DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · MÁRCIO LOPES DE FREITAS - Presidente da...
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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO ESPECIAL - CRISE DA PARMALATEVENTO: Audiência Pública N°: 0026/04 DATA: 28/01/04INÍCIO: 14h58min TÉRMINO: 17h18min DURAÇÃO: 01h58minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 02h19min PÁGINAS: 47 QUARTOS: 28
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
RODRIGO SANT’ANNA ALVIM - Representante do Presidente da Confederação da Agricultura ePecuária do Brasil — CNAMÁRCIO LOPES DE FREITAS - Presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras —OCBALBERTO ERCÍLIO BROCH - Vice-Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores naAgricultura — CONTAGALTAIR CELUP - Representante do Fórum Sul do LeiteSIDERLEI SILVA DE OLIVEIRA - Representante da Confederação Nacional dos Trabalhadoresnas Indústrias da Alimentação, Agroindústrias, Cooperativas de Beneficiamento de Cereais eIndústrias do Meio Rural — CONTACDIRCEU LUIZ DRESCH - Representante da Federação dos Trabalhadores na AgriculturaFamiliar da Região Sul — FETRAF-SULLUIZ ANTÔNIO MUNIZ MACHADO - Assessor Jurídico da Confederação da Agricultura ePecuária do Brasil — CNAENORI BARBIERI - Diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina— FAESC
SUMÁRIO: Discussão sobre a crise da Parmalat.
OBSERVAÇÕES
Há oradores não identificados.A reunião foi suspensa.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Crise da ParmalatComissão Especial - Crise da ParmalatNúmero: 0026/04 Data: 28/01/04
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Havendo número
regimental, declaro abertos os trabalhos da terceira reunião ordinária desta
Comissão destinada a averiguar o processo relacionado à crise da Parmalat.
Tendo em vista a distribuição de cópias da ata da segunda reunião a todos os
membros presentes, indago se há necessidade da sua leitura.
O SR. DEPUTADO ZONTA - Sr. Presidente, requeiro a dispensa da leitura
da ata.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Em requerimento verbal o
Deputado Zonta pede a dispensa da leitura da ata da sessão anterior.
Em discussão o requerimento verbal. (Pausa.)
Encerrada a discussão.
Os Srs. Parlamentares que concordam com a dispensa da leitura da ata
permaneçam como se encontram. (Pausa.)
Aprovada.
Dispensada a leitura da ata da sessão anterior.
Em discussão a ata, cuja leitura foi dispensada. (Pausa.)
Encerrada a discussão.
Em votação a ata da sessão anterior.
Os Srs. Parlamentares que a aprovam permaneçam como se encontram.
(Pausa.)
Aprovada.
Passemos à Ordem do Dia.
Esta reunião foi convocada para ouvirmos, em audiência pública, as seguintes
autoridades — peço às autoridades convidadas, titulares ou representantes, que, à
medida em que for lendo seus nomes, tomem assento à mesa, nos lugares
previamente demarcados: Rodrigo Sant’Anna Alvim, representante do Presidente da
CNA; Márcio Lopes de Freitas, Presidente da Organização das Cooperativas
Brasileiras — OCB; Alberto Broch, Vice-Presidente da Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura — CONTAG; Altair Celup, representante do Fórum Sul
do Leite; Siderlei Silva de Oliveira, representante da Confederação Nacional dos
Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação, Agroindústrias, Cooperativas de
Beneficiamento de Cereais e Indústrias do Meio Rural — CONTAC; Dirceu Luiz
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Dresch, representante da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da
Região Sul — FETRAF-SUL.
Esclareço, sobretudo ao Deputado Roberto Balestra, que foi muito difícil o
contato com o advogado, mas finalmente conseguimos. Ele não pôde chegar nesse
horário, mas prometeu que virá. Esperamos que chegue até o final desta reunião.
De qualquer forma, ele se comprometeu com a decisão judicial e se colocou à
disposição para orientar nossa pretensão na reunião de ontem.
Informo que, nos termos regimentais, cada convidado dispõe de até 20
minutos para sua exposição. Os Parlamentares dispõem de 3 minutos para
interpelar os palestrantes, que terão igual prazo para responder, facultada a réplica e
a tréplica pelo mesmo prazo.
Peço à Assessoria que encaminhe os representantes à mesa, na medida em
que forem chegando.
Tem a palavra o Sr. Rodrigo Alvim, representante do Presidente da CNA.
V.Sa. disporá de 20 minutos para sua explanação.
O SR. RODRIGO SANT’ ANNA ALVIM - Sr. Presidente, Deputado Waldemir
Moka, Srs. Deputados, senhores representantes de produtores e cooperativas,
senhoras e senhores, inicialmente gostaríamos de falar sobre a angústia do setor de
produção primária por não ter visto, até o momento, nenhum pronunciamento,
nenhuma atitude, enfim, nenhuma manifestação de preocupação do Governo
brasileiro com a crise da Parmalat. Estou me referindo diretamente aos nossos
governantes, Presidente, Casa Civil, etc.
Temos tido contatos diretos com o Ministro da Agricultura, manifestando
nossa preocupação, analisando a crise, dando informações, como fizemos hoje em
uma reunião da Comissão Nacional da Confederação da Agricultura e da Pecuária
no Brasil, em que participaram muitos Deputados aqui presentes.
Entendemos que essa situação é sobretudo social, além de econômica,
naturalmente. Gostaríamos de ver o Governo mais preocupado, mais participativo e
se manifestando sobre uma situação que envolve milhares de produtores, sobretudo
pequenos, que são agregados às nossas cooperativas. Muitas delas estão sem
receber; parte delas, desde a segunda quinzena de novembro.
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O Governo tem de se pronunciar. Trata-se de questão emergencial. Existem
outras situações emergenciais no País sobre as quais o Governo se manifesta,
sejam catástrofes, sejam questões de meio ambiente. De qualquer forma, essa é
uma situação emergencial. Na nossa visão, é papel fundamental do Governo
garantir a produção de leite e o abastecimento do País, não permitindo que se
desestimule a produção, não permitindo que voltemos a ser um país importador,
como fomos no passado recente, mas, sobretudo, garantindo a continuidade da
produção e de remuneração dos produtores inseridos nesse contexto. Portanto,
gostaríamos de ver o Governo mais presente.
Com relação à Parmalat propriamente dita, ela capta, como os senhores já
devem estar informados, em torno de 3 milhões de litros de leite neste País,
envolvendo aproximadamente 20.000 produtores. Estou citando números
aproximados, pela dificuldade que tivemos em obter informações na própria
Parmalat. Em uma reunião no dia 6 de janeiro último, na Câmara Setorial do Leite, a
pedido direto do Ministro da Agricultura, a Parmalat se prontificou em nos fornecer
os dados necessários, mas tem se recusado a fazê-lo quando tentamos ter acesso a
eles. Essa é a dificuldade. Em função disso, fizemos, hoje de manhã, uma reunião
na Confederação de Agricultura, onde estiveram presentes 10 federações. Quatro
federações nos enviaram informações, por via eletrônica, que passaremos para os
Srs. Deputados assim que compiladas. Prometemos fazer isso até amanhã à tarde.
Não tivemos tempo, dado que a reunião terminou há pouco mais de 1 hora, de
condensar esses dados para trazer o máximo de informações para V.Exas.
A Parmalat, hoje, tem 6 fábricas funcionando no Brasil. Uma grande fábrica, a
de Jundiaí, que era produtora de biscoitos e de sucos sobretudo, mas que até maio
do ano passado produzia produtos lácteos, fechou recentemente. Ela está presente
em 3 Estados da Federação e temos já, como efeito dessa crise da Parmalat, uma
concentração ainda maior de compradores. V.Exas. haverão de entender que em
regiões em que estão presentes hoje duas indústrias, fechando a Parmalat, vai ficar
uma só. Em outras regiões, como a de Garanhuns, em Pernambuco, só existe a
Parmalat, que é formada exclusivamente por pequenos produtores do semi-árido
pernambucano e dos Estados de Alagoas e Sergipe.
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Outra situação muito preocupante está na região do Rio Grande do Sul, onde
a Parmalat tem, seguramente, uma das fábricas mais modernas da América Latina,
com capacidade de receber 1 milhão de litros de leite por dia e que deve estar
recebendo hoje 700.000 litros do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e parte do
Paraná. Ela também é abastecida sobretudo por pequenos produtores. Existem,
inclusive, cooperativas de pequenos produtores, de economia familiar, que fornecem
para essa unidade da Parmalat. Trata-se de uma outra situação complicada, até
porque naquele Estado há uma empresa que capta mais de 60% do leite. De novo,
há o risco de uma concentração, caso essa empresa venha comprar, adquirir, enfim,
substituir a Parmalat naquele Estado.
Uma outra questão que preocupa demais o segmento de produção primária é
a queda de preços, que tem tido uma concentração ainda mais forte, tendo em vista
que nossos preços estão caindo desde agosto, sobretudo agora nesse efeito
dominó, via crise da Parmalat. Era uma preocupação, inclusive do Ministro da
Agricultura, quando da nossa reunião no dia 6, que ocorresse esse efeito dominó,
até por pressão da rede de varejo, deprimindo preços em função da situação que
nos levou a essa crise da Parmalat.
Outra questão de grande preocupação, que pode desmotivar demais a
produção e trazer conseqüências ainda mais grave, é a ausência de pagamentos em
várias regiões. Temos hoje, na CNA, um levantamento inicial de que há uma dívida,
no âmbito de Brasil, de 14 milhões de reais em todos os Estados. Essa dívida nos
preocupa ainda mais na medida em que já estamos terminando mais um mês de
fornecimento, o mês de janeiro. Portanto, se não for efetivado o recebimento do dia
15 e 16 de fevereiro, essa dívida pode vir quase a dobrar. Digo quase porque temos
muitos produtores e algumas cooperativas que já deixaram de mandar leite para a
Parmalat.
Outro ponto, e já me referi a ele, é a questão dos estímulos. Mesmo com esse
crescimento sustentável do setor nesses últimos anos, dobramos a produção de leite
no País nos últimos 12, 15 anos, apesar dos avanços de produtividade, de
qualidade, podendo deprimir essa produção. Isso significa voltarmos a ser um País
fortemente importador, como fomos há 10 anos, importando algo em torno de 3,2
bilhões de litros de leite.
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No ano passado conseguimos — isso me entusiasma na medida em que
mostra um perfil, uma tendência do setor produtivo de lácteos no Brasil —, por 1
mês, em novembro, ser exportadores líquidos de leite neste País. Pode-se reverter
essa situação, quando no ano passado tivemos uma importação de 600 milhões de
litros, contra uma importação de 1 bilhão e 400 milhões de litros em 2002, e o setor
pode voltar, num efeito sanfona, o que aliás tem sido uma característica do setor
leiteiro brasileiro nos últimos tempos.
Não temos dado conta de crescer com sustentabilidade; precisamos evoluir
para isso e não permitir que essa crise da Parmalat nos atrase ainda mais nessa
característica que temos de ser um grande País produtor e exportador de lácteos.
Nessa reunião de hoje — alguns dos senhores estiveram presentes —
algumas propostas foram traçadas e apresentadas, agora, nesta audiência. A
primeira delas diz respeito a estocagens. Há 3 ou 4 anos temos discutido o assunto
com o Governo. Vivemos dizendo ao Governo que uma ferramenta, uma política
extremamente necessária a um setor que quer crescer e inserir-se na agropecuária
pujante deste País seria o instrumento de estocagem. Não há como ser um País
efetivamente exportador, se não for através de estocagem, para que se venda na
hora que alguém quer comprar e não venda oportunidades, porque estamos num
momento de excesso de ofertas. Então, para isso, precisamos formar estoques e,
para tal, é necessário financiar esses estoques.
O leite, e isso é universal, é um produto que dá praticamente a todos —
vamos excluir a ponta de cima da cadeia — margens apertadas. Portanto, não há
como a indústria estocar não sendo por meio da depressão do preço aos produtores
da produção primária. Portanto, é importante que haja recursos para estocagem.
Falamos isso em 2001 insistentemente e não fomos atendidos. À época eram
apenas 60 milhões de reais, que poderiam ter feito com que aquele crescimento de
9,6% do País, naquele ano, fosse um crescimento sustentável. Não tivemos
instrumentos de estocagens. Os preços foram violentamente deprimidos em 2001. E
o resultado disso foi: em 2001, havíamos importado 800 milhões de litros de leite,
em 2002, passamos a importar 1 bilhão e 400 milhões de litros de leite. De novo
saneamos esse problema no ano passado, com 600 milhões de litros de leite
importados. E quanto haveremos de importar este ano se continuar essa crise, se
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não houver um freio no que está estabelecido que o produtor pode produzir, para
garantir o abastecimento e, sobretudo, os excedentes para exportação.
Portanto, neste momento, mais do que nunca — e estamos dizendo isso ao
Governo Federal desde agosto —, são necessários instrumentos de estocagem, e
um deles é o EGF, o Empréstimo do Governo Federal. O EGF deveria ter sido
assinado em outubro, quando vence o preço mínimo assinado em 2002; mas a
instrução só foi enviada aos bancos no dia 26 de dezembro. Chegou tarde. Se
houvesse chegado na época certa, talvez os efeitos hoje fossem menores.
E está aí o Banco do Brasil sinalizando com 200 milhões de reais, quando
pedimos 500 milhões de reais para acabarmos com esse problema e termos
condição de continuidade da produção deste ano. Duzentos milhões de reais era o
que o Banco do Brasil poderia disponibilizar e nos despreocupou, no sentido de que
estavam disponíveis os 200 milhões, mas de novo volta o problema da efetiva
disponibilidade dos recursos. Parece que já foram, segundo o Banco do Brasil
informou ao Ministro e nos informou nos últimos 2 dias, contratados em torno de 153
milhões de reais.
Ocorre que, primeiro, não foram contratados com a taxa de juros do EGF de
8,75, mas em um mix de linhas de crédito que dará em torno de 15%. Isso não
resolve o problema em função das margens que expus aos senhores. Segundo, está
cada vez mais burocratizado e cada vez mais exigências são feitas aos tomadores
de recursos. Na medida em que o EGF é quem garante o empréstimo, o próprio
estoque e a rede bancária, sobretudo o Banco do Brasil, estão exigindo garantias
reais, de contas de recebíveis, de aval. De novo isso não resolverá os problemas.
E pior, muitas pequenas cooperativas estão com problema por terem recebido
leito em pó como forma de pagamento da Parmalat e não vão ter acesso a essa
linha de crédito, portanto, não vão resolver o problema de caixa para recuperar o
capital de giro.
Precisamos que a linha de crédito EGF seja disponibilizada efetivamente, de
acordo com o que dispõe a norma de operação da CONAB, que é 8,75% ao ano
com garantia do produto para a linha de crédito.
Outra sugestão nossa é a aquisição de leite em pó pelo Programa de
Aquisição de Alimentos, do Governo Federal. Essas cooperativas que receberam
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leite em pó da Parmalat não são vendedoras de leite em pó, não têm mercado para
leite em pó, não têm máquinas para fracionar as embalagens de 25 quilos que
receberam como pagamento. Já que existe a possibilidades de isso ser distribuído
no Programa Fome Zero, qual a dificuldade do Governo em comprar esse leite?
Deve-se sanear as cooperativas que representam, sim, pequenos produtores.
Porque os grandes produtores, senhores, saíram.
Para resolvemos os problemas dessas cooperativas, que não terão acesso ao
EGF — até porque não adianta estocarem esse leite, porque quando vencer elas
não terão dinheiro para pagar e não vão ter vendido esses estoques —, precisamos
que o Governo compre em torno de 2 mil toneladas.
Temos mais 3 sugestões. Que seja criado um comitê gestor de crédito. Por
que só os bancos têm crédito a receber da Parmalat? Nós, produtores, também
temos, as cooperativas têm. Portanto, precisamos fazer parte do comitê de credores
da empresa Parmalat.
Estamos extremamente preocupados, Srs. Deputados, com o que haverá de
acontecer com as indústrias da Parmalat que estão aí. Muitas delas estão com 50%
da captação de um mês atrás. Se essas indústrias fecharem, não beneficiarão
ninguém, tampouco aos bancos, sobretudo ao banco que entrou com pedido de
medida cautelar, e que foi atendido, para não haver venda dos ativos da Parmalat.
Porque esses ativos irão se depreciar, irão se desvalorizar na medida em que essas
plantas não tiverem matéria-prima.
Estamos entrando em um período de entressafra no centro-sul brasileiro e
não se recupera essa oferta, essa venda a essas plantas na medida em que os
produtores já assumiram compromisso com outras indústrias na entressafra.
Portanto, vão virar elefantes brancos. Temos de ter a preocupação de dar condições
de continuidade a essas fábricas, que elas continuem a comprar, a operar, enfim, a
cumprir sua função no mercado em cada um das regiões em que estão instaladas.
Estamos acompanhados, por solicitação dos Srs. Deputados, de um assessor
jurídico, o Dr. Lula, aqui presente, e ele poderá depois discutir com os senhores.
Está presente também o Dr. Rodolfo Tavares, Presidente da Federação da
Agricultura do Estado do Rio de Janeiro, que defende a tese de que há um
dispositivo — e por favor não me apertem porque não sou advogado, mas eles estão
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presentes e poderão relatar esse assunto — chamado usufruto judicial, que daria
condição de proteger esse ativo para que sejamos pagos com aquilo que temos
direito a receber da Parmalat.
Era esse nosso posicionamento. Estamos à disposição dos senhores agora e
quando necessário for. É, sim, um problema extremamente grave e envolve, como
dissemos aqui, diretamente 20 mil produtores brasileiros.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Agradeço ao Dr. Rodrigo
Alvim.
Aviso aos Srs. Parlamentares que esta reunião tem por finalidade ouvir os
representantes. Após ouvi-los vou conceder a palavra aos Srs. Parlamentares.
Com a palavra o Dr. Márcio de Freitas, Presidente da OCB. S.Sa. dispõe de
até 20 minutos.
O SR. MÁRCIO LOPES DE FREITAS - Cumprimento o Presidente Waldemir
Moka e todos os Parlamentares, os companheiros da Mesa, os amigos da
agricultura do cooperativismo em nome do nosso Deputado, Presidente da
FRENCOOP, Moacir Micheletto. Cumprimento os Presidentes de Federações de
Agricultura, em especial o Dr. Rodolfo Tavares pela luta nesse episódio. Temos
acompanhado e aprendido a respeitá-lo. É muito bom contarmos com a
representação dos produtores. Cumprimento, também, os representantes das
cooperativas.
Sr. Presidente Waldemir Moka, em primeiro lugar, meus cumprimentos pela
formação desta Comissão. A Câmara dos Deputados, no primeiro dia de
convocação, viu a necessidade de estar presente nessa discussão. E no segundo
dia, em uma reunião na sua sala, V.Exa. achou por bem, junto com os demais
participantes da Comissão de Agricultura, pedir ao Presidente a formação desta
Comissão. Parabenizo-o pela iniciativa; é dessa maneira que solucionamos os
problemas.
O que foi dito aqui dispensa muitos comentários. O Rodrigo, que coordena
esse assunto com a CNA, mas com a presença e a participação da OCB em todos
os momentos, deixou muito clara a posição. Gostaria apenas de definir algumas
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linhas, sempre reforçando o que já foi dito pelo Rodrigo. Concordamos integralmente
com a sua exposição. É apenas para separar duas facções.
Temos 2 problemas, um é emergencial e o outro é estrutural. No emergencial temos
a crise da Parmalat, que agravou os problemas da comercialização de leite que já
vinham ocorrendo. O Rodrigo deixou isso bem claro. Tivemos um aumento da
produção, já estávamos com excedente. O problema Parmalat ocorreu no meio
desse processo de safra. Isso está gerando uma grave queda de preço pago aos
produtores pecuaristas de todo o Brasil.
O Deputado Leonardo Vilela abordou a questão dos vasos comunicantes.
Não há segredo. Nesse caso, o que acontece no Rio Grande do Sul reflete em
Pernambuco quase que instantaneamente. Está havendo em todos os lugares
queda de preço e depressão no sistema.
Segundo problema: a Parmalat não pagou produtores e cooperativas em
vários Estados brasileiros, causando muitos transtornos, especialmente aos Estados
de Goiás, Rio de Janeiro e outros. Sem querer prever o futuro, tudo leva a crer que
haverá problemas em todos os lugares.
Terceiro problema: a suposta retenção de recursos de bancos e de agentes
financeiros. O dinheiro depositado no Banco no Brasil, segundo a Parmalat, para
pagar produtores e cooperativas, foi bloqueado.
Por que os bancos podem bloquear patrimônio e deixar produtores e até
funcionários sem receber?
Para solucionar esses problemas emergenciais, desde outubro, a Câmara do
Leite, por intermédio do Ministério da Agricultura, solicita liberação de recursos para
o EGF. Antes de aparecer o problema, teria de ser, no mínimo, de 500 milhões. O
Ministério da Agricultura anunciou 200 milhões para este mês. O Rodrigo deixou
claro que esse valor é insuficiente, que é precisa haver mais agilidade no processo
de liberação. Se não houver garantia de produto, sem inserção de taxas mistas,
propostas para todas as cooperativas, não será possível enxugar esse excedente.
Sabemos que há problemas de orçamento, há mudança do Ministério de
Segurança Alimentar, mas há uma emergência. O Governo tem de comprar leite.
Esta Comissão, junto ao Executivo, poderia nos ajudar nesse sentido, para aliviar
onde existe gargalo.
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Como liberaremos esses recursos retidos ou como participaremos desse
processo de segurança? Se os bancos acessam, bloqueiam, por que não criar
mecanismos para os produtores?
Está presente e à disposição desta Comissão para qualquer dúvida o Dr.
Guilherme Krueger, Consultor Jurídico da OCB, que acompanhará o Dr. Lula.
Mais uma vez, lembro a esta Comissão que há problemas estruturais no setor
de lácteos, principalmente na mão de multinacionais — o Ministro Turra sabe muito
bem o que é isso, porque seu Estado, praticamente todo o Brasil, é um exemplo de
concentração — e há problema da perda de participação das cooperativas nesse
mercado.
O Rodolfo expôs esta manhã que as cooperativas chegaram a ter 60% do
mercado; hoje, estão com menos de 40%. Temos de rever esse problema estrutural.
Se já tivesse sido corrigido, provavelmente, esse problema na Parmalat não
causaria um impacto tão grande.
Temos como solução para esses 2 problemas uma proposta de aumentar a
participação das cooperativas nos mercados de lactos. Não só as empresas
privadas manifestaram o interesse perante o Ministro da Agricultura de ocupar
espaço. A OCB, na primeira hora, já disse que as cooperativas têm condição e
competência. Precisam é de apoio para ocupar esse espaço, inclusive a
operacionalização de algumas indústrias que possam vir a ser paralisadas. Em
qualquer Estado podemos ter estruturas de cooperativas capazes de assumir
parques industriais, a fim de que o processo não pare.
Em segundo lugar, podemos impedir a atual crise de concentração, que já
vem acontecendo, dando condição e suporte para que as cooperativas possam se
desenvolver. A Organização das Cooperativas Brasileiras e Confederação Brasileira
das Cooperativas de Laticínios vêm trabalhando nessa idéia desde 2002. Na OCB,
alguns Deputados estiveram conosco em algumas reuniões nas quais abordamos
esse assunto.
Estamos tentando fazer a lição de casa do cooperativismo. Profissionalização
de gestão, foco no mercado, uma condição de responsabilidade, principalmente com
o seu cooperado e com a comunidade. As cooperativas estão buscando isso. Estão
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se organizando não só na base dos produtores, mas entre elas, formando redes de
negócios que possibilitem maior presença e melhor posicionamento no mercado.
Vamos precisar de muito apoio desta Casa, dos Srs. Parlamentares e do
Poder Executivo, para promover o desenvolvimento desse processo, que não vai
acontecer sozinho. Não queremos fazer um RECOOP especial. Queremos
condições para que essas cooperativas tenham forças de ocupar, com competência,
um mercado que já foi delas e que elas têm plena condição de voltar a ocupar e dar
melhor retorno aos produtores, que são a nossa razão de ser.
Tenho certeza, Presidente Waldemir Moka, de que a solução desses
problemas, tantos os emergenciais quanto os estruturais, está na cabeça de todos.
Isso está muito evidente, e o Rodrigo foi muito claro ao expor o assunto.
Temos certeza de que elas vão passar por esta Casa, pelo Legislativo, que
foi, entre os todos os Poderes, o primeiro a enxergar isso. Mais uma vez, saliento a
importância de os Parlamentares, já no primeiro dia da convocação, sentirem a
necessidade de solucionar o problema e criarem esta Comissão.
Parabenizo a todos e coloco a OCB e o cooperativismo brasileiro à disposição
desta Comissão, para ajudar a encontrar essa solução.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Agradeço as palavras ao
Dr. Márcio Lopes de Freitas, Presidente da OCB.
Vamos ouvir todos os convidados e, em seguida, passarei a palavra aos
Parlamentares, lembrando que circula uma lista de inscrição.
Tem a palavra o Sr. Alberto Broch, 1º Vice-Presidente da Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura — CONTAG, que disporá de 20 minutos
para fazer sua explanação.
O SR. ALBERTO ERCÍLIO BROCH - Nossa saudação a todos os presentes,
de modo especial ao Deputado Waldemir Moka, Presidente da Comissão; aos
demais Parlamentares, como o Deputado Assis Miguel do Couto, aos
representantes das entidades presentes nesta Mesa e todos os demais convidados.
Reitero, em nome da CONTAG, nosso reconhecimento à Câmara dos
Deputados, em especial aos Deputados que tomaram a iniciativa de discutir nesta
Comissão a crise da Parmalat. A angústia e a preocupação são grandes.
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Nesta minha exposição, quero falar da grande preocupação que há em todo o
Brasil com a crise da Parmalat, especialmente nas regiões produtoras afetadas pela
crise da empresa e aquelas que também não se sentem afetadas diretamente. A
insegurança e a instabilidade são grandes.
Em segundo lugar, gostaria de justificar a ausência do Presidente da
CONTAG, Manuel José dos Santos. Estava tudo acertado para ele comparecer a
esta reunião, mas, infelizmente, na parte da manhã, aconteceu algo que nos
envergonha. Refiro-me ao assassinato de 3 auditores fiscais e do motorista da
viatura na cidade de Unaí. Por solicitação da Federação de Minas Gerais, eles
estavam entrando numa fazenda para fazer uma auditoria e foram recebidos à bala
por jagunços. Nós ainda não sabemos o nome do proprietário da fazenda.
A CONTAG está envolvida diretamente neste lamentável episódio e por isso
está tomando as medidas cabíveis.
Todos sabemos da Crise da Parmalat e do escândalo que envergonha a
todos nós. Não vale a pena repetir. A cada dia os jornais anunciam algo. Agora,
estão anunciando a possibilidade de o negócio ter chegado a 14, 15 bilhões de
euros. Isso é lamentável, é muito sério.
Gostaria de muito rapidamente fazer uma reflexão nesta oportunidade, que é
uma grande preocupação da CONTAG, dos nossos sindicatos, das nossas
federações. E ouvi com muita alegria o Deputado Waldemir Moka, numa entrevista à
uma rede de televisão, na segunda-feira, dizer que tem essa mesma preocupação.
Ou seja, que precisamos discutir o modelo do setor leiteiro no Brasil. Se continuar
esse modelo que temos no Brasil, a nossa preocupação será muito grande, porque
os problemas poderão ser resolvidos amanhã ou depois, oxalá que sim, ou poderão
persistir, com as multinacionais, a quebradeira das cooperativas, com pequenas
iniciativas das associações por conta dessa política indiscriminada adotada nas
multinacionais.
E aqui vem a nossa grande preocupação, o que já é uma idéia formada na
CONTAG: somos contrários, vamos lutar muito contra a possível compra ou
incorporação da Nestlé à Parmalat. Hoje, os jornais dizem que a Nestlé nem quer
chegar perto. Eu não sei. Precisamos ter muito cuidado com isso, com os grandes
monopólios.
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Sabemos o que a Parmalat fez: as cooperativas quebraram, os produtores
quebraram, houve concorrência desleal. Paga-se mais numa região, paga-se menos
na outra, quebra aqui, ganha lá. Isso foi feito no Brasil pela Parmalat. Sobre esse
modelo perverso precisamos discutir, porque não interessa para os produtores e
creio não interessa para o Brasil.
Precisamos discutir qual o modelo queremos para o setor leiteiro, a fim de
que não fiquemos à deriva, achando que o mercado resolve tudo. Em determinados
momentos ganhamos 40 centavos. Depois de 3 meses ganhamos 20 centavos. É
uma coisa muito séria, há uma insegurança muito grande. Quando somos
convocados a produzir, produzimos. De repente, quebramos. Sobre essa política
precisamos repensar.
Esta é uma reflexão e uma discussão sobre o setor leiteiro que fazemos há
muito tempo.
Também gostaria de dizer que a CONTAG está fazendo um debate em
âmbito nacional, porque temos situações diferenciadas. No Rio Grande do Sul a
situação é uma, em Pernambuco e no Rio de Janeiro é outra. Entre os
trabalhadores, os milhares de pequenos agricultores familiares que foram citados e
que fazem parte da grande maioria, há realidades diferenciadas que estão sendo
discutidas.
Agora, uma posição central nossa é que todas as dívidas devem ser pagas
imediatamente, a começar pelos produtores e trabalhadores das indústrias. São
centenas de credores, bancos, governos e fornecedores, mas, por uma questão de
justiça, começa-se a pagar imediatamente pelos agricultores e trabalhadores das
indústrias. E, como foi dito aqui, em alguns lugares, desde novembro que não se
paga. A própria massa está usando critérios diferenciados.
É preciso pagar os agricultores, repito. Por exemplo, em algumas regiões,
como o Rio Grande do Sul, hoje, houve reunião importante na Federação, com a
presença de 6 ou 7 cooperativas da região e há orientação para que esses
agricultores passem a ser incorporados diretamente pelas cooperativas. E
precisamos discutir com outras entidades do setor formas sobre como trabalhar esse
processo, principalmente com as plantas que estão aí, com possibilidades, em
determinadas regiões, de se estimular as cooperativas, de se fazer um trabalho com
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os funcionários das plantas, de se criar cooperativas e entrar com um processo
novo. Mas, para isso, são necessários alguns requisitos.
O Governo Federal, Srs. Deputados, precisa de atuar de forma mais incisiva,
se possível intervindo nesse processo. Não pode deixar a situação continuar da
forma como está. E para isso vamos ter de discutir um grande projeto de
financiamento. Mas já vou dizendo que cada situação é uma situação, inclusive com
juros diferenciados. Uma questão é se discutir um projeto de uma grande
cooperativa, outra é se discutir um projeto de uma cooperativa que está iniciando o
processo. Precisamos dar tratamento diferenciado às diversas situações,
especialmente no que diz respeito às pequenas cooperativas existentes hoje e que
ainda dependem desse processo e com possibilidades concretas, em determinadas
regiões, de se criar novas cooperativas, tanto do ponto de vista dos agricultores,
como do ponto de vista dos próprios trabalhadores das empresas.
Essas as preocupações centrais que temos no momento. É extremamente
importante que se faça este debate na Câmara dos Deputados, para que haja
envolvimento do Parlamento.
E seria importante, Deputado Waldemir Moka, fazer com que essa discussão
chegasse aos Estados, que os membros Câmara dos Deputados e representantes
das entidades pudessem se reunir nos Estados, para travar grandes debates a
respeito dessa matéria.
É importante essa iniciativa. Não dá para esperar. A preocupação é muito
grande. Fala-se em 20 mil produtores diretamente para a Parmalat, mas achamos
que esse número é muito maior. A grande maioria deles são agricultores familiares e
pequenos agricultores. Em determinadas regiões, o sustento dessas famílias está
diretamente ligado à produção desse leite. Além de um problema econômico e
político, é problema social que acontece em todo o Brasil.
Repito que estamos ainda discutindo para formalizar uma proposta, porque há
realidades diferenciadas. Queremos fechar essa questão possivelmente até meados
de fevereiro e estamos realizando este debate em todos os Estados.
Estamos à disposição desta Comissão e do Parlamento para continuarmos
este debate.
Essas as minhas palavras.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Agradeço o Sr. Alberto
Broch, 1º Vice-Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura — CONTAG.
Concedo a palavra ao Sr. Altair Celup, representante do Fórum Sul do Leite,
que também disporá de 20 minutos para a sua explanação.
O SR. ALTAIR CELUP - Inicialmente, quero agradecer ao Deputado Assis
Miguel do Couto, que é da nossa região, o sudoeste do Paraná, o convite para nesta
reunião representar o Fórum Sul do Leite.
Falarei um pouco sobre o funcionamento do Fórum Sul do Leite, que é
composto pelo SISCLAF do Paraná, o Sistema com Interação Solidária das
Cooperativas de Leite da Agricultura Familiar; pelo ASCOOP, que fica na região
oeste de Santa Catarina, e pela COORLAC, no Rio Grande do Sul. Esses 3
sistemas formam o Fórum Sul do Leite e trabalham hoje com em torno de 13 mil
famílias associadas, com uma produção de 14 milhões de litros de leite ao mês.
A preocupação do Fórum Sul do Leite é a mesma que todos têm no momento:
a coleta do leite. Por exemplo, a coleta de leite pela Parmalat na Região Sul é
bastante grande e preocupa-nos a possibilidade de a empresa parar de coletar esse
leite, como se está cogitando. A falta de material para embalar o leite poderia parar
essa coleta. E a nossa preocupação é com quem absorveria a produção de leite da
Região Sul, que é atualmente absorvida pela Parmalat? Como o leite é produzido
diariamente, tem de ter um destino garantido todos os dias.
Na região sudoeste do Paraná, alguns produtores não receberam ainda o
pagamento pelo leite produzido no mês de dezembro, principalmente os produtores
que têm a conta pelo CPF. Quem tinha conta corrente no Banco do Brasil recebeu
normalmente; quem tinha conta a receber pelo CPF, não recebeu ainda. Esse para
nós é um motivo de grande preocupação, porque praticamente 90% da renda
familiar dos produtores vem do leite. Eles acabam atrasando seus pagamentos e
pagando juros aos que devem, se não conseguem receber o dinheiro da Parmalat.
Já está vencendo o mês de janeiro, e assim eles já têm 2 meses para receber pelo
leite vendido. Repito que essa é uma preocupação muito grande de todos do Fórum
Sul do Leite.
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Gostaríamos de saber que atitude poderia ser tomada para que o Banco do
Brasil, que está retendo esses pagamentos, pudesse liberar esse dinheiro para o
produtor. O produtor não tem condições de pagar o que a empresa deve ao banco.
O que é do produtor deve ser do produtor e não do banco, que está retendo esse
dinheiro.
Por tudo isso que já foi dito, achamos que se deve encontrar uma solução
para o problema da Parmalat. Ou as cooperativas assumem ou que haja uma
intervenção federal, que se organize uma Comissão para dirigir a empresa até que
seja resolvida essa situação.
No momento, não é possível decretar falência ou parar com a coleta do leite,
porque isso seria uma desastre para a produção brasileira de leite.
Era isso que tinha a dizer.
Agradecemos a oportunidade.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Muito obrigado, Sr. Altair,
representante do Fórum Sul do Leite.
Passo a palavra ao Sr. Siderlei Silva de Oliveira, representante da
Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação,
Agroindústrias, Cooperativas de Beneficiamento de Cereais e Indústrias do Meio
Rural — CONTAC.
O SR. SIDERLEI SILVA DE OLIVEIRA - Também agradeço à Comissão
convite. Parte da ansiedade que tinha foi resolvida, pois eu estava esperando que os
Poderes se manifestassem e abrissem canais para debater o problema da Parmalat,
e o Poder Legislativo está nos dando essa oportunidade.
O episódio da Parmalat deve servir para tirarmos lição para uma série de
coisas, como a Lei de Falência, que está para ser votada ou foi votada — ela vai
resolver ou não um problema como o da Parmalat? — e a questão das empresas
multinacionais, que vêm abarcar quase setores inteiros no País, como foi o caso da
Parmalat.
Quando os produtores se referem à Parmalat, eles falam em 6 fábricas, mas
são 8. E não eram 8 fábricas, mas uma concentração de 40 fábricas sob o domínio
do Parmalat, das quais 32 foram fechadas e ficaram 8. Esse é o quadro.
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A Parmalat me dá dor de cabeça não é de hoje, mas desde que chegou ao
Brasil, em 1972. E sempre trabalhou com incentivos fiscais. Deve-se também
examinar como a guerra fiscal funcionou na Parmalat. Os Estados deram muito à
Parmalat. O nosso Deputado do Rio Grande do Sul sabe como isso se deu em seu
Estado. Agora, esse falso gigante, porque é muito frágil, está na bancarrota. Parte
dos trabalhadores dessas fábricas que fecharam não recuperaram seus empregos
no setor de laticínio. Compraram fábrica onde os empregos eram importantes. Em
Pernambuco, por exemplo, compraram e tomaram conta de uma estatal do leite.
Hoje, em Pernambuco, há uma fábrica em Garanhuns, e, se não tomarem as
medidas devidas, essa fábrica fechará.
A Parmalat tem de servir de lição para nós, para esse modelo, desde a guerra
fiscal e uma série de outras coisas mais.
Entendemos, em primeiro lugar, que a solução para os problemas da
Parmalat não está no varejo. A empresa tem de ser salva como um complexo, como
um todo. Temos realizado audiência pública em locais onde há fábrica da Parmalat e
é comum vermos a ânsia de cada um para salvar a fábrica de sua cidade. O
problema da Parmalat não se pode resolver assim. Temos o exemplo da AmBev,
onde aconteceu algo semelhante. Só que a AmBev não estava quebrada. É um
trabalho ao contrário. Hoje, as fábricas da AmBev que estavam sendo defendidas na
época pelo próprio CADE, estão todas fechadas.
Este momento, com a crise da Parmalat, é triste e rico para examinarmos
alguns parâmetros que temos no Brasil. A Parmalat tem uma importância muito
grande. Pouco se fala sobre a questão da sua ida para a Nestlé, que não tem o leite
matinal, aquele leite de todo dia para o café. A Parmalat tem um esquema de
distribuição nacional. Ela é importante na distribuição do leite e na regulagem de
preços aos consumidores e produtores. Com a concorrência, tem de se pagar mais.
Se a empresa sair do mercado, isso muda tanto para o consumidor quanto para o
produtor. É importante manter o complexo Parmalat funcionando, porque há
concentração de produção de trinta e tantas empresas nacionais que foram
fechadas.
É importante defendermos o complexo Parmalat. Não estou me referindo à
própria marca, que é importante. No Brasil, a Parmalat era maior do que na Itália.
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Visitei a Itália, e havia italiano que não conhecia a empresa. O Brasil foi o seu
laboratório onde ela recebeu tudo para crescer da forma como cresceu. Se é tão
bom time de futebol, para que ser comprado? Refiro-me ao Palmeiras.
Hoje, 25% da Parmalat mundial está no Brasil. Não vim a esta Comissão para
dizer que a Parmalat não tem importância para nós. A questão é que temos de
tomar algumas medidas imediatamente, para ontem. E está aí a minha
preocupação. É comum, no Brasil, sempre que há um grande complexo industrial
com problema, aparecer proposta de salvação: muito oportunismo, com cada um
querendo aproveitar a onda para ganhar uma fábrica quase de graça ou para
conseguir uma verba a juros baixos. E, muitas vezes, compra-se a empresa só para
fechá-la. Talvez haja vários planos: o plano “a”, o “b”. Não são divulgados, mas deve
haver planos por aí. Com certeza, há um plano do Nestlé, que, neste momento,
faz-nos lembrar aquela fábula da raposa e das uvas. Ela está declarando nos jornais
que não quer, que a Parmalat não lhe interessa. Não interessa? Agora, para nós,
trabalhadores e produtores, com certeza, não interessa que seja entregue o
complexo Parmalat para a Nestlé. O monopólio não interessa a ninguém. Essa é
uma questão clara.
Se a Nestlé tomar conta da Parmalat, para nós, trabalhadores, isso
significará, no mínimo, o desaparecimento de uns 6 mil empregos que hoje são
oferecidos pelo sistema Parmalat. Esse filme já vimos na AmBev. Quando a Brahma
e AmBev se juntaram, a metade dos trabalhadores das duas empresas foram
demitidos. A Nestlé tem fábrica e pode absorver os trabalhadores.
A compra da Parmalat pela Nestlé não nos interessa, porque, com certeza, as
melhores fábricas vão ficar funcionando. Talvez não fechem as fábricas da Parmalat.
Vão fechar as fábricas da Nestlé, porque a Nestlé tem fábricas mais velhas que as
da Parmalat. A Parmalat tem um parque industrial remodelado, reestruturado, talvez
melhor que o da própria Nestlé.
Não nos interessa o monopólio. A questão é que se tem de tomar medidas
imediatamente. No Brasil, as coisas são meio devagar, mas, na questão Parmalat, a
solução para problema não pode demorar muito a chegar. Aí concordo com os
comentários feitos pela Mesa.
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Primeiro, esse complexo não pode deixar de funcionar. Uma fábrica não pode
deixar de funcionar hoje e uma outra começa a funcionar amanhã, conforme está
ocorrendo atualmente. A Parmalat funciona no dia que tem embalagem. Exemplo,
Araçatuba tem o tomate todo comprado, não é só leite. Eles compraram na época da
safra. Tem mais de duas fábricas, e não são todas de leite. Então, o problema não é
de matéria-prima. A fábrica de Araçatuba não funciona porque não há embalagem
para embalar o tomate, e o vendedor de embalagem só vende à vista. Se não tem
dinheiro, não compra. A fábrica só vai funcionar no dia em que houver embalagem.
E assim ocorre também com as outras indústrias.
Temos de pensar em uma solução rapidamente. Pensa-se em uma
intervenção do próprio Governo para que isso não aconteça. Que a solução
definitiva para a Parmalat venha com mais tempo, e não com tanta pressa. O que
está havendo hoje com a Parmalat é a falta de credibilidade. O produtor e o
fornecedor de embalagem não acredita no que a Parmalat diz.
Uma intervenção do Governo na Parmalat neste momento seria para garantir
o funcionamento da empresa, com a criação de um fundo que garanta o pagamento
ao produtor. Não estou dizendo que se deve colocar dinheiro na fogueira, porque ele
vai queimar, vai desaparecer também. Estou dizendo para manter em
funcionamento esse complexo, porque, depois de pará-lo, o produtor vai desviar a
produção de leite e será mais difícil voltar a funcionar, será mais difícil encontrar uma
solução para o problema.
A garantia do funcionamento é uma questão que tem que ser debatida. E não
será com essa direção que está aí. Tem-se que pensar em quem vai gerir essa
empresa, esse fundo, para garantir a continuidade do funcionamento da Parmalat,
até ser encontrada uma solução para o problema.
Em nossa proposta, primeiro, fizemos contato com os italianos, para saber
sobre o que estavam pensando para o Brasil. Primeiro vão salvar a Itália, o que está
certo. Mas também disseram que o Brasil é importante para eles, como quem diz
que, se der, depois vão salvar o Brasil. Mas, quando divulgam o tamanho da dívida,
vemos que a cada dia que passa ela fica, claro, inviável.
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Então, temos de buscar uma salvação para esse complexo, que é importante,
conforme os produtores estão falando. É importante também para o nosso
trabalhador, conforme nós estamos dizendo.
(Não identificado) - Se o senhor me permite, gostaria de dizer que acabaram
de dar a notícia de que a Parmalat pediu concordata neste instante.
O SR. SIDERLEI SILVA DE OLIVEIRA - Essa é a questão. A proposta que se
tem quando se fala em cooperativa, é a nossa proposta também. Há produtores
interessados em que isso continue funcionando. Acho que não se deve continuar
jogando dinheiro em cima dessa fogueira, porque ele vai desaparecer.
Agora, de repente, um novo modelo, diferente desse com que a Parmalat
vinha operando, consegue se salvar, manter esse complexo funcionando, sem jogar
dinheiro nessa parafernália que está aí, que já vimos que não dá certo.
Queremos participar do debate sobre a questão de as cooperativas
assumirem. Os produtores estão discutindo isso, e nós já vínhamos discutindo
também. Chegamos aqui, para surpresa nossa, este debate já estava bem
adiantado. Não concordamos que o Governo jogue mais dinheiro nessa fogueira,
que ele tente salvar a empresa da forma como está fazendo, porque não vai
conseguir. Agora, não concordamos com que o Governo venha a jogar mais dinheiro
na empresa, tentar salvá-la da forma como está, porque não vai salvá-la. Já houve
episódios semelhantes, como o caso da Chapecó. Muito dinheiro público foi injetado
lá, e os argentinos foram embora. Tiveram de achar outra solução. São lições que
temos de aprender para que o Brasil cresça e possamos um dia ser um país de
Primeiro Mundo.
Essa questão da Parmalat nos alerta. Chega de sermos tolos em relação ao
Primeiro Mundo. Um dia temos de ser Primeiro Mundo. Esse pessoal vem para cá,
faz o que faz, depois vai embora.
É preciso que sejam encontrados os culpados aqui no Brasil. Também essa
questão da gestão imediata tem de acontecer. Primeiro, houve o problema
internacional; agora, há o problema nacional: “O pirão é pouco, e quero tirar o meu”.
Se não houver uma administração nova, quando chegarmos lá, só encontraremos os
prédios, talvez. Não estou acusando, mas temos exemplos de outros casos. Quando
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uma empresa entra em concordata ou falência, a coisa cada vez piora mais; quando
vamos ver, só encontramos os prédios, porque até as máquinas já foram retiradas.
Portanto, temos de ficar alertas. Queremos participar desse debate, os
trabalhadores estão dispostos a participar desse debate. A Central Única dos
Trabalhadores, que também represento aqui, está fazendo esse debate
internamente com os produtores que ela representa, uma boa percentagem de
produtores que entregam leite à Parmalat. Estamos dispostos a participar desse
debate e achar uma solução duradoura. Estamos propondo uma nova discussão,
para que esse modelo da produção de leite no Brasil não continue como está. Quer
dizer, trabalham duro — como trabalham os produtores —, e depois um complexo
desses leva o dinheiro para fora, e eles novamente ficam na rua da amargura, sem
que saibam para quem vão entregar o leite no dia de amanhã.
Então, são questões que temos de debater. Os trabalhadores estão muito
preocupados. A insegurança é total. A empresa disse que estava tudo bem ontem,
mas hoje os jornais noticiam que o Banco do Brasil interveio na fábrica de Jundiaí.
Amanhã, não sei qual vai ser a fábrica... Aí é que tem de haver uma medida, porque
banco é banco, pode ser estatal ou privado, não importa, é sempre banco, não se
preocupa com o fato de que, sendo fechada a fábrica de Jundiaí, vai haver milhares
de desempregados. A Justiça foi ontem lá e lacrou a fábrica. Depois, por
intervenção, voltou a funcionar. Temos de achar uma solução logo, porque outras
fábricas, com certeza, terão problemas, pois a Justiça vai determinar bloqueios para
garantir pagamento de credores, de banco, e aí o complexo vai ter problemas.
Portanto, tem de ser encontrada uma saída imediata, para garantir a
continuidade da produção; depois pensamos em uma saída com mais calma, com
mais tranqüilidade.
Tem de se pensar também — isto é um debate — no sentido de que um
grupo não venha a se beneficiar do problema da Parmalat. O momento é de
melhorar o setor de leite no Brasil. A oportunidade é para isso e não para beneficiar
grupo A, B ou C.
Essa é a posição da nossa confederação e essa é a posição da Central Única
dos Trabalhadores.
Era o que eu tinha a dizer.
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Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Agradeço as palavras ao
Sr. Siderlei Silva de Oliveira.
Antes de passar a palavra ao Sr. Dirceu Luiz Dresch, que representa a
Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar, quero dizer que o Ministro da
Agricultura acabou de falar comigo por telefone, estava tentando um contanto já há
algum tempo, mas eu estava com o celular desligado. S.Exa. me informou que —
acho que o Deputado Roberto Balestra já disse —, aqui no Brasil, a Parmalat Brasil
pediu concordata. É uma situação realmente preocupante. S.Exa. inclusive, hoje,
estava esperando o Presidente da Parmalat para essa conversa. Havia um
entendimento nesse sentido, mas, sem nenhuma explicação maior, pelo menos até
agora, a Parmalat pediu concordata.
Eu penso que isso acaba na chamada “morte anunciada”. Isso vai acabar
precipitando alguns fatos. Isso nos alerta para que sejamos objetivos o mais
possível na condução desse problema, principalmente para que os produtores
rurais, as cooperativas de trabalhadores não venham a ser os maiores prejudicados.
Conforme sabemos, os bancos têm todo um arsenal jurídico capaz de garantir os
seus direitos. Exatamente nesta reunião é que pretendíamos — creio que ainda
cabe essa pretensão — montar uma petição jurídica capaz de garantir a presença
dos trabalhadores, das cooperativas junto a esse processo, naquilo que o Dr. Carlos
Henrique Abrão chamou de Comitê de Fiscalização. Precisamos inserir nesse comitê
a representação sobretudo dos trabalhadores, das cooperativas e dos produtores
rurais.
Vamos ouvir o último convidado. Logo em seguida, abrirei espaço para o
debate dos Srs. Parlamentares.
Concedo a palavra ao Sr. Dirceu Luiz Dresch, representante da Federação
dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul, que dispõe de 20 minutos.
O SR. DIRCEU LUIZ DRESCH – Boa-tarde, Srs. Parlamentares, Deputados
Waldemir Moka e Assis Miguel do Couto, que estão presidindo este debate. É uma
grande satisfação poder discutir tema tão importante, não apenas por se tratar da
Parmalat, mas principalmente pelo que significa o leite na agricultura, sobretudo na
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agricultura familiar do País, em termos de geração de emprego e de renda, que é o
debate da moda, grande necessidade do Brasil. Parabenizo todos pela iniciativa.
Nossa federação atua em cerca de 250 Municípios na Região Sul. Só nos 3
Estados do Sul, temos 907 mil famílias, das quais mais de 50% comercializam leite
com as indústrias oficialmente. Há estimativas de que cerca de 80% dessas famílias
têm alguma forma de renda a partir do leite. Nem todas comercializam o leite que
produzem direto com as indústrias, grande parte o comercializa diretamente com os
consumidores de pequenas cidades. Cito o famoso “litrinho”, que vai para as casas
das famílias, a mulher faz queijo e o vende para os filhos que moram na cidade.
Portanto, essa questão do leite é importantíssima para a renda dessas
famílias. Sem falar do debate sobre gênero, discussão que também envolve o leite
da agricultura familiar. Refiro-me à participação da mulher na renda, à sua
importância, ao fato de a mãe poder presentear os filhos com um bolo ou qualquer
outro produto do leite e poder ganhar algum dinheiro no fim do mês para comprar
algo para si. O leite, para nós, é essencial, assim como na renda mensal das
famílias, já que, no meio rural, existe o grande problema de que a renda obtida
normalmente com grande parte da produção é anual e o leite confere a oportunidade
de as famílias receberem um salário mensal com o produto. Mesmo que não seja
muito, ajuda a custear a despesa mensal daquela propriedade.
Junto com o Ministério da Agricultura e outras organizações, estamos
promovendo o debate de um projeto para o leite em nosso País. Precisamos discutir
isso muito bem e dizer ao Alberto, da CONTAG, dessa grande preocupação neste
momento.
Acompanhei, com certeza, mais de 200 debates, principalmente nos anos de
2000 e 2001, quando o Brasil discutia a questão da abertura sem limites das
fronteiras do nosso País, sem discutir a proteção interna da empresa nacional.
Certamente estão presentes à reunião vários representantes de cooperativas. Já
houve comentários do representante da CNA, se não me engano, ou da OCB. Está
aqui o ex-Ministro Francisco Turra, também o Deputado Zonta, de Santa Catarina,
ex-Secretário da Agricultura. Acompanharam diretamente essa discussão.
Em Santa Catarina, em Itajaí, as cooperativas montaram uma indústria de
leite muito forte, e, com o processo de abertura das fronteiras, as empresas
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multinacionais acabaram entrando de forma tão forte no mercado que destruíram
essas pequenas cooperativas. Não tenho dados concretos, mas penso que grande
parte das pequenas cooperativas do setor do leite desapareceram nesse período.
Precisamos discutir isso.
O cooperativismo é muito interessante na produção agrícola, principalmente
na agricultura familiar, mas precisamos discutir políticas muito sérias nesse sentido,
além do papel dessas cooperativas, do investimento do recurso público nelas e de
uma estratégia para o setor.
Entendo que este modelo de agricultura que está sendo praticado no Brasil,
principalmente com a abertura das fronteiras, é insustentável. A prova está aqui. Há
poucos dias, saímos — o oeste de Santa Catarina, o Alto Uruguai, o Rio Grande do
Sul, o sudoeste do Paraná — do problema da Chapecó. O Estado investiu dinheiro.
Estima-se que o Governo investiu, para resolver esse problema, nesse período, em
torno de 800 milhões. Para onde foi esse dinheiro? Uma parte foi para fora do País,
mas não foi explicado até agora o que foi feito dele. Essa é uma grande
preocupação nossa.
Estamos num espaço estratégico. Aqui se fala muito e se discute sobre o
papel do Governo nisso tudo. Será que é simplesmente o de socorrer na hora da
crise? Ou precisamos pensar uma estratégia anterior para discutir o
desenvolvimento do nosso País? Discutimos muito na agricultura familiar sobre o
papel do Governo, a intervenção nas pequenas propriedades. Existem dados que
mostram que, em 2001, no que diz respeito à produção de leite em Santa Catarina,
a quantia de dinheiro transferida dos pequenos para os grandes produtores foi maior
do que o financiamento do PRONAF para o ano todo no Estado.
Temos, assim, uma discussão também de distribuição de renda e de como
ajudar os pequenos produtores para que, um dia, estejam melhor em sua produção.
Não devemos simplesmente penalizá-los por produzirem pouco. Essa é uma
estratégia importante que o Estado brasileiro tem de assumir não apenas em época
de crise. Deve também contribuir para uma estratégia futura de desenvolvimento.
Para nós, essa questão da Parmalat é apenas conseqüência de um modelo
construído nos últimos anos. E devemos nos preparar, porque haverá outros pela
frente.
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Estamos discutindo também a questão dos transgênicos, que entendemos
dessa mesma forma, com essa mesma lógica, com essa mesma estratégia.
Precisamos agir de forma imediata. Os agricultores, principalmente os agricultores
familiares, não podem pagar novamente essa conta.
Ano passado, só no Rio Grande do Sul, 7 mil produtores venderam leite para
a Parmalat. Não obtivemos o dado em âmbito nacional, mas esse nos mostra que há
um número bastante grande de produtores envolvidos, sem falar dos trabalhadores
dentro das indústrias, de todos os envolvidos indiretamente e da renda dos
Municípios onde estão instaladas essas fábricas, além do comércio, do bar da
esquina que vende o produto para os trabalhadores da região. Assim, há um
conjunto de pessoas e de economias envolvido em todo esse processo.
Outra questão levantada se refere ao problema de distribuição, que
certamente ocorrerá tanto no fornecimento dos agricultores quanto na distribuição
dos produtos. Não quero ser repetitivo, mas não podemos cair no erro de essas
empresas pararem mais uma vez nas mãos de outra empresa internacional,
principalmente a Nestlé, o que cria monopólio maior ainda. Devemos pensar em
uma estratégia de intervenção por meio de pequenas cooperativas ou da criação de
uma cooperativa nacional.
Essa é a nossa contribuição para este debate. Não podemos correr o risco de
resolver essa questão no atropelo. É necessária uma estratégia mais a longo prazo,
mas precisamos de uma intervenção imediata no sentido de buscar alternativas, não
resolvendo o problema somente em parte, o que torna tudo mais difícil. Essa
participação dos trabalhadores nas indústrias, dos agricultores familiares envolvidos,
do Governo e do Congresso é importante para a solução desse problema.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Agradeço a participação
ao Sr. Dirceu Luiz Dresch.
Os Srs. Parlamentares se inscreveram para o debate, mas tem prioridade o
Relator desta Comissão, Deputado Assis Miguel do Couto, a quem concedo a
palavra.
O SR. DEPUTADO ASSIS MIGUEL DO COUTO - Obrigado, Sr. Presidente.
Serei breve, pois tenho interesse em ouvir a mensagem, a opinião e a sugestão dos
nobres pares desta Comissão.
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Agradeço a todos os representantes das entidades produtoras, dos
trabalhadores da indústria e das cooperativas por terem, de forma tão imediata,
atendido ao convite. Alguns vieram de longe, mas chegaram aqui a tempo para
cumprirmos esta tarefa. Isso demonstra a gravidade do assunto. Meus
agradecimentos e parabéns.
O Presidente Lula usou uma expressão muito interessante no início do seu
Governo. Disse que a sensação era de estar pilotando um boeing e que precisava
fazer algumas mudanças nesse avião em pleno vôo. Analisamos a Parmalat com a
mesma lógica. Nesta Comissão não temos nenhum interesse em primeiro ver o caos
para depois construir algum caminho. De acordo com as últimas informações
checadas nos órgãos competentes, percebe-se que esse avião começa a cair de
forma muito rápida. Realmente estamos correndo contra o tempo. Essa é a minha
mensagem. Espero que, dentro do tempo que nos resta nesta Comissão,
consigamos encontrar a melhor saída, sem nos preocuparmos muito em definir
modelo de cooperativismo, de produção, mas sim em como resolver a presente
crise, que cada vez mais se avizinha.
Levando-se em conta a idéia do avião, pode-se dizer que os que já tinham
pára-quedas começaram a pular, principalmente o sistema financeiro. Corremos o
risco de sacrificar aqueles que têm menos poder de defesa: os produtores e os
trabalhadores da indústria.
Era a mensagem que eu tinha a deixar. Sugiro que sejamos bastante
objetivos no sentido de encontrar uma saída para o tema a partir da exposição das
entidades.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Vou conceder a palavra ao
primeiro Parlamentar inscrito. Lembro aos Parlamentares que terão o prazo de 3
minutos para usar da palavra. Peço objetividade na exposição, porque esta
Comissão, após conversar com a assessoria jurídica das entidades aqui presentes,
tem por objetivo propor medida jurídica coletivamente. Essa seria a forma correta de
esta Comissão e as representações aqui apresentarem fato com unanimidade no
término desta audiência pública. Evidentemente, isso vai depender desta conversa,
talvez não na audiência pública, mas após seu término, com a assessoria jurídica e
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com os representantes dos trabalhadores. Isso é fundamental. Eu e o Deputado
Assis Miguel do Couto temos o compromisso de ir ao Ministro da Agricultura para
saber mais detalhes do acontecimento que acabo de anunciar.
Concedo a palavra ao Deputado Augusto Nardes.
O SR. DEPUTADO AUGUSTO NARDES - Sr. Presidente, esta audiência
pública é o início de importante trabalho para auxiliar os pequenos produtores de
todo o setor de laticínios do Brasil. Esperamos que, a partir disso, possamos
estabelecer política de médio e longo prazos que proteja nosso produtor.
No Rio Grande do Sul há produção de leite. Conheço o setor e sei que boa
parte vai na direção daquilo que foi dito por Siderlei, Altair, Dirceu e Broch, que são
pequenos produtores. Sou de uma região de pequenos produtores de leite. Vivemos
a dramática situação do que foi exposto aqui com muita ênfase pelos depoentes.
A questão que quero apresentar, Sr. Presidente, refere-se à possibilidade de
as cooperativas assumirem esse papel. O nosso Presidente da OCB, que não está
presente agora, deixou muito claro na sua exposição que temos de ir nesse
caminho. Concordo plenamente, até porque o cooperativismo alcançou hoje
maturidade muito grande no Brasil.
Sr. Presidente, sugiro que possamos, no encaminhamento que V.Exa. fará
hoje ao Ministro da Agricultura, enfatizar a importância do cooperativismo, para que
possa assumir esse relevante papel no Brasil.
Num segundo momento, depreendi dos depoimentos, principalmente do de
Alberto Broch, que deve haver uma intervenção mais incisiva do Governo.
Eu já me manifestei esta semana no plenário, fiz um apelo para que a
CONAB intervenha e, no momento oportuno, é claro, quando isto for necessário,
realize a compra do leite para proteger os nossos produtores. Eu acho que isso terá
de acontecer, porque, diante da concordata e da notícia que V.Exa. nos traz, vamos
a uma situação de calamidade. Concordo com V.Exa. quando diz que se trata de
pré-falência e, como conseqüência, todos serão afetados. Portanto, acredito que
temos de ser incisivos com o Governo, como disse Alberto Broch, no sentido de que
a CONAB possa fazer essas compras.
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Outra questão importante, Sr. Presidente, é o estabelecimento de Empréstimo
do Governo Federal — EGF para socorrer os produtores. É outro instrumento que
está à disposição do Governo para apoiar o setor.
Proponho que V.Exa. faça um apelo ou que seja formada uma comissão para
falar com o Ministro. Podemos direcionar um pequeno grupo que coordene isso, sob
o comando de V.Exa. e do Relator, Deputado Assis Miguel do Couto, para
conversarmos com S.Exa. Temos de tomar providências imediatas. Não podemos
mais deixar que isso aconteça. O Governo precisa ter uma participação mais
incisiva, como disse o Vice-Presidente da CONTAG.
Portanto, deixo a minha contribuição para que seja formado um grupo de
Parlamentares, comandado por V.Exa., para visitar o Ministro e sejam tomadas, o
mais rápido possível, medidas urgentes mais ou menos nessa direção e outras que
o Governo venha a sugerir, a fim de que encontremos uma solução para o caso.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Agradeço ao Deputado
Augusto Nardes a manifestação.
Concedo a palavra ao Deputado Roberto Balestra.
O SR. DEPUTADO ROBERTO BALESTRA - Sr. Presidente, peço permissão
a V.Exa. Entendo que precisamos de mais uma informação jurídica. Solicito que o
advogado que hoje se manifestou na CNA faça agora uma exposição, porque já há
fato novo com o pedido de concordata, até para facilitar o nosso entendimento daqui
para frente. Queremos sair daqui, agora ou depois, com uma solução. Peço a V.Exa.
que, no meu tempo, o advogado nos faça algum esclarecimento.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - V.Exa. está referindo-se
ao representante do Rio de Janeiro? O Dr. Rodolfo está presente? (Pausa.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Ele saiu. Sua solicitação
está prejudicada.
O SR. DEPUTADO ROBERTO BALESTRA - Entendo que isso é
fundamental agora.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Logo após ouvir os
Parlamentares, vou reunir-me com a assessoria jurídica.
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O SR. DEPUTADO ROBERTO BALESTRA - Tudo bem. Como diversos
Parlamentares também são advogados, esse esclarecimento facilitaria até o
convencimento de outros.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Deputado Roberto
Balestra, há uma lista de inscrição. V.Exa. conhece isso. Tenho de ouvir os
Parlamentares inscritos. Depois, evidentemente, vou ouvir o jurista.
O SR. DEPUTADO ROBERTO BALESTRA - Perfeito. Não estou discordando
de V.Exa. Estou só dizendo que isso facilitaria o trabalho. Então, deixo de usar da
palavra e vou esperar o momento oportuno para me manifestar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Agradeço ao Deputado
Roberto Balestra.
Concedo a palavra ao Deputado Francisco Turra.
O SR. DEPUTADO FRANCISCO TURRA - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, senhores convidados, ouvimos com muita atenção exposições objetivas,
claras e responsáveis de todos os representantes das entidades, mas temos de ser
objetivos o mais possível na busca de uma solução.
Existia uma realidade quando entramos aqui hoje. Houve, durante a
audiência, uma mudança de cenário. É preciso discutir soluções emergenciais, o
EGF, que já foi anunciado, nada que chegue à empresa concordatária, é claro, mas
proteger o produtor com a sustentação de preço, de uma forma ou de outra, e
garantir a alguém o recebimento do leite emergencialmente, um pool de empresas,
por exemplo, porque, caso contrário, será um desastre. Temos de encontrar um
caminho.
É importantíssimo saber como ficará o quadro com a concordata, se foi
requerida ou não, porque, nesse caso, muda tudo e também em relação ao que
pensávamos como solução. Temos de caminhar para uma solução jurídica
emergencial no sentido de impedir que o ativo da empresa apodreça ou desapareça
e adotar medidas que viabilizem sua utilização. Entendo que a única forma de
fazê-lo é por meio de uma medida provisória ou de algo cabível. Hoje, pela manhã, a
sugestão do nosso advogado do Rio de Janeiro foi no sentido de elaborar uma
exposição de motivos e aprovar uma medida provisória para que sejam adotadas
ações em caráter de urgência.
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Portanto, temos de levar hoje ao Ministro Roberto Rodrigues — segundo
informações, e o Deputado Roberto Balestra tem conhecimento disso, S.Exa. estaria
encarregado pelo Governo de conduzir os trabalhos — nossa sugestão de que
sejam adotadas ações emergenciais para preservar o produtor, a fim de que tenha
condições de entregar seus produtos.
Era o que eu tinha a dizer.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Agradeço as palavras ao
Deputado Francisco Turra.
Concedo a palavra ao nobre Deputado Leonardo Vilela.
O SR. DEPUTADO LEONARDO VILELA - Sr. Presidente, Sr. Relator, Sras. e
Srs. Deputados, senhores convidados, tenho dito, desde a semana passada, que
assusta a velocidade com que esse caso está evoluindo. A gravidade é maior a cada
dia. Assim, como temos hoje o pedido de concordata da Parmalat deferido, a
questão da falência é uma questão de tempo. Há 5 pedidos de falência ajuizados
pela Parmalat. E, para um juiz conceder o pedido de concordata, é daqui para ali.
Angustia-me o fato de estarmos muitas vezes impotentes diante deste quadro,
realizando reuniões de audiências públicas e os fatos acontecendo à nossa revelia.
Sr. Presidente, temos uma posição mais ou menos consensual no sentido de
que há necessidade de uma ação forte e decisiva do Governo Federal. Não
podemos continuar aceitando o calote contra os produtores, a perda de emprego
dos funcionários, o setor lácteo de pernas para o ar e a falta de ação do Governo
diante desse grave problema. Se na Itália foi elaborada uma lei em 24 horas que
determinou a intervenção da Parmalat, por que não podemos fazer o mesmo? Essa
proposta foi encaminhada, hoje pela manhã, na CNA, pelo Dr. Rodolfo Tavares,
Presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio de Janeiro.
Portanto, Sr. Presidente, Deputado Waldemir Moka, e nobre Relator,
Deputado Assis Miguel do Couto, acredito que uma das prioridades desta Comissão
é estudar, com a urgência que o caso requer, a possibilidade de o Executivo editar
medida provisória, a ser aprovada pelo Congresso Nacional, exatamente no sentido
de promover a intervenção na Parmalat, no intuito de garantir o emprego dos
funcionários e o pagamento aos produtores. A meu ver, o mais urgente, neste
momento, é a garantia do funcionamento das unidades da Parmalat. Considero essa
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proposta importante na medida em que garante o emprego dos 6 mil funcionários e
o fornecimento para que o produtor tenha onde entregar o seu leite, e para que
essas indústrias continuem gerando o seu benefício social e econômico à sociedade
e ao País.
Da mesma forma, acredito que uma intervenção federal ou a participação do
comitê gestor, que já foi aprovado ontem por esta Comissão, com representantes
dos produtores, das cooperativas e dos funcionários da Parmalat, na intervenção da
administração da empresa, deve colocar os produtores, que são na sua grande
maioria pequenos produtores, agricultores familiares que dependem desse dinheiro
do leite, que é o seu salário, na mesma condição dos empregados, com prioridade
para receberem, porque do jeito que as coisas vão, os bancos, que estão
organizados, vão receber a sua parte, os fornecedores de outras matérias-primas
vão receber a sua parte e os produtores vão ficar, mais uma vez, a ver navios, como
acontece em Goiás, meu Estado, onde mais de 3 mil produtores que entregam leite
direta ou indiretamente por meio de indústrias cooperativas da Parmalat estão sem
receber — são mais de 6 milhões de reais que não foram pagos.
Vejo que isso é fundamental neste momento. É importante que esta
Comissão apure a questão da fraude contábil, da lavagem de dinheiro, do desvio de
dinheiro. Mas esses são crimes que já aconteceram, o prejuízo já está instalado. O
que precisamos agora é adotar medidas de caráter preventivo para não deixar que
essa crise afete ainda mais os produtores e os empregados dessa empresa. E não
só os produtores da Parmalat, mas como a crise atinge o setor lácteo como um todo,
todos os produtores, inclusive aqueles que não fornecem leite para a Parmalat, com
certeza estão sendo prejudicados.
Falou-se muito do modelo de comercialização do leite. Há 10 ou 15 anos que
discuto sobre leite e, na condição de produtor, na condição de ex-Presidente de
sindicato de produtor rural, na condição de ex-Presidente da Comissão de Leite da
FAEG, hoje presidida pelo Maurivan Siqueira, que está aqui, na condição de
membro da Comissão Nacional do Leite da CNA durante muitos anos e de
ex-Secretário da Agricultura de Goiás e agora membro da Comissão de Agricultura
da Câmara Federal, não tenho dúvida de que o modelo deve ser cooperativista, em
que a indústria esteja na mão do produtor.
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Nesse aspecto, vejo com muito bons olhos o trabalho que a OCB está
desenvolvendo no sentido de concentrar a captação e a industrialização do leite na
mão das cooperativas. Aliás, um dado que pouca gente conhece é que 40% da
captação — não da industrialização — do leite no Brasil está na mão de
cooperativas, mas que estão dispersas, desorganizadas, e padecem muitas vezes
de problemas de gestão. Então, é preciso haver uma união destas cooperativas para
fazer uma central única das cooperativas de laticínios no Brasil, para poder fazer
frente às grandes empresas nacionais e multinacionais, que estão concentrando o
setor.
Preocupa-me o fato de a fábrica de Santa Helena de Goiás, parcialmente
desativada pela Parmalat, que, aliás, despediu 120 dos 270 funcionários dessa
empresa, que há 2 meses processava quase 1 milhão de litros de leite por dia, há 10
dias ter diminuído o processamento para 400 mil litros e hoje processar apenas 200
mil litros de leite.
Sr. Presidente, quanto à legislação, temos procurado fazer a nossa parte
neste Congresso. A legislação cooperativa tem que ser clara e nitidamente
favorável, fomentadora dessa atividade. E temos encontrado — todos são
testemunhas — dificuldades grandes por parte da área econômica do Governo
Federal, mais especificamente por parte do Ministério da Fazenda. Questões como o
ato cooperativo, questões como as contribuições sociais, previdenciárias e outras
mais sobre as cooperativas têm que ser diferenciadas.
Pena que o Presidente da OCB se ausentou, mas está representado pelo
Superintendente da CBCL, Vicente Nogueira.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Para concluir, Deputado.
O SR. DEPUTADO LEONARDO VILELA - Precisamos trabalhar em cima
disso, sim. Falo aqui aos representantes dos trabalhadores e agricultores familiares,
aos representantes dos produtores e cooperativos que precisamos, sim, aperfeiçoar
nossa lei cooperativista, precisamos comprometer a área econômica do Governo
Federal com esse sistema e fazer com que as cooperativas se organizem para
fazerem parte de uma nova sistemática de produção, industrialização e
comercialização do leite no Brasil.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Agradeço ao Deputado
Leonardo Vilela.
Quero apenas informar que, até porque estamos numa audiência pública, há
uma lista de inscrição.
Esse anúncio é um fato novo. Creio que nosso objetivo é terminar a audiência
pública com uma proposta concreta. Qual foi a discussão de ontem? A garantia por
meio de uma petição, de um mecanismo jurídico. Tive contato prévio com o Dr.
Carlos Henrique Abrão, juiz que criou o comitê de fiscalização, porque, afinal, por
mais que se fale em intervenção etc., só o Poder Judiciário pode adotar esse tipo de
medida. Sem um mecanismo jurídico, não passaremos do discurso. E esse
mecanismo jurídico será tanto mais forte quanto maior for a unidade em torno dele.
É esta, portanto, a motivação desta audiência pública: obter unidade e
garantir, por meio de um mecanismo jurídico, que possamos ter um comitê de
fiscalização ou de gestão — como queiram chamar — que contem com a presença
dos produtores, das cooperativas e dos trabalhadores rurais. É esse nosso objetivo.
E que cada unidade da Parmalat, por intermédio dessas entidades, tenha um
interventor.
Evidentemente, este Presidente e o nobre Relator vão ouvir os Srs.
Deputados, a quem peço objetividade, para que ainda hoje, após ouvirmos também
a assessoria jurídica, cheguemos, se possível, à formulação desse mecanismo
jurídico. E amanhã, se for o caso, terei uma audiência com o Dr. Carlos Henrique
Abrão, que, como disse, é o juiz que criou o comitê de fiscalização. Penso que esse
poderia ser um mecanismo.
Com a novidade da concordata, quero ouvir principalmente o Ministro da
Agricultura, pois essa medida deve ter uma motivação. E aí não sei se mudaremos
ou não nossa estratégia. Ainda acho que o melhor mecanismo é garantir a
participação dos representantes dos agricultores, dos trabalhadores e das
cooperativas no comitê.
Passo a palavra ao próximo inscrito, Deputado Enio Tatico.
O SR. DEPUTADO ENIO TATICO - Sr. Presidente, ainda ontem considerei a
possibilidade de acontecer pedido de falência ou de concordata e que tudo o que
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estamos fazendo aqui ficaria perdido caso houvesse esse pedido de falência ou de
concordata.
Hoje se consuma. Não culpo a Mesa — muito pelo contrário, Sr. Presidente,
acho que a Mesa está de parabéns —, mas por mais que V.Exa. e o Relator se
tenham empenhado, estamos sendo lentos diante dos fatos, pois a cada minuto que
se passa acontece um fato novo.
Ontem pedi a V.Exa. que solicitasse a intervenção do Governo Federal no
sentido de parar tudo para que pudéssemos concluir o plano de trabalho do Relator.
Minha solicitação pareceu uma brincadeira, mas tenho certeza de que hoje V.Exa. a
vê com outros olhos, afinal, houve um pedido de concordata, não sei se concedido
ou não.
Peço a V.Exa. que recorra ao Presidente da República, ao Ministro da
Agricultura ou a quem quer que seja no sentido de parar o processo até que
concluamos nosso plano de trabalho. Sendo breve e bem objetivo: nada do que eu
falar aqui adiantará sem que o processo esteja parado.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Com a palavra a Deputada
Kátia Abreu.
A SRA. DEPUTADA KÁTIA ABREU - Sr. Presidente, gostaria de
cumprimentar todos os representantes de classe aqui presentes e de tecer alguns
comentários a respeito do pouco que ouvi e de informações que recebi com relação
à questão da vinda de multinacionais para o Brasil.
Não devemos olhar com maus olhos a vinda para o Brasil de multinacionais
por causa dessa crise da Parmalat, principalmente porque elas estão sujeitas às leis
brasileiras. O importante é que daqui para frente o Governo crie mecanismos mais
efetivos de controle dessas empresas, principalmente as de capital aberto, como é o
caso da Parmalat.
Convém perguntar o que fazer para que isso não se repita. Na Itália,
empresas mundialmente reconhecidas passavam por rigorosas auditagens. De nada
adiantou produtores e Governo confiarem nessas auditagens, que hoje vemos que
são falhas.
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Quanto a haver representação dos trabalhadores na empresa, idéia louvável
aqui apresentada, existe na Itália e também de nada adiantou, não foi mecanismo
suficiente para impedir o que aconteceu.
Quanto ao controle do mercado, o argumento de que a Parmalat tem uma
participação muito alta no mercado brasileiro, a participação da empresa no
mercado italiano é 50% — se eu estiver errada, que o Vicente me corrija; no Brasil é
5%. Então, também não é essa a questão.
Sobre o que o Deputado Leonardo Vilela disse em relação ao cooperativismo,
acho que o fortalecimento do cooperativismo é muito importante, não só na área do
leite, mas também na de frigoríficos, em toda a cadeia do agronegócio. Observamos
que, no final, o produtor rural vai ter que não só trabalhar o produto primário, mas
também começar a trabalhar na industrialização, para ter mais segurança com
relação a seu negócio.
Acho que o mais importante aqui, para resumir, Sr. Presidente, é pensar
alguma coisa para que as indústrias não parem. Sabemos que uma indústria
dessas, depois de 30 dias, pode virar sucata. Temos uma questão jurídica: foi
pedida a concordata e o juiz vai ter que decidir se aceita ou não. Se aceitar, a gestão
é deles próprios e nós podemos, no caso, tentar um arrendamento. Se o juiz não
aceitar, aí, sim, haverá intervenção, nomeação de um síndico, para que se possa
ativar as indústrias.
Então, num primeiro momento, poderíamos, de alguma forma, tentar agilizar
essa decisão judicial, não sei como, mas que a aceitação ou não da concordata
fosse decidida rapidamente. A partir dessa decisão judicial é que teremos caminhos
para tentar fazer funcionar essas indústrias, a fim de que causem menos prejuízo à
categoria, à classe. No futuro, depois dessa decisão, veremos o que fazer.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Agradeço as palavras à
Deputada Kátia Abreu.
Concedo a palavra ao Deputado Anselmo.
O SR. DEPUTADO ANSELMO - Sr. Presidente, Deputado Waldemir Moka,
Sr. Relator, Deputado Assis Miguel do Couto, quando ouvimos os expositores,
representantes de nossas federações, confederações e outros setores, observei, na
exposição do Dirceu, a afirmação de que já há algum tempo esses movimentos
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previam certas situações. Lembro-me de que, na crise do leite de 2000, 2001 — eu
era Presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Rondônia —, o
leite foi para 10 centavos e nós fizemos um movimento grevista, inclusive
paralisando a entrega do leite. O Governo do Estado de Rondônia e o Prefeito da
cidade mobilizaram um aparato policial e não conseguimos paralisar a entrega da
Parmalat. Conseguimos paralisar a entrega de todas as empresas nacionais, menos
da Parmalat, devido ao aparato policial montado pelo Prefeito da cidade e pelo
Governo do Estado. Isso sem contar o incentivo fiscal de 10 anos que a empresa
recebeu lá, com toda uma influência dos governos locais e estaduais.
Então, neste momento, seria fundamental incluirmos esse pessoal nesta
discussão, porque, na época, esses incentivos foram dados pela interferência
dessas pessoas, que hoje poderiam também ser incluídas neste debate.
Por outro lado, parabenizo a Comissão pela agilidade com que está
encaminhando os trabalhos. Ao mesmo tempo, como suplente da Comissão,
coloco-me à disposição para fazer todo um processo de mobilização no meu Estado
de Rondônia, inclusive do ponto de vista dos movimentos sociais, da nossa
Federação, juntamente com a CONTAG, nossa Confederação, e também junto aos
Prefeitos. Veremos como poderemos promover audiência pública para levantar
esses dados. Estou à disposição da Comissão.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Obrigado, Deputado
Anselmo.
Passo a palavra ao Deputado João Grandão.
O SR. DEPUTADO JOÃO GRANDÃO - Sr. Presidente, Sras e Srs.
Deputados, Sr. Relator, representantes de classe, evidentemente, para nós,
Parlamentares, como legisladores, é muito complicado estarmos numa reunião de
audiência pública e de repente sermos surpreendidos com uma situação tão
constrangedora quanto essa. Primeiramente porque também não vislumbro
nenhuma situação preventiva. Qual seria a situação jurídica para prevenir essa
questão? Talvez uma ação cautelar inominada, não sei. A realidade de uma unidade
da Parmalat era diferente da realidade de outras unidades da Parmalat . Então, não
há como fazer uma medida para atingir toda a estrutura, uma vez que a situação
jurídica de uma era completamente diferente da outra.
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Nesse aspecto os trabalhadores da empresa e os fornecedores,
principalmente os pequenos, ficam expostos a uma situação, na minha avaliação,
agora muito mais complicada.
Quanto à concordata, posso estar enganado, mas acho que foi uma atitude
de esperteza por parte da empresa, que viu o que poderia acontecer. Como não foi
vislumbrada uma ação preventiva, a Parmalat usou o mecanismo mais conveniente
para a empresa.
Acredito que dentro desse processo, nesse contexto, no momento em que se
gerou a crise, muito foi feito por parte da Parmalat, suponho, para que chegasse a
tomar a decisão de pedir a concordata. Parece-me que a concordata neste momento
é a situação mais cômoda para a empresa e a mais difícil para nós, como
Parlamentares, como instituições, enfim. É muito importante que haja uma ação
jurídica nesse sentido. Sem querer aqui achar culpado em relação à situação, acho
que a intervenção por parte do Ministério e do Governo, neste momento, uma
intervenção política... Parece-me que desde o início, quando foi proposta a criação
desta Comissão, existe uma preocupação por parte da Comissão de Agricultura e
dos Deputados que compõem esta Comissão Especial em relação a essa
interferência.
Mas nós, com certeza, não estávamos sequer aparelhados para agir. Acho
que esse aparelhamento veio exatamente com a iniciativa por parte da Comissão de
Agricultura — e quero aqui destacar a forma como agiu o Deputado Waldemir Moka,
juntamente com outros Deputados que compõem a Comissão, mas em função da
iniciativa do Deputado — de propor alguma iniciativa para que nós, como
Parlamentares, pudéssemos agir. Estamos agora numa encruzilhada. Na verdade,
esta Comissão está num momento “muito ruim”, vamos dizer assim, entre aspas,
para encontrar uma saída para a situação em que se encontram os trabalhadores e
fornecedores da empresa Parmalat.
Para concluir, Sr. Presidente, como é que se poderia agir? Existem várias
formas. Mas agora, infelizmente, temos que encontrar uma saída jurídica, muito bem
acompanhada pela situação política.
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Esta é a minha manifestação. Quero, mais uma vez, registrar minha
preocupação com a situação jurídica em que nos encontramos em relação a essa
questão com o pedido de concordata por parte da empresa.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Na seqüência, terá a
palavra o Deputado Adão Pretto. Em seguida, pediria a contribuição do assessor
jurídico da CNA, se for possível, no sentido de dar um enfoque em relação a essa
nova situação. Gostaria também de uma contribuição do plenário. Conversei com o
Deputado Assis Miguel do Couto, nosso Relator. Não queremos encerrar esta
reunião; queremos deixá-la em aberto. Ouviremos a parte jurídica e entraremos em
contato com o Ministro da Agricultura para ver realmente qual a atitude a ser
tomada. Tenho também a possibilidade de amanhã ter uma audiência com o Juiz
Carlos Henrique Abrão, que está entre os que criaram o Comitê de Fiscalização e
que certamente será ouvido. A impressão que tenho é que deve ser S.Exa. que
julgará o pedido de concordata. Depois me corrija, Dr. Luiz Antônio Muniz Machado,
se estiver enganado, mas me parece que esse pedido de concordata certamente
virá para S.Exa., como juiz da ação.
Com a palavra o Deputado Adão Pretto.
O SR. DEPUTADO ADÃO PRETTO - Sr. Presidente, peço desculpas aos
companheiros, amigos e representantes de entidades por não ter participado desta
reunião desde o seu início, porque estava em outras Comissões. Estou nesta Casa
há 14 anos, período em que houve várias convocações extraordinárias, mas nunca
trabalhamos tanto como nesta convocação. Durante a convocação extraordinária
acontecem sessões plenárias, as Comissões não funcionam; mas agora, com tantos
projetos polêmicos e mais esse caso da Parmalat, realmente estamos num sufoco.
Por isso não estive aqui desde o início.
Sr. Presidente, caros colegas, sempre tive um pé atrás com as multinacionais,
sempre as considerei um perigo. E aqui está o exemplo. Fazem as falcatruas lá fora
e estouram aqui. Nesse ponto gostaria de destacar o quanto essas multinacionais
têm respaldo em nosso País. Há alguns meses, entidades de trabalhadores dos 3
Estados da Região Sul — Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná —
organizaram-se e discutiram uma proposta para eles mesmos industrializarem o
leite. Foram a um banco — cujo nome não vou citar para não criar confusão —
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perguntar se poderia haver financiamento — era uma média indústria — e o gerente
respondeu que eles teriam que se aliar a uma empresa especialista no ramo. Os
agricultores perguntaram se o gerente teria alguma sugestão e ele disse que poderia
ser, por exemplo, a Parmalat.
Esse exemplo é para vocês verem como são tratadas as multinacionais no
Brasil. Consideram um risco oferecer dinheiro para que nosso povo providencie sua
própria industrialização, mas as multinacionais têm todas as regalias.
Para encerrar, quero dizer que, do meu ponto de vista — não sei se existe
alguma coisa nova, pois ouvi os colegas falarem que a cada dia aparece uma
novidade —, não vejo outra saída a não ser o Governo encampar essa empresa no
Brasil e que os trabalhadores, organizados, tanto os produtores, como os
funcionários, tomem conta dela.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Agradecemos as palavras
ao Deputado Adão Pretto.
Gostaria de pedir a contribuição do Dr. Luiz Antônio Muniz Machado,
Assessor Jurídico da CNA. Parece-me que contamos também com a presença de
outros assessores jurídicos. Gostaria de ouvi-los agora, juridicamente falando.
Lembro, até para podermos ter o foco desta audiência pública, que tínhamos
como mote ouvir os representantes e tentar um caminho jurídico que pudesse, à luz
do posicionamento de um juiz, garantir que no comitê de fiscalização criado em São
Paulo, junto à Parmalat Brasil, houvesse a presença de representantes dos
agricultores (por meio da CNA), das cooperativas (OCB), da Federação dos
Trabalhadores na Agricultura e da Federação dos Trabalhadores na Indústria de
Alimentos. Estes eram os objetivos: encontrarmos alguma medida jurídica, uma
petição, alguma coisa que pudesse garantir a presença nesse comitê dessa
representação e ainda que em cada unidade da Parmalat — isso é importante —
houvesse um interventor que representasse os segmentos envolvidos.
Passo a palavra ao Dr. Luiz Antônio Muniz Machado.
O SR. LUIZ ANTÔNIO MUNIZ MACHADO - Sr. Presidente, Deputado
Waldemir Moka, Sr. Relator, Deputado Assis Miguel do Couto, demais membros da
Mesa e integrantes desta Comissão, quando se discutiu essa questão na CNA e na
OCB o objetivo era exatamente o que já foi cogitado por diversos Parlamentares:
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como obter a continuidade das atividades por intermédio de uma intervenção estatal,
ou seja, o Estado, usando o seu poder de intervenção, de atuação em defesa do
interesse público, assumir a administração da Parmalat para que fossem
preservados tanto o direito dos credores maiores, como dos menores e dos
trabalhadores. Esse era o alvo a ser perseguido nas instituições que discutiram essa
questão na CNA.
Esse ponto nos levou a um exame preliminar da legislação italiana, que, em
48 horas, permitiu que o Estado interviesse na Parmalat italiana e assumisse o
controle das operações. Isso vinha sendo capitaneado pelo Dr. Rodolfo Tavares
dentro da CNA, era uma idéia que ele vinha discutindo. Agora, com a informação da
concordata, há uma nova variável.
Sei que estou falando para muitos advogados, mas a concordata tanto pode
ser um ato preventivo quanto suspensivo. Quando uma empresa se sente ameaçada
por credores e tem condições de honrar seus compromissos, apenas atravessa uma
situação financeira difícil, momentânea, pede uma concordata. O Estado juiz chama
os credores e diz para esperarem, porque a empresa tem um ativo capaz de
suportar o seu passivo e determina que os credores aguardem um determinado
tempo para receberem os seus créditos.
Existe a concordata suspensiva: quando um credor ataca a empresa
devedora que tem a mesma situação, ou seja, tem o seu ativo maior do que o seu
passivo, ela pode pedir, para elidir o processo de falência, a concordata suspensiva.
Aí o Estado juiz atua também na mesma situação. Examina as contas da empresa, o
ativo da empresa e toma a mesma decisão. Diz para os credores aguardarem
porque vão receber os direitos deles dentro de um determinado tempo.
Então, penso, na situação atual, como representante da CNA, que não nos
devemos assustar com a figura da concordata. É lógico que a concordata atemoriza
bastante, porque em muitos momentos na vida do nosso País ela foi utilizada de
maneira fraudulenta, para esconder verdadeiros crimes. Então, se pensarmos dessa
maneira, efetivamente temos que abdicar da idéia da concordata.
Mas se a Parmalat tomou a iniciativa de pedir uma concordata, e essa
concordata, diante de um processo falimentar, só pode ser suspensiva, e se o
Estado juiz, porque o juiz que vai decidir vai examinar, vai exercer o mesmo papel
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que exerceria, por exemplo, o Poder Executivo se tivesse intervindo... E o Estado
juiz vai assumir o controle das ações da Parmalat, vai indicar um comissário, que
será o responsável, uma pessoa da confiança do Poder Judiciário pelas operações.
Isso pode permitir que as idéias que nasceram aqui de se criar uma comissão que
seja composta de representantes das entidades de trabalhadores, das entidades
patronais, dos produtores, dos credores, porque os bancos também são credores e
temos que respeitar o direito de eles serem credores e de quererem receber também
a sua parcela... Isso, no meu ponto de vista, é um alento. Se isso está acontecendo,
o juiz, para deferir a concordata, precisa examinar a possibilidade de pagamento.
Isso implica também que, no momento em que é deferida a concordata, apenas as
dívidas existentes até aquele momento ficam suspensas. E estamos tratando de
trabalhadores e produtores rurais. Nessa questão que está aí, a continuidade exige
que haja continuidade de pagamento. Não se pode pedir que os trabalhadores
continuem produzindo nas fábricas da Parmalat sem receberem seu salário. Isso é
fundamental. Eles têm o direito de continuar recebendo, ainda que tenham algum
crédito. Não se pode pedir que os fornecedores de matéria-prima, como no caso do
leite, continuem fornecendo sem receber o pagamento. E impõem à empresa
concordatária o ônus de não mais atrasar nenhuma das contas, porque diante de
novo atraso, aí, sim, há processo de decretação da falência.
Pode ter ocorrido também uma das empresas estar num processo falimentar
e outra ter pedido concordata. Se essa notícia abrange a totalidade da Parmalat,
vem ao encontro do interesse tanto dos trabalhadores quanto dos produtores e
também desta Casa, que busca justamente proteger a comunidade dos credores,
compostos por esse trio que já mencionamos: agente financiador, fornecedores e
trabalhadores.
A situação exige análise da realidade. Esse contato, essa audiência que
V.Exa. mencionou com o juiz é fundamental, porque ele é quem vai decidir e
examinar, por intermédio de peritos, as contas, o ativo e o passivo da Parmalat. Se o
passivo for maior que o ativo, é impossível que seja concedida a concordata.
Concordata é sinônimo de moratória. Em linguagem mais simples, significa:
“Esperem, que vocês vão receber”.
É tudo o que queremos.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Indago se há
representação jurídica de outra entidade.
(Não identificado) - Não, Sr. Presidente, mas há uma discordância muito
grande com relação ao que foi dito. Quando V.Exa. me der a palavra, gostaria de
explicar o porquê.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Por favor, há alguma
entidade?
O SR. ENORI BARBIERI - Federação da Agricultura do Estado de Santa
Catarina, se me permite.
Só gostaria de contribuir. Houve caso idêntico em Santa Catarina, com a
Chapecó. Vejo que a solução da Parmalat passa pela concordata. Por que digo
isso? O passivo da Chapecó era de 1 bilhão e 100 milhões, e o ativo, de 180
milhões. E saiu a concordata. O juiz entendeu a causa social da Chapecó. A partir
desse momento, estão livres para arrendamento as plantas que a Parmalat está
fechando. É a solução para os Estados aonde a Parmalat chega, como Goiás. Se há
interessados, com uma boa conversa com o juiz e com a intermediação do Governo
Federal, como ocorreu com a Chapecó, cujo maior credor era o BNDES, com quase
700 milhões a receber, sai a concordata.
Vejo que a partir de agora a Comissão tem que se voltar para a solução
imediata: não deixar parar nem desativar as fábricas, como pensava a Parmalat. Os
Estados que se aglutinem, via cooperativa, e arrendem esses parques, que estarão
funcionando de imediato.
A concordata da Parmalat foi uma coisa premeditada, com a mão do próprio
Governo ou do Ministro da Agricultura, copiando o caso Chapecó.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Um minuto, Deputado.
Essas pessoas que estão aqui ouviram toda a audiência pública e assessoram
juridicamente as entidades. Vamos ouvi-los, até para estabelecer o contraditório.
Foi o Juiz, Dr. Carlos Henrique Abrão, que pediu a intervenção e nomeou um
comitê de fiscalização. Os bancos criaram um comitê de credores. Pergunto ao Dr.
Luiz Antônio: quanto a esse pedido de concordata, há algum dispositivo legal que
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ele terá de analisar? É isso? Posso afirmar, sem sombra de dúvida, que ele será
ouvido nisso.
O SR. LUIZ ANTÔNIO MUNIZ MACHADO - Sem sombra de dúvida, está
apreciando o processo de pedido de falência o juiz competente para examinar o
pedido da concordata suspensiva, que deve ter ocorrido, mediante o quadro. O juiz
que conduz o requerimento de falência é que examinará e deferirá ou não a
concordata suspensiva.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Por favor, Deputado.
O SR. DEPUTADO ENIO TATICO - Sr. Presidente, discordo com o orador
que me antecedeu, porque, quando é distribuído um processo, não se sabe na mão
de qual juiz ele vai cair. Esse processo é de São Paulo e será examinado em
Pernambuco. Repito, discordo da afirmação do Sr. Luiz Antônio de que o mesmo juiz
julgará a matéria. Por que o seria, se tal autoridade está prejudicando a Parmalat? O
advogado da empresa não entrará com o pedido de concordata justamente com
esse juiz.
Outro ponto de que discordo é que a maior punição, caso a concordata seja
concedida, será a falência. Nesse caso, deixem falir agora. Estamos fazendo papel
de bobos nesta reunião. Nosso objetivo é tentar salvar os fornecedores e as
empresas. Se é para aceitar a concordata, não há necessidade de realizar esses
encontros.
Sr. Presidente, desculpe-me se fui grosseiro.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Deputado, V.Exa. tem todo
o direito de expressar sua opinião.
Não quero fazer juízo de valor, mas faço a pergunta porque ela é importante.
Entrei em contato com os responsáveis para conhecer melhor o assunto. O Dr.
Carlos, desde o primeiro momento, entende que a situação é difícil. Ele defende a
gestão compartilhada, a manutenção do complexo da Parmalat, a participação dos
trabalhadores. Em contato com ele, percebi que ele é a favor dessas ações.
Temos audiência com o Ministro da Agricultura. Neste momento, considero
oportuno suspende a reunião para ouvir S.Exa. Logo em seguida — sem encerrar a
audiência pública —, se for o caso, tomaremos alguma decisão.
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Quero ouvir a opinião de cada participante, da OCB, da CNA, da
representação dos trabalhadores, quanto ao fato de ser possível, amanhã, promover
audiência pública com o juiz, contando com a presença de cada um em São Paulo.
Na minha opinião, que deve ser submetida ao Plenário, realizar uma audiência com
esse juiz nos permitirá apresentar a necessidade de promoção da gestão
compartilhada.
Gostaria de ouvir a opinião daqueles que representam a CNA, as demais
entidades e os Parlamentares.
O SR. RODRIGO SANT’ANNA ALVIM - Sr. Presidente, a CNA estará
presente à audiência, representada pelo titular da Comissão, Sr. Rodrigo Alvim, e
com a assessoria do Dr. Lula.
O SR. MÁRCIO LOPES DE FREITAS - Sr. Presidente, a OCB também estará
presente ao evento. Considero importante o auxílio da assessoria jurídica. O Chefe
do Departamento Jurídico da OCB também participará do evento.
O SR. ALBERTO BROCH - Sr. Presidente, consultei o meu amigo Diretor da
CONTAG, Juraci Moreira Souto, a fim de firmar opinião de que a Confederação
estará presente à reunião, porque entendemos que a notícia da concordata muda a
forma de as pessoas agirem. Estaremos presentes ao evento, com toda a certeza.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Parece que não fui claro
ao expressar meu objetivo. Em contato preliminar, por telefone, o Juiz Carlos
Henrique Abrão me garantiu que nos receberia. Meu objetivo é que o juiz ouça
representantes da Comissão e dos setores envolvidos para, quem sabe, com a
assessoria jurídica, definirmos o caminho. Antes, quero ouvir o Ministro da
Agricultura, mas preciso ter garantia da presença dos segmentos interessados.
Decidido isso, e se o juiz conceder audiência — pode ser que não conceda, porque
não havia a concordata —, quero garantir a presença dessas representações.
O SR. SIDERLEI SILVA DE OLIVEIRA - Sr. Presidente, nossa Confederação
estará presente à audiência, inclusive com assessoria jurídica.
O SR. DIRCEU LUIZ DRESCH - Sr. Presidente, temos interesse em participar
da discussão e buscaremos todas as formas de ajudar juridicamente.
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O SR. ALTAIR CELUP - Nós também, do Fórum Sul, estamos aí para
participar dessa audiência, porque temos de resolver esse problema com a maior
urgência.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Quero informar ao
Plenário que o Ministro da Agricultura nos receberá agora às 17h30min. A reunião
está agendada e os Srs. Parlamentares que quiserem podem nos acompanhar.
Creio seja apenas uma questão de economia de tempo. Quero ouvir agora o Sr.
Ministro. Estou dizendo isso porque obtive a permissão do juiz para que fizesse o
contato. Ele disse, antecipadamente, que nos receberia.
Portanto, submeto à concordância do Plenário esse passo da Comissão.
Com a palavra o Deputado Roberto Balestra.
O SR. DEPUTADO ROBERTO BALESTRA - Sr. Presidente, acho que foi
muito importante a fala dos advogados com relação ao processo. Mas, numa opinião
muito particular, o juiz está concedendo essa audiência porque precisa formar uma
opinião maior. Os fatos levam a uma decisão favorável porque representamos o que
é mais importante, o social. É por isso que ele deve decidir em favor da causa que
estamos levando e da nossa pretensão de intervenção nas unidades do interior.
Aproveito a oportunidade para dizer, como na formação da Comissão, que
começamos com o pé direito. Quando o Relator e o Presidente conseguiram
elaborar aquela pauta ontem e apresentá-la num tempo recorde, já com coisas
bastante definidas, mostraram que estamos trabalhando bem. Hoje, com a presença
de todas as entidades e com essa séria disposição de luta, só posso esperar que
alcancemos o sucesso. É lógico que não será da noite para o dia, mas o sucesso
virá. O Governo deve estar trabalhando a possibilidade de solução política para esse
problema para evitar, inclusive, que tais fatos se repitam. Tenho certeza de que o
Governo mandará alguém a São Paulo.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Com a palavra o
Deputado João Grandão.
O SR. DEPUTADO JOÃO GRANDÃO - Sr. Presidente, tive a incumbência de
liderar a bancada do PT nesta Comissão. Estaremos muito bem representados
nessa reunião com o Ministro da Agricultura pelo Deputado Assis Miguel do Couto,
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Relator da matéria, e creio que não haja necessidade de mais uma representação
do PT.
Quero fazer uma indagação, mas não sei se a resposta pode ser dada agora.
Em relação à situação jurídica, sabemos que o poder de coercibilidade é do Estado,
e, nesse sentido, o juiz é o Estado. Portanto, ele vai decidir. A minha questão —
talvez seja vaga — é sobre a preferência de crédito, porque sabemos que ela existe
em algumas situações, de forma específica no crédito trabalhista, no caso de
falência ou insolvência. Então, tendo o juiz o poder de coercibilidade do Estado, em
função de crédito de bancos, de fornecedores diversos e de atendimento ao social,
ele pode fazer a priorização de crédito?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Pode responder, por favor.
O SR. LUIZ ANTÔNIO MUNIZ MACHADO - Em primeiro lugar, Deputado,
nenhuma de suas perguntas é vaga, todas são objetivas. Existe realmente
legislação que define os créditos que são atendidos primeiro, os chamados créditos
privilegiados. O juiz não pode se afastar do dispositivo legal, ele só pode aplicar o
que o Código de Processo Civil determina. Mas isso não inviabiliza a possibilidade
de o Estado executivo eventualmente assumir a compra desse direito do credor
quirografário, conforme fez em relação ao Fundo de Garantia: num determinado
valor, ele entendeu que poderia pagar de imediato; noutro, em 10 parcelas; e num
terceiro, num número maior. E quem não quis transacionar o seu crédito teve
garantido o direito de acesso à Justiça para receber a integralidade. Então, é
possível, sim. Trata-se de aspecto administrativo. Os pequenos produtores, que têm
efetivamente maior dificuldade e maior necessidade, podem ser supridos pelo braço
executivo do Estado, por intermédio da aquisição ou do financiamento desse direito.
É uma alternativa.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Em função do horário, irei
até o Ministro. Quero informar também que fui advertido pela Presidência da Casa
de que vamos ter votação nominal.
Queria rapidamente informar que os Deputados Zonta e Vittorio Medioli
estiveram agora à tarde com o Embaixador italiano para estabelecer contato com as
autoridades e o Parlamento italiano para ver como tudo está acontecendo lá, e se é
possível um contato desta Comissão com aquelas autoridades.
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Peço a um dos colegas que faça um relato, ainda que breve, dessa audiência.
O SR. DEPUTADO ZONTA - Sr. Presidente, caros Parlamentares, entidades
aqui presentes, cumprimos a missão juntamente com o Deputado Vittorio Medioli, e
reconhecemos a amabilidade e a presteza do atendimento do Embaixador Vincenzo
Petroni, que está fazendo, a partir deste momento, contato com o governo italiano.
Pedimos contato com o interventor, com o Parlamento italiano, com a Comissão de
Finanças, que está trabalhando a investigação, com o Ministro da Agricultura e com
o Ministro das Finanças, que não vêem problema algum. É importante esclarecer
que o Brasil não é descartável, e muito menos o ralo do mundo, pois reconhece a
preocupação dos geradores de empregos etc.
Então, foi altamente positivo o contato e está aberto o canal de negociação. O
Embaixador deve em breve marcar encontro com essas lideranças.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Agradeço a V.Exa. o
esclarecimento, Deputado.
Vou suspender a reunião durante a votação em plenário. Retornaremos às
19h30min para que eu possa informar todas as tratativas e, se for o caso, adotar
novas medidas.
(Não identificado) - Sr. Presidente, a título de contribuição, acho que V.Exa.
poderia indicar o número de Deputados necessário para acompanhá-lo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Waldemir Moka) - Deputado, todos que aqui
estão podem fazer parte da audiência.
Está suspensa a reunião.
(A reunião é suspensa.)