DESAFIOS DA ESCOLA EM RELAÇÃO AO ATENDIMENTO DE...

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10 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA PARFOR FABIANA VIEIRA DE OLIVEIRA DESAFIOS DA ESCOLA EM RELAÇÃO AO ATENDIMENTO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA NOVO REPARTIMENTO PA 2017 FABIANA VIEIRA DE OLIVEIRA

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO CURSO DE

PEDAGOGIA – PARFOR

FABIANA VIEIRA DE OLIVEIRA

DESAFIOS DA ESCOLA EM RELAÇÃO AO ATENDIMENTO DE ALUNOS COM

DEFICIÊNCIA AUDITIVA

NOVO REPARTIMENTO – PA

2017

FABIANA VIEIRA DE OLIVEIRA

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DESAFIOS DA ESCOLA EM RELAÇÃO AO ATENDIMENTO DE ALUNOS COM

DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

como pré-requisito parcial para obtenção do grau

de Licenciatura Plena em Pedagogia pela

Universidade Federal Rural da Amazônia no

PARFOR.

Orientador: Prof.º Luiz André Malato

NOVO REPARTIMENTO – PA

2017

FABIANA OLIVEIRA DE OLIVEIRA

DESAFIOS DA ESCOLA EM RELAÇÃO AO ATENDIMENTO DE ALUNOS COM

DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Trabalho de Conclusão do Curso, apresentado como requisito parcial para obtenção do

grau de Licenciatura Plena em Pedagogia pela Universidade Federal Rural da Amazônia

no PARFOR.

BANCA EXAMINADORA

1 ____________________________________ (Orientador) Professor Prof.º

Luiz André Malato /UFRA

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2 ______________________________________ (Membro) Professor /UFRA

3 _______________________________________ (Membro) Professor /UFRA

Julgado em: _______/______/________

Conceito: ________________________

DEDICATÓRIA

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A minha família, filhos e esposo os quais tem sido

meu alicerce e minha inspiração, por estarem ao

meu lado sempre compartilhando os melhores e

piores momentos da minha vida.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter me concedido o dom da vida e com esta a oportunidade e capacidade de vencer

mais este desafio. Na ausência da iluminação, proteção e sabedoria concedida por Ele não teria

conseguido.

Ao meu esposo e filhos pelo apoio, e paciência no decorrer do curso.

Aos meus amigos pelo apoio, carinho e parceria nas horas difíceis.

Aos meus eternos mestres que passaram por este curso ao longo desta caminhada e que tanto nos

ajudou na busca do conhecimento, minha gratidão a vocês.

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“Só quem tira uma fotografia pode legendá-la, pois teve a

sensibilidade auditiva de ouvir o que a imagem tinha a

dizer.”

Elisabeth Trinidad Mena

RESUMO

O presente estudo denominado Desafios da Escola em Relação ao Atendimento de Alunos

com Deficiência Auditiva aborda o atendimento de alunos com deficiência auditiva na escola

regular, a partir da lógica ou princípio da inclusão. O mesmo objetiva analisar reflexivamente como a

mesma está sendo aceita e vivenciada no cenário educacional e quais os impactos observáveis na

sociedade deste processo inclusivo. A metodologia utilizada no seu desenvolvimento é a pesquisa

bibliográfica, caracterizando-se por uma sucinta revisão conceitual analítica sobre o tema. Neste

contexto buscou-se reunir algumas abordagens significativas representada nas contribuições de

autores que discorrem sobre o tema. O estudo se propõe a descrever as dificuldades que o

professor encontra no desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem com alunos que

apresentam deficiência auditiva, identificando as características do processo de inclusão deste

público na escola regular. Assim o estudo objetiva a compreensão reflexão reflexiva a respeito de

mudanças na prática sobre educação de surdos, nos currículos escolares, com destaque a proposta

pedagógica inclusiva da escola, destacando ainda, as dificuldades encontradas pelos professores

para trabalhar com LIBRAS, enfatizando a importância deste profissional interprete no contexto

escolar. O estudo é relevante aos suscitar as necessárias mudanças de comportamento com relação

ao tratamento ás pessoas com deficiência auditiva e os resultados daí decorrentes, sem a pretensão

de exaurir sua análise investigativa.

Palavras Chaves: Inclusão Escolar, Deficiência Auditiva, LIBRAS.

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ABSTRACT

The present study called Challenges at school in relation to the attendance of Students with

hearing disabilities addresses the care of students with hearing disabilities in regular school, from

logic or principle of inclusion. The same objective analyze reflexively as the same are being accepted

and experienced in the educational setting and the observable impact on society this inclusive

process. The methodology used in your development is the bibliographical research, characterized

by a brief conceptual analytical review on the topic. In this context we sought to gather some

significant approaches represented in the contributions of authors who talk about the topic. The

study aims to describe the difficulties that the teacher is in the development of the teaching-learning

process with students that present hearing, identifying the characteristics of the process of inclusion

of this public in regular school. So the objective understanding reflection reflective study about

changes in practice on education of the deaf, in school curricula, with emphasis on the pedagogical

proposal inclusive school, highlighting the difficulties encountered by teachers to work with

POUNDS, emphasizing the importance of the professional interpreter in the school context. The

study is relevant to raise the necessary changes in behaviour with respect to treatment to people

with hearing disabilities and the ensuing results, without the pretension of exhausting your

investigative analysis.

Key Words: School Inclusion, Hearing Loss, Pounds.

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LISTA DE ABREVIATURAS

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC – Ministério da Educação

PCNS – Parâmetros Curriculares Nacionais

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

CNE – Conselho Nacional de Educação

CEB - Câmara de Educação Básica

ANSI – American National Standards Institute

INES – Instituto de Educação de Surdos

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 10

1. PREMISSAS TEÓRICAS ..................................................................................... 13

1.1 EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO BRASIL: CONTEXTO HISTÓRICO .................... 13

1.2 CONCEITOS DE INCLUSÃO ............................................................................. 18

1.3 DIFERENTES PERCURSOS DO PROCESSO DE INCLUSÃO ........................ 19

1.4 PARADIGMA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO BRASIL ..................................

20 1.5 A ESCOLA INCLUSIVA ......................................................................................

21 1.6 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO – AEE

.......................... 24

1.7 EDUCAÇÃO ESCOLAR INCLUSIVA: ÊNFASES NA LEGISLAÇÃO ................ 27

1.8 CONCEITUANDO SURDEZ ............................................................................... 30

1.9 CLASSIFICAÇÃO DA SURDEZ ......................................................................... 32

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1.10 A SURDEZ NO MEIO SOCIAL ......................................................................... 35

1.11 FALANDO DA LIBRAS ..................................................................................... 36 1.12

BILINGUISMO ............................................................................................... 37

1.13 EDUCAÇÃO INCLUSIVA E OS PERCALÇOS DA ESCOLA ........................... 39

1.14 RELAÇÃO ESCOLA X FAMÍLIA E A INCLUSÃO DO ALUNO SURDO .......... 40

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 47

INTRODUÇÃO

A educação na contemporaneidade passa por um período de transição

paradigmática visando melhores condições de vida não somente aos deficientes,

porém de forma geral, buscando um desenvolvimento pleno do ser humano

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promovendo neste a aceitação do outro em todos os seus aspectos, sejam eles físicos,

psicológicos ou moral.

Contudo ao se falar de inclusão, diferenças individuais, intelectuais,

sociais, diversidade cultural, entre outros termos, deparamo-nos com a necessidade

da aceitação e o respeito para com o outro.

Muito embora os avanços históricos ocorridos nas últimas décadas com

toda a influência da mídia, e espantoso crescimento tecnológico das ciências,

percebe-se que há um número extremamente grande de pessoas sem acesso às

informações necessárias para garantir uma vida digna com atendimento especializado

de acordo com suas especificidades.

A inclusão de pessoas com deficiência no âmbito escolar é um assunto

bastante atual que requer propostas de trabalho para atender esse público, e não cabe

somente ao professor promover estratégias para assegurar os direitos de

aprendizagem desses alunos, mas todos os atores e educacionais, envolvendo desde

a família, governo e sociedade em geral, suscitando que em todos há uma parte que

lhes cabe dentro desse processo.

A educação inclusiva estabeleceu-se como princípio educacional

alardeado desde o advento da implementação da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional – LDB n.º 9.394/96.

Neste sentido a inclusão é um desafio, uma tentativa a mais de entender as

dificuldades de aprendizagem especialmente ao que se refere a inclusão de pessoas

deficientes nas classe regulares de ensino.

Diante desta situação problema, este estudo objetiva compreender

reflexivamente os desafios da escola com relação ao atendimento de alunos com

deficiência auditiva, suscitando a necessidade de mudanças nas práticas pedagógicas

escolares, no currículo, bem como, no planejamento das diversas atividades

promovidas pela escola.

Neste sentido torna-se relevante identificar as dificuldades encontradas bem

como, reconhecer os fatores que interferem para o sucesso do trabalho pedagógico

com alunos portadores de deficiência auditiva.

Diante deste contexto, emerge a importância da discussão das possíveis

dificuldades encontradas pelos professores para trabalhar com alunos deficientes

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auditivos, comparecendo a LIBRAS como uma alternativa eficaz na intervenção e

mediação da situação de acolhimento do aluno surdo.

Assim, torna-se significativo destacar a relevância do papel do interprete de

LIBRAS no âmbito do trabalho escolar, bem como, averiguar os possíveis fatores que

interferem para o sucesso do trabalho pedagógico junto aos alunos surdos, bem como

para a eficiência do seu aprendizado.

Entretanto, observa-se que na vivência do cenário educacional escolar,

muito ainda precisa ser realizado, posto que o tema referente à inclusão de pessoas

deficientes na escola regular ainda constituiu um cenário amplo de investigações,

discussões e reflexos, necessárias ao estabelecimento de práticas e políticas

educacionais inclusivas.

Assim, este estudo transcorre na expectativa de elucidação da seguinte

questão norteadora: Quais as dificuldades vivenciadas pela escola regular na

expectativa de propiciar o acolhimento e inclusão de alunos portadores de deficiência

auditiva?

Neste empreendimento acadêmico, utilizou-se como metodologia a

pesquisa bibliográfica buscando a articulação do binômio teoria e prática que permeia

o objeto do tema, utilizando-se como fonte de pesquisa autores que contribuíram para

a reflexão e discussão temática.

Neste sentido, o estudo torna-se relevante ao suscitar às possibilidades de

melhorias em se trabalhar com estes alunos surdos, identificando as dificuldades

encontradas pelos professores no desenvolvimento do processo de ensino

aprendizagem com alunos que apresentam deficiência auditiva, uma vez que

identificada as características do processo de ensino e aprendizagem com este

público, assim como o comportamento dos demais profissionais que atuam na escola,

diante dessa temática, apresentando as etapas e características da pessoa surda,

assim como a importância da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, sob o enfoque do

bilingüismo, e a necessária formação de profissionais para trabalhar com esta

clientela, na expectativa de promover mudanças na prática, nos currículos escolares

e, sobretudo revisar os planejamentos dos educadores para trabalhar com tais alunos.

Em seus objetivos específicos procurou identificar as dificuldades

encontradas pelos professores para trabalhar LIBRAS com alunos surdos e a

importância do intérprete para o aprendizado da pessoa surda no contexto escolar.

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No decorrer do estudo ou revisão teórico bibliográfica, encontram-se alguns

detalhes do contexto histórico da educação inclusiva, da importância do bilingüismo

na escola e para com a vida dos alunos, assim como a eficácia da LIBRAS como uma

linguagem universal dos surdos e também para como uma segunda língua para os

ouvintes, como forma de união entre comunidades.

Discorre ainda no presente estudo, alguns breves aspectos da legislação

que ampara esse público tendo em vista que estas leis foram conquistadas em longos

e incansáveis anos de lutas, apresentando, sobretudo as características e

classificação da pessoa surda, pois para se falar em educação inclusiva e a

permanência deste no ambiente escolar antes se deve conhecer esta clientela que a

escola recebe.

O estudo é relevante aos suscitar tais reflexões na expectativa de

melhoria da prática escolar inclusiva.

1. PREMISSAS TEÓRICAS

1.1 EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO BRASIL: CONTEXTO HISTÓRICO

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A educação inclusiva não foi lançada por um acaso no cenário educacional

assim como não foi ou está sendo apresentada espontaneamente para a sociedade.

Desde os primórdios da humanidade já existiam seres humanos com suas

diferenças em aspectos distintos, e ao longo dos anos o homem notou-se que

precisava ver e considerar tais diferenças, incluindo essas no meio social.

Muitas lutas foram travadas e ainda estão sendo para que hoje esse público

pudesse amenizar as feridas do passado e sentir-se um ser com direitos e deveres e

consequentemente respeitado.

Dentre esses direitos conquistados está de a criança com deficiência

freqüentar a escola e participar desta como qualquer outra sendo consideradas suas

limitações.

A educação inclusiva estabeleceu-se como princípio de educação para

todos a partir da edição da Declaração de Salamanca, documento que nasceu durante

a “Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso a

Qualidade”, realizada na cidade de Salamanca na Espanha, em 1994, na qual o Brasil

se fez presente.

O documento aponta a necessidade de uma escola para todos, refletindo

sobre os processos excludentes dentro desse ambiente.

De acordo com a Declaração de Salamanca (1994, p.4), “as escolas

deveriam aceitar não só as crianças bem sucedidas, mas incluir todas sem

descriminação física ou social”.

Surgindo no cenário brasileiro como uma filosofia de novas visões, novo

terminologias, conceitos com inovadoras responsabilidades educacionais, sobre essa

perspectiva, Mantoan (2011) destaca:

[...] incluir significa muito mais do que simplesmente colocar juntas crianças

‘deficientes’ com crianças ‘normais’ em sala de aula. Trata-se de uma ‘mexida’ bem maior. [...] uma transformação positiva e profunda, além de trazer noções

básicas de respeito ao ser humano e de seus direitos fundamentais. (2011, p. 27)

A educação das pessoas com deficiência auditiva por muitos anos

desenvolveu-se de forma preconceituosa. Contudo o tempo não trouxe uma evolução

considerável, no que diz respeito, pois à lógica da exclusão e conseqüentemente da

desigualdade social prevalece na realidade dos dias atuais. Assim, em vários

momentos históricos e contemporâneos os deficientes auditivos foram/estão sendo

vistos como seres incapazes, sendo excluídos de participar de qualquer tipo de vida

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“normal”. Essas práticas de exclusão permaneceram por longos períodos e ainda se

refletem na estrutura econômica, social e política do momento atual.

A inclusão do aluno surdo no contexto escolar brasileiro, consolidou-se com

advento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LBD n.º 9.394/96 que

no seu Capítulo V da Educação Especial, Artigos 58 e 59 que fixam:

Art. 58 . Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais. §1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender as peculiaridades da clientela de educação especial. §2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular. §3º A oferta da educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil. Art. 59 . Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades; II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular. (BRASIL – LDB n.º 9.394/96, Art. 58, Art. 59)

Um breve histórico sobre a inclusão escolar das pessoas com deficiência no

Brasil, revela que os deficientes mentais não recebiam qualquer tipo de educação.

Estes, por exemplo, no início do século XIX eles eram tratados como

“alienados mentais” e não faziam jus a qualquer tipo de tipo de atendimento.

Segundo Mazzotta (2005) aqueles que não representavam riscos à

sociedade ficavam vagando pelas ruas, vulneráveis a qualquer tipo de coisa. Em

contrapartida, os considerados agressivos, ficavam acorrentados dentro de cadeias

destinadas para tal.

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Ainda segundo estudos de Mazzotta (2008), em meados do século XIX as

Santas Casas de Misericórdia brasileiras passaram a acolher os doentes

psiquiátricos favorecendo-lhes cuidados específicos.

Naquela oportunidade, fora então criado um hospício de alienados contando

com a contribuição do Imperador Dom Pedro II para a construção do seu prédio. O

Hospício Pedro II, assim denominado, foi o primeiro lugar no Brasil onde doentes

psiquiátricos, ficavam sobre os cuidados dos médicos da época que tentavam sua

reabilitação para a inserção na sociedade.

O processo de reabilitação era feito por meio de terapia ocupacional em

oficinas de manufatura de calçados, artesanato com palha e alfaiataria. Os pacientes

não recebiam tratamentos biológicos e os agressivos eram trancados em quartos

fortes e amarrados em camisas de força (Mazzotta, 2005).

Com advento do século XX, passou-se a perceber a questão biológica da

deficiência como elemento precursor das medidas terapêuticas, corroborando neste

cenário, os estudos decorrentes da psicologia e das novas teorias de aprendizagem

que passaram a influenciar a educação para uma concepção ou abordagem

psicopedagógica, ressaltando a importância da escola e seus enfatizando seus

métodos e as técnicas de ensino.

Assim é que os estudos em Educação Inclusiva no Brasil avançam de

maneira significativa a partir da década de 1990 até o limiar do século XXI, (Mazzotta,

2005).

Ainda de acordo com estudos de Mazzotta (2005), é possível destacar três

posturas sociais que sinalizaram o desenvolvimento da Educação Inclusiva no

tratamento dado às pessoas deficientes: assistencialismo, marginalização, e

educação/reabilitação.

Com a promulgação da LDB n.º 4.024/61 que em seu texto original, trouxe

referência explícita a educação de deficientes que por sua vez passam a ter direito a

educação regular, denotando um grande avanço, pois estes grupos antes totalmente

excluídos da escola passou a ter como direito a educação escolar, superando a lógica

da terapia ocupacional representada na realização de trabalhos manuais e do

assistencialismo, oportunizando estas pessoas a inclusão social.

Esta inserção escolar, contudo, foi relativa, pois estes alunos passavam por

um treinamento ou espécie de adaptação para se enquadrarem na educação regular,

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assim como na sociedade. Assim, escola permaneceu inalterada, dividida entre a

educação regular e especial, com enfoque pedagógico nas patologias.

A emenda a Constituição Brasileira na Lei Nº 5.692/71 modificou alguns

conceitos da LDB de 61, que em seu Artigo 9º trata da garantia do atendimento as

pessoas com deficiência sem apontar, explicitamente, de que forma deverá ocorrer a

educação, reforçando a dubiedade e o erro na interpretação durante o cumprimento

do regulamentado em Lei.

A respeito desta dubiedade, (Mazzotta, 2005) mostra o entendimento do

Conselho federal de Educação, esclarecendo que o tratamento especial de forma

nenhuma dispensa o tratamento regular em tudo o que deixe de referir-se à

excepcionalidade.

Com a democratização no Brasil as leis foram alteradas e com a criação da

nova Constituição Federal de 1988 observamos que os objetivos fundamentais partem

do princípio da inclusão em larga escala em seu Art. 3º podemos destacar o item III

que aponta a redução das desigualdades sociais e o item V que destaca a promoção

do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer

outras formas de discriminação.

Este avanço na legislação implementou a garantia do direito das pessoas

com deficiência, tratando-as como igualdade.

Em 1994 o Documento elaborado na Conferência Mundial sobre Educação

Especial, em Salamanca, na Espanha, conforme fora citado anteriormente, trouxe

novos objetivos para prover diretrizes básicas para a formulação e reforma de políticas

e sistemas educacionais de acordo com o movimento de inclusão social.

Este documento, na análise de Mazzotta (2005, p. 35) é considerado

mundialmente como o marco regulatório da inclusão social, conforme o texto que

discute a Declaração de Salamanca: "promoveu uma plataforma que afirma o princípio

e a discussão da prática de garantia da inclusão das crianças com necessidades

educacionais especiais nestas iniciativas e a tomada de seus lugares de direito numa

sociedade de aprendizagem".

Ainda segundo Mazzotta (2005)

A Declaração de Salamanca ampliou o conceito de necessidades educacionais especiais, incluindo todas as crianças que não estejam conseguindo se beneficiar com a escola, seja por que motivo for. Assim, a idéia de "necessidades educacionais especiais" [...] “o princípio fundamental da escola inclusiva é o de que todas as crianças deveriam aprender juntas,

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independentemente de quaisquer dificuldades ou diferenças que possam ter. (2005, p. 37)

As escolas inclusivas devem reconhecer e responder às diversas

necessidades de seus alunos, acomodando tanto estilos como ritmos diferentes de

aprendizagem e assegurando uma educação de qualidade a todos através de

currículo apropriado, modificações organizacionais, estratégias de ensino, uso de

recursos e parceiras com a comunidade (...) Dentro das escolas inclusivas, as crianças

com necessidades educacionais especiais deveriam receber qualquer apoio extra que

possam precisar, para que se lhes assegure uma educação efetiva (...) UNESCO

(1994).

A Declaração de Salamanca refere-se à inclusão na educação. Estes

conceitos de inclusão abordados nesta declaração geraram o compromisso de

garantia dos direitos educacionais, cujo propósito foi discutir sobre Princípios, Política

e Prática em Educação Inclusiva, que proclama as escolas regulares inclusivas como

meio mais eficaz de combater a discriminação e determina que as escolas devam

acolher todas as crianças, independente de suas condições físicas, intelectuais,

sociais, emocionais ou lingüísticas.

Contudo, tal estrutura se torna insuficiente para suprir as necessidades

regionais e nacionais, devendo ser organicamente adaptada por meio de intervenções

legais e políticas à especificidade local, pois se não nos determos nesta nova visão

educacional, não conseguiremos romper com velhos paradigmas e fazer a reviravolta

que a inclusão propõe.

O Decreto nº 3.956/2001 vem reafirmar que as pessoas com deficiência têm

os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que as demais pessoas,

definindo como discriminação com base na deficiência toda diferenciação ou exclusão

que possa impedir ou anular o exercício dos direitos humanos e de suas liberdades

fundamentais.

Este Decreto tem importante repercussão na educação, exigindo uma

reinterpretação da educação especial, compreendida no contexto da diferenciação,

adotado para promover a eliminação das barreiras que impedem o acesso à

escolarização. BRASIL (2001).

Podemos dizer então que as pessoas com deficiência ganharam espaço na

sociedade quebrando paradigmas conceituais que por ventura os impediam de ter

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acesso ao âmbito escolar, participando ativamente da sociedade cumprindo com seu

dever como cidadão ativo e participativo dentro da sociedade.

1.2 CONCEITOS DE INCLUSÃO

A inclusão das pessoas com necessidades educativas especiais ou

deficientes, vem sendo discutida com ênfase no âmbito escolar com a proposta de

acesso e permanência dos alunos especiais na escola, contribuindo para a melhoria

do atendimento especializado, da capacitação dos docentes e da estrutura

organizacional. Antes de abordar os conceitos da inclusão, torna-se indispensável

interpretarmos que a inclusão só ocorre mediante a exclusão.

Conforme afirma Mazzotta (2005, p. 43), a exclusão pode ser definida como

um fenômeno social e não individual, cuja origem pode ser encontrada nos mesmos

princípios que nortearam a construção da sociedade moderna.

Entretanto, para que haja a quebra desse modelo excludente e necessário

que haja a ruptura na base estrutural da organização e sistematização nos diferentes

espaços escolares, objetivando a possibilidade de inclusão de todos indiferente de sua

condição, física, de cor da pela religião, classe social, etc.

Atender às diferenças, atender às necessidades especiais, ressignificar,

mudar o olhar da escola, pensando não a adaptação do aluno, mas a adaptação do

contexto escolar aos alunos.

Isso significa torná-lo múltiplo, rico de experiências e possibilidades, pronto

para viver, conviver com o diferente, rompendo barreiras humanas e arquitetônicas,

criando novos conceitos, dando novos sentidos, ressignificando a aprendizagem e,

consequentemente, o desenvolvimento humano.

Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às

escolas organizarem-se para o atendimento aos educandos com necessidades

educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação

de qualidade para todos. MEC/SEESP (2008).

1.3 DIFERENTES PERCURSOS DO PROCESSO DE INCLUSÃO

Na busca de enfrentar esses desafios e construir projetos capazes de

superar o histórico de exclusão, a Assembléia Geral da Organização das Nações U

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nidas – ONU, produziu vários documentos internacionais norteadores, tais como:

Declaração Universal Dos Direitos Humanos (1948); Declaração De Jontien (1990);

Declaração De Salamanca (1994), Convenção da Guatemala (1999), que teve o intuito

do desenvolvimento das políticas públicas dos seus países membros, com objetivo de

promover transformações no sistema de ensino assegurando o acesso e permanência

de todos na escola.

A proposta da educação inclusiva é acolher e dar condições para a pessoa

com deficiência exercer seus direitos no que tange ao cumprimento da inclusão

escolar, isso se refere também a todos os indivíduos, sem distinção de cor, raça, etnia

ou religião.

Inclusão é interagir com o outro, sem separação de categorias de

aprendizagem, sendo assim, um regime escolar único capaz de atender a toda

sociedade. Para conseguirmos reformar a instituição escolar primeiramente devemos

rever nossos preconceitos. Estamos vivenciando uma crise de paradigmas que geram

medos, inseguranças, incertezas e insatisfações, mas propõe-se que este seja o

momento de ousar e de buscar alternativas que nos sustentem e nos direcione para

realizarmos as mudanças que o momento propõe.

O compromisso de enfrentar com segurança e otimismo as divergências

impostas pela sociedade na aceitação da inclusão, nos mantém em constantes

discussões, pois tratar de unificar a educação torna-se um paradigma constante na

sociedade, e acaba de certa forma atendendo somente a um lado. Por isso manterse

firme na proposta de melhorias para enxergarmos com clareza e obviedade ética que

a inclusão está trabalhando em prol de um objetivo, nos norteara para a quebra desse

paradigma.

O exercício da cidadania para todos, engloba progresso educacional e

social e a questão das mudanças torna-se imprescindível para que as escolas se

tornem centros de conexão total dos indivíduos, não só na mudança da estrutura

organizacional, mas também da reformulação de todos os aspectos que envolvem a

escola.

Torna-se importante frisar que todos devem estar engajados nesta luta para

que aconteça o processo de inclusão. No entanto, mesmo com essa perspectiva

conceitual transformadora, as políticas educacionais implementadas não alcançam o

objetivo de levar a escola comum a assumir o desafio de atender as necessidades

educacionais de todos os alunos. (BRASIL, 2008, p.15).

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Grandes barreiras são enfrentadas por todos aqueles que defendem a

questão legal, preconceitos, problemas conceituais, desrespeitam as interpretações

tendenciosas de nossa legislação educacional, distorcem o sentido da inclusão

escolar, reduzindo-a unicamente à inserção de alunos com deficiência no ensino

regular.

1.4 PARADIGMA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA NO BRASIL

Na perspectiva de saber como fazer a inclusão escolar nas escolas

regulares, é um ponto chave para desencadear todas as formas de exclusões

escolares e assim superá-las. Partimos do princípio da recriação do modelo educativo

vigente.

Sabemos que as mudanças muitas vezes assustam, mas devem acontecer.

Inovar não tem necessariamente o sentido do inusitado. As grandes inovações são

muitas vezes a concretização do óbvio, do simples, do que é possível fazer, mas que

precisa ser desvelado, para que possa ser compreendido por todos e aceito sem

muitas resistências, se não aquelas que dão brilho e vigor ao debate das novidades.

(Mantoan, 2003, p. 56).

Os caminhos percorridos pela educação brasileira para consolidar seu

projeto inclusivo tem esbarrado em equívocos conceituais no que diz respeito ao ato

de inclusão, que dificultam a reorganização pedagógica das escolas para atender as

exigências que as diferenças lhe impõem, mas com a proposta de reavaliar o bem

estar da pessoa com deficiência na sociedade.

Refletir sobre a educação inclusiva é mais que uma questão jurídica,

fundamental a interpelação entre teoria e prática na ação docente, no sentido de

garantir de fato a entrada, a permanência e o sucesso da pessoa com deficiência em

seu processo de escolarização, nesse sentido para a efetivação da inclusão escolar,

a UNESCO (1994) objetiva que Uma mudança de perspectiva social é imperativa. Por

um tempo demasiadamente longo os problemas das pessoas portadoras de

deficiências têm sido compostos por uma sociedade que inabilita que tem prestado

mais atenção aos impedimentos do que aos potenciais de tais pessoas. UNESCO

(1994).

Não podemos falar em educação inclusiva, sem pensar na educação de

todos. O paradigma da inclusão serve de parâmetro à gestão educacional e para a

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efetivação de projetos políticos pedagógicos que privilegiem o respeito às diferenças

numa transformação histórica para os processos de exclusão presentes na educação

brasileira. Certamente, a educação tem hoje o grande desafio de ressignificar suas

práticas frente a uma realidade social e educacional excludente.

Pensando neste aspecto a autora Werneck (1997, p. 58) destaca que,

"Incluir não é favor, mas troca. Quem sai ganhando nesta troca somos todos nós em

igual medida. Conviver com as diferenças humanas é direito do pequeno cidadão,

deficiente ou não."

Segundo a autora, incluir é a melhor forma de acabar com o preconceito, no

entanto, pode ser começado nos cursos, escolas e universidades que formam

professores, com a consciência de que os alunos deficientes são responsabilidade de

todos os educadores, e não somente pelos profissionais capacitados e interessados

na Educação Inclusiva.

A educação das crianças com deficiência ainda é um problema, como é

também o da educação das classes populares, a educação rural, a das crianças em

situação de rua, a dos reeducados, dos indígenas, dos analfabetos etc. Em todos

esses grupos há uma especificidade que os diferencia, mas há também um fator

comum que os torna semelhantes: trata-se daqueles grupos que, com certa

displicência, são tidos como minorias; minorias estas que sofrem de um processo

semelhante de exclusão da educação, pois se encontram a margem da sociedade e

isso requer construções na definição de políticas publicas que visem alterar

organizações frente aos sistemas paralelos do ensino comum e especial.

1.5 A ESCOLA INCLUSIVA

A educação inclusiva sofreu diversas alterações na busca de educação de qualidade

para todos os indivíduos, com isso, a política educacional na perspectiva de melhorias

na inclusão das pessoas com deficiências nas escolas comuns criam possibilidades

de quebra no paradigma da educação brasileira com leis, decretos e discussões

voltadas para a democratização do âmbito escolar.

Sobre esta premissa da escola inclusiva, Sanchez (2005) destaca que:

Esta visa apoiar as qualidades e necessidades de cada um e de todos os

alunos da escola. Enfatizando a necessidade de se pensar na

heterogeneidade do alunado como uma questão normal do grupo/classe e

pôr em macha um delineamento educativo que permita aos docentes utilizar

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os diferentes níveis instrumentais e atitudinais como recursos intrapessoais e

interpessoais que beneficiem todos os alunos. (2005, p. 12)

A compreensão da educação inclusiva nesta perspectiva relaciona-se com

o processo de escolarização de práticas das escolas comuns que passaram a mudar

a lógica e suas organizações no processo educativo do aluno deficiente.

A Educação Inclusiva perpassa todos os níveis, etapas e demais

modalidades de ensino que oferece recursos, serviços e estratégias de

acessibilidade ao ambiente escolar. Nesse contexto a escola comum deixa de ser

um único sistema de ensino passando a ser paralelo com níveis e etapas próprias.

Segundo a UNESCO (1994), a origem do conceito de Escola Inclusiva

deu-se em decorrência de uma concepção comum que condiz com a

responsabilidade de uma pedagogia centrada na criança, capaz de educar a todas,

inclusive aquelas com desvantagens severas. As crianças devem aprender juntas.

Tal consenso concebe as diferenças como condição humana ao passo que

tenta adequar a aprendizagem às necessidades da criança em respeito a sua

dignidade.

Com o novo conceito de Escola Inclusiva, as políticas educacionais ensejam

novas práticas de ensino com o propósito de atendê-la em suas especificidades,

garantindo o direito a educação para todos.

Para entender um o novo conceito de diferença e multiplicidade Silva (2000)

considera que:

A diferença (vem) do múltiplo e não do diverso. Tal como ocorre na aritmética,

os múltiplos é sempre é um processo, uma operação, uma ação. A

diversidade é estática, é um estado, é estéril. A multiplicidade é ativa, é fluxo,

é produtiva. A multiplicidade PE uma maquina de produzir diferenças –

diferenças que são irredutíveis à identidade. A diversidade limita-se ao

existente. A multiplicidade estende e multiplica, porífera, dissemina. A

diversidade é um dado – da natureza ou da cultura. A multiplicidade é um

movimento. A diversidade reafirma o idêntico. A multiplicidade estimula a

diferença que se recusa a se fundir com o idêntico. (2001, p. 100 – 101)

A diversidade na escola gera a criação de grupos idênticos que acabam

sendo formadas por alunos com as mesmas especificidades,

mesmas características, ressaltando que ao nos direcionarmos a escola comum

inclusiva como modelo aberto a diversidade, admitimos extinguir com a inclusão

escolar, eliminando possibilidades dos grupos de alunos com características

semelhantes agrupar-se única e exclusivamente entre si, valorizando a diferença e

enfatizando que as diversidades podem ser um modelo inclusivo significante.

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Para Mantoan (1997) a metáfora inclusão é a do caleidoscópio, ou seja,

precisa de todos os pedaços para formar as figuras. Portanto assim é a criança que

precisa de um ambiente variado, de ajuda de todos para que se desenvolva e consiga

atuar dentro de uma sociedade sem limitações.

O enfoque da escola inclusiva é conceber um espaço no qual os alunos a

partir da interação com o professor construam o conhecimento de acordo com suas

capacidades, expressando suas idéias livremente e participando ativamente das

tarefas de ensino, se desenvolvendo como cidadãos, nas suas especificidades, nas

suas diferenças.

A escola comum pode ser considerada inclusiva quando reconhece e

respeita as diferenças dos alunos mediante seu processo educativo, buscando a

participação e o avanço de todos adotando novas práticas pedagógicas. É sabido que

as práticas pedagógicas vão além das escolas e das salas de aula. Porém para termos

uma escola comum inclusiva, saber os direitos e reivindicá-los torna-se a ferramenta

crucial para tal mudança educacional.

Para que essa escola seja concretizada, é imprescindível a redefinição e a

aplicação de novas alternativas e praticas pedagógicas compatíveis com a inclusão.

Neste sentido, fixa a LDB (1996) em seu Art. 14:

“[...] os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do

ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e

conforme os seguintes princípios: participação da escola; participação das

comunidades escolar e local em conselhos escolares equivalentes.” (BRASIL:

LDB Lei nº 9.394/96 artigo 14).

Para atender a todos da melhor forma, as escolas atuais devem rever

seus projetos políticos pedagógicos a partir de uma gestão democrática, com intuito

de requerer uma política coletiva visando à melhoria na educação, já que tais

mudanças não ocorrem por acaso nem por decretos e pensando nisso, a escola deve

reformular seus espaços e rotinas aperfeiçoando suas atividades extracurriculares

para o bom aproveitamento de todos.

Entende-se por Educação Inclusiva, para os efeitos da Lei 9.394/96 a

modalidade de Educação Escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de

ensino para educandos com Necessidades Educativas Especiais.

Portanto não basta apenas inserir um aluno com deficiência é preciso que

haja diversidade nos sistemas escolares e mudança na busca desse atendimento para

que realmente seja atingido o objetivo proposto na LDB.

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Criar caminhos abrangentes para os alunos de maneira geral nos permite

repensar a maneira de como devemos nos preparar para as mudanças pedagógicas.

Salas multifuncionais, cursos preparatórios de capacitação docente, projetos sociais

dentre outros, pode ser a chave para ressignificar a educação respeitando as

diferenças e promovendo o ensino igualitário.

1.6 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO – AEE

O Ministério da Educação, por intermédio da Secretaria de Educação

Especial, considerando a Constituição Federal de 1988, que estabelece o direito de

todos a educação, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da

Educação Inclusiva, de janeiro de 2008, e o Decreto Legislativo nº 186, de julho de

2008, que ratifica a Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU,

2006), institui as Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o Atendimento

Educacional Especializado – AEE na educação básica, regulamentado pelo do

Decreto nº 6.571, de 18 de setembro de 2008. BRASIL (2001).

Podemos compreender que a educação inclusiva é uma modalidade que

perpassa todos os níveis de ensino da educação básica ao ensino superior. Assim

terá o direito a esta modalidade de ensino todos os alunos que se possuírem

deficiência intelectual/física, surdez, cegueira ou baixa visão, surdo cegueira,

transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades. MEC/SEESP (2008).

O ensino oferecido no AEE é diferente do ensino escolar, e não pode ser

visto como um espaço onde se tem reforço escolar ou complementação das atividades

escolares.

São exemplos práticos de Atendimento Educacional Especializado o ensino

da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS e os códigos do BRAILLE, formação do aluno

para a utilização dos recursos tecnológicos, comunicação alternativa, disponibilização

e preparação de materiais pedagógicos acessíveis ao aluno, entre outros.

A legislação vem dar suporte a estes alunos assegurado o direito de se

matricularem nos sistemas de ensino e devem matricular os alunos com deficiência,

os com transtornos globais do desenvolvimento e os com

altas habilidades/superlotação nas escolas comuns do ensino regular e ofertar o

atendimento educacional especializado – AEE, promovendo o acesso e as condições

para uma educação de qualidade.

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Em vista disso, os sistemas de ensino devem disponibilizar os recursos da

educação especial para que os alunos tenham os recursos e as condições de acesso

ao currículo, promovendo os materiais didáticos, aos espaços e equipamentos, aos

sistemas de comunicação e informação e ao conjunto das atividades escolares. De

acordo com Diretrizes Operacionais da Educação Especial (2008):

a. Sala de recursos multifuncional: espaço físico, mobiliários, materiais

didáticos, recursos pedagógicos e de acessibilidade e equipamentos

específicos; b. Matrícula do aluno no AEE: condicionada à matrícula no ensino regular

da própria escola ou de outra escola; c. Plano do AEE: identificação das necessidades educacionais

específicas dos alunos, definição dos recursos necessários e das atividades

a serem desenvolvidas; cronograma de atendimento dos alunos; d. Professor

para o exercício da docência do AEE; e. Profissionais da educação: tradutor e intérprete de Língua Brasileira de

Sinais, guia-intérprete e outros que atuam no apoio às atividades de

alimentação, higiene e locomoção. f. Articulação entre professores do AEE e os do ensino comum. g. Redes de apoio: no âmbito da atuação intersetorial, da formação docente,

do acesso a recursos, serviços e equipamentos, entre outros que contribuam para a realização do AEE. (BRASIL, 2008).

Ainda nas Diretrizes Operacionais da Educação Especial (2008) aponta

que os professores devem ter uma formação inicial que o habilite para o exercício da

docência e formação específica na educação especial, inicial ou continuada para

atuação no AEE. São de responsabilidade do professor do atendimento educacional

especializado segundo as referidas Diretrizes (2008):

a. Identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos

pedagógicos, de acessibilidade e estratégias considerando as necessidades

específicas dos alunos público-alvo da educação especial; b. Elaborar e executar plano de atendimento educacional especializado,

avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de

acessibilidade; c. Organizar o tipo e o número de atendimentos aos alunos na sala de

recursos multifuncional; d. Acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos

pedagógicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular,

bem como em outros ambientes da escola; e. Estabelecer parcerias com as áreas intersetoriais na elaboração de

estratégias e na disponibilização de recursos de acessibilidade; f. Orientar professores e famílias sobre os recursos pedagógicos e de

acessibilidade utilizados pelo aluno; g. Ensinar e usar recursos de Tecnologia Assistiva, tais como: as

tecnologias da informação e comunicação, a comunicação alternativa e

aumentativa, a informática acessível, o soroban, os recursos ópticos e não

ópticos, os softwares específicos, os códigos e linguagens, as atividades de

orientação e mobilidade entre outros; de forma a ampliar habilidades

funcionais dos alunos, promovendo autonomia, atividade e participação. h. Estabelecer articulação com os professores da sala de aula comum,

visando a disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e de

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acessibilidade e das estratégias que promovem a participação dos alunos nas

atividades escolares. i. Promover atividades e espaços de participação da família e a interface

com os serviços setoriais da saúde, da assistência social, entre outros.

(BRASIL, 2008).

O Atendimento Educacional Especializado – AEE tem por intenção

organizar e elaborar recursos pedagógicos que promovem a acessibilidade e que

acabar com as barreiras para a construção da aprendizagem plena e, integrando e

proporcionando a participação dos alunos. Ponderando a particularidades das

necessidades e limites individuais dos alunos. MEC/SEESP (2008).

De acordo com a definição proposta pelo Comitê de Ajudas Técnicas (CAT),

tecnologia assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar,

que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que

objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de

pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua

autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social. (CAT, 2007)

A tecnologia assistiva é uma estratégia ou um recurso utilizado para

possibilitar a execução de uma atividade pretendida ou necessária a uma pessoa com

deficiência. Na perspectiva da Educação Inclusiva a tecnologia assistiva favorece a

participação do aluno com deficiência em diversas atividades escolares ligadas aos

objetivos educacionais comuns.

Podemos citar como exemplo de tecnologia assistiva os materiais escolares

e pedagógicos acessíveis, a comunicação alternativa, os recursos de acessibilidade

ao computador, os recursos para mobilidade, localização e sinalização, o mobiliário

que atenda as necessidades posturais, dentre outros.

Segundo Mazzotta (1996), o atendimento as necessidades educacionais

especiais na classe e ou a utilização de todo conhecimento acumulado pela área de

educação especial, proporcionara a melhoria da qualidade de ensino segundo as

características de cada aluno, visando a um atendimento individualizado, organiza os

currículos, visando diversificar a metodologia e as estratégias de ensino entre tantas

modificações e com certeza benéfica para todos os educandos.

Entretanto, no Atendimento Educacional Especializado, o professor

juntamente ao aluno com deficiência, fará a identificação das barreiras enfrentadas

por ele no contexto educacional comum, que o limitam ou impedem de participar das

atividades de aprendizagem na escola.

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Ao identificar essas dificuldades vinculadas também as habilidades do

aluno, o professor programará recursos e estratégias que o auxiliarão, promovendo e

ampliando possibilidades de participação e atuação do aluno, nas relações, atividades

e comunicação no espaço escolar.

A Sala de Recursos Multifuncionais será o local apropriado para o aluno

com deficiência aprender como utilizar as ferramentas de tecnologias assistiva, com

vista ao desenvolvimento da sua autonomia levando em consideração que o recurso

de tecnologia assistiva vai além das salas multifuncionais.

1.7 EDUCAÇÃO ESCOLAR INCLUSIVA: ÊNFASES NA LEGISLAÇÃO

Diante da revisão teórica referente à Educação e Escola Inclusivas, há

ainda de considerar-se algumas especificidades anunciadas na legislação pertinente

da inclusão, de forma a conduzir adequadamente a reflexão referente à inclusão de

alunos surdos na escola regular.

Diante deste contexto foram estabelecidas leis que garantissem essa

inclusão e permanência da criança na escola, a lei que rege a educação nacional

brasileira, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira – LDB n.º 9.394/96 no seu

capítulo V no que se trata da Educação Especial, Art. 58 (como vimos anteriormente)

considera a educação especial da seguinte forma:

Entende-se por educação especial, para os efeitos desta lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente (grifo nosso) na rede regular

de ensino para educando deficientes, com transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades e superdotação. (BRASIL: LDB n.º 9.394/96, Art. 58)

Contudo a educação de forma ampla está legislada na Constituição Federal

(1988) a qual visa à democratização da educação brasileira em seu Artigo 205 quando

explicita:

A educação é dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a elaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL: 1988, CF, Art. 205).

A LDB veio para complementar senão confirmar o que fixa a Constituição

Brasileira, pois trouxe um reforço ao direito da criança está na sala de aula e

participar do meio educacional, mostrando os responsáveis que

lhes proporcionassem a execução desse direito ressaltado em seu artigo 2º:

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A educação é dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, que tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (BRASIL: CF, Art. 2º).

Portanto cabe aos devidos responsáveis assegurar esse direito

conquistado para este público, considerando a lei, além de assegurar oportunidade

de educação escolar a todas as crianças, adolescente, jovens e adultos, demonstra

um olhar carinhoso e atencioso ao público com necessidades especiais, pois ressalta

que a educação especial é uma das quatro modalidades de ensino quando seu art.

4, inc. III escreve da seguinte forma:

Os públicos para esta modalidade devem ter o atendimento educacional especializado se operacionalizando através das seguintes conformidades

organizacionais dos sistemas de ensino: i) distribuição dos alunos preferencialmente nas escolas regulares e nas classes comuns. (BRASIL: CF, Art. 4º)

A aludida Constituição, em seu artigo 208, inciso l afirma que o dever do

estado é garantir o atendimento especializado à pessoa com deficiência,

preferencialmente na rede regular de ensino e garante também o atendimento

especializado a essa pessoas, consolidando o direito a todos os deficientes de

freqüentar a escola.

Com a Declaração de Salamanca em 1994, na busca pela melhoria na

educação, relata a eficácia da inclusão em escolas comuns e naturalmente influenciam

na formulação das políticas públicas para uma educação inclusiva. Desse modo a

escola inclusiva deve incluir todas as crianças independentes de suas condições

físicas, emocionais, sociais dentre outras. Nesta variedade é empregado o termo

“necessidade educacional especial” que segundo a Declaração de Salamanca (1994)

refere-se a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades educacionais

especiais se originam em função de deficiências ou dificuldades de aprendizagem.

(1994: p. 12)

O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei n.º 8.069/90 vem reforçar

e garantir os direitos expressos na Constituição Federal em seu Artigo 59 inciso III o

atendimento educacional especializado aos deficientes na rede pública oportunizando

aos deficientes exercerem seus direitos.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs (1987), no que

diz respeito à diversidade em sala de aula considera da seguinte forma:

Atender as necessidades singulares de determinados alunos é esta atento a diversidade: é atribuição do professor considerar a especificidade do

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indivíduo, analisar suas possibilidades de aprendizagem e avaliar a eficácia das medidas adotadas. [...] Dessa forma, a atuação do professor em sala de aula deve levar em conta fatores sociais, culturais e a história educativa de cada aluno, como também características pessoais de déficit sensorial, motor ou psíquico, ou de superdotação intelectual. A escola ao considerar a diversidade, tem como valor máximo o respeito às diferenças – não elogio a desigualdade. As diferenças não são obstáculo para o cumprimento da ação educativa; podem e devem, portanto ser fator de enriquecimento. (BRASIL: PCNs, 1987)

Ainda na Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB 9.394/96), o

artigo 58 enfatiza:

A educação especial representa uma modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente (grifo nosso) na rede regular de ensino, se

estendendo da educação básica até a superior para educando com necessidades educacionais especiais, prevendo ainda a criação de serviços de apoios especializados na escola regular para atender as peculiaridades da clientela da educação especial. (BRASIL: LDB N.º 9.394/96, Art. 58)

No entanto, as escolas regulares, ainda se mostram temerosas, protegendose

de toda e qualquer transformação proveniente da aceitação de política educacional

inclusiva. Para que a inclusão aconteça de forma eficaz nas escolas regulares é

necessário também adequações nos prédios escolares o que está aprovada na Lei Nº

10.098 de 19 de dezembro de 2000, que garante a acessibilidade aos deficientes:

Art. 1º Esta Lei estabelece normas gerais e critérios básicos para promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com modalidade reduzida, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no imobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação. (BRASIL: 2000. Art. 1º).

Desse modo, é necessário que o ambiente escolar seja acessível a todos que

possuem deficiência, para que realmente esse alunado seja incluído nas práticas

escolares. Muito ainda precisa ser feito para que haja uma verdadeira inclusão escolar

e não apenas matricular esse aluno em uma turma regular somente pra dizer que está

promovendo a inclusão, mas garantir o acesso e a permanência na escola, vencendo

os paradigmas da visão segregativa. A esse respeito Miranda (2003) enfatiza:

Em Lei, muitas conquistas foram alcançadas. Entretanto, precisamos garantir que essas conquistas, expressas em leis, realmente possam ser efetivadas na prática do cotidiano escolar, pois o governo não tem conseguido garantir a democratização do ensino, permitindo o acesso, a permanência e o sucesso de todos os alunos do ensino especial na escola. (2003, p. 6)

Neste sentido a inclusão depende de mudanças de valores da sociedade e

vivência de um novo paradigma, buscando alternativas para receber o aluno com

deficiência levando em consideração suas especificidades e não mais suas limitações.

Assim como a lei de acessibilidade já citada anteriormente garante o direito dos

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deficientes auditivos a terem um ambiente propício a eles e que de fato essas pessoas

exercem os seus direitos garantidos pela legislação brasileira

Como se pode observar a inclusão é um desafio e o sistema educacional

deverá provocar melhoria na qualidade da educação básica e superior, para que os

alunos com e sem deficiência possam exercer o direito à educação em sua plenitude,

e sejam cidadãos de direito nas escolas regulares, bem vindos e aceitos na sociedade,

atendendo ao que está previsto na Resolução CNE/CEB nº 02/2001, no Artigo 2º que

determinam que todos alunos devem ser matriculados, organizando-se para o

atendimento dos alunos com necessidades especiais e oferecendo uma educação de

qualidade.

Dessa forma para que a escola eduque com êxito o seu alunado, deve levar

em consideração suas diversidades, assegurando a permanência desses alunos com

deficiência na escola.

1.8 CONCEITUANDO SURDEZ

São muitos os fatores que levam à deficiência auditiva. É interessante que

conheçamos algumas indicações para reconhecermos a deficiência auditiva e como

prevenir e como lidar com a situação.

Deficiência auditiva é o nome usado para indicar a perda de audição ou

diminuição na capacidade de escutar sons. A audição é essencial no

desenvolvimento intelectual e na integração social. É por meio da audição que

adquirimos a linguagem, compartilhamos informações e nos comunicamos com os

nossos semelhantes.

De acordo com análise de Lacerda (2006):

A linguagem é adquirida na vida social e é com ela que o sujeito se constitui como tal, com suas características humanas, diferenciado dos demais animais. É no contato com a linguagem, integrando com a sociedade que faz uso dela que o sujeito a adquiri. (2006, p. 165).

Desse modo a linguagem é de suma importância para vivencia no

contexto social, neste caso a diferença auditiva do aluno dificulta o aprendizado e a

integração no meio social no qual está inserida. Sobre este aspecto, Lacerda (2006)

reitera:

Devido às dificuldades acarretadas pelas questões de linguagem, observa-se que as crianças surdas encontram-se defasadas no que diz respeito à escolarização, sem o adequado desenvolvimento e com o

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conhecimento aquém do esperado para sua idade. Disso advém a necessidade de elaborações de propostas educacionais que atendam as necessidades dos sujeitos surdos, favorecendo o desenvolvimento efetivo de suas capacidades. (2006, p. 165)

Como se pode observar a aprendizagem depende também de um bom

funcionamento do órgão auditivo, caso contrário o aprendizado não acontece devido

à diferença auditiva que podem ser classificadas como perda auditiva moderada, leve

e profunda sendo que a perda auditiva é o resultado de danos a uma ou várias partes

do ouvido externo, médio e interno. As quais podem ser classificadas como condutiva,

sensório-neural, mista e central ou surdez central.

Deficiência auditiva condutiva é causada por problema localizado no ouvido

externo ou médio, que tem por função transmitir o som ao ouvido interno. Esta

deficiência pode ter várias causas, entre elas o uso de objetos no conduto auditivo

externo, tampões de cera, otite externa e média, inflamação da tuba da membrana

timpânica, obstrução da tuba auditiva. Em muitos casos é reversível e geralmente não

precisa de tratamento com aparelhos auditivos, apenas cuidados médicos.

Quando ocorre lesão no ouvido interno, há uma deficiência que recebe o

nome de sensório neural. Nesse caso, não há problema na condução do som, mas

acontece uma diminuição na capacidade de receber os sons que passam pelo ouvido

externo e médio. A deficiência sensório-neural faz com que as pessoas escutem

menos e também tenham maior dificuldade de perceber as diferenças entre os sons.

Esse tipo de deficiência é irreversível, e sua causa pode ser de origem hereditária, em

virtude da mãe no pré-natal, apresentar tais doenças como rubéola, sífilis, herpes,

diabetes ou podem ser causadas por traumas físicos. Outro caso de deficiência

auditiva é a mista, que são percebidas pela presença de ambas as deficiências, a

condutiva e a sensorial-neural na mesma pessoa.

A deficiência central ou surdez central não é necessariamente

acompanhada de diminuição da sensitividade auditiva, mas manifesta-se por

diferentes graus de dificuldades na compreensão das informações sonoras.

No Brasil, segundo o Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, em seu

artigo 40, ficou estabelecida que a deficiência auditiva corresponda à perda parcial ou

total das possibilidades auditivas sonoras, variando de grau e níveis na forma

seguinte:

De 25 a 40 de decibéis (db) –deficiência auditiva leve de 41 a 55 de decibéis (db) – deficiência auditiva moderada de 56 a 70 de decibéis (db) – deficiência auditiva acentuada de 71 a 90 de decibéis (db) – deficiência auditiva severa,

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acima 91 decibéis ( db) deficiência auditiva profunda. (BRASIL: Decreto 3.298/99 Art. 40).

Importante ainda destacar o conceito de deficiência auditivo desenvolvido

pela American National Standards Institute (ANSI – 1989):

Deficiência auditiva é considerada genericamente como a diferença existente

entre a performance do indivíduo e a habilidade normal para a detecção sonora, tendo com referência o Zero audiométrico (0 dB N.A) que refere-se aos valores de níveis de audição que correspondem à média de detecção de sons em várias freqüências: 500 Hz,1000 Hz, 2000 Hz, etc.Considera-se, em geral, que a audição normal corresponde à habilidade para detecção de sons até 20 dB N.A (decibéis, nível de audição). (ANSI: 1986).

Percebe-se que a deficiência auditiva corresponde a habilidades em que o

individuo detecta, mediante ao seu grau sonoro.

1.9 CLASSIFICAÇÃO DA SURDEZ

De acordo com o Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, em seu

artigo 40, ficou estabelecida que a deficiência auditiva corresponde a perda parcial ou

total das possibilidades auditivas sonoras, variando de grau e níveis da seguinte

forma:

a) Audição normal- perda auditiva de até 25 db. Ainda que uma pessoa

tenha perda parcial de até 25 dB, até este nível não há limitação da sua capacidade de comunicação e desenvolvimento lingüístico, portanto está perfeitamente inserida no contexto social, sem inconvenientes relevantes.

b) Portador de Surdez Leve- Perda auditiva de 26 a 40 dB. Permite ouvir

os sons, desde que sejam um pouco mais intensos. Essa perda impede que o individuo perceba igualmente todos os fonemas das palavras. É considerado desatento e solicita eventualmente a repetição do que lhe falam. Além disso, a voz fraca ou distante não é ouvida. Essa perda auditiva não impede a aquisição normal da linguagem, mas poderá ser a causa de algum problema articulatório ou dificuldade na leitura e/ ou escrita.

c) Portador de Surdez Moderada- Perda auditiva de 41 a 55 dB, é

necessária uma voz de certa intensidade para que seja percebida, ao telefone não escuta com clareza, trocando muitas vezes a palavra ouvida por outra

foneticamente semelhante( rato/ gato). Nesse caso é freqüente o atraso da linguagem.

d) Portador de Surdez Acentuada- Perda auditiva entre 41 e 70 dB. Não

escuta sons importantes do dia- dia ( ouvir músicas, assistir televisão). Esses limites se encontrando nível da percepção da palavra, sendo necessário uma voz de certa intensidade para que seja conveniente percebida. É freqüente o atraso de linguagem e as alterações articulatórias havendo, em alguns casos, maiores problemas lingüístico. Esse individuo tem maior dificuldade de descriminação auditiva em ambiente ruidosos.

e) Portador de Surdez Severa- Perda auditiva de 71 e 90 dB. Este tipo

de perda vai permitir que o individuo identifique alguns ruídos familiares, Se a família estiver bem orientada pela área educacional. Percebe, mas não entende a voz humana, não distingue os sons( fonemas) da fala. A compreensão verbal vai depender, em grande parte, de aptidão para utilizar

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a percepção visual ou seja, a leitura labial, e para observar o contexto das situações. Nesse nível de surdez é possível escultar sons fortes, como o de caminhão dentre outros sem amplificação.

f) Portador de Surdez Profunda- Perda auditiva superior a 90 dB. A

gravidade dessa perda é tal, que priva a pessoa das informações auditivas necessárias para perceber e identificar a voz humana, impedindo- o de adquirir naturalmente a linguagem oral. Dessa forma, uma criança que já nasce com ou adquire uma surdez severa ou profunda antes de ter acesso a língua oral de sua comunidade, vai ter muitas dificuldades de se integrar ao mundo dos ouvintes.

g) Anacusia- É a falta de audição, deve ser trabalhado e estimulado,

tendo como conduta pedagógica o mesmo da surdez profunda. (BRASIL: Decreto n.º 3.298/99, Art. 40)

Historicamente a sociedade veio mudando sua visão com relação à

pessoa surda, como cita a autora Lídia da Silva (2012):

Surgiram novas taxionomias se imprimiram na educação de surdos, a classificação passou a ser pelo critério lingüístico e o rótulo de identidade era feito mediante o conhecimento que o surdo apresentava a respeito da língua de sinais. (2012, p. 141)

A autora apresenta essa classificação de acordo com as definições de Perlin

(Apud Lídia da Silva, 2012) onde ressalta:

• Identidade surda – pessoa consciente quanto à sua condição de surdez, é politizada e tem língua de sinais como nativa. • Identidade surda incompleta – é o surdo que não se aceita, pelo sentimento de inferioridade em relação aos ouvintes. • Identidade surda de transição – surdo oralizado que, muito tempo

depois, descobre a comunidade surda e transita do mundo auditivo para o mundo visual. • Identidade surda embaçada – surdo que não consegue captar o mundo de forma visual e nem auditiva. • Identidade surda híbrida – pessoa que nasceu ouvinte e,

posteriormente, se tornou surda. Tem conhecimento da estrutura do português falado. • Identidade surda flutuante - surdo que oscila de uma comunidade a

outra, convivendo tanto com surdos quanto com ouvintes. Há falta de língua de sinais cm surdos e falta de comunicação com ouvintes. • Identidade surda diáspora – pessoa que tem a necessidade de trocar

experiências com seus colegas surdos, indiferente de onde estejam. (2012, p. 141)

Ainda sobre as causas e prevenção da surdez a Silva (2011) destaca

em sua obra Fundamentos e Metodologias do Ensino Especial da seguinte forma:

A surdez Pode ser congênita ou adquirida. As principais causas da deficiência congênita são: hereditariedade, viroses maternas, doenças da gestante, ingestão de medicamentos sem acompanhamento médico. É adquirida quando existe uma pré-disposição genética, quando ocorrem doenças infecciosas, uso de medicamentos, exposição a sons impactantes e viroses, por exemplo.

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O documento do MEC, saberes e práticas da inclusão, (Apud Lidia da Silva 2012, pág. 105) identifica três níveis diferenciados de prevenção:

• Prevenção primária: refere-se às ações preventivas à surde, evitando sua

ocorrência, e deve ser realizada por meio de campanhas de vacinação contra as doenças infectocontagiosas, em especial a rubéola, realização de exames pré nupciais para análise dos fatores sanguíneos e constatação do estado geral de saúde do casal, acompanhamento à gestante (pré –natal), campanhas de vacinação infantil contra sarampo, meningite, caxumba e outras, e principalmente por meio da divulgação das informações a respeito, palestras e orientações á mães.

• Prevenção secundária: refere-se ás ações que buscam amenizar as

conseqüências da surdez e são realizadas tanto na área da saúde como na área da educação. Na área da saúde apresentam-se por meio de diagnóstico, da indicação e uso de próteses o mais precocemente possível e do atendimento fonoaudiológico; na área da educação por meio do atendimento especializado desde a educação infantil, principalmente através do Programa de Estimulação Precoce (para crianças de zero a três anos).

• Prevenção terciária: refere-se ás ações que limitam as conseqüências do

problema da surdez e melhoram o nível de desempenho da pessoa, como aquelas que compõem o atendimento realizado pela educação especial. (2011, p. 105)

Pode-se notar o quão claro são esclarecidos os tipos de identidades da

pessoa surda, e quais as formas de prevenção, cabe a escola diante desse

conhecimento analisar e considerar cada um com suas especificidades. São muitos

os desafios da escola frente ao atendimento de alunos com deficiência, devendo esta,

portanto está preparada para receber esse público e garantir a permanência dele no

ambiente escolar, uma vez que este pode ser inserida tanto na escola de surdos como

na escola de ouvintes, podendo em ambas ser atendida sua necessidade, sendo

garantida a libras como sua primeira língua.

1.10 A SURDEZ NO MEIO SOCIAL

No meio social é comum nos deparamos com pessoas se comunicando de

forma diferente do que a maioria tem em se comunicar, o que provoca certo

estranhamento por parte de muitas pessoas, no entanto esta é uma forma de

comunicação já bastante aceita no meio social uma vez que o público está se tornando

maior e mais visível.

A sociedade deve olhar com alteridade para essa clientela os tornando parte

do meio social, concretizando sua língua, pois este é dotado de cultura que deve ser

respeitada.

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As relações sociais dos surdos estão intimamente ligadas ao mundo visual,

a libras surge como a melhor forma para se expressar diante das suas

necessidades, cabe a escola, trabalhar suas peculiaridades levando em

consideração as diferença entre uma pessoa surda para uma ouvinte, características

essas que não os torna melhor nem pior um do outro, porém os tornam seres

humanos igualmente dotados de defeitos e qualidades.

Dentre essa relação da pessoa surda no meio social a autora Lídia da Silva

(2012) enfatiza da seguinte maneira:

Pensar no processo de construção da identidade surda da pessoa que é

ouvinte não seria algo tão complexo se somente houvesse comunidades que

partilham do mesmo sentimento. Porém, a realidade não é bem assim. Essas

crianças que falam Libras desde a infância e que enxergam a surdez como

constituição cultural, social e política irão precisar de um ambiente com

características diferentes dessas, no caso a escola. (2012, p. 132)

Skiliar (Apud Lídia da Silva, 2012, pág.132) reforça esse pensamento

quando diz que: “A escola deve ver o sujeito como instrumento/meio de produção de

sentidos e aplicar seus diversos mecanismos de atuação para impor saberes, culturas,

valores e identidades.”

Percebe-se que a escola é um agente ativo da construção da identidade de seres

humanos, uma vez que todos são dotados de cultura e esta é passiva a mudanças

assim como pode ser moldada de acordo com a relação em que esta inserida.

1.11 FALANDO DAS LIBRAS

Libras ou língua de sinais é uma forma de expressão usada

preferencialmente por pessoas surdas o que não impede de ouvintes utilizar – lãs,

pelo contrário surge como uma linguagem bastante aceita em ambos os lados em

prol de uma melhor comunicação.

De acordo com Silva (2012):

No Brasil há duas terminologias correntes para designar a língua de sinais utilizada pelas comunidades surda brasileira: Libras (Língua Brasileira de Sinais) e LSB (Língua de Sinais Brasileira). A primeira foi oficializada pela Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos, e é o termo presente em documentos legais. A LSB é a sigla utilizada por pesquisadores que publicam textos internacionais, já que as demais línguas de sinais do mundo possuem uma sigla com três letras, dessa forma é possível ter uma rápida identificação para LSB. (2012. p. 19)

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De acordo com a autora CIBELERARIS antes da descoberta do Brasil, não

havia escola especializadas para surdos. Até o final do Século XV, os surdos eram

considerados ineducáveis. Começou a sentir-se a influência de novas manifestações

sobre a educação dos surdos, surgidas na Europa e nos Estados Unidos durante os

Séculos XVI a XIX.

Ainda sobre a autora só em1855, foi que veio ao Brasil um professor

chamado Ernesto Huet e fundou no Rio de Janeiro a primeira escola para surdos no

Brasil, o Instituto de Educação de Surdos – INES, em 26 de Setembro de 1857. Neste

Instituto os alunos educados pela Língua escrita, dactológica e de sinais, conseguiram

ser recuperados na comunicação expressiva, dos seus sentimentos, para poderem

conviver com as pessoas ouvintes.

Ainda hoje existem muitos sinais que eram usados nos primeiros tempos

do INES. O alfabeto manual, de origem francesa, foi difundido por todo o Brasil pelos

próprios alunos do INES. Naquela época os pais traziam os alunos surdos para o Rio,

vindo de todas as partes do Brasil. A Língua de Sinais usada no Brasil recebeu muita

influência dos sinais da França e dos Estados Unidos.

A autora continua afirmando que em 1875, Flausimo José Gama, ex-aluno

do Instituto Nacional dos Surdos-mudos, fez um pequeno vocabulário de sinais

baseado em desenho. Objetivava mostrar os sinais brasileiros. Atualmente esta

linguagem não é mais usada.

E que em 1910 a 1913, é fundada a Associação dos Surdos-mudos e

teve um grande desenvolvimento cultural.

Em 1930 a 1947, Dr. Armando de Paiva de Lacerda, ex-Diretor do INES,

proíbe a Língua de Sinais entre os surdos. Podiam usar somente o alfabeto manual,

um bloco de papel com lápis no bolso para escrever palavra e a fala. Em1950, Ana

Rimoli de Faria Doria, ex-Diretora do INES, quando assumiu o cargo, proibiu o alfabeto

manual e a Língua de Sinais, implantando o método oralista. Os surdos não

conseguiam adaptar-se a essa imposição do oralismo e continuam a usar a Língua de

Sinais. Chega ao Brasil a Comunicação Total.

Desde aqueles tempos e até hoje, a questão de linguagem dos surdos tem

defesas contrárias: uns defendem apenas a oralização, outros defendem os sinais. A

partir da Lei Federal nº 10.436/2002 (Apud Lídia da Silva 2012, pág. 19-20) “com a

aprovação deste documento que passou a Libras ser aceita como língua usual na

comunidade surda”.

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Importante ressaltar que a Libras como o próprio nome já remete não é

universal, por ser uma particularidade nacional, estando como qualquer outra língua

passiva a mudanças, como a autora destaca: “A Libras é uma língua flexível, e isso

pode ser demonstrado pela ‘junção’ de categorias gramaticais em sua expressão e

composição”. Vale ressalta que a Libras possui os mesmos valores liguíntiscos como

qualquer outra língua e que os surdos precisam ser ouvidos e vistos com atenção e

carinho pela sociedade.

1.12 BILINGUISMO

O bilingüismo é uma proposta de ensino adotada por uma escola que propõem

tornar acessível à criança duas línguas no contexto escolar.

Os estudos apontaram essa proposta de ensino, sendo ela mais adequada

para o ensino de crianças surdas, tendo em vista que se considera a língua de sinais

como língua natural e parte desse pressuposto para o ensino da língua escrita.

Portanto o reconhecimento dos surdos enquanto pessoas surdas e da sua

comunidade lingüística estão inseridos dentro de um conceito mais geral de

bilingüismo.

Esse é um dos conceitos determinados pela situação sócio- cultural da

comunidade surda como parte do processo educacional. Pelo o fato de ser proposta

duas línguas no processo educacional da pessoa surda, a Língua Brasileira de Sinais

e a língua Portuguesa, está inserido num processo educacional. O Bilingüismo para

surdos atravessa a fronteira lingüística e inclui o desenvolvimento da pessoa surda

dentro da escola e fora dela dentro de uma perspectiva sócioantropologica.

Portanto o Bilingüismo é uma filosofia educacional que implica em profundas

mudanças em todo o sistema educacional para surdos. A educação bilíngüe consiste,

em primeiro lugar, na aquisição da língua de sinais, ou seja, sua língua materna.

Lacerda e Mantelatto (2002, p. 51) afirmam que o “bilingüismo aponta á exposição da

criança surda á língua de sinais o mais precocemente possível, pois esta aquisição

propiciará ao surdo um desenvolvimento rico e pleno de linguagem e,

conseqüentemente, um desenvolvimento integra”.

Acredita-se que a comunidade dos surdos está cada vez mais inserida na

maior parte da comunidade de ouvintes, por fazer uso da linguagem oral e escrita,

assim o bilingüismo propõe que o surdo comunique – se facilmente na sua língua de

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comunicação (língua de sinais) e na língua oficial de seu país. No entanto, todos

concordam que o desenvolvimento cognitivo, afetiva e acadêmica das pessoas surdas

não depende necessariamente da audição, mais sim do desenvolvimento espontâneo

da sua língua, e que a língua de sinais propicia o desenvolvimento lingüístico e

cognitivo da criança surda, facilita no processo de aprendizagem, serve de apoio para

a leitura e compreensão de qualquer atividade proposta.

Souza (1998) ressalta que:

Somente a partir do momento em que os surdos passaram a se reunir em

escolas e associações e se constituíram em grupo por meio de uma língua, passaram a ter possibilidade

de refletir sobre um universo de discursos sobre eles próprios, e com isso conquistaram um espaço

favorável para o desenvolvimento ideológico da própria identidade. (1998, p. 45) Diante disso a

surdez é uma diferença cultural que possui sua própria linguagem gestual e visual,

dessa forma entende e aprendem as coisas diferente dos ouvintes. Neste sentido,

Kyle (1999) afirma que a criança surda deveria ser bilíngüe. Porque para ele, os alunos

surdos só terão desenvolvimento escolar se a língua de sinais for aceita como língua

materna ou primeira.

Diante desse contexto apresentado a escola se depara com uma grande

barreira, pois recebe um aluno ouvinte que chega a escola já dominando a

comunicação oral apenas para a escola sistematizar esta é totalmente antagônica

àquela criança que chega privada da comunicação oral, cabe portanto a escola

apresentar a língua brasileira de sinais para que possa introduzir o básico da língua

portuguesa e posteriormente avançar, uma vez que esta é de suma importância para

o convívio escolar e social.

1.13 EDUCAÇÃO INCLUSIVA E OS PERCALÇOS DA ESCOLA

Durante longos e incansáveis anos a educação inclusiva vem se

estabelecendo e sendo aceita pela sociedade, embora seja em uma crescente

lentidão. As lutas foram e são significativamente bem vistas para que haja de fato não

só a inclusão, porém a permanência dessa criança na escola seja ela normal ou

especifica.

Embora muitos avanços, há um número grande em se alcançar no que se

refere à inclusão, pois mesmo amparado por várias legislações (LDB, Constituição

Federal, Declaração de Salamanca, CNE, PCNs entre outras) muito se deixa a desejar

quando se vive a prática da inclusão educacional. O público de fato existe e em

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números alarmantes, porém profissionais e estruturas para trabalhar com estes não

atendem a necessidade da demanda que hoje segundo pesquisa realizada pelo IBGE

(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) são mais de quatro milhões.

A realidade infelizmente é cruel, pois as dificuldades enfrentadas pelas

escolas são muitas principalmente em escolas da zona rural, onde em sua maioria

não disponibiliza de profissionais capacitados e materiais didáticos adequado para

cada tipo de deficiência, assim como a estrutura para receber e garantir a permanência

digna destes alunos no ambiente escolar.

O grande desafio na contemporaneidade não seja mais o da inclusão,

porém a permanência dessa clientela e a garantia dos direitos que lhes foi adquirido

mediante muitas lutas e espera, pois a realidade é que em inúmeros casos a criança

é inserida no meio educacional escolar, mas não é assegurada sua permanência,

talvez por falta de incentivo, de profissionais qualificados, de materiais adequados, de

estrutura digna, ou um ou outro motivo o faz deixar de freqüentar a escola. Outra

dificuldade enfrentada pelas escolas é a falta de acompanhamento e monitoramento

pedagógico, em que as escolas deixam de informar esses alunos com deficiência

frente ao recolhimento de dados pelo MEC mediante o censo escolar, por não

tomarem conhecimento ou simplesmente não serem cobrados diante da situação, o

que as deixa excluídas de qualquer atenção especial no que se refere à assistência

do Ministério da Educação. Uma terceira grande dificuldade seria a aceitação da

família enquanto agente colaborador da educação escolar. Muitos optam em excluir

seus filhos, isolando-os do meio social em especial os afastando das escolas.

Com base na legislação vigente, os serviços de apoio pedagógico

especializado preconizado pelas Diretrizes Nacionais para Educação Especial Básica

(Apud Marileni O. de A. Passos, Vivian de Camargo Bastos, Walquiria O.

Gomes, 2011) a qual deve abrangi da seguinte forma:

• Nas Salas Comuns – atender “as necessidades educacionais

especiais dos alunos durante o processo de ensino e aprendizagem Nas

Salas de Recursos – suplementar (no caso dos superdotados) e

complementar em relação aos demais alunos o atendimento educacional realizado em classes comuns da rede regular de ensino. • Na Itinerância – prestar orientação e supervisão pedagógica periódica,

por meio de visitas as escolas de modo a atender aos alunos em situação de deficiências. • Professores/Intérpretes – apoiar alunos surdos, cegos e outros com acentuados comprometimentos de comunicação e sinalização. (2011, p. 32)

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Reforçando que na LDB cap. 2, nas Diretrizes Curriculares para a Educação

Básica assim como nos PCNs, traz como subsidio as salas de recursos que são

utilizadas para atender a demanda desses alunos com deficiência em especial aqueles

que necessitam de uma maior atenção ou condições para aprendizagem.

Contudo a educação inclusiva vive um retrocesso, ora com tantas leis que

a ampara e tantas conquistas, como pode omitir reprimir este aluno/filho? Infelizmente

as escolas se deparam com essas situações e a família deve estar em diálogo sendo

companheira da escola no processo de ensino aprendizado do seu filho, pois a criança

com deficiência assim como as demais sentem a necessidade de serem bem

acolhidas pelas escolas a qual participa.

1.14 RELAÇÃO ESCOLA X FAMÍLIA E A INCLUSÃO DO ALUNO SURDO

A família é o primeiro grupo social a quem pertence o sujeito e dela que a

criança extrair características cultural, social, genética e psicológicas que refletir em

sua vida adulta. Contundo é na família que a criança se refugia e socializa e adquiri

valores para posteriormente apresentar a sociedade, devendo a família ser cauteloso

quanto a essa primeira fase da construção da identidade da criança.

A escola foi criada para servir a sociedade, por isso conduz a aprendizagem

das crianças e deve criar mecanismos atrativos para que haja participação ativa da

família, acompanhando assiduamente a vida escolar de seus filhos. Na educação

contemporânea, observa-se uma grande preocupação no processo de

ensino/aprendizagem em especial aos pais de filhos deficientes, pois estes estão se

tornando cada vez mais ausentes das responsabilidades para com a educação de

seus filhos, o que vem acarretando inúmeros problemas para educação de modo

geral. Visto que com a enorme carência da presença dos pais no ambiente escolar se

tornam ainda mais difícil a inclusão e permanência do aluno com deficiência na escola,

uma vez que a família é um agente colaborador desse processo.

No mundo contemporâneo o qual vivemos, estamos presenciando uma

sociedade onde as famílias estão atribuindo toda a responsabilidade de educar seus

filhos, único e exclusivamente à escola sem perceber que sem essa parceira família e

escola não se faz educação de qualidade. Acredita-se que a falta de diálogo entre

ambas as partes e a falta de conscientização da relevância do trabalho coletivo que

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ajude o filho, o aluno, são fatores contribuintes para que ocorra um distanciamento da

família do universo escolar dos filhos.

Cabe ressaltar e lembrar que a família e escola devem saber resolver tais

situações para que não cause maiores constrangimentos a que venha prejudicar o

desenvolvimento dos alunos, filhos. Conforme preconiza Tiba (2009)

Quando a escola, o pai e a mãe usam a mesma linguagem e têm valores semelhantes, os dois principais contextos da criança, a família e a escola, demonstra uma segurança e coerência extremante favorável ao seu desenvolvimento. Ao mesmo tempo escola assume para a criança um lugar de aliada, como mais uma interessada em seu bem-estar. Quando há conflitos entre família e escola, as crianças tendem a acompanhar quem mais lhe agradar, e os adolescentes em geral tendem a tirar vantagens pessoais. Assim quando os pais não concordam com a postura da escola, é diretamente com ela que deve resolver as discordâncias. Desse modo a criança não se apoiará aos pais para se insurgir contra a escola. (2009, p. 120)

Ao se perceber esse distanciamento entre família e escola por alguns

motivos reais como afirma Tiba (2009, p. 121) que diz: “Que nem todos os pais têm

iniciativas ou condições para acompanhar vida escolar dos filhos” nota-se,

resumidamente, que o objetivo de educar está perdendo seu foco principal,

principalmente quando se trata de incluir um aluno com deficiência, pois este

necessitará de toda a assistência possível para o seu desenvolvimento cognitivo.

Portanto a escola deve refletir a sua realidade social e a realidade de vida

do aluno, manter um currículo articulado, contextualizado e nada melhor que a

parceira dos pais para subsidiar em um ensino/aprendizado com eficácia e êxito, onde

família e escola são simultâneas e complementares. Promovendo realmente aconteça

esse pleno desenvolvimento, a inclusão e permanência desse alunado no ambiente

escolar.

A família é uma ferramenta fundamental no processo de inclusão, pois

muitos pais não aceitam que seus filhos sejam deficientes, nessa linha de pensamento

Cortez (2002), (Apud Marileni O. de A. Passos, Vivian de Camargo

Bastos, Walquiria O. Gomes, 2002) enfatiza que,

Ao nascer, a criança apresenta algum tipo de problema. Não há tempo para se preparar; pai e mãe também terão que aprender a ser pai e mãe de uma criança diferente. Diante desta situação, aos profissionais tanto da área clínica, quanto da educacional , caberão orientações para que os pais não percam a credibilidade em si mesmos e no próprio filho. (2002, 148)

Diante dessa situação escola e família devem ser cautelosos na resolução,

analisar com sabedoria cada passo da história para não cometer falhas irreparáveis

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na vida da criança, pois vale destacar que às vezes os obstáculos se encontram em

todos os lugares, às vezes na família, escola e às vezes nas duas.

A escola e família juntas é um combustível nas boas relações sociais,

quanto mais pais freqüentam as escolas de seus filhos vai se notar mudança tanto no

comportamento quanto na convivência e desenvolvimento de forma geral, por tanto

faz se necessário que pais e escola se encontrem se harmonizem crie uma relação de

companheirismo para melhor educar seus filhos\ alunos e sejam conscientes de seus

direitos e também dos seus deveres.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do desenvolvimento deste estudo é perceptível como se relaciona

o processo de inclusão educacional voltado para o deficiente auditivo, pois deve este

ser inserido e assegurado sua permanência na escola seja ela de surdos ou ouvintes

e que a postura da escola e dos profissionais se torna imprescindíveis para que ocorra

uma educação de qualidade. Há muito que se mudar tanto no currículo pedagógico

quanto no que se refere ao estímulo desse aluno para sua permanência, pois

educação é emancipação e para que este sinta-se emancipado e verdadeiramente

capaz e um ser autônomo é necessário que a escola crie esta ponte, subsidiando-o

nesse processo.

A partir desta análise teórica descritiva, foi possível detectar as

características do deficiente surdo e entender o processo de inclusão educacional

tendo sempre como embasamento as referências bibliográficas adotadas na revisão

conceitual.

Neste sentido é de fundamental importância que haja mudanças nas

atitudes entre família, escola e sociedade em geral para que possamos alcançar

nossos objetivos fazendo que a inclusão aconteça na íntegra.

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No final deste estudo conclui-se que já há uma quebra desse paradigma,

pois nota-se possível mudança de atitude por parte de ambos os lados envolvidos e

em sua maioria estão percebendo a importância de um trabalho compromissado em

prol de uma participação ativa e contínua da família e escola para um melhor

aprendizado e desenvolvimento do educando.

Esta tarefa, contudo, não é fácil e nem impossível mais se trabalharmos

juntos em prol do desenvolvimento do nosso aluno/filhos alçaremos sim nossos

objetivos com êxito que é de construirmos uma sociedade com seres humanos críticos

pensantes, com responsabilidades social, capazes e, sobretudo seres humanos

compromissados com o presente e futuro da humanidade.

A criança deficiente precisa sentir – se de fato incluída no meio para então

se sentir parte do social e trabalhar não suas dificuldades, porém as suas habilidades,

ela é um ser dotado de cultura, cabe a sociedade moldar e a tornar um ser realizado.

Neste contexto é de suma importância que a família e a escola estejam

juntas, trabalhando na mais perfeitas harmonia e companheirismo para que haja um

ensino/aprendizagem.

Daí a relevância de estudos e pesquisas e de toda fonte de busca por

resultados e subsídios os quais se mostrou os melhores caminhos e métodos de se

trabalhar com esses alunos. A jornada é longa e muito se alcançou, contudo os

desafios encontrados pelas escolas em relação ao atendimento de alunos com

deficiência auditiva sejam ainda muito visíveis diante da realidade vivenciada. Pois as

escolas se deparam com situações um tanto embaraçosa para se resolver no que diz

respeito à temática e como decorrido no trabalho muitos são os fatores.

A inclusão acontece mediante o sentimento dentro de cada um de nós. Faz-

se necessário conhecer e aceitar que somos heterogêneos e que cada ser é

constituído de acordo com suas especificidades. A inclusão vai além de cumprir a lei,

está no nosso ego, na nossa convicção de sermos seres humanos e atuarmos como

tal.

O mundo está precisando de humildade, de justiça, de respeito ao próximo.

O que se percebe ao final que de certa forma o cenário está mudando e pra melhor,

os desafios estão sendo superados e trabalhados da melhor maneira possível e que

essa mudança é nítida no pensar e no agir de cada ser depois de conhecer a realidade

das pessoas com deficiência auditiva e demais deficiências.

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No decorrer deste estudo, pude podemos observar que a Inclusão da

Pessoa com Deficiência na Escola Regular é um processo que exige respeito,

dedicação e compreensão ao próximo, tanto das instituições de ensino, quanto as

pessoas que recebem este aluno, aceitando as diferenças de cada um.

É preciso que, antes de tudo o próprio aluno com deficiência se aceite dentro

de seus limites para que seja incluído na sociedade. A nova Política de Educação

Inclusiva enquanto política publica, tem sustentado novas propostas no campo da

Educação Especial, no que diz respeito à formação dos profissionais para atuarem na

área, organização dos serviços e as características dos alunos que compõe este

universo.

É possível observar ações desenvolvidas pela Secretaria de Educação

Especial do Ministério da Educação com o objetivo de consolidar a Educação Inclusiva

nas políticas Nacionais. A atuação do professor e a forma de ministrar suas aulas

devem ser analisadas com mais rigor, ou seja, ele não deve se prender a metodologias

prontas.

Sabemos que educar uma criança com necessidades educativas especiais

é uma experiência nova para o professor e também um desafio. Para ensinar a turma

toda se parte do pressuposto que todo educando pode aprender porém, nos métodos

e no jeito que lhe são apropriados, portanto é essencial que todo professor nutra uma

elevada expectativa pelo aluno.

O sucesso da aprendizagem esta em explorar, possibilidades, talento e as

predisposições atuais do aluno. As deficiências, as dificuldades, e limitações precisam

ser reconhecidas, mas não devem restringir o processo de ensino. As escolas devem

avaliar as inovações em seu projeto político pedagógico para julgarem a necessidade

de programar propostas inclusivas na escola comum.

Neste sentido, faz-se necessário rever os conceitos da educação inclusiva,

pois ela é o principal alicerce para o desenvolvimento social das pessoas com

deficiência. Entretanto se deve ressaltar que deixar um aluno com necessidades

educativas especiais em uma sala regular e não atender as suas necessidades, não

é inclusão, pois as dificuldades existem e quando passamos a observá-las de forma

crítica o trabalho, pode ser mais bem planejado.

Portanto é essencial que o poder público, federal, estadual e municipal

encare os problemas referentes à educação para todos de frente, não como um favor

a nós e sim como uma obrigação para todos, obrigação esta que deve ser cumprida.

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Sabe-se que tratar de Inclusão Escolar de fato ainda é divergente, não se

tem um único método, ou formula para ter êxito no que tange a proposta inclusiva.

Propor medidas, conceitos e reavaliações educacionais sobre como ensinar e como

aperfeiçoar os docentes para esse tipo de educação torna-se a ferramenta

imprescindível ao alcance dos objetivos que a escola inclusiva propõe ao aluno

deficiente.

A lei diz que e direito de todos à educação, portanto cabe à escola aprender

a conviver com as diferenças e traçar caminhos que levem de fato a inclusão. A LDB

fala de igualdade, respeito, qualidade dos direitos, cabe a todos nos cumpri-las ou

cobrar o seu cumprimento para que os alunos portadores de deficiência sejam

realmente atendidos na sociedade e na escola, pois tratar da educação para todos é

uma tarefa inacabada, como vimos a todo o momento leis, decretos e declarações são

aperfeiçoados para o cumprimento da inclusão, cabe a nós como cidadãos com

direitos e deveres fazer jus ao que se referem constituições inclusivas encarando todo

esse paradigma de frente com o compromisso de respeitar as diferenças na igualdade

do ensino.

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