No Norte de Minas Gerais, existe uma experiência de Escola Família Agrícola que é a única da região. Ela oferece o ensino médio profissionalizante e fica localizada no município de São Francisco, na comunidade Granja Primavera. Fundada em 2005, a EFA Tabocal como é chamada, era um sonho antigo das famílias agricultoras que desejavam que os filhos tivessem, na região onde moram, uma formação relacionada ao trabalho no campo.

Para Nilva Vieira, diretora da escola desde 2006, a EFA Tabocal representa, para muitos jovens que nasceram e vivem no campo, a possibilidade de sonhar. Ela fala que os estudantes chegam sem perspectiva, mas depois ampliam os horizontes. Para ela, não só o conteúdo mas toda a metodologia da EFA onde os estudantes tem que colocar na prática o que estudaram e ainda interagir com a comunidade são importantíssimos para despertar o espírito de liderança em cada um.

Lucas Luan já está no 3º ano da escola. Ele conta que os pais da maioria dos estudantes não tiveram a oportunidade de estudar e que mesmo assim, querem o melhor para seus filhos, com estudo diferenciado para morar no campo e informação para desenvolver o meio. Ana Paula Rocha também está no último ano do curso. Para ela, a EFA abre horizontes e faz vislumbrar um futuro maravilhoso, cheio de possibilidades e perspectivas. Tiago outro estudante, veio do município de Chapada Gaúcha. Com orgulho, conta que a escola não desiste deles. O estudante Maurilio Almeida é um dos primeiros representantes do município de Pedras de Maria da Cruz na escola. Ele conta que a EFA ajuda a buscar o sonho e a não desistir.

Hoje, depois de 7 anos de funcionamento e superação de muitas dificuldades a Escola Família Agricola é uma realidade consolidada. Atualmente estudam 142 jovens, sendo 80% homens e 20% mulheres, representando os municípios da Chapada Gaúcha, São Francisco, Januária, Cônego Marinho, Pintópolis, Pedras de Maria da Cruz e Brasília de Minas.

Os irmãos Paulo César, Maisa e Cleiton cursam o 3º ano e são motivo de muito orgulho para seus pais, Maria José Rodrigues da Silva e Gerci da Silva Pereira, da comunidade Fazenda Sobradinho, em São Francisco. A mãe, Dona Maria José diz que gosta da escola e que ela e o marido também aprendem muito. Ela conta que melhorou bastante a convivência em família, a questão financeira e até o jeito de trabalhar na propriedade.

Muitos jovens já se formaram nessa escola. De 2005 a 2011, foram 88 jovens, sendo que cerca de 80% já estão trabalhando. Porém, grande parte, está nas empresas de agronegócio. Isso tem sido um grande dilema porque uma das principais referências que escola carrega são os valores da a g r i c u l t u r a f a m i l i a r a g r o e c o l ó g i c a . Numa região com empresas monocultoras de soja a base de muito agrotóxico, os técnicos formados pela EFA, cheios de vontade de trabalhar, são seduzidos pelas ofertas de emprego formal. Para quem é jovem e sonha com

Minas Gerais

Ano 6 | nº 1011| outubro | 2012São Francisco -MG

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

DESAFIOS E VITÓRIAS

DA ÚNICA EFA DO NORTE DE MINAS

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A agroecologia faz parte dos princípios da escola

EFA Tabocal é uma conquista das famílias agricultoras e do povo da região

uma vida com muitas possibilidades de consumo fica bem difícil recusar as propostas.

A EFA estimula a capacidade empreendedora do jovem para que ele crie seu próprio negócio na propriedade da família e leve-o adiante assim que concluir o curso. Porém esta iniciativa esbarra nas políticas de crédito para a juventude e assistência técnica que ainda são pouco acessíveis. Mas apesar dos desafios, a EFA tem muitos motivos para comemorar. Um deles, é o resultado que orgulha a escola. Em 2010, 6 alunos, passaram no vestibular e estão cursando o ensino superior, sendo 5 em faculdades públicas e um, numa faculdade particular.

Os estudantes são incentivados a participarem bastante e a Pedagogia da Alternância contribui para estimular o protagonismo deles. Alessandro, é um dos jovens que estuda longe, cerca de 190 quilômetros. Ele mora no Sítio Cabecerinha, em Januária. Para estar na EFA segunda-feira, é preciso sair de casa desde sexta-feira. Além disso, ele precisa andar de noite, muitas vezes sozinho, cerca de 2 quilometros para pegar o ônibus. Mesmo com todas as dificuldades, ele acha que a escola desperta o interesse dos jovens e diz que não estuda só por causa das provas, mas porque pretende trabalhar na área.

A prefeitura de Januária, assim como de Pintópolis, Pedras de Maria da Cruz e Brasília de Minas, não oferecem condução para os alunos da EFA. Como o estado e o município não fazem a sua parte cabe à família se sacrificar para pagar o transporte dos filhos. A situação é complicada. Guilherme Soldi um dos jovens estudantes também conta que para estudar na escola, eles precisam de muito apoio e motivação dos pais porque não é fácil ficar longe de quem se ama. Guilherme forma esse ano e é um dos jovens com convite para trabalhar numa empresa de agronegócio.

Como a EFA funciona em regime de alternância, a carga horária é dividida entre as atividades na escola e na comunidade, os estudantes levam os assuntos que estudam para pesquisar junto a seus familiares e vizinhos. Os jovens entrevistam os mais velhos e, aos poucos, terminam conquistando a confiança de quem aprendeu na prática. Os alunos são valorizados no seu conhecimento técnico pela comunidade e, ao mesmo tempo, percebem a responsabilidade de valorizar o saber tradicional.

Um dos grandes desafios da EFA é ter recursos para manter os alunos. Por ano, esse custo é de 639 mil reais. Um convênio com as Escolas Famílias Agrícolas de Minas Gerais e o Governo Estadual garante um repasse de cerca e 65% deste valor. Para dar conta do restante, eles precisam se esforçar. Seja com a contribuição dos pais, seja recebendo doações e até com a venda do excedente dos produtos plantados na própria escola. As parcerias com as prefeituras dos municípios atendidos pela escola também existem, mas são poucas. De todos os municípios que a escola atende, em 2011 só São Francisco e Chapada Gaúcha realizaram convênio, sendo que em 2012, só Chapada Gaúcha renovou a parceria.

Apesar das dificuldades, a EFA Tabocal segue fortalecendo as parcerias com as organizações sociais e valorizando as iniciativas populares. As expectativas para o futuro são muitas, e são nos resultados positivos e na esperança de dias melhores que eles encontram forças para continuar a luta.

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Integração entre a escola e a família

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Minas Gerais

Sindicato dos Trab. Rurais Porteirinha-MG

Apoio:

Programa Cisternas

Foi preciso muita luta para conseguir a estrutura que a escola tem hoje

Valorização das sementes crioulas e da agricultura familiar