Derramamento do-espírito

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Odilon Massolar Chaves DERRAMAMENTO DO ESPÍRITO Relatos do Novo Testamento Imprensa Metodista 1982 Índice Apresentação Introdução Símbolos e termos ligados ao Espírito Símbolos ligados ao Espírito Termos ligados ao Espírito Comparações que ajudam a esclarecer Pentecostes dos discípulos e dos gentios • Relação entre o batismo com água e o batismo com o Espírito Santo Diferenças de ênfases entre Lucas e João Promessas de derramamento do Espírito Dez relatos sobre o derramamento do Espírito Análise da situação em que foi recebido o dom do Espírito Os que receberam a bênção antes de Jesus nascer O exemplo do próprio Jesus Os que receberam a bênção no Pentecostes Os que receberam a bênção após o Pentecostes As quatro conclusões fundamentais Nem todo caso se aplica a nós hoje Não há um dom predeterminado para se receber Crer é essencial para recebermos o Espírito Santo O Espírito opera nas pessoas de maneira diferente Bibliografia Citações (última página)

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Odilon Massolar Chaves

DERRAMAMENTO DO ESPÍRITO

Relatos do Novo Testamento

Imprensa Metodista

1982

Índice

Apresentação Introdução Símbolos e termos ligados ao Espírito

• Símbolos ligados ao Espírito • Termos ligados ao Espírito

Comparações que ajudam a esclarecer

• Pentecostes dos discípulos e dos gentios • Relação entre o batismo com água e o batismo com o

Espírito Santo • Diferenças de ênfases entre Lucas e João

Promessas de derramamento do Espírito Dez relatos sobre o derramamento do Espírito Análise da situação em que foi recebido o dom do Espírito • Os que receberam a bênção antes de Jesus nascer • O exemplo do próprio Jesus • Os que receberam a bênção no Pentecostes • Os que receberam a bênção após o Pentecostes As quatro conclusões fundamentais • Nem todo caso se aplica a nós hoje • Não há um dom predeterminado para se receber • Crer é essencial para recebermos o Espírito Santo • O Espírito opera nas pessoas de maneira diferente Bibliografia Citações (última página)

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Apresentação

O tema apresentado pelo Rev. Odilon Massolar Chaves neste livro é, sem dúvida, de grande validade em nossos dias. A doutrina do Espírito Santo e todas as questões a ela relacionadas, estão sendo constantemente discutidas.

Desta forma, a Imprensa Metodista, dentro de sua política

editorial procura, com estes textos, alcançar aqueles que, tendo dúvidas a respeito do assunto possam ter, através deste livro, uma ajuda, uma orientação.

A maneira clara e simples que o autor coloca as questões,

especialmente com respeito a dez relatos sobre o derramamento do Espírito, é mais uma prova de que o povo das comunidades cristãs está interessado em uma linguagem não muito empolada, mas de maneira simples, sem ser pobre de linguagem e participe da compreensão dos grandes temas bíblicos.

O Rev. Odilon, conhecido especialmente do povo metodista

por sua grande contribuição de artigos nos Periódicos da Igreja e já alguns livros publicados no âmbito de sua Região está, agora, com esta obra editada pelo Departamento Editorial da Imprensa Metodista, alcançando um público maior que cremos e desejamos, seja ainda mais enriquecido com este livro.

Jorge Cândido Pereira Mesquita

Editor

Introdução

O missionário e escritor Stanley Jones afirmou: “Não vejo nada, absolutamente nada, que possa tirar a Igreja de trás das portas trancadas senão um Pentecostes. Podeis aumentar a beleza de seu ritual; melhorar a qualidade de sua educação religiosa; elevar o padrão e as qualificações do seu ministério ao mais alto grau; desejar dinheiro a manchetes nos seus gazofilácios, dar-lhe, enfim, tudo menos esta única coisa que o Pentecostes dá, e estareis apenas ornamentando um cadáver. Até que este fato se dê, a pregação é simples preleção, a oração é apenas repetição de fórmula, os cultos deixam de ser cultos — tudo não passa de atividade terrena, circunscrita, inadequada, morta” (1)

Esta afirmação é verdadeira e só quem já a experimentou

pode saber de seu verdadeiro significado. Eu tive o privilégio de ter tido esta experiência.

Esta experiência — chamada por muitos de “carismática” —

foi fundamental em minha vida. Este “cadáver”, que Stanley Jones nos fala, era exatamente o que era a minha vida espiritual. Eu não tinha o “hálito” da vida em abundância.

Foi lendo um Novo Testamento que tive as maiores

experiências da minha vida, que a consciência racional não poderá jamais entender. Foi lá — crendo em Jesus Cristo e lendo a Bíblia — que tive os maiores contatos com Deus,através de Seu Espírito.

Foi lá que me senti no “Monte da Transfiguração” muitas

vezes. Foi lá que também me senti pela primeira vez pequeno e pecador diante da majestade de Deus. Muitas vezes, me senti como sendo arrebatado pelo Espírito de Deus e muitas vezes tive que rogar que o Espírito de Deus se retirasse por um pouco, pois não podia suportar tanta alegria em minha vida.

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A experiência com o Espírito é fundamental na vida de qualquer pessoa. Porém, o conhecimento da doutrina do Espírito Santo também é fundamental para qualquer pessoa. Quem não a entender poderá “apagar o Espírito” em sua vida.

Este estudo tem este objetivo. Ele é endereçado

principalmente para aqueles que querem se aprofundar um pouco mais no conhecimento da doutrina do Espírito Santo, mais precisamente, da doutrina do derramamento do Espírito.

Há muita confusão no meio Evangélico sobre este tema.

Muita coisa tem sido dita, sem uma boa base bíblica. O que propomos aqui é exatamente verificar de uma maneira objetiva o que o Livro dos livros diz a este respeito.

Minha pesquisa sobre este tema começou em Julho de

1980, quando estava de férias em Nova Friburgo, RJ. Debaixo de um clima agradável e da beleza da natureza de Deus, tive a oportunidade de iniciar esta pesquisa.

Depois de escrever todos os textos bíblicos do Novo

Testamento que falam sobre o Espírito Santo, comecei a colocá-los de forma sistemática, visando melhor compreensão. Vários estudos, então, passaram a ser formados, a partir de indagações, dúvidas e preocupações. Estes estudos foram, com o passar do tempo, aplicados à igreja local. As observações e questionamentos dos membros fizeram com que os estudos fossem enriquecidos e desenvolvidos. Agora, ele se encontra completo.

Este estudo está dividido nos seguintes capítulos:

1 — Símbolos e termos ligados ao Espírito; 2 — Comparações que ajudam a esclarecer; 3 — Promessas do derramamento do Espírito; 4 — 10 relatos sobre derramamento do Espírito;

5 — Análise da situação em que foi recebido o dom do Espírito;

6 — As quatro conclusões fundamentais.

No primeiro capítulo, procuramos mostrar a importância de se conhecer os significados dos símbolos e termos que estão relacionados com o Espírito. Eles nos ajudam a entender, de uma maneira mais correta, os derramamentos do Espírito.

Já no segundo capítulo, procuramos fazer algumas

comparações entre o Pentecostes dos discípulos e dos gentios e entre os escritos de Lucas e do apóstolo João. Neste capítulo procuraremos ver algumas coisas que geralmente o crente não consegue perceber na sua leitura devocional da Bíblia.

O terceiro capítulo nos mostra onze promessas de

derramamento do Espírito, antes do Pentecostes acontecer. Eles nos mostram o que realmente foi prometido aqueles que receberiam o Espírito Santo. Enfim, estes três primeiros capítulos são “ferramentas”, informações necessárias para entrarmos no quarto capítulo desta pesquisa.

O quarto capítulo é o estudo original, colocado de forma sistemática e que foi dado à Igreja local. Ele relata dez lugares do Novo Testamento sobre derramamentos do Espírito, mostrando as circunstâncias que levaram a tal acontecimento e as conseqüências de ter havido o envio do Espírito às pessoas.

Geralmente, fica-se apenas com o relato do Pentecostes e dele se faz regra geral para todas as pessoas, esquecendo-se que há ainda outros nove relatos de derramamento do Espírito no Novo Testamento. Este capítulo, colocado de forma sistemática poderá servir para se ter uma visão geral das vezes em que foi dado o Espírito e poderá também servir para estudos bíblicos nas igrejas locais. Aconselhamos, porém, que se leia todo o livro para, então, poder aplicar este estudo à Igreja.

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No quinto capítulo, procura-se colocar estes relatos dentro

de quatro situações específicas, onde são comentadas e onde poderão ser compreendidas de uma maneira mais adequada. Aqui se repete muitas vezes as perguntas: Como era sua vida, antes de receber o Espírito Santo? Que foi feito para ele receber o Espírito? Que aconteceu após receber o dom do Espírito? Estas perguntas são repetidas e respondidas em muitas ocasiões diferentes neste capítulo. Elas são colocadas, pois estão envolvidas em “recomendações” que muitos fazem para as pessoas que desejam receber o Espírito. Aqui veremos se estas “recomendações” são realmente verdadeiras. No último capítulo procura-se tirar algumas conclusões destes dez relatos. Pelo menos quatro conclusões são tiradas e comentadas, que deverão esclarecer algumas questões.

Este estudo não é devocional. Ele trata de questões

polêmicas, então, não pode deixar também de ser polêmico. Ele, porém, não tem a pretensão de ser um mero trabalho intelectual, mas sim algo simples, escrito principalmente para o povo simples da Igreja local. A nossa experiência com o Espírito relatada tem o objetivo de mostrar que conhecemos o assunto de perto e não apenas intelectualmente. Não esperamos que todos concordem com este estudo e nem poderíamos esperar — pois partindo de uma outra formação religiosa ou ponto de vista, chegar-se-á a outra conclusão. Meu desejo é que, de alguma forma, este estudo seja útil àqueles que o lerem.

Finalmente, um agradecimento às jovens Odísia e Alciléia, que deram um bom tempo para fazer a correção deste livro.

O AUTOR

Símbolos e Termos Ligados ao Espírito O teólogo Leonardo Boff afirmou que “o mito, o símbolo e a

analogia constituem o próprio da linguagem religiosa, porque sobre as realidades profundas da vida, do bem e do mal, da alegria e da tristeza, do homem e do Absoluto só conseguimos balbuciar e usar uma linguagem figurada e representativa” (2).

Assim, devemos dizer que nem todas as palavras contidas

na Bíblia podem ser lidas “ao pé da letra”, pois nela pode estar um significado totalmente diferente e muito mais profundo do que se imagina. É o que veremos abaixo:

I — SÍMBOLOS LIGADOS AO ESPÍRITO SANTO

Pomba

Este símbolo do Espírito está relacionado com a criação e

com a vida. É o que nos mostra Gn 1:2: “O Espírito de Deus pairava por sobre as águas”, trazendo assim a vida ao mundo caótico, mundo vazio e sem vida. “Pairar” aqui tem o sentido de “chocar”. Seria como se o Espírito — à semelhança de uma ave (pomba) — estivesse chocando o mundo para ele nascer.

Após o dilúvio, a pomba trouxe um ramo verde de oliveira

(Gn 8:11), significando assim que estava sendo começada uma nova Era. No mesmo sentido, no batismo de Jesus, o Espírito desceu em forma de pomba, significando ali que em Jesus Cristo

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estava sendo começada uma nova Criação (cf Mt 3.16; Mc 1.10; Lc 3.21; Jo 1.32).

Por outro lado, a pomba é símbolo de pureza e era utilizada

também para o sacrifício, que traria perdão aos culpados (cf Lv 5.7; Lc 2.24). Assim, podemos dizer que ao descer e permanecer em Jesus, na forma de pomba, Cristo tornou-se simbolicamente a “pomba” que, através do seu sacrifício, salvaria o mundo do pecado (Hb 9.14). Assim, como ele é o Cordeiro, é também a Pomba.

Vento

No Pentecostes aconteceu este vento: “De repente veio do

céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados” (At 2.2). O vento significa, em muitas partes do Antigo Testamento, o hálito das narinas de Javé (Deus). Os textos bíblicos de Êx 15.8; II Sm 22.16; SI 18.15 registram este fato.

É através deste sopro que vem o fôlego da vida: “Então

formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego da vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2.7).

Este vento no Pentecostes tem o significado da presença

divina, enchendo a casa com o hálito da vida e da nova Criação.

Fogo Este símbolo está relacionado com o “batismo com o

Espírito Santo”: “Eu vos batizo com água, mas vem aquele que é mais forte do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das sandálias, ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Lc 3.16; cf Mt 3.11). No dia de Pentecostes “apareceram umas como línguas de fogo, que se distribuíram e foram pousar sobre cada um deles” (At 2.3).

Se entendermos que os discípulos ainda não eram

convertidos (Lc 22.32), pois também tinham dúvidas (Jo 20.25-27), podemos aplicar vários textos do Antigo Testamento, que mostram o fogo como purificador (Is 5.24; Zc 13.9; Ml 3.2-3). Assim, quando os discípulos creram realmente em Jesus (At 11.17), eles teriam recebido o Espírito Santo e teriam sido purificados.

Mas se entendermos que eles já eram crentes, que já

estavam salvos, pois “vossos nomes estão inscritos nos céus” (Lc 10.20) e viviam em oração, esperando a promessa de Jesus (At 1.14;2.1), podemos aplicar vários textos do Antigo Testamento que mostram o fogo somente como sinal da presença de Deus (Êx 3.2; 3.1-6; 19.18; Dt 9. 3). Portanto, ele pode ter o sentido de purificação ou sinal da presença de Deus entre os homens.

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Tremer o lugar O texto diz: “Enquanto oravam, tremeu o lugar onde se

achavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito e puseram-se a anunciar a Palavra de Deus com firmeza” (At 4. 31).

O termo grego usado aqui significa “agito, abalo, sacudo, movo, faço tremer, perturbo”. Não quer dizer, porém, que, necessariamente, moveu o lugar onde eles se achavam. Significa mais sinal da presença e poder de Deus naquele local (cf. Êx 19.18; Is 6.4; Sl 68.8).

Algo interessante a dizer é que Ex 19.18, como Is 6.4, falam de “fogo” e “tremer” ao mesmo tempo. Parece que Lucas — autor de Atos dos Apóstolos — falando de “fogo” em At 2.3 e falando de “tremer” em At 4.31, quis destacar estes dois termos como sinais da presença divina naquele lugar. Neste sentido, At 4.31 pode ser entendido também como um “complemento” do Pentecostes...

O importante é não pegar este termo e outros ao pé da letra,

pois a Bíblia usa de muitos símbolos para falar sobre a presença de Deus. Muitos problemas podem surgir hoje, se não entendermos isto corretamente, pois alguém, não vendo “tremer” literalmente o lugar ao orar, pode duvidar da presença de Deus em sua vida.

Pentecostes Parece que Lucas, ao narrar o evento do Pentecostes (At

2.1-13), procurou se contrapor aos acontecimentos da Torre de Babel (Gn 11.1-9). Através de várias comparações, pode-se chegar a esta conclusão:

Nos acontecimentos de Babel, os homens se engrandecem: “Edifiquemos para nós uma cidade, e uma torre cujo topo chegue até aos céus, e tornemos célebre o nosso nome” (Gn 11.4), mas no Pentecostes Deus é quem é engrandecido: “Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?” (At 2.11).

Nos acontecimentos de Babel — que significa confusão - os

homens se confundem e não compreendem mais a linguagem um do outro: “Desçamos e confundamos ali a sua linguagem para que um não entenda a linguagem do outro” (Gn 11.7), mas no Pentecostes eles — povos de diferentes nações — entendem a linguagem um do outro: “Cada um ouvia falar em sua própria língua materna” (At 2.6) e adiante o texto diz que eles “diziam entre si” (At 2. 12).

Nos acontecimentos de Babel, os povos são dispersos:

“Confundiu o Senhor a linguagem de toda a terra, e dali os dispersou” (Gn 11.9), mas no Pentecostes os povos são reunidos: “Partos, Medos e elamitas, e os naturais da Judéia, Capadócia e Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábicos, como os ouvimos falar em nossas próprias línguas (At

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2.9-11). Outro texto diz: “Achavam-se então em Jerusalém homens piedosos de todas as nações que há debaixo do céu” (At 1.5).

Assim, há muito de simbolismo na narração do Pentecostes,

que foi um fato histórico.

II — TERMOS LIGADOS AO ESPIRITO

1 — O dom do Espírito Este termo significa que o Espírito Santo é dado aos que crêem (At 11.15-17), mas não é dado por merecimento ou por algo que se faz. O termo significa que o Espírito é um dom gratuito de Deus. A raiz grega — doreá — quer dizer “dom gratuito de Deus”.

Vários textos bíblicos confirmam que o Espírito é dádiva de Deus: At 10.45; At 2.38;At 8.18; At 11.17; At 15.8; Jo 3.34; Rm 5.5; 1 Ts 4.8, etc. A Bíblia chega a condenar àqueles que pretendem “comprar” o Espírito Santo (At 8.18-20).

Não devemos, porém, confundir “o dom do Espírito” com

“dons do Espírito”. Os dois significam dádivas, mas “o dom do Espírito” quer dizer que foi enviado ou será enviado o próprio Espírito Santo àqueles que não o têm. Já “dons do Espírito” (1 Co 12.1; 12.4; 12.11; 12.30; 14.12; 1 Tm 4.14, etc.) quer dizer que o Espírito Santo que já vive na vida do cristão — está distribuindo, está capacitando com “ferramentas” o crente para a vida cristã e para a obra evangélica ser realizada e o Corpo de Cristo ser edificado.

“O dom do Espírito” vem geralmente com o artigo definido

“o”, sempre no singular, “Os dons do Espírito” são sempre no plural, a não ser quando se quer falar de um dom somente: “O dom de curas” (1 Co 12.30).

2 — Unção do Espírito A unção com óleo, no Antigo Testamento, entre as suas

utilidades, era um meio de separar alguém para uma determinada obra. Os profetas (1Rs 19.16), sacerdotes (Lv 8.12) e reis (1Rs 19.16) foram ungidos com óleo para realizarem as suas tarefas.

No Novo Testamento, a unção do crente, do discípulo de

Cristo, não é mais feita através do óleo e sim do Espírito Santo. A unção é chamada no original grego de “carisma” — daí vem o nome “carismáticos” — e através da unção do Espírito, o Messias (Lc 4.18; At 4.27; At 10.38) e o crente (2Co 1.21; 1Jo 2.20; 1Jo 2.27) são separados para a carreira cristã.

O carisma (a unção) está relacionado com a distribuição de

dons. O carisma tem o significado de dom, dote e “dons extraordinários, que distinguem certos cristãos, dando-lhes o poder de servir à igreja de Cristo, sendo este poder e estes dons o resultado da graça divina nas suas vidas (Rm 12.6; 1Co 1.7; 1Co 12.4; 1Pe 4.10)”. (3)

3 — Derramamento do Espírito

O termo “derramamento” tem no original grego o significado de “distribuo largamente”. Em relação ao Espírito, ele é aplicado duas vezes no Novo Testamento: At 10.45; Tt 3.5-6. Nestes dois textos bíblicos, ele foi distribuído a grupos de pessoas e não somente a uma pessoa, daí ser usado este termo, pois significa que foi distribuído abundantemente.

Não necessariamente, porém, este termo deverá ser usado para indicar que o Espírito veio sobre grupo de pessoas, pois em outros grupos de pessoas o Espírito foi “derramado” e este termo não foi usado.

4 — Revestimento da força do alto Aparece uma única vez no Novo Testamento: “Eis que eu

vos enviarei o que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade até serdes revestidos da força do alto” (Lc 24.49).

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Este termo no original grego pode ser traduzido também por “visto; entro e insinuo-me”.

Já o outro termo grego aqui empregado é “dínamis”, que tem o significado de poder ou força. Este poder é inerente, ou seja, essencial ao cristão. Aqui também pode ser traduzido por força física e idiomática. Como At 1.8 usa o mesmo termo “dínamis” e Jesus afirma que eles receberiam poder para serem testemunhas e como testemunha no original significa “afirmo o que vi, ouvi ou experimentei ou o que sei por divina revelação ou inspiração” (4), concluímos que o revestimento da força do alto seria para os discípulos terem a coragem e a capacidade de anunciarem Jesus ao mundo, principalmente, a respeito da ressurreição de Jesus (Lc 24.48; At 2.32; At 3.15; At 4.33: At 5.32; At 22.15, etc.).

5 — Fruto do Espírito O local onde se fala em fruto do Espírito, enumerando estes

frutos, é em Gálatas: “...mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (GI 5.22-23). O termo grego empregado é “carpós”, que significa fruto, resultado ou efeito do Espírito Santo em nossa vida.

Necessariamente, estes são os frutos que devem existir naquele que tem o Espírito Santo em sua vida. Paulo, porém, parece realçar o amor como a marca primeira e principal (1Co 13.1-13; Rm 5.5; Gl 5.22, etc.).

Podemos dizer que são estas as marcas do caráter Cristão. É

o Espírito Santo, então, que forma o caráter do discípulo de Cristo. 6 — Primícia do Espírito

Primícia significa a primeira parte da safra, os primeiros frutos colhidos. Assim, em relação à ressurreição, Cristo é a

primícia (1Co 15.20-23), ou seja, ele foi o primeiro que ressuscitou. Depois virão os que pertencem a Cristo (1Co 15.23).

O primeiro convertido na Ásia é chamado também como

primícia: “Saudai meu amado Epêneto, primícias da Ásia para Cristo” (Rm 16.5). O termo “primícia” dá, porém, a idéia de complemento, significando que o restante virá no momento oportuno.

Em relação à primícia do Espírito, Paulo afirma: “E não

somente ela. Mas também nós que temos as primícias do Espírito, gememos interiormente, suspirando pela redenção do nosso corpo” (Rm 8.23). Significa aqui que o Espírito Santo ainda não completou a salvação em nós, pois “gememos interiormente, suspirando pela redenção de nosso corpo” (Rm 8.23). Somos filhos de Deus (Rm 8.16) e herdeiros da vida eterna (Rm 8.17), mas o restante, o resultado final, completo, um dia acontecerá pelo mesmo Espírito que ressuscitou a Jesus (Rm 8.11).

Portanto, ter a primícia do Espírito é ter os primeiros frutos

da salvação e a garantia da entrega do restante: a vida eterna. 7 — Penhor do Espírito

Nos dois lugares no Novo Testamento em que se encontra esta expressão — 2Co 5.5 e Ef 1.13-14 — há um relacionamento com a ressurreição e a redenção. Penhor significa no original “uma parte do pagamento total, adiantada como prestação e garantia da entrega do resto”. (5)

Já que penhor é a parte adiantada, então, podemos dizer

que penhor do Espírito significa que o Espírito, que nos foi dado pela fé em Cristo Jesus, é esta parte de pagamento total, já adiantada por Deus. O Espírito Santo é a garantia de que teremos a vida eterna. Assim, a vida eterna já começa aqui, pela presença do Espírito em nossa vida.

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8 — Selo do Espírito Há uma ligação entre primícia, penhor e selo do Espírito. Os

três estão relacionados com a salvação. Se primícia significa que temos os primeiros frutos da salvação e penhor significa que temos apenas uma parte do pagamento total, com a garantia da entrega do resto, selo significa que estamos sendo guardados e protegidos por Deus, através de sua marca em nós — o selo do Espírito — que indica que somos agora propriedade de Deus.

Somente em três lugares no Novo Testamento aparece esta

expressão: 2Co 1.22; Ef 1.13; Ef 4.30. 9 — Testemunho do Espírito

Esta expressão está relacionada também com a salvação. Somente em um lugar no Novo Testamento aparece: “O próprio Espírito se une ao nosso espírito para testemunhar que somos filhos de Deus” (Rm 8.16).

Esta palavra “testemunho” significa “afirmo o que vi, ouvi ou

experimentei...“. No original grego vem acompanhando o “testemunho” a conjunção “sim”, que tem o significado de “íntima comunhão, conjunção com, cooperação, acompanhamento etc”. (6)

Assim, podemos dizer que é o Espírito, em comunhão

conosco, nos dando a certeza de que somos herdeiros do Reino de Deus, que somos filhos de Deus, que estamos salvos. Isto, porém, ocorre quando há íntima comunhão do Espírito conosco.

10 — Cheio do Espírito É o termo ligado ao Espírito que mais vezes aparece no

Novo Testamento. Também são usadas mais de uma raiz em relação a este termo:

- Pléto: é usada em At 2.4 e 4.31 e significa “encho, cumpro”

- Pléres: é usada em Lc 4.1; At 6.3; 6.5; 7.55 e 11.24 e quer dizer “cheio, grado, pleno”.

- Phuplemi: é usada cm Lc 1.15; 1.41; 1.67; At 4.8; 9.17 e 13.9 e significa “encho, cumpro”.

Três raízes diferentes para dizer, praticamente, a mesma coisa. Seria, praticamente, o mesmo que usar as palavras “lindo, belo e bonito” em relação a uma pessoa. Três palavras diferentes, mas que têm o mesmo significado. No grego, estas três raízes querem dizer que algo está completo, cheio. Se estas raízes significam “cheio”, esta palavra “cheio” tem, pelo menos, dois sentidos diferentes na Bíblia, como veremos abaixo:

a) “Cheio” tem o sentido de qualidade de vida Isto significa que, onde aparece a palavra “cheio”, está

querendo mostrar que a pessoa tem uma qualidade de vida espiritual muito boa. Vemos isto, pelo menos, em três lugares no Novo Testamento:

— “Procurai, antes, entre vós, irmãos, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, e nós os colocaremos na direção deste ofício” (At 6.3). — “A proposta agradou a toda assembléia, e foram escolhidos: Estevão, homem cheio de fé e do Espírito Santo. . .“ (At 6.5). — Outro lugar se refere a Barnabé: “Pois era um homem bom, e cheio do Espírito Santo e de fé” (At 11.24).

Como vimos, nestes três lugares, a palavra “cheio” está se referindo a alguém que tem uma qualidade de vida espiritual muito boa. Nestes três exemplos, é usada a raiz grega “Pléres”. b) “Cheio” significa também dom de profecia Aqui está uma afirmação que o leitor comum da Bíblia, geralmente, não consegue perceber. Não por culpa dele, mas sim

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porque ele não tem acesso ao original grego ou a determinados livros, que nos esclarecem isto.

Estamos querendo dizer que nos textos bíblicos de Lc 1.41; 1.67; At 2.4; 4.8; 4.31; 7.55; 9.17 e 13.9 este “cheio”, que ali aparece, “não significa plenitude da graça santificante, mas dom de profecia pelo qual o falar é inspirado”. (7)

Significa dom de profecia? Como pode ser isto? Será verdade que uma palavra na Bíblia pode ter dois significados? Sim! A palavra “cheio”, dependendo do local onde é empregada, tem sentidos diferentes, assim, como a palavra “vale”, no português:

• Significa um lugar: “No vale da Caledônia”. • Significa valor financeiro: “Me dá um vale!” Empregando a palavra “cheio” também como sendo

profecia, poderemos entender que no Pentecostes se cumpriu realmente a profecia de Joel, que dizia: “E acontecerá nos últimos dias; diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão (At 2.17). Era isto que Pedro procurava explicar aos presentes no Pentecostes. Aquilo que havia acontecido era o cumprimento da profecia de Joel (cf. At 2.15-16).

Mas que havia acontecido para se chegar a conclusão que estava se cumprindo o que Joel dissera? O texto diz: “Todos ficaram cheios do Espírito Santo, e passaram a falar em outras línguas...“ (At 2.4). Mas falar em línguas é dom de profecia? É evidente que não! Como entender, então? O segredo está na palavra “cheio”, que vem antes de “falar em línguas”. Aqui o “cheio” tem o sentido que estamos procurando explicar, ou seja, significa dom de profecia. Mas por que eles falaram também em línguas? Havia estrangeiros de vários lugares, então, Deus lhes deu a capacidade de profetizarem, falando a linguagem dos povos ali

reunidos, caso contrário, estes não poderiam entender e receber a mensagem de Deus.

11 — Batismo com o Espírito Santo Este termo “batismo” é aplicado somente em três ocasiões

— com certeza — em relação ao Espírito Santo. Sempre que ele é usado, está em comparação a João Batista e à água (cf Mc 1.8; At 1.5; At 11.16).

Por que esta comparação?

João Batista pregava o batismo com água para arrependimento (Mt 3.11; At 19.4), o que envolvia confissão dos pecados (Mt 3 .6) e preparava o povo para a vinda daquele que haveria de batizar com o Espírito Santo e com fogo (Mt 3.11; Lc 3.16).

Significa isto que o Espírito Santo haveria de “purificar o povo do mal” (8), como previa a profecia de Isaías: “Quando o Senhor lavar a imundícia das filhas de Sião, e limpar Jerusalém da culpa de sangue do meio dela, com o Espírito de justiça e com o Espírito purificador” (Is 4.4). Outra profecia afirmava que o Messias purificaria com fogo (Ml 3.2-3).

O Espírito daria um novo coração ao povo da Nova Aliança, como disse a profecia de Ezequiel: “Dar-vos-ei coração novo, e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentre em vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis” (Ez 36.26-27; cf Jr 31.32-34; Tt 3.5-6; Rm 5.5; Gl 5.22).

Assim, a expressão “batizo com o Espírito Santo” está ligada

mais à purificação. Inclusive — no original grego — o termo “batizo” quer dizer também “purifico, limpo, lavo”. Poderíamos, então, dizer também: “Eu vos batizo com água para

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arrependimento. . . Ele vos purificará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11).

A comparação com João Batista tem o objetivo de mostrar que a obra e a pessoa de Jesus são superiores à obra e a João Batista: “Eu vos batizo com água para arrependimento, mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. De fato, eu não sou digno nem ao menos de tirar-lhe as sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11).

Alguém recebe a “purificação do Espírito”, não por méritos ou obras, pois isto é um dom de Deus. Pedro, falando sobre o envio do Espírito aos gentios, disse: “Se Deus, portanto, lhes concedeu o mesmo dom que a nós... “ (At 11.17). A condição de ser “batizado” é a aceitação de Jesus Cristo (Jo 7.39; GI 3.14; Ef 1.13; At 11.17, etc.)

Percebe-se claramente na Bíblia que, com o passar dos

anos, este termo “batismo” deixou de ser usado de maneira freqüente. Provavelmente, porque não houve mais necessidade de fazer a comparação com o batismo de João Batista e porque Paulo lidava com os gentios, que geralmente não sabiam do passado e do batismo de João Batista.

Paulo fala de outros termos para dizer do recebimento do Espírito: “concede o Espírito” (Gl 3.5); “recebamos o Espírito prometido” (Gl 3.14); “Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5.5); “Deus, que vos infundiu o seu Espírito Santo” (1 Ts 4.8) e “Espírito Santo, que ele ricamente derramou sobre nós” (Tt 3.5-6), etc. 12 — Plenitude do Espírito Um líder pentecostal bastante conhecido — Juan Carlos Ortiz — afirmou: “A plenitude da promessa do Pai vai muito além deste ‘pequenino’ batismo do Espírito Santo que herdamos de nossos prezados irmãos pentecostais”. (9)

De fato, não se pode confundir “batismo” com “plenitude”.

Um é o começo, o outro, é o final. “Batismo” é o momento de receber o Espírito Santo em nossa vida. “Plenitude” é quando o Espírito toma completamente a nossa vida, por isso, ele é o alvo maior. Somente em dois lugares no Novo Testamento é usada a raiz grega “plerón”, em relação ao Espírito: At 13.52 e Ef 5.18.

Outros textos no Novo Testamento usam esta raiz “plerón” para dizer que determinadas coisas estão cheias, plenas ou completas, como vemos abaixo:

• Rede cheia de peixe (Mt 13.47-48); • A casa inteira ticou cheia do perfume (Jo 12.3) • A tristeza encheu os vossos corações (Jo 16.6); • Para que a vossa alegria seja completa (Jo 16.24) • Enchia-se de sabedoria (Lc 2.40).

A plenitude tem o significado de ser o “último de uma série”,

por isso, é maior do que o “batismo com o Espírito Santo”.

“Plerón coloca a chave da abóbada, não só terminando, mas unificando e harmonizando” (10). Plenitude significa também “encho a ponto de transbordar, dou plenitude ou acabamento a...” (11).

Podemos dizer que “plenitude” quer dizer um pouco mais que “cheio”, embora quase não se perceba a diferença. Assim, como dizemos que algo é “bom” e outro “muito bom”, também podemos dizer isto em comparação a “cheio” e “plenitude”. Enfim, o alvo maior do cristão deve ser: “buscai a plenitude do Espírito” (Ef 5. 18).

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Comparações que Ajudam a Esclarecer

Às vezes não percebemos certas relações existentes entre determinadas palavras e fatos na Bíblia, por isso, a nossa compreensão fica um pouco limitada.

Com este capítulo queremos ajudar ao leitor a ter maior subsídio para poder compreender a doutrina do Espírito Santo e a ter também uma maior abertura em sua mente. Assim, quando o leitor chegar ao capítulo sobre os “10 derramamentos” e os dois seguintes, poderá ter uma visão mais aberta e, por isso, mais pronta também a aceitar e compreender certas afirmações bíblicas.

I — O PENTECOSTES DOS DISCIPULOS E DOS GENTIOS

Entre os “10 derramamentos”, um aconteceu no dia de Pentecostes com os discípulos de Jesus, que eram quase na totalidade constituídos por judeus. Outro derramamento ocorreu posteriormente com aqueles que não eram judeus. Ficou sendo chamado este acontecimento de “Pentecostes dos gentios”.

Entre as semelhanças e diferenças existentes entre os dois, estão:

1 — Semelhanças entre os dois Pentecostes a) Sobre o local Os discípulos de Jesus estavam em uma casa: “Tendo

entrado na cidade subiram à sala superior, onde habitualmente ficavam” (At 1.13). Esta sala superior significa no original grego “parte superior da casa”. No dia de Pentecostes “estavam todos reunidos no mesmo lugar” (At 2.1).

Os gentios também estavam reunidos em uma casa. Esta casa era de Cornélio. Pedro quando chegou lá, disse: “Vós sabeis

que é absolutamente proibido um judeu relacionar-se com um estrangeiro ou entrar em casa dele” (At 10.28). Foi aí que aconteceu posteriormente o Pentecostes dos gentios (At 10.44-45). Portanto, os dois Pentecostes aconteceram em uma casa. b) Sobre o meio de vir o Espírito

No caso dos discípulos, veio sem nenhum intermediário: “De repente, veio do céu...” (At 2.2). Com os gentios também aconteceu o mesmo (At 10.44), ou seja, não houve intermediário, como aconteceu na imposição das mãos em Samaria (At 8.16-17) e em Eféso (At 19.1-6). Podemos dizer que, nestes dois casos, o “meio” foi espontâneo, livre, sem interferência de alguma pessoa. Foi de modo direto.

c) Sobre os fenômenos No Pentecostes dos discípulos aconteceram vários

fenômenos: • Som como de vento (At 2.2); • Línguas como de fogo (At 2.3); • Línguas estrangeiras (At 2 4); • Profecias (At 2.17)

Também no Pentecostes dos gentios, apesar de bem menos, aconteceram igualmente fenômenos. • Falaram em línguas (At 10.46);

• Engrandeceram a Deus (At 10.46).

Assim, podemos dizer que em ambos os casos houve fenômenos.

d) Sobre o nome do acontecimento

Nos casos dos discípulos, é chamado de “Batismo com o Espírito Santo”, pois Jesus assim o disse: “João batizava com água; vós, porém, sereis batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias” (At 1.5).

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Também com os gentios assim é chamado: “O Espírito Santo caiu sobre eles, assim como sobre nós no princípio. Lembrei-me, então, desta palavra do Senhor: João, dizia ela, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo” (At 11.15-16).

2 — Diferenças entre os dois Pentecostes a) Em relação ao dia do acontecimento Enquanto o caso dos discípulos ocorreu no próprio dia de

Pentecostes (At 2.1), o caso dos gentios ocorreu muito tempo depois, como vários textos mostram: “No dia seguinte” (At 10.9). Aqui não significa dia seguinte após o Pentecostes. Outro texto diz ainda: “No dia seguinte” (At 10.23); “Há quatro dias, eu estava em oração” (At 10.30).

Assim, no mínimo 6 dias haviam passado do Pentecostes ao envio do Espírito aos gentios, embora muito mais tempo, certamente se passou, pois em acontecimento anterior com Paulo — entre os dois “Pentecostes” — o texto diz que Paulo “passou alguns dias com os discípulos em Damasco” (At 9.19). b) Em relação ao batismo com água

Os discípulos de Jesus, certamente, já haviam sido batizados, pois também batizavam (cf Jo 4. 1-2; Mt 28. 18-20). Os gentios, porém, não haviam sido ainda batizados, quando receberam o Espírito Santo. Pedro disse: “Pode-se, porventura recusar a água do batismo a esses que, como nós, receberam o Espírito Santo?” (At 10.47). Assim, uns receberam o Espírito após o Batismo e, outros, antes de serem batizados. c) Sobre o significado de termos empregados

No caso dos discípulos é dito que eles ficaram “cheios do Espírito” (At 2.4), não querendo dizer aqui que eles ficaram

plenamente santificados e sim que tiveram o dom de profecia para anunciar a mensagem, de maneira inspirada, aos que ali se encontravam.

Já no Pentecostes dos gentios é empregado o termo “dom do Espírito” (At 11 .17), não querendo aqui dizer que eles tiveram o recebimento de um determinado dom — embora realmente recebessem — mas sim que este “dom” significa que os gentios foram igualmente merecedores do amor divino, que dá o Espírito gratuitamente aos que crêem em Jesus Cristo.

II — RELAÇÃO ENTRE O BATISMO COM ÁGUA E O BATISMO COM O ESPIRITO SANTO

O batismo de João Batista era somente com água e tinha

um objetivo moral (Lc 3.10-14). Procurava levar as pessoas a fugirem da ira vindoura (Lc 3.7) e era batismo para arrependimento (Mt 3.11), que introduzia o batizado no grupo dos que esperavam o Messias, constituindo por antecipação a sua comunidade (Jo 1.19-34). Significava também que o presente século estava julgado e condenado para o batizado. Este batismo, porém, não era em nome de Jesus (At 19.1-5) e nem levava o batizado a receber o Espírito Santo (Lc 3.16).

Já o batismo cristão, além de encerrar o presente século para o batizado, situa-o desde já no século futuro, pois é batismo também no Espírito, que é o penhor da nossa herança futura (1Co12.13; 2Co 1.22;5.5).

Embora o Pentecostes esteja separado, no tempo, do batismo que os discípulos de Jesus receberam, eles não podem ser entendidos separadamente. Há uma interligação entre os dois. Os discípulos não receberam o Espírito no batismo porque isto era uma função de Jesus e não de João Batista. Era necessário

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também primeiro Jesus ser exaltado para depois o Espírito vir (Jo 7.39).

Em várias ocasiões, a Bíblia mostra o Espírito estando interligado ao batismo, como vemos abaixo:

• “Quem não nasce da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3.5);

• “No momento em que Jesus, também batizado, achava-se em oração, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea” (Lc 3.21-22);

• Pedro disse: “Convertei-vos, e seja cada um de vós batizado em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos pecados, e recebereis, então, o dom do Espírito Santo” (At 2.38).

Foi por isso que os apóstolos Pedro e João foram transmitir o Espírito aos samaritanos, que haviam sido batizados, mas não haviam recebido o Espírito Santo (At 8.14-17).

Por isso, Paulo, ao saber que os discípulos de Éfeso não haviam recebido o Espírito Santo, lhes perguntou: “Em que batismo fostes batizados?” (At 19.4). Eles, então, responderam: “Com o batismo de João” (At 19.4). Só depois que eles foram batizados, em nome do Senhor, é que receberam o dom do Espírito (At 19.5-6). Por isso, também Ananias disse a Paulo que tinha sido enviado por Jesus para que ele recuperasse a vista e ficasse cheio do Espírito (At 9.17). Após isto ocorrer, este foi “imediatamente batizado” (At 9.18).

O batismo com água está relacionado ao Espírito. Algumas pessoas chegam a colocar também a água como símbolo do Espírito. Por isso, algumas vezes a Bíblia fala que o Espírito foi “derramado” — como a água — sobre as pessoas (cf At 10.45; Tt 3.5).

O fato do Pentecostes não mostrar que houve batismo com água, não quer dizer que a água não esteja relacionada com o

Espírito. João Batista já os havia batizado com água e Jesus fez o complemento, enviando o Espírito Santo (At 1.5).

O trecho que provavelmente mostra mais a ligação entre os dois é: “Pois fomos todos batizados num só Espírito para ser um só Corpo” (1Co 12.13), embora haja divergências sobre este versículo.

A Bíblia mostra também em vários lugares uma grande associação do Espírito com a água:

• “O Espírito de Deus pairava por sobre as águas” (Gn 1.2) • A pomba, símbolo do Espírito Santo, foi solta três vezes, quando da ocorrência do dilúvio, para verificar se as águas haviam baixado (Gn 8.8-12);

• Na epístola de João está escrito: “E três são os que testificam na terra: o Espírito, a água e o sangue, e os três são unânimes num só propósito” (1Jo 5.8).

Isto tudo mostra claramente que o batismo com o Espírito, ocorrido no Pentecostes, foi um complemento do batismo com água. Por isso, o dom do Espírito não ocorreu mais no Novo Testamento fora do contexto do batismo com água.

III — DIFERENÇAS DE ËNFASES ENTRE LUCAS E JOÃO

Lucas escreveu o evangelho de Lucas e o Atos dos apóstolos. João escreveu o evangelho de João e certamente as três epístolas e o Apocalipse.

Percebe-se claramente que existem algumas diferenças de

ênfases entre os dois, que precisam ser mostradas para se ter uma melhor compreensão da Bíblia e da doutrina do Espírito.

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1 — Sobre a época do envio do Espírito

Para o evangelista São João, o Espírito seria dado quando Jesus ressuscitasse: “Pois não havia ainda Espírito, porque Jesus não fora ainda glorificado” (Jo 7.39). Foi antes de subir aos céus que o Espírito foi enviado aos discípulos: “Jesus veio e, pondo-se no meio deles, lhes disse: paz a vós! Tendo dito isto. . disse de novo — paz a vós! Como o Pai me enviou também eu vos envio. Dizendo isto, soprou sobre eles e lhes disse: receberei o Espírito Santo” (Jo 20. 19-22).

Para a comunidade cristã, a qual João enviava o seu

evangelho, era importante ressaltar a presença física de Jesus, no momento do envio do Espírito. A comunidade estava sofrendo influência de heresias — doutrinas contrárias ao ensinamento bíblico — que diziam que Jesus não havia vindo em carne e sim em espírito. Assim, negava-se a encarnação de Jesus, o seu sofrimento e morte na cruz, como também a sua ressurreição. Não foi sem objetivo que João em vários lugares fez questão de mostrar a presença física de Jesus: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14). Na cruz, ele faz questão de mostrar que Jesus não estava ali em espírito: “um dos soldados traspassou-lhe o lado com a lança e imediatamente saiu sangue e água” (Jo 19.34). A Tomé Jesus disse: “Põe o teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende a tua mão e põe-na no meu lado (Jo 20.27). Antes de enviar o Espírito, Jesus “mostrou-lhes as mãos e o lado” (Jo 20.20). Assim, João fez questão de mostrar que, quando Jesus enviou o Espírito, ele ainda não havia subido aos céus. Ele enviou pessoalmente, fisicamente.

Para Lucas, porém, o Espírito seria enviado após a ascensão de Jesus. Eles deveriam esperar a promessa: “Eis que eu vos enviarei o que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade até serdes revestidos da força do alto” (Lc 24.49). Então, para Lucas, o Espírito não havia ainda sido enviado. Logo, porém,

o texto diz que Jesus subiu aos céus, e que difere de João: “E enquanto os abençoava, distanciou-se deles e era elevado ao céu” (Lc 24.51).

No livro de Atos — de Lucas — Jesus promete “Sereis batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias” (At 1.5). Mais à frente, após dizer que os discípulos receberiam poder (At 1.8), Jesus subiu aos céus (At 1.9-10). No dia de Pentecostes após a ascensão de Jesus, o Espírito Santo veio sobre os discípulos (At 2.1-4).

Dizer que em João os discípulos receberam o dom do Espírito e no Pentecostes eles foram batizados com o Espírito, é não perceber as diferenças de ênfases e tentar contornar algo que a própria Bíblia não se preocupou em “corrigir”... 2 — Sobre os fenômenos

Para João o Espírito foi enviado suavemente, sem alaridos, barulhos ou manifestação de dons sobrenaturais. Jesus “soprou sobre eles” e eles receberam o Espírito de uma maneira normal.

Já Lucas faz questão de registrar minuciosamente vários acontecimentos sobrenaturais no momento do envio do Espírito. Entre eles, estão: vento semelhante a vendaval (At 2.2); ruído (At 2.2); línguas de fogo (At 2.3); línguas estrangeiras (At 2.4) e profecia (At 2.17).

Duas ênfases completamente diferentes. Hoje não há estas mesmas diferenças? Enquanto uns enfatizavam dons, acontecimentos sobrenaturais, outros, enfatizavam o recebimento do Espírito de uma maneira suave, sem distribuição de dons. Qual das duas estaria certa? As duas, certamente. A uns o Espírito é enviado de maneira delicada, quase imperceptível, sem manifestação de dons, a outros, o Espírito é enviado, distribuindo dons e havendo certos acontecimentos sobrenaturais, sem,

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contudo, se pensar que será cópia do que aconteceu no Pentecostes.

3 — Sobre a função do Espírito

João destaca o Espírito levando os discípulos à verdade (Jo 14.15-16; 16.13). Ele ensinará e recordará tudo que Jesus disse aos discípulos (Jo 14.26; 16.14) e anunciará também os acontecimentos futuros (Jo 16.13). O Espírito dará testemunho de Jesus (Jo 15.26; 1 Jo 5.6; 5.7-8) e convencerá o mundo do pecado. justiça e julgamento (Jo 16.8). Assim, para o evangelista João, o Espírito tem mais uma função pedagógica, mais doutrinária e dele vem o verdadeiro conhecimento. João chega a dizer que o Espírito é o Espírito da verdade (Jo 14.17; Jo 15.26; Jo 16.13) e mais ainda: o Espírito é a verdade (1 Jo 5.6). Por que ele enfatizou isto? Está relacionado à sua comunidade, que sofria influência de heresias, por volta do ano 100. Uma dessas heresias afirmava que chegaríamos à verdade, através do conhecimento. Daí ser necessário João enfatizar esta parte, este lado pedagógico — ensino — do Espírito. É ele que nos levará a verdade. Dele vem o verdadeiro conhecimento. Já o evangelista Lucas mostra o Espírito mais levando a agir, capacitando para ser testemunha de Cristo e movendo os discípulos. Ele relaciona o Espírito com a palavra “poder” em vários textos bíblicos (Lc 24.49; At 1.8; Lc 4.14; 1.35; At 8.19; 10.38, etc.). Ele também mostra o Espírito movendo os discípulos em vários lugares: João Batista (Lc 1.15); Simeão (Lc 2.27); Jesus (Lc 4.1); Paulo e Barnabé (At 13.4). É o Espírito que dá coragem para pregar: Pedro (At 4.8); Paulo (At 13,9-10); discípulos (At 4.29-31) e Jesus foi ungido pelo Espírito para a missão (Lc 4.18-19). Assim, o Espírito, segundo a

ênfase de Lucas, está relacionado mais com ação! Na verdade, Atos deveria se chamar “Atos do Espírito Santo”, pois é exatamente isto que Lucas procura mostrar no Evangelho e no livro de Atos. Qual das duas estaria certa? Certamente, as duas. O Espírito age de acordo com as circunstâncias, orientando e capacitando a Igreja para a missão. 4 — Sobre o nome do Espírito

O evangelista João o chama de Espírito Santo (Jo 1.34; 14.26); Espírito (Jo 1 .32; 7.39); Espírito da verdade (Jo 14.17; 16.13; 1 Jo 5.6). A característica principal, porém, de João é chamar o Espírito de “Paráclito”, que pode ser traduzido por ensinador, advogado, consolador, sustentador e protetor. Em três lugares, ele é chamado assim (Jo 14.15-16; Jo 14.26; Jo 16.7).

Já Lucas o chama de Espírito Santo (At 6.5); Espírito (At 20.22); Espírito do Senhor (At 5.9) e também “a Promessa” (Lc 24.49; At 1.4; 2.39). Enquanto João não fala nos termos “promessa” e “Espírito do Senhor”, Lucas não fala em “Espírito da verdade” e “Paráclito”.

5 — Sobre uma segunda experiência com o Espírito Santo

João não diz nada em seus escritos sobre uma segunda experiência com o Espírito. Ao contrário desta questão, João faz algumas afirmações que dão a entender que não há uma segunda experiência com o Espírito: “A unção que recebestes dele permanece em vós” (1Jo 2.27). Ele diz também que o Espírito viria e permaneceria em Jesus (Jo 1.32; Jo 1.34). O Espírito ficaria para sempre com os discípulos (Jo 14.15-16). Assim, ele não dá ênfase numa segunda experiência com o Espírito.

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Já Lucas mostra que há diferença entre “ter” o Espírito e “ser” cheio do Espírito. Das quinze vezes que “cheios” aparece no Novo Testamento, quatorze são usadas por Lucas e uma por Paulo.

Entre seus enfoques, este termo “cheio” é usado para mostrar a qualidade espiritual da pessoa: Estevão (At 6.5); Barnabé (At 11.24). Chega ser uma condição ser “cheio” do Espírito para ocupar cargos na Igreja primitiva: “Procurai, antes, entre vós, irmãos, sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, e nós os colocaremos na direção deste ofício” (At 6.3).

Assim, Lucas mostra claramente, a possibilidade de uma 2ª

experiência com o Espírito. Esta experiência, porém, não se chama “batismo com o Espírito Santo” e sim ser “cheio do Espírito” ou “plenitude do Espírito” como diz Paulo (Ef 5.18).

Promessas de Derramamento do Espírito

Antes de ocorrer o Pentecostes, pelo menos, em onze ocasiões foi prometido o envio do Espírito a diferentes pessoas no Novo Testamento. Hoje também a Bíblia continua prometendo o dom do Espírito a todos que crêem em Jesus Cristo, aceitando-o como Senhor e Salvador. Porém, muita coisa tem sido prometida também por líderes religiosos, sem contudo, haver uma sólida base bíblica.

Veremos nestas “promessas” o que realmente a Bíblia

prometeu às pessoas e, então, poderemos tirar as nossas conclusões. Procuramos colocar de forma sistemática para facilitar a compreensão e para se ter uma visão geral destas onze promessas.

I — PROMESSA A JOÃO BATISTA Quem prometeu? — O anjo

Texto bíblico: “Pois ele será grande diante do Senhor; não

beberá vinha nem bebida embriagante; ficará cheio do Espírito ainda no seio de sua mãe” (Lc 1.15).

O que aconteceria, após João Batista receber o dom do

Espírito? — Converteria muitos dos filhos de Israel (Lc 1.16); — Caminharia à frente e no espírito de Elias (Lc 1.17); — Converteria os corações dos pais aos filhos e os rebeldes

à prudência dos justos (Lc 1.17); — Prepararia ao Senhor um povo bem disposto (Lc 1.17).

II — PROMESSA À MARIA Quem prometeu? — O anjo Gabriel.

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Texto bíblico: “O Espírito Santo virá sobre ti” (Lc 1.35). O que aconteceria, após Maria receber o dom do Espírito? — O poder do Altíssimo a protegeria com a sua sombra (Lc 1.35); — Ela daria à luz a um menino. Este seria chamado Filho de

Deus (Lc 1.35).

III — PROMESSA AO POVO. Quem prometeu? — João Batista. Texto bíblico: “Eu os batizo com água, mas vem aquele

que é mais forte do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das sandálias; ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Lc 3.16).

O que aconteceria, após o povo receber o dom do Espírito?

— Haveria a purificação de suas vidas (Lc 3.17) IV— PROMESSA AOS DISCÍPULOS Quem prometeu? — Jesus. Texto bíblico: “Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar

boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem?” (Lc 11.13).

O que acontecerIa, após os discípulos receberem o dom do Espírito?

— Não há nenhuma referência no texto acima. — O próprio Espírito, porém, já é uma boa dádiva (Lc 11.11-13) V— PROMESSA AOS DISCÍPULOS

Quem prometeu — Jesus Texto bíblico: “Eis que eu vos enviarei o que meu Pai

prometeu” (Lc 24.49).

O que aconteceria, após eles receberem o Espírito? — Seriam capacitados com poder para realizar a Missão (Lc

24.49). VI — PROMESSA AOS JUDEUS Quem prometeu? — Jesus. Texto bíblico: “Ele falava do Espírito que, deviam receber

os que nele cressem; pois não havia ainda Espírito, porque Jesus não fora ainda glorificado” (Jo 7.39).

O que aconteceria, após os judeus receberem o Espírito? — Rios de água viva correriam de seus ventres (Jo 7.38-39).

VII — PROMESSA AOS DISCÍPULOS Quem prometeu? — Jesus. Texto bíblico: “Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai

enviará em meu nome, é que vos ensinará tudo e vos recordará tudo que eu vos disse” (Jo 14.26).

O que aconteceria, após os discípulos receberem o Espírito?

— Ensinaria tudo aos discípulos (Jo 14.26). — O Espírito recordaria tudo o que Jesus disse aos discípulos (Jo 14.26).

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VIII — PROMESSA AOS DISCÍPULOS Quem prometeu? — Jesus. Texto bíblico: “Se me amais, observareis os meus

mandamentos e rogarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito” (Jo 14.15-16).

O que aconteceria, após os discípulos receberem o Espírito?

— O Outro Consolador ficaria para sempre com eles (Jo 14.16)

IX — PROMESSA AOS DISCIPULOS Quem prometeu? — Jesus. Texto bíblico: “Se eu não for, o Paráclito não virá a vós.

Quando eu for, enviá-lo-ei a vós” (Jo 16.7).

O que aconteceria, após os discípulos receberem o Espírito?

— Convenceria o mundo do pecado, justiça e juízo (Jo 16.8) — Conduziria os discípulos à verdade (Jo 16.13) — Anunciaria aos discípulos as coisas futuras (Jo 16.13)

X— PROMESSA AOS DISCÍPULOS Quem prometeu? — Jesus. Texto bíblico: “João batizava com água, vós, porém, sereis

batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias” (At 1.5).

O que aconteceria, após receberem o Espírito? — O texto não diz nada.

XI — PROMESSA AOS DISCÍPULOS Quem prometeu? — Jesus. Texto bíblico: “Mas o Espírito Santo descerá sobre vós e

dele recebereis poder. Sereis, então, minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (At 1.8).

O que aconteceria, após eles receberem o Espírito? — Receberiam poder (At 1.8); — Seriam testemunhas de Jesus (At 1.8).

Aí estão onze promessas do derramamento do Espírito. Que

conclusão poderemos tirar destas promessas? Será que todas estas promessas se aplicam a nós hoje? É o que veremos logo a seguir:

Nós dividiremos estas promessas em três diferentes grupos, visando uma melhor compreensão:

• Promessa aos precursores de Jesus; • Promessa ao povo em geral; • Promessa aos discípulos.

1 — Promessa aos precursores de Jesus

Aqui se enquadram João Batista e Maria, a mãe de Jesus. A João Batista, o Espírito o impulsionaria para preparar um povo ao Senhor (Lc 1.17). É situação um pouco diferente da nossa hoje, pois ele faria um trabalho para a “primeira” vinda de Jesus ao mundo. Podemos dizer, porém, que isto pode ser aplicado a nós hoje, pois Deus pode levantar diferentes pessoas —— através de seu Espírito — para preparar um povo para a “segunda” vinda de

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Jesus ao mundo. Certamente, esta obra é realizada principalmente pelos pastores.

À Maria, o Espírito protegeria e faria nascer, através dela, um menino, que seria o Filho de Deus e que salvaria o mundo. A segunda conseqüência, em Maria, não se aplica mais hoje a ninguém, pois há somente um Filho Unigênito de Deus (Jo 3.16) e agora Jesus voltará nas nuvens para levar a sua Igreja (Mc 13.26; 1 Ts 4.17).

A primeira conseqüência, sim, se aplica a nós, pois o Espírito nos fortalece, guarda e protege ainda hoje, desde que creiamos em Jesus Cristo, tendo assim o Espírito em nossa vida.

2 — Promessa ao povo em geral Aqui se enquadram o povo, a quem João Batista pregava, e os

judeus, a quem Jesus fez a promessa. Qual a promessa feita a eles?

Ao povo João Batista batizava, procurando levar ao arrependimento (At 13.24; 19.3). A purificação, sim, aconteceria através de Messias, que daria um batismo que purificaria: “A pá está em sua mão; limpará a sua eira e recolherá o trigo em seu celeiro; a palha, porém, ele a queimará num fogo inextinguível” (Lc 3.17). Assim, se cumpria a profecia de Ezequiel sobre o Messias, que viria: “Dar-vos-ei coração novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro em vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis” (Ez 36.26-27). Este termo “batismo” significa também “limpo, lavo, purifico”.

Falando aos judeus, posteriormente, Jesus afirmou que rios de água viva correriam do seu ventre (Jo 7.38-39), mostrando assim a vida abundante que teriam aqueles que nele cressem e recebessem o Espírito Santo.

Quanto à promessa aos judeus, podemos dizer que ela ainda hoje se aplica a nós, pois o Espírito nos faz ter vida em abundância. Em relação à promessa de João Batista, podemos dizer que ela é um pouco diferente hoje. Lá o seu batismo levava ao arrependimento e Jesus purificava. Agora, o próprio Espírito leva ao arrependimento (Jo 16.8) e, somente, após a conversão se é batizado (At 2.38).

Batismo e Espírito agora estão unidos, como afirmou Pedro: “Convertei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para a remissão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2.38).

3 — Promessa aos discípulos

Percebe-se claramente que, em relação aos discípulos, o dom do Espírito está sempre voltado para a missão. Cremos que o Espírito ainda hoje nos capacita e nos ensina aquilo que devemos fazer para o evangelho ser pregado em todos os lugares, de uma maneira eficiente.

É interessante e importante ressaltar que em nenhuma ocasião é prometido algum dom aos discípulos. Seriam, sim, capacitados de uma maneira eficiente para cumprirem a missão de fazer o evangelho conhecido. Esta sempre foi a promessa feita por Jesus aos discípulos. Os dons, naturalmente, seriam meios dos discípulos serem capacitados.

Cremos que estas onze “promessas” vistas e analisadas, mostram o verdadeiro motivo do envio do Espírito às pessoas. Cremos também que são subsídios eficientes para compreendermos melhor os “dez derramamentos do Espírito”, ocorridos no Novo Testamento.

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Dez Relatos Sobre Derramamento do Espírito Imaginem uma família morando no interior, como quase

sempre, muito pobre, sem rádio, televisão e vivendo, praticamente, isolada do resto do mundo. Os filhos crescem somente em contato com uma família, que mora pelas redondezas. Esta família, como a outra também, é composta de gente de cor branca. Estas duas famílias sempre moraram ali. Para elas, só existe gente de cor branca, pois elas não têm mais nenhum contato com outra família e ninguém nunca lhes falou que existe gente de cor preta, mulata, vermelha (índio), amarela (chineses), etc. Para elas, todos são brancos e quando imaginam uma pessoa esta tem que ser branca.

Um dia, porém, um membro da família achou uma revista à

beira da estrada, bem distante da sua casa. Nesta revista haviam figuras de pessoas de vários países. Vendo esta revista, a família descobriu que não há somente pessoas de cor branca no mundo. A partir daquele dia, eles mudaram de pensamento. Quando pensavam no ser humano, não o imaginavam somente como branco, mas também preto, mulato, amarelo, vermelho, etc.

Esta história é contada para fazermos uma comparação com o conceito que muitos têm sobre o derramamento do Espírito. Alguns cristãos só conhecem o exemplo de At 2.1-13, ou seja, o Pentecostes. Para estes, todo aquele que receber o Espírito Santo em sua vida, tem que ser à semelhança do Pentecostes, ou seja, tem que haver “ruído”, “línguas de fogo”, “línguas estrangeiras”, etc.

Este capítulo tem o objetivo de mostrar que não existe somente gente de cor “branca” no mundo, ou melhor, quer mostrar que não existe no Novo Testamento somente o relato do derramamento do Espírito no dia de Pentecostes, mas que ainda há outros nove relatos do derramamento do Espírito.

Conhecendo estas outras “pessoas” de cor diferente, ou seja, conhecendo estes outros relatos do derramamento do

Espírito, que é diferente do Pentecostes, quando imaginarmos o ser humano recebendo o Espírito Santo, o imaginaremos recebendo de diferentes maneiras e não somente de uma forma.

Procure estudar com toda atenção este capítulo sobre os dez relatos sobre derramamento do Espírito e, se você só conhece “gente” de cor branca verá que há ainda outras “pessoas” diferentes, mas que têm muito a oferecer também.

1 — O DOM DO ESPIRITO A ISABEL Relato bíblico: Lucas 1.39-45.

Texto chave: “Ora, quando Isabel ouviu a saudação de

Maria, a criança lhe estremeceu no ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo” (Lc 1.41).

Como era a sua vida, antes de receber o Espírito Santo? — Era justa e seguia os mandamentos do Senhor (Lc 1.6) — Iria ser a mãe de João Batista (Lc 1.13)

Que foi feito para ela receber o Espírito Santo? — Ela ouviu a saudação de Maria, que estava grávida de Jesus,

e a criança (João Batista) lhe estremeceu no ventre (Lc 1.41) Que aconteceu, após receber o dom do Espírito?

— Foi-lhe revelado ser Maria a mãe de Jesus (Lc 1.42-45) — Ela profetizou que seria cumprido o que foi prometido por

Deus (Lc 1.45) II — O DOM DO ESPÍRITO A ZACARIAS Relato bíblico: Lucas 1.59-67

Texto chave: “Zacarias, seu pai, cheio do Espírito Santo,

profetizou” (Lc 1 .67).

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Como era a sua vida, antes de receber o Espírito Santo? — Era sacerdote (Lc 1.5) — Era justo e seguia os mandamentos do Senhor (Lc 1.6) — Suas orações eram ouvidas (Lc 1.13)

— Iria ser o pai de João Batista (Lc 1.13) — Zacarias duvidou que eles pudessem ter um filho (Lc

1.18-20) — Afirmou, escrevendo, que seu filho se chamaria João,

como o anjo havia determinado, o que mostra que obedeceu (Lc 1.59-63)

Que foi feito para ele receber o dom do Espírito?

— Escreveu que seu filho se chamaria João (Lc 1.63) — Voltou a falar e passou a bendizer a Deus (Lc 1.64)

Que aconteceu, após receber o Espírito Santo? — Ele profetizou (Lc 1 .67) III — O DOM DO ESPÍRITO A JESUS CRISTO. Relato bíblico: Lucas 3 .21-22; João 1.32-34; Marcos 1.9-

11; Mateus 3.13-17.

Texto chave: “Ora, tendo o povo recebido o batismo, e no momento em que Jesus, também batizado, achava-se em oração, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corporal” (Lc 3.21-22).

Como era a sua vida, antes de receber o Espírito Santo? — Havia sido concebido pelo Espírito Santo (Mt 1.20) — Era o Filho de Deus (Lc 1.35) — Cresceu em sabedoria, estatura e graça diante de Deus

(Lc 2.52) — Aos 12 anos já estava no templo discutindo e ensinando

aos doutores (Lc 2.42-48)

— Tinha consciência que estava na casa (templo) de seu Pai (Lc 2.49)

Que foi feito para ele receber o dom do Espírito? — Foi batizado com água (Lc 3 .21) — Estava em oração (Lc 3.21) Que aconteceu, após receber o Espírito Santo? — O Espírito permaneceu com ele (Jo 1 .33) — Foi proclamado por Deus como sendo o Filho de Deus

(Lc 3.22) — Foi reconhecido por João Batista como aquele que batiza

com o Espírito Santo (Jo 1.33-34) — Foi levado para o deserto para ser tentado e se preparar

para o Seu ministério (Lc 4.1-2) — Iniciou a Sua missão (Lc 4.14-19)

IV — O DOM DO ESPÍRITO AOS DISCÍPULOS Relato bíblico: João 20.19-23

Texto chave: “Dizendo isto, soprou sobre eles e lhes disse:

Recebei o Espírito Santo” (Jo 20.22).

Como eram as suas vidas, antes de receberem o Espírito Santo?

— Eram batizados, pois batizavam (Jo 4.1-2) — Já eram purificados (Jo 13.10; 15.3-4) — Em Jo 14. 1 Jesus pede que eles creiam nele, numa

atitude salvadora — Após a crucificação de Jesus ele ficaram com medo dos

judeus (Jo 20.19) — Porém, ao ver o Senhor, exultaram (Jo 20.20)

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Que foi feito para eles receberem o dom do Espírito? — Certamente amaram ao Senhor Jesus e guardaram os

Seus mandamentos (Jo 14.15-16) — Exultaram por ver o Senhor (Jo 20.20) — Jesus soprou sobre eles o Espírito, como havia prometido

(Jo 20.21-22)

Que aconteceu, após receberem o Espírito Santo? — Foram enviados em missão (Jo 20.21) — Foi dado a eles autoridade ou o dom de perdoar pecados

(Jo 20.23)

V — O DOM DO ESPÍRITO AOS DISCíPULOS Relato bíblico: Atos 2.1-21

Texto chave: “De repente, veio do céu um ruído

semelhante ao soprar de impetuoso vendaval, e encheu toda a casa onde se achavam. E apareceram umas como línguas de fogo, que se distribuíram e foram pousar sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os impelia falassem” (At 2. 1-4).

Como eram suas vidas, antes de receberem o Espírito

Santo? — Já tinham seus nomes escritos no livro da vida (Lc 10.17-20) — Parece que, inicialmente, Pedro não era convertido (Lc

22.32), pois negou também a Jesus (Lc 22.54-62) — Mas, posteriormente, estiveram com Jesus e esperavam

a promessa do derramamento do Espírito (Lc 24.49; At 2.1) — Mais à frente — At 11.17 — Pedro esclarece que eles

receberam o Espírito Santo porque creram em Jesus. Que foi feito para eles receberem o Espírito Santo? — Esperavam a promessa (Lc 24.49; At 2.1)

— Viviam em oração (At 1.14) — Creram em Jesus, numa atitude salvadora (At 11.17)

Que aconteceu, após receberem o dom do Espírito? — Falaram em línguas estrangeiras, anunciando o

evangelho a todos os povos (At 2.4-13) — Profetizaram, cumprindo a profecia de Joel (At 2.15-21)

VI — O DOM DO ESPIRITO AOS JUDEUS Relato bíblico: Atos 2.36-47

Texto chave: “Convertei-vos, e seja cada um de vós

batizado em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos pecados, e recebereis, então, o dom do Espírito Santo” (At 2.38)

Como eram as suas vidas, antes de receberem o dom do Espírito?

— Eram piedosos (At 2.5) — Negaram e crucificaram a Jesus (At 2.36)

Que foi feito para eles receberem o Espírito Santo? — Se converteram (At 2.38, 41) — Foram batizados (At 2.38, 41) — Tiveram os pecados perdoados (At 2.38)

Que aconteceu, após receberem o Espírito Santo? — Mostraram ter uma nova vida — Preocupando-se em receber o ensino dos apóstolos (At

2.42) — Participando da comunhão fraterna (At 2.42) — Participando da ceia (At 2.42) — Praticando a oração (At 42) —Tendo temor de Deus (At 2.43)

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VIl — O DOM DO ESPÍRITO AOS SAMARITANOS Relato bíblico: Atos 8.5-17

Texto chave: “Impunham-lhes, pois, as mãos, e eles

recebiam o Espírito Santo” (At 8.18)

Como eram as suas vidas, antes de receberem o dom do Espírito?

— Eles esperavam a vinda do Messias (Jo 4,25-30) — Posteriormente, acreditaram na pregação de Filipe, que

anunciou-lhes Jesus Cristo, o Messias (At 8.12) — Eles receberam o batismo (At 8.12)

Que foi feito para eles receberem o Espírito Santo? — Pedro e João foram à Samaria (At 8.14) — Eles oraram pelos samaritanos (At 8.15) — E impuseram as mãos sobre eles (At 8.17)

Que aconteceu, após receberem o Espírito Santo? — O texto não relata nenhum acontecimento com eles — Diz, sim, que foi percebido que eles receberam o Espírito

Santo (At 8.18)

VIII — O DOM DO ESPÍRITO A PAULO Relato bíblico: Atos 9.1-20

Texto chave: “Ananias, partiu, entrou na casa, impôs-lhe

as mãos e disse: Saulo, meu irmão, quem me envia é o Senhor, esse Jesus que te apareceu no caminho por onde vinhas, a fim de recuperares a vista e ficares cheio do Espírito Santo” (At 9.17)

Como era a sua vida, antes de receber o Espírito Santo? — Ele perseguia os cristãos (At 8. 1; 9. 1-2) — Mas teve o encontro com o Senhor (At 9.3-6) — Antes de receber o Espírito, estava em oração (At 9.11)

— E, certamente, jejuava (At 9. 19)

Que foi feito para ele receber o dom do Espírito? — Ananias, enviado por Jesus, lá chegou (At 9.15-17) — Lá impôs as mãos sobre Paulo (At 9.17) — Para Paulo recuperar a vista (At 9. 17-18) — E ficar cheio do Espírito Santo (At 9.17)

Que aconteceu, após receber o dom do Espírito? — Paulo foi batizado (At 9.19) — Alimentou-se e se sentiu reconfortado (At 9.19) — Passou alguns dias com os discípulos (At 9.19) — Então, passou a pregar que Jesus é o FiIho de Deus (At

9.20)

IX — O DOM DO ESPÍRITO AOS GENTIOS Relato bíblico: Atos 10.1-11, 1-18

Texto chave: “Enquanto Pedro falava, o Espírito Santo

caiu sobre todos os que ouviam a palavra” (At 10.44)

Corno eram as suas vidas, antes de receberem o dom do Espírito?

— Cornélio, era piedoso e temente a Deus (At 10.1-2) — Ele dava muitas esmolas e orava a Deus (At 10.2) — Deus viu as esmolas e ouviu as orações de Cornélio (At

10.4) — O anjo lhe apareceu em uma visão e mandou ele chamar

Pedro (At 10.3-5) — Posteriormente, Pedro lhes diria palavras de salvação, a

ele e a sua família (At 11.13-14) — Eles se converteram (At 11.15)

Que foi feito para eles receberem o dom do Espírito?

— Pedro lhes disse palavras de salvação (At 11.14; 10.44)

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— Eles creram em Jesus Cristo (At 11.17)

Que aconteceu, após eles receberem o dom do Espírito? — Falaram em línguas (At 10.46) — Glorificaram a Deus (At 10.46) — Foram batizados (At 10.47-48)

X — O DOM DO ESPIRITO AOS DISCIPULOS DE ÉFESO Relato bíblico: Atos 18.24, 19.7

Texto chave: “Tendo ouvido isto, receberam o batismo em

nome do Senhor Jesus, e quando Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo veio sobre eles...“ (At 19.5-6)

Como eram as suas vidas, antes de receberem o dom do

Espírito? — Eram discípulos de João Batista (At 19.3) — Haviam sido batizados no batismo de João Batista (At

19.3-4) — Apolo, provavelmente, os orientou no caminho do

Senhor (At 18.24-25) — Eles tinham, porém, um cristianismo incompleto, pois não

conheciam o batismo de Jesus (At 18.25; 19.3) — E não tinham ouvido falar no Espírito Santo (At 19.2)

Que foi feito para eles receberem o dom do Espírito? — Paulo os orientou (At 19.2-4) — Eles foram batizados em nome do Senhor Jesus (At 19.5) — Paulo impôs as mãos sobre eles (At 19.6)

Que aconteceu, após eles receberem o dom do Espírito?

— Falaram em línguas (At 19.6) — E profetizaram (At 19.6)

Análise da Situação em que Foi Recebido o Dom do Espírito

Visto sistematicamente os dez relatos sobre o envio do

Espírito no Novo Testamento, procuraremos agora estudar estes derramamentos do Espírito. Podemos dizer, inicialmente, que todos os casos devem ser estudados dentro de sua situação especifica, pois só assim poderemos realmente compreendê-los.

Estes dez relatos se dividem em quatro situações diferentes: • Os que receberam a bênção antes de Jesus nascer

• O exemplo do próprio Jesus • Os que receberam a bênção no Pentecostes • Os que receberam a bênção após o Pentecostes.

Procuraremos, assim, colocar estes dez relatos dentro destas quatro situações.

I — OS QUE RECEBERAM A BÊNÇÃO ANTES DE JESUS NASCER No caso citado, foram somente dois: Isabel e Zacarias. Eles

viveram no período em que se aproximava o nascimento de Jesus. Agora vêm, então, algumas perguntas:

1 — Como eram suas vidas, antes de receberem o

Espírito Santo? A Bíblia afirma que ambos eram justos diante de Deus (Lc

1.6). Eles também seguiam corretamente os mandamentos de Deus (Lc 1.6). Deve-se registrar o fato de Zacarias ser sacerdote (Lc 1.5) e as suas orações serem ouvidas (Lc 1.13), o que mostra o seu grau de espiritualidade e sua aprovação por Deus. Algo que deve ser ainda acrescentado é que ambos iriam ser os pais de João Batista (Lc 1.13), o precursor de Jesus. Portanto, muitos fatores positivos teriam contribuído para que eles recebessem o

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Espírito Santo em suas vidas. 2 — Que foi feito para eles receberem o Espírito Santo? Podemos dizer que nada de especial foi feito! Nada foi feito com o objetivo de receber o dom do Espírito. Foi tudo de uma maneira natural e eles não cobiçavam isto! Isabel, por exemplo, recebeu o dom do Espírito, quando Maria, sua prima, foi visitá-la. Maria estava grávida de Jesus e quando esta chegou, a criança (João Batista), que estava no interior de Isabel, estremeceu de alegria e, então, Isabel ficou cheia do Espírito. Portanto, Isabel nada de especial fez. Deus lhe deu o Espírito por tudo que ela era anteriormente e também para se cumprir urna promessa do anjo: João Batista “ficará cheio do Espírito Santo ainda no seio de sua mãe” (Lc 1.15). Então, podemos até dizer, que para João Batista ficar cheio do Espírito, já, no seio materno, em preciso também Isabel ficar cheia do Espírito, o que de fato ocorreu: “Isabel ficou cheia do Espírito Santo” (Lc 1.41). E Zacarias? Zacarias também nada de especial fez para receber o Espírito Santo. Ele não planejou nem tinha esta intenção, de uma maneira declarada. Como ele veio a ficar cheio do Espírito? Ele estava mudo por “castigo”, pois, na verdade, duvidou que eles poderiam ter um filho naquela idade, como mostra o texto: “De que modo saberei disto? Pois eu sou velho e minha esposa é de idade avançada” (Lc 1.18).

O anjo, nesta ocasião, havia lhe dito, porém para ele colocar o nome de João na criança (Lc 1.13). Quando a criança nasceu. algumas pessoas queriam colocar o nome de Zacarias no menino (Lc 1.59). Isabel discordou e disse que a criança se chamaria João, ao que replicou alguém: “Em tua parentela não há ninguém que tenha este nome!” (Lc 1.61). Perguntado, Zacarias escreveu que a criança se chamaria João! Neste exato momento ele voltou a falar e passou a bendizer a Deus (Lc 1.63-64). Por que ele voltou a falar? Mui certamente porque acreditou na promessa de Deus de que aquele menino que ali estava era o prometido de Deus para ser o precursor de Jesus. Provavelmente, ele deve ter tido a tentação de aceitar o nome de Zacarias para a criança, mas ele

passou por cima disto tudo e creu na promessa de Deus, por isso, voltou a falar.

Foi isto que aconteceu, antes dele receber o Espírito Santo.

Logo a seguir o texto diz que Zacarias estava cheio do Espírito Santo (Lc 1.67). Outra tradução diz: “Zacarias, seu pai, encheu-se do Espírito Santo”. Portanto, nada programado ou de especial foi feito com o intuito de vir a receber o dom do Espírito. 3 — Que aconteceu, após receberem o Espírito Santo? Podemos dizer que dois tipos de dons foram dados a eles, sendo que um aconteceu duas vezes e o outro aconteceu somente uma vez. Isabel lhe teve revelado ser Maria a mãe do Senhor Jesus (Lc 1.42-43), pois ninguém lhe havia dito que Maria seria a mãe de Jesus Cristo. Posteriormente, ela profetizou que o que havia sido dito sobre o menino Jesus, se cumpriria (Lc 1.45). Já Zacarias profetizou, no momento de ficar cheio do Espírito (Lc 1.67). Em outras palavras, podemos dizer que foi dado a eles o dom de falar de maneira inspirada por Deus.

II — O EXEMPLO DO PRÓPRIO JESUS 1 — Como era sua vida, antes de receber o Espírito

Santo? Sua vida era totalmente cheia da graça de Deus. Ele já

havia sido concebido pelo Espírito Santo (Mt 1.20), portanto, antes de nascer, Deus, o Pai, já atuava na sua vida. João diz que “ele é o Verbo que se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14). Jesus cresceu também em sabedoria, graça e estatura, tendo a aprovação de Deus (Lc 2.52). Ele tinha consciência também de quem era realmente Filho (Lc 1.35; 2.49).

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Portanto, a vida de Jesus antes dele receber o Espírito Santo, era íntegra e voltada para Deus. Na verdade, não poderia ser diferente, pois ele era o próprio Deus (Jo 1.14).

2 — Que foi feito para ele receber o Espírito Santo?

Jesus teve que passar por tudo aquilo que o ser humano passa aqui na terra. Ele quis mostrar com isto que o que ele fez pode também ser conseguido por todas as pessoas. Por isso, ele aceitou passar também pelo batismo de João Batista, como todo o povo (Lc 3.21) e praticava a oração (Lc 3.21), como todo bom judeu.

O texto bíblico relata estes dois acontecimentos que

antecederam o recebimento do Espírito Santo, ou seja, o batismo e a oração. Cremos que fator importante também foi a obediência ao Pai e a humildade de Jesus, pois sendo Deus aceitou ser batizado por João Batista, como as outras pessoas.

3 — Que aconteceu, após Jesus receber o dom do Espírito? Os textos dos evangelhos não relatam nenhum dom sendo

dado a Jesus. Na verdade — afirmam alguns — Jesus não precisava receber nenhum dom. Ele como divino, como Deus, já sabia de tudo e podia tudo. Mas não podemos afirmar isto com exatidão. Logo à frente, o próprio Jesus diz que o Espírito o ungiu para libertar as pessoas, enfim, para realizar a sua missão, o que mostra que houve a necessidade de Jesus receber o Espírito Santo para realizar o seu ministério.

Mas, os textos relatam apenas que, logo após receber o

Espírito, este permaneceu nele (Jo 1.33). Ele foi também proclamado por Deus como Seu legítimo filho (Lc 3.22) e o próprio João Batista o reconheceu como Filho de Deus (Jo 1.34). Ele, posteriormente, foi levado ao deserto para a preparação do seu ministério (Lc 4.1-2), pois uma vez provado, poderia realizar sua missão. Portanto, após o recebimento do Espírito, Jesus não teve nenhuma manifestação sobrenatural na sua vida, a não ser a voz vinda do céu.

III — OS QUE RECEBERAM A BÊNÇÃO NO PENTECOSTES. Neste caso foram somente os discípulos de Jesus, mas através

de duas versões: apóstolo João (Jo 20.21-23) e Lucas (At 2.1-4).

Como entender estas duas “versões”? Nós temos que entender que o evangelho é “segundo”, ou seja, segundo a interpretação ou ênfase do evangelista. Lucas, por exemplo, que escreveu o evangelho de Lucas e Atos dos Apóstolos, narra com detalhes o nascimento de Jesus (Lc 2.1-20). Já o evangelho de João não dá ênfase a detalhes e sim procura ser objetivo na descrição do envio de Jesus ao mundo. Ele apenas diz que o Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1.14).

Por haver estas diferenças de ênfases, não quer dizer que a Bíblia está em contradição ou que Jesus nasceu duas vezes. A mesma coisa podemos dizer em relação ao envio do Espírito Santo. Enquanto Lucas dá muitos detalhes sobre o derramamento do Espírito (At 2.1-13), dizendo, inclusive, que isto aconteceu após Jesus subir aos céus (At 1.8), o apóstolo João não entra em detalhes. Ele é objetivo na sua narração (Jo 20.21-22) e diz ainda que o Espírito foi enviado, antes de Jesus subir aos céus. Tudo é questão de ênfase em algum fato, com emissão ou acréscimo de determinadas partes, a fim de que aqueles que recebessem o evangelho pudessem entender. Portanto, neste caso, foi só um o derramamento do Espírito, mas com duas ênfases diferentes.

2 — Que foi feito para eles receberem o Espírito o

Espírito Santo? Podemos dizer que num primeiro momento eles já eram

purificados (Jo 13.10) e tinham seus nomes escritos no Livro da vida (Lc 10.17-20). Eles já haviam sido batizados, pois batizavam (Jo 4.1-2; Mt 28.18-20).

Algumas dúvidas, porém, surgem se eles eram realmente convertidos, pois em Jo 14.1 Jesus pede que eles creiam nele, isto

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numa atitude salvadora. Jesus diz também que Pedro ainda se converteria (Lc 22.32) e ele mesmo negou a Jesus (Lc 22.51-62). Mas, nos momentos que antecederam ao recebimento do Espírito, tudo indica que as coisas estavam nos seus devidos lugares. Lucas diz que eles esperavam a promessa de Jesus (Lc 24 49: At 2.1). Eles viviam também em oração (At 1.14) e, na versão de João, eles exultaram ao ver o Senhor Jesus (Jo 20.20).

A descrença não havia mais, pois o próprio Pedro, em acontecimento posterior, relembraria o Pentecostes, dizendo que eles receberam o Espírito Santo porque creram em Jesus (At 11.17), o que confirma o que Jesus disse em Jo 7.39: “Ele falava do Espírito que, deviam receber os que nele cressem... “. Portanto, no momento que antecedeu ao recebimento do Espírito, suas vidas espirituais eram adequadas.

2 — Que foi feito para eles receberem o Espírito Santo? Segundo a versão de João, nada foi feito de especial, no

momento em que antecedeu ao recebimento do Espírito. A única coisa que é dita é que eles exultaram por ver o Senhor Jesus (Jo 20.20). Jesus, sim, fez algo para eles receberem o Espírito Santo: soprou sobre eles e disse “recebei o Espírito Santo” (Jo 20.22).

Já Lucas — autor de Atos — mostra toda uma preparação para o recebimento do Espírito. Eles estavam em oração (At 1.14) e esperavam a promessa (Lc 24.29; At 1.45; At 1.8; At 2.1). O elemento “crer” também é importante ressaltar, pois Pedro em outra ocasião diz isto (At 11.17).

É importante, porém, lembrar que estes acontecimentos

preparatórios para a vinda do Espírito não são sugeridos para seguir, como veremos nos próximos casos.

3 — Que aconteceu, após eles receberem o Espírito Santo? Segundo a versão do apóstolo João, não houve fenômeno

algum. Foram, sim, enviados em missão (Jo 20.21) e lhes foi dada

a autoridade ou o dom de perdoar pecados (Jo 20.23). Já na versão de Lucas aconteceram fenômenos: tiveram o dom de línguas e o evangelho foi anunciado a todos os povos ali presentes (At 2 4-13). Posteriormente, Pedro em sua pregação, diria que eles profetizaram (At 2.15-21), cumprindo assim a profecia de Joel.

Como resolver a questão: foram línguas ou profecias? A

conclusão que se chega é que este “ser cheio do Espírito” (At 2.4) — bem como Lc 1.41; Lc 1.67; At 4.8: At 4.31; At 7.55; At 9.17; At 13.9 — significa acima de tudo profetizar, ou seja, terem as suas palavras inspiradas por Deus. Portanto, Deus lhes concedeu a capacidade naquele momento de falar a linguagem dos povos ali reunidos e eles, então, profetizaram, ou seja, anunciaram os oráculos de Deus, através da inspiração divina.

IV— OS QUE RECEBERAM APÓS O PENTECOSTES A BÊNÇÃO Estes que viveram após o derramamento do Espírito no

Pentecostes se encontram em outra situação. Dividiremos em três grupos: • Os tementes a Deus • Os que creram em Cristo • Os que tinham um cristianismo incompleto. 1 — Os tementes a Deus Neste grupo se incluem os judeus e os gentios. a) Como eram as suas vidas, antes de receberem o

Espírito? Quando ocorreu o Pentecostes, os judeus foram contados,

juntamente com os outros povos ali reunidos, como “homens piedosos” (At 2.5), ou seja, que têm temor de Deus, que prestam devoção a Deus. Foi a estes que Pedro se dirigiu logo depois:

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“Homens da Judéia e habitantes todos de Jerusalém” (At 2.14), apesar destes terem “crucificado a Jesus” (At 2.36).

E os gentios que se incluem entre os “tementes a Deus”?

Além destes que se encontravam juntamente com os judeus, portanto também considerados “piedosos”, os gentios que estavam na casa de Cornélio, por ocasião do “Pentecostes dos Gentios”, eram também tementes a Deus.

Cornélio era chamado de “piedoso e temente a Deus” (At 10.2) e o texto diz mais: “com toda a sua casa” (At 10.2), o que significa parentes e criados. Podemos dizer que a situação destes é semelhante à de Isabel e Zacarias para receberem o Espírito Santo: todos eles eram piedosos e tementes a Deus. Porém, se isto bastou a Isabel e Zacarias, a situação após Jesus realizar a sua obra, exige algo mais: conversão! É o que veremos no item, logo a seguir.

b)Que foi feito para eles receberem o Espírito Santo? Com relação aos judeus, primeiramente, eles creram, se

convertendo (At 2.38, 41). Eles, posteriormente, foram batizados e tiveram os pecados perdoados (At 2.38, 41). Esta foi a promessa que Pedro fez a eles em sua pregação, logo, foi exatamente isto que foi feito para eles receberem o Espírito Santo, apesar de isto não ser falado no texto bíblico.

E os gentios? Com os gentios, Pedro também lhes disse

palavras de salvação (At 11.14; 10.44) e o elemento crer também foi necessário acontecer para eles receberem o Espírito (At 11.17). A diferença que existe entre os gentios e os judeus, neste caso, é que, enquanto os judeus primeiramente foram batizados para depois receberem o Espírito Santo, com os gentios aconteceu o contrário: primeiro eles receberam o Espírito Santo e, posteriormente, foram batizados (At 10.47-48), o que mostra que não há uma fórmula exata para receber o Espírito, em relação ao batismo.

c)Que aconteceu após eles receberem o Espírito Santo? No caso dos judeus, o texto não relata nenhum fenômeno

acontecido. A ênfase que o autor de Atos procura dar é em relação à vivência que os convertidos passaram a ter: se mostraram assíduos aos ensinamentos dos apóstolos, à comunhão fraterna, participando da ceia e praticando a oração (At 2-42).

Parece que o ato do recebimento do Espírito não foi tão

importante destacar, preferindo Lucas descrever como viviam, após a conversão e o recebimento do Espírito, o que na verdade deve servir como exemplo para nós.

Dizer que eles não receberam o Espírito Santo, não tem

fundamento! Quem antes consentiu na morte de Jesus e agora passa a viver em comunhão fraternal, em oração e participando da ceia e dos ensinamentos acerca de Jesus, teve ou não teve uma mudança radical em sua vida? Isto é obra de quem? É evidente que só pode ser do Espírito Santo!

E aos gentios, que aconteceu? Já os gentios tiveram alguns

fenômenos, após receberem o Espírito do Senhor em suas vidas: falaram em línguas e glorificaram a Deus (At 10.46). Por que aconteceram estes fenômenos? Alguns autores afirmam que isto foi permitido por Deus para mostrar que o “Pentecostes dos gentios” foi igual ao “Pentecostes dos judeu-cristãos”, ou seja, teve o mesmo valor. Isto parece que tem um fundo de verdade, pois Pedro, posteriormente, teve que ter bons argumentos para justificar todo o seu procedimento (At 11.1-18), embora ele não use o argumento “línguas estranhas” para provar que eles receberam o Espírito.

2 — Os que creram em Cristo Os Samaritanos e Paulo sã colocados como sendo casos

semelhantes porque ambos creram em Cristo e, depois, alguém teve que chegar até eles para estes receberem o dom do Espírito.

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a) Como eram as suas vidas, antes de receberem o

Espírito? Os samaritanos esperavam a vinda do Messias (Jo 4.25-30),

como os judeus naquele tempo. Quando Filipe lá chegou, anunciando Jesus Cristo, eles acreditaram na sua pregação e receberam o batismo (At 8.12). Portanto, antes de receber o Espírito, eles já eram convertidos e batizados.

E a situação anterior de Paulo? Paulo tem apenas a parte

negativa de ter perseguido os cristãos e ter consentido na morte de Estevão (At 8.1; At 9.1). Quando procurava perseguir outros, ele teve o encontro com Jesus (At 9.3-6) e certamente a sua conversão. O texto à frente diz que ele orava (At 9.11) e certamente jejuava (At 9.19).

Portanto, os samaritanos e Paulo eram, na verdade,

cristãos, antes de receberem o dom do Espírito. b) Que foi feito para eles receberem o Espírito Santo? Nos dois casos, foi enviado alguém para eles receberem o

dom do Espírito: aos samaritanos foram Pedro e João (At 8.14) e a Paulo foi enviado Ananias (At 9.17). No caso de Paulo, o texto só nos permite dizer que Ananias impôs as mãos sobre ele, isto para ele recuperar a vista e ficar cheio do Espírito (At 9.17). Assim, nos dois casos houve imposição das mãos. Seria esta a atitude a tomar com aqueles que não receberam o dom do Espírito no momento de crerem? Isto parece ter um fundo de verdade, pois com os discípulos de Éfeso — como veremos adiante houve o mesmo procedimento.

c) Que aconteceu após eles receberem o Espírito Santo? Em Samaria o texto não relata que houve algum fenômeno.

O único fato interessante a notar é que foi percebido, através da visão, que eles receberam o dom do Espírito (At 8.18), a ponto de

Simão, o magno, desejar comprar o poder de conceder o Espírito Santo (At 8.18-19).

Levantar indagações sobre como seria este “ver” por Simão,

o magno, seria mera especulação. Não se pode dizer que ele viu por ser “línguas estranhas” que eles falavam, pois o texto apenas diz que “viu que o Espírito Santo era dado pela imposição das mãos dos apóstolos” (At 8.18). Além do mais, no caso teria que ser “ouvir” e não “ver”, como aconteceu no Pentecostes: “Pois cada qual os ouvia falar em sua própria língua” (At 2.6).

Dizer que este “ver” significa que ele “observou” também

não tem base alguma, pois a palavra no original grego — oram — significa olho, vejo, contemplo. Portanto, as evidências maiores são que não houve mesmo manifestação sobrenatural. E no caso de Paulo?

No caso de Paulo, o texto bíblico mostra a promessa de Ananias a Paulo, dizendo que ele receberia o Espírito Santo (At 9.17), mas depois nem relata o momento que ele recebeu o dom do Espírito. Isto, porém, não nos impede de chegar à conclusão de que este fato aconteceu, pois Ananias disse que ele receberia, pois esta era a vontade do Senhor. Ananias lhe disse que ele recuperaria a vista e ficaria cheio do Espírito. Ele recuperou a vista, quando Ananias lhe impôs as mãos — e imposição das mãos é um meio de comunicar o Espírito — logo ele recebeu também esta bênção.

Que aconteceu após?

Ele foi batizado (At 9.18), alimentou-se e se sentiu reconfortado (At 9.19). Paulo passou também alguns dias com os discípulos (At 9.19) e o mais importante: ele passou a pregar que Jesus é o Filho de Deus (At 9.20).

Não há muito indício de que aconteceu algum fenômeno.

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Tudo indica que houve, sim, capacitação para ele pregar o evangelho. Se houve algum dom dado a Paulo naquele momento, este foi profecia ou o dom dele falar inspirado por Deus. Este ser “cheio” do Espírito tem este sentido e o texto diz que ele passou a pregar nas sinagogas que Jesus é o Filho de Deus. Mais à frente, em outra ocasião, o texto mostra Paulo falando inspirado por Deus: “Paulo, cheio do Espírito Santo, fixou nele o olhar, e disse: Ó filho do diabo, cheio de toda a falsidade e malícia, inimigo de toda justiça, não cessas de perverter os caminhos do Senhor, que são retos? Eis que agora o Senhor faz pesar sobre ti a sua mão...“ (At 13.9-11). Aqui mostra que Paulo estaria fazendo o mesmo que fez, após receber o dom do Espírito. Inicialmente, o texto não nos permite identificar que houve algo com Paulo. Se houve, foi o dom de falar inspirado por Deus, ou seja, profecia.

3 — Os que tinham um cristianismo incompleto Aqui se incluem unicamente os discípulos de João Batista,

que Paulo encontrou em Éfeso. a) Como eram as suas vidas, antes de receberem o dom do

Espírito? Eles eram discípulos de João Batista (At 19.3). Eles já haviam sido também batizados, só que num batismo que tinha o objetivo de levar ao arrependimento e a intenção de preparar um povo para a vinda do Messias (At 19.4).

Parece que Apolo os orientou no caminho do Senhor (At 18.24-25) ou pelo menos tentou. Tudo indica que ele era entusiasmado, mas faltavam alguns conhecimentos básicos do cristianismo. Tanto é verdade que “Priscila e Áquila, que o tinham ouvido, tomaram-no consigo e lhe expuseram mais exatamente o Caminho” (At 18.26). Este Apolo teria estado com os discípulos de Éfeso, mas não deve ter dado ensinamento sólido a estes discípulos, pois ele carecia também deles. Assim, tudo indica que eles tinham um cristianismo incompleto, pois não conheciam o batismo de Jesus (At 18.25; 19.3-4) e nem conheciam o Espírito

Santo (At 19.2). Portanto, estes discípulos eram piedosos, mas faltavam alguns elementos para se tornarem verdadeiros cristãos.

b) Que foi feito para eles receberem o dom do Espírito? Tudo começou com a pergunta de Paulo: “Recebeste o

Espírito Santo quando abraçastes a fé?” (At 19.2). Como não haviam recebido, Paulo lhes pergunta agora sobre o batismo que tinham sido batizados, o que dá a entender que há uma ligação entre os dois, embora não se possa afirmar isto com exatidão e na conclusão — última parte do livro — veremos realmente que não é bem assim. O que se pode dizer é que de início Paulo percebeu que havia algo errado com eles. Por isso, ele tomou algumas medidas: orientou-lhes (At 19.2-4); foram batizados em nome de Jesus Cristo (At 19.5) e Paulo impôs as mãos sobre eles (At 19.6), quando eles, então, receberam o dom do Espírito.

c) Que aconteceu após eles receberem o Espírito Santo? Diferentemente dos gentios e semelhantemente ao

Pentecostes, eles receberam dois tipos de dons: línguas e profecia (At 19.6). Portanto, neste caso houve manifestação sobrenatural. Este fato ocorreu cerca do ano 55 d.C., ou seja, uns 25 anos após o Pentecostes em Jerusalém. Mostrando que os dons não devem ser o objetivo maior do cristão, Paulo, cinco anos após este derramamento do Espírito, escreve sua carta aos efésios pedindo que eles busquem a plenitude do Espírito (Ef 5. 18), ou seja, que se encham plenamente da presença e graça de Deus em suas vidas. Outros conselhos, em relação ao Espírito, Paulo daria também aos efésios: “sejais fortalecidos em poder pelo seu Espírito” (Ef 3.16) e “não entristeçais o Espírito Santo de Deus” (Ef 4.30). Ele diria também para “orai em todo tempo, no Espírito” (Ef 6.18). Assim, ao receberem o “batismo do Espírito”, temos outros alvos a alcançar e cuidados a tomar em relação ao Espírito.

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As Quatro Conclusões Fundamentais

Este estudo sobre o derramamento do Espírito, pelo menos em dez casos no Novo Testamento, nos leva a algumas conclusões, que julgamos essenciais:

1 — Nem todo caso se aplica a nós hoje Não se pode de maneira alguma pegar um exemplo de

recebimento do Espírito e transportá-lo para hoje, querendo aplicá-lo às pessoas, sem ver as circunstâncias que levaram a tal acontecimento, naquela época. Se fizermos isto, correremos o risco de seguirmos um exemplo passado, que não se aplica mais a nós hoje e poderemos causar também frustração ou descrença em algumas pessoas.

Mas alguém pode dizer: a Bíblia não é para ser seguida? Sim! Mas assim como não poderemos desejar que todos tenham a conversão, semelhante ao apóstolo Paulo na estrada de Damasco, pois as conversões acontecem em situações diferentes, no mesmo sentido, o recebimento do Espírito acontece em situações diferentes.

Os casos de Isabel e Zacarias, por exemplo, foram em situações especiais. O recebimento do Espírito aconteceu, antes mesmo de Jesus Cristo — aquele que enviaria o dom do Espírito aos discípulos — vir a este mundo.

Mas como se pode receber o dom do EspÍrito, antes dele ser enviado por Jesus? Acontece que o Espírito sempre existiu. Na própria formação do mundo, ele já agia: “O Espírito de Deus pairava por sobre as águas” (Gn 1.2). A diferença que existe é que, antes do envio do Espírito por Jesus, ele só agia nas pessoas em ocasiões especiais e para determinados fins. O Espírito não permanecia na pessoa. Sua permanência era temporária.

A partir de Jesus, a situação muda e a ação do Espírito é ampliada. Com Jesus o Espírito Santo já permanece nele. Foi

assim que Deus falou a João Batista: “Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer...” (Jo 1.33).

Mas com os discípulos foi a mesma coisa?

Com os discípulos aconteceria o mesmo: “...ele vos dará outro Consolador para que convosco permaneça para sempre” (Jo 14.16). Por isso, Paulo mais tarde diria: “Se o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos habita em vós...” (Rm 8.11). Portanto, o caso de Isabel e Zacarias está mais para o período do Antigo Testamento do que para o Novo Testamento. Querer que aconteça o mesmo às pessoas hoje — seguindo os passos de Isabel e Zacarias — é querer repetir a história. O caso de Jesus também foi um caso único! Talvez, o exemplo dele pudesse ser seguido por nós, sem porém, desejar que todos tenham o mesmo tipo de experiência. O empecilho grande para seguirmos o exemplo de Jesus — exemplo de recebimento do Espírito — é que a descida visível do Espírito sobre Jesus era um acontecimento que Deus havia predeterminado, a fim de que João Batista reconhecesse aquele que batiza com o Espírito Santo Assim diz o texto: Aquele que me enviou para batizar com água, disse-me: “Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer é quem batiza no Espírito Santo” (Jo 1.33). Parece, então, que todo um acontecimento estava programado. Querer imitar isto hoje é não entender a ação de Deus na história. Na verdade, os casos ocorridos antes e no Pentecostes, não podemos desejar que se repitam da mesma maneira hoje.

Acreditamos que o Espírito possa vir e ser derramado sobre grupos de pessoas — à semelhança do Pentecostes — e se for da vontade de Deus, haver distribuição de dons. Mas devemos lembrar que, no caso de Pentecostes, houve também toda uma preparação especial para se receber o Espírito prometido por Jesus. Os fenômenos que aconteceram estavam relacionados com a presença das pessoas de diferentes nações: “Achavam-se então

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em Jerusalém homens piedosos de todas as nações...” (At 2.5). O dom de línguas foi dado naquele momento com um objetivo: “Cada qual os ouvia falar em sua própria língua” (At 2.6). O quê? Os próprios estrangeiros responderam: “Ouvimo-los em nossa língua apregoar as maravilhas de Deus” (At 2.11).

Querer que a história se repita hoje é, praticamente,

impossível! Portanto, dizer que, seguindo os passos dos discípulos, acontecerão os mesmos fenômenos, é não entender a ação de Deus nos acontecimentos da vida.

Os casos, sim, após Pentecostes — quando o Espírito já

havia sido dado, que é a situação que vivemos hoje — têm muito mais probabilidade de se repetir, sem desejar contudo que seja xerox, o seja, que o recebimento do Espírito por nós sela em tudo igual aos acontecimentos do Novo Testamento.

Quais foram os casos pós Pentecostes? Foram: judeus (At 2.38-42); samaritanos (At 8.14-17); Paulo

(At 9.17-20); gentios (At 10.44-45) e discípulos de Éfeso (At 19.1-6). Mas todos estes casos poderiam também ser repetidos hoje? Cada caso é um caso! Portanto, devemos analisar também com cuidado as circunstâncias que os levaram a receber o Espírito, embora possamos dizer que os acontecimentos após o Pentecostes se aproximam mais de nós.

Há dois casos, que aconteceram em circunstâncias

especiais, que acreditamos não serem fáceis se repetirem hoje: o caso dos gentios e o caso dos discípulos de João Batista, em Éfeso. Por que? No recebimento do Espírito Santo pelos gentios, havia nitidamente a intenção de haver certo acontecimentos semelhantes ao do Pentecostes, a fim de que assim ficasse provado que em tudo - gentios foram merecedores também da atenção e favor divino. Tanto é verdade que por causa deste acontecimento, posteriormente Pedro foi acusado pelos de

Jerusalém: “Entraste em casa de incircuncisos e comestes com eles?” (At 11.3). Aí Pedro teve que ter bons argumentos — o que teve — para convencer os discípulos de que os gentios também foram merecedores do favor divino.

Pedro procurou mostrar que o “Pentecostes dos gentios” foi semelhante ao Pentecostes dos discípulos. Ele fez isto através de comparações: “Quando, porém, comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós no princípio...“ (At 11.15). Em outro momento, ele fez também a comparação: “Pois se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós outorgou quando cremos no Senhor Jesus...“ (At 11.17). No final, os discípulos se convenceram: “Deus, portanto, concedeu também aos gentios a conversão que conduz à vida” (At 11.18). Assim, podemos dizer que Deus permitiu uma situação para mostrar que os gentios também têm iguais direitos diante dele.

Hoje, porém, a situação é diferente daquela época: não é só os judeus que são cristãos. Em quase todo o mundo o evangelho já foi anunciado por isso o cristianismo existe em quase todos os países. Cremos que não é mais necessário Deus conceder os mesmos direitos a um determinado povo, a fim dele então ser visto como igual a todos. Isto já está mais do que provado! As bênçãos, misericórdias, dons, etc., têm sido dados a todos aqueles que crêem em Jesus Cristo, independente da cor, raça, sexo e cultura. Por esta razão, dizemos que este caso, dificilmente, poderia também servir como exemplo para ser seguido por aqueles que ainda não são cristãos.

E no caso dos discípulos de João Batista, em Éfeso? Lá há

também certos fatos que dificilmente se repetem hoje! Hoje nós não temos por aí discípulos de João Batista, que tinham um cristianismo incompleto. Há, sim, pessoas que pertencem a determinadas seitas ou mesmo Igrejas que desconhecem a existência do Espírito Santo. Há pessoas também que não foram batizadas no nome de Jesus Cristo. No caso dos discípulos de

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João Batista, estes dois fatos ocorreram. Paulo, porém, não pediu que eles se convertessem, pois eles já criam em Jesus (At 19.4).

Este caso, então, só se aplicaria às seguintes pessoas: os que

creram em Jesus mas que não conhecem o Espírito Santo e nem também foram batizadas em nome de Jesus Cristo. Podemos dizer, então, que havendo caso semelhante, ele poderia servir de exemplo para hoje.

Sobram agora três casos: judeus, Paulo e samaritanos!

Estes três se aproximam mais da situação que vivemos hoje, ou seja, daqueles aos quais iremos evangelizar. Por quê? Nos três casos, houve necessidade de conversão, antes deles receberem o dom do Espírito. Nos três casos, eles também não eram ainda batizados, em nome de Jesus Cristo. Nos três casos, eles não haviam recebido ainda o Espírito Santo. Isto está bem perto de nossa realidade de Missões da Igreja! Então, podemos dizer que crer e ser batizado em nome de Jesus Cristo, são fundamentais para se receber o dom do Espírito, sem contudo, colocarmos o batismo como necessário para vir a receber o Espírito Santo.

2 — Não há um dom predeterminado para se receber Dizer que todo aquele que é “batizado com o Espírito Santo” tem

que falar em línguas, é uma aberração bíblica. Isto foi espalhado em 1900, nos EUA, por Charles Fox, um evangelista de origem metodista. Como as Igrejas chamadas pentecostais chegaram ao Brasil, a partir de 1910, esta idéia foi trazida e espalhada por aí.

Mas será isto verdade mesmo? Dos dez relatos aqui analisados, eis o que se apurou:

• Em cinco casos não houve manifestação de nenhum dom.

Estes casos são: Jesus (Lc 3.21-22); discípulos de Jesus, na versão de João (Jo 20.21-23); judeus (At 2.38-42); Paulo (At 9.17-20) e samaritanos (At 8.14-18).

• Em quatro casos houve distribuição do dom de profecia. Estes casos são: Isabel (Lc 1.45); Zacarias (Lc 1 .67);

discípulos de Jesus, na versão de Lucas (At 2. 14-17) e discípulos, em Éfeso (At 19.1-6).

• Em três casos houve distribuição do dom de línguas.

Estes casos são: discípulos de Jesus, na versão de Lucas (At 2.1-13); gentios (At 10.44-45) e discípulos, em Éfeso (At 19.1-6).

• Em um caso houve distribuição de dom de revelação. Este caso é: Isabel (Lc 1.41).

Se formos considerar que o apóstolo Paulo recebeu o dom de profecia (At 9.17-20), então, este dom ficaria em primeiro lugar nesta lista.

Portanto, não se pode dizer que só tendo um determinado dom é que se é “batizado com o Espírito Santo”. A proporção maior é não acontecer nenhum fenômeno ou distribuição de dons, no momento de se receber o Espírito Santo. Se tivéssemos que determinar um dom, no recebimento do Espírito, este não seria também o dom de línguas e sim de profecia, pois este é, em proporção, maior.

Paulo, posteriormente, explicaria que nós não podemos determinar o tipo de dom que iremos receber, pois “o único e mesmo Espírito que o realiza, distribuindo a cada um os seus dons, conforme lhe apraz” (1 Co 12.11)

Escrevendo aos romanos, Paulo diria também que temos “dons diferentes, segundo a graça que nos foi dada” (Rm 12.6). Isto é, os dons são dados conforme a necessidade local e do momento. Assim, o evangelho poderá ser anunciado e consolidado, de maneira integral.

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Voltando ao caso atrás, diríamos também que naqueles que já tinham o Espírito Santo, a proporção maior é falar em profecias. Pedro, após o Pentecostes assim procedeu: “Pedro, cheio do Espírito Santo, respondeu (At 4.8). Paulo também: “Paulo cheio do Espírito Santo, fixou nele o olhar, e disse...“ (At 13.9). Este “cheio do Espírito” significa acima de tudo falar inspirado por Deus ou por profecia. Assim, se recebermos um dom, será dado conforme o Espírito desejar e não conforme queremos!

Nos três casos que poderiam servir como exemplo para nós

— judeus, samaritanos e Paulo — não houve descrição de nenhum fenômeno. Pode ser até que tenha ocorrido, mas o autor de Atos dos Apóstolos não julgou importante relatar. Como ele foi inspirado por Deus, cremos que esta foi a vontade do Pai.

3 — Crer é essencial para recebermos o Espírito Santo Dizer que temos que fazer isto e aquilo para recebermos o

dom do Espírito, não é nada correto. A Bíblia procura deixar claro que o Espírito é um dom de Deus, ou seja, é algo que nos é dado, não por merecimento, mas sim por livre graça de Deus. É um dom gratuito de Deus (cf At 2.38; 10.45; 11.17; 15.8; Jo 3.34;Rm 5.5,etc.). Quem desejou “comprar” este dom de Deus foi repreendido: “Pereça o teu dinheiro, e tu com ele, porque acreditaste ser possível com dinheiro comprar o dom de Deus” (At 8.20).

A Bíblia fala, sim, que Deus dará o Espírito Santo àqueles

que crerem (Jo 7.39; Ef 1.13; Gl 3.14; At 11.17, etc.). Este “crer” significa, no original grego: confiança salvadora em Jesus Cristo! Isto é, não é crer que se receberá o Espírito Santo e sim crer em Jesus Cristo como nosso Salvador pessoal.

Não há ênfase na Bíblia — após o Pentecostes — de se converter a Jesus Cristo e depois passar a pedir o Espírito Santo. Pedro mesmo disse, deixando isto bem claro: “Convertei-vos, e

seja cada um de vós batizado em nome de Jesus Cristo, para a remissão de pecados, e recebereis, então, o dom do Espírito Santo” (At 2.38).

Quando a pessoa crê e não recebe o Espírito é, então, porque alguma coisa está errada em sua vida espiritual. Talvez, não houve crença total ou entrega completa de sua vida a Jesus Cristo. Assim, foi com os discípulos, em Éfeso, que tinham um cristianismo incompleto, pois nem sabiam que havia o Espírito Santo e não haviam sido batizados em nome de Jesus Cristo (At 19.1-4). Paulo, então, precisou fazer o complemento, a fim que eles recebessem o dom do Espírito. Lá Paulo, inicialmente, lhes perguntou se eles haviam recebido o Espírito Santo, quando creram (At 19.2), o que mostra que isto é o normal.

Em Samaria aconteceu fato semelhante, pois eles haviam

crido e sido batizados, mas não haviam recebido o Espírito Santo. Será porque acreditavam ainda um pouco em Simão, o mago? Provavelmente sim, pois ele havia impressionado o povo daquela região: Toda gente lhe dava ouvidos, desde o menor até ao maior, dizendo: “Este é o poder de Deus, que se chama Grande” (At 8.10). Talvez isto acontecesse com eles ainda. O que é claro é que o texto bíblico mostra que algo estaria errado lá em Samaria: “Estes desceram, pois, para junto dos samaritanos e oraram por eles, a fim de que recebessem o Espírito Santo. Porque ainda não viera sobre nenhum deles... “(At 8. 15-16). Este “ainda” indica que era para ele ter vindo... O fato dos apóstolos terem ido lá mostra que algo anormal havia acontecido.

Algo interessante e polêmico — é que, nestes dois casos,

em nenhum momento o texto diz que eles, os que haviam crido, oraram pedindo que viesse o Espírito Santo. Mostra, sim, o Espírito sendo dado por intermédio da imposição das mãos dos apóstolos, que oraram para que ele viesse. Parece claro, então, que não há ênfase de aquele que crer ter que passar a pedir o Espírito Santo.

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Mas Jesus não disse em Lucas 11.13 que daria o Espírito aos que lhe pedissem? Sim, disse! Porém, ele estava se referindo aos seus discípulos (Lc 11.1), que não tinham ainda recebido o Espírito, pois Jesus não havia ainda sido glorificado e, por isso, não havia enviado o Espírito Santo. Posteriormente, Jesus diria para eles esperarem a promessa do Pai (Lc 24.49), o que aconteceu, certamente orando (Lc 1.14) e pedindo que a promessa viesse logo.

Após o Pentecostes, não há ênfase alguma na Bíblia sobre o

pedir o Espírito Santo. Assim como o Messias era esperado e os judeus oravam pedindo que ele viesse, assim também Jesus pediu que orassem para que o Pentecostes acontecesse. O Messias — Jesus — vindo, não se precisou mais pedir que ele viesse. A questão, então, era se tornar seu discípulo, crendo que ele era o Filho de Deus, nosso Salvador. A mesma coisa se aplica ao Espírito Santo. Ele foi dado no Pentecostes e agora ele sopra onde quiser. O que se tem que fazer agora não é pedir que o Espírito venha, pois ele já veio, e sim crer em Jesus Cristo como Senhor e Salvador e “recebereis, então, o dom do Espírito Santo” (At 2.38).

Em resumo: os dois já vieram e fizeram a sua obra — e

continuam realizando. Crendo em Jesus, recebe-se o Espírito Santo. Mas como explicar em At 4.31 — após o Pentecostes — que mostra os discípulos orando para receber o Espírito Santo?

Acontece que o texto não diz que eles oraram pedindo o

Espírito Santo e nem podiam fazê-lo, pois eles já tinham o Espírito (At 2.4), que segundo Jesus foi dado “para que convosco permaneça para sempre” (Jo 14.16). O que aconteceu é que eles se sentiam ameaçados pelas autoridades judaicas (At 4.29) e pediram ao Senhor que lhes fortalecesse e capacitasse para que pudessem pregar o evangelho com toda confiança” (At 4.29).

Mas por que eles ficaram cheios do Espírito? Este ser cheio do Espírito — como já foi explicado — significa “falar inspirado por Deus” ou por profecia. O texto mesmo diz: “Ficaram cheios do

Espírito e puseram-se a anunciar a Palavra de Deus com firmeza” (At 4.31).

O mesmo aconteceu a Pedro anteriormente: “Pedro, cheio do Espírito, respondeu...“ (At 4.8). Estevão, em situação difícil, à semelhança dos discípulos em At 4.31 e de Pedro em At 4.8, teve o mesmo procedimento: “Ele, porém, cheio do Espírito Santo, olhando para o céu, viu a glória de Deus e Jesus de pé a direita de Deus, e disse...” (At 7.55). Paulo em situação também difícil, disse em ocasião posterior: Paulo, cheio do Espírito Santo, fixou nele, o olhar, e disse: “Ó filho do diabo...“ (At 13.9).

Assim, este “ser cheio do Espírito” nestas ocasiões — e em

Lc 1.41; 1.67; At 2.4; 9.17 — significa que Deus lhes concedeu o dom de profecia ou a capacidade de falar inspirado por Deus, com toda ousadia. Isto pode acontecer no momento de receber o Espírito, bem como em ocasiões que a situação “exige”, a fim de que a Palavra de Deus seja pregada e se dê testemunho do Senhor Jesus.

Após o Pentecostes, sim, a Bíblia recomenda que se busque

a plenitude do Espírito (Ef 5.18), que é ser diferente de ser “batizado com o Espírito Santo”. Ser batizado com o Espírito, na verdade, é o mesmo que “receber o Espírito” (Gl 3.14). É o mesmo que “dom do Espírito” (At 11.17). Este termo, porém, só é usado em comparação ao batismo de João Batista, mostrando a superioridade de Jesus (cf Lc 3.16; At 1.5; At 11-16-17). Quando não há necessidade de se fazer a comparação, os termos usados são outros.

Já plenitude do Espírito significa o “fim de um curso”; “o último de uma série”, mostrando assim que ele é superior ao batismo no Espírito. Tanto é verdade que os efésios já haviam recebido o Espírito Santo, já haviam sido “batizados com o Espírito” (cf At 19. 1-7; Ef 4.30) e Paulo ainda recomenda que busquem a plenitude do Espírito (Ef 5-18).

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A plenitude do Espírito significa também o “elemento que

completa”, unificando e harmonizando. Por isso, logo após Paulo falar em plenitude do Espírito, ele mostra o motivo desta recomendação: “falai uns aos outros com salmos e hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando ao Senhor em vosso coração, sempre e por tudo dando graças a Deus, o Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Submetei-vos uns aos outros...” (Ef 5.19-21). Esta plenitude, que unifica e harmoniza, era a solução para que isto acontecesse.

A plenitude do Espírito, então, sim, deve-se buscar, através de orações e súplicas. O cristão não deve se contentar apenas com o recebimento do Espírito, mas deve procurar ser completamente cheio dele, pois as vitórias serão maiores.

Outra coisa que o cristão — aquele que já tem o Espírito Santo — deva procurar fazer é ser “fortalecido com poder, mediante o seu Espírito no homem interior” (Ef 3.16).

Às vezes, os problemas e as lutas da vida “apagam” um pouco a ação do Espírito em nossa vida. O que devemos fazer, então, é nos renovarmos e nos fortalecermos, nos abrindo mais à ação do Espírito. Isto deve ser feito também com orações e súplicas... Como os apóstolos se renovaram para a Missão (At 4.31), assim nós hoje podemos ser renovados e fortalecidos pela ação e poder do Espírito.

Mas, então, por que há cristãos que buscam o “batismo com

o Espírito” e o conseguem? O que há são pessoas que julgam ou são “condicionadas” a achar que, falando em línguas, receberam Espírito ou foram “batizadas”. Assim, muitas vezes, o condicionamento leva estas pessoas a falarem um amontoado de palavras sem sentido, que julgam ser “línguas estranhas”. Não estamos combatendo o dom de línguas, pois acreditamos que este

dom pode existir ainda hoje. Combatemos a falsa “língua estranha”.

Na verdade, o que acontece, muitas vezes, são pessoas que são “fortalecidas em poder” pelo Espírito, ao pedirem em oração e súplica. O que há são pessoas que alcançam a “plenitude do Espírito”. Muitos não sabem o que pedem. Se Deus fosse olhar para os termos errados em que falamos, ele deixaria de nos dar muita coisa! Mas no seu amor, na sua misericórdia, ele nos dá uma determinada bênção, apesar de darmos outro nome a esta experiência.

Não pode haver cristão, sem o Espírito Santo! Paulo já dizia

isto: “Quem não tem o Espírito de Cristo, não pertence a ele” (Rm 8.9). O que pode haver, neste caso, é ter pessoas cristãs, que não sabem que têm o Espírito Santo, por ignorância ou falta de esclarecimento.

O Espírito é Deus em nós! O Espírito é Jesus Cristo — o Deus encarnado — em nossa vida! Se o aceitarmos pela fé, ele passa a habitar em nossa vida: “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em casa, e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3.20).

Será certo dizer que temos, ao mesmo tempo, Jesus e o

Espírito em nossa vida? Não! O que temos é um só: Deus — Espírito Santo em nosso coração. A dificuldade que surge é que muitos dizem que aceitaram a Cristo e agora precisam receber o Espírito Santo. Jesus esclarece isto, dizendo: “O Espírito da Verdade, que o mundo não vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós” (Jo 14.17). Jesus habitava com eles corporalmente, mas depois habitaria nas suas vidas, através do Espírito. Por isso, ele completa: “Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros” (Jo 14.18). Paulo confirma: “O Senhor é o Espírito” (2Co 3.17), mostrando assim que o Espírito Santo é o Senhor Jesus Cristo, agora em nossa vida.

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4 — O Espírito opera nas pessoas de maneira diferente Algo que se costuma fazer, mas que não se pode, é

determinar os fatos que ocorrerão no recebimento do Espírito. O Espírito Santo age como, onde e quando quiser.

No Pentecostes o texto diz que “de repente, veio do céu um

ruído semelhante ao soprar de impetuoso vendaval (At 2.2). No Pentecostes dos gentios também o recebimento do Espírito foi de uma maneira inesperada: “enquanto Pedro falava, o Espírito Santo caiu sobre todos os que ouviam a Palavra” (At 10.44).

Mas, enquanto nestes casos houve estes acontecimentos

semelhantes, os fenômenos foram diferentes: no Pentecostes ouve ruído, mas no caso dos gentios, samaritanos e outros, não houve. No Pentecostes houve línguas e, certamente, profecia, mas com os judeus, Paulo e outros, não houve fenômenos.

Portanto, não se pode determinar os fatos que ocorrerão,

colocando-se uma regra geral. Deus age de forma diferente nas pessoas, ao dar o seu Espírito. Wesley, avivador do cristianismo na Inglaterra no século XVIII, disse: “Muitos o encontram derramando-se sobre eles como uma torrente enquanto experimentam o poder dominador da graça salvadora... Mas ele opera em outros de maneira muito diferente; ele exerce a sua influência de maneira delicada, refrescante como o orvalho silencioso”. (12)

Também não se pode colocar uma regra geral sobre o batismo. No caso dos judeus, Pedro disse que após o recebimento do batismo, eles teriam o Espírito Santo: “... e seja cada um de vós batizados, e recebereis, então, o dom do Espírito Santo” (At 2.38). Já no caso dos gentios, porém, eles foram batizados, após receberem o dom do Espírito: “Pode-se, porventura, recusar a água do batismo a esses que, como nós, receberam o Espírito Santo?” (At 10.47). O texto aqui não indica que o Espírito age

quando quiser? No caso também da imposição das mãos, não se pode colocar uma regra geral!

Em alguns casos houve imposição das mãos para a pessoa receber o dom do Espírito. No caso dos samaritanos foi assim: “Impunham-lhes, pois as mãos, e eles recebiam o Espírito Santo” (At 8.17). No caso dos discípulos em Éfeso (At 19.6) e do próprio Paulo (At 9.17) também houve imposição das mãos. No caso, porém, dos discípulos no Pentecostes (At 2.1-4) e dos gentios (At 10.44-45) não houve imposição das mãos.

Estabelecer uma regra geral para estes casos, portanto, é muito perigoso! Mas, baseado nos três casos — judeus, samaritanos e Paulo — que se aplicariam hoje àqueles que ainda não são cristãos, pode-se estabelecer uma regra geral?

Pode-se dizer o seguinte:

• Sobre a imposição das mãos

Em dois casos — samaritanos e Paulo — houve imposição das mãos para receber o Espírito Santo, mas no caso dos judeus não se pode afirmar, categoricamente, que houve imposição das mãos.

• Sobre o batismo

Em dois casos — judeus e samaritanos — houve recebimento do Espírito, após o batismo, mas certamente com Paulo foi o contrário.

• Sobre o crer para receber o Espírito

Nos três casos — judeus, samaritanos e Paulo — houve crença em Jesus Cristo para o recebimento do Espírito Santo.

Assim, a única afirmação correta que se pode fazer — e para isto há as bases bíblicas de Jo 7.39; At 11.17; Ef 1.13; Gl 3.2; 3.5; 3.14; Ef 4.30, etc. — é que crendo em Jesus como Senhor e Salvador, recebe-se o dom do Espírito. Crer é elemento

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fundamental em todos, mas o Espírito opera nas pessoas como ele desejar.

CITAÇÕES: 1 — JONES, s., O Cristo de Todo. os Caminho., São Paulo,

Imprensa Metodista, 168, p. 44. 2 — BOPF, 1,. Jesus Cristo Libertador, Ri, Editora Vozes 1974, p,

19. 3 — TAYLOR. W. Carisma em Dicionário do Novo Testamento

Grego, RJ, Casa Publicadora Batista, 1965, p. 213. 4 — Ibtd., p. 131-2 5 — IbId., P 34 6 — Ibld., p. 208. 7 — A Bíblia de Jerusalém, São Paulo, Edições Paulinas, 1973, p.

156 8 — B0RN, A. Vais Deis e outros, ‘Espírito’ em Dicionário

Enciclopédico da Bíblia, RJ, Editora Vozes, 5977, p. 486. 9 — ORTIZ J., O Discípulo, Minas Gerais, Editora Betânia, 1977,

p. 170. 10 — TAYLOR, W., Introdução ao Estudo do Novo Testamento

Grego, Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1966, p. 200

11 — TAYLOR, W., Dicionário do Novo Testamento Grego, op, oit. p.177.

12 — BURTNER. R, — CHILES, R., Coletânea da Teologia de João Wesley, São Paulo, JGEC, Imprensa Metodista, 1960, p. 95.