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INPE-11240-TDI/946 DERIVAS IONOSFÉRICAS EM LATITUDES EQUATORIAIS: OBSERVAÇÕES E MODELAGEM Fernando Celso Perin Bertoni Tese de Doutorado do Curso de Pós-Graduação em Geofísica Espacial, orientada pelos Drs. Inez Staciarini Batista e Mangalhathayil Ali Abdu, aprovada em 12 de fevereiro de 2004. INPE São José dos Campos 2004

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INPE-11240-TDI/946

DERIVAS IONOSFÉRICAS EM LATITUDES EQUATORIAIS: OBSERVAÇÕES E MODELAGEM

Fernando Celso Perin Bertoni

Tese de Doutorado do Curso de Pós-Graduação em Geofísica Espacial, orientada pelos Drs. Inez Staciarini Batista e Mangalhathayil Ali Abdu, aprovada em

12 de fevereiro de 2004.

INPE São José dos Campos

2004

551.550.535 BERTONI, F. C. P. Derivas ionosféricas em latitudes equatoriais: observações e modelagem / F. C. P. Bertoni. – São José dos Campos: INPE, 2004. 150p. – (INPE-11240-TDI/946). 1.Ionosfera terrestre. 2.Termosfera terrestre. 3.Derivas ionosféricas. 4.Modelos. 5.Campo geomagnético. 6.Campo elétrico. 7.Ionossondas. 8.Radar de espalhamento incoerente. 9.Ventos termosféricos. I.Título.

Para Adriana, minha Amada!

Para minha mãe

e meu pai.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todas pessoas que me ajudaram a vencer mais esta etapa da vida. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq, pelo auxilio financeiro de bolsa de doutorado. Ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE pela oportunidade de estudos e utilização de suas instalações. Ao Rádio Observatório de Jicamarca e ao CEDAR, pelos dados do radar de espalhamento incoerente. Ao Dr. Jonas Rodrigues de Souza pela grande colaboração e orientação na utilização e modificações do código do SUPIM Ao Dr. Abdu pelas importantes discussões e orientações À Dra. Inez pelas importantes contribuições e orientações e mesmo pelo apoio nas horas difíceis. Ao Prof. Dr. Bodo Reinisch e ao Prof. Dr. Gary Sales pela atenção, discussões científicas e pelos dados da Digissonda de Jicamarca, bem como a todo o pessoal do Centro de Pesquisas Atmosféricas da Universidade de Massachusetts Lowell: Ivan Galkin, Grigori Khmyrov, Alexander Koslov, Igor Lyssissian, Dr. Xuqin Huang, Claude Dozois, Dr. Klaus Bibl, Vadim Paznukhov, Dr. Paul Song, George Chenney, Lynne Schaufenbil, Jason Conway, Patrick Nsumei, Dr. Terence Bullett. À Maria Goreti dos Santos Aquino, à Lúcia de Almeida Terra Limiro e à Fátima Usifatti. À equipe de funcionários da Gráfica do INPE. Aos meus colegas, amigos e professores: Luís Felipe Resende, Christiano Garnett Brum, Alexander José Carrasco, Mariangel Fedrizzi, Fábio Vargas, Esphan Alam Kherani, Christiano Max Wrasse, Joaquim Fechine, Amita Muralikrishna, Pedrina Terra dos Santos, Dr. Eurico de Paula, Dr. Ivan Kantor, Dr. Polinaya Muralikrishna, Avicena Filho, Sinval Domingos, Francisco Mesquita, Lázaro de Camargo, Acácio Cunha Neto, Clézio De Nardin, Daniela Santana, Vivian Castilho, Janaína Steckel Retore. Enfim, a todos com quem troquei idéias. Ao Gáudio Ramirez Bertoni e à Hélia Perin Bertoni, meus pais, pelos incentivos e ênfase na importância dos estudos. Ao Ciro, ao Du, à Lilian e à Cláudia, meus irmãos e irmãs. Ao Lino Colvero e à Celina Colvero, à Luciana Colvero e ao Márcio Bueno dos Santos e à Fabiana Colvero, minha segunda família. À Adriana Colvero, minha querida esposa, pela grande força a toda hora!

RESUMO

Propôs-se, neste trabalho, desenvolver uma metodologia alternativa para obter velocidades de deriva ionosférica e de ventos termosféricos, visando o estudo do sistema termosfera-ionosfera (T-I) em regiões de latitudes magnéticas baixas e equatoriais. Esses estudos podem contribuir com as pesquisas de clima espacial. Nossa motivação vem do fato de que medidas de velocidade de deriva eletromagnética por radares de espalhamento incoerente não são feitas à base de rotina, sendo restritas a períodos de campanha. Da mesma forma, medidas de velocidade de ventos termosféricos feitas por interferômetros Fabry-Perot estão restritas a períodos noturnos não nublados. Usamos, neste trabalho, dados de observações feitas por uma Digissonda DGS-256 na estação de São Luis (2,6°S; 44°O) e por uma Digissonda DPS-4 e o radar de espalhamento incoerente na estação de Jicamarca (12°S; 77°O), bem como simulações feitas pelo modelo computacional SUPIM. Como resultado de nossos estudos, desenvolvemos uma metodologia que permite: obter o que denominamos como velocidades efetivas de deriva vertical e ventos termosféricos; fazer comparações entre as curvas observadas e modeladas de hmF2 (a altura do pico de densidade eletrônica da região F ionosférica), foF2 (a freqüência crítica da região F) e isolinhas de densidade. Conseqüentemente, pudemos observar os papéis desempenhados pela deriva vertical e pelos ventos termosféricos na ionosfera sobre a região do equador magnético. Durante todo o dia, a deriva vertical é diretamente responsável pelo controle do comportamento de hmF2, tendo pouca influência sobre o comportamento de foF2, enquanto os ventos termosféricos exercem diretamente um controle sobre o comportamento de foF2 e têm pouca influencia sobre o comportamento de hmF2. Os resultados obtidos neste trabalho mostram que podemos estender o uso da metodologia proposta para estudar um grande número de novas situações relacionadas a fenômenos que ocorrem no sistema termosfera-ionosfera.

IONOSPHERIC DRIFTS OVER EQUATORIAL LATITUDES: OBSERVATIONS AND MODELLING

ABSTRACT

It was proposed in this work to develop an alternative methodology to get ionospheric drift and thermospheric wind velocities in order to study the thermosphere-ionosphere (T-I) system at equatorial and low magnetic latitude regions. These studies can contribute to the space weather researches. Our motivation comes from the fact that the measurements of electromagnetic drift by incoherent scatter radars are not done in a routinely basis, being restricted to campaign periods. In the same way, thermospheric wind velocity measurements made by Fabry-Perot interferometers are restricted to nocturnal non-cloudy periods. We have used, in this work, observational data made by a Digisonde DGS-256 at the São Luis station (2,6°S; 44°O), Brazil, and by a Digisonde DPS-4 and the incoherent scatter radar at Jicamarca station (12°S; 77°O), Peru, as well as simulations made by computational model SUPIM. As a result of our studies, we developed a methodology to: obtain the effective velocities of vertical drift and thermospheric winds; make comparisons between observed and modeled curves of hmF2 (the F region electronic peak density height), foF2 (F region critical frequency) and density isolines. Consequently, we were able to observe the role played by the vertical drift and by the thermospheric winds over the ionosphere at the magnetic equatorial region. During the whole day, vertical drift is directly responsible by the hmF2 control behavior and has little influence on foF2, while the thermospheric winds directly control foF2 and have little influence on hmF2. Results obtained in this work show that we can extend the use of the proposed methodology to study a great number of phenomena related to the thermosphere-ionosphere system.

SUMÁRIO

Pág.

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO...................................................................................... 13

1.1 - A Ionosfera .................................................................................................................13 1.2 - Sistema Termosfera-Ionosfera......................................................................................14 1.3 - Campos Elétricos Ionosféricos .....................................................................................15 1.4 - Material e Instrumentação....... .....................................................................................16 1.5 - Objetivos ........................... .....................................................................................17 CAPÍTULO 2 - MEDIDAS DE DERIVA E IONOGRAMA: PRINCÍPIOS

FÍSICOS E PROCESSAMENTO ...................................................... 21

2.1 - Introdução ...................................................................................... ..........................21 2.2 - Sobre Ionogramas e Derivas .............................................................. ..........................21 2.2.1 - Ionogramas ................................................................................................................ 21 2.2.2 - Medidas de Deriva .................................................................................................... 24 2.3 - Processos Físicos................................................................................ ..........................26 2.3.1 - Propagação de Ondas em um Meio Magneto-Ionizado: Equação de Appleton........ 26 2.3.2 - Velocidade de Fase ................................................................................................... 30 2.3.3 - Velocidade de Grupo................................................................................................. 31 2.3.4 - Índice de Refração de Grupo..................................................................................... 31 2.3.5 - Caminho de Fase e de Feixe...................................................................................... 33 2.3.6 - Velocidade na Linha de Visada................................................................................. 36 2.3.7 - Relação entre Velocidade na Linha de Visada e Índice de Refração ao Longo do Caminho .............................................................................................................. 37 2.4 - Como São Obtidos os Dados de Deriva............................................. ..........................38 2.4.1 - Sobre o Método dos Cálculos pelo DDA.................................................................. 39 2.4.2 - Pós-Processamento.................................................................................................... 44 2.4.3 - Sobre o Método de Obtenção de Velocidade na Linha de Visada ............................ 44 2.4.4 - Sobre as Técnicas dhF/dt e dhF0.80/dt ....................................................................... 46 2.5 – Radar de espalhamento incoerente .............................................................................. 49 CAPÍTULO 3 - SOBRE O MODELO SUPIM................................................................ 53

3.1 - Introdução ...................................................................................... ..........................53 3.2 - Descrição do Modelo ......................................................................... ..........................54 3.2.1 - Dados de Entrada ...................................................................................................... 55 3.3 - Conjunto de Equações........................................................................ ..........................56 3.3.1 - Equação de Continuidade.......................................................................................... 56 3.3.2 - Equação de Momentum............................................................................................. 60 3.3.3 - Equação de Equilíbrio de Energia............................................................................. 61 3.3.4 - Método de Resolução das Equações ......................................................................... 62

3.4 - Procedimentos Utilizados com o Modelo .......................................... ..........................63 CAPÍTULO 4 - RESULTADOS I: COMPARAÇÃO DE VELOCIDADES .................. 65 4.1 - Radar e Digissonda ............................................................................ ..........................65 4.2 - DDAV e Vlos ...................................................................................... ..........................80 4.3 - Comentários ...................................................................................... ..........................83 CAPÍTULO 5 - RESULTADOS II: MODELAGEM DE DERIVA E VENTOS. .. ..... 85 5.1 - Introdução ...................................................................................... ..........................85 5.2 - Resultados de Modelagem Comparados a Observações .................... ..........................87 5.2.1 - Ajuste da Velocidade de Ventos ............................................................................... 87 5.2.2 - Ajuste da Velocidade de Deriva Vertical.................................................................. 93 5.3 - Resultados ...................................................................................... ..........................96 5.3.1 - Jicamarca .............................................................................................................. 97 5.3.2 – São Luis ............................................................................................................ 121 CAPÍTULO 6 - DISCUSSÕES E CONCLUSÕES ....................................................... 135 6.1 - Medidas com Diferentes Métodos ................................................... ..........................135 6.2 - Modelagens de Deriva e Ventos....................................................... ..........................139 6.3 - Trabalhos Futuros............................................................................. ..........................142 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 143

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CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1.1 A Ionosfera

A ionosfera é uma camada de gases ionizados que se estende a partir de altitudes

em torno de 60km até mais de 1000km. A fonte primária de ionização advém da

fotoionização dos componentes atmosféricos promovida, basicamente, pelos raios

solares na faixa de extremo ultravioleta (EUV) e de raios-X. Fontes secundárias de

ionização constituem-se de processos colisionais entre partículas excitadas, sejam elas

íons, elétrons ou moléculas neutras principalmente. Como a densidade da atmosfera

neutra decai exponencialmente com a altitude e a essas altitudes, portanto, é bem

rarefeita, as partículas ionizadas não se recombinam tão prontamente, tendo assim,

condições de perdurarem por mais tempo e conseqüentemente cria-se essa camada de

plasma, a qual fica imersa na atmosfera neutra ao redor do globo terrestre.

Observou-se ao longo dos anos que a ionosfera possui estratificações as quais

foram denominadas como regiões D, E e F. Em altitudes em torno de 300km, a

densidade do plasma ionosférico atinge picos de densidade eletrônica. Em outras

palavras, na região F encontram-se grandes concentrações de elétrons e íons. Isso ocorre

porque há um grande número de partículas ionizáveis e um grande número de fótons

incidentes. De modo geral a densidade do plasma ionosférico comparada à da atmosfera

neutra é bem pequena (em torno de 1% ou menos). Mesmo assim, em virtude de ser um

plasma, ele apresenta fenômenos característicos como ondas, interações e instabilidades

que não aparecem em gases neutros, fazendo-se importante estudar seu comportamento

e características.

O fluxo solar de fótons na faixa do EUV e raios-X além de realizar

fotoionização, aquece a alta atmosfera neutra. A partir de aproximadamente 90km de

altura a temperatura aumenta com a altura. Essa região da atmosfera alcança

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temperaturas em torno de 1000K (727°C) a aproximadamente 150km. Devido às

temperaturas que podem ser alcançadas, a região atmosférica acima de 90km foi

denominada termosfera.

1.2 Sistema Termosfera-Ionosfera

Uma das características da ionosfera é a sua capacidade de interação com a

atmosfera neutra (a termosfera mais especificamente), formando um sistema acoplado

de energia eletromecânica de enorme complexidade.

O aquecimento da região termosférica ocasiona gradientes de temperatura e

pressão e estes juntamente com o efeito da força de Coriolis instauram a movimentação

zonal e meridional do ar atmosférico na forma dos chamados ventos termosféricos.

Esses ventos, segundo Baker e Martyn (1953), dão origem a correntes verticais e

campos de polarização que influenciam o movimento de íons e elétrons da região F

ionosférica e estes, por sua vez, influenciam a velocidade dos ventos neutros

termosféricos, perfazendo assim o sistema termosfera-ionosfera. Neste sistema então, as

velocidades resultantes têm assimetrias com relação ao globo terrestre, pois, a

configuração dos campos elétricos depende do campo geomagnético e o efeito da força

de Coriolis depende da geometria terrestre.

A eletrodinâmica da ionosfera só começou a ser estudada mais a fundo no século

passado com Schuster (1908 apud Baker e Martyn, 1953), quando desenvolveu

quantitativamente a teoria do dínamo, baseado nas idéias de Stewart (1882 apud Baker

e Martyn, 1953). Mais tarde, a descoberta efetiva da ionosfera por Appleton e por Breit

e Tuve, na década de 20 (séc. XX), propiciou a aplicação da teoria do dínamo. Nomes

como Chapman, Pedersen e Cowling foram construindo a base de todo conhecimento de

eletrodinâmica da ionosfera. Atualmente, já há um grande conjunto de informações a

respeito deste assunto, contudo ainda há muito por se conhecer e fazer, já que existem

também interações da ionosfera com a magnetosfera, formando o chamado sistema

termosfera-ionosfera-magnetosfera, bem como fenômenos que sugerem também

relações entre a ionosfera com a baixa atmosfera (troposfera,estratosfera e mesosfera),

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como evidenciam fenômenos tais como os denominados sprites e blue jets, por

exemplo.

1.3 Campos elétricos ionosféricos

Campos elétricos de dínamo se estabelecem com o deslocamento do plasma

ionosférico através das linhas do campo geomagnético e fazem os constituintes do

plasma ionosférico deslocarem-se na direção (E × B) − onde E e B representam campo

elétrico e geomagnético, respectivamente. Tal deslocamento é denominado deriva

eletromagnética do plasma ionosférico. Este tipo de movimentação tem muita influência

sobre as características da ionosfera de latitudes magnéticas baixas e equatoriais como,

por exemplo, na formação da anomalia equatorial, na ocorrência da camada F3 e na

geração de instabilidades e irregularidades de plasma.

As instabilidades de plasma podem causar o aparecimento de irregularidades de

densidade, as quais podem interferir nas ondas de rádio transionosféricas, utilizadas em

telecomunicações via satélite ou pelos sistemas de posicionamento global (Global

Positioning System - GPS), muito usados atualmente por sistemas de navegação aérea,

terrestre e marítmo-fluvial.

Portanto, é importante estudar o comportamento dos campos elétricos da região-

F da ionosfera para, através do que se convencionou denominar “clima espacial”,

podermos fazer previsões de ocorrência de irregularidades tais como as “bolhas

ionosféricas” e o “espalhamento da região-F” que são eventos noturnos que se

concentram sobre a região equatorial magnética. Durante a ocorrência desses

fenômenos, pode acontecer, por exemplo, perda do sinal de rádio havendo conseqüente

interrupção de comunicação.

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Utilizando-se diferentes modos de operação nas ionossondas, temos ionogramas

e medidas de deriva. Esses instrumentos transmitem pulsos eletromagnéticos que

varrem um conjunto de freqüências de 1 a 20MHz e, ao final de cada sondagem, são

gerados os ionogramas. Ionogramas são diagramas que mostram as alturas de reflexão

dos ecos dos pulsos eletromagnéticos em função de sua freqüência, apresentando assim

padrões característicos de curvas chamadas traços. Os pulsos transmitidos são refletidos

em regiões onde a freqüência do plasma ionosférico é igual à freqüência do pulso,

então, é obtido o perfil vertical de densidade eletrônica do plasma ionosférico. As

alturas de reflexão apresentadas nos ionogramas são calculadas com base no intervalo

de tempo decorrido entre a transmissão do pulso e a recepção do eco, ou seja, h’ =

c∆t/2, onde c representa a velocidade de propagação (igual à velocidade da luz). Como

os pulsos se propagam através da ionosfera em velocidades menores que em um meio

como o vácuo ou o ar (meios com índice de refração igual a 1), à medida que os pulsos

avançam até a região de reflexão dentro do plasma, sua velocidade de grupo tende a

zero, ou seja sofre um retardo. Por conseqüência as alturas calculadas segundo a

expressão acima são aparentes e, por isso, são denominadas alturas virtuais. É

necessário, então, efetuar uma correção para obtermos as alturas reais.

As isolinhas de densidade e parâmetros tais como a freqüência crítica e a altura

do pico de densidade da região F (foF2 e hmF2, respectivamente) são fornecidas pelos

ionogramas. Dos ionogramas, ainda, calculamos velocidades de deriva vertical com o

método de ∆hF/∆t, onde hF representa a altura real de uma dada freqüência de

sondagem – comumente 4MHz, porém, um novo método está sendo proposto neste

trabalho, de se fazer uso de uma freqüência que corresponde a 80% de foF2. O modo de

deriva gera medidas de velocidade através do método de interferometria Doppler.

O SUPIM utiliza parâmetros de entrada tais como deriva eletromagnética,

ventos meridionais – obtidos com o Horizontal Wind Model 90 (HWM90) (Hedin et

alii, 1991) – fluxo solar (F10.7), índice magnético Ap e calcula densidades iônicas (O+,

He+, N2+, O2

+, NO+) e temperaturas (da atmosfera neutra, Tn, de ions, Ti, e elétrons, Te)

todas ao longo de linhas de campo geomagnético ou tubos de fluxo geomagnético.

Jefferson
1.4. Material e Instrumentação

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Um grande conjunto de medidas tem sido coletado de forma sistemática e

uniforme por intermédio de ionossondas pertencentes à Divisão de Aeronomia (DAE)

do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). As ionossondas digitais vêm

operando no modo de ionograma regularmente desde meados de 1994 em São Luís e

Fortaleza e, desde 1990 em Cachoeira Paulista. Quando necessário, pode-se contar

também, com um extenso banco de dados de ionogramas que foram registrados por

ionossondas analógicas entre 1975 e 1993 em Fortaleza, entre 1973 e 1990 em

Cachoeira Paulista, entre 1990 e 1994 em São Luís.

Os dados obtidos com radar de espalhamento incoerente e com a Digissonda do

Rádio Observatório de Jicamarca (ROJ) estão sendo utilizados, graças à disponibilidade

do banco de dados do Coupling Energetics and Dynamics of Atmospheric Regions

(CEDAR) divisão do National Center for Atmospheric Research (NCAR) e das

colaborações com o Center for Atmospheric Research da University of Massachusetts

Lowell, ambos dos EUA.

1.5 Objetivos

Neste trabalho de doutorado, propõe-se estudar as derivas do plasma ionosférico

com dados de velocidade e ionograma registrados por ionossondas digitais

(Digissondas) localizadas em São Luis (2,6°S; 46°W), no Brasil e Jicamarca (12°S;

77°W), no Peru. Bem como dados de velocidade registrados pelo radar de espalhamento

incoerente do Rádio Observatório de Jicamarca. Utilizar-se-ão, também, dados

calculados pelo Sheffield University Plasmasphere Ionosphere Model (SUPIM) –

modelo computacional desenvolvido na Universidade de Sheffield, Inglaterra (Bailey et

alii, 1997). Propõe-se, também, estudar e caracterizar os ventos termosféricos sobre

essas localidades, bem como investigar suas influências sobre algumas características

do meio ionosférico.

As ionossondas digitais (bem como as analógicas) utilizam o princípio de

reflexão crítica da camada de plasma. Portanto, as suas sondagens estendem-se da base

da região F até a região de seu pico de densidade eletrônica. O radar pode sondar

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regiões abaixo e acima do pico de densidade eletrônica daquela região. As medidas de

velocidade de deriva ionosférica efetuadas pelas ionossondas digitais trazem as

contribuições das reações químicas de produção e perda de pares íon-elétron que

ocorrem na base da região-F e de processos de difusão do plasma ionosférico ao longo

das linhas de campo geomagnético. Logo, não representam somente a velocidade de

deriva eletromagnética E × B – que para nossos estudos é importante, dado que se

deseja aferir o comportamento dos campos elétricos da região F ionosférica – e, por isso

são denominadas medidas de velocidade aparente (Bittencourt e Abdu, 1981; Scali et

alii, 1995a; Bertoni, 1998). Já o radar de espalhamento incoerente, devido ao seu

princípio de funcionamento, mede a velocidade de deriva eletromagnética.

Existem poucas medidas de deriva eletromagnética E × B efetuadas por radares

de espalhamento incoerente, pois são instrumentos de alto custo de instalação, operação

e manutenção relativamente às ionossondas digitais que têm sido operadas em várias

estações ao redor do globo. Poucas também são as medidas disponíveis de velocidade

de ventos termosféricos, as quais são efetuadas por interferômetros Fabry-Perot durante

as noites não nubladas.

Visando criar uma alternativa de solução para a situação apontada acima,

desenvolveu-se uma metodologia para obter valores de velocidade do que se denominou

como a deriva efetiva do plasma ionosférico e de ventos termosféricos. Utilizaram-se

em parte as medidas de velocidade de deriva e ionogramas gerados pelas ionossondas

digitais e pelo radar de espalhamento incoerente de Jicamarca e em parte os resultados

dos cálculos do modelo computacional SUPIM.

O procedimento adotado com relação à parte de modelagem deste trabalho

consistiu em utilizar diretamente como dados de entrada, as medidas de deriva vertical

efetuadas pelo radar de espalhamento incoerente ou pelas Digissondas e valores de

velocidade de vento meridional modificados em relação aos fornecidos pelo HWM90

com o intuito de obter os parâmetros isolinhas de densidade, foF2 e hmF2 calculados a

partir dos arquivos de saída do SUPIM e compará-los com os mesmos parâmetros

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observados pelas Digissondas e também comparar a resposta de todo o perfil vertical

utilizando as isolinhas.

O objetivo principal de se usar dados registrados pelo radar e pela Digissonda do

Rádio Observatório de Jicamarca é comparar os valores dos arquivos de saída do

modelo utilizando como dados de entrada velocidades de deriva vertical medidas por

ambos os instrumentos e, assim, validar e conseqüentemente estender os resultados para

nossas estações de observação.

Este trabalho foi dividido em seis capítulos. No Capítulo 2 apresentam-se

informações a respeito de ionogramas e medidas de deriva. Além disso, são descritas as

diferentes técnicas de obtenção de velocidade vertical de deriva a partir de dados

registrados pelas Digissondas. Foi também incluída uma sub-seção onde é apresentada

uma breve descrição a respeito da técnica de medição de velocidade de deriva utilizada

pelo radar de espalhamento incoerente de Jicamarca.

No Capítulo 3 tratou-se a respeito do modelo SUPIM, apresentando as equações

por ele utilizadas, bem como o procedimento adotado com o modelo neste trabalho.

No Capítulo 4 apresentam-se comparações de resultados obtidos com as

diferentes técnicas de cálculo de velocidade vertical de deriva a partir de dados

registrados pela Digissonda e medidas de velocidade de deriva eletromagnética

efetuadas pelo radar de espalhamento incoerente.

No Capítulo 5 são apresentadas comparações entre resultados de modelagem e

de observações.

No Capítulo 6 desenvolvem-se algumas discussões e apresentam-se as

conclusões finais.

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CAPÍTULO 2

MEDIDAS DE DERIVA E IONOGRAMA: PRINCÍPIOS FÍSICOS E

PROCESSAMENTO

2.1 Introdução

Conforme já foi dito, as Digissondas funcionam em 4 modos diferentes:

ionograma, freqüência fixa, deriva e sondagem oblíqua. Como em todas as ionossondas,

utiliza-se o princípio de reflexão total das ondas. Além disso, ionossondas digitais têm

capacidade de medir a fase, a amplitude, o desvio Doppler e o ângulo de chegada do eco

em função da freqüência do sinal transmitido.

Neste trabalho, foram usados os modos de ionograma e deriva. Far-se-á, a

seguir, uma descrição do princípio físico utilizado pelo instrumento para efetuar as

sondagens de deriva e ionograma, bem como da questão relativa ao método utilizado

para obter a velocidade de deriva dos íons.

2.2 Sobre Ionogramas e Derivas

2.2.1. Ionogramas

No modo de ionograma, o instrumento faz uma varredura num intervalo de

freqüências comumente entre 1 e 20MHz e registra as curvas de altura virtual de

reflexão em função da freqüência transmitida – os denominados ionogramas. Essa faixa

de freqüências deve ser variada conforme a estação do ano, a localidade em que se

encontra o instrumento e o ciclo solar. Cada sondagem leva em média um intervalo de

tempo em torno de 3 minutos – dependendo dos parâmetros estabelecidos para controle

do instrumento.

No modo de deriva, apenas alguns valores de freqüência são sondados – na

Digissonda DGS256, usualmente, dois valores de freqüência e quatro de altura; na

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Digissonda DPS-4, quatro valores de freqüência e, por exemplo, dezesseis valores de

altura, variando em passos de 5km, ou quanto se desejar. Cada sondagem leva,

conforme os parâmetros de sondagem escolhidos, algo em torno de 3 minutos.

A principal diferença entre esses dois modos, portanto, é o tempo de integração

para cada freqüência sondada. Seria inviável utilizar o mesmo tempo de integração da

deriva, para o ionograma, pois, para haver um bom número de fontes refletoras, o tempo

de integração de deriva não pode ser muito pequeno.

Os ionogramas, como já foi mencionado anteriormente, representam as alturas

aparentes ou virtuais de reflexão dos ecos dos pulsos eletromagnéticos em função de

sua freqüência. É, portanto, necessário efetuar alguns cálculos para obtermos a altura

real dos perfis verticais de densidade eletrônica. Existem alguns algoritmos para efetuar

esses cálculos. Por exemplo, há o POLAN (Titheridge, 1985), o qual tem sido utilizado

para obter os perfis de densidade a partir de ionogramas registrados tanto pelas antigas

ionossondas modelo C4 como por ionossondas digitais mais modernas (Dynasonde, por

exemplo).

As Digissondas possuem o Automatic Real-Time Ionogram Scaler with True-

height (ARTIST) (Reinisch e Xueqin, 1983; Xueqin e Reinisch, 1996; Reinisch e

Xueqin, 1996), o qual é uma coleção de programas que produzem parâmetros reduzidos

de ionograma a partir da potência de sinal versus dados de altura e freqüência do

ionograma - parâmetros reduzidos de freqüência (foF2, foF1, foE, foEs etc.); de altura

(hmF2, h'F, h'E, h'Es etc.); fatores de propagação oblíqua (MUF, M3000), bem como a

curva h'(f) de altura virtual versus freqüência (Reinisch, 1986).

Atualmente, há um software desenvolvido pela equipe do Centro de Pesquisas

Atmosféricas da Universidade de Massachusetts Lowell, EUA, onde são produzidas as

Digissondas: o SAO-Explorer. Este programa, construído em Java, permite fazer a

revisão da redução automática dos ionogramas, feita pelo ARTIST, gerando arquivos

contendo os parâmetros acima mencionados, já com as devidas correções. Na figura

seguinte, é mostrado um exemplo de contorno de isolinhas.

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FIGURA 2.1 – No painel superior há os contornos de isolinhas de densidade eletrônica

ao longo de um dia inteiro de medidas realizadas durante a Campanha

COPEX, na localidade de Cachimbo. No painel inferior, são

apresentados os parâmetros foF2, hmF2, h’F, entre outros.

Na FIGURA 2.2, abaixo, é mostrado um ionograma escalado com o SAO-

Explorer.

24

FIGURA 2.2 – Ionograma escalado e perfil vertical de densidade eletrônica calculado

pelo programa NHPC que faz parte do SAO-Explorer.

2.2.2. Medidas de Deriva

Podemos obter medidas de velocidade vertical de deriva ionosférica, por meio

de Digissondas, das seguintes maneiras: 1) diretamente, usando o modo de deriva das

Digissondas; 2) indiretamente, a partir de ionogramas.

Na primeira, atualmente há duas possibilidades, a saber, através de cálculos

efetuados pelo programa denominado Digisonde Drift Analysis Velocity (DDAV)

(Dozois, 1983; Bullett, 1984; Scali et alii, 1993 e 1995a); ou pelo programa Velocidade

Vertical (Vertical) desenvolvido como parte do presente trabalho de doutorado. O

DDAV fornece as três componentes da velocidade de deriva ionosférica, isto é, vertical,

zonal e meridional. E o Vertical calcula a velocidade vertical na linha de visada. Mais à

frente será feita sua descrição.

25

Na segunda maneira, efetua-se a diferença entre duas medidas sucessivas de

altura virtual mínima da camada F (h’F) dividida pela diferença entre seus respectivos

horários, isto é,

tFhVz ∆∆= /' (2.0)

Tal técnica somente é válida, de acordo com Bittencourt e Abdu (1981), em períodos

após o pôr-do-sol quando a base da região-F está acima de 300km. Desta segunda

técnica – dada a facilidade atual de obter valores de altura real – como parte do trabalho

de doutorado, derivou-se o cálculo de velocidade vertical com o uso de alturas reais

referentes a determinadas freqüências de sondagem, ou seja,

( ) /Vz hF f t= ∆ ∆ (2.1)

onde f é uma freqüência fixa. Com o intuito de estudar o movimento vertical da camada

F em alturas próximas ao seu pico de densidade, foi proposta ainda como parte do

trabalho de doutorado mais uma nova maneira que se utiliza da altura real referente a

freqüências com valores de 80% da freqüência crítica da camada F (foF2), isto é,

0.80 /Vz hF t= ∆ ∆ (2.2)

Medidas de velocidade vertical obtidas diretamente no modo de deriva oferecem

uma certa vantagem relativamente às medidas geradas pelas técnicas das Equações

(2.0), (2.1) e (2.2), a partir de ionogramas sucessivos (por exemplo, a cada 15 min). É

muito mais rápido calcular velocidades a partir de medidas de desvio Doppler, pois não

é necessário o tempo de revisão e redução de ionogramas.

Para falar do processo de obtenção das medidas de deriva ionosférica, é

interessante dividi-lo em duas partes: 1) considerar a parte referente aos processos

físicos concernentes à reflexão dos pulsos em regiões do plasma ionosférico e, com isso,

como o índice de refração pode influenciar o deslocamento Doppler da freqüência de

um pulso eletromagnético, utilizado na técnica de medição de deriva; 2) do

26

processamento que o instrumento dá aos ecos das fontes refletoras em termos de fase e

ângulo de chegada, para o cálculo e obtenção dos vetores de velocidade de deriva.

2.3 Processos Físicos

2.3.1 Propagação de Ondas em um Meio Magneto-Ionizado: Equação de Appleton

A descrição dos processos físicos envolvendo a propagação de ondas em meios

ionizados é a conhecida teoria magneto-iônica desenvolvida por Appleton (1927).

Posteriormente, foi adicionado o termo de polarização de Lorentz por Hartree (1931) e,

desde então, a equação de índice de refração complexo em meio magneto-ionizado é

conhecida por equação de Appleton-Hartree. Vários autores tratam do assunto

(Ratcliffe, 1962; Budden, 1961; Kelso, 1964; Davies, 1966) e, aqui, basicamente, foi

seguido o tratamento dado por Davies (1966 e 1990) e Kelso (1964).

Devido à sua notação mais conveniente, o tratamento dado por Appleton (1932)

com toda a sua teoria, foi adotado como referência por diversos outros autores e acabou

se firmando como o mais comumente usado. O termo de polarização de Lorentz,

introduzido por Hartree, entretanto, mostrou-se dispensável, pois Seddon (1953) em um

experimento com foguetes, demonstrou que havia discordância entre os dados

experimentais e aqueles calculados com o referido termo incluso, conquanto o

experimento tenha sido feito com freqüência de 4MHz, na região E. Entretanto, esse

detalhe do assunto não será tratado aqui neste trabalho. Kelso (1964) dedica uma seção

à discussão desse termo.

A teoria magnetoiônica para plasmas frios prevê que ondas eletromagnéticas se

propagando em um meio ionizado em presença de campo magnético e colisões entre

elétrons e neutras, possuem somente dois possíveis modos de propagação, conhecidos

como componentes ordinária e extraordinária. A relação de dispersão ou a equação para

o índice de refração do meio com as características acima a que chegou Appleton é a

seguinte:

27

( ) ( )

2

2 4

2 2

11

2 1 4 1T T

L

XnY YiZX iZ X iZ Y

= −

− − ±− − − − +

(2.1)

onde

X Nem

=2

02ε ω

(2.2)

Y eBmT

T=ω

(2.3)

Y eBmL

L=ω

(2.4)

Z =νω

(2.5)

N representa a densidade eletrônica; e e m respectivamente, carga e massa eletrônica; ω

é a freqüência angular da onda; ε0, permissividade elétrica do vácuo; ν, a freqüência de

colisão entre elétrons e partículas neutras. YT e YL são respectivamente, as componentes

transversal e longitudinal da girofreqüência de elétrons, divididas pela freqüência

angular da onda.

Essas ondas características aparecem nos ionogramas registrados pelas

ionossondas, na forma dos chamados traços ordinário (O) e extraordinário (X). Por

causa dessa propriedade do meio ionosférico provocar essas polarizações

características, ele é considerado um meio birrefringente.

Em regiões nas quais o campo magnético terrestre é muito inclinado, tal como

nas regiões aurorais, é possível aparecer um terceiro traço com mesma polarização do

traço ordinário, este é o denominado traço Z. Ratcliffe (1962) desenvolve uma

discussão a respeito das origens dessa polarização.

28

Na Equação 2.1, percebe-se que o índice de refração é complexo e, por isso,

pode ser expresso na notação abaixo:

n iµ χ= − (2.6)

onde µ é a parte real e χ , a parte imaginária. A parte imaginária do índice de refração é

responsável pelo termo de absorção do meio. Para ver esse efeito, consideremos uma

onda plana que se propaga na direção vertical para cima tal como definida por Davies

(1966), representada por:

E E i t kz= −0 exp ( )ω (2.7)

onde t representa tempo; z, espaço percorrido (positivo na direção vertical para cima) e

k é o número de onda. Lembrando que velocidade de fase é dada por:

vkω

= ; (2.8)

e a definição de índice de refração,

n cv

= ; (2.9)

substituindo-se k na Equação 2.7, temos

E Ec

z i tc

z= −

0 exp expχ ω ω µ ω (2.10)

se χ for constante e não nulo, a amplitude da onda diminuirá exponencialmente à

medida que se propaga. O termo (cωχ− ), segundo Davies (1966), é uma medida do

decaimento de amplitude por unidade de distância e é chamado de coeficiente de

absorção.

29

As colisões podem ser desprezadas para o caso de freqüências maiores que

1MHz em alturas da camada E e F da ionosfera e, nesse caso, a equação para o índice

de refração fica como se segue:

( )( ) ( )

2

22 4 2

2 11

2 1 4 1T T L

X Xn

X Y Y X Y

−= −

− − ± + − (2.11)

Para o caso em que a incidência é vertical e na região do equador geomagnético

o termo YL2 torna-se nulo e então temos:

( )( )

( )( )

2

2 4

22 2

2 11

2 1

2 11

2 1

T T

T T

X Xn

X Y Y

X Xn

X Y Y

−= −

− − ±

−= −

− − ±

Então dois valores de n2 são possíveis:

( )( )

22

2 11

2 1 2 T

X Xn

X Y−

= −− −

ou

2 1n X= −

Se considerarmos ainda uma situação em que não haja campo magnético (ou que

possa ser desprezado), nem colisões, a expressão para o índice de refração torna-se

igual à expressão acima. Nesse caso, o índice de refração é real e muitos autores o

representam pela letra µ. Assim, temos:

2 1 Xµ = −

22 1

−=

ff Nµ

30

22 1

fNκµ −= (2.12)

onde fN representa a freqüência de plasma; f, a freqüência da onda incidente; e κ é, neste

caso, uma constante expressa por:

2

204

em

κπ ε

= (2.13)

Inicialmente 1=µ já que abaixo da ionosfera, a densidade eletrônica, N, é nula e, por

conseqüência X = 0 . A partir do ponto que X > 0, devido à presença de elétrons livres,

o índice de refração tende a ficar cada vez menor, até anular-se e, assim, o meio provoca

a reflexão da onda incidente, logo, nessa situação a freqüência da onda incidente

perpendicularmente à camada ionosférica, é igual à freqüência do plasma da região de

incidência, sendo possível determinar de forma aproximada, a densidade eletrônica do

plasma da região na qual a onda foi refletida. Dependendo das unidades utilizadas,

temos:

5,80

2fN ≅ (f em Hz e N em m-3) (2.14)

ou

N f≅ × ×1 24 104 2, (f em MHz e N em cm-3) (2.15)

No caso em que se considera a presença de campo magnético com colisões, ou

campo magnético sem colisões, as equações são bem mais complicadas e maiores

detalhes podem ser encontrados em Ratcliffe (1962) e Kelso (1964).

2.3.2. Velocidade de Fase

A velocidade de fase de uma onda pode ser expressa em conseqüência da

Equação 2.12 como se segue abaixo:

31

( )v c c

X= =

−µ 1 (2.16)

e, dessa maneira, percebe-se que é maior do que a velocidade da luz no vácuo, mas,

segundo Davies(1966), isso não é uma violação da Teoria da Relatividade, apenas

significa que o comprimento de onda é maior no meio do que no vácuo. A velocidade

de fase pode ser representada também da seguinte forma:

v f= λ (2.17)

onde λ é o comprimento de onda e portanto,

f v=λ

(2.18)

Tendo f o mesmo valor tanto para o vácuo como para um meio com índice de refração

µ, temos

v cλ λ=

0

(2.19)

onde λ0 é o comprimento de onda no vácuo.

2.3.3. Velocidade de Grupo

É interessante definir também, o conceito de velocidade de grupo, já que, nas

sondagens ionosféricas são utilizados pulsos eletromagnéticos. O pulso é uma onda

modulada em amplitude – um grupo de componentes com comprimento de onda

semelhante – e que se propaga a uma velocidade denominada como velocidade de

grupo. Somente em meios nos quais não há distorção do pulso, tal como ocorre na

ionosfera, é possível utilizar esse conceito de velocidade de grupo. Kelso (1964) traz

uma discussão a respeito de algumas situações em que a velocidade de grupo pode ser

maior do que a velocidade da luz e Stratton (1941) detalha a discussão sobre meios

muito dispersivos e a distorção do pulso.

32

Assim, a velocidade de grupo é definida por:

v ddkg =ω (2.20)

A velocidade de grupo assim definida é a componente na direção da propagação de fase

– mais adiante será discutido o caminho de fase e de raio e, então ficará mais claro o

significado físico disso.

2.3.4. Índice de Refração de Grupo

É conveniente também estabelecer o índice de refração de grupo:

′ =µ cvg

(2.21)

logo,

( )′ = =µω ω

c dkd

dd

ck (2.22)

substituindo as Equações 2.8 e 2.9 em 2.22, segue

( )′ =µω

µωdd

(2.23)

então, o índice de refração de grupo é expresso por:

′ = +µ µ ω µω

dd

(2.24)

ou substituindo-se ω por 2πf , temos:

′ = +µ µ µf ddf

(2.25)

33

Da Equação 2.12 e 2.22, substituindo-se novamente ω por 2πf , temos:

( ) ( )′ = = −

= −

⇒µ µd

dff d

dfff

f ddf

f fNN1

2

22 2

12

12

( )′ = − = −

=

−−

µµ

f f f ffN

N2 22

2

21

2

1

1 1

Logo,

µµ′ = 1 (2.26)

relação válida para a situação na qual não há a presença de campo magnético e

desprezam-se as colisões entre elétrons e neutras – condição equivalente a 2 20ω ω>>

(onde 0 /eB mω = representa a girofreqüência de plasma) na Equação 2.12 e rara de ser

encontrada na ionosfera terrestre, segundo Ratcliffe (1962). Para maiores detalhes a

respeito do índice de refração de grupo, considerando presença de campo magnético e

colisões, ver os trabalhos de Ratcliffe (1962) e Budden (1961).

2.3.5 Caminho de Fase e de Feixe

Continuar-se-á falando de propagação de ondas, porém com um outro enfoque,

utilizando os conceitos de caminho de fase e de raio (fluxo de energia) de uma onda,

conforme se segue.

Consideremos um meio anisotrópico. Nesse tipo de meio, a direção em que a

fase da onda se propaga não é a mesma em que a do fluxo de energia da onda se

propaga – diz-se também que a direção de fase não é a mesma que a de raio. Seguindo o

tratamento de Davies (1966) define-se caminho de fase através da expressão:

P dsT

R

= ∫ µ αcos (2.27)

34

onde µ representa o índice de refração do meio e α, o ângulo entre o vetor de onda,

perpendicular à superfície de fase constante, representado por np e o vetor de direção do

raio, nr; ds é um elemento de espaço, na direção e sentido de nr. O autor salienta, ainda,

que esses não são caminhos no espaço mas, sim, distâncias percorridas pela onda (ou

pelo grupo) à velocidade que teria no vácuo – já que o índice de refração é aquele

definido para ausência de colisões. Na FIGURA 2.3, há a representação esquemática do

caminho de raio de um grupo que se propaga entre o transmissor e o receptor, onde se

vê np e nr – o vetor normal de onda (na direção do caminho de fase) e o vetor de direção

de raio, respectivamente.

FIGURA 2.3 – Representação esquemática do caminho de fase e de raio em um meio

anisotrópico percorrido por um sinal entre o transmissor e o receptor.

FONTE: Davies (1966).

Davies define também o que chama de comprimento angular do caminho de

fase:

K P=2

0

πλ

(2.28)

O desvio Doppler da freqüência de um sinal transmitido pode ocorrer em virtude

de, basicamente, duas causas: o movimento da região do plasma em que é refletido esse

sinal e a variação do índice de refração ao longo do caminho que ele segue. O

Caminho de Raio

ds

R

T

αnr

np

35

movimento da região de reflexão, por sua vez, pode representar o movimento real da

camada – e isso significa deslocamento devido à deriva E × B, ou o transporte de

ionização da região onde é produzida, por exemplo, para outras regiões. Já o movimento

aparente, causado pela variação da ionização devida a reações químicas de produção e

perda influencia a variação do índice de refração do meio ao longo do caminho seguido

pela onda. Assim, quando o caminho angular de fase varia – seja por quaisquer uma das

causas acima – ocorre uma diferença entre as freqüências angulares da onda emitida e

da recebida, representada por ∆ω. Se K aumenta, então a freqüência recebida diminui,

porque um número maior de radianos são necessários no caminho entre o transmissor e

o receptor e ∆ω é expressa por:

0

2dK dPdt dt

πωλ

∆ = − = − (2.29)

0

1 dP f dPfdt c dtλ

∆ = − = − (2.30)

O deslocamento Doppler em freqüência do pulso transmitido é expresso por:

∆f fc

dPdt

= − (2.31)

No caso de ecos vindos da ionosfera, multiplica-se ainda, por um fator 2 e, então, o

desvio Doppler é dado pela seguinte relação:

dtdP

cff 2

−=∆ (2.32)

Segundo Kelso (1964), os pulsos emitidos pelas ionossondas se propagam com a

velocidade de grupo, enquanto os planos com fase constante, dentro dos pulsos, se

propagam com a velocidade de fase. De acordo com Breit (1929), é muito pequeno o

erro introduzido se supormos que os pulsos consistem de um número de ciclos de uma

única freqüência. Então, não é utilizado o índice de refração de grupo quando o

interesse é a fase de chegada do eco. Porém, quando se deseja calcular a altura real da

36

região de reflexão do pulso e, para isso, é utilizado o tempo total de percurso (ida e

volta), então é necessário usar o índice de refração de grupo, tal como, por exemplo, é

utilizado na prova do Teorema de Breit e Tuve (e.g. Kelso, 1964; Davies, 1966).

Uma outra possível derivação para o desvio Doppler do pulso emitido é feita da

seguinte maneira. Sejam f, a freqüência do pulso emitido, f’, a freqüência do pulso na

região de reflexão e v, a velocidade de propagação. De acordo com a lei de Doppler,

temos:

2

v1

v1

cf f

c

± ′ = −

(2.33)

Para v << c, a Equação 2.33 pode ser rescrita como se segue:

v1f fc

′ ≅ ± (2.34)

A freqüência recebida depois da reflexão, ou seja, a freqüência do eco recebido, f’’,

será:

2v1f fc

′′ ≅ ± (2.35)

logo,

2v v v1 2 1 2f f fc c c

′′ ≅ ± + ≅ ±

para v << c. Então o desvio Doppler é expresso por:

2 vff f fc

′′∆ = − = ± (2.36)

37

2.3.6. Velocidade na Linha de Visada

A velocidade v da Equação (2.36) é também denominada como velocidade na

linha de visada (Vlos) e é calculada segundo a equação abaixo:

2loscV ff

= − ∆ (2.37)

Podemos, pois, estabelecer a relação entre Vlos e o caminho de fase do pulso.

Das Equações (2.32) e (2.36) temos:

22losc f dPVf c dt = − ⋅ −

(2.38)

Portanto, a velocidade na linha de visada é numericamente igual à derivada temporal do

caminho de fase:

losdPVdt

= (2.39)

2.3.7. Relação entre Velocidade na Linha de Visada e Índice de Refração ao Longo

do Caminho

Dessa equação, chegamos a outra importante expressão:

cos R

losT

dPV dsdt t

µ α∂= =

∂ ∫ (2.40)

e que para um meio isotrópico reduz-se a:

R

losT

dPV dsdt t

µ∂= =

∂ ∫ (2.41)

que acordo com Bennett (1967) pode ser expresso por:

38

R

losT

dPV dsdt t

µ∂= =

∂∫ (2.42)

Foram apresentados, até agora, alguns tópicos a respeito da Teoria

Magnetoiônica que descrevem os processos físicos envolvidos na sondagem por meio

de ondas eletromagnéticas (ou radiossondagem), bem como definidas algumas relações

que serão importantes mais à frente. Tratar-se-á, na próxima seção, do processamento

aplicado aos dados de deriva.

2.4 Como são Obtidos os Dados de Deriva

Durante alguns anos, foi desenvolvido pela equipe da UMLCAR um método

para extrair informação a respeito da localização das fontes refletoras e da velocidade

de deriva do plasma ionosférico (Dozois, 1983; Bullett, 1994, Scali et alii, 1993

e1995a). Esse método foi denominado como Digisonde Drift Analysis (DDA), já

mencionado anteriormente no início do capítulo. Posteriormente foi desenvolvido um

outro método mais aprimorado chamado de Generalized Digisonde Drift Analysis

(GDDA).

No DDA, são calculados os vetores velocidade, considerando-se a uniformidade

espacial da velocidade de deriva – que é uma suposição comum usada nesse tipo de

cálculos.

A localização de fontes refletoras é importante tanto para os ionogramas como

para os dados de deriva. Dozois (1983) desenvolveu o algoritmo através do qual essa

localização é efetuada. Posteriormente, Bullett (1994) e Scali et alii (1993 e 1995a)

aperfeiçoaram o código e chegou-se ao DDA.

Descrições sobre o DDA podem ser encontradas em Scali et alii (1993 e 1995a)

e Bertoni (1998). Visando facilitar o acesso à informação contida nesses documentos,

far-se-á uma síntese a respeito do método utilizado para localização das fontes refletoras

e dos vetores de velocidade.

39

2.4.1 Sobre o Método dos Cálculos pelo DDA

O DDA é constituído, basicamente, por dois programas: DDAS e DDAV. O

primeiro calcula os vetores de localização das fontes refletoras e o segundo, os vetores

de velocidade das mesmas.

Na FIGURA 2.4 temos um esquema da situação em que ocorre a recepção de

um eco por duas das quatro antenas utilizadas para as sondagens.

FIGURA 2.4 - Esquema representativo da situação de duas antenas receptoras, durante

a chegada de um eco.

FONTE: Bullett (1994, p. 104).

Sejam rri , rrj e aφ , respectivamente os vetores posição de duas antenas i e j e a

fase do eco recebido em cada uma delas. Temos:

aa rk rr⋅=φ (2.43)

onde o índice a representa o número da antena (1, 2, 3 ou 4, por exemplo) e rra , o vetor

posição de antena em relação à antena 1 (Scali et alii, 1995a e b). O vetor rk , pode ser

calculado a partir da expressão (2.9):

40

( ) ijjijiij rkrrk rrrrr∆⋅=−⋅=−=∆ φφφ (2.49)

Para um conjunto de 4 antenas, temos 6 termos de diferença de fase e de vetores

de posição relativa. Na FIGURA 2.4, é mostrado um esquema do arranjo de antenas

receptoras. No meio do triângulo eqüilátero fica a antena 1 e as outras são dispostas no

sentido anti-horário em cada um de seus vértices distantes 64m uns dos outros. Nossos

sistemas operam com esse mesmo tipo de arranjo de antenas e, portanto, há 6 termos de

diferença de fase e de vetores de posição relativa para cada sinal recebido.

FIGURA 2.4 – Arranjo de antenas receptoras da DPS-4 na localidade Jicamarca.

FONTE: Galkin and Paznukhov (2002, p.2).

Aplica-se, então, o método dos mínimos quadrados para estimar rk a partir da

Equação (2.49) (Scali et al., 1995b). Seja M o número de termos de diferença de fase e

de pares de antenas, logo:

( ) ( )[ ] ⇒−−−⋅−= ∑∑+==

M

jjjjjjjjj

M

jrrk

M 1

2

1

2 1 φφε rrr

1

2

3

4

Norte Mag. linha 3-1

Desv. = -30°

41

( )2,,,,,

2 1jjjjjjzjjjyjjjx

M

jjjzkykxk

Mφε ∆−∆−∆−∆−= ∑ (2.50)

Efetuando as derivadas de ε2 com relação a k kx y e , igualando-as a zero e,

além disso, considerando que o conjunto de antenas está no plano x-y – significando que

o termo ∆z jj j, é nulo – obtemos a seguinte equação matricial:

[ ][ ] *A K φ = − (2.51)

onde

[ ]

∆∑∆∆∑∆∆∑∆∑= 2

2

yyxyxxA ; (2.52)

[ ]

=

y

xkk

K ; (2.53)

[ ]

∆∆∑∆∆∑

=yx

φφ

φ* (2.54)

Resolvendo esse conjunto de matrizes para k kx y e temos:

( )D

yyxxykx∆∆∑∆∆∑−∆∆∑∆∑−

=φφ2

; (2.55)

( )D

xyxyxky∆∆∑∆∆∑−∆∆∑∆∑−

=φφ2

; (2.56)

( )222 yxyxD ∆∆∑−∆∑−∆∑= (2.57)

A componente kz , por sua vez é obtida através do módulo de rk e, também de k kx y e ,

como segue:

42

21222

−−= yxz kkkkr

(2.58)

A direção de kr

é normal à frente de onda e seu sentido o da propagação da onda. A

direção aparente da fonte ou vetor na linha de visada é a do vetor unitário ˆra que possui

mesma direção e sentido oposto ao do vetor kr

, ou seja:

ˆrkak

= −r

r (2.59)

Este vetor também é descrito pelo ângulo zenital, θ e o ângulo azimutal, ψ, conforme as

expressões abaixo:

x

yzkk

tgkk

== ψθ ; cos r (2.60)

Tendo-se calculado kr

, calcula-se o ε2 novamente. Grandes valores de ε2

evidenciam um ajuste ruim que pode ser atribuído, por exemplo, ao fato de que as

antenas não são eletricamente idênticas ou que a relação sinal/ruído não é

suficientemente boa. Então, essa fonte é descartada.

Depois que as fontes são localizadas, elas são utilizadas para a determinação das

componentes de velocidade de deriva ionosférica.

Seja Vs a velocidade da fonte na linha de visada dada por:

ss VaV =⋅ ˆr

(2.61)

onde r

V é a velocidade do plasma ionosférico, $as é o vetor unitário de localização da

fonte s. São necessárias, no mínimo, três velocidades na linha de visada para calcular a

velocidade do plasma ionosférico. Aplica-se, então, um ajuste ponderado de mínimos

43

quadrados à Equação (2.61), onde ws representa fatores de ponderação não negativos.

Temos, para cada uma de S fontes (Bullett, 1994):

( )2

2 1

1

1 ˆS

s s ss

S

ss

w V a VS

wε =

=

⋅ − =

r

(2.62)

onde

zzyyxx

zsysxss

aVaVaVV

azayaxa

ˆˆˆ

ˆˆˆˆ

++=

++=r (2.63)

Substituindo-se em (2.25), obtém-se:

( )2

2 1

1

1 S

s x s y s z s ss

S

ss

w V x V y V z VS

wε =

=

+ + − =

∑ (2.64)

Aplica-se, então, o mesmo tratamento dado ao vetor posição da fonte. Isto é, da

condição de mínimo da derivada de ε2 com relação às componentes da velocidade do

plasma ionosférico desconhecida, chega-se a uma equação matricial dada por:

∑∑∑

=

∑∑∑∑∑∑∑∑∑

sss

sss

sss

z

y

x

ssssssss

ssssssss

ssssssss

zVwyVwxVw

VVV

zwzywzxwzywywyxwzxwyxwxw

2

2

2

(2.65)

A velocidade do plasma ionosférico é obtida com a inversa da matriz quadrada

contendo termos da fonte, multiplicada pela matriz coluna contendo dados da

velocidade na linha de visada:

[ ][ ] [ ]⇒= LVS

44

[ ] [ ] [ ]LSV 1−= (2.66)

2.4.2 Pós-processamento

Scali et alii (1993, 1995a e b) e Bertoni (1998) escreveram a respeito do pós-

processamento dos arquivos de deriva pelo DDAS e pelo DDAV. Desde então, não

houve muitas mudanças na maneira de efetuar essas tarefas. Entretanto, desde meados

de 2002, foi lançado o Drift-Explorer com o qual é mais fácil obter as componentes de

velocidade medidas pelas Digissondas.

Algumas alterações dos códigos-fonte do DDAV mudaram o formato de saída

dos dados de velocidade. Com a nova versão, são gerados arquivos ASCII com extensão

*.DVL, os quais contêm as medianas das três componentes da velocidade de deriva, isto

é, componente vertical (Vz), zonal (Vy), meridional (Vx) e respectivos erros. Os sistemas

de coordenadas são escolhidos conforme as configurações do arranjo de antenas

receptoras que, no nosso caso, estão dispostas no sistema de coordenadas

geomagnéticas no qual o eixo x aponta no sentido do norte magnético, y, para o oeste

magnético e z na vertical para cima.

2.4.3. Sobre o Método de Obtenção de Velocidade na Linha de Visada

Desenvolveu-se uma técnica de cálculo de velocidade vertical na linha de visada

a partir do desvio Doppler em freqüência do sinal recebido. Havia dois objetivos para

desenvolvermos e utilizarmos essa técnica: 1) em princípio, cogitou-se a hipótese de

que selecionando-se somente fontes refletoras próximas à vertical, ou seja, com

pequenos ângulos de zênite, teríamos medidas mais precisas da componente vertical,

eliminando possíveis contaminações de velocidade horizontal em virtude de inclinações

na camada refletora; 2) foi um esforço para conseguir a componente vertical quando as

medidas fornecidas pelo DDAV estavam ruins.

45

A velocidade na linha de visada é obtida segundo já foi mostrado na Equação

(2.37) repetida abaixo, isto é:

2loscV ff

= − ∆

Para calcularmos o desvio em freqüência, ∆f , efetuamos o seguinte cálculo:

∆f = Linha Doppler Espectral × Resolução Espectral

A linha Doppler do espectro do sinal recebido é obtida a partir dos arquivos gerados

pelo DDAS, responsável pela localização das fontes refletoras. Portanto, antes de

rodarmos o algoritmo que calcula a Vlos, rodamos, primeiramente, o DDAS. A resolução

espectral, por sua vez, é calculada segundo a seguinte expressão:

1dfCIT

= (2.67)

onde CIT representa o tempo de integração coerente (da sigla em inglês Coherent

Integration Time) e é calculado de acordo com a relação abaixo:

CIT = (NDop×P×FMplx) / (R / X) (2.68)

Onde,

NDop = número de linhas espectrais

P = número de polarizações

FMplx = número de freqüências multiplexadas

R = Taxa de repetição de pulso

X = Tipo de código de transmissão de sondagem

O número de linhas espectrais é igual a 2N onde N é um parâmetro de sondagem

com valor selecionado pelo operador, comumente N = 6 ou 7. Assim, o número de

46

linhas pode ser 64 ou 128. O número de polarizações é igual a 1 se somente o modo

para ecos ordinários é usado e igual a 2 se os modos para ecos ordinários e

extraordinários são usados em alternância. A taxa de repetição de pulso é um outro

parâmetro com valor selecionável pelo operador, podendo ser igual a 50Hz, 100Hz ou

200Hz. E X é igual a 1 para uma seqüência de código de fase simples ou igual a 2 para

uma seqüência de fase complementar (Haines, 1994).

A título de exemplificação, vamos supor que N = 7, X = 2, R = 50Hz e FMplx =

1. Assim, temos NDop = 128 linhas espectrais (64 linhas de Doppler positivo e 64 de

Doppler negativo) e, portanto, o tempo de integração coerente é igual a 20,48s.

Conseqüentemente a resolução espectral é de 0,0488Hz por canal. Dessa forma, o

desvio Doppler em freqüência estende-se de -3,125Hz a 3,125Hz.

Vamos agora supor que seja recebido um eco de 6MHz resolvido na linha

espectral de número +20. O desvio Doppler é então de +0,976Hz – basta multiplicar 20

por 0,0488Hz. Logo, a velocidade na linha de visada, obtida a partir da Equação (2.37)

será de aproximadamente -24,5m/s – o que significa que a fonte refletora está se

aproximando das antenas e, portanto, em se tratando de velocidade vertical, está em

movimento descendente com uma velocidade de 24,5m/s.

2.4.4 Sobre as Técnicas dhF/dt e dhF0.80/dt

Conforme já mencionado na Secção 2.2.2, a velocidade vertical obtida pelo

método dhF/dt é calculada a partir da diferença das alturas reais de uma determinada

freqüência de sondagem entre dois sucessivos ionogramas. Utilizou-se, primeiramente,

o método de diferença centrada simples, para posteriormente aplicar aos cálculos de

derivada temporal um método mais aprimorado que utiliza cinco pontos sucessivos.

Além disso, na primeira versão somente freqüências de sondagem pré-fixadas em

intervalos de 0,5MHz, poderiam ser usadas – isto é, por exemplo, 4MHz, 4,5MHz,

5MHz e assim por diante. E, na versão posterior qualquer freqüência já pode ser usada,

pois é feita uma interpolação linear.

47

O algoritmo para o cálculo de dhF0.80/dt utiliza o mesmo método acima para

calcular a derivada temporal (ver, por exemplo, Singer, 1964). A diferença entre essas

duas técnicas de obtenção de velocidade de deriva vertical é que esse segundo utiliza

alturas reais referentes a freqüências iguais a 80% da freqüência foF2. O principal

objetivo foi ter uma ferramenta a mais para conseguir velocidades de deriva mais

precisas sem muita contaminação dos efeitos de produção fotoquímica.

Para calcular as derivadas utilizou-se o método de derivação através da

diferença finita por 5 pontos contíguos e igualmente espaçados (ver, por exemplo,

Singer,1964). Conforme a simetria e a disponibilidade de pontos, uma das seguintes

expressões era aplicada no cálculo, onde mi (i = 0, 4), representam a aproximação

usada:

[ ]0 0 1 2 3 41 25 ( ) 48 ( ) 36 ( ) 16 ( ) 3 ( )

12m f x f x f x f x f x

h= − + − + − (2.69)

[ ]1 0 1 2 3 41 3 ( ) 10 ( ) 18 ( ) 6 ( ) ( )

12m f x f x f x f x f x

h= − − + − + (2.70)

[ ]2 0 1 3 41 ( ) 8 ( ) 8 ( ) ( )

12m f x f x f x f x

h= − + − (2.71)

[ ]3 0 1 2 3 41 ( ) 6 ( ) 18 ( ) 10 ( ) 3 ( )

12m f x f x f x f x f x

h= − + − + + (2.72)

[ ]4 0 1 2 3 41 3 ( ) 16 ( ) 36 ( ) 48 ( ) 25 ( )

12m f x f x f x f x f x

h= − + − + (2.73)

onde x é a variável independente e 0ix x ih= + ; i = 0,1,2,3,4 e h é o passo. Em nosso

caso, a variável independente é o tempo (medido em hora), as parcelas f(x) representam

as sucessivas alturas reais em que uma determinada freqüência está ao longo do dia e h

pode ser igual a 1/4 (0,25hora para sondagens a cada 15min) ou 1/12 (~0,0833 para

sondagens a cada 5min). Logo, considerando o caso de sondagens a cada 15min, o fator

48

1/12h fica igual a 1/3. Como se vê os resultados acabam sendo expressos em km/h e

então é necessário dividir por 3,6 para converter em m/s.

Vamos supor que haja uma seqüência de pontos igualmente espaçados –

digamos 15 minutos. Por esse método, utiliza-se m0 para calcular a derivada no primeiro

ponto, m1 para calcular a derivada no segundo ponto, m2 para a no terceiro ponto e, não

havendo falhas, m2 poderia ser utilizado até o antepenúltimo ponto do arquivo e no

penúltimo e no último ponto, utilizam-se m3 e m4. Caso haja alguma falha é necessário

empregar-se a expressão de m0 e retomar toda a seqüência.

Na FIGURA 2.5 é apresentado um esquema exemplificando a aplicação do

método descrito acima: no primeiro subconjunto de 5 elementos, aplica-se m0 ao

primeiro ponto, m1 ao segundo ponto, m2 ao terceiro ponto. Como não há falha de dado

no segundo subconjunto, m2 é utilizado novamente No terceiro subconjunto há uma

falha no quinto elemento, então volta-se ao subconjunto anterior e calcula-se a derivada

com m3 e m4 sucessivamente. Pega-se então o quinto subconjunto o qual tem a falha no

centro e aplica-se m2 – eis aí uma das vantagens do método, mesmo com falhas de

dados é possível calcular as velocidades em vários casos.

49

FIGURA 2.5 – Esquema com exemplo de aplicação da seqüência de expressões para o

cálculo das derivadas temporais.

No Capítulo 4, serão apresentados alguns resultados com todas as técnicas

descritas aqui nesse capítulo.

2.5 Radar de Espalhamento Incoerente

Os radares de espalhamento incoerente utilizam o princípio de espalhamento

Thomson, o qual consiste na reflexão por elétrons livres de parte da energia

eletromagnética incidente.

Tais instrumentos operam em freqüências bem maiores do que a freqüência

crítica da região F, a qual geralmente não ultrapassa valores maiores que 20MHz. Entre

alguns exemplos, em Arecibo (18,3°N, 66,8°O), Porto Rico, há um radar de

espalhamento incoerente que opera em 430 MHz; em Millstone Hill (42,6°N, 71,5°O),

EUA, um outro que opera em 440 MHz; em Sondre Stromfjord (69,5°N, 51°O),

m0 m1 m2 m2 m3 m4 m2 m0 m1 m2

. . .

. . .

50

Groenlândia, um outro, ainda, que opera em 1290 MHz. No caso do radar do Rádio

Observatório de Jicamarca (12°S, 77°O), transmite-se em 49.9 MHz.

Conforme foi mencionado anteriormente, as ionossondas transmitem

verticalmente pulsos de ondas eletromagnéticas, comumente em freqüências entre 1 e

20MHz. Esses pulsos sofrem reflexão em regiões do plasma ionosférico quando é

satisfeita a condição de igualdade entre a freqüência do plasma e a freqüência da onda

incidente.

Os pulsos de ondas eletromagnéticas de freqüência bem mais alta que a

freqüência crítica da região F, transmitidos verticalmente por radares de espalhamento

incoerente, podem atravessar o plasma ionosférico. À medida que esses pulsos se

deslocam através do plasma ionosférico, sofrem espalhamento pelos elétrons e, parte da

energia eletromagnética incidente é refletida, ou seja, os elétrons produzem pequenos

ecos. Como os elétrons na ionosfera possuem movimento termal, os ecos possuem fases

aleatórias e, por isso, denomina-se como espalhamento incoerente a esses ecos com fase

aleatória. Entretanto, os íons controlam o movimento dos elétrons, num raio igual ao do

comprimento de Debye e, como são mais pesados que os elétrons e possuem movimento

mais lento, acaba havendo certa coerência nas fases dos ecos produzidos pelos elétrons.

Utilizando-se um mesmo conjunto de pulsos e sincronizando a recepção dos

ecos em diferentes intervalos de tempo, os radares de espalhamento incoerente podem

obter informações tanto da parte inferior ao pico de densidade eletrônica da região F

como de sua parte superior. Enquanto as ionossondas, devido ao seu princípio de

funcionamento e à faixa de freqüências em que opera, obtêm informações da base até a

altura do pico de densidade eletrônica da camada ionosférica.

Os ecos incoerentes provêm de um grande número de elétrons em constante

estado de agitação térmica. Essa movimentação dos elétrons produz efeito Doppler na

freqüência da onda incidente e, por isso, os ecos se distribuem em um intervalo de

freqüências em torno da freqüência transmitida, portanto, o sinal recebido é

representado por um espectro de potência.

51

Se o sinal recebido nas antenas fosse devido a uma só freqüência, isto é, se fosse

monocromático, o seu espectro seria representado por uma função delta de Dirac. Como

o sinal recebido não é monocromático, mas, sim, composto de diversos comprimentos

de onda, o seu espectro é representado por uma função bem mais complexa. Segundo

Evans (1966), o espectro de potência é uma função que tem dependência com as

densidades e temperaturas de íons e elétrons, bem como com o comprimento de Debye

do plasma e o comprimento de onda utilizado nas sondagens. Conhecendo-se os

processos envolvidos no espalhamento da radiação incidente, é possível utilizar-se o

espectro de potência para estudar as características do meio.

Gordon (1958) foi quem mostrou ser possível o uso de radares para detectar o

espalhamento incoerente. Experimentos conduzidos por Bowles (1958), mostraram que

a largura do espectro era menor do que se previa, como resultado do controle exercido

pelos íons sobre o movimento termal dos elétrons.

Estudos posteriores (Dougherty e Farley, 1960; Fejer, 1961; Salpeter, 1961)

mostraram que o espectro espalhado consiste de duas partes: uma componente iônica e

uma componente eletrônica. Quando o comprimento de onda transmitido pelo radar é

muito maior que o comprimento de Debye do plasma, a energia espalhada é resultado

da velocidade termal mais lenta dos íons, conseqüentemente somente a componente

iônica do espectro é evidenciada. Se o comprimento de onda utilizado pelo radar é

muito menor que o comprimento de Debye, a energia espalhada é totalmente devido à

componente eletrônica.

Um diagrama esquemático da componente iônica de espectro de potência devido

a espalhamento incoerente é mostrado na FIGURA 2.6, a seguir, baseado em Kelley

(1989). Vários parâmetros do plasma estão disponíveis a partir do espectro de potência.

A área da curva, por exemplo, é proporcional à densidade numérica. Já ∆f varia em

função da temperatura dos íons e dos elétrons, assim, para temperaturas maiores, mais

largos são os espectros e, para temperaturas menores, mais estreitos. A intensidade dos

picos relativamente ao pequeno vale é função da temperatura dos elétrons. Além disso,

52

o deslocamento f0 do espectro como um todo com relação à freqüência transmitida (fT),

permite calcular a velocidade na linha de visada dos íons.

FIGURA 2.6 – Diagrama esquemático do espectro de potência devido a espalhamento

incoerente: fT representa a freqüência transmitida; ∆f é uma medida da

temperatura dos íons e elétrons; f0 é o desvio Doppler médio, através do

qual é possível obter uma medida da velocidade dos íons na linha de

visada.

FONTE: Kelley (1989, p. 427).

Alguns outros parâmetros que podem ser determinados a partir da componente

iônica do espectro de potência são, por exemplo, o campo elétrico, o tensor

condutividade, correntes elétricas e a velocidade do vento neutro.

Finalmente, para mais detalhes a respeito do espalhamento incoerente do radar

de espalhamento incoerente do Rádio Observatório de Jicamarca, recomenda-se a

leitura dos trabalhos de Woodman e Hagfors (1966) e Kudeki et alii (1999).

f0

fT Freqüência

Potê

ncia

∆f

53

CAPÍTULO 3

SOBRE O MODELO SUPIM

3.1 Introdução

A modelagem computacional aplicada ao sistema ionosfera-termosfera tem sido

útil para entender, descobrir e fazer previsões sobre os seus fenômenos físicos.

Vários modelos foram elaborados desde a década de 60 do século XX (ver, por

exemplo, Stening et alii, 1992). No Brasil, há os modelos de densidade eletrônica/iônica

e campos elétricos da região ionosférica de baixas latitudes feitos por Bittencourt

(1996), Batista (1985), Paula (1987) e Bonelli (1995).

Os modelos computacionais podem ser de três tipos: matemático, empírico ou

semi-empírico. O primeiro tipo resolve um conjunto de equações diferenciais de

continuidade, transporte de energia e momentum, para gerar as suas saídas; o segundo

tipo, somente dados observados, interpolações e extrapolações; e, o terceiro tipo, é um

misto dos outros dois primeiros.

Devido à complexidade do sistema ionosfera-termosfera-magnetosfera, em

geral, os modelos respondem melhor para suas regiões de interesse e, portanto, podem

simular bem o comportamento para médias latitudes e não para baixas, ou vice versa.

Mesmo os modelos globais utilizam simplificações que os fazem responder melhor a

determinado conjunto de latitudes.

Para este trabalho em particular, foi utilizado o Sheffield University

Plasmasphere Ionophere Model (SUPIM), o qual tem sido desenvolvido desde finais da

década de 70 (Bailey e Sellek, 1990; Bailey e Balan, 1996; Bailey et alii, 1997). Trata-

se de um modelo matemático aplicável a latitudes que possuem linhas de campo

geomagnético fechadas (Bailey et alii, 1997). Devido às configurações usadas nos seus

cálculos, torna-se um bom modelo para estudar fenômenos de baixas latitudes

54

magnéticas, tal como é o nosso caso, incluindo-se os efeitos característicos observados

nos pontos geomagnéticos conjugados. O tratamento dado às expressões matemáticas e

descrição do modelo aqui apresentado baseia-se no trabalho de Bailey et alii (1997).

3.2 Descrição do Modelo

O SUPIM resolve as equações de continuidade, momento e balanço energético

dependentes do tempo ao longo de linhas fechadas do campo geomagnético. As

soluções desse sistema de equações fornecem a distribuição espacial (em latitude e

altura) e temporal de valores de densidade, velocidade e temperatura para os íons O+,

H+, He+, N2+, O2

+ , NO+ e elétrons (Bailey et alii, 1997). Segundo os autores, os

principais processos físicos e químicos incluem produção de íons devido à radiação

solar EUV, produção e perda de íons devido a reações químicas entre os íons

constituintes e gases neutros, difusão ambipolar e térmica, colisões entre íons e entre

íons e neutras, ventos termosféricos, deriva eletromagnética, condução térmica,

aquecimento fotoeletrônico, aquecimento friccional, e mecanismos de aquecimento e

resfriamento locais.

O campo geomagnético é representado por um dipolo excêntrico inclinado com

relação ao eixo de rotação terrestre. Nessa aproximação de dipolo excêntrico, o centro

do dipolo é deslocado 500km do centro geográfico na direção 21°N, 147°E. O eixo do

dipolo é inclinado em relação ao eixo de rotação interceptando a superfície terrestre em

(82°N, 95°W) e (75°S, 119°E). Em meados de 2002 foi incorporado o cálculo de

declinação magnética usando o IGRF95. Posteriormente, em 2003, foi feita a

atualização para o IGRF2000.

O dipolo excêntrico e inclinado relativamente ao eixo de rotação terrestre pode

utilizar como referência o sistema de coordenadas esféricas (r, θ, φ) com algumas

transformações, dada a simetria do problema. As equações do modelo são representadas

num sistema de coordenadas paralela e perpendicular ao campo magnético, seguindo o

já bem conhecido tratamento dado por Kendall (1962). Vários modelos utilizam essa

transformação de coordenadas por facilitar o tratamento algébrico das soluções do

55

sistema de equações. Para mais detalhes a respeito das transformações de coordenadas

aplicadas no modelo SUPIM, recomenda-se a leitura de Bailey e Balan (1996).

3.2.1 Dados de Entrada

As informações de entrada são as seguintes: ano, dia do ano (calendário

corrido); fluxo solar F10.7 diário e média sobre 80 dias; índice Ap e arquivos contendo

dados de ventos meridionais termosféricos, bem como arquivos contendo dados de

deriva ionosférica. Além desses parâmetros, os quais são fornecidos diretamente pela

leitura de arquivo, também se constituem como informações de entrada para o modelo:

as intensidades para vários intervalos de comprimento de onda do espectro solar EUV

calculados pelo modelo EUVAC (Richards et alii, 1994) e valores de seções

transversais de absorção e ionização adotados de Torr e Torr (1979 e 1982).

O MSIS86 é usado como sub-rotina para calcular densidades de O, O2, N2, H,

He e temperatura da atmosfera neutra, Tn. Além das densidades dos constituintes

neutros fornecidas pelo MSIS86, a densidade de óxido nítrico, NO, também é calculada

e utilizada pelo modelo. Em versões anteriores, usava-se o modelo de Mitra (1968) para

calcular a densidade de NO, a qual segundo o autor, é dada por:

72

3700(NO) 0, 4exp (O ) 5,0 10 (O)n

n n nT

− = − + ×

(3.1)

Porém, na corrente versão do SUPIM, a densidade de NO é obtida através do modelo de

Titheridge (1997).

Os ventos neutros geográficos são calculados pelo modelo HWM90. E os ventos

neutros termosféricos de meridiano magnético, os quais são efetivamente utilizados

como entrada para o modelo, são calculados de acordo com a seguinte expressão por:

cosU U D U senDθ φ= − (3.2)

56

onde Uθ e Uφ representam respectivamente, ventos geográficos meridional e zonal e D

representa a declinação magnética. Convém observar que na direção meridional, o

sistema de coordenada dos ventos neutros usado pelo SUPIM é contrário ao sistema de

coordenadas usado no HWM90, isto é, no SUPIM a velocidade é positiva para sul e no

HWM90, positiva para norte. Já o vento zonal geográfico tem o mesmo sentido em

ambos os modelos, ou seja, positivo para leste.

Outro dado de entrada é a deriva eletromagnética E×B. Na corrente versão, a

deriva eletromagnética é lida de arquivos. Há também a opção de utilizar o modelo de

Scherliess e Fejer (1999) o qual se trata de um modelo empírico baseado nas médias de

velocidade de deriva registradas pelo radar de espalhamento incoerente do Rádio

Observatório de Jicamarca, Peru, desde o final da década de 60 do século XX.

Entretanto, para os objetivos deste trabalho, foi interessante entrar diretamente com

valores medidos de deriva seja pelo radar de espalhamento incoerente de Jicamarca,

seja pelas Digissondas.

3.3 Conjunto de Equações

Seguindo o mesmo tratamento dado em Bailey e Balan (1996), serão

apresentadas a seguir as equações resolvidas pelo modelo SUPIM.

3.3.1 Equação de Continuidade

Parte-se da seguinte expressão

( )ii i i i

N N P Lt

∂+ ∇ ⋅ = −

∂V (3.3)

que após transformação de coordenadas, é como se segue:

1 .( )i i ii i i i em

dN AN V P N Ndt A s

β∂+ = − − ∇

∂V (3.4)

57

onde Ni representa a concentração do íon i – no caso do SUPIM, i = O+, H+, He+, N2+,

O2+ , ou NO+; Vi é a velocidade do íon, Pi e Li são as taxas de produção e perda de íons;

iV é a velocidade do íon alinhada ao campo magnético; A é a área da secção transversal

do tubo de fluxo magnético; t é tempo; s e a distância ao longo da linha de campo

magnético (positiva no sentido de norte para sul); βi é o coeficiente da taxa de perda de

íons; emV representa a resultante da velocidade de deriva E×B e velocidade zonal de co-

rotação do íon, ou seja

em V V⊥ Φ= +Vr r

(3.5)

sendo o primeiro termo a deriva eletromagnética e o segundo termo a velocidade de co-

rotação na direção zonal do sistema de coordenadas de dipolo excêntrico. Ainda,

segundo Bailey e Balan (1996), a derivada total da Equação (3.4) é tomada em um

referencial que se move com velocidade emV e é expressa por:

.i iem i

dN N Ndt t

∂= + ∇

∂V (3.6)

A taxa de produção é calculada segundo a Equação (3.7) abaixo:

( ) ( ) exp ( ) ( )i i i j j j jj

P n n H chλ

λ σ λ σ λ χ

= Φ −

∑ ∑ (3.7)

onde:

( )λΦ representa intensidade do fluxo de radiação EUV (fótons/cm2-s)

( )iσ λ = secção de transversal de fotoionização no comprimento de onda λ (m2)

ni e nj densidades dos constituintes neutros i e j (cm-3)

( )jσ λ = secção transversal de absorção no comprimento de onda λ (m2)

Hj = altura de escala do constituinte neutro i (m)

58

( )jch χ = função de Chapman (Smith e Smith, 1972)

χ = ângulo de zênite solar

No modelo, a ionização é produzida pela fotoionização de gases neutros pela

radiação EUV. Na atual versão do modelo, utilizada neste trabalho, o fluxo solar a ser

usado nos cálculos de produção iônica diurna é obtido com o modelo EUVAC de

Richards et alii (1994). O somatório λ∑ é feito sobre os comprimentos de onda

ionizantes e o somatório j

∑ efetuado sobre os gases neutros O, O2 e N2. As secções

transversais de ionização e absorção são apresentadas na Tabela 1. É incorporada

também a produção noturna fruto de reações químicas com os gases neutros, baseada no

modelo de Strobel et alii (1974).

59

TABELA 3.1 – Taxas de reação utilizadas no SUPIM.

Reação Taxa de Reação (cm3 s-1) Referência

O N NO N+ ++ → +2 1 533 10 5 920 10300

12 13, ,( )

× − ×− −+T O

+ ×

+

8 600 10300

142

, ( )T O

300 1700≤ ≤+T O( ) K

Torr e Torr (1979)

2 730 10 1155 10

300

1 483 10300

12 12

132

, , ( )

, ( )

× − ×

+ ×

− −+

−+

T O

T O

1700 < T O( )+

Torr e Torr (1979)

O O O O+ ++ → +2 2 2 82 10 7 74 10300

1 073 10300

517 10300

9 65 10300

11 12

122

143

164

, , ( )

, ( )

, ( )

, ( )

× − ×

+ ×

− ×

+ ×

− −+

−+

−+

−+

T O

T O

T O

T O

Torr e Torr (1979)

O H H O+ ++ → + 2 50 10 11 0 5, ,× − Tn Raitt et al., (1975)

H O O H+ ++ → + 89

2 5 10 11 0 5× × − +, ( ),T H

Raitt et al., (1975)

He N He N+ ++ → +2 2

→ + ++He N N

1 20 10 9, × −

Ferguson (1973)

He O He O O+ ++ → + +2 110 10 9, × − Ferguson (1973)

N O NO N2+ ++ → +

1 40 10 300100 44

,( )

,

×

+T O

Torr e Torr (1979)

O e O O2+ + → +

1 60 10 30070 55

,,

×

Te

Torr e Torr (1979)

O NO NO O2 2+ ++ → + 4 40 10 10, × − Torr e Torr (1979)

N O e N O+ + → + 4 20 10 3007

0 85

,,

×

Te

Torr e Torr (1979)

FONTE: Bailey e Sellek (1990).

60

3.3.2 Equação de Momentum

Partindo-se da seguinte equação:

1 ( ) ( ) ( ) ( )V g E V B V U V Vii i i i i i in i i ij i j

i

dm m N kT e m mdt N

ν ν= − ∇ + + × − − − − (3.8)

νin e νij expressam as freqüências de colisão, respectivamente, entre íons e partículas

neutras e íons de diferentes espécies; k é a constante de Boltzmann e Ti, a temperatura

iônica.

Os termos i

t∂∂V e i

i s∂∂VV são desprezados, pois, segundo Banks e Kockarts

(1973), em latitudes baixas e médias, em geral, as variações da densidade de plasma são

acompanhadas por fluxos lentos de plasma. Trabalha-se com duas formulações

diferentes da equação acima, a saber, uma usada para os íons O+, H+ e He+, a qual inclui

termos de difusão térmica derivados de Quegan et alii (1981) para um plasma

totalmente ionizado consistindo de três espécies majoritárias e elétrons; e uma segunda

formulação, que não usa termos de difusão térmica, e é aplicada para os íons N2+, O2

+ e

NO+. Portanto, as equações de momento resolvidas no modelo são as seguintes:

( )

( ) ( )( ) ( )

( ) ( )

* *

0 sen

1

1

cos cos sen cos

e ii i e e

i i i e i

ji ki ij ik

i i i

ij ij ijk ikj i j

ik ik ikj ijk i k

im i m in im n

T TkT N kT N kg Im N s m N s m s

TT Tk k km s m s m s

R R V V

R R V V

V V V U D I U D Iθ φ

β β β

ν

ν

ν ν

∂ +∂ ∂= − − − −

∂ ∂ ∂∂∂ ∂

− + +∂ ∂ ∂

− − ∆ − + − − − ∆ − + −

− − − − +∑ ∑

(3.9)

( )

( ) ( )

0 sen

cos cos sen cos

e ii i e e

i i i e i

ij i j in ij i n

T TkT N kT N kg Im N s m N s m s

V V V U D I U D Iθ φν ν≠

∂ +∂ ∂= − − − −

∂ ∂ ∂

− − − − +∑ ∑ (3.10)

61

imν = freqüência de colisão entre íons atômicos (O+, H+, He+), i, e moleculares (N2+, O2

+,

NO+), m,

inν = freqüência de colisão entre íons atômicos (i) e componentes neutros

O somatório m∑ é sobre íons moleculares, o somatório

n∑ é sobre gases neutros e o

somatórioj i≠∑ é sobre todos os íons exceto i-ésimo. As quantidades iβ , *

ijβ e *ikβ

representam coeficientes de difusão térmica e as quantidades ij∆ , ik∆ , ijkR e ikjR são

fatores de correção para o coeficiente de difusão da espécie i . Os índices i, j e k são

utilizados das seguintes formas: quando i=O+ então, j=H+ e k=He+; quando i=H+

então, j=O+ e k=He+; quando i=He+, então, j=O+ e k=H+. As freqüências de colisão

entre íons de diferentes espécies, bem como entre íons e partículas neutras são

encontradas em Bailey e Balan (1996).

Considera-se a condição de neutralidade de cargas, ou seja,

e ii

N N= ∑ (3.11)

e que não há correntes alinhadas ao campo geomagnético,

e e i ii

N V N V= ∑ (3.12)

Onde eV representa a velocidade de elétrons alinhada ao campo e i

∑ representa o

somatório sobre os íons.

3.3.3 Equação de Conservação de Energia

A equação de conservação de energia para os íons e elétrons é dada por:

3 1 12

i i i ii i i i i em i in

i

dT T AV TkN V Q kN T A Fdt s A s A s s

κ ∂ ∂ ∂∂ + = − + ∇ ⋅ + + ∂ ∂ ∂ ∂

V (3.13)

62

onde Qi representa taxa de aquecimento; κi, a condutividade e Fin representa

aquecimento por fricção. A derivada total dTi/dt é expressa por:

i iem i

dT T Tdt t

∂= + ⋅∇

∂V (3.14)

Não são incluídas as equações de conservação de energia para íons moleculares,

segundo os autores, porque suas temperaturas são consideradas iguais à do íon O+.

O aquecimento por fricção é calculado através da seguinte expressão:

( )

( )

2

2 2

{ cos cos sen cos

sen sen cos sen ( ) }

i nin in i i

n i n

i i

m mF N V U D I U D Im m

V U D I U D I V

θ φ

θ φ

ν

⊥ Φ

= − ++

+ − + +

∑ (3.15)

Onde mn representa a massa do constituinte n e a somatória é efetuada sobre

constituintes neutros. O aquecimento por fricção relativo ao movimento entre elétrons e

partículas neutras não é incluído na equação de conservação de energia por ser

considerado desprezível em comparação aos seus outros termos.

3.3.4 Método de Resolução das Equações

As equações são resolvidas numericamente através de um método de diferenças

finitas. Os pontos da grade são distribuídos ao longo de linhas de campo.

Primeiramente, determina-se a mais alta linha de campo alcançada pelo tubo de plasma

durante os cálculos do modelo e então os pontos são distribuídos em incrementos, ∆x,

igualmente espaçados ao longo da linha de campo magnético, onde:

senh( ) , nortesenh( )senh( ) , sulsenh( )

n

s

qq

xqq

Γ Γ= Γ Γ

(3.16)

63

Γ é um parâmetro de distribuição de pontos, qn é o valor da coordenada q (Kendall,

1962) no limite inferior do hemisfério norte e qs, o mesmo para o hemisfério sul. O

limite em cada hemisfério foi considerado à altura geográfica de 100km, para este

trabalho. O número de pontos ao longo da mais alta linha de campo depende de seu

valor de coordenada L. Para este trabalho, foram utilizados 601 pontos em cada linha de

campo e 128 tubos de plasma cobrindo uma faixa de 100 a 735km de altura sobre o

equador magnético em intervalos de 5km de altitude.

3.4 Procedimentos Utilizados com o Modelo

Conforme foi mencionado anteriormente, o código fonte do modelo foi

modificado para utilizar, além dos dados habituais de entrada (ver na Secção 3.2.1),

valores modificados de velocidade de deriva vertical e de ventos.

O procedimento utilizado é o seguinte: partindo-se de valores de deriva medidos

pelas Digissondas ou pelo radar de espalhamento incoerente de Jicamarca (quando se

está trabalhando com dados daquela localidade), vai se modificando somente a

velocidade vertical de deriva para obter valores de hmF2 que concordem com hmF2

observado pela Digissonda sem alterar o comportamento da velocidade dos ventos

neutros meridionais. Em seguida, após obter boa concordância no parâmetro hmF2,

modifica-se o comportamento da velocidade dos ventos neutros meridionais para que os

valores de foF2 calculados pelo SUPIM e observados concordem. A partir daí é

necessário efetuar algumas modificações na deriva novamente, pois ocorrem algumas

alterações em hmF2. Paralelamente, vão se conferindo as isolinhas de densidade

calculadas pelo modelo e observadas. No Capítulo 5 é apresentado um fluxograma do

procedimento utilizado.

O procedimento adotado é similar ao que Souza (1997) utilizou em seu trabalho

de doutorado. As diferenças entre os métodos são as seguintes: as velocidades de deriva

iniciais são baseadas em medidas diretas de deriva ou dhF/dt a partir de alturas reais dos

ionogramas; Souza (1997) utilizou valores médios de hmF2 e foF2 e neste trabalho faz-

se uso de dias individuais; no presente trabalho é observada também a concordância

64

entre as isolinhas de densidade observadas e calculadas. O objetivo é obter valores de

deriva vertical e ventos efetivos para o modelo, estabelecendo as diferenças com os

valores observados pelos instrumentos.

O SUPIM utiliza o modelo HWM90 para calcular a velocidade de ventos neutros

termosféricos em cada ponto das linhas de campo. Considerou-se que a partir de 300km de

altura não havia diferenças significativas no perfil vertical de velocidade do vento

meridional. Então, baseado nos valores de velocidade do vento referentes a 300km de

altura, manualmente eram feitas modificações nas curvas de velocidade de vento. A

diferença entre o vento calculado pelo HWM90 e o vento modificado era então adicionada

ao vento calculado pelo HWM90 dentro do modelo em todas as alturas relativas ao mesmo

horário. Como resultado, a distribuição de densidade eletrônica ao longo das linhas de

campo era alterada e o efeito podia ser observado através do parâmetro foF2.

A velocidade de deriva utilizada nos cálculos do modelo, em geral, é obtida de

medidas feitas pelo radar de espalhamento de Jicamarca ao longo de vários anos

(Woodman e Hagfors, 1969; Fejer et alii, 1991) e Arecibo (Fejer, 1993), sendo que as

medidas de radar de Jicamarca foram usadas como base do modelo de deriva de

Scherliess e Fejer (1999). Esse padrão de deriva de Jicamarca é usado para linhas de

campo magnético com ápice em altitudes entre 200 e 600km e o padrão de deriva de

Arecibo para linhas cujo ápice está entre 600km e 3000km. Acima dessa faixa de

altitude é feita uma interpolação linear até ser considera nula acima de 4000km. Essas

regiões de interpolação da deriva serão tratadas mais detalhadamente no Capítulo 5.

Neste trabalho, os valores de deriva foram fornecidos por medidas diretas registradas

por Digissondas (Jicamarca e São Luis) ou pelo radar de espalhamento incoerente de

Jicamarca. Esses valores de velocidade vertical de deriva são utilizados na mesma faixa de

altura em que seria aplicado o padrão de deriva vertical de Jicamarca, segundo o modelo de

Scherliess e Fejer (1999). E foi utilizada a interpolação linear com o padrão de deriva de

Arecibo.

65

CAPÍTULO 4

RESULTADOS I: COMPARAÇÃO DE VELOCIDADES

4.1 Radar e Digissonda

As Digissondas são capazes de medir o desvio Doppler em freqüência do sinal

recebido e a localização das fontes refletoras. Esses parâmetros são observados tanto no

modo de ionograma como no modo de deriva e ficam registrados nos arquivos binários

de ionogramas e de derivas. Conforme já tratado foi no Capítulo 2, os arquivos *.DFT

são pós-processados com o programa DDAS sendo gerados os arquivos *.SKY do tipo

ASCII, onde são tabelados os valores das coordenadas de localização das fontes

refletoras, dos valores de linhas espectrais de desvio Doppler, entre outras informações.

Os arquivos *.SKY, por sua vez, podem ser processados com o DDAV e então

são gerados arquivos que contêm medidas de velocidade. Como o DDAV assume a

priori a uniformidade de movimento do plasma durante as medidas, levantou-se a

questão de que fontes refletoras com grandes ângulos zenitais pudessem ter a

componente vertical de sua velocidade contaminada pelo movimento horizontal caso

houvesse inclinação da camada ionosférica refletora. Portanto, cogitou-se a hipótese de

que se fossem utilizadas somente fontes refletoras com pequeno ângulo de zênite

haveria eliminação do efeito indesejado acima. Foi desenvolvido, então, um programa

(já descrito no Capítulo 2) que, a partir dos arquivos *.SKY, efetua cálculos da

velocidade na linha de visada utilizando como base o desvio Doppler em freqüência.

Outras técnicas para obter velocidades de deriva vertical foram desenvolvidas.

São elas as técnicas de dhF/dt e dhF0.80/dt, também já descritas no Capítulo 2. Foram

elaboradas para suprir dados de velocidade quando os dados de deriva não estavam tão

bons e, também, para investigar a possibilidade de obter boas medidas próximo ao pico

de densidade eletrônica da região-F.

66

É interessante comparar as medidas do radar de espalhamento incoerente com as

da digissonda de Jicamarca por, pelo menos, três motivos: 1) operam na mesma

localidade, o que permite fazer observações da mesma região ionosférica de plasma; 2)

possuem diferentes princípios de sondagem – o radar mede deriva eletromagnética e a

Digissonda mede uma velocidade de deriva aparente do plasma, o que permite uma

validação das medidas de um e outro instrumento; 3) conhecendo-se o comportamento

relativo das curvas de velocidade, passa a haver a possibilidade de se estender os

resultados às medidas efetuadas pelas Digissondas de São Luis e Cachimbo, já que

ambas as localidades se situam muito próximas ao equador geomagnético, tal como a de

Jicamarca. Neste capítulo, são apresentados a seguir os gráficos de velocidade medida

pelo radar e pela digissonda de Jicamarca para somente alguns dias de todos os períodos

de observação.

O padrão de comportamento das curvas de velocidade de deriva obtidas pelo

radar de espalhamento incoerente de Jicamarca é bem conhecido na literatura (ver, por

exemplo, Fejer et alii, 1991 e 1995). Em geral, a componente vertical da velocidade de

deriva eletromagnética E×B é positiva (ascendente) durante o dia (entre 8 e 19h locais),

ocorrendo o denominado pico pré-inversão em torno de 18-19h locais e, à noite, torna-

se negativa (descendente) até o nascer do Sol na região F. Fisicamente, esse

comportamento é explicado pela existência de uma componente zonal do campo elétrico

de dínamo das regiões E e F, a qual aponta para leste, durante o dia e para oeste, durante

a noite.

Na região F, os campos elétricos são criados pelos ventos neutros termosféricos

(Rishbeth, 1971; Farley et alii, 1986; Eccles, 1998), porém, durante o dia, as altas

condutividades da região E, ao longo das linhas de campo geomagnético, promovem o

mapeamento dos campos elétricos da região E para a região F. Portanto, durante o dia,

as derivas verticais e zonais são controladas, basicamente, pelos campos elétricos da

região E. Durante o período do crepúsculo e início da noite, quando a condutividade da

região E cai rapidamente, os campos elétricos das regiões E e F somam suas

contribuições à velocidade de deriva vertical, aumentando-a substancialmente, gerando

67

o pico pré-inversão (Rishbeth, 1971). Durante a noite, os campos elétricos da região F

passam a ser responsáveis pelo comportamento das derivas verticais, sendo estas

voltadas para baixo (negativas) e as derivas zonais, para leste.

Bertoni (1998) observou que as velocidades de deriva medidas por uma

Digissonda instalada em São Luis possuíam um comportamento diferente do descrito

acima. Basicamente, a deriva vertical medida pela Digissonda mostrava boa

concordância somente em torno do horário de ocorrência do pico pré-inversão. Durante

o dia, a velocidade muitas vezes era negativa e quase sempre flutuava em torno de zero

e, à noite, levemente positiva. Tal comportamento se deve, basicamente, à técnica de

reflexão total dos pulsos (descrita no Capítulo 2) utilizada por esses instrumentos. Com

essa técnica de sondagem, as medidas de velocidade trazem influência dos processos de

produção e perda de ionização, da gravidade terrestre, de processos de difusão e

transporte por ventos neutros, bem como da deriva eletromagnética. Por isso, denomina-

se como velocidade aparente a velocidade medida pela Digissonda.

Após a aquisição de uma Digissonda DPS-4 (no início de 2001) com um sistema

mais moderno de transmissão e recepção – um sistema transistorizado e com pulsos

codificados, podendo trabalhar com menos potência e maior ganho – constatou-se que a

qualidade das medidas de velocidade de deriva e ionograma melhoraram bastante com

relação ao antigo sistema DGS-256 (utilizado em São Luis e Cachoeira). Não somente o

sistema contribui para um bom conjunto de dados. É importante, também, um conjunto

apropriado de parâmetros de sondagem. Atualmente, depois de analisar uma série de

conjuntos de parâmetros de sondagem de deriva, as Digissondas DGS-256 de São Luis

e Cachoeira Paulista mostraram melhora de qualidade com relação a medidas efetuadas

em anos anteriores a 2003.

O radar de espalhamento incoerente efetua medidas em intervalos fixos de 15km

de altura, numa faixa entre 45km e 900km. Analisando-se o perfil vertical de

velocidade, observou-se pequeno gradiente na maior parte do dia. Então, nos gráficos

apresentados a seguir, é apresentada a velocidade medida em 390km de altura pelo

68

radar por dois motivos: 1) Próximo a esse valor de altura concentram-se as fontes de

reflexão; 2) há maior disponibilidade de pontos.

Na FIGURA 4.1, são apresentadas sobrepostas várias curvas de velocidade

medida pelo radar de espalhamento incoerente do Rádio Observatório de Jicamarca

(ROJ). Podemos observar alguns aspectos tais como o pequeno gradiente vertical de

velocidade de deriva durante a maior parte do dia, evidenciado pela pouca dispersão dos

pontos do gráfico e o efeito causado pela presença de Spread-F, caracterizado pelos

traços dispersos, na faixa de horário noturno.

00 04 08 12 16 20 00-100

-50

0

50

100

ALTURA (km) 195.00 210.00 225.00 240.00 255.00 270.00 285.00 300.00 315.00 330.00 345.00 360.00 375.00 390.00 405.00

VELOCIDADE VERTICALRADAR DE ESPALHAMENTO INCOERENTE

HORA LOCAL

JICAMARCA13/DEZ/2001

VEL

OC

IDA

DE

(m/s

)

FIGURA 4.1 – Sobreposição de curvas de velocidade medidas pelo radar de espalhamento

incoerente do ROJ, Peru, em diferentes alturas: pontos das curvas

denotam pequeno gradiente vertical de velocidade e a presença de

Spread-F durante a noite, iniciando-se pouco depois do pôr-do-sol.

69

Para melhor evidenciar as características apontadas na FIGURA 4.1, são

apresentadas na FIGURA 4.2, alguns perfis verticais da componente vertical de

velocidade de deriva medida pelo radar de espalhamento incoerente.

00 04 08 12 16 20 00-100

-50

0

50

100

195.00 210.00 225.00 240.00 255.00 270.00 285.00 300.00 315.00 330.00 345.00 360.00 375.00 390.00 405.00

LOCAL TIME

JICAMARCAISR

13/DEC/2001

VELO

CIT

Y (m

/s)

200

300

400

500

600

-10 0 10 20 30 40 50

JICAMARCAISR

13/DEC/2001

HEI

GH

T (k

m)

VELOCITY (m/s)

LT 08 09 10 11 12 13

200

300

400

500

600

-20 0 20 40 60 80 100

LT 17 17.5 18 18.5 19 19.5 20 20.5 21

JICAMARCAISR

13-14/DEC/2001W/ SPREAD-F

HEI

GH

T (k

m)

VELOCITY (m/s)

200

300

400

500

600

-40 -20 0

JICAMARCAISR

13/DEC/2001

HE

IGH

T (k

m)

VELOCITY (m/s)

LT 00 01 02 03 04 05

FIGURA 4.2 – Perfis verticais da componente vertical da velocidade de deriva em

algumas faixas de horário ao longo do dia 13/12/2001: medidas

efetuadas pelo radar de espalhamento incoerente de Jicamarca.

Na FIGURA 4.3, são apresentadas medidas de velocidade de deriva efetuadas no

dia 10 de dezembro de 2001 pelo radar de espalhamento incoerente e pela Digissonda

(modelo DPS-4) do Radio Observatório de Jicamarca (ROJ). São mostradas quatro

diferentes curvas de velocidade de deriva: três calculadas a partir dos dados da

Digissonda e uma obtida pelo radar. Cada uma das três curvas derivadas de dados da

Digissonda foi obtida com uma técnica diferente, a saber, a técnica de velocidade na

linha de visada, a de dhF/dt e dhF0.80/dt, todas já descritas no Capítulo 2.

70

08 12 16 20 00 04 08-150

-100

-50

0

50

100

150

Radar

JICAMARCA10-11/DEZ/2001

Vlos

dhF(4)/dt dhF0.80/dt

HORA LOCAL

VE

LOC

IDA

DE

VE

RTI

CA

L (m

/s)

FIGURA 4.3 – Comparação entre as velocidades verticais de deriva medida pelo radar

de espalhamento incoerente e pela Digissonda de Jicamarca.

Podemos ressaltar na FIGURA 4.3 as seguintes características: 1) há boa

concordância das curvas, sobretudo da curva de dhF0.80/dt e radar; 2) há ausência de

pontos de velocidade na linha de visada em alguns horários.

Normalmente, a Digissonda utiliza o programa denominado “Autodrift” (Bullett,

1994), com o qual a freqüência de sondagem de deriva é escolhida automaticamente

pelo instrumento após cada ionograma, depois de conferir qual(is) freqüência(s)

possui(em) a melhor relação sinal-ruído. Exclusivamente nesse período (dezembro de

2001), a Digissonda do ROJ fez sondagens em uma freqüência em torno de 6MHz ao

longo do dia. A curva de velocidade na linha de visada não apresenta pontos em

determinados horários por, basicamente, duas razões: 1) não haver fontes de reflexão

naquela freqüência; 2) os pontos de reflexão estarem em direções oblíquas com ângulos

71

de zênite maiores que o estabelecido no programa que calcula a velocidade na linha de

visada, ou seja, as fontes de reflexão estariam fora do cone de seleção de pontos.

Considerando a primeira razão acima, a freqüência crítica da região F varia ao

longo do dia, podendo chegar a valores mais baixos do que 6MHz. Nessa situação, não

há reflexão para essa freqüência e por conseqüência, não há medidas de velocidade.

Com relação à segunda razão, é necessário fazer algumas considerações.

Primeiramente, na FIGURA 4.3, os valores de velocidade na linha de visada foram

calculados para ângulos de zênite até 2°. O objetivo era de evitar contaminação das

medidas por possíveis componentes horizontais de velocidade da fonte refletora.

Vamos supor que um ponto refletor se mova com velocidade horizontal de

100m/s e velocidade vertical de 10m/s. A resultante é de aproximadamente 100,5m/s.

Na FIGURA 4.4, é apresentado um esquema da situação. Assumindo-se dois valores

diferentes para o ângulo de zênite em que o ponto refletor esteja, por exemplo, a 2° e

10°, teremos as seguintes situações:

Para χ = 2° ⇒ α = 90° - β - χ ⇒ α = 90° - 5,7° - 2° ⇒ α = 82,3°

Onde,

β = arctg(10/100) ≅ 5,7°

cos 13,47 /los losV V V m sα= ⇒ =

Para χ = 10° ⇒ α = 90° - 5,7° - 10° ⇒ α = 74,3°

cos 27,20 /los losV V V m sα= ⇒ =

Na situação em que χ = 0°, temos los zV V≡ .

72

χ

Vlos V’los Vlos

χ

Vh

Vz V=Vz+Vh α

β

FIGURA 4.4 – Representação esquemática da situação em que pontos refletores estão na

vertical e em direção oblíqua: o vetor V é a resultante da soma dos vetores

Vz e Vh, os quais, por sua vez, são a componente vertical e a componente

horizontal. Dessa configuração, conclui-se que quanto menor o ângulo

zenital de observação da fonte, mais próxima está Vlos de Vz.

Em resumo, quanto mais afastado da vertical estiver um ponto refletor mais

chances de contaminação pela possível componente horizontal. Com o programa

Vertical.pro, portanto, é possível selecionar fontes de reflexão que estejam bem

próximas da vertical e evitar que, nos cálculos dos vetores de velocidade, sejam

computados pontos de reflexão distantes da vertical o suficiente para que haja

contribuição da componente horizontal de velocidade. Quando se utiliza o método de

dhF/dt para calcular a velocidade vertical a partir dos ionogramas – seja a altura virtual

mínima ou da altura real referente a uma dada freqüência de sondagem (4MHz, por

exemplo) – as fontes de reflexão podem situar-se a ângulos zenitais com valor suficiente

para não representar apropriadamente a velocidade vertical, já que esta poderá ter

contribuição de movimentos horizontais.

A título de comparação, foi efetuado o cálculo de velocidades para ângulos de

zênite até 10° no mesmo conjunto de dados da FIGURA 4.3. O resultado é apresentado

na FIGURA 4.5, a seguir.

73

-60

-30

0

30

60

08 12 16 20 00 04 08-60

-30

0

30

60

Vlos - DPS-4Ângulos de Zênite

2° 10°

VE

LOC

IDA

DE

VE

RTI

CA

L (m

/s)

HORA LOCAL

Radar

JICAMARCA10-11/12/2001

FIGURA 4.5 – Curvas de velocidade na linha de visada, obtidas com Digissonda para

diferentes ângulos de zênite e velocidade medida por radar de

espalhamento incoerente.

As curvas de diferentes ângulos da FIGURA 4.5 apresentam concordância

bastante razoável. Como era esperado, há mais pontos na curva referente a 10° de zênite

do que na de 2° de zênite, porque este último é um subconjunto do primeiro. Outra

razão para a ausência de pontos é a freqüência crítica da camada estar abaixo de 6MHz.

Na FIGURA 4.6, são apresentados o perfilograma e as isolinhas de densidade medidos

pela Digissonda de Jicamarca nos dias 10 e 11/12/2001. Eles mostram a variação de

freqüência-altura sondada pela Digissonda ao longo do dia. Neles, é possível observar

que na faixa de horário na qual não há pontos para a curva de 10°, a freqüência crítica

estava abaixo de 6MHz.

74

FIGURA 4.6 – Painel superior: perfilograma contendo freqüências da região F ao longo do

dia. Painel inferior: isolinhas de densidade ao longo do dia; na legenda as

cores se repetem depois de 5,5MHz, então basta somar 1MHz para as

freqüências superiores. (Em Jicamarca: hora local = UT – 5, portanto, os

gráficos acima são referentes à faixa de horários de 08 a 08h locais).

O Autodrift foi implementado justamente para evitar as sondagens com

freqüências superiores às de foF2, ao longo do dia, procurando os pares de freqüência-

altura com a relação sinal-ruído otimizada para conseguir boas medidas.

Sobre a FIGURA 4.5, é interessante também observar que as barras representam

o desvio padrão das medidas de velocidade, a qual é uma média sobre cada sondagem

completa de deriva. Essas barras freqüentemente se apresentam menores na curva

referente a 10° do que na curva referente a 2°, porque o cálculo do desvio é feito sobre

um maior número de pontos, já que o cone de amostragem é maior. Conseqüentemente,

75

o efeito de ruídos é minimizado. Quando um ângulo tão pequeno como o de 2° de zênite

é usado para obter as velocidades na linha de visada, a amostragem de pontos de

reflexão comumente é menor. Como a região sondada não possui uniformidade de

movimento, as fontes de reflexão podem possuir velocidades bastante diferentes entre si

e a restrição de 2° apresenta certa limitação dependendo da faixa de horários sondada,

ou da ocorrência de irregularidades de plasma tais como o Spread-F, ou ainda, dos

parâmetros de sondagem de deriva estarem mais bem configurados.

Portanto, maiores ângulos de zênite podem incluir fontes refletoras com

possibilidade de contaminações pela componente horizontal e menores ângulos podem

apresentar resultados um pouco mais flutuantes.

Ainda sobre a FIGURA 4.3, não foram apresentados os pontos da curva de

velocidade obtida com o DDAV, pois eram em menor número ainda que os da técnica

de velocidade na linha de visada. Mais à frente, serão mostrados gráficos comparando

especificamente essa duas técnicas, juntamente com as medidas de radar.

A seguir, são apresentados mais alguns exemplos comparativos de velocidades

obtidas a partir das técnicas apresentadas. Neles, a freqüência de sondagem de deriva

foi variada com o uso do Autodrift. Portanto, há maior quantidade de pontos para a

curva de velocidade na linha de visada, a qual foi calculada para ângulos de zênite até

2°.

76

08 12 16 20 00 04 0801020304050

JICAMARCARADAR - DPS-410-11/OUT/2002

Vlos

V

ELO

CID

AD

E V

ER

TIC

AL

(m/s

)

-100

-50

0

50

100

150

HORA LOCAL

dhF(4)/dt dhF0.80/dt

RADAR

S-F

(km

)

FIGURA 4.7 – Idem FIGURA 4.3, mas para 10-11/10/2002.

A FIGURA 4.7 também exibe, na parte de baixo, um gráfico que apresenta a

variação de um parâmetro que tem se mostrado bastante útil nos estudos de ocorrência

de eventos de Spread-F (SF) e indica a intensidade com a qual ocorrem. Ele é

automaticamente reduzido dos ionogramas, porém, pode ser modificado manualmente,

caso não esteja apropriadamente escalado. Esse parâmetro não representa a faixa de

altura em que se estendem as irregularidades de plasma, mas sim, a distância na qual o

sinal decai até o limiar de ruído (em torno de 3dB), utilizando o quilômetro como

unidade.

Alguns estudos estatísticos têm sido efetuados com o intuito de comparar a

redução automática e a manual (Aquino, 2001). Para tanto, durante o processo de

redução dos ionogramas, classificam-se os eventos, quando presentes, quanto ao tipo –

isto é, se o SF é em altura, freqüência ou misto, imputando-se uma letra (R, F ou M) – e

77

quanto à sua intensidade – fraco, médio ou intenso (A, D ou E). Esses levantamentos

estatísticos mostraram uma concordância bastante razoável entre as reduções

automática e manual daquele parâmetro para longas amostragens – períodos de

sondagens de um ano inteiro, por exemplo. Contudo, é sempre previdente, durante a

redução, verificar os valores calculados automaticamente, no caso de se trabalhar com

pequenos períodos de sondagem.

No caso apresentado na FIGURA 4.7, observam-se valores em torno de 10 a

20km de altura. Isto indica que o SF, naquela ocasião, pode ser considerado como de

média a fraca intensidade.

Na FIGURA 4.7, observa-se também um comportamento atípico da deriva

eletromagnética vertical, que é o aparecimento de um pico secundário após o de pré-

inversão, mostrado inclusive pelas medidas feitas pela Digissonda. Tal concordância

vem a validar uma vez mais as velocidades obtidas com esse instrumento.

Na FIGURA 4.8, é mostrada a variação dos índices ASY-D, ASY-H e SYM-H,

juntamente com componente Bz do campo magnético (IMF-Bz) interplanetário entre os

dias 10 e 11 de outubro de 2002. Porém, nada foi registrado pelos índices simétrico e

assimétrico, em termos de perturbação magnética que explicasse tal evento. Observa-se,

somente, uma inversão de IMF-Bz no mesmo horário em que ocorre o pico secundário

por volta de 20h locais, demonstrando uma possível relação entre a ocorrência do pico

secundário e a inversão de IMF-Bz, fato esse que indica evidências de penetração de

campos elétricos zonais de altas para baixas latitudes magnéticas (Abdu et alii, 1995 e

1991; Batista et alii, 1991).

Batista et alii (1991) apontam vários eventos que ocorreram durante uma

tempestade magnética bastante intensa em 13 de março de 1989. Entre esses eventos,

destacam a possibilidade de penetração de campos elétricos da ordem de 4mV/m

responsáveis por uma subida bastante rápida da camada F após o pôr-do-sol sobre

Fortaleza (3,8°S; 38°O) e Cachoeira Paulista (23°S, 45°O). Abdu et alii (1995)

apresentam evidências da dependência de comportamento da altura de pico de

78

densidade eletrônica da região-F e da anomalia de ionização equatorial com campos

elétricos de penetração associados a variações de IMF-Bz.

-100

-50

0

50

100

-10

-5

0

5

10

-100

-50

0

50

100

ASY H

ASY D

nT

08 12 16 20 00 04 08-10

-5

0

5

10

IMF Bz

nT

HORA LOCAL (77°W)

10-11/OUT/2002

SYM H

nT

FIGURA 4.8 – Índices ASY/SYM e IMF-Bz para o período de 10 a 11/10/2002 (satélite

ACE).

Ao longo do dia 10 na FIGURA 4.7, a curva de velocidade na linha de visada se

aproxima razoavelmente bem da curva de velocidade do radar, mostrando melhor

concordância que as outras técnicas. E, nos horários dos picos, as outras técnicas

apresentam melhor concordância.

Na FIGURA 4.9 são apresentadas as curvas de velocidade para os dias 11 e 12

de novembro de 2002. Uma vez mais, ocorre um comportamento não usual do pico pré-

inversão que se apresenta bifurcado e também há boa concordância entre os diferentes

instrumentos. Ao longo do dia 11, observa-se novamente boa concordância entre Vlos e radar.

79

08 12 16 20 00 04 0801020304050

JICAMARCADPS-4

11-12/NOV/2002

Vlos

V

ELO

CID

AD

E V

ER

TIC

AL

(m/s

)

-100

-50

0

50

100

150

dhF(4)/dt dhF0.80/dt

RADAR

HORA LOCAL

S-F

(km

)

FIGURA 4.9 – Idem FIGURA 4.3, mas para os dias 11 a 12 de novembro de 2002.

Em todos os casos mostrados nas figuras anteriores com curvas de velocidade,

após 0h local, o efeito de recombinação química causa uma velocidade aparente positiva

maior para as medidas de Digissonda, o mesmo acontecendo na FIGURA 4.10.

80

08 12 16 20 00 04 0801020304050

JICAMARCADPS-4

13-14/NOV/2002

Vlos

V

ELO

CID

AD

E V

ER

TIC

AL

(m/s

)

-100

-50

0

50

100

150

HORA LOCAL

dhF(4)/dt dhF0.80/dt

RADAR

S-F

(km

)

FIGURA 4.10 – Idem FIGURA 4.3, mas para os dias 13 e 14 de novembro de 2002.

Com relação à FIGURA 4.10, pouco após o pôr-do-sol, ocorre Spread-F. A sua

presença pode afetar as medidas de radar. É possível haver influência dos campos

elétricos das irregularidades e o sinal ficar contaminado, apresentando ruído e

flutuações.

4.2 DDAV e Vlos

O DDAV é capaz de calcular, além da componente vertical, as componentes

zonal e meridional da velocidade de deriva aparente. As técnicas apresentadas

anteriormente permitem o cálculo da componente vertical. Para melhores resultados

com o DDAS e DDAV, recomendam-se sondagens a cada 5 minutos, ou pelo menos 15

minutos. Sondagens em intervalos de tempo maiores que esse não produzem dados de

boa qualidade.

81

Na FIGURA 4.11, são apresentadas curvas obtidas com a técnica de velocidade

na linha de visada e DDAV. Percebe-se que a concordância entre essas duas técnicas é

muito boa, pois, elas em essência representam o mesmo, isto é, a velocidade de deriva

aparente. No gráfico de velocidade da figura foram também adicionadas as barras de

erro nas medidas de radar, as quais em geral são pequenas Entretanto pouco após o pôr-

do-Sol, há ruídos nas medidas de radar. Uma característica interessante que aparece

nesse gráfico é que, em torno de 3-4h locais do dia 21/03, ocorre um aumento

secundário da velocidade de deriva, o qual é perfeitamente mostrado pelas medidas de

Digissonda.

Na FIGURA 4.12, tal como na FIGURA 4.8, são apresentadas, também, as

curvas dos índices ASY/SYM e IMF-Bz, com o intuito de relacionar o comportamento

incomum da deriva vertical do gráfico da FIGURA 4.11. Observa-se que nesse período

os valores dos índices ASY/SYM são mais altos do que no período mostrado na

FIGURA 4.8 e que, no horário pouco antes de 4h locais, é perceptível atividade

magnética com intensidade razoável e suficiente para induzir o comportamento atípico

da deriva vertical. Logo após 22LT, podemos perceber uma tendência de aumento na

deriva vertical, isto é, torna-se menos negativa, aproximando-se progressivamente de

zero até se inverter, em torno de 03LT. Este comportamento reflete a presença de um

campo elétrico de penetração, dirigido para leste e que se soma ao campo de dínamo

(para oeste), coincidindo com um período de sucessivas inversões em IMF-Bz.

82

08 12 16 20 00 04 08-150

-100

-50

0

50

100

150JICAMARCA

20-21/MAR/2003

DPS-4 - Vlos DPS-4 - DDAV

VE

LOC

IDAD

E V

ER

TIC

AL

(m/s

)

-150

-100

-50

0

50

100

150

Radar

HORA LOCAL

FIGURA 4.11 - Idem FIGURA 4.3, mas para os dias 20 e 21 de março de 2003.

-100

-50

0

50

100

-10

-5

0

5

10

-100

-50

0

50

100

ASY H

ASY D

nT

08 12 16 20 00 04 08-10

-5

0

5

10

IMF Bz

nT

HORA LOCAL (77°W)

SYM D20-21/MAR/2003

SYM H

nT

FIGURA 4.12 – Curvas representativas dos índices ASY/SYM e de IMF-Bz, para os

dias 20-21/03/2003.

83

4.3 Comentários

Nos gráficos anteriores, o que se observa em geral é uma boa concordância entre

as técnicas em horários próximos ao crepúsculo, e uma concordância menor em outros

horários.

O principal objetivo de desenvolver as técnicas de cálculo de velocidade a partir

de dados da Digissonda, foi o de conseguir bons dados em quaisquer situações.

Algumas vezes, não há fontes refletoras suficientes para os cálculos do DDAV,

principalmente nas medidas mais antigas. Isso ocorre porque ou os parâmetros de

sondagem nem sempre são apropriados ou porque a ionosfera se apresenta muito calma

para a técnica de interferometria Doppler, utilizada pelo instrumento. Então, as técnicas

apresentadas no Capítulo 2 possibilitam a obtenção de dados de velocidade do plasma

ionosférico. Cabe lembrar que esses não representam dados de velocidade de deriva

eletromagnética tais como os fornecidos pelo radar de espalhamento incoerente.

Contudo, sabendo interpretá-los, eles podem dar uma boa noção dos movimentos do

plasma ionosférico da região F.

Os dados de deriva aparente obtidos com a Digissonda mostraram muito boa

concordância com os dados de deriva eletromagnética medidos pelo radar de

espalhamento incoerente em eventos de atividade magnética perturbada, conforme se

observa nas FIGURAS 4.8 e 4.12. Tal fato torna as medidas de deriva das Digissondas

bastante confiáveis, durante eventos de períodos magneticamente perturbados e

possibilita, portanto, a sua utilização para estudá-los.

84

85

CAPÍTULO 5

RESULTADOS II: MODELAGEM DE DERIVA E VENTOS

5.1 Introdução

As ionossondas digitais (bem como as analógicas) utilizam o princípio de

reflexão crítica da camada de plasma, conforme já foi visto no Capítulo 2. Portanto, as

suas sondagens estendem-se da base da região F até a região de seu pico de densidade

eletrônica. Já o radar de espalhamento incoerente pode sondar regiões abaixo e acima

do pico de densidade eletrônica.

As medidas de velocidade de deriva ionosférica efetuadas pelas ionossondas

digitais trazem as contribuições das reações químicas de produção e perda de pares íon-

elétron que ocorrem na base da camada F e de processos de difusão do plasma

ionosférico ao longo das linhas de campo geomagnético. Logo, não representam

somente a velocidade de deriva eletromagnética E × B – que para nossos estudos é

importante, dado que se deseja aferir o comportamento dos campos elétricos da região F

ionosférica – e, por isso são denominadas medidas de velocidade aparente (Scali et alii,

1995a e b; Bertoni, 1998). O radar de espalhamento incoerente, devido ao seu princípio

de funcionamento, mede a velocidade de deriva eletromagnética.

Como foi visto no Capítulo 4, as curvas de velocidade apresentadas pelos dois

instrumentos apresentam boa concordância em horários próximos ao pôr-do-sol e em

períodos magneticamente perturbados. Portanto, há faixas de horários nas quais as

Digissondas fornecem velocidades bem próximas às velocidades de deriva

eletromagnética, assim como há faixas de horário em que ocorrem discordâncias entre

elas.

Um dos objetivos desse trabalho foi o de criar técnicas de obter valores de

velocidade vertical de deriva, a partir das medidas de velocidade de deriva aparente e

86

ionogramas registrados pelas ionossondas digitais, que fossem próximos aos da

velocidade vertical de deriva eletromagnética do plasma ionosférico.

Várias soluções foram experimentadas e não deram resultados satisfatórios.

Então, optou-se posteriormente pela utilização do modelo SUPIM, que devido à sua

sofisticação e à experiência do grupo com ele (ver, por exemplo, Souza, 1997 e Souza et

alii, 2000), foi o mais indicado como uma boa ferramenta para a busca de resultados

que permitissem analisar de modo mais bem embasado do ponto de vista teórico e

metodológico. Teoricamente possui o conjunto completo de equações diferenciais, tal

como já foi tratado no Capítulo 3, e metodologicamente porque as comparações de três

diferentes parâmetros – foF2, hmF2 e isolinhas de freqüência, como será visto à frente –

delimitava o problema e não possibilitava a existência de múltiplas soluções, mas sim,

uma só que otimizava a concordância dos três parâmetros.

Souza (1997), em seu trabalho de doutorado, fez uso do modelo SUPIM. Ele

comparava as saídas de foF2 e hmF2 do modelo com as observações e conforme

houvesse ou não concordância entre elas ia modificando a curva dos ventos. As curvas

de foF2 e hmF2 usadas nas comparações eram médias sobre medidas feitas por

ionossondas em Fortaleza (3.8°S, 38°O) e Cachoeira Paulista (23°S, 45°O) durante

períodos de verão, inverno e equinócio, em baixa e alta atividade solar.

O procedimento utilizado aqui foi baseado no trabalho de Souza (1997),

consistindo em modificar manualmente as curvas de velocidade de deriva e dos ventos

meridionais em sucessivas rodadas, até que se apresentasse boa concordância entre

observações e modelagens. Os parâmetros de observação comparados com os das saídas

eram foF2 e hmF2, de maneira similar ao trabalho de Souza (1997).

Além de foF2 e de hmF2, comparou-se também um outro importante parâmetro

de observação: as isolinhas de freqüência. Elas mostram o comportamento de cada

freqüência de sondagem ao longo do dia e, portanto, comparar as isolinhas observadas

com as isolinhas geradas pelo SUPIM permite-nos fazer uma avaliação sobre a

simulação de toda a região-F, desde sua base até sua parte superior, passando inclusive

87

pelo pico de densidade eletrônica. Assim, temos um parâmetro a mais para nos garantir

que as simulações estão ou não realísticas, pois, se o perfil vertical de densidade

eletrônica de toda a camada está bem simulado, as isolinhas devem mostrar boa

concordância da mesma forma que hmF2 e foF2.

Souza trabalhou com médias de períodos e aqui se trabalhou com dias

separados. Souza, ainda, utilizava como entrada derivas calculadas pelo método de

Batista et alii (1986). Aqui, as derivas se basearam em medidas diretas de radar ou

Digissonda, dependendo da disponibilidade.

Inicialmente, foi feito o uso de medidas de deriva registradas em Jicamarca

(12°S, 77°O) pelo seu radar de espalhamento incoerente e sua Digissonda (modelo

DPS-4). O objetivo principal de usar dados daquela localidade foi o de comparar os

valores dos arquivos de saída do modelo alimentado com as medidas obtidas pelos

instrumentos, já que eles operam na mesma localidade e, assim, validar e

conseqüentemente estender os resultados para nossas estações de observação.

Posteriormente, aplicou-se o mesmo procedimento para dados registrados na estação de

São Luís (2,6°S; 44°O).

5.2 Resultados de Modelagem Comparados a Observações

5.2.1 Ajuste da Velocidade de Ventos

O procedimento adotado para obter as curvas de foF2, hmF2 e isolinhas de

freqüência, basicamente, foi tal como se segue abaixo.

1a Etapa:

• Executava-se o modelo utilizando-se como valores de entrada as

velocidades de deriva vertical e ventos termosféricos meridionais.

Inicialmente, as velocidades de deriva vertical eram resultantes das

medidas do radar de espalhamento incoerente de Jicamarca ou de

88

medidas efetuadas pelas Digissondas de Jicamarca ou de São Luís,

através das técnicas descritas no Capítulo 2. As velocidades de vento

meridional magnético termosférico eram calculadas pelo modelo

HWM90 e, tal como no caso da velocidade de deriva vertical, não eram

modificadas manualmente.

• Utilizava-se então um programa elaborado exclusivamente para extrair

os valores de hmF2 e foF2 a partir do arquivo de saída gerado pelo

SUPIM e comparavam-se as curvas observadas e modeladas de hmF2.

• Caso não houvesse boa concordância entre essas curvas, alterava-se a

velocidade de deriva e se repetia o processo até obter boa concordância

entre as curvas de hmF2.

2a Etapa:

• Após atingir a concordância acima, passava-se a fazer alterações nas

velocidades de ventos meridionais, até atingir concordância entre as

curvas de hmF2 e foF2. Normalmente nesta fase, a velocidade de deriva

necessitava alguns reajustes, pois, conforme as mudanças que a curva de

foF2 sofria em conseqüência dos ajustes nas velocidades de ventos,

ocorriam alterações na curva de hmF2.

• Depois de sucessivos reajustes nas velocidades de vento termosférico

meridional, quando a concordância dos parâmetros hmF2 e foF2 estava

boa, chegava-se ao final da operação. Neste ponto, as isolinhas de

freqüência do modelo, da mesma forma, apresentavam boa concordância

com as observadas.

Visando facilitar o entendimento do procedimento adotado para efetuar as

modelagens, é apresentado um fluxograma na FIGURA 5.1, a seguir. Nela, são

mostradas as duas etapas descritas acima: a primeira, na qual somente a velocidade de

deriva é modificada, com o objetivo de obter concordância entre as curvas observada e

89

modelada de hmF2; e a segunda, na qual as velocidades de vento (e algumas vezes a

velocidade de deriva vertical) são modificadas para obter a concordância entre as curvas

observada e modelada de foF2 e hmF2.

FIGURA 5.1 – Fluxograma demonstrativo do procedimento utilizado para efetuar

modelagem.

Deriva E x B

SUPIM

hmF2mod ≈ hmF2obs

Fim

Deriva E x B

hmF2mod ≈ hmF2obs

foF2mod≈ foF2obs

Vento

Termosférico HWM90

Deriva Ajustada

Vento

Termosférico HWM90

Vel. Vento Ajustada

F

V

F

V

1a Etapa

2a Etapa

SUPIM

90

A boa concordância entre as curvas de hmF2 e foF2 observadas e modeladas,

em princípio, era alcançada segundo um critério visual. Entretanto, estabeleceu-se um

outro critério, visando obter uma medida do desvio existente entre aquelas curvas.

Tratava-se do cálculo da média diária do módulo do desvio relativo entre os valores

observados e modelados, conforme a seguinte expressão:

1

1o mNi i

oi i

x xN x=

−∆ = ∑ , (5.1)

onde xio e xi

m representam, respectivamente, valores observados e valores modelados e

N representa o número de termos da média para um dia inteiro de dados.

Durante todos os processos de modelagem, chegou-se à conclusão de que um

bom grau de concordância entre as curvas é alcançado quando a média diária do módulo

do desvio relativo apresenta, em geral, valores menores ou iguais a 0,06 e um grau

regular de concordância corresponde a uma média diária de aproximadamente 0,10.

É bem conhecido que os ventos termosféricos, em latitudes afastadas do equador

magnético, são responsáveis pelo transporte de ionização para maiores altitudes ao

longo das linhas do campo geomagnético, caso estejam em sentido ao equador

magnético e pelo transporte de ionização para menores altitudes, ao longo das linhas do

campo geomagnético, caso estejam em sentido aos pólos magnéticos. Então, para a

modelagem de ventos, em especial, estabeleceram-se duas faixas de latitude em torno

do equador magnético, em pontos conjugados, nas quais as suas velocidades eram

modificadas. Elas se estendiam de 2°N a 4°N e de 2°S a 4°S de latitude magnética. A

escolha de faixas próximas ao equador magnético foi feita porque Jicamarca (12°S,

77°W, dip=1°) situa-se em sua vizinhança (0,5° de latitude magnética, segundo o

IGRF2000, dados referentes a outubro/2002).

A velocidade do vento termosférico meridional varia com a altitude. Porém, esse

gradiente vertical de velocidade deixa de ser significativo a partir de uma dada altura, a

qual se estabeleceu ser em torno de 300km, no caso de Jicamarca e os pontos

91

conjugados ao norte e ao sul. Portanto, tomava-se a curva de velocidade de vento

referente a 300km de altura sobre os pontos conjugados ao norte e ao sul de Jicamarca

para, então, modificá-las e alimentar o modelo.

A componente meridional magnética de velocidade dos ventos termosféricos

dessas faixas era modelada com um algoritmo (Limiro, 2002), posteriormente adaptado

para calcular e registrar as diferenças entre o vento original e o vento modificado. Na

FIGURA 5.2 são apresentadas: a curva original de velocidade do HWM90 e a curva

modificada (Ajuste Manual). Os valores das diferenças entre as curvas eram, então,

adicionados ao vento do modelo em todas as alturas e latitudes da grade que estivessem

dentro dos limites das faixas.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24-200

-150

-100

-50

0

50

100

150

200GRAFICO

HORA

****************************************

***************************************************************************************************************** ************** ************** ** ****** **** ************

*********

*******

*******

*******

********

*********

*******

***************

******** **** * ***************************************

****************

********************************************************************************************************** ************** ************** ** ****** **** *****************

***********

*******

*******

********

*********

*******

***************

******** **** * *******

FIGURA 5.2 – Exemplo demonstrativo de modelagem manual: as diferenças entre os

valores das curvas eram adicionadas às velocidades calculadas nas

rodadas do SUPIM.

Vel

ocid

ade

(m/s

)

Ajuste Manual

HWM90

92

Na FIGURA 5.3, é apresentada uma representação esquemática das faixas de

latitudes, da região intermediária e das rampas. Dentro das faixas de latitudes, as

diferenças entre vento original e modificado eram adicionadas à velocidade calculada

pelo HWM90 incorporado ao SUPIM. Havia uma faixa intermediária e duas “rampas”.

As rampas se estendiam por 5° ao norte do limite superior da faixa ao norte e 5° ao sul

do limite inferior da faixa ao sul. Na faixa intermediária e nas rampas, eram feitas

interpolações lineares nas velocidades de vento meridional.

FIGURA 5.3 – Esquema das faixas de latitudes magnéticas: entre 2 e 4°N e entre 2 e

4°S, os ventos eram modelados; nas rampas (5° de extensão) e entre as

faixas, as velocidades são interpoladas com os valores de deltas de

dentro das faixas.

No caso do equador magnético, os ventos transequatoriais não têm influência

sobre o deslocamento vertical da camada ionizada, pois a inclinação magnética das

linhas do campo é nula. Entretanto, podem influenciar a redistribuição de ionização por

arrasto ao longo delas, criando assimetrias na densidade eletrônica/iônica com relação

ao equador magnético.

93

A deriva eletromagnética vertical na região do equador magnético é a

responsável pelo deslocamento vertical da camada ionizada, sendo decisiva para a

existência do “efeito fonte”, o qual, juntamente com a difusão de plasma ao longo das

linhas de campo e a aceleração da gravidade, explica a existência da anomalia de

Appleton ou anomalia de ionização equatorial. Por essa razão, o parâmetro hmF2 é mais

sensível a variações na velocidade de deriva vertical sobre o equador magnético do que

a variações nos ventos termosféricos transequatoriais. Entretanto, como hmF2 é a altura

do pico de densidade eletrônica da região-F, dada a influência na redistribuição de

ionização que os ventos transequatoriais podem causar, eles certamente podem

influenciar também o movimento vertical aparente de hmF2.

5.2.2 Ajuste da Velocidade de Deriva Vertical

Os nossos estudos de modelagem de deriva iniciaram-se com dados registrados

no Rádio Observatório de Jicamarca, Peru. Dispunha-se de alguns períodos com

medidas simultâneas de seu radar de espalhamento incoerente e de sua Digissonda.

Era possível então utilizar três diferentes opções para a velocidade de deriva de

entrada do modelo: a) a velocidade de deriva E×B medida pelo radar de espalhamento

incoerente; b) a velocidade medida pela Digissonda; c) a velocidade calculada pelo

modelo de Scherliess e Fejer (1999), incorporado ao SUPIM.

Considerou-se, então, que se fossem utilizadas como entrada para o modelo

SUPIM, as medidas de velocidade de deriva do radar, as suas saídas mostrariam

resultados mais concordantes com os dados de foF2, hmF2 e isolinhas de freqüência das

observações efetuadas pela Digissonda do que as saídas utilizando os outros conjuntos

de velocidades.

Após rodar o modelo com a velocidade de deriva do radar como entrada,

observou-se que as curvas de hmF2 e foF2 não apresentavam concordância. Mesmo

depois de rodar o modelo com as velocidades de entrada (medidas de Digissonda e do

94

modelo de deriva de Scherliess e Fejer), não foram geradas saídas que apresentassem

concordância com os dados observados.

Essas discordâncias, de certa forma, não são tão surpreendentes, partindo-se do

fato de que todo modelo computacional tem algumas restrições, ou algumas

simplificações. Atualmente, devido ao aperfeiçoamento da capacidade de

processamento e memória das máquinas, os modelos tendem a ser, obviamente,

superiores aos de 20 anos atrás, por exemplo. Isto é, as situações consideradas em uma

dimensão apenas, passaram a duas e agora todo modelo que tente realmente simular a

realidade deve considerar três dimensões. Porém, isso só não basta. Termos de segunda

e terceira ordem também devem ser levados em conta nas soluções dos sistemas de

equações diferenciais, para garantir que pequenas flutuações em densidade, por

exemplo, tenham seu papel estudado.

A velocidade de deriva eletromagnética possui um gradiente vertical que é

simulado de maneira simplificada pelo SUPIM. São consideradas regiões com limites

nas altitudes de ápice (AA) das linhas de campo sobre o equador magnético, conforme

se vê na Tabela 5.1 a seguir.

95

TABELA 5.1 – Regiões de simulação de perfil vertical de velocidades de deriva no

SUPIM.

Regiões (km) Deriva

AA < 100 Deriva nula

100<AA<200 Interpolações

200<AA<600

Modelo de deriva de Jicamarca, de Scherliess e Fejer (1999),

ou ainda, no nosso caso, medidas diretas de velocidade – sem

alterações com a altura

600<AA<3000 Modelo de deriva de Arecibo – velocidade constante com

altura

3000<AA<4000 Interpolações

4000<AA<5000 Deriva nula

Como podemos notar na tabela acima, entre 200 e 600km de altura – região de

maior interesse em nosso trabalho – não há efetiva variação de velocidade na direção

vertical, isto é, as medidas de velocidade de entrada são as mesmas para toda essa

região. Se observarmos o perfil vertical de velocidade medido pelo radar de

espalhamento incoerente (ver o Capítulo 2), perceberemos que a consideração acima é

válida para boa parte do dia, porém para alguns horários, não.

Portanto, cogitou-se a hipótese de que se utilizassem, como dados de entrada, os

valores de deriva para cada altura sondada pelo radar, poderíamos provavelmente obter

curvas de isolinhas de freqüência, hmF2 e foF2 com valores mais próximos aos das

observações, principalmente de isolinhas de freqüência, porque, conforme se verá

96

adiante nos gráficos, as que o modelo gera, apesar de apresentarem comportamento

próximo ao das observadas, não concordam inteiramente. Seria necessário, então,

modificar o código fonte do modelo de modo a incorporar os perfis verticais de

velocidade levantados pelo radar – obviamente não é trivial, dadas as dificuldades de se

conseguir perfis sem lacunas e sem a presença de ruídos, porém, mesmo assim seria

factível, podendo se tratar essa de uma tarefa viável para próximos estudos com

modelagem.

Então, em decorrência disso tudo, as derivas também eram modeladas para,

juntamente com os ventos, influenciar as saídas do modelo e buscar obter concordância

entre as curvas de isolinhas de freqüência, foF2 e hmF2 observadas e as curvas dos

mesmos parâmetros obtidos a partir das saídas. Com isso, obtinha-se uma velocidade de

deriva corrigida em relação às derivas medidas pelas Digissondas de tal maneira que, se

não representavam exatamente a deriva eletromagnética, elas se mostraram como uma

alternativa para que o modelo SUPIM simulasse os parâmetros observados pelas

Digissondas e, em conseqüência, simulasse as situações encontradas no plasma

ionosférico.

Todas as modificações feitas nas velocidades dos ventos ou da deriva eram

baseadas no modelo HWM90 e nas curvas de deriva fornecidas pelos instrumentos.

5.3 Resultados

Diante de todas as considerações anteriores, os gráficos apresentados a seguir

mostram que as derivas verticais e a componente meridional magnética da velocidade

do vento termosférico precisam ser diferentes das derivas observadas pela Digissonda e

radar e dos ventos calculados pelo HWM90.

Foram analisados alguns dias representativos de vários períodos com medidas

simultâneas do radar de espalhamento incoerente e da Digissonda de Jicamarca. Na

Tabela 5.2, são listados os dias que são apresentados neste capítulo.

97

Além de dados de Jicamarca, também foram feitas modelagens para dados da

Digissonda DGS-256 de São Luís para os mesmos dias. Nem sempre havia dados

exatamente nos mesmos dias. Nessas situações, pegou-se um dia próximo com

características semelhantes, para proceder às modelagens.

TABELA 5.2 – Tabela de dias utilizados nas modelagens.

ANO MÊS DIA

2001 setembro 18-19

2001 dezembro 11

2002 abril 17

2002 outubro 15-16

5.3.1 Jicamarca

Jicamarca está situada bastante próxima ao equador magnético. De acordo com

o modelo International Geomagnetic Reference Field (IGRF2000), sua latitude

magnética é de aproximadamente 0,5°N e sua declinação magnética é de

aproximadamente 0,3°E – bem pequena, comparada à declinação magnética de nossas

estações, São Luís, por exemplo, possui declinação em torno de 19°O.

As diferentes características geomagnéticas dessas estações certamente se

refletem em seus valores de deriva e ventos. Batista et alii (1986), por exemplo,

apontaram a dependência do horário de aparecimento do pico pré-inversão com a

declinação magnética, comparando dados das estações de Fortaleza e Huancayo (Peru).

Abdu et alii (1981) relacionaram a influência da declinação magnética sobre o

desenvolvimento do campo elétrico de dínamo da região-F e a ocorrência de Spread-F.

98

Na Tabela 5.3 abaixo, são listados os valores do campo geomagnético, suas

componentes, os ângulos de inclinação e declinação magnética nas duas localidades,

para 300km de altura. Dessa tabela, observa-se que a latitude magnética de Jicamarca é

de 0,5°N, conforme mencionado logo acima, e a de São Luís, 1,3°S. Além disso, os

ângulos de declinação magnética são bem diferentes nas duas estações. A componente

meridional do vento termosférico será maior e, portanto, mais efetiva sobre Jicamarca

do que sobre São Luís. Ou seja, a redistribuição de ionização sobre Jicamarca será mais

influenciada pelos ventos termosféricos transequatoriais do que sobre São Luís.

TABELA 5.3 – Valores do IGRF2000 para Jicamarca e São Luís (ano ref.: 2002).

Local LATI B (nT)

B-Horiz. (nT)

B-Norte (nT)

B-Leste (nT)

B-Vert. (nT)

DIP DEC

S.L -2.60 22914 22888 21564 -7671 -1096 -2.6 -19.6

JI -12.00 22863 22860 22860 56 362 1.0 0.3

Na FIGURA 5.4, são apresentadas as curvas de hmF2, foF2, velocidade de deriva,

velocidades de ventos meridionais magnéticos sobre a estação e nos pontos conjugados ao

norte e ao sul, referentes ao dia 18/09/2001 antes das modelagens. Na FIGURA 5.5,

mostram-se as mesmas curvas após o processo de modelagem. E na FIGURA 5.6, são

apresentadas as isolinhas observadas e modeladas referentes ao mesmo dia.

De modo geral, a simulação para essa data se apresenta razoável. Nesse dia o

índice Ap foi igual a 11,0 e a soma de Kp igual a 16+, ou seja, foi um dia de atividade

magnética relativamente calma. Os modelos ionosféricos trabalham bem para dias

magneticamente calmos, pois, durante a ocorrência de tempestades magnéticas, as

concentrações de N2 e O são alteradas (Paula, 1987; Prölss, 1987). Tais alterações não

estão previstas em modelos de atmosfera neutra tais como o MSIS86, incorporado pelo

SUPIM. Entretanto, mais à frente, foi feita uma simulação para um dia magneticamente

perturbado, para investigar como o modelo reagiria a esse tipo de situação.

99

-60

0

60

120

0

200

400

600

800

0 4 8 12 16 20 24-60

-30

0

30

60

HMW90 - Supim (08°S,77°W) (12°S,77°W) (16°S,77°W)

HWM90 (08°S,77°W) (16°S,77°W)

VEL

OC

IDAD

E (m

/s)

JICAMARCA18/09/2001

DPS-4 <∆>=0,47

<∆>=0,44

SUPIM

hm

F2 (k

m)

0

4

8

12

16

20

F10.7 =205,7F10.7A=207,5Ap = 11,0 fo

F2 (M

Hz)

DERIVA VERTICAL DIGISSONDA

HORA LOCAL

FIGURA 5.4 – Curvas de hmF2, foF2 com deriva vertical dhF0.80/dt e ventos do

HWM90 antes de se fazerem as modelagens.

100

-60

0

60

120

0

200

400

600

800

0 4 8 12 16 20 24-60

-30

0

30

60

HMW90 - Supim (08°S,77°W) (12°S,77°W) (16°S,77°W)

HWM90 (08°S,77°W) (16°S,77°W)

VE

LOC

IDA

DE

(m/s

)

JICAMARCA18/09/2001

DPS-4<∆>=0,10

<∆>=0,11

SUPIM

hm

F2 (k

m)

0

4

8

12

16

20F10.7 =205,7F10.7A=207,5Ap = 11,0

foF2

(MH

z)

DERIVA VERTICAL RADAR

HORA LOCAL

FIGURA 5.5 – Gráfico que contém as curvas dos parâmetros (observados e modelados)

hmF2, foF2, deriva e ventos meridionais magnéticos ao norte e ao sul

de Jicamarca.

101

0

200

400

600

800

0

200

400

600

800

00 04 08 12 16 20 00

ALTURA (km)

JICAMARCA18/09/2001

ISOLINHAS DPS-4ALTURA REAL

Frequências (MHz) 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0 11.0 12.0 13.0 14.0 15.0 16.0

ISOLINHAS SUPIMDERIVA MODELADAVentos Modificados

HORA LOCAL

FIGURA 5.6 – Curvas de isolinhas de freqüência de reflexão: painel superior apresenta

dados observados por Digissonda e painel inferior, a saída do SUPIM.

102

Na FIGURA 5.5, é possível perceber-se que há concordância regular entre as

curvas de hmF2 e foF2 modelada e observada, para todo o dia 18/09/2001.

No painel inferior são mostradas as curvas de velocidade de deriva e ventos. Tal

como Souza (1997) observou em suas modelagens, o gradiente de ventos do HWM90

precisou ser aumentado para obter os resultados apresentados no gráfico.

Na FIGURA 5.6, são apresentadas as isolinhas de freqüência ao longo do dia.

No painel superior temos as observações e no inferior as modelagens. De modo geral, as

curvas demonstram uma boa concordância e, portanto, pode-se dizer que a simulação

foi apropriada.

Outro ponto interessante é que a simulação não consegue reproduzir

determinadas estruturas na região intermediária de freqüências e essa característica pode

ser mais uma evidência do modo como o perfil vertical de velocidade de deriva é

simulado pelo modelo.

As velocidades de deriva são comparadas na FIGURA 5.7, a seguir. Nela, é

possível observar as velocidades de deriva da Digissonda (DPS-4), do radar e a deriva

modelada. Utilizou-se como ponto de partida a velocidade de deriva vertical obtida com

dados da Digissonda, mais especificamente, a velocidade por meio da técnica dhF0.80/dt.

Na FIGURA 5.7, pode-se perceber que a velocidade modelada apresenta um

comportamento semelhante ao da velocidade de deriva vertical medida pelo radar de

espalhamento incoerente. Essa similaridade no comportamento dessas duas curvas é um

aspecto positivo que assegura confiabilidade à velocidade de deriva vertical modelada,

dado que as medidas feitas pelo radar são representativas da deriva eletromagnética e,

portanto, a deriva vertical modelada pode ser considerada bastante próxima à velocidade de

deriva eletromagnética vertical. Outra característica perceptível no gráfico da FIGURA 5.7,

é que a velocidade de deriva modelada apresenta valor de pico pré-inversão um pouco

menor com relação àqueles apresentados pelas outras curvas de velocidade e algumas

flutuações entre 8h e 18h em relação à velocidade medida pelo radar.

103

-120

-60

0

60

120

-120

-60

0

60

120-120

-60

0

60

120 VlosDPS-4

JICAMARCA18/09/2001

V

ELO

CID

AD

E V

ER

TIC

AL

(m/s

)

RADAR

0 4 8 12 16 20 24-120

-60

0

60

120

DERIVA MODELADA

HORA LOCAL (77°W)

dhF0.80/dt

FIGURA 5.7 – Curvas de velocidade de deriva obtidas com a Digissonda, o radar e a

modelagem.

Na FIGURA 5.8, são apresentadas as curvas para o dia 19/09/2001. Nelas, observamos

uma melhor concordância entre os parâmetros da saída do modelo e das observações.

A curva de hmF2 do modelo apresenta-se bem próxima da observada, somente

na faixa de horários entre 10 e 15h elas se distanciam um pouco, porém, ainda assim,

podendo ser consideradas razoavelmente próximas. Outro aspecto interessante é a

simulação quase perfeita da ocorrência de uma camada F3 em torno de 10h.

Na FIGURA 5.9, as isolinhas apresentam também uma concordância muito boa,

sendo possível, inclusive, observar a subida das freqüências mais altas durante o evento da

camada F3 e pouca alteração na região de freqüências mais baixas. Do mesmo modo que na

FIGURA 5.6, algumas estruturas (as pequenas flutuações em torno de 10h e 14h) não são

simuladas.

104

-60

0

60

120

0

200

400

600

800

0 4 8 12 16 20 24-60

-30

0

30

60

HMW90 - Supim (08°S,77°W) (12°S,77°W) (16°S,77°W)

HWM90 (08°S,77°W) (16°S,77°W)

VE

LOC

IDA

DE

(m/s

)

<∆>=0,06

Deriva Modelada e Ventos modificados

JICAMARCA19/09/2001

DPS-4 SUPIM

hm

F2 (k

m)

0

4

8

12

16

20F10.7 =200,6F10.7A=208,1Ap = 9,0

<∆>=0,05 foF2

(MH

z)

DERIVA VERTICAL EFETIVA

HORA LOCAL

FIGURA 5.8 – Idem FIGURA 5.5, mas para o dia 19/09/2001.

105

0

200

400

600

800

0

200

400

600

800

00 04 08 12 16 20 00

JICAMARCA19/09/2001

ISOLINHAS DPS-4ALTURA REAL

ISOLINHAS SUPIMDERIVA MODELADAVentos Modificados

HORA LOCAL

FIGURA 5.9 – Idem FIGURA 5.5, mas para o dia 19/09/2001.

106

Na FIGURA 5.10 são apresentadas as curvas de velocidade de deriva da mesma

forma que na FIGURA 5.7. Uma vez mais podemos perceber que a velocidade

modelada se assemelha mais à velocidade medida pelo radar.

As velocidades que a Digissonda exibe são mais flutuantes ao longo do dia,

pois, refletem todo um conjunto de contribuições de origem química e dinâmica que

agem sobre a camada. Foram mostradas, para efeito de comparação, as velocidades na

linha de visada (Vlos) e dhF0.80/dt. Vlos apresenta valores positivos durante o dia,

concordando melhor com o radar, porém, dhF0.80/dt apresenta valores um pouco

melhores na região do pico pré-inversão.

-120

-60

0

60

120

-120

-60

0

60

120-120

-60

0

60

120 VlosDPS-4

JICAMARCA19/09/2001

VE

LOC

IDA

DE

VE

RTI

CA

L (m

/s)

RADAR

0 4 8 12 16 20 24-120

-60

0

60

120

DERIVA MODELADA

HORA LOCAL (77°W)

dhF0.80/dt

FIGURA 5.10 – Idem FIGURA 5.7, mas para o dia 19/09/2001.

Na FIGURA 5.11, são apresentados os perfis de densidade ao longo do dia

19/09/2001, sendo que, no painel superior, mostram-se os dados observados pela

107

Digissonda e no painel inferior, os dados de saída do SUPIM. Observa-se uma boa

concordância na distribuição de densidades para esse dia.

100

200

300

400

500

600

700

800

0 4 8 12 16 20 24

Freqs. (MHz)ALTURA (km)

HORA LOCAL

0

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

12.0

14.0

16.0

FIGURA 5.11 – Perfilogramas referentes ao dia 19/09/2001. No painel superior: dados

observados. Painel inferior: dados modelados.

Da FIGURA 5.11, podemos perceber que o modelo gera perfis de densidade

eletrônica bastante próximos aos apresentados pela Digissonda. As palhetas de cores

não são exatamente iguais, porém, se nos ativermos aos valores das freqüências

apresentadas em ambos os painéis perceberemos que a distribuição segue um padrão

bastante similar.

A Digissonda gera perfis do topo da camada graças a um modelo incorporado ao

software de redução dos ionogramas (Huang e Reinisch, 2001), o SAO-Explorer. Então,

108

acima do pico de densidade o modelo “completa” o perfil, segundo uma camada do tipo

Chapman-α, com base na declividade da curva do perfil de altura real que se estende da

base da camada até a altura do pico de densidade eletrônica (hmF2).

Na FIGURA 5.12, são apresentados os perfis de densidade obtidos com a

Digissonda DPS-4 (painel superior) e pelo SUPIM (painel inferior), para seis horários

diferentes (hora local) do dia 19/09/2001: 0h, 4h, 8h30, 12h, 16h e 20h.

0

200

400

600

800

0 4 8 12 16

JICAMARCADPS-4

19/09/2001

Freqüência (MHz)

ALT

UR

A (k

m)

LT 00 00 04 00 08 30 12 00 16 00 20 00

0

200

400

600

800

0 4 8 12 16

LT 00 00 04 00 08 30 12 00 16 00 20 00

JICAMARCASUPIM

19/09/2001

Freqüência (MHz)

ALT

UR

A (k

m)

FIGURA 5.12 – Perfis de densidade para diferentes horários: calculados pela

Digissonda (acima); calculados pelo SUPIM (abaixo).

109

É possível notar nos gráficos da DPS-4, perfis cuja região acima do pico de

densidade eletrônica da camada demonstram decréscimo mais acentuado e no SUPIM,

decréscimos menos acentuados. Observemos, por exemplo, os perfis de 0 e 4h do

SUPIM, os quais a partir do pico de densidade eletrônica decaem pouco até a altura

limite superior (fixada em 735km para as simulações), se comparados com os

respectivos perfis providos pela Digissonda. Entretanto, a região dos perfis mais

importante para nós, neste trabalho, é a que se estende da base da região F até seu pico

de densidade eletrônica. Nessa região, modelo e observações demonstram boa

concordância, sendo essa, inclusive, a região representada nas isolinhas de freqüência.

Outro aspecto curioso nos mesmos gráficos é a presença de uma estratificação

extra na simulação do modelo. Convém lembrar que a Digissonda só está apta a fazer

observações até a região do pico de densidade eletrônica da camada e, conforme foi

mencionado há pouco, o perfil da DPS-4 para a região superior é modelado. Essa

estratificação poderia estar lá presente e não ser observada por duas razões: a) caso o

perfil dessa região fosse modelado de outra maneira que não por uma camada do tipo

Chapman-α; b) por possuir uma freqüência menor do que a do pico de densidade

eletrônica (foF2) e, portanto, fora do alcance do instrumento. Para desfazer essa dúvida

seria necessário observar simultaneamente a mesma região com o radar ou com uma

sonda a bordo de satélite.

Na FIGURA 5.13, são mostradas as simulações para o dia 11/12/2001. É um dia

também de pouca atividade magnética (Ap = 4) e as curvas mostram uma concordância

razoável. Os ventos apresentam gradientes latitudinais menores entre si, isto é o vento

ao norte e o vento ao sul sopram com pouca diferença de velocidade na maior parte do

dia. Porém, as curvas dos ventos efetivos na faixa de horários entre 11 e 17h se

distanciam das curvas dos ventos originais do modelo HWM90.

110

-60

0

60

120

0

200

400

600

800

0 4 8 12 16 20 24-60

-30

0

30

60

HMW90 - Supim (08°S,77°W) (12°S,77°W) (16°S,77°W)

HWM90 (08°S,77°W) (16°S,77°W)

VEL

OC

IDAD

E (m

/s)

<∆>=0,06

Deriva Modelada e Ventos modificados

JICAMARCA11/12/2001

DPS-4 SUPIM

hm

F2 (k

m)

0

4

8

12

16

20F10.7 = 213,9F10.7A = 216,7Ap = 4,0

<∆>=0,07

foF2

(MH

z)

DERIVA VERTICAL EFETIVA

HORA LOCAL

FIGURA 5.13 – Idem FIGURA 5.5, mas para o dia 11/12/2001

111

0

200

400

600

800

0

200

400

600

800

00 04 08 12 16 20 00

ALT

UR

A (k

m)

JICAMARCA11/12/2001

ISOLINHAS DPS-4ALTURA REAL

ISOLINHAS SUPIMDERIVA MODELADAVentos Modificados

HORA LOCAL

FIGURA 5.14 – Idem FIGURA 5.5, mas para o dia 11/12/2001.

112

Como já mencionado anteriormente, o modelo SUPIM em desenvolvimento não

inclui os efeitos provenientes de tempestades magnéticas. Entretanto, procedeu-se a

uma simulação para um dia magneticamente perturbado. Trata-se do dia 17/04/2002,

quando o índice Ap diário chegou a 62,0. A curva de velocidade de deriva medida pelo

radar de Jicamarca, a qual foi utilizada como base para a modelagem, apresentou-se

bastante flutuante, demonstrando indícios de penetração de campos elétricos de altas

para baixas latitudes magnéticas.

Apesar de ser um dia com alta atividade magnética, o resultado das modelagens

foi surpreendentemente bom, conforme se observa na FIGURA 5.15. Tanto as variações

nas curvas de hmF2 como nas de foF2, incluindo-se as isolinhas de freqüência,

demonstram muito boa concordância. As curvas de vento também apresentam

características que sugerem um indício de que o padrão de ventos sofreu alterações em

relação ao do modelo HWM90. Por exemplo, entre 8 e 12h, aparentemente há uma

inversão na direção em que os ventos sopram, podendo ser interpretado como um

padrão de ventos que sopram dos pólos para o equador devido ao aquecimento Joule na

região auroral.

As isolinhas de freqüência, na FIGURA 5.16, com exceção do horário entre 0 e

1h, mostram muito boa concordância, inclusive na simulação das flutuações no alto da

camada próximo ao pico de densidade eletrônica.

Na FIGURA 5.17, são apresentados os perfis de densidade da Digissonda e do

SUPIM, ao longo do dia 17/04/2002.

113

-60

0

60

120

0

200

400

600

800

0 4 8 12 16 20 24-60

-30

0

30

60

HMW90 - Supim (08°S,77°W) (12°S,77°W) (16°S,77°W)

HWM90 (08°S,77°W) (16°S,77°W)

VE

LOC

IDA

DE

(m/s

)

<∆>=0.06

Deriva Modelada e Ventos modificados

JICAMARCA17/04/2002

DPS-4 SUPIM

hm

F2 (k

m)

0

4

8

12

16

20

<∆>=0.06

foF2

(MH

z) F10.7 =195.0F10.7A=184.2Ap = 62.0

HORA LOCAL

DERIVA VERTICAL EFETIVA

FIGURA 5.15 – Idem FIGURA 5.5, mas para o dia 17/04/2002.

114

0

200

400

600

800

0

200

400

600

800

00 04 08 12 16 20 00

JICAMARCA17/04/2002

ISOLINHAS DPS-4ALTURA REAL

ISOLINHAS SUPIMDeriva e Ventos

Modelados

ALT

UR

A (k

m)

HORA LOCAL

FIGURA 5.16 – Idem FIGURA 5.5, mas para o dia 17/04/2002.

115

100

200

300

400

500

600

700

800

0 4 8 12 16 20 24

Freqs. (MHz)ALTURA (km)

HORA LOCAL

0

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

12.0

14.0

16.0

FIGURA 5.17 – Perfis de densidade eletrônica ao longo do dia 17/04/2002. Painel

superior: dados observados por Digissonda. Painel inferior: dados de

saída do SUPIM.

Na FIGURA 5.17 observa-se boa correspondência entre os perfis de densidade

eletrônica, referentes ao dia 17/04/2002, gerados pelo SUPIM e os observados pela

Digissonda. Não são totalmente iguais, mas guardam boa semelhança. Ou seja, após os

ajustes na velocidade de deriva e nas velocidades dos ventos dos pontos conjugados ao

norte e ao sul, o modelo SUPIM tem condições de simular as curvas de hmF2, foF2,

isolinhas de freqüência e perfis de densidade eletrônica com uma boa aproximação.

Na FIGURA 5.18 são mostradas as curvas dos índices magnéticos ASY/SYM e

a componente vertical do campo magnético interplanetário (IMF-Bz). Na FIGURA

116

5.19, são exibidas as curvas de velocidade de deriva obtidas com a Digissonda, o radar e

através da modelagem.

-200-150-100-50

050

100

-30-20-10

0102030

-200

-150

-100

-50

0

50

100

ASY H

ASY D

n

T

00 04 08 12 16 20 00-30-20-10

0102030

IMF Bz

nT

HORA LOCAL (77°W)

17/ABR/2002

SYM H

nT

FIGURA 5.18 – Curvas de variação dos índices ASY/SYM e da componente IMF-Bz,

durante o dia 17/04/2002 – um dia magneticamente perturbado.

-120

-60

0

60

120

-120

-60

0

60

120-120

-60

0

60

120 VlosDPS-4

JICAMARCA17/04/2002

VE

LOC

IDA

DE

VE

RTI

CA

L (m

/s)

RADAR

0 4 8 12 16 20 24-120

-60

0

60

120

DERIVA MODELADA

HORA LOCAL (77°W)

dhF0.80

/dt

FIGURA 5.19 – Velocidades de deriva obtidas com Digissonda (DPS-4), radar e a deriva

modelada para entrada no SUPIM, referentes ao dia 17/04/2002.

117

Observando-se os gráficos das Figuras 5.18 e 5.19, é possível estabelecer uma

relação entre o comportamento da deriva e as curvas dos índices. A componente Bz do

campo magnético interplanetário se inverte seguidas vezes, mostrando um

comportamento flutuante entre aproximadamente 4 e 14h locais (meridiano de

Jicamarca, 77°W). A velocidade de deriva medida pelo radar acompanha bem

proximamente esse comportamento, havendo inversão de seu sentido sucessivas vezes,

na mesma faixa de horários.

Quanto aos dados registrados pela DPS-4, nota-se que a velocidade obtida pela

técnica dhF0.80/dt acompanha o comportamento da velocidade de deriva do radar. Na

faixa de horários que se estende de 6 a ~21h, a concordância é muito boa, conquanto a

amplitude da curva da DPS-4 seja pouco menor, os picos todos aparecem quase sempre

em horários coincidentes. O mesmo não se pode afirmar da velocidade na linha de

visada, a qual se apresenta ruidosa e com picos um pouco deslocados. Nesse dia, as

velocidades deduzidas pela técnica dhF0.80/dt estão melhores e, devido à sua

concordância tanto com a velocidade de deriva medida pelo radar como com a

velocidade modelada podem, portanto, ser consideradas mais confiáveis do que a

velocidade Vlos.

Na próxima simulação, apresentada na FIGURA 5.20 a seguir, como não foram

feitas medidas de velocidade de deriva por meio do radar de espalhamento incoerente de

Jicamarca, só é possível comparar a velocidade de deriva vertical modelada com as

velocidades deduzidas das técnicas dhF0.80/dt e Vlos, a partir de dados registrados pela

Digissonda daquela localidade.

118

-60

0

60

120

0

200

400

600

800

0 4 8 12 16 20 24-60

-30

0

30

60

<∆>=0.06

HMW90 - Supim (12°S,77°W) (12°S,77°W) (12°S,77°W)

HWM90 (08°S,77°W) (16°S,77°W)

VEL

OC

IDAD

E (m

/s)

<∆>=0.04

Deriva Modelada e Ventos modificados

JICAMARCA15/10/2002

DPS-4 SUPIM

hm

F2 (k

m)

0

4

8

12

16

20F10.7 =175.7F10.7A=171.5Ap = 18.0

foF2

(MH

z)

DERIVA VERTICAL EFETIVA

HORA LOCAL

FIGURA 5.20 – Idem FIGURA 5.5, mas para o dia 15/10/2002.

119

0

200

400

600

800

0

200

400

600

800

00 04 08 12 16 20 00

JICAMARCA15/10/2002

ALT

UR

A (k

m)

ISOLINHAS DPS-4ALTURA REAL

ISOLINHAS SUPIM15/10/2002

Deriva e ventosmodificados

HORA LOCAL

FIGURA 5.21 – Idem FIGURA 5.5, mas para o dia 15/10/2002.

120

-120

-60

0

60

120

-120

-60

0

60

120-120

-60

0

60

120 VlosDPS-4

JICAMARCA15/10/2002

VE

LOC

IDA

DE

VE

RTI

CA

L (m

/s)

dhF0.80/dtDPS-4

0 4 8 12 16 20 24-120

-60

0

60

120

DERIVA MODELADA

HORA LOCAL (77°W)

FIGURA 5.22 – Velocidades de deriva obtidas com a Digissonda (painéis superior e

intermediário) e velocidade de deriva modelada para o SUPIM.

-100

-50

0

50

100

-15-10-505

1015

-100

-50

0

50

100

ASY H

ASY D

nT

00 04 08 12 16 20 00-15-10-505

1015

IMF Bz

nT

HORA LOCAL (77°W)

SYM D

15/OUT/2002

SYM H

nT

FIGURA 5.23 – Índices ASY/SYM e IMF-Bz do dia 15/10/2003.

121

Da FIGURA 5.20 observa-se um bom resultado para as curvas modeladas e

observadas, sobretudo as curvas de hmF2, onde mesmo as camadas F3 conseguem ser

bem simuladas pelo modelo. As curvas de foF2 não mostram tanta concordância,

entretanto, é possível considerar satisfatório o nível de proximidade das curvas.

Esse é um dia com atividade magnética média e, apesar da velocidade de deriva

modelada não apresentar inversões, não possui um comportamento que siga o padrão de

deriva eletromagnética do radar de espalhamento incoerente, o aumento de velocidade

em torno de 16h foi necessário para que hmF2 da saída do modelo pudesse alcançar os

valores observados e, observando-se a FIGURA 5.23, IMF-Bz apresenta um aumento

próximo a 16h, parecendo estar bem relacionado como aquele pico secundário. Assim,

parece bastante razoável a configuração de ventos e deriva.

5.3.2 São Luís

Dados registrados em São Luís (2,6°S; 44°O, dip = 2,6°) nos mesmos dias

apresentados na Tabela 5.2 foram processados com o objetivo de comparar as

velocidades de deriva das duas diferentes estações de observação. A localidade de São

Luís fica bem próxima ao equador magnético. De acordo com o IGRF2000, sua latitude

é de aproximadamente 1,3°S. Entretanto a sua declinação magnética é bem maior que a

de Jicamarca. Naquela localidade opera uma Digissonda modelo DGS-256, um sistema

mais antigo que o modelo DPS-4, utilizado em Jicamarca.

Todas as velocidades de deriva utilizadas como entrada para o modelo foram, é

claro, baseadas nas medidas da DGS-256. De modo geral, os resultados se repetem, ou

seja, as simulações se mostram bastante satisfatórias. E as velocidades de deriva

modeladas acabam seguindo um padrão similar ao de Jicamarca.

Nas Figuras 5.24, 5.25, 5.26 e 5.27 são apresentadas as simulações para os dias

18 e 19/09/2001 e nas Figuras 5.28 e 5.29, a seguir, são exibidas as curvas de

velocidade de deriva relativas a esses dias.

122

-60

0

60

120

0

200

400

600

800

0 4 8 12 16 20 24-60

-30

0

30

60

HMW90 - Supim (08°S,77°W) (12°S,77°W) (16°S,77°W)

HWM90 (08°S,77°W) (16°S,77°W)

VE

LOC

IDA

DE

(m/s

)

<∆>=0.05

Deriva Modelada e Ventos modificados

SÃO LUIS18/09/2001

DGS-256 SUPIM

hm

F2 (k

m)

0

4

8

12

16

20

<∆>=0.05

F10.7 =205,7F10.7A=207,5Ap = 11,0

foF2

(MH

z)

DERIVA VERTICAL EFETIVA

HORA LOCAL

FIGURA 5.24 – Painéis superior e intermediário: curvas de hmF2 e foF2 observadas pela

Digissonda DGS-256 e modeladas pelo SUPIM. Painel inferior:

velocidades modeladas de deriva e ventos ao norte e ao sul da estação.

123

0

200

400

600

800

0

200

400

600

800

00 04 08 12 16 20 00

ALT

UR

A (k

m)

SÃO LUIS18/09/2001

ISOLINHAS DGS-256ALTURA REAL

Freqüências (MHz) 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 8.0 9.0 10.0 11.0 12.0 13.0 14.0 15.0 16.0

ISOLINHAS SUPIMDeriva e Ventos

Modelados

HORA LOCAL

FIGURA 5.25 – Isolinhas de freqüência, referentes ao dia 18/09/2001.

124

-60

0

60

120

0

200

400

600

800

0 4 8 12 16 20 24-60

-30

0

30

60

HMW90F (08°S,77°W) (16°S,77°W)

HMW90 - Supim (08°S,77°W) (12°S,77°W) (16°S,77°W)

HWM90 (08°S,77°W) (16°S,77°W)

VEL

OC

IDAD

E (m

/s)

<∆> = 0,10

Deriva Modelada e Ventos modificados

SÃO LUIS19/09/2001

DGS-256 SUPIM

hm

F2 (k

m)

0

4

8

12

16

20F10.7 =200,6F10.7A=208,1Ap = 9,0

<∆> = 0,11 foF2

(MH

z)

DERIVA VERTICAL EFETIVA

HORA LOCAL

FIGURA 5.26 – Idem FIGURA 5.24, mas para o dia 19/09/2001.

125

0

200

400

600

800

0

200

400

600

800

00 04 08 12 16 20 00

ALT

UR

A (k

m)

SÃO LUIS19/09/2001

ISOLINHAS DGS-256ALTURA REAL

ISOLINHAS SUPIMDeriva e Ventos

Modelados

HORA LOCAL

FIGURA 5.27 – Idem FIGURA 5.25, mas para o dia 19/09/2001.

126

-120

-60

0

60

120

-120

-60

0

60

120

dhF(5)/dtDGS-256

SÃO LUIS18/09/2001

VEL

OC

IDAD

E V

ERTI

CA

L (m

/s)

dhF0.80/dtDGS-256

0 4 8 12 16 20 24-120

-60

0

60

120

DERIVA MODELADA

HORA LOCAL (44°W)

FIGURA 5.28 – Velocidades de deriva aparente medidas pela Digissonda DGS-256 (painéis

superior e intermediário) e velocidade modelada para o SUPIM.

-120

-60

0

60

120

-120

-60

0

60

120

dhF(5)/dtDGS-256

SÃO LUIS19/09/2001

VEL

OC

IDAD

E V

ERTI

CA

L (m

/s)

dhF0.80/dtDGS-256

0 4 8 12 16 20 24-120

-60

0

60

120

DERIVA MODELADA

HORA LOCAL (44°W)

FIGURA 5.29 – Idem FIGURA 5.28, mas para o dia 19/09/2001.

127

As simulações dos dias 18 e 19/09/2001, estão razoáveis, há boa proximidade no

comportamento das curvas, estando um pouco melhor a do dia 18. Conforme se pode

perceber, há um certo desvio entre as curvas de foF2, das 0 às 5h do dia 19. Quanto aos

ventos, houve a necessidade de aumentar o gradiente latitudinal, distanciando-se as suas

curvas. Por exemplo, entre 8 e12h, o vento ao norte foi intensificado para soprar para

norte, enquanto o vento ao sul, foi intensificado na direção oposta. O objetivo foi de

criar uma situação de transporte de ionização para latitudes mais altas, diminuindo a

densidade eletrônica sobre o equador magnético.

Com relação às isolinhas de freqüência, da mesma forma que as simulações de

hmF2 e foF2, estão razoáveis.

Nas Figuras 5.28 e 5.29, são exibidas as velocidades de deriva aparente obtidas

com a Digissonda de São Luís, juntamente com a deriva modelada para o SUPIM.

Assim, por meio da utilização do modelo, conseguimos uma velocidade de deriva que

pode ser considerada bem próxima ao que seria a deriva eletromagnética sobre São

Luís. E, dessa forma, podemos ter uma boa noção a respeito das amplitudes e do

comportamento da velocidade de deriva eletromagnética na região-F sobre São Luís.

As próximas simulações apresentadas nas Figuras 5.30, 5.31, 5.32 e 5.33, são

referentes aos dias 15 e 16/10/2002 e nas figuras seguintes (5.34, 5.35 e 5.36) são

apresentados os perfis de densidade eletrônica e as velocidades de deriva. A

concordância entre as curvas de hmF2 e foF2 para o dia 16/10/2002 está melhor do que

a do dia 15/10/2002.

128

-60

0

60

120

0

200

400

600

800

0 4 8 12 16 20 24-60

-30

0

30

60

HMW90 - Supim (08°S,77°W) (12°S,77°W) (16°S,77°W)

HWM90 (08°S,77°W) (16°S,77°W)

VE

LOC

IDA

DE

(m/s

)

<∆>=0.08

Deriva Modelada e Ventos modificados

SÃO LUIS15/10/2002

DGS-256 SUPIM

hm

F2 (k

m)

0

4

8

12

16

20

<∆>=0.07

F10.7 =175.7F10.7A=171.5Ap = 18.0

foF2

(MH

z)

DERIVA VERTICAL EFETIVA

HORA LOCAL

FIGURA 5.30 – Idem FIGURA 5.24, mas para o dia 15/10/2002.

129

0

200

400

600

800

0

200

400

600

800

00 04 08 12 16 20 00

SÃO LUIS15/10/2002

ALT

UR

A (k

m)

ISOLINHAS DGS-256ALTURA REAL

ISOLINHAS SUPIM15/10/2002

Deriva e ventosmodificados

HORA LOCAL

FIGURA 5.31 – Idem FIGURA 5.25, mas para o dia 15/10/2002.

130

-60

0

60

120

0

200

400

600

800

0 4 8 12 16 20 24-60

-30

0

30

60

HMW90 - Supim (08°S,77°W) (12°S,77°W) (16°S,77°W)

HWM90 (08°S,77°W) (16°S,77°W)

VE

LOC

IDA

DE

(m/s

)

<∆>=0.04

Deriva Modelada e Ventos modificados

SÃO LUIS16/10/2002

DPS-4 SUPIM

hm

F2 (k

m)

0

4

8

12

16

20

<∆>=0.05F10.7 = 181.4F10.7A = 171.0Ap = 18.0 fo

F2 (M

Hz)

DERIVA VERTICAL EFETIVA

HORA LOCAL

FIGURA 5.32 – Idem FIGURA 5.24, mas para o dia 16/10/2002.

131

0

200

400

600

800

0

200

400

600

800

00 04 08 12 16 20 00

SÃO LUIS16/10/2002

ALT

UR

A (k

m)

ISOLINHAS DGS-256ALTURA REAL

ISOLINHAS SUPIMDeriva e ventos

modificados

HORA LOCAL

FIGURA 5.33 – Idem FIGURA 5.24, mas para o dia 16/10/2002.

132

As simulações dos dias 15 e 16/10/2002 apresentam um bom conjunto de

resultados. As curvas de hmF2, foF2 e mesmo as isolinhas de freqüência, possuem

comportamento bem similar. Na FIGURA 5.32, o modelo conseguiu simular bem a

subida do pico de densidade eletrônica por volta de 16h. Contudo, nas isolinhas de

freqüência da FIGURA 5.32, entre 8 e 16h algumas estruturas na região de freqüências

mais baixas, não aparecem nas curvas modeladas, tal como já foi mencionado, sendo

exibidas curvas bastante suavizadas. Para efeito de comparação, na FIGURA 5.34,

segue mais um exemplo de perfis de densidade eletrônica observados e modelados,

considerando o dia 16/10.

100

200

300

400

500

600

700

800

0 4 8 12 16 20 24

Freqs. (MHz)ALTURA (km)

HORA LOCAL

0

2.0

4.0

6.0

8.0

10.0

12.0

14.0

16.0

FIGURA 5.34 – Perfis de densidade eletrônica para o dia 16/10/2002, na localidade de

São Luís. No painel superior são apresentados perfis observados pela

Digissonda e no painel inferior, perfis modelados pelo SUPIM.

133

-120

-60

0

60

120

-120

-60

0

60

120-120

-60

0

60

120 dhF(5)/dtDPS-4

SÃO LUIS15/10/2002

VE

LOC

IDA

DE

VE

RTI

CA

L (m

/s)

dhF0.80/dtDPS-4

0 4 8 12 16 20 24-120

-60

0

60

120

DERIVA MODELADA

HORA LOCAL (44°W)

FIGURA 5.35 – Velocidades de deriva aparente medidas pela Digissonda DGS-256

(painéis superior e intermediário) e velocidade modelada para o SUPIM.

-120

-60

0

60

120

-120

-60

0

60

120-120

-60

0

60

120

DGS-256 dhF(5)/dt

SÃO LUIS16/10/2002

VE

LOC

IDA

DE

VE

RTI

CA

L (m

/s)

dhF0.80/dtDGS-256

0 4 8 12 16 20 24-120

-60

0

60

120

DERIVA MODELADA

HORA LOCAL (44°W)

FIGURA 5.36 – Idem FIGURA 5.35, mas para o dia 16/10/2002.

134

As curvas de velocidade modelada mostram pouca diferença com relação às

velocidades medidas pela Digissonda, conforme se observa nas Figuras 5.34 e 5.35.

Pois quando são feitos os ajustes manuais – e isso se aplica às curvas de ventos também

– procura-se manter o padrão original para evitar comportamentos que sejam irreais ou

absurdos. No caso dos ajustes das velocidades de ventos, é um pouco mais difícil tal

tarefa, pois, há muito poucas medidas disponíveis. Ou seja, baseando-se no

comportamento original das curvas, procura-se fazer os ajustes de modo coerente. Para

tanto, é sempre recomendável a consulta aos índices magnéticos, a análise sobre as

configurações de estação do ano, localização geográfica, horários, entre outras

características.

Uma razão importante para considerar a curva original de velocidade dos ventos

termosféricos pelo HWM90 como ponto de partida, é que ele contém toda a física

necessária para os cálculos e, portanto, as condições gerais de atmosfera neutra, ângulo

de zênite solar, estação do ano, por exemplo, estão sendo levadas em conta nas suas

equações.

Dispondo-se dos parâmetros de observação que se utilizaram aqui – isto é,

hmF2, foF2, isolinhas de freqüência e velocidades de derivas – bem como do

procedimento adotado, cria-se a possibilidade de se obterem medidas de vento de uma

forma indireta e a validade dessas medidas obviamente será estabelecida a partir do

momento em que pudermos confrontá-las com dados de interferômetros Fabry-Perot,

constituindo-se esta tarefa em mais um possível futuro trabalho. Convém lembrar que o

interferômetro Fabry-Perot possui capacidade de efetuar medidas na base da camada e

os ventos estudados aqui são referentes a alturas de 300km. Contudo, não deixa de ser

interessante efetuar essas comparações.

135

CAPÍTULO 6

DISCUSSÕES E CONCLUSÕES

6.1 Medidas com Diferentes Métodos

A busca por novas técnicas para obter medidas mais precisas de velocidade de

deriva por meio das Digissondas e a criação de novas ferramentas que permitissem

melhor estudar fenômenos ionosféricos foram algumas das motivações para a realização

do presente trabalho.

Essas motivações decorrem do fato de haver poucas medidas de deriva

eletromagnética na região próxima ao equador magnético. O radar de espalhamento

incoerente de Jicamarca seria o único instrumento apto a efetuar tais medidas no setor

americano. Apesar de seu banco de dados se estender por mais de 30 anos de medidas,

seu funcionamento está restrito a pequenos períodos de 3 a 5 dias a cada 4 meses mais

ou menos. Além disso, medidas de velocidade de ventos termosféricos também são

escassas, pois, devido à técnica de interferometria Fabry-Perot aplicada para obter tais

medidas, elas ficam restritas ao período noturno, somente quando há boas condições de

observação com o céu sem cobertura de nuvens e também sem a luz da lua cheia.

Com relação ao objetivo de experimentar novas técnicas para calcular

velocidades verticais de deriva com dados registrados por Digissondas, apresentamos os

métodos de dhF/dt, dhF0.80/dt e Vlos. Os dois primeiros são derivados de medidas de

altura real a partir de ionogramas e o terceiro utiliza as medidas diretas de desvio

Doppler em freqüência a partir de dados de deriva pós-processados com o Digisonde

Drift Analysis Skymap (DDAS).

No Capítulo 4, foram feitas análises comparativas dessas três diferentes técnicas

com as medidas de velocidade de deriva E×B fornecidas pelo radar de espalhamento

incoerente de Jicamarca. Conforme foi explicado naquele capítulo, o radar faz medidas

em alturas fixas em passos de 15km. Em nossas comparações, utilizamos medidas feitas

136

pelo radar a 390km porque: 1) dispunha-se, em geral, de uma maior quantidade de

dados para essa altura; 2) a altura média das fontes de reflexão levadas em conta nos

cálculos de deriva da Digissonda era próxima desse valor; 3) não havia muita diferença

no perfil vertical de velocidade, na maior parte do dia, portanto, não houve necessidade

de se efetuar uma média para uma determinada faixa de alturas.

Nas comparações de velocidade do Capítulo 4 podemos salientar os aspectos

que se seguem.

Quando a sondagem de deriva foi efetuada com freqüência fixa (~6MHz), em

Jicamarca, em dezembro de 2001, houve horários entre aproximadamente 22h do dia 10

e 2h do dia 11 nos quais a freqüência foF2 era menor que a freqüência de sondagem e,

então, a técnica de Vlos não apresentava valores de velocidade por não ter pontos de

reflexão, nessa faixa de horários.

Ao sobreporem-se as curvas de Vlos para dois diferentes valores de ângulo

zenital, (2° e 10°) observou-se que há menos pontos para a curva de 2° do que para a de

10°, como era de se esperar, já que a primeira perfaz um subconjunto da segunda.

Contrariamente às expectativas, as curvas para os diferentes ângulos exibiram

boa concordância. Portanto, é possível utilizar a velocidade na linha de visada para

ângulos até 10° sem prejuízo para as medidas. Entretanto, quanto mais afastado da

vertical estiver o ponto refletor, conforme foi alertado no mesmo capítulo, mais chances

existem de haver contaminação por possíveis componente horizontais. Visando

observar esse efeito, é apresentado, a seguir, o mesmo gráfico da FIGURA 4.5 contendo

velocidade de radar e Vlos para ângulos zenitais até 2° e 10°, incluindo-se a curva com

velocidade calculada para fontes localizadas até 40° de zênite.

Na FIGURA 6.1, observa-se que as velocidades calculadas para ângulos até 40° são bastante ruidosas e não apresentam mais pontos do que a curva referente a 10°. Cada ponto da curva é resultado de uma média sobre todos os pontos de uma sondagem completa. É claro que há mais pontos para efetuar essas médias no caso de ângulos até 40°, porém, à medida que os pontos estão mais distantes da vertical as velocidades

137

tendem a ser mais influenciadas pela possível componente horizontal. As barras de desvio padrão apresentam valores excessivamente altos. Conseqüentemente, as velocidades obtidas com fontes tão afastadas da vertical não possuem valores tão confiáveis.

-60

-30

0

30

60

08 12 16 20 00 04 08-60

-30

0

30

60

Vlos - DPS-4Ângulos de Zênite

2° 10° 40°

VE

LOC

IDA

DE

VE

RTI

CA

L (m

/s)

HORA LOCAL

Radar

JICAMARCA10-11/12/2001

FIGURA 6.1 – Curvas de velocidade na linha de visada obtidas com Digissonda para

diferentes ângulos de zênite e velocidade medida pelo radar de

Jicamarca.

Na FIGURA 6.2, são apresentadas as curvas de velocidade na linha de visada

para 2° e 10°, juntamente com as velocidades calculadas através dhF0.80/dt e medidas

com radar, para os dias 10-11/10/2002. Observa-se novamente uma boa concordância

entre as curvas de 2 e 10°. Nesse período, as sondagens de deriva utilizaram o modo

autodrift e, por isso, as freqüências de sondagem variaram ao longo do dia.

138

Conseqüentemente não há faixas de horários sem medidas de velocidade ao longo do

dia.

-150

-75

0

75

150

Vlos 10° 2°

08 14 20 02 08-150

-75

0

75

150JICAMARCA

10-11/OUT/2002

RADAR dhF0.80/dt

VE

LOC

IDAD

E V

ER

TIC

AL (m

/s)

HORA LOCAL

FIGURA 6.2 – Idem Curvas com velocidade na linha de visada obtidas com Digissonda

para diferentes ângulos de zênite e velocidade medida pelo radar de

Jicamarca.

Quanto aos outros métodos de cálculo de velocidade utilizando a altura real da

camada, dhF/dt e dhF0.80/dt, podemos concluir que são também boas alternativa para se

obter medidas de velocidade vertical de deriva. A segunda técnica demonstra maior

concordância com as medidas de radar do que a primeira, durante o horário de

ocorrência do pico pré-inversão de velocidade, porém, mesmo assim, ambas estão

próximas. Uma desvantagem dessas duas técnicas com relação a Vlos e DDAV é o

139

tempo que deve ser dedicado à revisão das reduções automáticas dos ionogramas pelo

ARTIST. Afora isso são igualmente confiáveis.

Considerando-se o DDAV, podemos perceber que as suas medidas de

velocidade são bastante concordantes em relação às das técnicas apresentadas aqui. As

vantagens em usar o DDAV é que, além da velocidade vertical de deriva, ele também

fornece valores de velocidade zonal e meridional (coordenadas geomagnéticas). Porém,

para utilizar o DDAV, é necessário que os parâmetros de sondagem estejam bem

configurados, caso contrário vai oferecer menos pontos do que as outras técnicas.

Um aspecto bastante relevante e positivo foi a concordância de comportamento

das curvas de velocidade, durante eventos de atividade magnética tais como os das

FIGURAS 4.7 e 4.11, referentes aos dias 10-11/10/2002 e 20-21/03/2003, nos quais a

componente z do campo magnético interplanetário (IMF-Bz) apresenta inversões nos

mesmos horários (ou próximos) em que as curvas de deriva vertical também apresentam

inversão no sentido. Na faixa de horário noturna, o campo elétrico de dínamo é voltado

para oeste e a deriva E×B é para baixo e tais inversões no sentido da deriva nesses

horários não são comuns. Nos casos apontados naquelas figuras, há a demonstração da

presença de um campo elétrico zonal de penetração voltado para leste e que por ter

módulo maior que o do campo elétrico de dínamo ao somar-se a esse resulta na inversão

do sentido da deriva E×B.

Diante dessas concordâncias durante eventos de atividade magnética, podemos

concluir que as medidas de deriva efetuadas pelas Digissondas são representativas da

deriva E×B, tornando-se assim bastante confiáveis e conseqüentemente aplicáveis a

estudos dessa natureza.

6.2 Modelagens de Deriva e Ventos

A opção por aplicar o modelo SUPIM, no presente trabalho, decorreu da

necessidade de uma ferramenta que permitisse obter velocidades de deriva

eletromagnética a partir de velocidades medidas por Digissondas. Com esse intuito,

140

visando validar nossos resultados, iniciamos nossos estudos por Jicamarca, já que lá

operam um radar de espalhamento incoerente e uma Digissonda modelo DPS-4.

Em nossos estudos de modelagem com o SUPIM consideramos que se

utilizássemos as derivas E×B medidas pelo radar de Jicamarca como entrada ao invés

das velocidades medidas pela Digissonda, as curvas de foF2, hmF2 e isolinhas de

freqüência geradas nas saídas apresentariam boa concordância com as observações.

Entretanto, constatou-se que as curvas não apresentavam comportamento similar.

Esses resultados sugerem que o modelo não simula muito bem a variação de

velocidade em altura na faixa que se estende de 200 a 600km, conquanto haja pequeno

gradiente vertical de velocidade na maior parte do dia – conforme podemos notar nas

observações feitas pelo radar – muito provavelmente qualquer variação, por pequena

que seja, pode resultar em uma representação mais realística por parte das simulações.

Conseqüentemente, haveria, inclusive, maiores chances de que fossem simuladas as

estruturas nas isolinhas de freqüência que atualmente não são observadas nos

resultados.

Desses primeiros resultados, portanto, verificou-se a necessidade de se modelar

a velocidade de deriva vertical – seja a eletromagnética provida pelo radar, seja a deriva

calculada a partir de dados das Digissondas – e as velocidades dos ventos termosféricos

meridionais.

De modo geral, poucas são as diferenças entre a deriva vertical modelada (ou

deriva vertical efetiva) e a deriva vertical observada pelo radar. Isso se mostra como um

aspecto interessante que faz a ponte necessária para a obtenção da deriva corrigida para

as Digissondas.

Na maioria das simulações obteve-se boa concordância entre as curvas de hmF2,

foF2 e isolinhas de freqüência observadas e modeladas, segundo o critério visual e o

critério da média diária do módulo do desvio relativo entre valores observados e valores

modelados. De acordo com esse segundo critério, as modelagens de boa concordância

141

devem exibir valores de média diária aproximadamente iguais a 0,06 e as modelagens

de concordância regular, valores de aproximadamente 0,10.

A deriva vertical exerce importante papel no controle de hmF2 durante todo o

dia e as velocidades dos ventos termosféricos meridionais têm menor influência sobre

esse parâmetro. Quanto ao comportamento da curva de foF2, nos horários entre 0 e 18h,

a conjugação de ventos e derivas se torna bastante importante.

As velocidades verticais de deriva observadas pelas Digissondas de Jicamarca e

São Luís exibem, em geral, valores menores durante o dia, entre 8h e 16h, do que as

velocidades modeladas e as velocidades medidas pelo radar de espalhamento

incoerente.

Os ventos resultantes das modelagens tiveram todos como base os ventos do

HWM90. A localidade mais próxima a Jicamarca, equipada com um interferômetro

Fabry-Perot é Arequipa (16,47°S; 71,49°W) a 2489 m de altitude, no Peru. Contudo,

não há dados de ventos termosféricos disponíveis para os períodos estudados neste

trabalho. Por conseguinte não há, por enquanto, como fazer quaisquer comparações

entre ventos termosféricos observados e modelados. Em São Luís, também não se

dispõe de tal equipamento. Os únicos que existem no Brasil são o da equipe do Dr. J. H.

Sobral e o da equipe do Dr. P. Fagundes, ambos fora de operação atualmente.

O modelo SUPIM se mostrou bastante apto a simular camadas F3 ocorridas em

alguns dos dias apresentados no Capítulo 5. Esse tipo de camada resulta da influência

da configuração de ventos e deriva que têm lugar nas altitudes médias e superiores da

região-F. Ao se observar as isolinhas de freqüência nesses dias, percebemos que exibem

um comportamento coerentemente diferenciado para as regiões inferior, média e

superior da camada. Da mesma forma, também, o modelo simulou bem os perfis de

densidade ao longo do dia, conforme podemos observar nas FIGURAS 5.9, 5.14 e 5.31.

Um aspecto positivo e encorajador dessas modelagens de velocidades de ventos

e de deriva vertical foi a boa concordância alcançada entre todos os parâmetros

observados e modelados, na maior parte das simulações. O fato de se conseguir essas

142

concordâncias simultaneamente para os parâmetros hmF2 e foF2 garante, de certa

forma, a unicidade da solução e, conseqüentemente, boa confiabilidade aos resultados

obtidos neste trabalho.

6.3 Trabalhos Futuros

Pretende-se continuar com o aprimoramento das modelagens e simulações

visando incluí-las nos estudos de ocorrência/ausência de Spread-F na região do equador

magnético, utilizando-se banco de dados de ionogramas digitais – denominado Digital

Ionogram Data Base (DIDB) (Khmyrov, 2002), coletados por Digissondas de várias

localidades ao redor do globo terrestre. Visando investigar a influência da declinação

magnética sobre o fenômeno.

Pretende-se também, estender a metodologia desenvolvida nesse trabalho aos

estudos de fenômenos relacionados a períodos magneticamente perturbados.

Finalmente, propõe-se também fazer estudos comparativos entre as componentes

zonais de velocidade de deriva medidas pelo radar de espalhamento incoerente e a

Digissonda do Rádio Observatório de Jicamarca, visando a validação de resultados.

143

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