Dependência química: o que todo médico precisa saber CREMESP 19 de maio de 2012 UNICAMP.
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Dependência química: o que todo médico precisa saber
CREMESP
19 de maio de 2012
UNICAMP
Tabagismo: histórico, aspectos epidemiológicos, farmacologia, síndrome
de abstinência e tratamento
Renata Cruz Soares de Azevedo
Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP
UNICAMP
Histórico
Até anos 60 minimização dos riscos
Anos 20-60Glamourização
do uso
Sec XVIUso
terapêutico
Uso ritualístico
80’s nexo causalCA
90’s, XXIMedidas de combate
Atualidade
2003: Convenção Quadro para Controle do Tabaco
2009: Lei No 13.541-Fica proibido no território do Estado de São Paulo, em ambientes de uso coletivo, públicos ou privados, o consumo de cigarros, cigarrilhas, charutos ou de qualquer outro produto fumígeno, para criação de ambientes de uso coletivo livres de produtos fumígenos.
Prevalência de fumantes no Brasil
19891 20032 20063 20084 20115
Total 35 22 16,2 16 14,8
Masculino 43 27 20 21 18,1
Feminino 27 18 13 12 12
1 PNSN 19892 Fiocruz 2003 Pesquisa Mundial de Saúde3,4,5 MS/SVS– Vigitel Brasil
O cigarro
Nucleusaccumbens
(nAcc)
Área tegmentar
ventral(VTA)
Nicotina
Dopamina
Mesolimbic System
4 2224
Receptor nicotínico
4b2
Tabagismo
• Reforço positivo: - Ação da nicotina na Área de Recompensa Cerebral liberando dopamina e resultando em sensações prazerosas - Ação nos receptores colinérgicos do tipo nicotínico proporcionando redução do apetite, aumento da disposição, do estado de alerta e da atenção
• Condicionamento: - Desencadeado por estímulos ambientais e emoções positivas e negativas associadas ao ato de fumar
• Reforço negativo: - Manutenção do uso para evitar o desconforto proporcionado pelos sintomas da síndrome de abstinência, principalmente ansiedade, disforia, aumento do apetite, irritabilidade e dificuldade de concentração
Aspectos sócio-culturais
• Droga lícita
• Associado a independência e rebeldia
• Poucos malefícios a curto prazo
• Baixo custo
• Marketing/interesses econômicos
Tabagismo e saúde pública•Tabagismo ativo é a principal causa de morte evitável no mundo•Tabagismo passivo é a terceira causa de morte evitável no mundo•O tabagismo materno é o principal fator de risco evitável de problemas perinatais•A expectativa de vida de um indivíduo que fuma é 25% menor que a de um não fumante•Responsável por 4.000.000 de mortes/ano no mundo e 210.000 no Brasil•Estima-se que mais de 80% das mortes por DTR em 2030 ocorrerão em países em desenvolvimento•Parar de fumar em qualquer idade reduz a morbidade e a mortalidade dos tabagistas
Rigotti,Cochrane Database of Systematic Reviews 2007. Ong, Respirology, 2005. Slade, Addictions: a comprehensive guidebook. 1999. Centers for Disease Control and Prevention,1993. Mathers, PLoS Medicine,
2006
Mortalidade tabaco relacionada• Estudo realizado em 16 capitais brasileiras em 2003
• Das 177.543 mortes de pessoas ≥ 35 anos de idade, 24.222 (13,6%) foram
atribuíveis ao tabagismo
• 18,1% em homens e 8,7% em mulheres
• As 4 principais causas de mortes atribuíveis ao tabagismo foram: obstrução
crônica vias aéreas, doença cardíaca isquêmica, câncer de pulmão e doença
cerebrovascular
• O tabagismo causou uma em cada cinco mortes do sexo masculino e uma
em cada dez mortes do sexo feminino nas 16 capitais em 2003
Corrêa PCRP, Barreto SM, Passos VMA. BMC Public Health, 2009
Abordagem do tabagista
Paciente fuma?
Não e idade > 20 anosReforçar o
comportamento e sua
manutenção
Não e idade < 20 anosReforçar o
comportamento, informar sobre
tabagismo e perda de
qualidade de vida
Sim
Tem pensado em parar de fumar?
Não
Sim
Informações sobre danos do tabagismo, sugerir que pense no assunto, informar sobre tratamento
e abordar na próxima consullta
Teste de Fageström Instaurar tratamento
Se já tomou alguma iniciativa, adequá-la, se necessário.
Se não tomou oferecer tratamento
Valorizar na abordagem
• História tabágica• Tentativas anteriores de cessação• Apoio social• Avaliação da dependência• Doenças físicas• Doenças e/ou sintomas psiquiátricos• Auto-monitoramento de situações de risco• Manejo da fissura• Avaliar os temores• Grau de motivação
Motivação
Estímulo consciente ou inconsciente para a ação rumo a um objetivo desejado, proporcionado por fatores psicológicos ou sociais, o que dá propósito ou direção ao comportamento
• Motivação para a mudança• Motivação ao uso• Ambivalência
Recaída
Pré contemplação
Contemplação
Determinação
Ação
Questionário de Tolerância de FagerströmQuanto tempo depois de acordar você fuma o primeiro cigarro?
0-após 60 minutos
1- 31-60 minutos
2- 6-10 minutos
3- nos primeiros 5 minutos
Você tem dificuldade de ficar sem fumar em locais proibidos?
0- não
1- sim
Que cigarro é mais difícil de evitar? 0-qualquer um
1- o primeiro da manhã
Quantos cigarros você fuma por dia? 0- 10 ou menos
1- 11 a 20
2- 21 a 30
3- 31 ou mais
Você fuma mais nas primeiras horas do dia? 0- não
1- sim
Você fuma mesmo quando está doente aponto de ficar acamado?
0- não
1- sim
Leve: 0-4 Médio: 5-7Alto: 8-10
Tratamento farmacológico
Produto Evidência The Cochrane Database of Systematic Review –
Smoking cessation Terapia de Reposição de Nicotina (TRN)
Todas as formas de TRN auxiliam os tabagistas a pararem de fumar, quase dobrando a chance de sucesso a longo prazo. Terapêutica de 1ª linha
Bupropiona Dobra a chance de sucesso a longo prazo, independente do efeito antidepressivo. Terapêutica de 1ª linha. Considerar efeitos colaterais e restrições de uso
Vareniclina Mostrou-se três vezes superior ao placebo e superior à bupropiona, com menos efeitos colaterais. Cautela em transtornos mentais
Nortriptilina Aumenta a chance de sucesso a longo prazo, independente de seu efeito antidepressivo. Terapêutica de 2ª linha. Considerar efeitos colaterais
Aconselhamento profissional da saúde
Aumenta a chance de cessação, sendo mais efetivo quanto mas mais intensivo
Produto Orientações Principais efeitos indesejáveis
Adesivo de nicotina
Iniciar na noite anterior à data de parada, trocar a cada 24hs. Colocar em região do corpo sem pêlos. Liberação estável de nicotina. Apresentações de 21, 14 e 7 mg.
Reação cutânea no local da aplicação
Goma de nicotina
Mascar vigorosamente até a liberação da nicotina na mucosa, em intervalos de 1 a 2 horas e no máximo 15 gomas ao dia. Libera nicotina agudamente. Mais indicada para quem fuma em picos.
Dor à mastigação. Cuidados especiais se o paciente usar prótese dentária
Bupropiona Iniciar 7 a 10 dias antes da data de parada. Começar com 1 cp de 150 mg/dia pela manhã, após o 3º dia 150 mg pela manhã e 150 mg à tarde, intervalo de 8 horas, evitar tomada noturna
Redução do limiar convulsivo, náusea e insônia
Nortriptilina Iniciar 10 a 15 dias antes da data de parada. Começar com 25 mg/dia e otimizar dose a cada 3 dias até 75mg/dia
ECG antes do início, boca seca, constipação e náusea
Vareniclina 0,5 mg por 3 dias; 0,5 mg 2x ao dia por 4 dias, semana 2 a 12 1 mg 2 x ao dia
Náuseas, elevação da PA
Recaída
• Aceitar sem críticas
• Diferenciar lapso de recaída
• Estimular a tentar de novo
• Identificar os fatores que contribuíram para a recaída
• Traçar estratégias para nova tentativa
• Avaliar causas e circunstâncias do insucesso
• Avaliar farmacoterapia
Tabagismo na gestação
• RN baixo peso
• Partos prematuros
• Elevação do risco de assistência em UTI neonatal
• As chances de sucesso são 3 vezes maiores
• Somente 49% dos obstetras americanos advertem as pacientes quanto às conseqüências do tabagismo e apenas 28% discutem estratégias de abandono
Os programas de prevenção e tratamento do tabagismo na gestação apresentam as melhores relações custo-benefício dentre as estratégias de promoção da saúde.
Leopércio & Gigliotti. Jornal Bras Pneumol, 2004
Ambulatório de tabagismo do ASPA HC/UNICAMP
Paciente procura tratamento para “parar de fumar”
Grupo motivacional
Triagem
Grupo terapêutico
Manutenção no grupo motivacional
Alta
Ambulatório de tabagismo do ASPA HC/UNICAMP
• Resultados imediatos ao final do tratamento: – 79% dos pacientes pararam de fumar– 5% reduziu o número de cigarros– 14% manteve o padrão– 2% aumentou o número de cigarros
• Seguimento após 25 meses:– 62% continuava sem fumar– 27% recaiu com o mesmo padrão anterior à cessação– 4% recaiu com padrão menor– 7% parou de fumar após o tratamento ter terminado
Azevedo RCS et al. Therapeutic group for smokers: results after two yearfollow up. RAMB, 2010
Atenção aos tabagistas pela capacitação de profissionais da rede pública
Dados do seguimento:
• 92% dos profissionais desenvolveram medidas de abordagem ao tabagismo em sua Unidade
• 54% treinaram membros de sua equipe• 19% treinaram outras equipes• 38% realizaram atividades para a comunidade• Foram atendidos 3.419 tabagistas em abordagem mínima individual e 982 em
abordagem grupal• Destes, 9.2% conseguiram parar de fumar• Principais dificuldades relatadas pelos profissionais:
– Falta de medicação (38%)– Falta de apoio/estrutura da unidade (29%)– Baixa adesão dos pacientes (11%)
Azevedo RCS. Atenção aos tabagistas pela capacitação de profissionais da rede pública. Rev. Saúde Pública, 2008
Internação em Hospital Geral: oportunidade pouco utilizada
• Alguns elementos tornam a internação em um hospital geral um momento propício para intervenção:– Estar em um ambiente no qual o uso de tabaco é restrito
ou proibido– Pacientes encontram-se mais receptivos às orientações de
saúde quando internados, principalmente se o quadro que motivou a hospitalização estiver relacionado ao tabagismo
EIBO-TABAGISMOAzevedo RCS, Botega N. General Hospital Psychiatry, 2010
• 450 tabagistas internados em enfermarias do Hospital de Clínicas da Unicamp e pais que acompanhavam crianças internadas na Enfermaria de Pediatria.
• Intervenção de alta intensidade: entrevista motivacional de 30 a 40 minutos, seguida de oito telefonemas durante seis meses
• Intervenção de baixa intensidade: 15 minutos de aconselhamento sobre os benefícios da cessação tabágica
• Tratamento usual: ausência de intervenção realizada pela equipe de pesquisa
• Avaliação após seis meses da intervenção:• Taxa de cessação de 44,9%*, 41,7%* e 26,3%** entre os internados • Taxa de cessação de 50%**, 20,7%** e 17%* entre os pais acompanhantes da
pediatria
*p<0,05** p< 0,01