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    Dênis de Moraes entrevista Nelson Werneck Sodré

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    Reproduzimos entrevista de Nelson Werneck Sodré

    a Dênis de Moraes em 1988.

    "Os mais esquerdistas sonhavam que estavam na Rússia de 1917." A frase escapou com amargura pelos lábios de Nelson Werneck Sodré. Àminha frente, na tarde cálida de 26 de maio de 1988, estava o general reformado e historiador, aos 77 anos, com traços de melancolia noolhar e nos gestos, e fulminante rapidez e coerência para responder às perguntas sobre a crise político-militar de 1964. Cercado por estantescom livros encadernados e impecavelmente arrumados, Nelsonexplorou a lógica dos fatos para sustentar uma de suas teses centrais sobre a derrocada. Para ele, tratou-se de um golpe vitorioso na área política, a partir de uma ofensiva ideológica "espantosamente

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    O Iseb tinha informações sobre a marcha golpista, ou subestimou a conspiração?

    O Iseb tinha informações, até porque um dos nossos professores, Osvaldo Gusmão, era subchefe da Casa Civil do presidenteGoulart. Nós tínhamos informações também da Casa Militar. Mas havia, em muitas áreas, a ilusão de que nós éramos fortes. Algunsdiziam que, se reação colocasse a cabeça para fora, seria batida. Evidentemente, era uma ilusão que dominou muitas áreas — o Isebnão ficou isento também. Refiro-me à instituição como um todo, porque eu, pessoalmente, não tinha ilusões.

    O que o levava a não ter ilusões?

    A falta de estrutura da esquerda e de todo o movimento progressista, inclusive do movimento nacionalista. Ele abrangia certosgrupos de elite, mas se esquecia ou não tinha capacidade para arregimentar forças, estruturá-las. Havia um pensamento nacionalista,

     pró-reformas, que não tinha articulado nem sequer uma base política, que é sempre necessária.

    Faltou um projeto estratégico?

     Não, eu creio que foi o próprio andamento do processo histórico do país. O movimento progressista era ainda imaturo. Um dosaspectos da imaturidade é julgar-se mais forte do que se verdadeiramente é. Ter ilusões sobre o seu próprio poder. Pensar que o

     processo está mais avançado do que realmente está. Na realidade, o golpe de 64 não foi um golpe militar. Foi um golpe político,vitorioso na área política. Isolado o governo, deu-se a operação militar de ocupação. A derrota já existia politicamente. O governoestava politicamente vencido. O traço geral foi a incapacidade de reagir. Não houve reação nos sindicatos, nos partidos, nas ForçasArmadas, no povo.

    O presidente Goulart e a natureza de seu governo foram incompreendidos pelo movimento popular?

     Não, não foram incompreendidos. O governo Goulart foi muito flutuante, oscilante. O Goulart, como o próprio Vargas em suaépoca, era um homem de posições muito mutáveis. Às vezes, pendia para a direita, para a conciliação e para a composição. Àsvezes, pendia para a esquerda. Essa oscilação o desprestigiava. Tanto que Goulart, na fase final, se aproximava de uma crise em queseria hostilizado pela própria esquerda, quando surgiu a campanha pelas reformas de base. Goulart montou nessa campanha, que lhedeu grande prestígio. Ele vinha sendo isolado até pelas forças de esquerda, inclusive pelo movimento sindical. Ele assume uma

     posição definida pelas reformas de base e realmente se reaproxima dos dirigentes sindicais, dos estudantes e dos intelectuais — masaí já era tarde.

    Qual foi o pecado do movimento nacionalista dentro das Forças Armadas?

    O prestígio da idéia nacionalista dentro das Forças Armadas foi grande. Na luta política 63/64, esse prestígio se enfraqueceu devidoà ofensiva da reação, principalmente através dos órgãos de comunicação. A reação tornava o nacionalismo sinônimo de comunismo.Baseada no anticomunismo, que até hoje é a ideologia da reação, e controlando os órgãos de comunicação, começou a bombardear.E realmente isolou as áreas nacionalistas que eram predominantes dentro das Forças Armadas.

    O senhor acreditava que o esquema militar do presidente pudesse conter o golpe?

     Nunca acreditei porque eu o conhecia. Mas acreditava no movimento de massas. Acreditava na repulsa do povo a qualquer golpe para instalar uma ditadura. Tanto que a ditadura não se apresenta como tal; apresenta-se como legal, colocando o presidente Goulartna posição ilegal. Ele é que estaria exorbitando, montando o golpe com o fechamento do Congresso e a organização de umaRepública sindicalista. Ou seja, inverteram-se as posições: eles se apresentavam em defesa da ordem legal. O golpe é dado, há

    alguns atos de verdadeira violência política, como cassações de mandatos e suspensões de direitos políticos, mas permanece oCongresso funcionando, a princípio a imprensa tem liberdade de criticar.

    A quebra da hierarquia foi mesmo fundamental para dividir o meio militar?

    A quebra da hierarquia, que tem uma ressonância muito profunda nas classes armadas, foi um dos episódios mais característicos dadesorganização geral. Ora, se fosse possível no Brasil uma etapa revolucionária como alguns sonhavam estar vivendo, a passagemdas Forças Armadas deveria ser a última etapa. E nós jamais estivemos próximos disto. Aqueles movimentos, como os de cabos emarinheiros aqui no Rio e o dos sargentos em Brasília, foram precipitações da esquerdização geral que havia. Evidentemente, areação alimentou, estimulou esses atos de desvario, de indisciplina militar, e depois os explorou e os acusou. Tanto alimentou que os

     jornais davam uma cobertura extraordinária aos acontecimentos. Os movimentos esquerdistas davam a impressão de que estávamos

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    vivendo uma situação como a da Rússia de 1917 — coisa inteiramente falsa. Isso calou profundamente nas Forças Armadas,motivando uma posição de retraimento, até mesmo nas áreas nacionalistas. Como também trouxe receios à classe média, que apoiouo golpe. E áreas operárias também o apoiaram.

    Conclui-se que o presidente Goulart não era um bom condutor das Forças Armadas.

    Goulart não teve capacidade de articulação da área militar não por falta de dotes, mas por falta de uma boa assessoria militar. Nofundo do pensamento do presidente Goulart — um homem com grande habilidade política — não havia maior preocupação com aquestão militar. Ele privava com poucas pessoas no meio militar. Tinha ao redor dele algumas pessoas válidas, mas também

    auxiliares que o acompanhavam apenas funcionalmente, porque ele era o presidente, a fonte de poder. Mas não eram adeptos dasidéias dele, de sua orientação. Na realidade, nunca conheceu bem o problema militar. Fez promoções ruins. Aliás, Juscelino já vinhafazendo promoções ruins. Mas, a meu ver, este é um aspecto acessório, porque a derrota foi no nível político. Tudo o mais foi areboque.

    Last Updated (Tuesday, 18 September 2012 23:08)

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