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ISBN: 978-85-65425-48-3 18 a 22 de setembro de 2018
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DESCOBERTAS E TRILHAS DE UMA TRAJETÓRIA AFROINDÍGENA
DESCOLONIZADA: VIVIÊNCIAS DA CIRANDA AO TORÉ.
Maria Eliene Magalhães da Silva147
José Ernesto Rodrigues Sales148
RESUMO
O artigo trata de abordagens da experiência com a nossas ancestralidades em quilombos de
Caucaia com foco na Pretagogia trabalhada em quilombos de Caucaia na pesquisa do mestrado
entre 2013-2015 e hoje contextualizados com uma nova experiência em aldeias indígenas.
Sabemos da relevância a cerca desse assunto e com isso existem uma construção na afirmação
de reflexões racistas através das religiosidades indígenas e africanas e isso favorece as ideias
colonizadoras, que contribui e dificulta para negação das relações étnica. O objetivo será
conectar as experiências desde a Aldeia Anacé de Japuará, em Caucaia, a aula de campo na
Aldeia Pitaguary de Monguba de minha bisavó, além de referenciar trabalho com alunas
Tapebas e Anacés do curso de Pedagogia da Faculdade Kirius. Com isso, vimos a necessidade
de trabalhar e potencializar para isso à Educação diferenciada Indígena e Quilombola.
Fundamentamos em SILVA (2012), (2015), (2016); PETIT (2015); BÂ (1982), CUNHA
(2013), ADAD, PETIT & GAUTHIER dentre outros. A partir das rezadeiras, negros e índios e
olharmos com profundidade às nossas origens ancestrais de base africana e indígena, como
medicina tradicional.
Palavras chaves: Afroindígena, Descolonizada, Ciranda, Ciranda, Toré.
INTRODUÇÃO
Este trabalho faz parte de trilhas e descobertas de experiências e ensaios com ênfase
vividas pelos autores em aldeias e escolas. Com isso as abordagens têm características
descolonizadoras, sensíveis e inventivas. Também compõem experiências que cruzam e conecta
profundas relações de aprendizados voltados à educação e artes que tem como intuito de
trabalhar o empoderamento e saberes ancestral através das artes. Em todos os experimentos o
corpo foi o demarcador do fazer, do ser, sentir, da saúde e educação como multiface
descolonizador e do desse corpo pensante, reflexivo e político. O jeito nesse momento difícil da
conjuntura política em que aflora fascismo, racismo, machismo e tantos ismos que nos devaneia
ao mundo poético. Na aldeia respiramos ancestralidades, visto que houve por crivo do
colonialismo criminoso a assimilação e relação de vida e aprendizados cruzando não só laços
afetivos mais culturais. Foram passagens breves, mas ressignificavas no nosso caminhar que
frutificaram em nós e nas pessoas novos modos de pensar e ser tivemos encantado e encantado
com os encantados e isso por si só foi majestoso.
147Professora da Educação Básica da Prefeitura de Caucaia.Mestra em Educação Brasileira pela Universidade
Federal do Ceará (UFC) [email protected] 148Especialista em Gestão de Saúde Pública; Conhecido como Sal, é artista plástico de resistência, trabalha com as
questões indígenas e negras. [email protected]
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Trilhas afroindígena e aprendizados
Foi num quilombo, o lugar encantador, cheio de saberes e cheiros ancestrais,
Comunidade Remanescente da Serra do Juá, que foi palco de um trabalho do florescer em nós
nossas africanidades, saiu de lá vários artigos e a pesquisa do mestrado. e que muito contribuiu
para o nascimento da teoria metodológica da Pretagogia.
Pretagogia, referencial teórico-metodológico em construção há alguns anos, pretende
se construir numa abordagem afrocentrada para formação de professores/as e
educadores/as de modo geral. Parte da cosmovisão africana, porque considera que as
particularidades das expressões afrodescendentes devem ser tratadas com bases
conceituais e filosóficas de origem materna, ou seja, da Mãe África. (PETIT, 2015, p.
119-120)
Neste contexto, a Pretagogia tem laços com a Sociopoética com a Pretagogia trilharam
caminhos semelhantes, que muito nos ajudou. A Pretagogia dialoga entre cultura, para que
venhamos perceber nossa relação com a Mãe África como forma de combater o racismo e nos
sentir pertencentes. Assim, PETIT (2010) disse que a Pretagogia é a Pedagogia para negros,
indígenas e brancos.
[...] fonte fundamental de dados ecoa diretamente com uma exigência nossa de dar
vez e voz aos oprimidos e marginalizados, não somente como produtores de dados
cuja a experiência de vida e prática social merecem nosso cuidado, e sim como ‘atores
e atrizes na aventura cientifica’ (GAUTHIER, 2012, p. 76)
Esses objetos desencadeadores e demarcadores de reflexões sensíveis de partilha
influenciaram o grupo que era uma turma de EJA da Escola quilombola Maria Iracema, na Serra
do Juá, os pesquisadores e demais participantes presentes, em Caucaia, ano de 2014.
Nessa técnica vários sentidos foram acessados pelos sujeitos. Primeiro pelo
estranhamento; depois pela relação tátil: tocar, manipular o objeto gerador,
transgredindo a relação que dicotomiza mente e corpo. Aqui, o corpo se move e move
os conceitos/objetos. [...] Algumas conexões eram tão íntimas aos sujeitos, de
maneira tão arraigada, que se tornou difícil externar o conhecimento abafado da
relação entre os objetos, práticas e usos pelas rezadeiras. (SILVA, SILVA, ALVES &
PETIT, 2014, p. 110)
Ao ser visitada por uma rezadeira umbandista na aldeia anacé da Japuara, dona Lúcia e
visitar uma outra rezadeira, Tremembé, na Aldeia de Buriti, na Barra do Mundaú, situada em
Itapipoca, a curandeira Maria que reza com folhas e espíritos dos encantados e orixás, senti a
presença de minas ancestrais me puxando para esse meu pertencimento que a família muito
esconde.
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Curandeira Maria tremembé
Fonte: o autor.
Em tempos difíceis lugar de resistência: Aldeia e encantamentos
No decorrer de nossas existências a vida nos oferece trilhas de conhecimentos e
sabedorias e nisso experimentamos com nossos laços universais ancestrais profundos que
desconhecemos as razões e os porquês. Muitas vezes nossos corpos sofrem sem sabermos, pois
pra além da ancestralidade, negamos e sofremos com isso, o pertencimento de duas árvores
ancestrais que não podemos ser negadas e que habita em nós, quando viemos de uma linhagem.
Ninguém chega a parte alguma só[...] Nem mesmo os que chegam desacompanhados
de sua família, de sua mulher, seus filhos, seus pais, de seus irmãos. Ninguém deixa
seu mundo, adentrado por suas raízes, com o corpo vazio ou seco. Carregamos
conosco a memória de muitos traumas, o corpo molhado da nossa história, de nossa
cultura; a memória, às vezes difusa, [...] (FREIRE, 2011, P. 45)
O encontro na forma ancestral é reencontro que precisa firmar um objetivo maior, a
boniteza de ser e estar para o outro, de viver bem com amor e sem ódio. Dessa forma o devir
neste trabalho aborda a existência de estarmos conectados com um mundo igual e que nos
sugere a liberdade de sermos quem somos desde nossas raízes ancestrais. Hoje numa
conjuntura política atual tão cheia de falta de amor, de ódio e rancores, que subtrai os pobres,
trabalhadores/as, negros/as, mulheres e índios à exclusão. Vivemos em tempos fascistas e com
as artes e literatura podemos reinventar, refazer e resignificar nossas trilhas. A arte é libertadora,
é terapia e nos tira da opressão, da tristeza, do desamor, do luto. A arte nos revoluciona:
A revolução se gera nela como ser social e, por isto, na medida em que é ação cultural,
não pode deixar de corresponder às potencialidades do ser social em que se gera.
É que todo ser se desenvolve (ou se transforma) dentro de si mesmo, no jogo de suas
contradições. (FREIRE, 2013, P. 183)
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Ernesto Sales (Sal)
Sou conhecido como Sal, que vem de Sales, de meu pai que foi o último preso político
a ser solto pela anistia da ditadura militar de 64, discípulo de Mariguella, preso político e
torturado na ditadura de 64, vive em mim, ele, pegou em armas (...) por vidas, pela causa, eu
pego em artes, em tintas, em natureza, por pessoas, por meu dom criador artístico que habita
em mim, vindo de meu pai. Meu pai vindo do Amazonas, minha mãe de origem de Pedra
Branca-Senador Pompeu, mulher feminista, de luta, eram funcionários públicos da saúde,
ambos de esquerda e que vivem em mim, embora falecidos, aprendi com ele artes para encantar
e esquecer o que minha família sofreu. As artes transformam e nos faz refletir, nos elevando ao
empoderamento crítico ao sistema atual.
Em meus trabalhos uso materiais da mãe natureza, uso tinta com argila e colchinilha
carmim, que vem da mãe natureza e livre de processos químicos, um compromisso com o meio
ambiente, uma influência da obra de Artur Bispo do Rosário, nas técnicas da arte povera e
assemblegens. Procuro viver a existência sendo positivo e apoiando lutas sociais pela mãe
natureza e a saúde mental, na luta, onde ela necessitar.
Eliene Magalhães
Nas passagens tanto de aldeias, quanto dos quilombos como pesquisadora vir e refletir
o ser negro e indígena em mim, que habita, me chama e me encanta, pra começar tenho
ancestrais paternos negros vindos de Quixadá e maternos indígenas vindas de aldeia Pitaguary,
Pacatuba-Ce, sou de linhagem de rezadeiras de lá, da serra da Aratanha-Pacatuba. .
Minha bisavó, senhora Maria Alves Laranjeira da Costa, era chamada de ‘Maroca’,
ao modo africano, Maria carinhosamente. Nascida na localidade de Munguba, no
município Pacatuba, estado do Ceará, no século XIX, mãe de minha avó materna,
dona Otília Alves Magalhães, ela nascida também, na mesma localidade. (SILVA,
2015, P. 24)
Como isso é forte, mas me deixa às vezes enriquecida pois são duas valorosas
especificidades, nos sonhos, nas aspirações, nas poesias que saem de mim e na sensibilidade.
Há também nos traços de minha família, uns com cabelos crespos, no nariz, nas maneiras de
ser e estar, outros com cabelos lisos, encaracolados e negros feito os meus, sinto também na
linhagem ‘rezadeiras’ nas premonições dos acontecimentos e caminhada, meu corpo é um
santuário em mim.
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A trilha continua em diversos caminhos, porque esperançar é preciso
O amadurecer, envelhecer na vida corresponde em estarmos interligados, conectados
com o cosmo e nossas ancestralidades, com os nossos ancestrais que habita em nós. Não
sabemos ao certo, na trajetória de nossas existências, o que nos faz seguir caminhos diversos,
mas entendemos que isso vem dos que mesmo mortos, habitam em nós, de nossas linhagens.
Na aldeia Tremembés da Barra de Mundaú foram trabalhados o ferro Tremembé no
corpo pelos indígenas e nas paredes com Sal e os Tremembés, foi maravilhosos ver o
empoderamento do povo nativo e guerreiro.
Salientamos que nas experiências de Exu-
Pernambuco, Monguba, aldeia Pitaguarys,
Aldeia de Buriti-Itapipoca dos Tremembés e
Japuara dos Anacés foi usado pelo artista
plástico Sal uma tecnologia social
denominada ‘Reboco de papel’, a partir de
cola produzida com palma, mandacaru,
cardeiro, e ou fécula de mandioca e cola
branca.
Vale salientar que a experiência do artista com arte do povo Tremembé não se iniciou
nessa experiência citada, pois vem de outras jornadas no decorrer do trabalho artístico com
ferro Tremembé dado do povo para o artista a autorização de sua pintura, por isso ele afirma
carinhosamente que é metade Tremembé.
A trilha no Pitaguarys, passagem que celebramos a vida e muitos aprendizados desde o
dormir na Monguba, sentir a brisa da serra, os pássaros, as pessoas e o encontro dos alunos
com a aldeia.
Figura 02- oca de reuniões na Aldeia de Monguba-Pacatuba-Ce. Figura 03- Aula de campo na oca de
reuniões na Aldeia de Monguba-Pacatuba-Ce
Fingura: Aldeia tremembé
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Na aldeia a professora Eliene trabalhou na aula de campo da Faculdade Católica o
sentido da ancestralidade e seus marcadores, houve curiosidades respondidas pelo Pajé barbosa.
Já nas proximidades Sal pintou o ferro Pitaguary em uma casa, fato que nos deixou altamente
emocionados.
Figura 04- pintura do ferro Pitaguary por Sal
O ferro Pitaguary foi um repasse do Benício Pitaguary, artista de pinturas corporais, um
parente maravilhoso e encantador que leva a sua arte como empoderamento de identidade e
ancestralidade do povo Pitaguary. Depois de aprender tanto com o movimento indígena e nos
deliciarmos com nossas relações ancestrais, momento de sociopoetizar que faz nascer em si a
poesia dentre experimentos que com as vivências nos empoderar e amadureceram em novos
caminhos e pensar.
Figura 05- pintura com imagens indígena na aldeia Anacé
Oficina ministrada por Sal com uso de papel reciclado e carvão, pinturas de imagens
indígenas na aldeia Japuara, assim potencializou-se dificuldades que era visível nesses jovens.
A arte que encanta e assume papel de libertação frente a tantos domínios que vivemos.
Ainda na mesma época com a professora Eliene. Com isso teve no Quilombo de
Porteiras uma aula de campo que foi trabalhado nossas relações ancestrais e seus marcadores
como empoderamento e fortalecimento das identidades indígenas e quilombolas, no quilombo
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houve até toré que as quilombolas participaram com muita energia, foi muito prazerosa e as
amizades se fortificaram. Aconteceram com isso, muitos testemunhos de afirmação de
pertencimento até entre os não índios e não quilombolas.
Foto 06- Turma de Pedagogia do Ceprone-Capuan
Hoje entendemos que não podemos mais distanciar-me dessas heranças, pois sofremos
espiritualmente. E para que o corpo fique bem, a alma deve ser acariciada, amada, efetivamente
reconhecida, com isso a Sociopoética tem esse alcance.
CONCLUSÃO
Trilhamos passagens em várias aldeias, de muitos aprendizados e modos diferentes de
se trabalhar. Usando a sensibilidades e que nos amadureceu não só para a vida, mas para nossas
ancestralidades, temos as duas, negra e indígena em nós, pelo crivo do colonialismo que nos
separou da origem. Descolonizar foi preciso e continuaremos lutando e resistindo
REFERENCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Oprimido /Rio de Janeiro: Paz e Terra, ed 54, 2013. 253p.
_______, Pedagogia da Esperança: Um Encontro com a Pedagogia do Oprimido/ São
Paulo: Paz e Terra, ed. 17, 2011. 333p.
PETIT, S. H. Pretagogia: Pertencimento, Corpo-Dança Afroancestral e Tradição Oral
Africana na Formação de Professoras e Professores. 1. ed. Fortaleza: EdUECE, 2015. v. 1.
261p.
SILVA, Samia Paula dos Santos; SANTOS, Marlene Pereira dos; CUNHA JUNIOR, Henrique;
BIÉ, Estanislau Ferreira; SILVA; Maria Saraiva da (Orgs) Afroceará Quilombola. PortoAlegre,
RS. Editora Fi, 2018.
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SILVA, Geranilde. Pretagogia: construindo um referencial teóricometodológico, de base
africana, para a formação de professores/as. Tese (Doutorado em Educação Brasileira) -
Faculdade de Educação Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2013.
________, Maria Eliene Magalhães. Marcadores das Africanidades no Ofício das
Rezadeiras Em Quilombos de Caucaia-CE: Uma Abordagem Pretagógica. 2015. 207
f. Dissertação. (Mestrado em Educação Brasileira) – Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,
2015.
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MARIA DE ARAÚJO UM MARCO APAGADO NO TEMPO
Tayronne de Almeida Rodrigues149
João Leandro Neto150
RESUMO
Este trabalho é uma pesquisa sobre Maria Magdalena do Espirito Santo de Araújo, conhecida
como a Beata Maria de Araújo, um ícone feminino de referência na vida de Padre Cicero Romão
Batista como também na luta da mulher negra pela conquista de seu espaço em uma sociedade
marcada pelo domínio masculino. Dentro deste trabalho se faz um apanhado da trajetória dessa
mulher simples e de fibra que quando passa a ser figura de santidade assim eleita pelos
primeiros romeiros de Juazeiro do Norte, incomoda a aristocracia, a igreja católica, pois para a
época não se concebia que uma mulher negra pudesse ter uma alta relação com o divino. É fato
que por pertencer a uma classe menos abastada não lhe dava tal direito. Em 01 de março de
1889, quando a hóstia dada por Padre Cícero “virou” sangue na boca da beata, pode se dizer
que é um marco de transformação nas estruturas culturais, religiosas e sociais, um convite a
sociedade para uma mudança que até então não havia iniciado.
Palavras-Chave: Maria de Araújo. Mulher. Religiosidade. Romarias. Juazeiro do Norte.
INTRODUÇÃO
No dia primeiro de Março de 1889, aconteceu, na pequena Capela, um fenômeno
extraordinário que abalou a Diocese. Antes de lembrar o milagre, precisamos apresentar-lhes,
rapidamente, a Beata Maria de Araújo. Ela nasceu em Juazeiro no dia 26/05/1863 (antes da
Chegada do padre Cícero neste povoado) e faleceu no dia 17/01/1914.
Em geral é descrita como uma pessoa franzina, de estatura média, mestiça com
predominância do negro, cabeça pequena e arredondada, cabelos quase "carapinhos", olhos
pequenos, lábios grossos, etc. Feia e vulgar. Vinha de uma família pobre, humilde e seu ofício
era o de costureira. Com 22 anos, tornou-se Beata, sendo Padre Cícero seu confessor e diretor
espiritual.
Este trabalho tem como objetivo mostrar quem foi a Beata Maria de Araújo, elencar
acontecimentos importantes que revolucionaram aquela época e até hoje fazem de Juazeiro do
Norte um cenário sagrado. Também queremos afirmar que esse marco que é Maria de Araújo
está apagado, o papel de mulher que ela desempenhou ficou esquecido, é necessário estudar e
resgatar essa figura tão essencial.
O PAPEL POLÍTICO DESEMPENHADO PELA BEATA MARIA DE ARAÚJO
149 Estudante de Graduação, Faculdade de Juazeiro do Norte, [email protected], Crato, Ceará Brasil. 150 Filósofo, Especialista em docência do ensino superior, [email protected]. Crato, Ceará, Brasil.
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Miriam Moreira Leite nos ensina que a mulher “raramente é registrada na
documentação oficial, a não ser quando perturba a ordem estabelecida, quando desempenhou
papéis que a sociedade não lhe atribuiu, ou se exacerbou no cumprimento do papel feminino.”
Maria de Araújo foi registrada na documentação oficial porque perturbou a ordem
estabelecida. Pelos inquéritos levados a efeito pela Igreja do Ceará em 1891, dois anos após o
início dos episódios de sangramento da hóstia consagrada por ocasião das comunhões da Beata,
Dom Joaquim José Vieira, então bispo do Ceará, enviou para Juazeiro do Norte, dois dos
melhores teólogos da Diocese – Pe. Costa Lobo e Pe. Antero – para que verificassem o que se
passava na capelinha de Nossa Senhora Das Dores que estava revolucionando o nordeste. Este
documento, único na história da Igreja no Brasil com esse objetivo, ou seja, de constatar e
analisar um fenômeno extraordinário, sobrenatural, com aparência de milagre, registrou os
acontecimentos e os testemunhos de todos os principais envolvidos com os fenômenos e
também de pessoas confiáveis (essa era a exigência do bispo) homens e mulheres, testemunhas
oculares do fato, além de atestados das análises feitas por médicos e também longos
depoimentos de Maria de Araújo.
Antes de mais, é bom dizer que quem nunca teve medo dela foi Padre Cícero. Ao
contrário, considerava-a a sua espada forte e não teve dúvidas em defendê-la em diversas
ocasiões perante o bispo do Ceará e perante o Santo Ofício, em Roma. Cita Edianne Santos:
É possivel que mulheres como Maria de Araújo nunca foram tomadas
como objeto da historia a não ser, como coadjuvantes num cenário onde
a figura principal é masculina. Faz-se necessário a desconstrução desses
papéis femininos e masculinos e a compreensão que essas relações entre
homens e mulheres só podem ser percebidas a partir de uma relação
entre ambos. Queremos vizualizar o rosto dessas mulheres beatas
construindos suas identidades, desconbrindo-as e localinzando-as
enquanto agentes históricos, entendendo a partir de seu cotidiano, suas
ideias, ações sociais e politicas. É nossa intenção refletir sobre o papel
desempenhado pelas beatas no fomento e efervecência religiosa que se
desencadeará principalmente a partir de 1889, ano atribuido ao milagre
da hóstia transformada em sangue na boca da beata Maria de Araújo.
Mas, afinal, o que fez Maria de Araújo de tão grave? Por que ela representava um
perigo? Por que, hoje, resgatar sua memória pode representar um perigo?
Todos sabemos que vivemos numa sociedade em que o poder, seja ele civil ou
eclesiástico, desde sempre, esteve na mão do homem. Uma sociedade machista. Hoje, na
sociedade civil, menos, mas ainda. Em fins do século XIX, inícios do XX, o tratamento que se
deu às mulheres, ainda mais às negras, pobres e analfabetas era altamente discriminatório. Não
tinham voz, nem vez, a não ser no que os acadêmicos chamam de esfera do cotidiano e do
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privado em contraposição à esfera do político e do público, lugar próprio para os homens
atuarem e único lugar onde, supostamente, se faz história e se constrói o saber. E na Igreja,
conforme Nunes a constituição do saber, como espaço masculino por excelência, articula-se
pela exclusão feminina do poder na sociedade e nas Igrejas. Mas, veremos, não foi o caso de
Maria de Araújo. Ao menos enquanto a Igreja não se exacerbou no exercício do poder.
Michelle Perrot nos ajuda também a entender o lugar da mulher no século XIX, na
Europa em que a cultura da elite acentua a racionalidade harmoniosa da divisão sexual. Cada
sexo tem sua função, seus papéis, suas tarefas, seus espaços, seu lugar quase pré-determinado,
até em seus detalhes. Ao homem a madeira e os metais. À mulher a família e os tecidos. Não é
muito diferente no Brasil, no Ceará mais ainda em fins do século XIX.
À Maria de Araújo estava, portanto, reservado um lugar na família, na cozinha, nas
costuras e, se fosse para a Igreja, na limpeza do templo e, durante as funções religiosas, no
banco.
Mas Maria de Araújo não ficou aí. Nesse sentido é que atuou politicamente, pois, ao
assumir o seu papel de instrumento de Deus para fazer de Juazeiro um lugar de conversão e
salvação para as almas subverteu a ordem vigente. Ela explorou a inconsistência e a incoerência
do sistema religioso, social e político e, encontrando aí uma brecha, pode se expressar. Como
santa, como mística, como beata, como representante da religiosidade do povo, com fé, com
coragem, com firmeza superou a divisão sexual do feminino e do masculino. Nesse sentido
politizou o privado, dando a si mesma e ao povo a autoridade de instrumento da fala de Deus.
Ao manifestar, pelo sangramento da hóstia, o poder de Deus, apropriou-se dos bens simbólicos
da salvação, até então apenas nas mãos do clero, privatizou-os, colocando-os ao alcance das
mãos dos devotos. Deslocou o lugar do poder, trazendo-o para o cotidiano.
Este o papel político desempenhado por essa mulher que redesenhou a geografia, a
economia e a sociedade do sertão cearense, fixando, para sempre, no mapa do Brasil, o lugar
sagrado que é Juazeiro do Norte. Portanto, fazer a memória da Maria de Araújo é perigoso: pelo
questionamento e deslocamento do lugar do poder. Eclesial e político. Do clero para o povo.
Dos que acreditam que detem de forma absoluta o poder, para o cotidiano, para a rua.
Na verdade, é o que continua acontecendo em Juazeiro. A despeito de longos anos de
repressão, de proibição, de desqualificações, hoje, a Igreja assume o seu lugar de evangelização
no meio dos romeiros e romeiras porque eles – os romeiros e romeiras – permaneceram fiéis,
resistentes, firmes, teimosos, acreditando e mostrando o lugar do sagrado.
Ao longo da história, provavelmente por um mecanismo também de resistência dos
romeiros, fruto de uma herança arquetípica que exclui a mulher, como dizíamos acima, citando
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Nunes, do lugar do poder dentro das Igrejas, especialmente quando há conflitos, toda devoção
passou ao Pe. Cícero: padre, homem, membro do clero mas, também ele excluído pela
hierarquia eclesiástica.
A IDENTIDADE DA BEATA MARIA DE ARAÚJO
Maria de Araújo sempre demonstrou um desejo muito grande de servir a Deus. Ela
própria, em seu depoimento, conta que depois de ter recebido a primeira eucaristia, celebrou
um consórcio espiritual com Jesus Cristo que exigia que ela se consagrasse a Ele de um modo
ainda mais íntimo e lhe anunciava que dai em diante teria mais que sofrer por Seu amor. Pe.
Cícero também nos ajuda a perceber esse traço da personalidade da beata. Na “Exposição
circunstanciada”151 diz:
Conheço Excellentíssimo Senhor á Maria de Araújo, desde menina, isto
é, desde a idade de oito a dez annos, quando a confessei para fazer ella
a sua primeira communhão. Notando eu então as melhores dispozições
daquella menina para a vida interior, aconselhei-a a se consagrar a
Nosso Senhor, o que ella executou do modo o mais íntimo e perfeito,
considerando-se desde aquella data como uma verdadeira espoza de
Jesus Christo.
Maria de Araújo contava que, desde criança, brincava com o Menino Deus e que as
visões e comunicações que tinha com Nossa Senhora e com Jesus Cristo, que lhe davam
direções espirituais, melhoravam sua inteligência, permitiam-lhe maior conhecimento dos
mistérios divinos e maior disposição para amar a Deus e servi-Lo. Além disso, essas
comunicações a tornavam mais inteligente e visavam a prepará-la para as revelações como a de
que Jesus pretendia fazer do Juazeiro uma porta do céu e um lugar de salvação para as almas,
que deviam aproveitar dessas graças, enquanto é tempo de misericórdia.
Foi por causa dos sangramentos da hóstia que ela foi submetida aos mais diversos
exames e restrições pelos médicos, pelos padres da comissão de inquérito a fim de se verificar
a autenticidade do fenômeno.
Pode-se entender que Maria de Araújo era sim uma pessoa dócil, colaboradora, que se
submetia às exigências, mas também altiva, corajosa, perspicaz, inteligente e íntegra, que não
se deixava corromper, como se constata por este diálogo, transcrito pelo Padre Manoel Candido,
vigário na cidade de Barbalha, vizinha a Juazeiro, para onde a beata foi levada depois da decisão
do Santo Ofício que condenava como fenômenos vãos e supersticiosos, os sangramentos da
151 Documento escrito por Padre Cícero em 17 de julho de 1891, no Palácio Episcopal, em Fortaleza, a pedido de
Dom Joaquim José Vieira e que faz parte do volume dos Inquéritos.
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hóstia. Maria de Araújo estava então sob a guarda do Padre Manoel Candido.
MEMÓRIA DE UMA MÍSTICA
A mística diz-se da profunda, familiar e íntima relação com Deus. Uma experiência
que transforma a vida de quem responde a ele. Como transformou a vida da beata Maria de
Araújo, do Padre Cícero e de tantos outros que fizeram essa experiência íntima com o Sagrado.
A natureza por vezes dúbia do fenômeno místico, o mau uso que dele foi feito por uns
quantos e também o caráter de autonomia que alguns místicos se auto-impuseram, originou esse
comportamento arredio por parte da Igreja e, no nosso caso, a respeito de Maria de Araújo, foi
um dos argumentos para desqualificá-la atribuindo a sua afirmação de união íntima com Deus
e com Nossa Senhora como loucura, como farsa, e como pretensão vaidosa, portanto
individualista, da beata.
Seibold alerta para o perigo dos “proselitismos cultuais, cujo único interesse está
centrado no individuo e em sua exaltação subjetiva, não propriamente mística, mas
mistificadora,”152 o que não se encontra, como tentamos demonstrar na beata Maria de Araújo.
E se poderia acrescentar, nem no Padre Cícero, a despeito da propaganda enganosa que durante
quase um século se desenvolveu em torno dele. Nele, como na beata, se percebe o dom gratuito
feito a todos, uma mística social e solidária inspirada, não há dúvidas, nas Bem-aventuranças
do Reino.
Por essa união íntima, pela contemplação, pelo dom de oração, pelos muitos serviços
prestados, pelo compromisso com os irmãos, nos atrevemos a afirmar que a memória da mística
Maria de Araújo é manifestação da memória de Deus, porque é a manifestação do desejo de
Deus.
A capacidade de síntese vital: uma síntese que está profundamente ligada à vida. Uma
análise do sangramento da hóstia como linguagem simbólica que, a rigor, é aquela que
comunica algo a alguém e é plenamente entendida. Por isso linguagem. E simbólica porque,
para além dos muitos conceitos que teríamos que nos deter aqui para analisar o símbolo, este
nos diz da união de duas realidades aparentemente antagónicas. Faz a síntese vital: une o
catolicismo oficial e o catolicismo popular. Une a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, que
sangra, ponta de lança do catolicismo da época, às devoções populares, luso-brasileiras, mais
antigas, da qual Maria de Araújo era, legítima representante.
152Seibold, J. La Mística Popular, Buena Prensa, México, 2006. p. 133
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Infelizmente a mística ainda é um fenômeno não devidamente apreciado por alguns
membros eclesiásticos e nisso, a Igreja de Juazeiro tem muito a ensinar – além de aprender – às
outras Igrejas do Brasil e também é pouco apreciado pelos fiéis que vivem estes carismas sem
tomar plena consciência de todas as dimensões da sua própria espiritualidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com um outro código de linguagem, como os pintores que podiam dominar um novo
material alfabético, Maria de Araújo também conseguiu escrever um texto da realidade com
outro código linguistico. Da mesma forma que "pintar para os mestres flamengos, não era nem
a reprodução, nem a produção de um universo, mas a sua metamorfose", Maria de Araújo com
esse novo código transformou a realidade daquele lugar. Redesenhou a geografia, a economia,
a política. Não reproduziu nem produziu um novo mundo, mas provocou uma transformação
profunda, uma metamorfose naquele universo e trouxe, como os pintores, a revelação de um
mundo mais real do que a realidade ordinária. Para além da realidade ordinária, o mundo
revelado pelo sangramento da hóstia é aquele de um profundo conflito entre as duas Igrejas,
instituído pela transição entre essas duas formas de viver a religião, essas duas formas da
realidade ordinária.
Portanto, esse fenômeno não é apenas uma palavra, um fato polissêmico, ambíguo, ou
pobre e unívoco. É rico em significados. Poderíamos dizer que é um símbolo? Paul Ricoeur diz
que:
há mais no símbolo do que em qualquer de seus equivalentes
conceituais: um traço que é avidamente compreendido pelos opositores
do pensamento conceitual. Para eles há que escolher entre o símbolo e
o conceito (...) Não é necessário negar o conceito para admitir que os
símbolos suscitam uma exegese infindável. Se nenhum conceito pode
esgotar a exigência de ulterior pensamento produzido pelos símbolos,
esta idéia significa apenas que nenhuma categorização dada pode
abarcar todas as possibilidades semânticas de um símbolo. Mas só o
trabalho do conceito é que pode testemunhar este excesso de sentido.
E para entender o símbolo, Paul Ricoeur propõe que se comece pela metáfora que "a
metáfora é o reagente apropriado para trazer à luz o aspecto dos símbolos que tem uma afinidade
com a linguagem."
Iniciamos falando de perigos. Insistimos neles. Revelamos os que nos pareceu serem
os que qualificaram Maria de Araújo como aquela que precisava ser apagada da História,
inclusive destruindo seu túmulo, sua última morada e fazendo com que seus restos mortais
desaparecessem para que nada, absolutamente nada mais dela permanecesse. Por quê? A
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pergunta ainda continua, mesmo que eu tenha apresentado algumas respostas: ela questionou o
poder do clero, o poder político, a divisão sexual do saber, do fazer, do acontecer.
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SECA E DEVOÇÃO: A CONSTRUÇÃO DO CRUZEIRO DE SÃO BOM JESUS
EM CARIUTABA NO MUNICÍPIO DE FARIAS BRITO - CE
Emanuel Mateus da Silva153
RESUMO
Seca fenômeno natural que assola a vida do agricultor e do povo sertanejo; devoção,
comportamento de fé em algo que condiz a esperança por dias melhores. É sobre essa junção
entre Seca, Fé e Devoção que o estudo trata, sobretudo da construção do Cruzeiro de São Bom
Jesus. O campo de estudo foi o Distrito de Cariutaba localizado na zona rural a 18 km da sede
do município de Farias Brito – CE. Para realização da pesquisa utilizamos como instrumento
metodológico a aplicação de entrevistas, visitação ao lócus em destaque buscando delinear de
fato o como, quando e por que da construção desse espaço de cultuação de fé cristã. A discussão
inicialmente procura apresentar a relação entre o fenômeno natural e a religiosidade do povo
sertanejo. Em seguida apresentaremos o contexto histórico, político e geográfico do Distrito de
Cariutaba e especificamente a do Cruzeiro. A partir do embasamento teórico e da oralidade das
pessoas mais velhas da comunidade que o corpus foi escrito. Vale salientar que a pesquisa
histórica é inconclusa tendo em vista que ela é construída a partir do viés de cada cidadão,
entretanto, esse trabalho nos permitiu compreender que o sagrado entra em simbiose com as
questões da seca e religiosidade popular.
Palavras-chave: Seca. Devoção. Memória.
INTRODUÇÃO
Este trabalho trata da construção do Cruzeiro de São Bom Jesus no Distrito de
Cariutaba, município de Farias Brito – CE e como esse monumento de fé cristã passou a ser
ponto de cultuação religiosa e ecoturismo local para os moradores dessa localidade e dos sítios
circunvizinhos. Destarte, torna-se necessária a valoração dessa história por está presente na vida
de todos os sujeitos, mesmos os que não sejam católicos.
O presente artigo foi desenvolvido a partir das análises literárias da geração de 30 e
pós-moderna da literatura brasileira, especificamente das obras dos autores nortistas que na
maioria das vezes trazia como pano de fundo a Seca, a Fé, a Devoção presente nos enredos de
seus romances e escritas. Tais autores destaco: Graciliano Ramos com “Vidas Secas”, Rachel
de Queiroz com “O Quinze”, João Cabral de Melo Neto com “Morte e Vida Severina”, e o poeta
regional Patativa do Assaré que muito escreveu sobre a saga do sertanejo. Vale salientar que
não foram somente estes que trataram sobre a temática em questão.
Foi a partir dessas análises que busquei compreender o por quê da construção de um
153Professor das Redes Municipal e Estadual da Educação Básica, Especialista em Língua Portuguesa e Arte-
Educação, Universidade Regional do Cariri – URCA, [email protected], Farias Brito – Ceará –
Brasil.
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Cruzeiro em meio ao Serrote distante a 6 km do Distrito de Cariutaba. E ainda, o que fez desse
local um espaço de cultuação de fé em que corriqueiramente sobem pessoas para agradecer e
rezar por algo alcançado. Além disso, busquei compreender qual a relação existente entre o
fenômeno natural que é a Seca e a Fé cristã do povo sertanejo.
Para construção da pesquisa, optei pela leitura e análises de obras e estudos que trata
sobre a questão da relação entre Seca e Devoção. Além das análises textuais, fiz a opção pela
história de vida dos povos da localidade, como metodologia embasada numa abordagem
qualitativa de pesquisa.
Trabalhei com entrevistas em que as pessoas foram motivadas a discorrer oralmente
sobre a história local, a construção do cruzeiro e a relação entre os indivíduos da comunidade e
o espaço em estudo.
É importante dizer que o texto foi construído a partir das análises textuais e da
oralidade, está ainda fundamentado nos estudos de Paul Thompson quando diz que “Toda fonte
histórica derivada da percepção humana é subjetiva, mas apenas a fonte oral permite-nos
desafiar essa subjetividade: descolar as camadas de memória, cavar fundo em suas sombras, na
expectativa de atingir a verdade oculta”. (THOMPSON, 1992, p. 197).
Portanto, segue abaixo algumas considerações acerca da pesquisa.
A RELAÇÃO ENTRE SECA E DEVOÇÃO: A ÍNTIMA RELAÇÃO RETRATADA
PELA CULTURA
Conforme o dicionário Saraiva Jovem (2010), “seca é uma estiagem muito longa”, e
“devoção é sentimento religioso de adoração”.
Característica peculiar que define a região Nordeste a Seca faz parte da vida do
sertanejo e é retratada nas mais variadas expressões culturais. Na música, a seca é cantada pelos
versos dos sertanejos, tendo como um dos maiores intérpretes o pernambucano Luiz Gonzaga;
na Literatura Brasileira, ela serve de pano de fundo para as obras desde o pré-modernismo, “Os
Sertões” de Euclides da Cunha, como também, das obras da escola Modernista de 30 na sua
fase regional de autores como Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos dentre outros que
utilizaram desse fenômeno natural como mecanismo para construções de seus romances.
A cultuação a divindade faz parte da cultura popular brasileira. É perceptível no dia a
dia e em muitas localidades a vocação por milagres e a crença popular nas atitudes feitas cada
vez que seus pedidos são atendidos por meio da fé. Quanto a sua relação com a Seca percebemos
a pregação e a crença de que sempre no mês de março será chuvoso no Estado do Ceará por se
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mês de São José. De acordo com Matheus Ribeiro (2016), o santo, padroeiro do Ceará, é
reconhecido pela sua tradição de chuvas. Para os religiosos, caso neste dia chova, é sinal de
que o ano será de muita chuva, garantindo a safra e a mesa farta.
No livro “O Quinze” de Rachel de Queiroz, percebemos nitidamente as falas das
personagens rogando por chuvas aos santos. Nas músicas interpretadas por Luiz Gonzaga é
perceptível a saga do povo nordestino por chuva, onde é demonstrado o fato da migração
existente por conta do fenômeno natural. Nos escritos de João Cabral de Melo Neto,
especificamente na obra “Morte e Vida Severina” ele demonstra os costumes de um retirante
nordestino que foge da fome e da seca e a sua relação íntima com o Rio Capiberibe.
Na música Seca do Nordeste interpretada por artistas como Clara Nunes (1972),
Fagner (1995), notamos a relação da seca com a devoção nos seguintes trechos da canção:
“(...) Dias e dias, meses e meses sem chover
E o pobre lavrador com a ferramenta rude
Bate forte no solo duro
(...)
Não adianta o meu lamento meu senhor
Ó ó ó ô e a chuva não vem
Chão continua seco e poeirento
No auge do desespero uns se revoltam contra Deus
Outros rezam com fervor (...)
A partir do exposto acima, fica claro que existe uma relação entre o fenômeno natural
e a crença, seja essa relação internalizada ou externalizada por meio da cultura de um povo.
DELINEANDO O CENÁRIO DA PESQUISA E A CONSTRUÇÃO DO CRUZEIRO DE
SÃO BOM JESUS
O Distrito de Cariutaba localiza-se na Zona Rural do município de Farias Brito, Região
Cariri Sul do Estado do Ceará. Com uma paisagem natural do semi-árido nordestino, com flora
e fauna específica da região, é cortado pelo Rio Cariús com característica intermitente é um dos
maiores distritos em termos populacionais após a Sede. Faz fronteira limítrofe com os
municípios de Cariús e Várzea Alegre.
Sua região e população é formada pelos sítios circunvizinhos (Cajueiro, Caiçara
Cachoeira, Carnaúbas, Juá e Pedra Preta). Cada uma dessas localidades apresenta realidades
específicas, como população, costumes etc. Quase toda população sobrevive da agricultura de
subsistência e trabalham na lavoura como rendeiros e/ou posseiros. Os não agricultores se
sustentam de aposentadoria, emprego no serviço público e informal. O comércio tem
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características simples, sendo a maioria para venda de produtos alimentícios.
Os entrevistados que desvelaram os fios condutores dessa pesquisa são moradores
mais antigos do Distrito e os familiares do fundador do Cruzeiro. Aqui utilizaremos somente as
iniciais buscando preservar a identidade dos investigados.
OS PERCAMINHOS PARA CONSTRUÇÃO DO CRUZEIRO DE SÃO BOM JESUS
Em busca de informações sai atrás de coletas de informações na casa de alguns
moradores do Distrito, que conheciam a história da localidade e tinha uma relação com a
agricultura e com a crença religiosa.
Dentre as pessoas uma das entrevistas foi uma professora de aposentada da Rede
Estadual de Ensino, formada em História e que por muitos anos tem uma relação com a cultura
religiosa local. Conversei ainda com dois agricultores aposentados; uma representante da
militância política do Distrito e os familiares do Senhor Pedro Correia. Como dito anteriormente
iremos utilizar as iniciais dos nomes dos entrevistados para preservá-los.
Quando conversamos perguntei se poderiam me contar um pouco sobre a história do
Cruzeiro.
O cruzeiro surgiu por uma atitude de Pedro Correia. Foi o primeiro a chegar
lá e com isso se tornou fundador. É uma história muito restrita porque não há
documentos de origem. (M.L.O, 2018)
Foi um tempo que não tinha legumes, e as pessoas comiam casca de banana e
também quando tinham mungunzá. Pedro Correia, por ser dono de muitas
terras fez uma promessa se caso chovesse colocaria uma cruz em cima do
serrote, parte de suas terras. (J.S.P, 2018)
Lembro demais, 1930. Seca grande e quase todo gado morrendo. Pouca chuva,
pouco legume, muita fome. Sobre o Cruzeiro, nasceu dessa seca por conta da
promessa de Pedro Correia, se chovesse ele colocava uma cruz. Choveu, mas
num foi muito. E ele colocou a cruz. (A.P.A, 2018)
Tempo em que as condições financeiras eram ruins. A ajuda política era
somente emergencial. A crença religiosa fez nascer aquele local em meio a
seca que devastava a população. (O.D.O, 2018)
Meu avô, desmatou o local e pôs uma Cruz para agradecer as chuvas que ele
pedira. Sempre ia visitar o local quando mais novo, suas visitas fizeram dessa
parte de sua terra um santuário, onde as pessoas iam agradecer a São Bom
Jesus por alguma graça alcançada. (L.U.P, 2018)
É notável nas palavras acima, que mesmo sem uma documentação formal a história da
construção do Cruzeiro está interligada com a devoção de um cristão chamado Pedro Correia e
a sua relação com a seca. Nota-se que esse monumento foi construído a partir de uma promessa
por dias melhores.
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Logo em seguida os indaguei se existia alguma relação interpessoal com o Cruzeiro.
Quando jovem gostava muito de ir lá, rezar terços e olhar a paisagem. Ele faz
parte de minha história. Tenho história de vida sobre aquele local. (M.L.O,
2018)
Eu acho muito bom lá. É a melhor viagem que faço. Lembro da infância, dos
meus familiares. Lembro de várias bagunças de criança. Faz 45 anos que visito
aquele local, e todos os anos não fico sem ir. (J.S.P, 2018)
Faz parte da vida de meu pai. Faz parte de minha vida. Sou devoto de São
Bom Jesus. Fico aqui de casa imaginando como deve estar. Já que não posso
mais ir. Mas o tenho na minha memória e isso não apaga. (A.P.A, 2018)
É cultura. É vida. É a história de meu povo. Da localidade que me recebeu de
braços abertos há anos. Quando podia sempre visitei. Hoje mando e indico as
pessoas a visitarem. (O.D.O, 2018)
É uma ligação familiar. Lá está traços de meu avô. Parte da história da minha
família. (L.U.P, 2018)
As passagens acima, revela a cumplicidade que as pessoas tem para com o local em
destaque. O cruzeiro de São Bom Jesus, faz parte do nascimento e da vida de muitos dos
moradores. Já sabemos que ele foi construído a partir de uma graça alcançada pelo seu fundador.
Nesse momento, perguntamos aos entrevistados de algum testemunho de graça alcançada que
não fosse somente a do Senhor Pedro Correia.
Tenho um testemunho meu. Fui pagar uma promessa lá porque comecei a
faculdade e aí me apeguei muito a Bom Jesus da Lapa para que conseguisse
alcançar minhas metas. Foi muito sacrifício, mas consegui. Assim que me
formei, fui junto com a comunidade e levei uma imagem de Bom Jesus para
lá, soltei fogos de artifício e festejei muito [risos e lágrimas]. (M.L.O, 2018)
Meu filho tinha quebrado a perna e não tinha dinheiro para levar pro doutor.
Passei 3 dias com ele em casa e a perna estava ficando preta. Depois fui a
cidade e meu filho foi encaminhado pra Crato. Uns dizia que a perna ia ser
cortada e outros dizia que ele ia morrer. Como não sabia ler, fiquei sem saber
o que fazer. Minha mulher, fez uma promessa pra São Bom Jesus que se a
perna de meu filho ficasse boa, nós ia levar uma de madeira pra lá. Num foi
preciso cortar e nós fomos deixar a perna de madeira. (J.S.P, 2018)
Sentia forte dores de cabeça. Fiz uma promessa que se deixasse de sentir. Ia
deixar uma cabeça de madeira na cruz de São Bom Jesus. Tomei remédios por
anos, fiquei bom através da minha fé, pois o remédio num servia muito.
(A.P.A, 2018)
Sempre acreditei nos santos e no povo. Como política, sempre fazia promessas
pra ganhar uma eleição. Sempre fui atendida e ia pagar as promessas. (O.D.O,
2018)
Já paguei algumas promessas na antiguidade. Hoje tenho outras crenças. Não
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creio em milagre por meio de santos. Mas muita gente sim. [risos] (L.U.P,
2018)
Por fim, perguntamos se hoje as visitas ao local ainda tem o mesmo propósito de
antigamente ou outros motivos.
Ainda hoje é considerado um ponto turístico religioso de nossa comunidade.
Mas também muitos vão para pratica de esporte em meio a natureza, trilhas.
(M.L.O, 2018)
Eu vou para agradecer alguma graça. Mas meus filhos e netos vão somente
para andar, ver o lugarejo de cima. (J.S.P, 2018)
Sempre vão por conta de algumas graça alcançada por um amigo ou parente.
Tem alguns que vão somente para andar outros para rezar. (A.P.A, 2018)
Muitos vão por questões religiosas, outros somente para andar. O governo
municipal tem investido no local, fazendo escadas para o povo subir. (O.D.O,
2018)
Eu quando vou é somente para ver o distrito do alto da serra. Muitos ainda vão
para agradecer algo alcançado. (L.U.J, 2018)
Mesmo com o passar dos anos, a visitação ao Cruzeiro ainda continua sendo por conta
das graças alcançadas e que a crença popular ainda é viva na cultura do povo. É preciso destacar
ainda, que o ambiente tornou-se um ponto turístico religioso da comunidade local.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa realizada me permitiu a ter uma maior compreensão sobre a inter-relação
existente entre o Cruzeiro de São Bom Jesus e os moradores do Distrito de Cariutaba localizado
no município de Farias Brito – Ce. A partir da oralidade, percebemos o passado de um povo
vindo ao encontro com os costumes da atualidade, além do mais, notamos à similaridade das
informações e emoções contidas em cada palavra ditas pelos sujeitos da pesquisa.
Com o estudo ficou evidente de que existe uma relação entre Seca, Fé e Devoção.
Fenômeno cultural, sentimento humano que foi retratado nas mais variedades correntes
artísticas por aqueles que fazem parte da cultura sertaneja, por aqueles que um dia estudaram
ou conheceram o Nordeste.
O Cruzeiro de São Bom Jesus foi construído a partir deste tripé, onde por conta da
Seca e Devoção um agricultor, donos de algumas terrar finca um Cruzeiro no alto da serra que
é avistado por todos aqueles que adentra as terras do distrito.
É preciso dizer que mesmo sem um registro documental dos fatos históricos, podemos
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verificar a partir da oralidade que há uma verossimilhança na história de fundação do Cruzeiro.
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