Depois da ponte (uma história de jem cartairs e tessa gray)

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Depois da PontePelo jeito, Tessa tinha um apartamento próprio em Londres. Era no segundo andar de uma casinha branca em Kensington, e enquanto ela o guiava para dentro – sua mão tremendo apenas um pouco ao girar a chave na fechadura – explicou para Jem que Magnus havia dito que feiticeiros poderiam manter suas casas para si durante os séculos ao vendê-las para si mesmos.

“Depois de um tempo, eu comecei a escolher nomes bobos,” ela disse, fechando a porta atrás deles. “Acho que essa casa está no nome de Bedelia Codfish.”

Jem riu, sua mente apenas parcialmente nas palavras. Ele estava observando o apartamento – as paredes estavam pintadas em cores vibrantes: uma sala de estar lilás, decorada com sofás brancos, uma cozinha verde-abacate. Quando Tessa comprou o apartamento, ele se perguntou, e por que? Ela viajou tanto, por que se fixar em Londres?

A pergunta ficou presa em sua garganta quando ele se virou e notou uma porta parcialmente aberta, ele podia ver paredes azuis do que era provavelmente um quarto.

Sua boca ficou seca repentinamente, e ele engoliu o nada. A cama de Tessa. Onde ela dormia.

Ela o encarou. “Você está bem?”

Ela pegou seu pulso, e ele sentiu sua pulsação acelerar ao toque. Até virar um Irmão do Silêncio, isso sempre aconteceu. Ele se perguntava durante seu tempo em Idris, após o fogo celestial o curar, se as coisas ainda seriam as mesmas entre eles: se seus sentimentos humanos iriam voltar. Ele pôde a tocar e estar perto dela enquanto era um Irmão do Silêncio sem a querer como a queria antes, quando era mortal. Ele ainda a amava, mas era um amor espiritual, não corporal. Ele se perguntava – até temia, se os seus sentimentos e suas respostas físicas não iriam voltar. Ele disse a si mesmo que, se a Irmandade do Silêncio tivesse acabado com a habilidade de seus sentimentos se manifestarem fisicamente, ele não ficaria decepcionado. Ele disse a si mesmo para esperar por isso.

Ele não deveria ter se preocupado.

No momento em que ele a viu na ponte, vindo em sua direção através da

multidão, em seus jeans modernos e seu cachecol, seu cabelo voando, ele sentiu sua respiração parar.

E quando ela tirou o pingente de jade que ele a deu de seu pescoço e o devolveu, seu sangue rugiu em suas veias como um rio indomado.

E quando ela disse, Eu amo você, sempre amei e sempre irei amar, ele precisou de toda a força que possuía para não beijá-la naquele momento. Mais do que beijá-la.

Mas se a Irmandade o ensinou algo, foi o controle. Ele a olhou e forçou sua voz a parecer firme. “Um pouco cansado,” ele disse. “E com sede – eu esqueci que agora preciso comer e beber.”

Ela deixou as chaves na mesa de canto e sorriu para ele. “Chá,” ela disse, indo até a cozinha. “Eu não tenho muita comida aqui, já que não fico por muito tempo, mas eu tenho chá. E biscoitos. Vá até a sala de visitas, irei logo em seguida.”

Ele teve que sorrir; até ele que ninguém mais dizia sala de visitas. Talvez ela estava tão nervosa quanto ele? Ele poderia sonhar.

* * *

Tessa xingou mentalmente pela quarta vez enquanto se curvava para pegar a caixa de cubos de açúcar do chão. Ela já havia colocado a chaleira sem água, misturado os saquinhos de chá, derrubado o leite, e agora isso. Ela colocou os cubos em ambas as xícaras de chá e disse a si mesma para contar até dez, vendo os cubos dissolvendo.

Ela sabia que suas mãos estavam tremendo. Seu coração acelerou. James Carstairs estava em seu apartamento. Na sua sala de estar. Esperando por chá. Parte de sua mente gritava que era apenas Jem, enquanto a outra gritava mais alto que só Jem era alguém que ela não via em cento e trinta e cinco anos.

Ele havia sido o Irmão Zacariah por tanto tempo. E, claro, ele sempre foi o Jem, sua inteligência e bondade extrema. Ele nunca falhou em seu amor por ela ou por Will. Mas os Irmãos do Silêncio – eles não sentiam as coisas como as pessoas normais.

Era algo que no qual ela havia pensado, as vezes, há algum tempo, muitas décadas após a morte de Will. Ela nunca quis ninguém além de Will e Jem, e ambos a deixaram, mesmo Jem ainda estando vivo. Ela se perguntou o que

eles fariam se os Irmãos do Silêncio fossem proibidos apenas de amar ou de se casarem, mas era mais do que isso: ele não podia desejá-la. Ele não tinha esses sentimentos. Ela se sentia como Pygmalion, ansiando pelo toque de uma estátua de mármore. Eles não tinham desejos físicos pelo toque, não mais do que precisavam de comida ou água.

Mas agora…

Eu esqueci que agora preciso comer e beber.

Ela pegou as xícaras de chá com suas mãos ainda tremendo e as levou para a sala de estar.

Ela mesmo decorara o ambiente ao longo dos anos, desde as almofadas do sofá até a tela japonesa pintada com papoulas e bambu. As cortinas que emolduravam as janelas do outro lado sala estavam meio abertas, o bastante para deixar a luz entrar no cômodo e pintar de dourado as pontas do cabelo escuro de Jem, e com isso ela quase derrubou as xícaras.

Eles mal se tocaram no táxi em Queen’s Gate, apenas suas mãos dadas firmemente no banco traseiro. Ele passara os dedos pela palma de sua mão várias vezes enquanto contava a história de tudo o que acontecera desde a última vez ela que visitara Idris, quando a Guerra Mortal, que ela havia lutado, acabou. Quando Magnus havia mostrado Jace Herondale para ela, e ela olhou para o rapaz que tinha o lindo rosto de Will e os olhos iguais aos do seu filho James.

Mas seu cabelo era de seu pai, a bagunça de cachos dourados, e lembrando o que ela conhecia sobre Stephen Herondale, ela se virou sem dizer uma palavra.

Herondales, alguém a disse uma vez. Eles eram tudo o que os Caçadores de Sombras tinham para oferecer, tudo em uma só família: tanto o melhor, quanto o pior.

Ela colocou as xícaras na mesinha de café – um velho baú coberto de selos coletados ao longo de suas várias viagens – com um baque audível. Jem se virou para ela e ela viu o que ele tinha em suas mãos.

Uma das estantes possuía uma amostra de armas: coisas que ela havia recolhido ao redor do mundo. Uma pequena misericorde, uma adaga curvada, uma faca de lançamento, uma espada curta, e dúzias de outras. Mas a que Jem havia pego e encarava era uma faca fina e prateada, sua

empunhadura escurecida pelos anos em que passou debaixo da terra. Ela nunca limpou, pois a mancha na lâmina era o sangue de Will. A lâmina de Jem, o sangue de Will, enterrados juntos nas raízes de uma árvore, uma oferenda sincera que Will havia feito quando pensou que havia perdido Jem para sempre. Tessa recuperara após a morte de Will e oferecido a Jem; ele recusou.

Isso fora em 1937.

“Fique,” ele disse, sua voz falhando. “Talvez algum dia.”

“Foi isso que você me disse.” Ela se moveu até ele, seus sapatos fazendo barulho no chão de madeira. “Quando eu tentei te devolver.”

Ele engoliu em seco, passando seus dedos pela lâmina. “Ele acabara de morrer,” ele disse. Ela não precisou perguntar quem. Havia apenas um Ele quando ambos estavam conversando. “Eu estava com medo. Vi o que acontecia com os outros Irmãos do Silêncio. Eu vi como eles endureciam ao longo do tempo, como perdiam quem eram antes. Como que, ao perder as pessoas que eles amavam e os amavam, eles se tornavam menos humanos. Eu estava com medo que perderia minha habilidade de me importar. Esquecer o que essa faca significava para Will, e o que Will significava para mim.”

Ela encostou em seu braço. “Mas você não esqueceu.”

“Eu não perdi todos que amei.” Ele olhou para ela, e ela viu que seus olhos também tinham um tom dourado, gotas preciosas e brilhantes mergulhadas no castanho. “Eu tinha você.”

Ela expirou; seu coração batia tão rápido que seu peito doía. Então ela viu que ele estava apertando a lâmina. Rapidamente, ela puxou de suas mãos. “Por favor, não,” ela disse. “Não posso desenhar um iratze.”

“E eu não tenho uma estela,” ele disse, observando enquanto ela colocava a faca de volta no lugar. “Não sou um Caçador agora.” Ele olhou para suas mãos, onde linhas finas e vermelhas riscavam sua palma, mas a pele não estava cortada.

Impulsivamente, Tessa se curvou e beijou suas palmas, depois fechou seus dedos, as mãos dela cobrindo as dele. Quando ela o olhou, suas pupilas haviam dilatado. Ela conseguia ouvir sua respiração.

“Tessa,” ele disse. “Não.”

“Não o que?” Ela se afastou, instintivamente. Talvez ele não quisesse ser tocado, não que isso tivesse sido aparente na ponte.

“Os Irmãos me ensinaram o controle,” ele disse, sua voz fraca. “Eu tenho todo tipo de controle, e eu aprendi durante décadas e décadas, e estou usando todos eles para não te empurrar na estante e te beijar até nenhum de nós conseguir respirar.”

Ela levantou o queixo de Jem. “E o que teria de errado nisso?”

“Quando eu era um Irmão do Silêncio, eu não me sentia como um homem qualquer,” ele disse. “Não sentia o vento em meu rosto, ou o sol em minha pele, ou o toque de outra mão. Mas agora, eu sinto. Eu sinto – e muito. O vento é como trovão, o sol é como fogo, e seu toque me faz esquecer meu próprio nome.”

Uma onda de calor passou por ela, um calor que começou em seu estômago e se espalhou para todo o resto de seu corpo. Uma sensação que ela não sentia em décadas. Quase um século. Sua pele formigava. “Você irá se acostumar com o sol e com o vento,” ela disse. “Mas seu toque também em faz esquecer meu nome, e eu não tenho nenhuma desculpa para isso. Apenas que eu te amo, sempre te amei e sempre irei amar. Não irei te tocar se você não quiser, Jem. Mas se estamos esperando até que a ideia de estar juntos não nos assuste, nós esperamos por muito tempo.”

A respiração de Jem falhou. “Repita.”

Confusa, ela começou. “Se nós estamos esperando até –“

“Não,” ele disse. “A outra parte.”

Ela levantou seu rosto até encará-lo. “Eu te amo,” ela disse. “Sempre amei, e sempre irei amar.”

Ela não soube dizer quem se moveu primeiro, mas ele a pegou pela cintura e a estava beijando antes que ela pudesse respirar. Não era como o beijo na ponte. Aquilo havia sido como uma comunicação silenciosa de lábios, a troca de uma promessa e de reconforto. Foi doce e despedaçado, como um trovão gentil.

Isso era uma uma tempestade. Jem estava a beijando, forte e desesperado, e quando ela abriu os lábios e sentiu o gosto do interior de sua boca, ele arquejou e a puxou mais forte para si, suas mãos afundando em seus quadris, trazendo-a para ainda mais perto enquanto explorava seus lábios e sua

língua, acariciando, mordendo, e então beijando para amenizar as ações. Nos dias antigos, quando ela o beijara, ele tinha gosto de açúcar queimado: agora, o gosto era de chá e – pasta de dente?

Por que não pasta de dente? Até mesmo Caçadores de Sombras com mais de cem anos precisam escovar os dentes. Uma risadinha nervosa escapou de sua garganta e Jem se afastou, atordoado e deliciosamente amarrotado. Seu cabelo estava apontando para todos os lados após ela correr suas mãos por ele.

“Por favor, não me diga que você está rindo porque eu beijo tão mal que é engraçado,” ele disse, com um sorriso escapando pelos cantos dos lábios. Ela podia sentir sua preocupação. “Eu posso estar fora de prática.”

“Irmãos do Silêncio não beijam muito?” ela provocou, alisando a frente de seu suéter.

“Não, a não ser que eu não tenha sido convidado para orgias secretas,” Jem disse. “Eu realmente sempre me preocupei que não era popular.”

Ela puxou seu pulso. “Venha aqui,” ela disse. “Sente – tome um pouco de chá. Tem algo que eu quero te mostrar.

Ele foi, como ela pediu, e se sentou em seu sofá de veludo, encostando-se às almofadas que ela mesma havia costurado, com tecidos que ela trouxera da Índia e Tailândia. Ela não conseguia esconder um sorriso – ele parecia apenas um pouco mais velho do que antes de se tornar um Irmão do Silêncio, parecido com um jovem rapaz normal usando jeans e um suéter, mas ele se sentava de um jeito que um homem da era Vitoriana nunca se sentaria – costas retas, pés fixos no chão. Ele a pegou olhando, e sua boca levantou-se nos cantos. “Tudo bem,” ele disse. “O que você quer me mostrar?”

Ela foi até a tela Japonesa que estava no canto da sala, e se escondeu atrás. “É uma surpresa.”

Sua penteadeira estava lá, escondida do resto do ambiente. Ela não conseguia vê-lo através da tela, apenas um borrado de linhas e formas. “Fale comigo,” ela disse, puxando seu suéter pela cabeça. “Você disse que era uma história de Lightwoods, Fairchilds e Mongersterns. Eu sei um pouco do que aconteceu – recebi sua mensagem enquanto estava no Labirinto – mas eu não sei como a Guerra Mortal influenciou sua cura.” Ela jogou a peça de roupa por cima da tela. “Pode me dizer?”

“Agora?” ele disse. Ela ouviu a xícara sendo colocada na mesa.

Tessa tirou os sapatos e a calça jeans, o som alto na sala silenciosa. “Você quer que eu saia dessa tela, James Carstairs?”

“Definitivamente.” Sua voz estava estranha.

“Então comece a falar.”

* * *

Jem falou. Ele falou sobre os dias sombrios em Idris, do exército de Crepusculares de Sebastian Morgenstern, de Jace Herondale e Clary Fairchild e as crianças Lightwood e sua perigosa jornada até Edom.

“Eu ouvi falar de Edom,” ela disse, sua voz abafada. “Eles falam sobre isso no Labirinto Espiral, onde eles acompanham todas as histórias de todos os mundos. Um lugar onde os Nefílim foram destruídos. Um terreno baldio.”

“Sim,” disse Jem, um pouco avoado. Ele não podia vê-la pela tela, mas podia ver a forma de seu corpo, e isso era de alguma forma pior. “Terreno baldio em chamas. Muito… quente.”

Ele estava com medo de não sentir mais nenhum desejo: que ele olharia para Tessa e sentiria um amor platônico, mas não poderia querer nada, mas a verdade era o oposto. Ele não conseguia parar de querer. Ele queria, ele pensou, mais do que antes.

Ela estava obviamente trocando de roupa. Ele havia desviado o olhar quando ela começou a tirar seus jeans, mas ele não conseguia esquecer a imagem. A silhueta dela, seus longos cabelos e suas longas e adoráveis pernas – ele sempre amou suas pernas.

Obviamente ele havia sentido isso, quando era um garoto? Ele lembrou da noite em seu quarto quando ela o impediu de destruir seu violino, e ele a queria, a queria tanto que não pensara quando caíram em sua cama: ele tiraria sua inocência ali mesmo, e daria a dele, sem parar para pensar no futuro. Se eles não tivessem derrubado a caixa de yin fen. Se. Isso o trouxe de volta, o lembrou de quem ele era, e quando ela se foi, ele destruiu seus lençóis com seus dedos de tanta frustração.

Talvez a lembrança do desejo era mais do que o desejo em si. Ou talvez ele fosse mais doente antes, mais fraco. Ele estava morrendo, afinal, e seu corpo talvez não aguentaria isso.

“Uma Fairchild e um Herondale,” ela disse. “Bom, eu gosto disso. As Fairchilds sempre foram práticas, e os Herondales – bem, você sabe.” Ela parecia animada, como se estivesse se divertindo. “Talvez ela o acalme. E não me diga que ele não precisa ser acalmado.”

Jem pensou em Jace Herondale. Em como ele parecia com Will se alguém tivesse botado fogo em Will, e ele se tornasse um fogo ambulante. “Não sei se você pode acalmar um Herondale, mas com certeza, não esse.”

“Ele a ama? A garota Fairchild?”

“Nunca vi alguém tão apaixonado, tirando…” sua voz se perdeu, pois ela havia saído da tela, e agora ele entendia porque ela demorara tanto.

* * *

Ela estava usando um vestido de seda de orquídea radiante, o tipo de vestido que ela deve ter usado em um jantar quando era casada. Era decorado com partes de veludo branco, a saia da cintura pra baixo – ela estava usando uma cirolina?

Sua boca abriu. Ele não conseguia se controlar. Ele encontrou sua beleza através de todas as mudanças ao longo do século: era linda nas roupas cuidadosamente cortadas nos anos de guerra, quando os tecidos eram escassos. Era linda nos vestidos elegantes dos anos cinquenta e sessenta. Era linda nas saias curtas e botas que vieram no fim do século.

Mas isso era como as meninas se pareciam quando ele as percebeu, primeiro as achou fascinantes e não irritantes, primeiro notou a linha graciosa de um pescoço ou a cor pálida dentro de um pulso feminino. Esta era a Tessa que primeiro o cortou-o e cortou com o amor e desejos misturados: um anjo carnal com um corset que moldava seu corpo como uma ampulheta, realçava seus seios e moldava o alargamento de seus quadris.

Ele forçou-se a tirar estes olhos dela. Ela havia amarrado seu cabelo, pequenos cachos escapando por sobre suas orelhas, e o seu pingente de jade brilhava ao redor do pescoço dela.

“Você gosta?” ela perguntou. “Eu tive que fazer meu próprio cabelo, sem Sophie, e laçar meus próprios laços.” Sua expressão era de timidez e mais do que um pequeno nervosismo – sempre foi uma contradição em seu coração que ela sempre foi umas das mais valentes e ainda uma das pessoas mais tímidas que ele conhecera. “Eu comprei-o na Sotheby – uma verdadeira

antiguidade, agora, foi muito caro, mas eu me lembrei de quando era uma garota e você tinha me dito que orquídeas eram suas flores favoritas e eu me coloquei a procurar um vestido da cor de uma orquídea, mas eu nunca encontrei uma antes de você ter – partido. Mas este é. Aniline o tingiu, eu espero, nada natural, mas eu pensei – eu pensei que você se lembraria,” ela levantou seu queixo. “de nós. Do que eu queria ser pra você quando eu pensei que ficaríamos juntos.”

“Tess.” Ele disse, com a voz roca. Ele estava de pé, sem saber como chegou a isso. Deu um passo em sua direção, e depois outro. “Quarenta e nove mil duzentos e setenta e cinco.”

Ela sabia imediatamente do que ele estava falando. Ele sabia que ela entenderia. Ela o conhecia melhor do que ninguém vivo. “Você contou os dias?”

“Quarenta e nove mil duzentos e setenta e cinco dias desde a última vez que eu te beijei,” ele disse “e eu pensei em você em cada um desses dias. Você não precisa me lembrar da Tessa que amei. Você foi meu primeiro amor e sera meu último. Eu nunca te esqueci. Eu nunca fiquei sem pensar em você.” Ele estava próximo suficiente para ver a pulsação em seu pescoço. Para alcançar e levantar um cacho de seu cabelo. “Nunca.”

Os olhos dela estavam entreabertos. Ela estendeu a mão e pegou as dele, onde ele acariciou seus cabelos. Seu sangue estava trovejando através do seu corpo, tanto que até doía. Ela abaixou a mão dele, baixou-a para o corpete de seu vestido. “A propaganda do vestido dizia que ele não tinha botão,” ela sussurrou. “Só ganchos na frente. Fácil para uma pessoa desfazer-se.” Ela abaixou sua mão direita, pegou seu outro pulso, levantou-o. Agora suas duas mãos estavam no corpete dela. “Ou a desapertar.” Seus dedos fecharam em torno dos dele, deliberadamente, ela abriu o primeiro gancho do seu vestido.

E depois, o próximo. Ela moveu as mãos dele para baixo, seus dedos ligados aos dele, diminuindo a velocidade até que seu vestido estava aberto como cada parte das pétalas de uma flor. Ela estava respirando forte; ele não conseguia tirar os olhos de seu pingente de rosa e ceder com os suspiros dela. Ele não conseguia fazer com que se movesse um centímetro mais perto dela: ele queria, queria muito. Ele queria desfazer o cabelo dela e amarrá-lo ao redor de seu punho como laços de ceda. Ele queria os seios dela em suas mãos, e suas pernas em sua cintura. Ele queria coisas que não sabia o nome, e nem tinha experiência para isso. Ele só sabia que se ele se movesse um centímetro mais perto dela, a barreira de vidro que ele tinha construído em

sua volta iria estilhaçar e ele não saberia o que fazer em seguida.

“Tessa,” ele disse, “você tem certeza-?”

As sobrancelhas dela se mexeram. Seus olhos ainda estavam entreabertos, seus dentes formavam meia luas em seus lábios. “Eu tinha certeza naquela época,” ela disse, “e continuo tendo agora.”

E ela colocou as mãos dele fortemente em sua cintura, onde sua cintura se curvava, em cada lado de sua coluna.

Seu controle se quebrou, uma explosão silenciosa. Ela a puxão em sua direção, e a beijou selvagemente. Eles a ouviu suspirar em surpresa e então seus lábios calaram os dela, e sua boca se abriu ansiosa pela dele. As mãos dela estavam em seu cabelo, puxando forte; ela estava ficando nas pontas dos pés para beija-lo. Ela mordeu seu lábio inferior, e sua mandíbula, ele gemeu, e deslizou suas mãos para dentro do vestido dela, seus dedos passando por trás do corset, a pele dela pegava fogo, ele podia sentir através dos laços. Ele estava tirando seus tênis, arrancando suas meias, seus pés descalços tocando o chão frio.

Ela suspirou e foi para mais perto dele, em seus braços. Ele tirou as mãos do vestido e levou-as para a saia dela. Ela fez um barulho de surpresa e logo após ele estava passando o vestido sobre a cabeça dela. Ela exclamou, rindo conforme o vestido saía mas se prendeu em seus punhos, em que pequenos botões prendiam bem. “Cuidado.” Ela provocou, conforme os dedos dele abriam os botões. Ele tirou o vestido dela e o jogou pelo canto. “É uma antiguidade.”

“Eu também sou, tecnicamente.” Disse ele, e ela riu novamente, olhando para ele, o rosto dela estava radiante e aberto.

Ele já tinha pensado sobre fazer amor com ela antes; claro que ele tinha. Ele pensava sobre sexo quando era um adolescente porque é isso que adolescentes pensam, e quando ele se apaixonou pela Tessa, ele pensou sobre fazer isso com ela. Pensamentos incoerentes e vagos sobre fazer coisas, ele não tinha certeza do que – imagens de braços e pernas pálidas, a imaginação soava macia em suas mãos.

Mas ele não tinha imaginado isso: que poderia ter risos, que poderia ter afetos e aconchegos assim como paixão. A realidade disso, dela, o deixou sem respiração.

Ela se afastou dele e por um momento ele entrou em pânico. O que ele teria feito de errado? Teria ele a machucado, a desagradado? Porém, não.Seus dedos foram para a crinolina em sua cintura, enrolando e tirando. Após isso ela levantou os braços e os colocou ao redor do pescoço dele. “Me levante,” ela disse. “Me levante, Jem.”

A voz dela estava aveludada. Ele segurou a cintura dela e a levantou logo acima de sua saia, como se ele estivesse levantando um cara orquídea livre de seu vaso. Quando a desceu, ela estava vestindo apenas seu corpete e meias longas. Suas pernas eram tão longas e amáveis quanto ele se lembrava e sonhava sobre.

Ele a alcançou, mas ela pegou as mãos dele. Ela ainda sorria, mas agora havia um jeito brincalhão nele. “Oh, não.” Ela disse, apontando para o jeans e o suéter dele. “Sua vez.”

***

Ele travou, e por um momento, entrou em pânico, Tessa se questionou se tinha pedido demais pra ele. Ele passou tanto tempo desconectado de seu corpo – uma mente em um casulo de carne que fora ignorado até uma nova runa com um novo poder ser necessária. Talvez isso fosse demais para ele.

Mas ele respirou fundo, e suas mãos foram para a gola de seu suéter. Ele o passou por cima de sua cabeça e apareceu com seu adorável cabelo. Ele não vestia nenhuma camiseta sob isso. Ele olhou para ela e mordeu os lábios.

Ela foi em sua direção, desejando com os olhos e com os dedos. Ela o olhou antes de tocá-lo e o viu concordar, Sim.

Ela engoliu em seco. Ela foi levada a este ponto como uma folha presa a memórias. Memórias de James Carstairs, o garoto que ela estava noiva, tinha planos de casar. Chegou a quase fazer amor com ele no chão da sala de música do Instituto de Londres. Ela já tinha visto seu corpo, nu até a cintura, sua pele pálida como papel e marcada por suas costelas. O corpo de um garoto prestes a morrer, lembrou que ele sempre foi bonito para ela.

Agora havia uma boa porção de pele sobre suas costelas e seu peito na forma de músculos macios, seu peito era reto, afinando enquanto descia para a cintura. Ela colocou as mãos nele de forma pensativa, ele era quente e duro sobre seu toque. Ela podia sentir as formas das cicatrizes de runas antigas, pálidas em sua pele dourada.

Sua respiração escapou por entre seus dentes enquanto ela acariciava seu torso e seus braços, a curva de seus bíceps tomando forma em seus dedos. Ela lembrava dele lutando com os outros Irmãos do Silêncio em Idris – e na batalha de Adamantina, obviamente. Os Irmãos estavam sempre preparados para a batalha, embora raramente lutassem. Por algum motivo, ela nunca pensara muito sobre o que isso significava para Jem quando já não estava mais morrendo.

Os seus dentes tremeram um pouco, e ela mordeu o lábio para mantê-lo em silêncio. Desejo estava transbordando por ela, e também um pouco de medo. Como isso poderia estar acontecendo? Realmente acontecendo?

“Jem,” ela sussurrou. “Você é tão…”

“Medroso?” ele colocou as mãos na bochecha, onde a marca negra da Irmandade permanecia intocada. “Covarde?”

Ela balançou a cabeça. “Quantas vezes vou ter que dizer que você é lindo?” Ela passou os dedos pela curva dos ombros de Jem até seu pescoço, e ele tremeu. Você é lindo, James Carstairs. “Não viu todos te encarando na ponte? Você é muito mais bonito do que eu,” ela murmurou, prendendo os braços ao redor das costas do outro, que se endureceram ao toque de seus dedos. “Mas se você é bobo o bastante para me querer, então não irei questionar minha sorte.”

Ele virou a cabeça e ela o viu respirar fundo. “Por toda minha vida,” ele disse, “quando alguém dizia a palavra “beleza”, era o seu rosto que eu via. Você é a minha própria definição de beleza, Tessa Gray.”

O coração de Tessa disparou. Ela ficou na ponta dos pés – sempre for a alta, mas Jem era ainda mais – e colou a boca no pescoço do rapaz, o corpo ainda rigído e quente, e ela sentiu outra onda de desejo. Dessa vez ela o provocu, mordendo a pele na intersecção do pescoço com os ombtos.

Tudo ficou turvo. Jem emitiu um som grave e de repente ambos estavam no chão, ela em cima do corpo de Jem, que amorteceu sua queda. Ela o encarou, confusa. “O que aconteceu?”

Ele parecia desnorteado. “Eu não conseguia mais ficar em pé.”

Seu peito se encheu com um sentimento reconfortante. Havia tempos que ele praticamente não lembrava mais a sensação de beijar alguém com tanta força que seus joelhos ficassem fracos.. Ele se apoiou em seus cotovelos. “Tessa

–“

“Não há nada de errado,” ela disse firmemente, pegando seu rosto entre suas mãos. “Nada. Entendeu?”

Ele a encarou. “Você me empurrou?”

Ela riu, seu coração ainda batendo forte, cheio de felicidade e alívio e terror, tudo ao mesmo tempo. Mas ela o olhara antes, vira o jeito que ele olhava para seu cabelo quando estava solto, sentira os dedos acariciando-o quando se beijaram na ponte. Ela tirou presilha dos fios e a jogou para o outro lado da sala.

Seu cabelo caiu em cascatas, emoldurando seus ombros até sua cintura. Ela se curvou para frente, de modo que as mechas caíam sobre o rosto e o peito nu de Jem.

“Você se importa?” ela sussurrou.

“Não,” ele disse, contra sua boca, “não me importo. Pelo que vejo, eu os prefiro assim.”

Ela riu e correu suas mãos pelo corpo do homem. Ele vibrava pelo seu toque. “Para uma antigüidade,” ela disse, “você iria dar um bom dinheiro em Sotheby. Todas as suas partes estão em ótimo estado.”

As pupilas dele dilataram, e ele então riu, seu hálito quente batendo na bochecha de Tessa. “Eu esqueci de como é ser provocado, acho,” ele disse. “Ninguém provoca Irmãos do Silêncio.”

Ela aproveitou sua distração para se livrar de seus jeans. Havia quase nenhuma roupa entre eles agora. “Você não está mais na Irmandade,” ela disse, passando os dedos pelo seu estômago, e por seus pêlos finos, seu peito macio. “E eu ficaria muito chateada se você ficasse em silêncio.’

Ele a buscou cegamente e a empurrou para baixo. Suas mãos apertavam os cabelos de Tessa. E então estavam se beijando novamente, os joelhos da mulher prendiam os quadris de Jem, suas palmas em seu peito. As mãos dele não paravam de acariciar os longos cabelos, e ela podia sentir seus corpos se aproximando cada vez mais, seus lábios se apertando mais. Não eram mais beijos selvagens, não naquele momento: eram leves, aumentando a intensidade e o calor cada vez mais a medida em que se separavam e voltavam.

Ele prendeu os dedos nos laços do seu corpete e os puxou. Ela se afastou para mostrá-lo que ele também precisava desamarrar na frente, mas ele já havia se inclinado e tirava os outros laços. “Minhas desculpas,” ele disse, “para a antiguidade,” e então, do jeito menos Jem possível, rasgou o corpete e o jogou para longe. Por baixo estava sua bata, cuja ela tirou e colocou de lado.

Ela respirou fundo. Estava nua na frente dele, como nunca estivera antes.

* * *

Jem tinha o pressentimento de que mais tarde sua mão iria doer, mas, naquele momento, ele não sentia nada além de Tessa. Ela estava sentada em seu quadril, seus olhos bem abertos, seu cabelo estava caído em seus ombros e seios. Ela parecia Venus saindo das ondas, apenas com o colar de jade para cobri-la, brilhando em sua pele.

“Eu acho,” disse ela, com sua voz alta e ofegante. “que eu preciso que você me beije agora.”

Ele a pegou e a abaixou, pegando-a em seus ombros. Ele os rolou para que ele ficasse por cima, balanceando seus ombros, tomando cuidado com seu peso. Mas ela pareceu não se importar. Ela se ajustou por sob ele, curvando-se para se encaixar com o dele. A maciez de seus seios pressionado em seu peito e ao redor de seu quadril era um copo para segura-lo e seus pés descalços desciam sobre o jeans em suas panturrilhas.

Ele fez um barulho sombrio em sua garganta, um barulho que ele quase não percebeu que saía de sí mesmo. Um barulho que fez as pupilas de Tessa se expandirem, sua respiração aumentou. “Jem,” ela disse, “por favor, Jem.” E ela virou sua cabeça para o lado, enfiando sua bochecha no cabelo sobre o travesseiro.

Ele se juntou a ela. Eles já haviam feito isso antes. Disso ele se lembrava. Que ela gostava de ser beijada em uma linha até seu pescoço, e que se ele seguisse o formato de sua clavícula com a boca, ela iria gritar e enfiar suas mãos nas costas dele. E se ele estava assustado com o que viria em seguida – não sabendo o que fazer ou como agradá-la – logo passou com a resposta dela: ela se suavizou conforme ele passava suas mãos nas pernas dela e a beijava no peito e na barriga.

“Meu Jem,” ela sussurrou enquanto ele a beijava. “James Carstairs. KeJian Ming.”

Ninguém o chamava por seu nome de batismo em mais de meio século. Era tão intimo quanto tocá-lo.

Ele não estava certo de como eles tiraram o resto de suas roupas, sabia apenas que eles, de alguma forma, estavam deitados sobre os restos do vestido dela. Tessa não era suave e flexível sob ele como ele tinha imaginado há muito tempo, mas sensível e exigente, levantando o rosto para ser beijada mais e mais, passando as mãos sobre ele, cada ponta dos dedos dela despertavam faíscas, terminações nervosas que ele temia estarem mortas.

Foi muito melhor do que ele tinha imaginado. Ele estava cercado por ela, seu cheiro de sabonete de rosas, sua pele macia e sua verdade implícita. Não era apenas que ela confiava nele para não machuca-la; era mais que isso. Ela confiou que a inexperiência dele não iria importar, que nada importava além do fato de ser apenas os dois e eles sempre desejavam fazer um ao outro feliz. Quando ele vacilou e disse, “Tessa, eu não sei como–“ ela o sussurrou contra sua boca e colocou as mãos deles onde elas deveriam ir.

Um tipo de lição, mas fora a mais gentil que ele já recebera, a melhor. Ele nunca tinha imaginado isso, que suas respostas seriam espelhadas, que o prazer dela iria aumentar o dele. Que quando ele deslizou as mãos pelas pernas dela, ela iria colocá-las ao redor de sua cintura. Que cada pensamento iria fugir de sua cabeça, exceto para a sensação dela sob ele e, em seguida, enquanto ela o guiava para onde ele precisava ir.

Ele o ouviu suspirar como se estivesse há uma distância enquanto ele se encaixava nela. “Tessa.” Ele agarrou os ombros dela como se pudesse pegar o resto do seu controle. “Tessa, meu Deus, Tessa, Tessa.” Coerência o deixou por completo. Ele disse algo a mais, não mais em inglês, ele não sabia o que, e ele sentiu ela apertar seus braços ao redor dele.

Sua respiração saía em gemidos. Seus olhos estavam fechados, a luz entrando pelos cílios. Tanta luz. Ele se agarrou em todo o seu controle, não querendo o fim, não naquele momento. Ele ouvia a voz de Tessa sussurrando o seu nome, eles estavam tão próximos, mais do que ele julgava possível. As mãos dela escorregaram pelo seu corpo até pegarem em sua cintura. Havia uma fina linha de concentração entre as suas sobrancelhas, suas bochechas rosadas, e quando ela tentou dizer o nome de Jem novamente, uma exclamação de prazer fez seu caminho para os seus lábios. Uma de suas mãos foi até sua boca e ela mordeu seus dedos enquanto seu corpo apertava ao redor do dele.

Era como um fósforo sendo acesso. A última gota de seu controle evaporou. Ele enterrou seu rosto no pescoço de Tessa, e as luzes por detrás de seus olhos se transformaram em cores caleidoscópicas. Ele carregara a escuridão da Cidade do Silêncio em si até quando saíra da Irmandade. E agora ela havia aberto sua alma e deixado a luz entrar, e era brilhante.

Ele nunca havia imaginado isso. Ele nunca imaginou que imaginaria isso.

Quando ele voltou a si, ele viu que ainda a segurava firme, sua cabeça no ombro dela. Ela respirava levemente e regularmente, sua mão ainda no cabelo de Jem, acariciando, murmurando o seu nome.

Eles se separaram relutantemente, e Jem se ajustou de forma que ambos estavam deitados se olhando. A maior parte da luz do dia tinha ido embora, eles se olhavam na luz do crepúsculo que amaciava todas as linhas de ambos os rostos. Seu coração batia rápido quando ele passou os dedos pelo lábio inferior de Tessa.

“Você está bem?” ele disse, cuidadoso. “Foi –“ ele parou, percebendo para seu horror que o brilho no olhar de Tessa eram lágrimas. Uma rolou por sua bochecha livremente.

“Tessa?” ele pôde ouvir o pânico em sua voz. Ela o deu um sorriso trêmulo e rápido, mas essa era Tessa. Ela nunca demonstraria desapontamento. E se tivesse sido horrível para ela? Ele pensara que fora incrível, perfeito; pensou que seu corpo iria quebrar em pedacinhos ao sentir tanto prazer de uma só vez. E ele pensou que ela havia gostado, mas o que ele sabia? Xingou sua própria inexperiência, seu orgulho, sua falta de controle. O que o fez pensar que –

Ela levantou, se inclinando sobre a mesa de café, suas mãos fazendo algo que ele não podia definir. Seu corpo nu estava destacado no crepúsculo, insuportavelmente lindo. Ele a observou com o coração dolorido. A qualquer momento, ela iria colocar suas roupas e diria que o amava, sempre o amara, mas não daquele jeito. Que eles eram amigos, e não dois amantes apaixonados.

E ele disse a si mesmo que conseguiria suportar isso, antes de ir até a ponte e se confessar. Ele disse a si mesmo que ele podia ter sua amizade e nada mais, que era melhor do que não estar perto dela.

Mas agora que ele sabia, agora que eles haviam divido sua respiração, seus corpos e suas almas, ele não podia mais se afastar. Ser apenas seu amigo,

nunca mais tocá-la, iria despedaçá-lo. Seria uma agoniar ainda maior do que o fogo celestial.

“Jem?” ela disse. “Jem, você está há quilômetros de distância!” ela havia enrolado um lençol cinza do sofá em volta do seu corpo, e sentava ao seu lado, as lágrimas não estavam mais presentes e ela sorria. “Honestamente, se o que acabamos de fazer não prendeu sua atenção, não sei o que prenderia.”

Ele a encarou. “Mas você estava chorando,” ele disse, finalmente.

Ela o encarou confusa. “Porque estou feliz. Porque aquilo foi incrível.”

Ele expirou com alívio. “Então foi – foi tudo bem? Eu posso melhorar, nós podemos praticar –“

Ele percebeu o que dissera e tampou sua boca com força.

Um sorriso malicioso se espalhou pelo rosto de Tessa. “Oh, nós iremos praticar,” ela disse. “Assim que estiver pronto.”

“Eu não tenho nenhum outro compromisso hoje,” ele disse, gravemente.

Ela corou. “Seu corpo pode precisar de um tempo para… se recuperar.”

“Não,” ele disse, e se permitiu ter um pouco de autoconfiança. “Não, acho que não.”

Ela corou ainda mais. Ele amava quando ela corava por sua causa, sempre amou. “Bom, eu preciso de cinco minutos, pelo menos!” ela disse. “E preciso que veja uma coisa. Por favor?”

Ela o entregou um pedaço de papel. Sua expressão estava surpreendentemente séria, o que tirou o humor do rosto de Jem, e até sua vontade de provocá-la. Sem se atrever a falar, ele pegou o papel e o desdobrou.

Ela limpou a garganta. “Eu talvez estivesse brincando mais cedo,” ela disse, “quando disse que o apartamento estava no nome de Bedelia Codfish.”

Ele encarou a escritura da casa em Queen’s Gate. Estava no nome de Tessa, ou algo parecido. Não Tessa Gray, nem Tessa Herondale. Estava no nome de Tessa Herondale Carstairs.

“Quando falei com Magnus em Idris, após a Guerra Mortal,” ela disse, “ele me falou que sonhou com sua cura. Você sabe como o Magnus é. As vezes

seus sonhos são reais. Então eu me permiti sonhar pela primeira vez em muito tempo. Eu sabia que não era provável, até mesmo impossível. Eu sabia que talvez demoraria muitos anos. Mas você me pediu em casamento, uma vez, muito tempo atrás. E de um jeito, essa é nossa noite de casamento. Uma noite de núpcias bem atrasada.” Ela sorriu para ele, mordendo o lábio, claramente nervosa. Os dedos de Jem brincaram com o lençol que ela enrolara ao seu redor. “Eu não deveria ter pego seu nome, talvez, mas sempre senti em meu sangue que nós éramos uma família.”

“Tessa Herondale Carstairs,” ele sussurrou. “Você não deveria se preocupar em pegar meu nome emprestado quando sabe que pode o ter para si.”

Ele deixou o papel escorregar de sua mão e a buscou. Ela sentou em seu colo e ele segurou sua mão com força, sentindo um peso na garganta.

Ela nunca desistira dele. Ele lembrou quando disse para Will que ele o dera fé, mesmo quando Will não tinha nenhuma. Ele sempre desejara o melhor para Will, até quando ele mesmo não tinha esperança. E Tessa fizera isso por ele. Ele havia desistido de uma cura há muito tempo, mas ela… ela esperou.

“Mizpah, Tessa,” ele sussurrou. “De verdade, Deus estava olhando por nós quando estávamos separados. E olhou para nós quando fomos separados de Will, e agora nos trouxe de volta um para o outro.”

* * *

Eles dormiram juntos nas ruínas do vestido de Tessa, e mais tarde foram para o sofá. Estava bem escuro, e eles tomaram chá gelado e fizeram amor novamente, dessa vez mais gentilmente e vagarosamente até Tessa estar agarrado aos ombros de Jem e implorando para que ele fosse mais rápido. “Dolcissimo, não appasionato,” ele disse, com um sorriso de pura excitação.

“Ah?” ela se abaixou e fez algo com sua mão que ele claramente não esperava. Seu corpo todo ficou tenso. Ela riu quando suas mãos apertaram a sua cintura, os dedos se cravando na pele. Seu cabelo escuro caía em seus olhos, sua pele molhada com suor. Mais cedo, ela fechara seus próprios olhos. Agora, ela o observava, a mudança em sua expressão quando seu controle se esgotou, a forma da boca de Jem quando ele sussurrou seu nome.

“Tessa –“

E dessa vez, ela se esqueceu de morder a mão para abafar os sons que fazia. Oh, bem. Quem liga para os vizinhos. Ela estivera quieta por quase um

século.

“Talvez isso foi um pouco mais presto do que eu pretendia,” ele disse, com uma risada, quando estavam deitados juntos depois, amarrotados no meio das almofadas. “Mas bom, você trapaceou. Você tem mais experiência do que eu.”

“Eu gosto.” Tessa beijou seus dedos. “Vou me divertir muito te apresentando a tudo e a todos. Mal posso esperar para você ouvir rock, Jem Carstairs. E quero vê-lo usando um iPhone. E um computador. E usando o metrô. Já esteve em um avião? Quero ir em um com você.”

Jem ainda ria. Seu cabelo estava uma bagunça maravilhosa, e seus olhos estavam negros e brilhantes na luz da lâmpada. Ele parecia com o rapaz que fora, há muitos anos atrás, mas também estava diferente: era um Jem que Tessa estava começando a conhecer. Um jovem e saudável Jem, não um garoto moribundo ou um Irmão do Silêncio. Um Jem que podia amá-la com toda sua força, assim como ela o amaria.

“Nós iremos passear de avião,” ele disse. “Talvez para Los Angeles.”

Ela sorriu. Ela sabia porque eles precisavam ir para lá.

“Nós temos tempo para tudo,” ele disse, passando seus dedos na lateral de seu rosto. “Temos para sempre.”

Não para sempre, Tessa pensou. Eles tinham um longo tempo. Uma vida inteira. A vida inteira dele. E ela iria perdê-lo um dia, como perdera Will, e seu coração iria quebrar como quebrara antes. E ela teria que se recompor e seguir em frente, porque a memória de ter tido Jem era melhor do que nunca tê-lo.

Ela era sábia o bastante para saber disso, agora.

“O que você disse antes,” ela perguntou. “Que Jace Herondale ama Clarissa Fairchild mais do que qualquer um que você já viu, exceto alguém – você nunca terminou a frase. Quem era?”

“Eu ia dizer eu, você e Will,” ele disse. “Mas… é uma coisa estranha de se dizer, não é?”

“Nem um pouco.” Ela o abraçou de lado. “Extremamente certo. Para sempre e sempre, certo.”

Fim. E o começo.