DERRIDA, J. Adeus a Emmanuel Lévinas.pdf

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filosofia jacques derrida ADEUS A , ANUEL LEVINAs ~elates e ates e ates J~~ ~[~ilml~6~ir IR Tombo: 48690 1111111111111111111111111111 Próximo lançamento Platão: Uma Poética para a Filosofia Paulo Butti de Lima ~~. 41\ (04 Adeus a Emmanuel Lévinas é a junção de dois momentos, lJOsteriores ao "alcei· mento do grande pensador. O;primeiro deles, em 1995, é o disclll"sOdo "AllolIs" do discípulo, do interlocutor~ do admirador pela mOl-te rcccntc dc SCUIIICstre. O ensaio mais extenso, "A Palavra Acolhimento", 1'01I'clIlizudu nu UIIOsc· guinte, por ocasião de uma homenagem a Lévinas no enconlro ''VISll!\Cct Slnur'. abordando os conceitos das palavras "acolhimento" o "huSIJUulldmle" como pontos fundamj)ntalS' à'i~rem destacados na obl'll de.1 ,évIIlUN. É a despedida de Jacques' Derrida - um dos nOllleS muls l"el'I"'s!mf!Jllvos (lu contemporaneidade fJ.losófica - de um de seus IJr1ueil)uls lIIou'm"'N IlIttlh'dlluls e, ao meSmo tempo, uma avaliação da impol'tllneiu do sell 11l1l"(\II. A 11IIhllcu- ção, pela editOJ;a Perspectiva na coleção Debutes, dcstulJlllllllllIU uhm '"U'11I1l emoção e razão se conjugam numa exp' nas relações pessoais'e;intelectuais enl. sÍvel o contato dos lllit~res com as anlll to destes dois gran~slexpoentes da j'

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  • filosofia

    jacques derridaADEUS A,

    ANUEL LEVINAs

    ~elatese atese atesJ~~~[~ilml~6~ir

    IR

    Tombo: 48690

    1111111111111111111111111111

    Prximo lanamento

    Plato:Uma PoticaparaaFilosofiaPaulo Butti deLima

    ~~. 41\(04

    AdeusaEmmanuelLvinasajuno dedoismomentos,lJOsterioresao"alceimentodograndepensador.O;primeirodeles,em1995,odisclll"sOdo"AllolIs"dodiscpulo,dointerlocutor~doadmirador pelamOl-tercccntcdcSCUIIICstre.O ensaiomais extenso,"A Palavra Acolhimento", 1'01I'clIlizudunu UIIOsc

    guinte,por ocasiodeumahomenagemaLvinasnoenconlro''VISll!\CctSlnur'.abordando osconceitosdaspalavras"acolhimento" o"huSIJUulldmle"comopontosfundamj)ntalS''i~remdestacadosna obl'll de.1,vIIlUN. a despedidade Jacques'Derrida - um dos nOllleSmuls l"el'I"'s!mf!Jllvos(lucontemporaneidadefJ.losfica- deumdeseusIJr1ueil)ulslIIou'm"'NIlIttlh'dlluls

    e,aomeSmotempo,uma avaliaoda impol'tllneiudosell11l1l"(\II.A 11IIhllcu-o,pelaeditOJ;aPerspectivana coleoDebutes,dcstulJlllllllllIU uhm '"U'11I1lemooerazoseconjugamnumaexp'nasrelaespessoais'e;intelectuaisenl.svelocontatodoslllit~rescomasanlll

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    ColeoDebates

    Dirigida por 1.Guinsburg

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    jacques derridaADEUS A,

    EMMANUEL LEVINAS

    Equipe deRealizao- Traduo:Fbio Landacoma colaboraodeEvaLanda; Reviso: Cristina Ayumi Futida; Produo:Ricardo W. Neves e

    RaquelF. Abranches.

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    ~ PERSPECTIVAIII\\~

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    Ttulo do originalemfrancsAdieu EmmanuelLvinasdeJaequesDerrida ditionsGalile, 1997

    DadosInternacionaisdeCatalogaonaPublicao(CIP)

    (CmaraBrasileirado Livro, SP,Brasil)

    Derrida,Jaeques,1930-2004.

    Adeusa EmmanuelLvinas/ JaequesDerrida;[traduoFbio Landacoma colaboraodeEva

    Landa].-- SoPaulo: Perspectiva,2008.--(Debates;296/ dirigidapor J. Guinsburg)

    Ttulo original:Adicu EmmanuclLvinas.Ia reimpr.da I. ed.de2004.Bibliografia.ISBN 978-85-273-0688-1

    1.Filsofosjudeus- Frana2. Levinas,Emmanucl,1906-19953.Lvinas,Emmanuel,

    1906-1995- Crticac interpretaoI. Guinsburg,J..11.Ttulo. m.Srie.

    ~~1

    SUMRIO

    ADEUS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

    I edio- \ rcimprcsso

    ndicesparacatlogosistemtico:I. Filosofia francesa194

    2. Levinas,Emmanuel: Obrasfilosficas194

    08-02678 CDD-194 APALAVRAAcOLHIMENTO........................ 31

    Boas-vindas,Sim,Boas-vindas 33

    I. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

    11. 63

    IH. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77

    IV. 91

    V....................................... 99VI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 121

    DireitosemlnguaportuguesareservadosEDITORA PERSPECTIVA S.A.

    Av. BrigadeiroLus Antnio,302501401-000- SoPaulo- SP- Brasil

    Tclefax:(0--11)3885-8388www.editoraperspcctiva.com.br

    2008

  • NOTA DE EDIO

    Por umaquestodefidelidadeao textooriginal,forammantidosgrifosentreaspasehfensempalavraseexpressesque normalmenteno se apresentariamdessasformas deacordocomospadresdaspublicaesdaEditoraPerspectivaedalnguaportuguesa.

  • "Adeus"foiumdiscursopronunciadoporocasiodamortedeEmmanuelLvinas,em27dedezembrode1995,nocemit-rio dePantin.

    Jamaisteramosousadopublicartaispalavras,arrancadasapressadamentetristezaenoite,seainiciativanotivessesidotomadaporVanghlisBitsoris,comumadelicadezage-nerosae exigente,a princpiosob a formade um pequenolivro editadoemAtenas(EdiesAGRA), em grego.Suasnotas,quereproduzimosaqui,somaisdoque"notasdetra-dutor".Agradecemosa ele t-Iasescritoe depoistraduzidoparans.

    "A PalavraAcolhimento" o textodeumaconferncia

    pronunciadaumanodepois,em7 dedezembrode 1996,noAnfiteatroRichelieudaSorbonne,naaberturadeuma"Ho-

    menagema EmmanuelLvinas".Organizadopelo ColgioInternacionaldeFilosofia,sobaresponsabilidadedeDanielleCohen-Lvinas,esseencontroduroudoisdiase intitulou-se"Rostoe Sinai".

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    ADEUS*

    *. As notasdestecaptuloforamestabelecidaspor VanghlisBitsorsnasuatraduogregadeAdeusparaasEdies AGRA (1996).

  • ~H muitotempo,htantotempo,eutemiaterde dizerAdeusaEmmanuelLvinas.

    Sabiaqueminhavoztremerianomomentodefaz-Io,esobretudodefaz-Ioemvozalta,aqui,diantedele,topertodele,pronunciandoestapalavradeadeus,estapalavra"aDeus"quede umacertamaneira,recebidele,estapalavraqueelemeensinouapensarlouapronunciardeoutraforma.

    Ao meditarsobreo que EmmanuelLvinas escreveusobrea palavrafrancesa"adeus",e queevocareidentrode

    I. Cf. J. Derrida,"DonnerIa mort",emL'thique du dOIl,Paris,d.

    Mtaili - Transition, 1992,pp. 50-51: "suponhoqueadieu ("adeus",emfrancs)possasignificarao menostrscoisas: I. A saudaoou a bnodada(antesde todalinguagemconstativa,"adeus"podetambmsignificar

    "bomdia","vejovoc","vejoquevocestar', falo comvocantesdedizerqualquercoisa- eemfrancs,ocorrequeemalgunslugares,sediz adeusno

    momentodq encontroe nono da separao).2. A saudaoou a bnodadano momentodeseseparar,e desedeixarporvezesparasempre(e nose podejamais excluir essapossibilidade):semretornoaquiem baixo, nomomentodamOlle.3. O a-deus(-dieu),o paraDeusou o diantede Deus

    antesdetudoeemtodarelaocomo outro,emqualqueroutroadeus.Todarelaocom o outroseria,antese depoisdetudo,umadeus".

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  • uminstante,esperoencontrarumaformade encorajamentoparapodertomarapalavraaqui.Gostariadefaz-Iocompa-lavrasnuas,toinfantise inermesquantominhador.

    A quemnosdirigimosnummomentocomoeste?E emnomedequemnosautorizaramosafaz-Io?Freqentemente,aquelesqueseapresentamentoparafalar,parafalarpubli-camente,interrompendoassimo murmrioanimado,astro-cassecretasou ntimasquesemprenosligam,emnossoforointerior;aoamigoouaomestremorto,freqentementeaque-lesquefazementoescutarsuavoznumcemitrio,dirigem-sediretamente,emlinhareta,queledequemsediz quenoestmais,quenoestmaisvivo,quenoestmaisaqui,quenorespondermais.As lgrimasnavozmostramumacertaintimidadecomo outroqueguardasilncio,elaso interpe-lamsemdesviosoumediao,elaso apostrofam,elaso sa-damtambmouseconfiama ele.No setrataforosamentedeumanecessidadeconvencional,nemsempredeumafaci-lidaderetricadaorao.Trata-sesobretudodefazerpassara palavra,l ondeaspalavrasnosfaltam,eporquetodalin-guagemquesevoltassesobresi-mesma,sobrens,pareceriaindecente,comoumdiscursoreflexivoqueretomariaparaacomunidadeferida,paraseuconsoloouseuluto,parao quesedenominaporessaexpressoconfusae terrvelo "traba-lho deluto".Ocupadaconsigomesma,talpalavracorreriaorisco,nesteretorno,dedesviar-sedoqueaquinossalei - ea lei comoretido:falardiretamente,dirigir-sediretamenteao outro,e falaraooutroqueamamoseadmiramos,antesdefalardele.Emprincpio,dizer-lhe"adeus",aele,aEmmanuel,e noapenaslembraro queelenostinhaensinadosobreumcertoAdeus.

    Comeceitambmaescutardeoutramaneiraea apreen-dera palavra"retido"quandoestameveio de EmmanuelLvinas.Dentretodosos lugaresemqueelefaladaretido,pensoem primeiro lugar numade suasQuatro LeiturasTalmdicasporqueaaretidodesignaaquiloque,segundoele,"maisfortequeamorte"2.

    2. E. Lvinas. Quatre lectures talmudiques.Trad. bras., Quatro

    Leituras Talmdicas.So Paulo, Perspectiva,2003,p. 99.

    16

    Porm,guardmo-nostambmde procurar,em tudooquesediz ser"maisfortedoqueamorte",umrefgioou umlibi,ouaindaumconsolo.No "TextodoTratadoSchabat"3,paradefiniraretido,EmmanuelLvinasdizsobreaconscin-cia,queelaa"urgnciadeumadestinaolevandoaooutroenoumeternoretornoasi"4,ouainda,

    inocnciasemingenuidade,umaretidosemsimploriedade,retidoabsolu-taque tambmcrticaabsolutadesi, lida nosolhosdaqueleque o objetodestaretidoe cujo olhar mecolocaem questo.Movimentoparao outroquenoretomaaoseupontodeorigemcomoparaa retomao divertimentoincapazde transcendncia.Movimentoparaalmdo cuidadoc mais f0l1edoquea mOl1e.

    RetidoquesechamaTelllilllut,essnciadeJacob5

    Como sempre,a mesmameditaodesenvolvia,masacadavezdemaneirasingular,todososgrandestemasaosquaiso pensamentodeEmmanuelLvinasnostinhadespertado:otemadaresponsabilidadeemprimeirolugar,masdeumares-ponsabilidade"ilimitada"6que ultrapassae precedeminhaliberdade,a responsabilidadede um "sim incondicional"?,segundoessetexto,deum "simmaisantigoquea esponta-neidadeingnua"8,umsimemacordocomestaretidoque"fidelidadeoriginalemrelaoa umaalianairresilvel"9.EasltimaspalavrasdessaLio sereferemmortelO, segura-mente,mas,justamente,paranodeixar-lhealtimapalavra,nema primeira.Elas noslembramummotivoconstantedoquefoi, certamente,umaimensae incessantemeditaoso-

    3. Trata-seda "SegundaLio" dasQuatroLeiturasTalmdicas.4. Idenl, p. 98.5. Idem,pp. 98-99.

    6. Verporexemplo,idem,p. 101:"Certamente,minharesponsabilida-depor todospodemanifestar-setambmatravsda limitao:em nomedaresponsabilidadeilimitada,o eu podeser chamadoa preocupar-setambmconsigo".

    7. "No acabamosde cometera imprudnciade afirmarque a pri-

    meira palavra,aquelaque torna possvel todasas outrase at o no danegatividadee o 'entre-os-dois'que 'a tentaoda tentao', um simincondicional?"idem,p. 99.

    8.Ibidelll.

    9. Idem,p. 100.10.Ver idem,p. 102.

    17

  • breamorte,masporumcaminhonacontracorrentedatradi-ofilosfica,dePlatoa Heidegger.Noutrolugar,antesdedizero quedevesero a-Deus,umoutroescritofalada"reti-doextremado rostodo prximo"como"retidode umaexposiomorte,semdefesa"l).

    No possoe nemmesmoquerotentaravaliaraquialgu-maspalavrasdaobradeEmmanuelLvinas.No sedistin-guemnemmesmooslimitesdesta,tantoelaimensa.E serianecessriocomearporreaprendercomeleecomTotalitetInfini (Totalidadee Infinito),por exemplo,a pensaro queuma"obra,,12- eo queafecundidade13.Entopode-sepre-ver,com certeza,quesculosde leituraseroempregadosnessatarefa.Todososdias,paraalmmesmodaFranaedaEuropa,j temosmil indicaes- atravsdetantasobrasemtantaslnguas,tantastradues,tantoscolquiosetc.- dequea repercussodestepensamentomudouo cursodareflexofilosficadenossotempo,edareflexosobreafilosofia,so-breo queordenaa filosofia tica,a umoutropensamentosobrea tica,sobrearesponsabilidade,sobreajustia,sobreo Estado,etc.,a umoutropensamentosobreo outro,a umpensamentomaisnovoquetantasnovidades,porqueeleseordena anterioridadeabsolutadorostodooutro.

    11.E. Lvinas,"La mauvaiseconscienceetI'inexorable",emExercices

    de lapatience, n. 2, inverno,1981,pp. 111-112.

    12.Ver por exemplo,E. Lvinas, Totalitet!Jltini, MartinusNijhoff,La Haye,1980,pp. 149-153.Em "La Tracedel'autre"(1963)Lvinasdefine

    assima Obra:"A Obrapensadaradicalmente efetivamenteummovimento

    doMesmoemdirei/oao Outroqueni/o retomajamaisaoMesmo.Ao mitode Ulisses retomandoa taca,gostaramosde opor a histriade Abraho

    deixandoparasempresuaptriapor umaterraaindadesconhecidae proi-bindo ao seu servidorat mesmode levar seu filho ao ponto de partida.A Obra pensadaatasltimasconseqnciasexigeumagenerosidaderadi-cal doMesmoquenaObravai emdireoaoOutro.Ela exigeconseqente-menteumaingratidodoOutro.A gratidoseriaprecisamenteo retornodo

    movimentoasuaOIigem",Endcouvrantl'existenceavecHusserletHeidegger,Paris,d. Vrin, 1967,p. 191.Cf. tambmJ. Derrida,"En cemomentmme

    danscetouvragemevoice",em Textespour EmmanuelLvinas, Paris,d.

    Jean-Michel Place, 1980,pp. 48-53.

    13.VerporexemploTotalitetInfini, op. cit.,pp.244-247e sobretudo

    p. 245ondeLvinaspeemrelaoa fecundidadee a obra.

    18

    Sim, a ticaantese paraalmdaodontologia,o Estadoou dapoltica,pormticatambmpara-almdatica.UmdianaruaMichel-Ange,nodecursodeumadessasconversascujamemriametocara,numadessasconversasilumina-

    daspelobrilhodoseupensamento,abondadedeseusorriso,ohumorgracisodesuaselipses,elemediz: "vocsabe,fala-sefreqentementedeticaparadescrevero quefao,masoquemeinteressa,afinaldascontas,no atica,noapenasatica,o santo,asantidadedosanto".E penseientonumaseparaoparticular,a separaonicadaquelevu dado,ordenadoporDeus,aquelevuqueMoissdeviaconfiaran-

    tesa uminventorou a umartistaquea umbordador,e que,nosanturio,separariaaindamaiso santodossantosl4,comopenseitambmnofatodequeoutrasLiesTalmdieasafi-nama necessriadistinoentrea sacralidadee a santidade,querdizer,a santidadedooutro,a santidadedapessoasobreaqualEmmanuelLvinasdiziaemoutrolugarqueela"maissantaqueumaterra,mesmoquandoaterraTerraSanta.Ao

    ladodeumapessoaofendida,estaterra- santaeprometida-snudezedeserto,umamontoadodemadeiraedepedras,,15.

    Estameditaosobreatica,datranscendnciadosanto

    emrelaoao sagrado,isto, do paganismodasrazese daidolatriado lugar,foi indissocivel,comosabemos,deumareflexoincessantesobreo destinoeopensamentodeIsrael,ontem,hojee amanh,noapenasatravsdasheranas,re-interrogadase re-afirmadas,datradiobblicae talmdica,mastambmda aterradoramemriado nossotempo.Estamemriadita,depertooude longe,cadaumadessasfrases,mesmose possaterocorridoa Lvinasde protestarcontra.

    14.xodo,26,31:"E farsumvu entradadatenda,detecidode l

    azul-celeste,prpura,carmesime linho torcido, obrade bordador.[... ] eseparara divisriaparavsentrea santidadee a santidadedassantidades"

    traduoMeir Matzliah Melamed,So Paulo, Ed. Sfer,2001,p. 240. Aaberturada tendaestavaprotegidapor umacortina(epispastron,segundoatraduogregaVersi/odosSetenta(Septuaginta),enquantoqueno interiorda tendaum "vu" (kataptasma)separava"o santoe o santodos santos"(to hagionkai to hagion tnhagin).

    15.Cf. o prefciodeLvinasao livro deMarleneZarader,Heideggeret lesparolesde ['origine, Paris,d. Vrin, 1986,pp. 12-13.

    19

  • certosabusosauto-justificativosaosquaispodiamporvezescederestamemriaearefernciaaoholocausto.

    Porm,renunciandoaoscomentriosesquestes,gos-tariaapenasderenderhomenagemquelecujopensamento,cuja amizade,confiana,"bondade"(e dou a estapalavra"bondade"todoo alcancequelheconferemasltimaspgi-nasde Totalidadee Infinitol6) terosido paramim, comoparatantosoutros,umafonteviva, toviva, toconstante,quenoconsigopensaro quelheaconteceouo quemeacon-tecehoje,ouseja,ainterrupo,umacertano-respostanumarespostaquenoter,enquantoeuviver,umfinalparamim.

    A no-resposta:vocssabemindubitavelmentequenoseuadmirvelcursode 1975-1976 (hprecisamentevinteanos)sobre"A Morteeo Tempo"l7,ondeeledefiniuamortecomopacinciadotempol8,eondeeleseengajanumagran-deenobreexplicaocrticacomPlatoeHegele sobretudocomHeidegger,EmmanuelLvinasdefiniuemvriasopor-tunidadesamorte,amorteque"nsencontramos""norostodooutro"19,comono-resposta20;"elasem-resposta"21,diz

    16.Ver Tolalil el !l1!ini,op. cil., pp. 281-283.17.Trata-sedeumdosdoiscursosdeLvinasnaSorbonne(Paris IV)

    duranteo anoletivode 1975-1976,quefoi publicadopelaprimeiravezem1991sob o ttulo "La mOlt et le temps" no volume EmmanuelLvinas(Cahiersde I'Herne, n. 60,pp. 21-75),depoisem 1993(como outrocurso

    domesmoano:"Dieuetl'onto-tho-Iogie"naobraDieu, Ia morlel le lemps,Paris,d. Grasset.

    18."No decorrerdo tempo,cujasignificaonodevetalvezrefetir-seao par ser-nadacomoreferncialtimadaquiloquetemsentido,detudooquetemsentidoe detudoo que pensado,detodohumano,a morte umpontocujo tempoguardatodasuapacincia,essaesperarecusando-se suaintencionalidadedeespera- 'pacinciae lentidodo tempo',diz o provr-

    bio, pacinciacomonfasedapassividade.Dondeaorientaodestecurso:a mortecomopacinciado tempo",Dieu, Ia mortel le temps,op.cit.,p. 16.

    19.Ver idem,p. 122:"Reencontramosa mOlteno rostodo outro".20. Cf. idem,p. 17:"A morte o desaparecimento,nosseres,desses

    movimentosexpressivosqueos faziamaparecercomoviventes- essesmo-vimentosque sosempreresposlas.A mOltevai tocarantesde maisnadaessaautonomiaou essaexpressividadedosmovimentosatchegara enco-brir o rosto.A mOlte o sem-resposta".

    21. Cf. idem,p. 20: "A morte desvioirremedivel:os movimentosbiolgicosperdemtodadependnciaemrelaosignificao,expresso.A morte decomposio;ela o sem-resposta".

    20

    J

    ele.Em outrolugar:"existea um final quetemsempreaambigidadede umapartidasemretorno,de umbito,po-rmtambmde um escndalo(" possvelque ele estejamorto?")deno-respostaedeminharesponsabilidade"22.

    A morte:noemprimeirolugaro aniquilamento,o no-serou o nada,pormumacertaexperincia,parao sobre-vivente,do "sem-resposta".J em Totalidadee Infinito elecolocavaemquestoainterpretaotradicional,"filosficaereligiosa",damortesejacomo"passagemaonada",sejacomo"passagemaumaexistnciaoutra"23.Identificaramortecom

    o nadao quegostariadefazero assassino,Caimporexem-plo, que,diz EmmanuelLvinas,"deviapossuiressesabersobrea morte"24.Pormmesmoessenadaseapresentaen-tocomo"umaespciedeimpossibilidade"oumaisprecisamentecomoumainterdi025.O rostodo outromeinterditamatar,eleme diz "tu nomatars"26mesmoseestapossibilidadepermanecesupostapelointerditoqueatornaimpossvel.Essaquestosemresposta,essaquestodosem-respostaseriaen-tono-derivvel,primordial,comoa interdiode matar,

    22. Idem,p. 47.

    23. "A morte interpretadaem todaa tradiofilosfica e religiosa

    comopassagemaonada,ou comopassagema umaexistnciaoutra,prolon-gando-senumnovo cenrio",Totaliteth(!ini, op. cit., p. 208.

    24. Ver idem,p. 209:"Ns a abordamos[a morte]comonadadeuma

    maneiramaisprofundae decertaformaa priori, napaixodo assassinato.

    A intencionalidadeespontneadessapaixovisa o aniquilamento.Caim,quandomatouAbel, deviapossuirda mOlteestesaber.A identificaodamOlteao nadaconvm mortedo Outrono assassinato".

    25.Ver ibidem:"A identificaodamorteaonadaconvm mortedoOutro no assassinato.Pormestenadase apresentaa, ao mesmotempo,comoumaespciedeimpossibilidade.Efetivamente,foradaminhaconscin-

    ciamoral,o OutronopoderiaseapresentarcomoOutroeseurostoexpres-sa minhaimpossibilidademoralde aniquilar.Interdioque no equivale

    seguramente impossibilidadepurae simplese quesupemesmoa possi-bilidadequeelaprecisamenteinterdita;porm,emrealidade,a interdiojsecolocanestapossibilidade,ao invsdesup-Ia;elanose acrescentano

    IIpres-coup,pormmeobservado fundodosolhosqueeuqueroextinguiremeobservacomoo olho quenatumbaobservarCaim".

    26. Cf. Dieu, Ia mortet.le temps,op. cit., p. 123:"Fazer aparecera

    questoquea mOltelevantanaproximidadedo prximo,questoque,para-doxalmente, minharesponsabilidadeporsuamOlte.A morte abelturaaorostodo Outro,o qual expressodo mandamento:"No matars".

    21

  • maisoriginriaquea alternativado "Ser ou noser,,27quenopoisnemaprimeiranemaltimaquesto."Serounoser",concluiemoutroensaio,"provavelmente,noresideaaquestoporexcelncia"28.

    Eu assinalariahojequenossatristezainfinitadeveriaseguardardetudoaqiloque,no lutosedirigiriaparao nada,querdizeraquiloqueuneainda,mesmoquepotencialmente,aculpabilidadeaoassassinato.Efetivamente,Lvinasfaladaculpabilidadedo sobrevivente.Porm, umaculpabilidadesemfaltae semdvida,na verdade,umaresponsabilidade

    confiada,e confiadanummomentodeemoosemequiva-lente,nomomentoemqueamortepermaneceaexceoab-soluta29.Paradizeressaemoosemprecedente,estaemooque sinto aquie compartilhocom vocs,que o pudornosinterditadeexibir,paraprecisar,semconfidncianemexibi-opessoal,noqueestaemoosingularserefere respon-sabilidadeconfiada,confiadaporherana,permitam-medei-xaraindaumaveza palavraa EmmanuelLvinas,cujavozeugostariatantodeescutarhojequandoelafalada"mortedooutro"como"a morteprimeira",precisamentel onde"eusouresponslvelpelooutronamedidaemqueelemortal"3o.Ou aindao queafirma,nocursode 1975-1976:

    A mortedealgumno, apesardetudoo quepoderiaparecer pri-meiravista,umafacticidadeemprica(mortecomofatoempricocuja uni-

    versalidadeapenasa induopoderiasugetir);elanoseesgotanesseaparecer.

    27. Cf. idem,p. 23: "A morte ao mesmotempocurae impotncia;ambigidadequeindicatalvezumaoutradimensodesentidoqueaquelaemquea morte pensadanaalternativascr/noser.Ambiguidade:enigma".

    28.Ver "La mauvaiseconscienceet l'inexorable",emExercicesde Ia

    patience,op. cit., p. 113.29. Lvinasdefinea mOliecomo "ex-ceo"daseguintemaneira:"A

    relaocoma mOliedo outrono umsabersobrea mortedo outronemaexpeJinciadestamOlieemsuamaneiradeaniquilaro ser(se,comosepensacorriqueiramente,o eventodestamOliesereduzaesteaniquilamento).Nohsabersobreestarelaoex-cepcional(ex-ceo:distinguire colocarfora

    dasequncia)",Dieu, Ia nUJrtet le temps,op. cit., p. 25.30.Ver idem,p. 54:" damortedo outroquesouresponsvelaponto

    demeincluir namorte.O quese mostratalveznumaproposiomaisacei-tvel: "Eu sou responsvelpelo outroenquantoele mortal".A mOliedooutro a morteprimeira".

    22

    I

    I

    1

    II

    ~ ..;11 I

    i

    Algumqueseexprimenanudez- o rosto- algumprontoaapelaramim,a secolocarsobminharesponsabilidade:doravante,tenhoderesponderporele.Todosos gestosdooutrocramsinaisdirigidosa mim.Pararetomaragradaoesboadaacima:mostrar-se,exprimir-se,associar-se,sermecOf!/ia-do.O Outroqueseexptimemeconfiado(enoexistedvidaemrelaoaooutro- j queo devido impagvel:noseestjamaisquites).(Mais adiante,tratar-se-daquestodeum"deverparaalmdetodadvida"parao euques o queele, singulare identificvel,pelaimpossibilidadedesersubstitudo

    onde,pelocontrrio,a"responsabilidadepelooutro",a"responsabilidadedorefm" umaexperinciadasubstituio"e dosacrifcio).O outromeindi-

    vidualizana responsabilidadequeeu tenhopor ele. A mortedo outroquemorremeafetanaminhaidentidadedeeuresponsvel[...] fcitadc indizvelresponsabilidade. isso,minhaafetaopalamortedooutro,minharelaocomsuamorte.Ela j ,naminharclao,naminhadefcrnciaaalgumquenorespondemais,umaculpabilidade- umaculpabilidadcdesobreviventeJ2.

    E maisadiante:

    A relao morteemsuaex-eeo- eela umacxceo,qualquerque

    sejasuasignificaoemrelaoaosere aonada,- queconfere mortesuaprofundidadeno nemvernemmesmovisar(nemvero sercomoemPlato

    nemvisaro nadacomoemHeidegger),relaopuramenteemocional,emo-cionantede uma emooque no se faz pela repercusso,sobre nossa

    sensibilidadee nosso intelecto,de um saberprvio. umaemoo,ummovimento,uma inquietaono desconhecido''.

    Desconhecidoestsublinhado."Desconhecido"nadadiz

    do limitenegativodeumconhecimento.Esseno-saber oelementoda amizadeou da hospitalidadepara a trans-cendnciadoestrangeiro,adistnciainfinitadooutro."Des-conhecido" a palavraqueMauriceBlanchotescolheuparaintitularum ensaio,"Conhecimentodo Desconhecido"34,

    queele consagrouqueleque foi, desdeseuencontroemEstrasburgo,em1923,o amigo,a amizadedoamigo.

    31.Cf. idem,p. 199:"Essaresponsabilidadepelooutro estruturadacomoum-pelo-outro,atumserref"mdo outro,refmemsuaprpriaiden-tidadedeconvocadoinsubstituvel,antesdequalquerretornosobresi. Parao outro guisadesi-mesmo,ata substituiodo outro".

    32. Idem,p. 21.33. Idem,pp. 25-26.34.Trata-sedo texto"Connaissancede I'inconnu",quefoi publicado

    pelaptimeiraveznarevistaNouvel!erevueFanaise,n. 108,1961,pp. 1081-1095.E publicado novamenteem 1969no L'Entretien it!/ini, Paris, d.Gallimard,pp. 70-83.

    23

  • Semdvida,paramuitosdentrens,paramim segura-mente,a fidelidadeabsoluta,a exemplaramizadedepensa-mento, a amizadeentre Maurice Blanchot e EmmanuelLvinasfoi umagraa;elapermanececomoumabnodes-setempoe,pormaisdeumarazo,asortebenditaporaque-lesquetiveramo insigneprivilgiodeseramigodeumedeoutro.Paraescutar,aindahoje,aquimesmo,BlanchotfalarparaLvinas,ecomLvinas,comoocorreucomigoemcom-panhiadelesnumdia feliz de 1968,citareialgumaslinhas.Depoisde ternomeadoaquiloquenoscativano outro,de-pois de ter faladode um certo"rapto"35(a palavrada qualLvinasseservefreqentementeparafalardamorte36),Blan-chotdiz:

    Porm,no precisodesesperarda filosofia.Pelo livro deEmmanuelLvinas,Totalidadee In/inito,ondeparece-mequeelanuncafalou,emnos-so tempo,de uma maneiramais grave,recolocandoem questo,como necessrio,nossosmodosdepensare atmesmonossarevernciafcil pela

    ontologia,somosconvocadosa tornar-nosresponsveispelo que ela es-sencialmente,acolhendoprecisamentea idiadoOutro,querdizer,a relaocomo outro,emtodoo esplendore aexignciainfinitaquelhessoprprios.

    Encontra-sea comoum novopontodepm1idada filosofia e um saltoqueelae nsmesmosseramoseX0l1adosa realizar,7

    Searelaoaooutrosupeumaseparaoinfinita,umainterrupoinfinitaondeapareceorosto,oqueacontece,onde

    35.VerL'Entretienin/ini,of'.cit.,p.72:"Eu acrescentariaque,sepode-mos negociarcom estaincgnita,isto se d precisamenteno medo,ou naangstia,ou numdessesmovimentosextticos,quevocsrecusamcomonofilosficos: a temosum ce110pressentimentodo Outro;ele nos toma,nosabala,nosencanta,arrancando-nosansmesmos.-Precisamente,porm,para

    nosmudarno Outro.Se, no conhecimento,sejaeledialticoe por todososintermediliosquesequeira,hapropliaodoobjetopelosujeito,e dooutro

    pelomesmo,e poisafinal,reduododesconhecidoaoj conhecido,nasur-presadosustohalgumacoisadepior,porqueoeuqueseperdeeo mesmoquesealtera,transformadovergonhosamenteemoutroqueeu-mesmo".

    36.Cf. Dieu, Ia mortet le temps,of'.cit.,p. 134:"Minha mortalidade,

    minhacondenao morte,meutempono momeutodam011e,minhamorteque no possibilidadeda impossibilidadepormpuro rapto,constituemessaabsurdidadequetornapossvela gratuidadedeminharesponsabilidade

    pelooutro".37. L'Entretienin/ini, of'. cit., pp. 73-74.

    24

    c a quemacontecequandoumaoutrainterrupovem,nomomentodamorte,aprofundaraindadeinfinitoo fossodes-saseparaoprimeira,interrupodilaceranteno magodainterrupopropriamentedita?No possonomeara inter-ruposemmelembrar,comoalgunsdentrevocssemdvi-daselembram,estaangstiadainterrupoqueeusentiaemEmmanuelLvinasquando,aotelefoneporexemplo,elepa-reciaacadainstanteapreendero corteeo silncioouo desa-parecimento,o"sem-resposta"dooutroqueelechamavaime-diatamenteerecuperavacomum"al,al"entrecadafrasee

    porvezesmesmonomeiodafrase..Quesepassaentoquandoumgrandepensadorsecala,

    algumqueconhecemosemvida,quelemoserelemos,escu-tamostambm,dequemseesperavaaindaumaresposta,comoseeladevessenosajudarnoapenasa pensarde outrama-neiramasaindaa leraquiloqueacreditvamosj terlido noqueeleassinava,equeaindareservavatudo,etomaisdoqueaquiloqueacreditvamosj terreconhecido?

    Eis a umaexperinciaque,comEmmanuelLvinas,euj aprendiqueelapermaneceriaparamiminterminvel,comocomospensamentosquesofontes,ouseja,quenocessareidecomear,dere-comearapensarcomelesapartirdonovocomeoqueelesmeproporcionam- ecomeareiaindaeain-da a redescobri-lossobrequalquertema.Cadavez queleioou releioEmmanuelLvinassinto-meinundadodegratidoedeadmirao,inundadoporestanecessidade,quenoumconstrangimento,pormumaforamuitodocequeobrigaequeobriga,noacurvardeoutramaneirao espaodopensa-mentono seurespeitoaooutro,masa render-sea estaoutracurvaturaheteronmica38quenosrefereao completamente

    38.Cf. TowlitetJr!/ini,of'.cit.,pp.59-60:"O Outromemedecomum

    olharincomparvelaoolharcomo qualeuo descubro.A dimensodealturacmquesecolocao Outro comoaprimeiracurvaturadoserqualseligaoprivilgiodoOutro,odesnivelamentodatranscendncia.O Outrometafsico,

    [...] A relaocomo Outronosedesloca,comoo conhecimento,emgozoc posse,em liberdade.O Outrose impecomo umaexignciaquedominacstaliberdadee,assim,comomaisoriginalquetudoo quesepassaemmim.I...]A presenadoOutro- heteronomiaprivilegiada- noferea liberdade,Illasa investe".

    25

  • outro (querdizer, justia,diz ele em algumlugar,numapoderosaeformidvelelipse:arelaoaooutroquerdizerajustia39),segundoa lei que conelamaentoa render-seoutraprecednciainfinitadocompletamenteoutro.

    Ela teriavindo,comoestaconelamao,incomodardis-cretapormirreversivelmente,ospensamentosmaisfortesemaisasseguradosdestefim demilnio,a comearpelosdeHusserloudeHeideggerqueLvinas,diga-sedepassagem,introduziunaFrana,hmaisde 65 anos!Porqueestepasqueele amoupor suahospitalidade(e Totalidadee Infinitodemonstranosomenteque"aessnciadalinguagembon-dade"pormaindaque"aessnciadalinguagemamizadeehospitalidade"40),estaFranahospitaleiradeve-lhe,entretan-tase tantascoisas,entretantase tantasiluminaes,aome-nosdoisacontecimentosemqueo pensamentoirrompe,doisatosinauguraisdosquais difcil reconhecero alcancehojeem dia, tantoelesforam incorporadosaosprpriosfunda-mentosdenossaculturafilosfica,depoisdeteremtransfor-madosuapaisagem.

    Paradizerresumidamente,a partirde 1930,atravsdetraduesedeleiturasinterpretativas,foi aprimeiraabertura fenomenologiahusserlianaqueirrigoue fecundouporsuaveztantascorrentesfilosficasfrancesas;depois,enaverda-de,simultaneamente,foi tambmaprimeiraaberturaaopen-samentoheideggerianoquenocontoumenosnagenealogiadetantosfilsofos,professoreseestudantesfranceses.HusserleHeideggeraomesmotempo,desde1930.

    39. Cf. idem,p. 62: "Acolhimentodo outro- o termoexpressaumasimultaneidadede atividadee de passividade- quesituaa relaocom ooutroforadasdicotomiasvlidasp'araascoisas:doapriori edoaposteriori,daatividadee dapassividade.Porm,queremostambmmostrarcomopar-tindodo saberidentificadocoma tematizao,a verdade(it:slesaberconduz relaocomo outro- querdizer,justia".

    40. Idem,p. 282:"Colocar o sercomoDesejoc comobondadenoisolardeantemoumeuquetenderiaemseguidaaumpara-alm. afirmar

    queperceber-sedo interior- produzir-secomoeu- perceber-sepelomes-mo gestoquej sevoltaparao exteriorparaextraverlerc manifestar- pararesponderpeloqueelepercebe- paraexprimir;queatomada(it:conscinciaj linguagem;que a essnciada linguagem bondade,ou ainda,que aessnciada linguagem amizadee hospitalidade".

    26

    Ontemnoite,quisreleralgumaspginasdesselivropro-digios04!quefoi paramim,comoparamuitosoutrosantesdemim,oprimeiroeomelhorguia.Observeinelefrasesquemar-camumapocaepermitemmediro caminhoqueelenos~u-douapercorrer.Em 1930,umjovemde23anosdizianopref-cioqueeurelia,sorrindo,sOITindoparaele:"ofatoquenaFrana,afenomenologianoaindaumadoutrinaconhecidadetodos,

    deixou-nosbastanteembaraadosnacomposiodestelivro,,42.Ou ainda,falandoda "filosofiatopotentee originalde M.Heidegger"43"dequemsereconhecerfreqentementeainl1un-ciasobreestelivro"44,o mesmolivro lembratambmque,eucito, "o problemaquecolocadoaqui pela fenomenologiatranscendentalorienta-seemdireoaumproblemaontolgico,nosentidobemparticularqueHeideggerconfereaestetenTIo"45.

    O segundoevento,o segundoabalofilosfico,direimes-moofeliztraumatismoquelhedevemos(numsentidodotermo"traumatismo"queelegostavadelembrar,o "traumatismodooutro"46quevemdo outro), que,lendoemprofundidadeereinterpretandoospensadoresqueacabodenomear,mastam-bmtantosoutros,filsofos,Descartes,Kantc Kierkegaard,eescritores,Dostoivski,Kafka,Proustetc.,prodigandosuafalaatravsdesuaspublicaes,seuensinamentoesuasconfern-cias(naEscolaNormalIsraelitaOriental,noColgioFilosfi-co, nasUniversidadesde Poitiers,Nanterre,na Sorbonne),EmmanuelLvinasdeslocavalentamenteo eixo,a trajetriaouaprpriaordemdafenomenologiaoudaontologiaqueelehavia introduzidona Franaa partirde 1930,pormparasubmet-Iosa umainflexvele simplesexigncia.Ele abalouassimumavezmaisapaisagemsempaisagemdopensamento;ele o fez dignamente,sempolcmizar,ao mesmotempodo

    41. Referncia obraThoriede I'illtuition dalls Ia phnOlnllologiedeHusserl, doutoradodefendidoe publicadoem 1930.

    42. Thoriede I'intuitioll dans Ia pilllomnologiede Husserl, Patis,d. Vrin, 1930,p. 7.

    43. Idem,p. 15.44. Idem,p. 14.45. Idem,p. 15.

    46.Cr. porexemplo,Dieu, Ia /lum etle temps,op.cit.,p. 133:"Assim,o traumatismodo outronovemdo outro?"

    27

  • interior,fielmente,edemuitolonge,apartirdaafirmaodeumlugarcompletamentediferente.E creioque,nessasegundanavegao,nessesegundotempoquereconduziua umnvelbemmaiselevadodoqueo primeiro,produziu-sel umamu-taodiscretapormirreversvel,umadessaspoderosas,sin-gulares,rarasprovocaesque,nahistria,depoisdemaisdedoismil anos,teromarcadoindelevelmenteoespaoeocor-podo quemaisoumenos,emtodocasooutracoisadoqueumsimplesdilogoentreo pensamentojudaicoeseusoutros,asfilosofiasdeascendnciagregaou,natradiodeumcerto"eis-meaqui"47,os outrosmonotesmosabrmicos.Isto passado,estamutaoaconteceupor intermdiodele,porEmmanuelLvinas,quetinha,creio,dessaimensaresponsabi-lidadeumaconscinciaaomesmotempoclara,confiante,cal-maemodesta,comoadeumprofeta.

    47. Em princpio, tenderamosa sustentarque umagrandepartedotextodeDenida"En cemomentmmedanscetouvragemevoici",emTextespour EmmanuelLvinas,op. cit., pp. 21-60,podeserconsiderada,de umacertamaneira,comoumamplocomentriodessaexpresso,aomesmotem-

    po em relaocom o empregoe interpretaolevinassianada expressoecom a perspectivacrticaprpriade Derrida.Lvinas,quantoa ele, numanotade seulivro Autrementqu'treou au-delde l'essence,(De um modo

    outroqueseroupara-almdaessncia)Mat1inusNijhoff, La Haye, 1978,p.186,remeteexplicitamentea Isaas6, 8: "Escutoa voz dc Adonai dizendo:

    "Quemvouenviar?/Quemirporns?"Eu digo:"Eis-meaqui!Envie-me!".PrecisamosquenaVersodosSetenta(Septuaginta)o equivalentegregodafrasehebraicahineni: "idou eg" (traduopalavrapor palavra:"eis-meeu" ), emqueo pronomepessoalestnonominativo.O sentidodopronomeeuno acusativoem relao responsabilidadepelooutro explicitadaporLvinasemAutrementqu'treou au-deldel'essence,op.cit.,pp. 180-181:"O sujeitona responsabilidadese alienanasprofundezasde suaidentidadedeumaalienaoquenoesvaziao Mesmodesuaidentidade,maso subme-te,dumaconvocaoirrecusvel,submete-secomopessoal ondeningum

    poderiasubstitu-lo.A unicidade,extraconceito,psiquismocomo brotodeloucura,o psiquismoj psicose,noumEu, maseuconvocado.Convocao identidadeparaarespostadaresponsabilidadenaimpossibilidadedefazer-se substituir imediatamente.A esse mandamentomantidosem descon-

    tinuidades poderesponder"eis-meaqui"emqueo pronome"eu" estnoacusativo,declinadoantesde todadeclinao,possudopelooutro,doente,idntico.Eis-me aqui - dizer da inspiraoque no nem dom de belaspalavras,nemdecantos.Constrangidoaodar,a mancheiase, conseqente-mente, corporeidade".

    28

    Umdosindciosdessaondadechoquehistrica,ainflun-ciadessepensamentobemalmdafilosofia,bemalmtambmdopensamentojudaico,nosmeiosdateologiacrist,porexem-plo.Pennitam-meevocarodiaemque,porocasiodeumCon-gressodosIntelectuaisJudeus,nomomentoemqueamboses-cutvamosumaconfernciadeAndrNeher,EmmanuelLvinas

    disse-mea parte,comadoceironiaquenos familiar:"Vejavoc,eleojudeuprotestante,eusouojudeucatlico",

  • Essaquesto-oraoquemelevavaa elej participavatalvezdessaexperinciadoa-Deuspelaqualcomeceihpou-co.A saudaodoa-Deusnosignificao fim."O a-Deusnoumafinalidade",dizeleaorecusaressa"alternativadosere

    do nada"que"no a ltima".O a-Deussadao outroparaalmdo ser,naquilo"quesignifica,paraalmdo ser,a pala-vraglria"so."O a-Deusno umprocessodo ser:no cha-mamento,souremetidoaooutrohomematravsdequemestechamamentotem significado, ao prximo por quem eutemo"Sl.

    Porm,eudissequenoqueriaapenaslembraro queelenosconfioudoa-Deus,massobretudodizer-lheadeus,cham-

    10porseusobrenome,chamarseusobrenome,seunome,talcomoelesechamanomomentoemque,seelenorespondemais, tambmporqueele respondeemns,no fundodenossocorao,emnsmasantesdens,emnsdiantedens- chamando-nos,lembrando-nos:"a-Deus".

    Adeus,Emmanuel.

    50.Ver "La mauvaiseconscienceet I'inxorable",emExercicesde ia

    patience,op. cit., pp. 112-113:"O Infinito nopoderiatersignificadoparaum pensamentoquevai rumoa seufim e o a-Deusno umafinalidade.talvez,por essairredutibilidadeao escatolgico do a-Deusou do temorde

    Deusquese interrompe,no humano,a conscinciaquesedirigiaparao serem suaperseveranaontolgicaou paraa mOlte,queelatomacomosendo

    pensamentoltimo,queapalavraglria significa,paraalmdoser.A alter-nativado sere do nadano a ltima".

    51. /bidem,p. 113.

    30

    A PALAVRA ACOLHIMENTO

  • BOAS-VINDAS, SIM, BOAS-VINDAS

    No limiardesteencontrojuntodeEmmanuelLvinas,apartirdeEmmanuelLvinas,norastrodeseupensamentoesobo duplo sinal "Rostoe Sinai", umapalavrade boas-vindas,sim,queousarei,pois,pronunciar.

    Inicialmente,nomearriscoapenasemmeunome,porcerto,nadameautorizariaa isso.

    Umatalsaudaocontudopoder-se-iatraduzir.Ela tentariaentopassardeunsaosoutros,de ume de

    umaaooutro,deixando-seassimrecebermastambmouvir

    einterpretar,escutarouinterrogar.Ela buscariasuapassagematravsda violnciado hspedequeperscrutapersistente-menteo rito.Porqueo risco grande.Paratera audciade

    dizerboas-vindas,insinua-setalvezque se estna prpriacasa,quesesabeo queistoquerdizer,estaremcasa,e queemcasaserecebe,convidaou oferecehospitalidade,apro-priando-seassimdeumlugarparaacolhero outro,ou piorainda,acolhendoa o outroparaapropriar-sedeumlugareralarentoa linguagemda hospitalidade- e seguramente,

    33

  • notenhoessapretenso,nomaisdoquequalquerum,po-rmapreocupaodeumatalusurpaoj meinquieta.

    Porquedesejosubmetera vocs,naaberturadestecol-quio,algumasreflexes,modestasepreliminares,sobreapa-lavra"acolhimento",aomenostalcomo,ameuver,elaapa-rece sob a assinaturade Lvinas, e por t-Ia a princpioreinventado,l ondeelenosconvida,querdizerda pensaraquiloquesechama"hospitalidade".

    Acrediteideveraceitara honraimerecidada primeirapalavradeacolhimento,pordiversasrazes.A primeiratema ver com o Colgio InternacionaldeFilosofia, com a suahistria,coma suamemria- e aoquememantmligadoaela.No Colgio,quetevea feliz iniciativadestecolquio,EmmanuelLvinasnoapenastomoua palavrademaneiramemorvel.Possotestemunharqueeleaprovouasuainstitui-odesdeo incio.Recordo-met-IovisitadonaruaMichel-Angeem 1982,nomomentoemquepreparvamosa funda-odo Colgio.Nessaocasio,fui pedir-lheconselho,umaaprovaoemesmoumapromessadeparticipao.

    EmmanuelLvinasmedeutudoisso.Ele foi umdosnos-

    sos desdeo primeirodia. Seu pensamentopermaneceparanumerososfilsofos,escritoresou amigosdo Colgio,umainspiraoouumhorizonte.Numerosostrabalhosforam-lheconsagradosno interiorde nossainstituiosob formadeconfernciase de seminrios.Seria necessriofalar aquideumestudoconstanteemtodosossentidosrespeitveisdessetermo,no sentidolatino,no sentidohebraico,numsentidoaindacompletamentenovo tambm.Seriajusto entoque,emsinaldefidelidade,desdeo primeiroaniversriodamortedeEmmanuelLvinas,oColgiomarcasseessemomentoderecolhimentoestudiosonopensamentovivo - epermito-meagradecerdenovoemnossonomeaosresponsveisatuaisdoColgio,seupresidenteFranoisJulienemuitoespecialmen-teDanielleCohen-Lvinas,DiretoradePrograma,porteremrespondido,porsuainiciativa,aumaexpectativacomum.

    Devemostambmdizer nossagratido ReitoradasUniversidadesdeParispeloseuacolhimento,sim,o acolhi-mentoqueelaproporcionounestevenervellugardeensino.Aqui mesmo,noAnfiteatroRichelieu,ensinavaumpensador

    34

    quenofoi apenasumgrandeprofessordaSorbonne,masummestre.

    Essemestrejamaisseparouseuensinamentodeumpensa-mentoinslitoe difcil doensino- doensinamentomagistralna figurado acolhimento,precisamente,de um acolhimentoemqueaticainterrompeatradiofilosficadopartoedes-fazaastciadomestrequandoestefingedesapareceratrsdafiguradaparteira.O estudodoqualfalamosnosereduzaumamaiutica.Estamerevelariaapenasaquilodequej soucapaz,dizLvinas.Paraentrelaarostemasquegostariadeprivilegiaraqui,paracruzartambmosrecursossemnticoseetimolgicosdeumapalavradaqualLvinasseservetanto,"mesmo",po-rmcuja filologia nolhe interessaparticularmente,talvezpoderamosdizerqueamaiutica,segundoTotalidadeeInfinito,nomeensinanada.Ela nomerevelanada.Ela desvelaape-nasoquej soucapazdesabereumesmo(ipse),depodersaberde mimmesmo,nestelugarem queo mesmo(egometipse,medisme,meisme,demetipse,metipsimus)reneemsi mesmopodere saber,e comoo mesmo,o mesmodesercapazde napropriedadede seuprprio,emsuaessencialidademesmo.Etalvez,seanuncieassimumacertainterpretaoapropriante(voltaremosaisso),talvezmesmoumapolticadahospitalida-de,umapolticadopoderquantoaohspede,quersejaeleoqueacolhe(host)ouo acolhido(guest).Poderdo hospedeirosobreo hspede.O hosti-pet-s, "o senhordohspede"l,dizBenvenistea respeitode umacadeiaqueligaria,comodoispoderessoberanos,ahospitalidadeipseidade.

    Ora,paraLvinas,o acolhimentodo ensinamentod e

    recebeoutracoisa,maisdoqueeuemaisqueumaoutracoisa:

    Desdeas primeiraspginasde Totalidadee !t!!inito2, l-seque abor-daro Outronodiscursoacolher[eumepermitodej sublinharestapalavralsuaexpressoemqueeleultrapassaatodoinstantea idiaquesepoderiater

    I. Le vocabulairedesinstitutionsindo-europennes,Paris,d. deMinuit,1969,t. I, pp. 87 ss.

    2. TotalitetInfini, M. Nijhoff, 1961,p. 22.SobreestepensamentodoMestre,sobreo "acolhimentodo mestre"e o "acolhimentodo outro", cf.

    tambmpp.73-74epassim.O conceitodeexpressosedetermina,por suavez,pelamesmalgicadoensinamentoe do"receber":"Recebero dado-

    j receb-Iacomoensinado- comoexpressodo Outro",p. 64.

    35

  • dele. entoreceber[sublinhadoporLvinas]doOutroparaalmdacapa-cidadedoeu;o quesignificaexatamente:tera idiado infinito. Porm,istosignificatambmserensinado.A relaocomo Outroou o Discurso umarelaono-alrgica,umarelaotica,pormestediscursoacolhido [eusublinho ainda] um ensinamento.Porm o ensinamentono retoma

    maiutica.Ele vemdoexteriore metrazmaisdo queeu contenho.

    Se acrediteiterdeaceitara honradesmedidadestaspri-meiraspalavras,tambm,razomenosconfessvel,quenomesentiaentocapazdeprepararparahojeumacomunica-odignadestenome,dignadestecolquioedignadeLvinas.Ora,quandoDanielleCohcn-Lvinasmepropsparticipar,aceiteisero primeiroa tomarapalavraparapoderassimas-sociar-mehomenagemprestadaque,certamente,querianomaisprofundodemim fazer,pormparameeclipsardestamaneirao maisdepressapossvelnolimiardahospitalidade.Desejava,emseguida,manter-meemsilncioou encontrarumlibi- esobretudomanter-meescuta.O quenodeixareidefazer,pormprolongandoabusivamente- peo-Ihesdes-culpadeantemo- umainterpretaodasboas-vindasoudahospitalidade.Fareia ttulodeabertura,j quetal o ttuloindeterminadoquecombinou-sedaraestaintroduo.

    Inverso:Lvinaspropepensara aberturaemgeralapartirdahospitalidadeoudoacolhimento- enoo contrrio.Ele o faz expressamente.Estasduaspalavras,"abertura"e"hospitalidade",soaomesmotempoassociadasedistingui-dasemsuaobra.Obedecemaumalei sutil.Comotodalei,ela

    requerumaleituraprudente.Comointerpretar,emnomedeLvinas,essahospitalida-

    de?Como ensaiarisso falandonoemseulugare nememseunome,mascom ele, falando-lhetambm,emprimeirolugarescutando-ohoje,dirigindo-nosaesseslugaresemque,paralembrar-Ihesos seusnomes,elere-nomeouo Sinaie orosto,"Sinai" e "rosto"?Estesnomesforamassociadosparaseremdadosa esseencontro,massabemoscomoouvi-Ios?Em quelngua?Nomescomunsounomesprprios?Traduzi-dosdeumaoutralngua?A partirdopassadodeumaescritu-ra santaoudeumidiomaporvir?

    Nohorizontedessasreflexespreliminares,umaquestomeguiarequedeixareiporfimsuspendida,contentando-me

    36

    desituaralgumasdesuaspremissase algumasdesuasrefe-rncias.Ela seriaconcernente, primeiravista,s relaesentreumaticadahospitalidade(umaticacomohospitali-dade)eumdireitoouumapolticadahospitalidade,porexem-plo,natradiodoqueKantdechamaascondiesdahospita-lidadeuniversalnodireitocosmopoltico:"comvistas pazuniversal".

    Estaquestopoderiaencontrarsuaformaclssicanafi-guradofundamentooudafundaojustificativa.Poder-se-iaperguntar,por exemplo,sea ticadahospitalidade,queva-mostentaranalisarnopensamentodeLvinas,podeou nofundarumdireitoc umapoltica,paraalmdodomicliofa-miliar,noespaosocial,nacional,estatalouestado-nacional.

    Estaquestopareceindubitavelmentegrave,difcil, ne-cessria,pormj cannica.Tentaremosnoentantosubordin-Ia instnciade umaoutraquestosuspensiva,aquilo quepoderamoschamardeumaespciedepokh.Qual?

    Suponhamos,concessonondato,quenohajapassagemassegurada,segundoa ordemde umafundao,segundoahierarquiafundador-fundado,originariedadeprincipiallderi-vao,entreumaticaouumafilosofiaprimeiradahospitali-dade,porumaparte,eumdireitoouumapolticadahospita-lidadeporoutraparte.SuponhamosquenosepossadeduzirdodiscursoticodeLvinassobreahospitalidadeumdireitoeumapoltica,taldireitoe talpolticaemtalsituaodeter-minadahoje,pertodensou longedens(imaginarmesmoquepossamosavaliaradistnciaqueseparaaIgrejadeSaintBernarddeIsrael,daex-Iuguslvia,doZaireoudeRuanda).Como interpretarentoestaimpossibilidadede fundar,dededuzirou de derivar?Indicariaela umafalha?Talvez de-

    vssemosdizer o contrrio.Talvezfssemos,em verdade,chamadosaumaoutraprovapelanegatividadeaparentedes-talacuna,porestehiatoentreatica(afilosofiaprimeiraouametafsica,seguramenteno sentidoqueLvinasd a essestermos)deumaparte,e, deoutra,o direitoou apoltica.Senoha nenhumafalta,umtalhiatononosobrigaefetiva-menteapensardiferentementeo direitoeapoltica?E sobre-tudonoabre,comoumhiato,justamente,a bocae a possi-bilidadede uma outrapalavra,de umadecisoe de uma

    37

  • responsabilidade(jurdicaepoltica,sequisermos),londeelasdevemsertomadas,comosediz dadecisoedaresponsabi-lidade,semoasseguramentodefundaoontolgica?Segun-doestahiptese,aausnciadeumdireitooudeumapoltica,nosentidoestreitoedeterminadodestestermos,nopassariadeumailuso.Paraalmdestaaparnciaoudestacomodida-de,umretornoseimporiascondiesdaresponsabilidadeou da deciso,entretica,direitoe poltica.O quepoderiaimplicar,comotentareidesugerirparaterminar,semdvidasegundoduasrotasvizinhas,pormtalvezheterogneas.

    38

    I

    J nosdemosconta?Se bemqueo termonosejanem

    freqentenemsublinhado,TotalidadeeInfinitonoslegaumimensotratadosobreahospitalidade.

    Issomenosevidenteportaisocorrncias,raras,efetiva-mente,do termo"hospitalidade"do quepelosencadeamen-tosea lgicadiscursivaqueimplicamestelxico.Por exem-plo, naspginasde concluso,a hospitalidadetorna-seoprprionomedaquiloqueseabreaorosto,daquiloquemaisprecisamenteo "acolhe".O rostosempreseda umacolhi-mentoeo acolhimentoacolheapenasumrosto,esterostoquedeveriasernossoternahoje,massabemos,noentanto,lendoLvinas,queeledeveescaparatodatematizao.

    Ora,essairredutibilidadeao terna,aquiloqueexcedea

    formalizaoou a descriotematizantes, precisamenteoqueo rostotememcomumcomahospitalidade.Lvinasnosecontentaapenasemdistingui-Ias,eleopeexplicitamentea hospitalidade,corno escutaremosdentroem pouco, tematizao.

    39

  • Quandoeleredefinedealtoa baixoa subjetividadein-tencional,quandoelesubmeteasujeiodestaidiadoinfi-nitonofinito,elemultiplicasuamaneiraasproposiesnasquais um nomedefineum nome.O substantivo-sujeitoeo substantivo-predicadopodementotrocardelugarnapro-posio,o queincomodaaomesmotempotantoa gramticada de-terminaoquantoa escrituralgicada tradio,atsuafilial dialtica.Por exemplo:"Ela [aintencionalidade,aconscincia-de]atenopalavraouacolhimentodorosto,hospitalidadee notematizao"l.

    Se fui assimtentadoa sublinhar,nestafrase,a palavrahospitalidade,devoagoravoltar,paraapag-Io,nesterecur-sopedaggicoouretrico.Porquetodososconceitosqueseopem "tematizao"soaomesmotemposinnimosedeigualvalor.Nenhumdelesdeveriaserprivilegiadoeportantosublinhado.Antesdeprosseguirna interpretaodestapro-posio,pode-seentonotaro quejustificaa, emsilncio,umaaposio.Estapareceperseguirumel,elasecontentaemdesdobrar,elaexplicita.Ela parecederivar,mesmosaltar,de umsinnimoa outro.Mesmoqueapareacomotal umasvez,poder-se-iainscrevero "ou" (vel)desubstituioen-trecadanome- salvo,evidentemente,"tematizao":"Ela (aintencionalidade,a conscincia-de)... ateno palavraouacolhimentodo rosto,hospitalidadeenotematizao".

    A palavra"hospitalidade"vemaquitraduzir,levaradian-te,re-pro'duzirasduaspalavrasqueaprecederam:"ateno"e "acolhimento".Umaparfraseinterna,tambmumaesp-ciedeperfrase,umasriedemetonmiasexpressamahospi-talidade,o rosto,o acolhimento:tensoemdireoaooutro,intenoatenta,atenointencional,simaooutro.A intencio-nalidade,a atenopalavra,o acolhimentodorosto,ahos-pitalidadesoo mesmo,masomesmoenquantoacolhimentodooutro,londeelesesubtraiaotema.Ora,estemovimentosemmovimentoapaga-seno acolhimentodo outro,e como

    eleseabreaoinfinitodo outro,aoinfinitocomooutroqueo

    I. Tota!itet /nfini, p. 276.Eu sublinho.

    40

    precede,dealgumamaneira,oacolhimentodooutro(genitivosubjetivo)j serumaresposta:o simao outroj responderaoacolhimentodooutro(genitivoobjetivo),aosimdooutro.Estarespostaconvocadadesdequeo inifinito- sempredooutro- acolhido.SeguiremosseurastroemLvinas.Pormo "desdeque"noindicao instanteouo limiardeumcome-o,dumaarkh,j queo infinitotersidopr-originariamen-teacolhido.Acolhidonaanarquia.Estarespostaresponsvel certamenteumsim,masumsima precedidopelosim deoutro.Deveramossemdvidaestenderilimitadamenteas

    conseqnciasdaquiloqueLvinasafirmanumapassagememqueele repetee interpretaa idiado infinito no cogitocartesiano:"No soueu- o outroquepodedizersim"2.

    (Seasperseguirmoscomaaudciaeorigornecessrios,estasconseqnciasdeveriamconduziraumoutropensamen-to dadecisoresponsvel.Semdvida,Lvinasnoo diriaassimmaspoderamossustentarentoque,semexonerar-medenada,adecisoearesponsabilidadesosempredooutro?Elas sempreincumbemo outro,elas sempreprocedemdooutro,mesmoquesejadooutroemmim?3Porqueenfim,se-ria aindaumadeciso,a iniciativaquepermaneceriapuraesimplesmente"minha",emconformidadecomanecessidadequeno entantoparecerequerer- namaispoderosatradiodaticae dafilosofia- quea decisosejasempre"minha"deciso,adecisodequempodedizerlivremente"eu", ipse,egometipse?Seriaaindaumadeciso,aquiloquemecompe-teassim?Tem-seo direitodedarestenome,"deciso",aummovimentopuramenteautnomo,fosseeledeacolhimentoe

    2. Towlit etb1fini,p. 66.3. Tenteidemonstr-Ionumoutrotrabalho,por umcaminhodiferente,

    numadiscussosobreo decisionismodeSchmitt.Falandoentode"deciso

    passiva",de "decisoinconsciente",de "decisodo outro",em termosdesabero quedeveriadizer"daremnomedooutro",tenteisustentarque"umateoriado sujeito incapazde dar contada menordeciso"Politiques de!'amiti, d. Galile, 1994,pp. 86-88.Eu me referia ento,para tentarquestion-Ia, determinaotradicionale maciamentedominantedo sujei-to, que aliso prprioSchmitt,entretantosoutros,pareceassumir.No evidentementeaquelaqueprivilegiaLvinasquandoeleredefiniuasubjeti-vidade;voltaremosa isso adiante.

    41

  • dehospitalidade,quesprocedessedemim,demimmesmo,e s fizessedesenvolveros possveisdumasubjetividademinha?No estaramosautorizadosa vera o desenrolarde

    umaimannciaegolgica,o desenvolvimentoautonmicoeautomticodospredicadosou possveisprpriosde um su-jeito,semestarupturalancinantequedeveriaocorreremtodadecisoditalivre?

    Se tosomenteo Outroquepodedizersim,o "primei-ro" sim,o acolhimento sempreo acolhimentodo outro.precisopensaragoraas gramticase as genealogiasdessegenitivo.Seeucoloqueientreaspaso "primeiro"do"primei-ro" sim,dequalquermaneiraparaentregar-meaumahip-teseapenaspensvel:noexisteprimeirosim,osimj umaresposta.Porm,comotudodevecomearpor algumsim,arespostacomea,arespostacomanda. necessriohabituar-secomestaaporianaqual,finitosemortais,somosdeante-mojogadose sema qualnohaveriapromessaalgumadecaminho. precisocomearpor responder.Nohaveriapois,noprincpio,aprimeirapalavra.O chamamentossechamaa partirda resposta.A respostaprecedeo chamamento,elavemao encontrodele,quediantedela,s primeiroparaesperarpelarespostaqueo faz advir.Apesardosprotestostrgicosqueestaduralei podeparecerjustificar("masento,nohapelosemresposta,umgritodeafliosolitrio?E asolidodaorao,ea separaoinfinitaqueelaatesta,nopelocontrrio,a verdadeiracondiodo apelo,do apeloin-finitamentefinito?"),anecessidadepersiste,toimperturbvelquantoa morte,querdizera finitude:a partirdo fundosemfundodesuasolido,umapelospodeseescutara si mes-mo,eescutar-sechamar,apartirdapromessadeumarespos-ta.Falamosdoapelocomotal,sequeeleexiste.Porquesequisermosnosreferiraumapeloquenemsereconhececomotal,entopodemosdispensarqualquerresposta,aomenosparapens-Io. semprepossvel,eissonodeixaseguramentedeacontecer.

    Lvinasnodiz isso,elenoo dizassim,pormgostariahojedeir aoseuencontrosegundoaviadestano-via.)

    Seapalavra"hospitalidade"permaneceabastanterara,apalavra"acolhimento"semdvidaumadasmaisfreqen-

    42

    ~iIIt

    tesedasmaisdeterminantesemTotalidadeeInfinito.Pode-ramosverificarisso,aindaque,atondesei,notenhasidoconsignadocomotal.Mais operatriodo quetemtico,esseconceitooperaem todolugar,justamente,paraexprimiroprimeirogestoemdireoaooutro.

    O acolhimentomesmoumgesto?Sobretudooprimeiromovimento,e um movimentoaparentementepassivo,po-rmo bommovimento.O acolhimentono derivado,nemtampoucoorosto,enohrostosemacolhimento. comoseo acolhimentotantoquantoo rosto,tantoquantoo lxicoquelheco-extensivoeportantoprofundamentesinnimo,fosseumalinguagemprimeira,umconjuntoformadodepalavrasquase-primitivas- e quasetranscedentais. precisopensarsobretudoapossibilidadedoacolhimentoparapensaro rostoetudooqueseabreousedeslocacomele,atica,ametafsicaouafilosofiaprimeira- nosentidoqueLvinaspretendedaraessestermos.

    O acolhimentodeterminao"receber",areceptividadedorecebercomorelaotica.J o havamosescutado:"Abor-daro Outrono discursoacolhersuaexpressoemqueeleultrapassaa todoinstantea idiaquesepoderiaterdele.entoreceberdoOutroparaalmdacapacidadedo eu..."

    Esse receber,termoaqui sublinhadoe propostocomosinnimodeacolher,srecebenamedida- umamedidades-medida- emqueelerecebeparaalmdacapacidadedo eu.Essadesproporodissimtricamarcarmaisadiantealei dahospitalidade;voltaremosa isso.Ora,no mesmopargrafo,proposioinslita,a razo elamesmainterpretadacomoestareceptividadehospitaleira.A imensacorrentedatradiofilosfica que passapelo conceitode receptividadeou depassividade,e pois,pensava-se,desensibilidade,poroposi-oracionalidade,i-Iaaquideagoraemdiantereorientadanasuasignificaomaisprofunda.

    Trata-sedaacepodarecepo.S se podeapreenderou percebero que receberquer

    dizer a partirdo acolhimentohospitaleiro,do acolhimentoabertoouoferecidoaooutro.A razoelaprpriaumreceber.Outramaneiradedizer,sequisermosfalaraindasoba lei datradio,mascontraela,contraasoposieslegadas,quea

    43

  • razosensibilidade.A prpriarazoacolhimentoenquan-toacolhimentodaidiadeinfinito- eoacolhimentoracional.

    insignificantequeLvinasnomeienestelugarapor-ta? O lugarqueeledesignaassim apenasumtroponumaretricadahospitalidade?Seafiguradaporta,nolimiarqueabreo em-si,fosseuma"maneiradefalar",eladiriatambma palavracomomaneirade dizer,maneiradefazer com amoestendidadirigindo-seao outroparadar-lheprimeira-mentedecomer,bebere respirar,comoLvinaslembratofreqentementeemoutrotexto.A portaaberta,maneiradefalar, designaa aberturade umaexterioridadeou de umatranscendnciada idia de infinito. Essa nos chegaporumaporta,e estaportaatravessadano outraquea razonoensinamento.

    Na mesmapassagemde"A TranscendnciacomoIdiado Infinito, asprecauesescrupulosasdo"mas",do"entre-tanto",do "semcontudo"etc.aguama originalidadedessereceberedesseacolhimento.Estaportaabertatudo,menosumasimplespassividade,o contrriode umaabdicaodarazo:

    Abordaro Outronodiscursoacolher [eusublinho]suaexpressoemque ele ultrapassaa todo instantea idia que se poderiater dele. entoreceberdo Outro [Lvinassublinha]paraalmdacapacidadedo eu;o quesignificaexatamente:ter a idiado infinito. Mas issosignificatambmserensinado.A relaocomo Outroou o Discurso umarelaono-alrgica,uma relaotica,masessediscursoacolhido [eu sublinho ainda] umensinamento.Mas [terceiro"mas", eu sublinho,masno mas.magis,masmaisainda,melhor]o ensinamentonoretomamaiutica.Ele vemdoexte-

    rior e metrazmaisdoqueeucontenho.[Ele noretoma-, elevem,pois,cleno retomaa -, ele vem de algum lugar,do exterior,do outro]. Na suatransitividadeno-violentaproduz-sea prpriaepifaniado rosto.A anlisearistotlicado intelecto,quedescobreo intelectoagente,vindopela porta

    [eusublinho],absolutamenteexterior,e queentretantoconstitui,semabso-lutamentecompromet-Ia,a atividadesoberanada razo,j substituimaiuticauma aotransitivado mestre,j que a razo,sem abdicarse

    encontracapacitadaa receber.(sublinhadopor Lvinas).

    A razocapacitadaa receber:o quepodedarestahospi-talidadeda razo,estarazocomopoder receber(capaci-tadaa receber),essarazosoba lei dahospitalidade?Essarazocomolei dahospitalidade?Lvinassublinhaumase-

    44

    gundavez,no mesmopargrafo,a palavra"receber".Nestacorrenteengajar-se-o,sabemos,as audaciosasanlisesdareceptividade,dessapassividadeanteriorpassividadecujasimplicaesserocadavezmaisdecisivas,lmesmoondeosvocbulosparecemdeixar-selevare desidentificar-senumdiscursoqueabrecadasignificaoa seuoutro(relaosemrelao,passividadesempassividade,"passividademaispas-sivaquetodapassividade"4etc.).

    A palavra"acolhe"retomanamesmapgina.Ela desig-na,coma "noode rosto",a aberturado eu,e "a anterio-ridadefilosficadosendosobreo ser"5- tantoqueessepen-samentodo acolhimentoimplicatambmumacontestaodiscretamasclaraefirmedeHeidegger,atmesmodomotivocentraldo recolhimentoou do ajuntamento(Versammlung),de umcolher(colligere)queserealizariano recolhimento.Existecertamenteumpensamentoparao recolhimentoemLvinas,principalmentenaquiloque Totalidadee Infinitointitula"A Habitao".Porm,umtalrecolhimentodoem-sij supeo acolhimento;eleapossibilidadedoacolhimentoenoo contrrio.Ele tornapossvelo acolhimento,numsen-tido,encontra-sea asuanicadestinao.Poder-se-iadizerentoqueo acolhimentoporvir quetornapossvelo reco-lhimentodoem-si,aindaqueasrelaesdecondicionalidadepareamaquiinextricveis.Elasdesafiamacronologiatantoquantoalgica.O acolhimentosupetambm,seguramente,orecolhimento,querdizeraintimidadedoem-sieafiguradamulher,a alteridadefeminina.Porm,o acolhimentonose-

    4. "Subjectivitet vulnrabilit",em Humanismede l'autre homme,d. FataMorgana, 1972,p. 93.

    5. "Ela [anooderosto]significaa anterioridadefilosficado sendosobreo ser, umaexterioridadeque no apelaao podernem posse,umaexterioridadequenosereduz,comoemPlato, interioridadedarecorda-

    o,e que,contudo,protegeo euqueo acolhe".Totalitet lnfini, p. 22.

    Uma tal "proteo"torna-seevidentementeo nomee o lugardetodososproblemaspor vir, tantoquantoo acolhimento,aan-arquia,a anacroniaea infinita dissimetriaquecomandaa transcendnciado Outro. O querestade"mim" soe salvono acolhimentoincondicionaldoOutro?O querestadesua sobrevivncia,de sua imunidadee de sua salvaona sujeioticadessaoutrasubjetividade?

    45

    I1

    li!,

    il!

    II

    I;

  • ria umamodificaosegundado colher,dessecol-ligerequetemrelao,justamente,coma origemdareligio,comessa"relaosemrelao"qualLvinasreserva,dizele,apala-vradereligiocomo"estruturaltima":"Reservamosrela-oentreo seraquiembaixoe o sertranscendentequenochegaa nenhumacomunidadedeconceitonema nenhumatotalidade- relaosemrelao- o termodereligio"6.

    Antesdorecolhimento,antesmesmodocolher,antesdo

    atodo qual tudopareceno entantoderivar,a possibilidadedoacolhimentoviria,ento,paraabri-Ios.Noutrolugar,ditoque"possuira idiade infinitoj teracolhidoo Outro"?ouque"acolheroOutrocolocarminhaliberdadeemquesto"8.

    Dentreasmil eumaocorrnciasdapalavraacolhimentoemTotalidadee Infinito,guardemospororaaquelaque,nocomeodo captulosobre"Verdadee Justia" definenadamenosqueo Discurso:o DiscursoenquantoJustia.O Dis-cursoseapresentacomoJustia"na retidodo acolhimentodadoao rosto"9.

    J se anunciam,com estapalavraJustia,os temveisproblemasquetentaremosabordarmaisadiante,especialmenteaquelesque surgemcom o terceiro.Este sobrevmsemesperar.Semesperar,elevemafetaraexperinciadorostonoface-a-face.Estainterposiodoterceiro,esta"terceiridade",seela nointerrompe,seguramente,o prprioacolhimento,elaenviaou desviaparasi o duelodo face-a-face,o acolhi-mentosingulardaunicidadedooutrocomoumatestemunha(terstis)paradelatestemunhar.Ora, a eleidadedo terceirono nadamenosparaLvinasqueo comeodajustia,aomesmotempocomodireitoeparaalmdodireito,nodireitopara alm do direito. Autrementqu'tre ou au-del del'essence.(De outroModo queSerou Para-almdaEssn-cia)faladesta

    6. Totalitet Infini, pp. 52-53.

    7. Idem,p. 66.8. Idem,p. 58.9. Idem, p. 54. Eu sublinho:"Chamamosjustia estaabordagemde

    frente,no discurso",diz tambmLvinas (p. 43), que sublinhaentoesta

    frmulae parecedefinir assima justia antesdo aparecimentodo terceiro.Porm,existeaquialgumlugarparaeste"antes"?

    46

    "eleidade,na terceirapessoa"; pormsegundouma "terceiridade"dife-

    rentedaquelado terceirohomem,do terceirointerrompendooface-a;facedoacolhimentoao outrohomem- interrompendoaproximidadeou a apro-

    ximaodoprximo- do terceiro/lIImernpelo qual comeaa)u,l'tiaIO

    Mais acima,umanotadizia dajustiaqueela "esta

    presenapropriamenteditado terceiro"JI.Nas pginasnasquaissempreacrediteiescutaro desesperodaaporia,aquei-xa,a atestao,a protestao,o clamortambmou a recla-maodeumJ queseriatentadoa apelarno justiamascontraa justia, chegam-nosas questesdesesperadasdojusto.De umjustoquequereriasermaisjustoqueajustia.Um outroJ, a menosquenosejao outrodeJ, pergunta-se,efetivamente,o que queele tema vercom a justia,comajustaeinjustajustia.Estasquestesdenunciamacon-tradio,umacontradiosemigual e semprecedente,aterrvelcontradiodo Dizer peloDizer, a prpriaContra-Dico:

    o terceiro outrocomoo prximo,mastambmum outroprximo,mastambmumprximodoOutroe nosimplesmenteseusemelhante.Quesoelesento,o outroe o terceiro,um-para-o-outro? Quefizeramelesum

    ao outro?Qual vemantesdo outro?[...] O outroe o terceiro,meusprxi-

    mos,contemporneosum do outro,distanciam-medo outroe do terceiro.

    "Paz,pazaoprximoe aodistante"(Isaas,57, 19),compreendemosagoraaacuidadedestaaparenterettica.O terceirointroduzumacontradiono Dizer

    [... ]. , porsi, limitedaresponsabilidade,nascimentodaquesto:que queeu tenhoa ver com ajustia?Questode conscincia. precisoa justia,querdizera comparao,a contemporaneidade,a reuniol2

    10.Autrementqu'treou au-delde I'essence,M. Nijhoff, 1974,p.191.TotalitetInfini j acolhe,comestestermos,a instncia"inelutvel"doterceirocomo"linguagem"e como"justia".Cf., porexemplo,pp. 188,282etc.Voltaremosa isso maisadiante.

    lI. Idem,p. 84.12.Autrementqu'tre... , p. 200.Esta "contradiono Dizer" refere-

    setalveza estafatalidade(feliz e infeliz), a estalei dasubstituio, subs-

    tituiocomoLei: o terceirointerrompe(distancia)seminterromper(dis-tanciar)o face-a-facecoma singularidadeinsubstituveldo outro. porqueLvinasfala aquidedistanciamento("o outroe o terceiro... distanciam-medo outroe do terceiro...") - e justo -, enquantoqueelehaviaescrito,em

    Totalitet !J~fini,p. 43: "Chamamosjustia estaabordagemde frente,nodiscurso".

    47

  • Lvinasanalisaentocorajosamenteaconseqnciades-se" preciso".Estenosreintroduz,foradamente,nosluga-resquea ticadeveriaultrapassar:a visibilidadedo rosto,atematizao,a comparao,a sincronia,o sistema,a co-pre-sena"diantedeumacortedejustia".Em verdade,elenonosre-introduzsecundariamentenesteslugares,elenoscha-madevoltaa desdesempre.Pois o terceironoespera,eleesta desdea "primeira"epifaniadorostonoface-a-face.

    A questopoiso terceiro.O "nascimentodaquesto"oterceiro.Sim,onascimen-

    to,poiso terceironoespera,elecheganaorigemdorostoedo face-a-face.Sim,o nascimentodaquestocomoquesto,poiso face-a-facesuspende-seimediatamente,interrompe-seseminterromper-se,comoface-a-face,comoduelodeduassin-gularidades.O inelutveldoterceiroa lei daquesto.Ques-todeumaquesto,comodirigidaaooutro,eapartirdooutro,o outrodo outro,questode umaquestoqueno segura-menteaprimeira(elavemdepoisdosimaooutroedosimdooutro)masquenadaprecede.Nada,esobretudoningum.

    A questo,mastambm,porconseqncia,ajustia,e ainteligibilidadefilosfica,eosaber,eatmesmo,j aseanun-ciando,poucoapouco,a figuradoEstado.Pois,vamoscom-preender,precisotudoisso.

    A mesmalgica,as mesmasfrases,freqentementearepetioliteraldessesenunciadosconduzemLvinas,em"Paze Proximidade",adeduzirdessainelutabilidadedoter-

    ceiroa origemdaquestopropriamentedita(epois,do dis-cursofilosfico queregulanelaseuestatutoe legitimasuaassinatura:a quasetotalidadedo discursode Lvinas,porexemplo,quasetodoo espaode suainteligibilidadeparansrefere-seaesteterceiroI3),ajustiaea"estruturapolticada sociedade".O saltosemtransio,a mutaoimediatado"semquesto"aonascimentoda"primeiraquesto"definede um s gestoa passagemdaresponsabilidadetica res-

    13.Nissoconsisteumdostemasdeanliserecon'entesnosdoisensaios

    queconsagreiobradeLvinas,("Violcnceetmtaphysique",emL'critureetIad!ffrence,d. Le Seuil, 1967,e"En cemomentmme..." emPsych...,d. Galile, 1987).

    48

    ponsabilidadejurdica, poltica- e filosfica.Ele diz tam-bma sadaparaforado imediatismo:

    A responsabilidadepelo outrohomem, no seu imediatislllo,certa-menteanteriora todaquesto.Mas, comodeterminaelaseumterceiroper-

    turbaestaexterioridadea dois,naqualminhasujeiodesujeito sujeioaoprximo?O terceirooutroqueo prximo,mastambmumoutroprxi-moe tambmumprximodooutroc nosimplesmenteseusemelhante.Quetenhode fazer?Quej fizeramelesumaooutro?Qual delespassaantesdooutrona minharesponsabilidade?Que soeles,ento,o outroe o lerceiro,umemrelaoao outro?Nascimentoda quesh/o.

    A primeiraqucstono inter-humanoques/odejustia.Doravante,precisosaber, fazer-seumaconscincia. minharelaocom o Lnicoe oincomparvelsuperpe-sea comparaoe, com vistas eqidadeou igual-

    dade,um pesar,um pensamento,um clculo,a cOllllJaraodos inco17lpa-nveise, desdeento,a neutralidade- presenaou representao- doser,atematizaoe a visibilidadedo rosto... ;14

    A deduoprossegueassimat"a estruturapoltica dasociedadesubmetidas leis", "a dignidadedo cidado",aliondenoentantoa distinodeveriapermancercabalentreosujeitoticoe o sujeitocvicol5. Porm,estasadafora daresponsabilidadepuramentetica,estainterrupodo ime-diatismotico imediata.O terceironoespera,suaeIeidadeconc1amadesdeaepifaniadorostonoface-a-face.Porqueaausnciadoterceiroameaariadeviolnciaapurezadaticanoimediatismoabsolutodoface-a-facecomonico.Lvinas,

    semdvida,noo diz destamaneira.Porm,o quefaz elequando,paraalmou atravsdo duelodo face-a-faceentredois "nicos",eleseremetejustia,eleafirmae reafirma"preciso"ajustia,"preciso"o terceiro?No levaeleemcontaentoestahiptesede umaviolnciada ticapuraeimediatanoface-a-facedorosto?Deumaviolnciapotencial-mentedesencadeadanaexperinciadoprximoedaunicidade

    14. "Paix et proximit",em EmmanuelLvinas, Cahiers de Ia nuitsurveil!e,1984,p. 345.Lvinassublinhaapenasa palavra"nico".

    15."Em suaposiotiea,o eu distintotantodo cidadodaCidade

    quantodo indivduoqueprecedeno seuegosmonaturaltodaordem,masdoquala filosofiapoltica,desdeHobbes,procuraextrair- ouconsegueextrair-aordemsocialou polticadaCidade"."La souffranceinutile",idem,p. 338.

    49

  • absoluta?Da impossibilidadedeadistinguirobemdomal,oamordo dio,o dardo tomar,o desejodevidadapulsodemorte,o acolhimentohospitaleirodofechamentoegostaounarcsico?

    O terceiroprotegeriapoiscontraavertigemdaviolnciaticapropriamentedita.A ticapoderiaestarduplamenteex-postaaestamesmaviolncia:expostaasofr-Ia,mastambmaexerc-Ia.Alternativamenteousimultaneamente. verdadequeo terceiroprotetorou mediador,emseudevirjurdico-poltico,violaporsuavez,aomenosvirtualmente,a purezadodesejoticodestinadoaonico.Dondea aterradorafata-lidadedeumaduplasujeio.

    Este doublebind Lvinas no o designajamais destamaneira.Correreio risco,todavia,deinscrevereumesmoa

    necessidadedessedoublebindnaconseqnciadeseusaxio-mas,dos axiomasestabelecidosou lembradospeloprprioLvinas:seo face-a-facecomo nicoengajaa ticainfinitademinharesponsabilidadepelooutronumaespciedejura-mentoavantIa lettre,derespeitoou defidelidadeincondi-cional,entoo aparecimentoinelutveldoterceiro,ecomeledajustia,subscreveumprimeiroperjrio.Silencioso,pas-sivo,dolorosomasinevitvel,umtalpeljrionoacidentalesecundrio,eletooriginrioquantoaexperinciadoros-to.A justiacomeariacomesseperjrio.(Em todocasoajustia comodireito;masse a justiapermanecetranscen-denteouheterogneaaodireito,nosedevecontudodissociarestesdois conceitos:ajustiaexigeo direito,e o direitosesperaa eleidadedo terceirono rosto.QuandoLvinasdiz"justia",estamosautorizadosaescutartambm,parece-me,"direito".O direitocomeariacomumtalperjrio,eletrairiaaretidotica.)

    Seguramente,perjrio,atondesei,nonomeiaumtemadeLvinas,nemjuramento- e nomelembrodeterencon-tradoou notadoestestermosnosescritosquenosocupam.Donde,a necessidadedeprecisarjuramentoavantIa lettre,o quesignificatambm,destavezbempertodaliteralidadedo textode Lvinas, dvida antesde todo contratoou de

    qualqueremprstimo.Lvinasnohesita,almdo mais,emfalarde uma"palavrade honraoriginal".Precisamentena

    50

    l

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    1i

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    I:

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    experinciado "prestartestemunho",da "atestaode si",da"retidodojace-a-jace"16.

    Intolervelescndalo:mesmoseLvinasnootenhadito

    jamaisassim,ajustiaperjuracomoelarespira,elatraia"pala-vradehonraoriginal"esacreditanopeljurar,abjurar,inju-riar. semdvidadiantedestafatalidadequeLvinasimaginao suspirodojusto:"Quequeeutenhoavercomajustia?"

    Assimsendo,nodesenvolvimentodajustia,nosepodediscernirentreafidelidadeaojuramentoeo peljriodofalsotestemunho,massobretudoentretraioe traio,sempremaisdeumatraio.Deveramosento,comtodaa prudn-ciaanalticanecessria,respeitara qualidade,a modalidade,asituaodasfaltasaestafjurada,aesta"palavradehonraoriginal"anteriora todososjuramentos.Porm,estasdife-

    renasnoapagariamjamaiso traodo peljrio inaugural.Comoo terceiroquenoespera,ainstnciaqueabreaticaeajustiaesta eminstnciadeumpeljrioquase-transcen-dentalou originrio,atmesmopr-originrio.Poderamosdiz-Ioontolgicoumavezqueeleligaaticaatudoo queaexcedeea trai(aontologia,justamente,a sincronia,a totali-dade,o Estado,o polticoetc.).Poderamosmesmoobservara um mal irreprimvelou umaperversoradical,se a mvontadepudesseaprincpioestarausenteneleesesuapossibi-lidade,ou pelomenosa obsessode suapossibilidade17,sealgumapervertibilidadenofossetambmacondiodoBem,daJustia,doAmor,daF etc.E daperfectibilidade.

    Esta"possibilidade"espectralno,todavia,aabstraodeumapervertibilidadeliminar.Seriaantesaimpossibilidadedecontrolar,de decidir,de determinarum limite,a impossibi-lidadedesituaro limiarqueseparaapervertibilidadedaper-versoparapoder-semantera, atravsdecritrios,normas,regras.

    16.Totaliteth,fini, pp. 176-177.

    17.Estamosaquimaisprximosdo queparece.talvez,daliteralidade

    deceltosenunciadosque,emTotaliteth!fini, lembramavontadeda traiosemprepossvel:"A vontadeessencialmenteviolvel- tema traioemsua

    essncia",p.205."A vontadesemoveassimentresuatraioesuafidelida-

    de que,simultneas,descobrema originalidademesmode seupoder",p.207.Eu sublinho.

    51

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    1I

  • Esta impossibilidade,preciso. precisoqueo limiarnoestejadisposiodeumsabergenricooudeumatc-nicaregulamentada. precisoqueeleultrapassetodoproce-dimentoregulamentarparaabrir-sequilomesmoquecorresempreo riscodeperverter-se(o Bem,a Justia,o Amor, aF, - e a perfectibilidadeetc.). precisoisso, precisoestapossvelhospitalidadeao pior paraqUea boahospitalidadetenhasuachance,a chancede deixarvir o outro,o sim dooutronomenosqueo simaooutro.

    Estascomplicaesinfinitasnomudamnadanaestrutu-rageraldaqualnaverdadeelasderivam:odiscurso,ajustia,a retidoticareferem-seantesde tudo ao acolhimento.

    O acolhimentosempreacolhimentoreservadoaorosto.Umestudorigorosodestepensamentodoacolhimentodeverianoapenasrepertoriartodosos contextosemquea recorrnciadestapalavraseimpede maneiraregulamentada18Imensatarefa.Ela deveriatambmlevaremcontaaschancesquelheofereceo idiomafrancs:o idioma,chanceambgua,shibbo-leth do limiar,chancepreliminarda hospitalidade,chancelouvadaporLvinas,chancepor suaescrituramastambmchanceacordadaporsuaescriturafilosfica lnguafrance-sa.Estaschancesacumulamoslugarespropcioscripta,elasfecundamtambmasdificuldadesqueseencontrariaparatra-duzir o lxico do acolhimentoemoutraslnguas,ondeesta

    anlisedahospitalidade(hospitalidadedeumalnguaeaco-lhimentooferecidoa umalngua,lnguacomohospedeiroe

    lnguacomohspede)permiteporexemplonotar,nacompi-laoounarecompilaomeditativadosentido,ojogo mui-tosignificativoentreo recolhimentoeoacolhimento.

    Notvamoshpouco,Lvinasabresempreorecolhimentoa partirdo acolhimento.Ele lembraa aberturado recolhi-mentopelo acolhimento,o acolhimentodo outro,o acolhi-mentoreservadoao outro."O recolhimentose referea um

    acolhimento",diz elenumapassagemde"A Habitao"que

    pedirialongasanlisesinterrogativas.Lvinasdescrevea aintimidade da casa ou o em-si: lugaresda interioridade

    18.Por exemplo,Totalitet lJ,l/ni, pp.22,54,58,60,62,66,74, 128,276 etc.

    52

    reunificada,lugaresdo recolhimento,seguramente,masdeum recolhimentono qualsed o acolhimentohospitaleiro.Depoisdaanlisedofenmenoinaparente,asaber,dadiscri-oque,norosto,aliaa manifestaoaorecolher-se,a Mu-lhernomeada:

    o Outrocujapresena discretamenteumaausncia,e apartirdaqualsedoacolhimentohospitaleiropor excelnciaque descreveo campoda inti-midade,aMulher.A mulheracondiodorecolhimcnto,dainterioridadedaCasae da habitaol9.

    Quealcancetemesserecolhimento?Em princpio,se-guramente,acabamosdeescutar,elese"referea umacolhi-mento". paralqueeleconduz, lqueresidesuarefern-cia ou suarelao.Mas eles emaparncia,nafiguradaMulheroudaCasa,umamodalidadedeacolhimento,no eu-

    tu da "linguagemsilenciosa",do "entendimentosempala-vras",da"expressonosegredo",naquiloqueLvinaschamaaquia"alteridadefeminina".

    Estaparece,antesdetudo,marcadaporumasriedefal-tas.Uma certanegatividadesedeixadenotarpelaspalavras"sem","no"e "aindano".E o quefaltaaquino nadamenosdoqueumapossibilidadeeminentedalinguagem:noalinguagememgeralmasatranscendnciadalinguagem,aspalavraseo ensinamentoapartirdaaltitudedorosto:

    O simplesviverdo [...] assentimentoespontneodoselementosnoaindaahabitao.Porm,ahabitaonoaindaatranscendnciadalingua-gem.O Outroqueacolhena intimidadeno o vls do rostoquese revelanumadimensodealtitude-mais precisamenteo tudafamiliaridade:lingua-

    gemsemensinamento,linguagemsilenciosa,entendimentosempalavras,ex-pressonosegredo.O eu-tuemqueBuberpercebeacategoriadarelaointer-humanano a relaocomo inter1ocutor,mascoma alteridadefeminina20

    Seguramente,seelapareceassimprivadada"altitude"dorostoe da verticalidadeabsolutado Altssimo no ensina-

    mento,a alteridadefemininafala- e elafalaumalinguagem

    19.Totalitet [nI/ni, p. 128.Eu sublinho.20.Totalitet[nl/ni, pp. 128-129.Vlse tusoaquiasnicaspalavras

    sublinhadaspor Lvinas.

    53

    I

  • humana.Nadadeanimalnela,apesardossinaisqueadescrioparecedeixarderivarparaestasugesto.Simplesmente,estalinguagem "silenciosa"e, sehhospitalidadeou "terradeasilo", justamenteporqueque a habitaoultrapassaaanimalidade.Porqueseo em-sidahabitao "em-sicomonumaterradeasilo",issosignificaqueohabitanteapermaneceaomesmotempoumexiladoe umrefugiado,umhspedeenoumproprietrio.Humanismodesta"alteridadefeminina",humanismoda outramulher,do outro(como)mulher.Se amulher,nosilnciodeseu"serfeminino"noumhomem,elapermanecehumana.Nomaisqueaproximidadeemgeral,afamiliaridadeda casano pe fim separao,da mesmamaneiraqueoamorouo Erosnosignificamafuso.A fami-liaridaderealizapelocontrrioa"energiadaseparao":

    A partirdela[afamiliaridade],a separaoconstitui-secomomoradaehabitao.Existir significadesdeentopermanecer.Permanecerno por

    conseguinteo simplesfatodarealidadeannimadeumserjogadonaexistn-ciacomoumapedraqucsejoga paratrs. umrecolhim.ento,umavindaparasi, umaretiradaem-sicomonumaterradeasilo,querespondeaumahospita-lidade,a umaespera,a um acolhimentohumano.Acolhimentohumanoemque a linguagemquese calapermaneceumapossibilidadeessencial.Essasidase vindassilenciosasdo serfeminino,quefaz ressoarpor seuspassosasespcssurassecretasdo ser,nocorrespondemao inquietantemistriodapre-senaanimalefclinacujaestranhaambigidadeBaudelaircgostadeevocar21

    Aparentemente,encontramosaumdoscontextosdadis-cussodoJe-Tu (Eu-tu)deBuber.(Apesardasreservasquelheinspirao discursodeBubersobreo tratar-sepor tu,Lvinaschegaatmesmoareconhecer,porvezes,uma"retidoexcep-cional"aotratamentoportu22).Porm,comopensarquetrata-seaquideumcontextoentreoutros?Comoacreditarqueesta

    21. Totalitetb,tini, p. 129.Eu sublinho.22. "O absolutodaprcscnadoOutroquejustificoua interpretaode

    suaepifaniana retidoexcepcionaldo tratamentopor tu, no a simplespresena...", "La tracc",emHumanismedel'autrehomme,p. 63. precisolembrarquc essetextosituaparaalmdo serumaeleidade,uma"Terceirapessoaque no se define pelo Si-mesmo,pela ipseidade".O "ele" destaeleidade marcadopelairreversibilidadee por uma"irretido"queparcce

    noteraquinenhumaconotaonegativa.Umacelta"retido",aocontrrio,poderiaentoreduzira transcendnciadessaeleidade.Cf. p. 59.

    54

    modalidadedoacolhimentopermaneceapenasumamodalida-desituveldahospitalidade,emrelao casa, habitaoesobretudofeminilidadedamulher?As fonnulaesdeLvinasbastariamparanos interditarumatal restrio.Pelo menos,elascomplicamparticulmmenteasualgica.Insistentemente,elasdefinemexplicitamente"aMulher"como"oacolhimentohos-pitaleiroporexcelncia","oser-feminino"como"oacolhedorporexcelncia","oacolhedoremsi,,23.Elassublinhamumatal

    determinaoessencialnummovimentodeconseqnciasin-comensurveis.Ao menosemduasdirees.

    Porumaparte,precisaramospensarque"oacolhedorporexcelncia","oacolhedoremsi"acolhenoslimitesqueacaba-mosdelembrar,osdahabitaoedaalteridadefeminina(sem"transcendnciadalinguagem",sema "altitude"do rostonoensinamentoetc.).Esteslimitescorremo riscodepassar,noentreoticoeo poltico,masantesentreopr-tico- a"habi-tao"ou "a alteridadefeminina"antesdatranscendnciadalinguagem,aaltitudeeaeleidadedorosto,oensinamentoetc.- edeoutraparteotico,comosepudesseexistiraumacolhi-mento,talvezmesmo,umacolhimento"porexcelncia","emsi",antesdatica.E comoseo"serfeminino"enquantotalnotivesseaindaacessotica.A situaodocaptulo"A Habita-o"e,maisamplamente,o lugardasecoqualelepertence"Interioridadee Economia"colocariamentosriospro-blemasdearchitectonique,ou sejao mtodoque,emfiloso-fia, coordenaas diversaspartesdo sistema,se ao menosoarchitectoniquenofosseuma"artedo sistema"(Kant)e seTotalidadee Infinitonocomeassepor colocaremcausaatotalidadesistmicacomoformasupremadeexposiofilos-fica. Pois poderamosacrescentarque o architectoniquereconduz,talvez,a filosofiaaohabitveldahabitao:sem-preainterioridadedeumaeconomiaquecolocaosproblemasdoacolhimentoquenospreocupamaqui.

    Noapartirdesteabismoentoqueprecisotentarin-terpretaraescritura,alngua(aslnguas)eacomposiodestelivrosingular,esuaexposiodoacolhimento,doacolhimentoporexcelnciaa partirdadiferenasexual?No estamosno

    23. Idem,p. 131.

    55

  • fim de nossasquestes.E tantomaisqueelasconcerneriamtambma seco"Paraalmdo Rosto",comeandopor "AAmbigidadedoAmor" e portudoo quetocaa feminilidadenaanlisedacarcia"A FenomenologiadeEros".

    No podemosaquinosaprofundarnestadireo.Note-mosapenas,comoummomentode espera,quea "fenome-nologiadeEros" permanecesobretudoe somente,voltada,porassimdizer,parao feminino,orientadapoisdopontodevistamasculino,masdeumpontodevistaquesetornace-gamento(pontode vista)nestelugarde no-luzque seria"O Feminino" enquantoque "essencialmenteviolvel einviolvel"24.Esta inviolvelviolabilidade,estavulnerabi-lidadedeumserqueinterditaaviolncialondeeleseexpea ela semdefesa,eis o que,no feminino,parecefigurarorosto,emborao feminino"ofereaumrostoquevaialmdo

    rosto",l ondeEros"consisteemir paraalmdopossvel"25.No deveramosjamaisminimizarasimplicaes- eos

    riscos- destasanlises.Estasparecemaindalevadas,em1961,peloeldasanlisesqueLvinas,j em1947,consagravaaEros no De I'existence I'existant(Da Existnciaao Exis-tente)Z6e no Le Tempset l'autre (O Tempoe o Outro)27.Ofemininonomeiaentoaquilo quepermitetranscenderaomesmotempo,numsmovimento,o eue o mundodaluz,etranscenderpois umacertadominaofenomenolgica,dePlatoaHusserl.Nestesentido,o feminino,queseremTo-talidadeeInfinito"o acolhimentoporexcelncia",j defi-nido,em 1947,comoo "outroporexcelncia".

    o mundoe a luz so a solido [...1 No possvel,com a ajudadealgumadasrelaesquecaractelizama luz, discernira altelidadedo outro

    quedeverompero definitivodoeu.Antecipemosqueo planodeErospermiteentreverqueo outro,porexcelncia, o feminino[...1. O Eros, separadoda

    interpretaoplatnicaquedesconhecetotalmenteo papeldo feminino, otemade umafilosofiaque,destacadade umasolidoda luz, e conseqente-mentedafenomenologiapropriamentedita,ocupar-nos-emoutrotrabalho28.

    24. Idem,p. 236.25. Idem,p. 238.26. Fontaine,Paris, 1947.

    27. 1947,retomadoem PUF (Quadrige)em 1983.28. De l'existence l'existant,pp. 144-145.

    56

    Na mesmapoca,no O Tempoeo Outro29,umaanlise

    dadiferenasexual(Lvinaslembracominsistnciaqueelanoumadiferenaentreoutras,umaespciedognero"di-ferena":nemumacontradionemumacomplementaridade)conduza proposiesanlogas.O feminino um"modode

    serqueconsisteemescapardaluz",uma"fugadiantedaluz",uma"maneiradeexistir"no"esconder-se"dopudor.

    Se,em 1947,essasobservaesanunciamefetivamenteTotalidadee In(finito (1961), Lvinasvoltarbemmaistar-

    de,em 1985,a trataralgumasdesuasproposies.Faremosalusoa issoumpoucomaisa frente.

    Em suma,Lvinasdeveefetivamentecomearpor dis-tinguirahospitalidadeeo amor,j queestenorealizaaque-la.Porm,elereconhecequea"transcendnciadodiscursoligadoaoamor".J queatranscendnciadodiscursonoa

    transcendnciasimplesmente,isso produzum emaranhadodifcildedesfazer.Certosfiosvoaomesmotempomaislongeemenoslongedoqueoutros.Tantoquantoo architectonique,umatopologiaobjetivapermaneceriaimpotenteparadesig-naraslinhas,assuperfciese os volumes,os ngulosou aspedrasangulares.Ela procurariaemvodiscerniros traosdadelimitaoemedirasdistncias.Dequalextensosetra-ta?O quevai "maislonge"doquealinguagem,querdizer,oamor,vai tambm"menoslonge"do queela.

    Porm,todosos fios passaminegavelmentepelon dahospitalidade,ondeelesseamarramesedesamarram:

    O eventometafsicoda transcendncia- o acolhimentodo Outro, a

    hospitalidade- Desejoe linguagem- noserealizacomoAmor. Porm,a

    transcendnciado discursoestligadaao amor.Mostraremoscomo, peloamor,a transcendnciavai, ao mesmotempo,maislongee menoslongedoquea linguagemOO

    Deoutraparte,seramosassimremetidosaestaimplac-velleidahospitalidade:ohospedeiroquerecebe(host),aquelequeacolheo hspede,convidadoourecebido(guest),o hos-

    29. Idem,pp. 77-79.

    30. 7iJtalitet hlfini, p. 232.Eu sublinho.

    57

  • pedeiro,queseacreditaproprietriodo lugar, na verdadeumhspederecebidoemsuaprpriacasa.Ele recebeahos-pitalidadequeeleoferecenasuaprpriacasa,elearecebedesuaprpriacasa- queno fundonolhepertence.O hospe-deirocomohostumguest.A habitaoseabreaelamesma,a sua"essncia"semessncia,como"terradeasilo". O queacolhesobretudoacolhidoem-si.Aquelequeconvidacon-

    vidadoporseuconvidado.Aquelequereceberecebido,elerecebea hospitalidadenaquiloqueconsideracomosuapr-priacasa,atmesmoemsuaprpriaterra,segundoa lei quelembravatambmRozensweig.Estesublinhavaessedesapos-samentooriginrio,aretiradaqueexpropriandoo "propriet-rio" deseuprpriomesmo,e a ipsedesuaipseidade,fazdeseuem-siumlugarouumalocaodepassagem:

    dife:renteme:ntede:todosos outrospovos,apropriedade:plenae inteirasobre

    suaptrialhe: contestada[aopovoeterno]mesmoquandoeleestem suaprpriacasa;de:prprio ape:nasum estrangeiro,um residenteprovisrioem seuprpriopas:" meuestepas", diz-lheDeus.A Santidadedaterraretiraa terra suaapropriaonormaP'.

    A aproximaopodeparecerforadaouartificial,maseuaconsideronecessria,enodeixareideutiliz-Ia,aomenos

    implicitamente,entreasproposiesdeRozensweige asdeLvinas,entreestaleidivinaquefariadohabitanteumhspe-

    de (guest)recebidoemsuaprpriacasa,do proprietrioumlocatrio,do hospedeiroacolhendoumhspedee, poroutraparte,estapassagemsobreo serfemininocomo"o acolhedorporexcelncia","o acolhedoremsi". PorqueLvinasdefineassimo acolhedorem si - seriaprecisodizera acolhedora

    31.F. Rozensweig,L'toilede Ia rdemption,trad.A. Derczanskie J.-L.

    Schlegel,d. Le:Seuil, 1982,p. 355.Lvinascitartambmeste:versCulo25,23doLevticoem"L'trangetI'tre",emHumanSmedeI'autrehomme,

    p. 97: "Nenhumaterraseralienadairreversivelmente,porquea terra mi-nha,porquevocssoapenasestrangeiros,domiciliadosnaminhacasa".

    Dhromes(Bibliothequede Ia Pliade):"A teiTanoservendidaeter-

    namente,porquea terra minha,enquantoquevocssohspedese resi-dentesem minhacasa".

    Chouraqui:"A terrano servendidadefinitivamente.Sim, a terraminha!/Sim,voesestocomigocomoestrangeirose habitantes".

    58

    antesdoacolhedor(apartirdoque,pois,umacolhimentopro-priamenteditopode-seanunciaremgeral)nummomentopre-ciso:nomomentoemqueelejulganecessriosublinharqueacasanopossuda.Ao menos,elaspossuda,numsentidomuito particulardestetermo,na medidaem que ela j hospitaleiraaoseuproprietrio.O donodacasa,"o senhordolugar"j umhspederecebido,oguest,emsuaprpriacasa.Estaprecednciaabsolutado acolhimento,do acolherou daacolhidaseriaprecisamentea feminilidadeda "Mulher", ainterioridadecomofeminilidade- ecomo"alteridadefemini-na". Como na narrativade Klossowski,seestarefernciaa

    umateatralizaoperversano demasiadochocantenesteslugares,o "senhordolugar"torna-seo convidadodoseucon-vidadoporqueamulherestlemprimeirolugar.A experin-ciadapervertibilidadedaqualfalamosumpoucoacima,queaomesmotempochamaeexcluio terceiro,nsapercebera-mosaquinasualigaoindissolvelcomadiferenasexual.

    Pode-sefazermaisdeumaleituradaspoucaslinhasquepretendocitar.Seriaprecisodeter-selongamentenestasre-flexes.Umacertaabordagemreconheceriaeinquietar-se-ia,comoj o fiz anteriormente32numtextosobreo qual noquerovoltar,aatribuiotradicionaleandrocntricadecertostraos mulher(interioridadeprivada,domesticidadeapol-tica,intimidadedeumasocialidadedaqualLvinasdiz que

    32."En cemomentmmedanscetouvragemevoici", emTextespourEmmanuelLvinas,Place, 1980,retomadoin Psych.!nventionsde l'autre,d. Galil, 1987.

    Comoassinalamoshpouco,Lvinasvoltarmuitomaistardesobrea

    lgicadessasproposies,emparticular,em 1985:"Na pocademeupeque-no livro intituladoO Tempoe o Outro,eu pensavaquea feminilidadeeraumamodalidadedaalteridade- este"outrognero"- e queasexualidadee

    o erotismoeramestano-indiferenaaooutro,irredutvelalteridadeformaldostermosnumconjunto.Pensohojequeprecisoaindaumaprofundamentoe queaexposio,a nudeze a"demandaimperativa"do rostodooutrocons-tituemestamodalidadequeo femininoj supe:a proximidadedoprximo a aIteridadeno formal". (Explicaesrecolhidasem fevereirode 1985pelohebdomadrioConstruire[Zurique]porL. Aderte J.-Ch. Aeschliman).Mas j emAutrementqu'tre..., umanova fenomenologiada pele,de suaexposioao ferimentoou carcia,situauma"responsabilidadeantesdoEros", p. 113.

    59

  • ela "sociedadesemlinguagem"33etc.).Uma outraleiturapodesertentada,quenoseoporia,demaneirapolmicaoudialtica,nemaestaprimeiraleituranemaestainterpretaodeLvinas.

    Antesdesituarestaoutraorientao,escutemosaindaadefiniode "o acolhimentohospitaleiropor excelncia","o acolhedorporexcelncia","o acolhedoremsi", asaber"oserfeminino"- esublinhemos:

    A casaquefundaapossenoposseno mesmosentidoqueascoisasmveis que ela pode recolher e guardar.Ela possuda,porque ela ,doravante,hospitaleiraao seuproprietrio.O quenosremete suainterio-ridadeessenciale ao habitanteque a habitaantesde todo habitante,aoacolhedorpor excelncia,ao acolhedoremsi - ao serfeminino14

    A outraabordagemdestadescrionoprotestariacontraumandrocentrismoclssico.Poderiamesmo,aocontrrio,fa-

    zerdestetextoumaespciedemanifestofeminista. apartirdafeminilidadequeeledefineo acolhimentoporexcelncia,oacolherouaacolhidadahospitalidadeabsoluta,absolutamen-teoriginria,pr-originriamesmo,querdizer,a origempr-ticadatica,e nadamenosqueisso.O gestoatingiriaumaprofundidadede radicalidadeessenciale meta-empricaquelevaemcontaa diferenasexualnumaticaemancipadadaontologia.Iria ataconfiara aberturadoacolhimentoao"serfeminino"enosmulheresempricasdefato.O acolhimento,origeman-rquicada ticapertence "dimensodefemini-lidade"enopresenaempricadeumserhumanodo"sexofeminino".PorqueLvinasantecipaaobjeo:

    Serprecisoacrescentarquedemodoalgumtrata-sedesustentaraqui,desafiandoo ridculo, a verdadeou a contra-verdadeempricasegundoa

    qualcadacasasupedefato umamulher?O femininofoi encontradonesta

    33. "A relaoqueseestabelece,navoluptuosidade,entreos amantes[...] todoo contrriodarelaosocial.Ele excluio terceiro,elapermaneceintimidade,solidoa dois,sociedadefechada,o no-pblicopor excelncia.O femininoo Outro,refratrio sociedade,membrode umasociedadeadois, deumasociedadentima,de umasociedadesemlinguagem".Totalit

    et lnfini, p. 242.34. Idem,p. 131.

    60

    anlisecomo um dospontoscardeaisdo horizonteem que se situaa vidainterior- e a ausnciacmpricado serhumanode "sexo feminino" numa

    habitaonomudanadadadimensodefeminilidade,aqualpermaneceaabertacomoo acolhimentomesmoda casa15.

    Serprecisoescolheraquientreduasleiturasincompat-veis,entreumahiprboIcandrocntricaeumahiprboIcfemi-nista?E existelugarparaumatal escolhanumatica?E najustia?No direito?Na poltica?Nada menosseguro.Semnosdetermospororanestaalternativa,guardemosapenasisto,paraatrajetriaqueesboamosaqui:emtudooquediremosecomentaremosa seguir,devemoslembrar,mesmoemsiln-cio,queestepensamentodoacolhimento,naaberturadatica,estnecessariamentemarcadopeladifcrenasexual.Estanosernuncamaisneutralizada.O acolhimentoabsoluto,absolu-

    tamenteoriginrio,talvezmcsmopr-original,o acolherporexcelncia,feminino,eletemlugarnumlugarnoaproprivel,numa"interioridade"abcrtadaqualo senhorouoproprietriorecebeahospitalidadequeemseguidaelequeriadar.

    A hospitalidadeprecedeapropricdade,eissonosersemconseqncias,voltaremosaesseponto,paraoeventododomdalei,paraarelaobemenigmticaentreo refgioeaTor,acidade-refgio,aterradeasilo,Jerusalm,eo Sinai.

    35.lbidem.

    61

  • II

    Nopoderemoscumpriraquiumatarefaquenoentan-totonecessria:reconhecerpacientementeestepensamentodo acolhimentopor todosos caminhosdesuaescritura,portodaparteemqueelesegueumrastro,certamenteobedecendoafraseouo idiomadeLvinas,masnocruzamentodediver-

    saslnguas,nafidelidadeamaisdeumamemria.Aproximemo-nosmaismodestamentedoqueseanuncia

    quandoa palavra"hospitalidade",estequase-sinnimode"acolhimento",vemtodaviadeterminaroutalvezrestringira

    suafigura,designandoassimoslugaresentreatica,apolti-cae o direito,os lugaresde"nascimentodaquesto",comonotvamosh pouco,os "lugares"aosquaisconviriatalvezconferiros nomes"rosto"e "Sinai", comoelessepropem

    hojeaonossoestudo.Observamosquea frasecujaleituraeuhaviainterrom-

    pidooudesviadoporummomento("Ela [aintencionalidade,aconscinciade] .. , atenopalavraouacolhimentodorosto,hospitalidadeenotematizao"),apresenta-nosuma

    63

  • cadeiadeequivalncias.Mas quefazacpuladestaproposi-oserial?Ela liga os fenmenosdedesvinculao.Ela su-pequeestaabordagemdorosto- comointencionalidadeouacolhi