Descontinuidades técnicas, investimento induzido e o movimento pró-cíclico do coeficiente de...

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Descontinuidades técnicas, investimento induzido e o movimento pró-cíclico do coeficiente de importações Fernando Maccari Lara NEPE/CEES/FEE

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Descontinuidades técnicas,

investimento induzido e o

movimento pró-cíclico do

coeficiente de importações

Fernando Maccari Lara

NEPE/CEES/FEE

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Aspectos históricos e conceituais

1. Furtado e “transição” para a industrialização por substituição de importações;

2. Intervencionismo, seletividade, rentabilidade relativa entre os setores;

3. Estado desenvolvimentista, acumulação no setor público, demanda efetiva, acumulação setor privado; articulação das políticas;

4. Descontinuidades técnicas, mecanismo acelerador, movimento pró-cíclico do coeficiente de importações.

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Oferta e demanda agregadas

M + Y = I + A

M são as importações

Y é o produto (PIB)

I são os gastos de investimento

A são os demais gastos

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Importações induzidas

𝑀 = 𝑞𝐼𝐼 + 𝑞𝐴𝐴

𝑚 =𝑀

𝑌=𝑞𝐼𝐼 + 𝑞𝐴𝐴

𝑌

𝑚 = 𝑞𝐼 𝐼 𝑌 + 𝑞𝐴 𝐴 𝑌

Este coeficiente de importações corresponde assim a uma média entre os

coeficientes específicos de cada componente da demanda agregada,

ponderada pela participação daqueles componentes no PIB.

Coeficientes específicos sobre os componentes da demanda agregada

𝑞𝐼 é o coeficiente de importações

associado ao investimento

𝑞𝐴 é o coeficiente de importações

associado aos demais gastos

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Investimento induzido

• Há uma relação empiricamente observada entre a taxa de

crescimento do PIB e a parcela do investimento em relação ao PIB.

• Com base no modelo do supermultiplicador proposto por Serrano

(1995), podemos assim definir a taxa de investimento líquido:

𝐼 𝑌 = 𝑣. 𝑔𝑒

𝑣 é a relação capital/produto normal

∆𝐾 = 𝐼 é o investimento líquido

∆𝑌𝑒 é a variação esperada do PIB

𝑔𝑒 é a taxa esperada de crescimento do PIB

𝐼 𝑌 é a taxa de investimento líquido

𝐼 = 𝑣. (𝑔𝑒 . 𝑌)

∆𝐾 = 𝑣. ∆𝑌𝑒

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Parcela A/Y

𝐼 𝑌 = 𝑣. 𝑔𝑒

𝑀 𝑌 + 1 = 𝐼 𝑌 + 𝐴 𝑌

𝐴 𝑌 é a participação dos demais gastos no PIB

𝑚 = 𝑞𝐼 𝐼 𝑌 + 𝑞𝐴 𝐴 𝑌

Substituindo as duas parcelas 𝐴 𝑌 e 𝐼 𝑌 em:

𝑀 + 𝑌 = 𝐼 + 𝐴

𝐴 𝑌 = 1 − 𝑣. 𝑔𝑒 +𝑚

Dividindo esta identidade pelo PIB (Y) temos:

Dado que:

obtém-se a expressão para o coeficiente

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Coeficiente de importações pró-cíclico

𝑚 =𝑞𝐴

(1 − 𝑞𝐴)+

𝑞𝐼 − 𝑞𝐴1 − 𝑞𝐴

. 𝑣. 𝑔𝑒

Condição para que o coeficiente de importações seja uma função crescente da taxa

de crescimento esperada do PIB:

𝑣. 𝑞𝐼 − 𝑞𝐴 > 0 portanto 𝒒𝑰 > 𝒒𝑨

A condição portanto é que o coeficiente de importações relativo ao investimento seja

maior do que o relativo aos demais gastos.

Isto tende a ocorrer quando se verificam significativas descontinuidades técnicas no

sistema produtivo: estão ausentes ou são insuficientes os setores produtores de bens

de produção.

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ExemploRelação capital/produto: 𝒗 = 𝟏, 𝟐𝟓Coeficiente de importações do investimento: 𝒒𝑰 = 𝟎, 𝟑Coeficiente de importações dos demais gastos: 𝒒𝑨 = 𝟎, 𝟏

Taxa de crescimento do PIB

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

0,12

0,14

0,16

0% 2% 4% 6% 8% 10%

Coeficiente deimportações

Taxa deinvestimento

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Simulação

Neste caso 𝐼 𝑌 = (𝑣𝑔𝑒 + 𝑑) incluindo fator de reposição/depreciação 𝑑 = 5%

11,70%

11,80%

11,90%

12,00%

12,10%

12,20%

12,30%

12,40%

-1,00%

-0,80%

-0,60%

-0,40%

-0,20%

0,00%

0,20%

0,40%

0,60%

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Taxa de crescimento do PIB Coeficiente de importação

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Substituição de importações

• Requer alterações estruturais no sistema produtivo, em contexto de

crescimento do produto e de acumulação de capital, que

modifiquem a relação entre acumulação e importações;

• Construção de capacidade produtiva interna para atender à

demanda crescente por bens de produção que acompanha,

inevitavelmente, o crescimento industrial e a acumulação de capital;

• Antes de reduzir, trata-se de conter a um prazo mais longo (a curto

prazo, pode ser impossível) a tendência de aumento do coeficiente

de importações elevar-se quando a economia cresce.

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O caso brasileiro (2004-2016)

• O “crescimento extensivo” no período 2004-2010 ocorreu mediantegrande complementariedade entre a indústria doméstica e asimportações, sem mudança estrutural (Medeiros, 2015);

• A decomposição das taxas de crescimento do PIB mostra importanteaumento do coeficiente de importações ao longo do processo, comelevada correlação com a contribuição da FBKF (Lara, 2015);

• Análise das importações de bens finais e de intermediários, combase na MIP, mostra que o conteúdo importado da FBKF é superioraos demais componentes do gasto (Fevereiro, 2016);

• A desaceleração do crescimento (2011-14) e a recessão (2015-16)implicaram redução da taxa de investimento e do coeficiente médiode importações, conforme previsto por López (2004).

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Contribuição das importações como função da

contribuição do investimento

y = 0,5171x + 0,0003R² = 0,7616

-3,00%

-2,00%

-1,00%

0,00%

1,00%

2,00%

3,00%

-4,00% -3,00% -2,00% -1,00% 0,00% 1,00% 2,00% 3,00% 4,00% 5,00% 6,00%

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Referências

• FEVEREIRO, J. B. Nota técnica — decomposição da taxa de crescimento do PIB

pelo lado da demanda: uma metodologia alternativa. Carta de Conjuntura IPEA, Rio

de Janeiro, n. 30, abr. 2016.

• LARA, F. As contribuições à desaceleração do crescimento no Brasil (2011-14).

Indicadores Econômicos FEE, Porto Alegre, v. 43, n. 2, p. 23-40, 2015.

• LÓPEZ, J. Economic crises in Latin America: some considerations in the light of

Kalecki’s theory. In: SADOWSKI, Z.; SZEWORSKI, A. Kalecki’s economics today.

London: Routledge, 2004. p. 201-214.

• MEDEIROS, C. Inserção externa, crescimento e padrões de consumo na economia

brasileira. Brasília, DF: IPEA, 2015.

• SERRANO, F. The sraffian supermultiplier. PhD Dissertation. Faculty of Economics

and Politics at the University of Cambridge. 1995

• SERRANO, F. Tequila ou Tortilla: notas sobre a economia brasileira nos anos 90.

Archetypon, Rio de Janeiro, v. 6, n. 18, set./dez. 1998.

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NEPE/CEES/FEE

Fernando Maccari Lara (Coordenador)

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Fundação de Economia e Estatística

Siegfried Emanuel Heuser

Rua Duque de Caxias, 1691

Centro Histórico, Porto Alegre

CEP: 90010-283

(51) 3216.9000