12 90 AP 51 67 4 -1 0,7 6 ‰ 7,6 6 ‰

RA-06 12 70 AP 54 14 3 -1 7,2 5 ‰ 8,2 4 ‰

UR UBICI

U R-0 1 17 35 AP 53 91 5 -1 7,0 6 ‰ 8,9 3 ‰

MÉDIA -1 6,9 5 ‰ 8,6 5 ‰

DESVIO PADRÃO 2,9 4 ‰ 0,9 4 ‰

MAX -1 0,7 6 ‰ 10, 37 ‰

MIN -2 0,6 3 ‰ 7,6 3 ‰

phe nilala nina -29 ,72

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68 Revista de Arqueologia, v.22, n.2, (ago-dez.2009): 55- 76, 2009

DE MAIS, M.A.N.

Tabela 4 – Análise de Colágeno - 13/12 C e 15/14 Npara as Populações do Litoral

Amostras rec. 14C 13/12 C 15/14 N CAMS

CAIEIRA

Caiei ra 01 -12.11 ‰ 11.65 ‰

Caieira 02 13.87 ‰

Caieira II IA -10.40 ‰

Caieira 07 (child) -10.74 ‰ 11.32 ‰

Caieira 08 -10.87 ‰ 13.89 ‰

Caieira 4 (patella) -11.28 ‰ 17.13 ‰

Caieira 5 (MAO 51) -10.45 ‰ 15.74 ‰

Caieira 5 (Talus) -9.80 ‰ 14.79 ‰

Caieira X -10.93 ‰ 12.64 ‰

Caieira XII I -11.54 ‰ 11.91 ‰

MEDIA -9.50 ‰ 13.66 ‰

CARNIÇA

Carniça 01 -9.88 ‰ 10.85 ‰

Carniça 01 (4b) 15.60 ‰

Carniça 01 S01 -9.83 ‰ 12.36 ‰

Carniça 04 -11.60 ‰ 17.53 ‰

Carniça 05 -9.96 ‰ 17.02 ‰

Carniça 06 14.95 ‰

Carniça 07 -10.83 ‰ 7.83 ‰

MEDIA -10.42 ‰ 13.73 ‰

CONGONHAS

Congonhas 04 -10.26 ‰ 12.51 ‰

Congonhas 06 -10.71 ‰ 13.32 ‰

Congonhas 11 -11.39 ‰ 11.39 ‰

Congonhas 11 -10.83 ‰ 12.36 ‰

Congonhas 12 -10.76 ‰ 12.10 ‰

Congonhas 13 -10.84 ‰ 12.36 ‰

Congonhas I -11.46 ‰ 15.21 ‰

Congonhas I I -10.62 ‰ 10.18 ‰

Congonhas S2 -11.45 ‰ 13.25 ‰

MEDIA -10.92 ‰ 12.52 ‰

VILA NOVA - IMBITUBA

Vila Nova (Imbituba) -12.65 ‰ 7.57 ‰

GAROPABA

Garopaba -13.70 ‰ 11.08 ‰

IMARUÍ

Imaruí -12.08 ‰

ARMAÇÃO DO SUL

Armação (Araújo) -11.86 ‰ 10.64 ‰

PONT A DAS ALMAS

Ponta das Almas 1 (Araújo) -12.69 ‰ 8.23 ‰

Ponta das Almas 1 (Piazza) -12.80 ‰ 13.02 ‰

Ponta das Almas 1A -13.04 ‰ 13.72 ‰

Ponta das Almas 1B -9.21 ‰ 10.47 ‰

Ponta das Almas 2B -12.56 ‰ 13.16 ‰

Ponta das Almas 3 -10.37 ‰ 8.10 ‰

Ponta das Almas 3 (Beck) -14.69 ‰ 13.82 ‰

Ponta das Almas 3 (Piazza) -10.26 ‰ 14.52 ‰

Ponta das Almas 3 (Piazza) -13.11 ‰ 9.15 ‰

Ponta das Almas 66-3 -10.74 ‰ 11.05 ‰

Ponta das Almas I2 -11.80 ‰ 12.62 ‰

Ponta das Almas IV -10.75 ‰ 14.92 ‰

Ponta das Almas s/n -14.42 ‰ 7.99 ‰

Amostras rec. 14C 13 /12 C 15 /14 N CAMS

Ponta das A lmas S4 -10.74 ‰ 9.14 ‰

Ponta das A lmas SI I.2 -10.93 ‰ 8.72 ‰

MEDIA -11.87 ‰ 10.64 ‰

TAPERA

Tapera -10.36 ‰ 10.82 ‰

Tapera 1 10.63 ‰

MEDIA -10.36 ‰ 10.72 ‰

RIO LESSA

Rio Lessa 1 -14.92 ‰ 10.00 ‰

Rio Lessa 3 1000+-40 -11.03 ‰ 14.35 ‰ ?

Rio Lessa 4 -11.01 ‰ 10.03 ‰

Rio Lessa 6 -11.23 ‰ 10.08 ‰

MEDIA -12.04 ‰ 11.08 ‰

PORTO BELO

Porto Belo(Praia do Embrulho) -10.82 ‰ 16.07 ‰

LARANJE IRAS

Laranjeiras (Samb.) -10.89 ‰ 14.04 ‰

MORRO DO OURO

Morro do Ouro 2B 11.51 ‰

Morro do Ouro 6 -15.08 ‰ 8.11 ‰

Morro do Ouro 7 -13.21 ‰ 12.00 ‰

Morro do Ouro II -14.93 ‰ 11.48 ‰

Morro do Ouro II I -14.00 ‰ 7.95 ‰

MEDIA -14.30 ‰ 10,21 ‰

ENSEADA

Enseada 10 -12.88 ‰ 14.35 ‰

Enseada 10 (pé) -13.60 ‰

Enseada 14 -10.48 ‰ 11.24 ‰

Enseada 16 -10.07 ‰ 13.48 ‰

Enseada 17 (Assoc. 17) -19.13 ‰ 9.79 ‰

Enseada 18 3920+-40 -10.50 ‰ 9.82 ‰ ?

Enseada 2S5B -10.94 ‰ 11.80 ‰

Enseada 4 -12.80 ‰ 12.99 ‰

Enseada 5 -10.76 ‰ 12.07 ‰

Enseada 7 -16.82 ‰ 9.75 ‰

Enseada 8ª -13.76 ‰ 7.66 ‰

Enseada 8B -13.28 ‰ 14.04 ‰

Enseada I 1390+-40 -13.60 ‰ 11.78 ‰ ?

Enseada I sep. II -12.89 ‰ 10.69 ‰

Enseada I5 -10.15 ‰ 12.74 ‰

Enseada IX -9.21 ‰ 13.13 ‰

Enseada SI I -12.81 ‰ 11.24 ‰

MEDIA -12.50 ‰ 11.66 ‰

ESPINHEIRO

Espinheiro 4 -12.58 ‰ 7.71 ‰

Espinheiro 7 9.68 ‰

Espinheiro 2 -13.11 ‰

Espinheiro 1 -12.72 ‰

MEDIA -12.80 ‰ 8.69 ‰

AMAZÔNIA

Tom Wild 04 (Amazônia) -17.98 ‰ 6.62 ‰

T om Wild (Amazônia) -15.65 ‰ 8.18 ‰

Tom Wild 01 (Amazonia) -18.95 ‰

MEDIA -17.52 ‰ 7.37 ‰

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Revista de Arqueologia, v.22, n.2, (ago-dez.2009): 55- 76, 2009 69

Aplicações de isótopos estáveis de 18/16O, 13/12C e 15/14N em estudos de sazonalidade,mobilidade e dieta de populações pré-históricas no sul do Brasil

Figura 4 – Localização dos sítios arqueológicosamostrados: 1) Sambaqui Enseada; 2) SambaquiMorro do Ouro; 3) Sambaqui do Espinheiro; 4) Ri-beirão da Herta; 5) Sambaqui Laran jeiras; 6)Sambaqui Porto Belo; 7) Sambaqui Porto do rioVermelho I e II; 8) Sambaqui Ponta das Almas; 9)Canto da Lagoa; 10) Sambaqui do Rio Lessa; 11)Tapera; 12) Armação do Sul; 13) Alfredo Wagner;14) São Joaquim; 15) SC-AG-93: Abdon Batista;16) Sambaqui da Vila Nova; 17) Sambaqui deImaruí; 18) Sambaqui da Caieira; 19) Sambaqui daCa rn iça; 20 ) Sa mb aq ui da Co ngon ha ; 21 )Sambaqui da Garopoaba; 22) Urubici.

O Uso de Plantas C4 nas Terras Altas doSul do Brasil

As amostras para análise foram colhi-das de fr ag ment os de re cipien te scerâmicos provenientes de uma estruturasubterrânea e um fragmento ósseo de umsepultamento cremado proveniente de umcemitério (de um montículo em um aterrocircular). Estes dois tipos de sítios arque-ológicos são algumas das categorias fun-cionais que integram o sistema cultural emestudo. Por tanto, jun tamente com asamostras de resíduos carbonizados de ali-mentos, foi enviada uma amostra de ossohumano carbonizado para análise deisótopos de ä13C e ä15N a partirde colágenohumano. A amostra, por estar completa-mentecarbonizada,não produziu colágenoe, portanto, não foi possível obter informa-ções sobre a dieta a partir dos restos hu-manos cremados , apenas 13/12C paradatação. As amostrasforamenviadas para

análisedos isótoposdeä13C e ä15N no BetaAnalytic Radiocarbon Dating Laboratory,Miami, Florida, USA. As amostra envia-das foram identificadas pelo laboratóriocomo Beta 208239, Beta 208240, Beta208241, Beta 208242.

Para caracterizar o grupo de plantas aque pertencem as amostras de resíduoscarbonizadosforam utilizadosos dados deHastorf e DeNiro (1985) que através deexperimentos com plantas atuais criaramáreas limites de valores de ä13C e ä15Npara plantas C

3(legumes e não legumes)

e plantas C4

(milho). Outros dados de DeMasi (1999) sobre as populações pré-historicas de outras regiões do planaltoforam adicionados aos resíduos carboni-zados do baixo vale do rio Canoas paraampliar a discussão sobre a dieta das po-pulações das terras altas do sul do Brasil.Os dados de ä13C e ä15N de indivíduosdas terras altas de Santa Catarina são cin-co amostras de São Joaquim (1.182 AP e1.290 AP), uma de Ribeirão da Herta(1.290AP), uma de Alfredo Wagner (1.610AP) e uma de Urubici (1.735 AP).

II. Resultados

Isótopos Estáveis de Oxigênio e Análise daCor das Conchas

As condições ambientais com variaçãosazonal de precipitação e temperatura doar tornam a Ilha de Santa Catarina idealpara um estudo de sazonalidade utilizan-do isótopos estáveis de Oxigênio, uma vezque a diferença sazonal de temperaturado ar é 10° C, e a da precipitação é de 400mm. Dados atuais dos isótopos estáveisde Oxigênio e carbono das águas e con-chas forneceram uma excelente coleçãode referência para estudos sazonais dopassado,oferecendouma precisãode seismeses. Os dados variam entre estações“úmidas” e “secas” de acordo com a varia-ção anual de temperatura do ar e precipi-

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Figura 5 – Variação de 18/16O em conchas pré-históricas – bases residenciais (A,B); acampamentos (C).

tação, como esperado.Conchas pré-históricas se mostraram

próprias para a análise de isótopos está-veis, considerando que o difratograma deraio x mostrou que os cristais de aragonitadas conchas não sofreram recristalizaçãodepois de depositadas no sítio. Os valo-res de isótopos estáveis de Oxigênio dacamada externa da concha pré-históricatêm uma variação de -0,8‰ e -1,6‰ entrevalores extremos, indicando variação sa-zonal. Conchas atuais similarmente apre-sentam valores isotópicos indicando a va-riação sazonal, com uma variação de -2,3‰ a -1,0‰, variação esta mais amplaque nas conchas pré-históricas. É impor-tan te notar que existe uma var iaçãoisotópica que pode ser usada para inferirsazonalidade. Os parâmetros que contro-lam o nível de variação entre os valoresisotópicos são relacionados com a quanti-dade de águas do oceanoou de água doce(chuvas) presentes na área da lagoa, a

qual mudou sua configuração através dotempo, como visto anteriormente.

Os resultados mostram uma oscilaçãoentre dois valoresmédiospara as estações“seca” e “úmida” , indicando ocupaçõesdu rant e o ano to do nos do is sí ti osresidenciais SC-PRV-01e SC-PRV-02, lo-calizados no subsistema norte da lagoa. Aloca li zação do sí ti o SC-CL-01 , nosubsistema sul, com menor redundânciaocupacional, apresenta a oscilação dosisótopos estáveis de Oxigênio acima dosvalores mínimos da estação “úmida” (figu-ra 5). A análise da cor das conchas foi usa-da para confirmar os resultados da análi-se isotópica, o que ocorreu em 64% doscasos. Como mencionado anteriormente,em casos em que a cor das conchas nãoconfirma os valores isotópicos, estes nãopodem ser considerados errados, mas umindicativo de outra estação se considera-do como um dado independente dos da-dos isotópicos.

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Aplicações de isótopos estáveis de 18/16O, 13/12C e 15/14N em estudos de sazonalidade,mobilidade e dieta de populações pré-históricas no sul do Brasil

Determinação da Dieta e Movimento dePopulação

Dados básicos dos recursos geradospara análise do colágeno dos recursos lo-cais são os primeiros passos para umade fi ni ção da variação dos va lo re sisotópicos de 13/12C e 15/14N dos recursos.Estes dados básicos fornecem os parâ-metros para inferir o uso de recursos ter-restres ou marinhos locais. Nesta pesqui-sa, os dados básicos são bem definidospara os recursos terrestres e marinhos,similares aos resultados produzidos pararecursos terrestres e marinhos do hemis-fério norte, na América do Norte (DeNiro &Epstein 1978, 1981; Schoeninger, DeNiro& Tauber, 1983; Schoeniger & DeNiro,1984)

Um resultado contrastante entre costae terras altas é mostrado quando se com-param ambas as adaptações ambien-tais,uma exclusivamente marinha (-11,8‰) ea outra exclusivamenteterrestre (-16,9‰),com a presença de planta C4 (possível mi-lho) na dieta de um indivíduo. Um de cin-co indivíduos é rico em uma dieta complanta C

4, sugerindo a possibilidade do

começo do cultivo de milho nas terras al-tas por 1.182 AP. Desde 4.070 AP as po-pulações costeiras estão adaptadas a re-cursos marinhos, tendo o peixe como ocomponente principal de suas dietas. Po-pulações adaptadas à pesca permanece-ram por muito tempo na área da Lagoa daConceição, até 1.069 AP. Ao contrár io,populações das terras altas foram carac-terizadas como caçadores coletores derecursos terrestres, os quais não migra-ram para a costa como tradicionalmentefoi pensado (figura 6).

Figura 6 – Valores isotópicos de 13/12C e 15/14N popu-lação costeira, das terras altas e resursos marinhose terrestres.

A análise da dieta, usando isótopos es-táveis, pode ident ificar movimentos depopulações, estabelecendo comportamen-to mig ratório (Sealey & Merwe,1985,1986). Esta análise também oferece a pos-sibilidadede saber quando o cultivoou usointensivo de plantas C

4teve início (Vogel

& Van der Merwe, 1977, Van der Merwe& Vogel, 1978; Bender et al, 1981). As po-pulações da costa sul-brasileira possuíamuma dieta baseada em recursos marinhos,principalmente peixe, definindo grupos depescadores-coletores com valores isotó-picos de carbono e nitrogênio semelhan-tes a pescadores-coletores do Meso-líticoda Dinamarca (Tauber, 1981; Schoe-ninger, DeNiro & Tauber, 1983; DeNiro,1987), e a culturas pré-históricas dosMuwu na Califórnia meridional (De-Niro,1987), a costa noroeste da América Norte(Chisholm, Nelson & Schwarcz, 1983), acosta da Nova Ing laterra (Bourque &Krueger, 1994), bem como a costa daGeórgia (Larsen et al, 1992). Os pescado-res-coletores do Brasil meridional seguemuma tendência isotópica de carbono e ni-trogênio similar, também, às adaptaçõeslitorâneas, como os esquimós históricos,os Haida e Tinglit (DeNiro, 1987).

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A Dieta da População do Litoral

Durante o período que vai de 4280 APaté 1000 AP a dieta das populações cos-teiras dos sítios arqueológicos analisadosindicam uma composição essencialmentemarinha, caracterizados por altos valoresisotópicos de nitrogênio ao redor de 14‰e carbono 12,80‰. Havendo alguns indi-víduos com dietas essencialmente terres-tre em sítios como Enseada (sep. 17) ondeos valores de nitrogênio são mais baixos,7,73‰, assim como os valores de carbo-no também são mais baixos –17,52‰. Apartir de 1000 AP em sítios cerâmicos enão cerâmicos a dieta continua essencial-mente marinha com valores elevados denitrogênio e carbono como no período an-terior. Alguns grupos baixam seus valo-res de nitrogênio, mantendo o valor decarbono ao redor de 12‰, os valores denitrogênio baixam ao redor de 10‰, ca-racterizando ainda uma dieta predominan-temente marinha (limite). Outros gruposcomo Morro do Ouro apresentam dietascom uma tendênciamais terrestre do qual-quer outro grupo litorâneo da amostragemanalisada, exceto pelos dois indivíduos deEnseada mencionados anteriormente, osquais são muito parecidos com o grupoamazônico analisado (tabela 4).

Isto nos permite inferir diferenças entreos grupos humanos adaptados a regiãocosteira, os quais produzem resíduos cul-turais muito semelhantes, embora possu-am hábitos culturais distintos, diagnostica-dos em suas dietas. Grupos com diferen-tes hábitos alimentares parecem conviverao mesmo tempo e partilhar o mesmo es-paço ao nível de grupo, e possivelmenteao nível de unidades domésticas. A princí-pio dois grupos bem distintos são caracte-rizados. Os grupos com dietas essencial-mente marinhos, e os grupos com dietaessencialmente terrestre. Os primeiros lo-calizados na costa e o segundo provavel-mente proveniente das encostas da Serra

onde este tipo de dieta já foi identificadoanteriormente em alguns sítios arqueoló-gicos (De Masi, 1999). Alguns grupos cos-teiros apresentam um aumento de com-ponentes terrestres em sua dieta indicadopela diminuição dos valores de carbono de–12‰ para -14‰, com valores de nitrogê-nio ao redor de 10‰ (limite inferior de die-tas marinhas).

Outros grupos costeiros parecem apre-sentar variações nos valores de nitrogê-nio, indicando a entrada de um componen-te alimentar diferente o qual mantém valo-res similaresde carbono,mas relativamen-te baixos de nitrogênio. Poderíamos pen-sar em cultivo de plantas C4, mas como osvalores de 15/14N estão apenas no limite,muito próximos de 10‰, esta hipótese tor-na-se difícil de ser comprovada, porque osvalores de 15/14N deveriam se menores doque 10‰ para valores entre 10‰ e 5‰ . Aintrodução de cultivos deve ser melhoraveriguada com amostras maiores de síti-os com tecnologia cerâmica (figura 7).

Figura 7 – Valores isotópicos de 13/12C e 15/14N popu-lações do litoral e recursos marinhos e terrestres.

O Uso de Plantas C4 nas Terras Altas doSul do Brasil

Antes de interpretar os dados obtidos,é importante lembrar que plantas carboni-zadas em panelas de barro apresentamvariação dos valores de carbono e nitro-

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Aplicações de isótopos estáveis de 18/16O, 13/12C e 15/14N em estudos de sazonalidade,mobilidade e dieta de populações pré-históricas no sul do Brasil

gênio não superiores a 2‰ ou 3‰ dosvalores originais (Hastorf & DeNiro, 1985).E que o valor de carbono do tecido de umanimal é aproximdamente 2‰ mais posi-tivo que o próprio alimento e o valor denitrogênio varia de 2‰ a 4‰ mais positivoque a dieta (DeNiro, 1987) .

Os resultados das amostras analisadaspodem ser divididos em dois grupos con-siderando os resultados dos isótopos deä13C. O primeiro grupo, com valores vari-ando de -18,0‰ (430-620 AD Cal. ) a18,5‰ (2310-2230 AP Cal.), e o segundogrupo caracterizadopor uma amostra como valor de -25,8‰ (1440-1640 AD Cal.).Os valoresde ä15N são baixosde um modogeral variando entre +7‰ e +4‰. Para aamostra de ossos humanos cremados ovalor direto de ä13C é de -24,4 ‰, não ha-vendo valores para nitrogênio.

A interpretação dos dados obtidos paraos resíduos carbonizadosé facilitada quan-do os resultados são plotados em um grá-fi co onde há os limi tes dos valoresisotópicos de ä13C e ä15N para plantas C3

(legumes e não legumes) e plantas C4(mi-

lho). O primeiro grupo de resíduos temvalores que indicam o consumo de plan-tas C4 (milho) a partir de 2310 AP. develevar em consideração que antes da quei-ma os valores originais das plantas estari-am ao redor de 15,0‰. Os valores do se-gundo grupo de resíduos mostramum con-sumo de plantas C

3, provavelmente legu-

mes, para o período de 1440 A.D.. Os da-dos obtidos com os restos humanos cre-mados não podem ser usados para inferiro tipo de dieta uma vez que a cremaçãoaltera os resultados.

Comparando os resultados dos resídu-os carbonizados com os dados sobre aspopulações das terras altas, produzidospor De Masi (1999), é possível observarque alguns indivíduos (RA-01 e RA-05)estão claramente consumindo plantas C4

(milho).Os outros indivíduos tambémapre-sentam em menor proporção, plantas C

4

(milho) como um componente importantede sua dieta (figura 8).

Figura 8 – Comparação dos valores de 13/12C e 15/

14N de indivíduos das Terras Altas e os resíduoscarbonizados de recipientes cerâmicos e a´reas deabrangência de legumes, não legumes e plantasC4, animais terrestres e plantas C3.

III. ConclusãoO uso de técnicas analíticas não fazem

sentido por si mesmas, mas adquiremrelevancia na medida em que são utiliza-das para resolver problemas de pesquisa.Isótopos estáveis tem uma ampla aplica-ção, comfoco nos estudos ambientais. Emarqueologia os isótopos estáveis de C e Ntem sido usados na determinação indiretade dietas, quer seja a partir de colágenohumano ou resíduos carbonizados e estu-dos de sazonalidade (18/16O).As aplicaçõesapresentadas neste artigo estão relacio-nadas a inferências sobre grau de mobili-dade de grupos humanos adaptados aambientes marinhos, sazonalidade dasocupações, migração de populações, otipo de dieta destas populações costeiras,e o uso de plantas C4 nas terras altas.

Os resultados permitem inferir que al-guns grupos litorâneos apresentam baixamobilidade, ocupando determinadas regi-ões durante um ciclo anual por volta de1280 A.D. com uma dieta essencialmentemarinha baseada em peixes e não molus-

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cos. Para o mesmo período de tempo,1280 A.D., alguns grupos que vivem naencosta da serra apresentam uma dietaessencialmente terrestre com alguns indi-víduos consumindo plantas C4, provavel-mente milho. Nas terras altas para o mes-mo período de cronológico há grupos queconstroem estruturas subterrâneas queestão processando plantas C

4, provavel-

mente milho, deixando resíduos em seusutensílios domésticos. Com os dados ob-tidos não foi possível detectar migraçõesde populações costeiras para o Serra ouvice-versa no período de tempo estuda-do. Contudo é possivel observar que gru-pos da encosta da Serra com dieta essen-cialmente terrestre são absorvidos por al-guns grupos adaptados a região costeiracom dieta essencialmente marinha.

A dieta das populações adaptadas aoambientecosteiroparecemudar lentamen-te através do tempo. Esta mudança estárelacionada as mudanças de nível do mar.O recuo das águas a partir de 5.000 APpossibilitou a formação de manguezais elagoas, onde as quantidades de N noscomponentes da dieta podem ser meno-res. A variação de C e N depende da re-gião onde se obtém os recursos, em alto

mar ou em manguezais. O consumo demoluscos por estas populações deve tersido em quantidades mínimas, pois a as-sinatura isotópica dos mesmos não é re-conhecida nas análises realizadas. Des-sa forma, o pouco consumo de moluscospermite inferir que os sambaquis são ape-nas uma categoria de sítio arqueológicodentro de um sistema cultural mais com-plexo nos quais se incluem os sítios rasos(bases residenciais) e os acampamentosnas proximidades dos mesmos, sendo ossambaquis locais de processamento derecursos, festas e atividades ritualísticasocasionais durante um ciclo anual. O bai-xo N e a manutenção dos valores de Cpodem estar também associados a aqui-sição de práticas agrícolaspor grupos cos-teiros em períodos mais recentes, embo-ra a aquisição de tecnologia cerâmica nãoestá associada a práticas agrícolas no li-toral de acordo com os dados obtidos. Hi-póteses devem ser testadas empiricamen-te através de métodos e técnicas bem es-tabelecidos.

Recebido para publicação em janei-ro de 2009.

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