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II SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2013 99 Descrição anatômica de raiz da bromélia Cryptanthus beuckeri E.Morren no ambiente de restinga Fabiane Fonseca Ribeiro 1 & Elisa Mitsuko Aoyama 2 1 Acadêmica no curso de Ciências Biológicas, Centro Universitário Norte do Espírito Santo, Universidade Federal do Espírito Santo, CEP 29932-540, São Mateus, ES. E- mail: [email protected]. 2 Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas, Centro Universitário Norte do Espírito Santo, Universidade Federal do Espírito Santo, CEP 29932-540, São Mateus, ES. E-mail: [email protected]. Introdução Bromeliaceae possui aproximadamente, 60 gêneros e 3170 espécies (Luther, 2008), sendo que no Brasil ocorrem cerca de 44 gêneros e 1290 espécies (Forzza et al., 2013), aproximadamente cerca de 70% dos gêneros e 40% das espécies (Wanderley & Martins, 2007). Geralmente esta família possui plantas na sua maioria herbáceas, perenes, terrestres, epífitas ou rupícolas, com caule reduzido, portadoras de folhas longas dispostas em rosetas e densamente imbricadas na base (Wanderley & Martins, 2007). Cryptanthus beuckeri E. Morren é distribuída nos Estados da Bahia e Espírito Santo (Kollman et al., 2007). De acordo com Tardivo & Cervi (1997), Nunes (2002) e Mercier & Nievola (2003) as espécies vem sofrendo ameaças por ação extrativista e predatória, para o cultivo e venda, devido ao seu valor ornamental, prática que está em constante aumento. Com isso, corre sério risco de desaparecimento, sendo necessário o desenvolvimento de medidas de conservação. As raízes podem ser absorventes nas espécies terrestres e/ou fixadoras nas epífitas, raramente ausentes (Tillandsia usneoides) (Wanderley et al., 2007) As raízes possuem a função de absorção, além da fixação, que é acompanhada de adaptações morfológicas (Proença & Sajo, 2008). A Restinga é um ecossistema da Mata Atlântica, abrangendo 7.110 km da costa brasileira, que corresponde 80% do litoral (Suguio & Tessler, 1984). Esse ecossistema é composto por distintas fitofisionomias, influenciadas, principalmente pelo nível do lençol freático, com plantas de porte variado principalmente hérbaceas, arbustivas e árboreas (Scarano, 2002; Pereira, 2003). C. beuckeri é pouco estudada e está incluída na Lista de Espécies Ameaçadas do Espírito Santo como vulnerável (Kollman et al., 2007). Portanto, este trabalho propõe descrever a estrutura interna da raiz, buscando informações para entender se esta espécie de bromélia possui adaptação anatômica em diferentes áreas no ambiente de restinga do Norte do Espírito Santo. Sendo assim, este presente estudo auxilia no conhecimento desta espécie para fornecer informações para futuros trabalhos de conservação em seu ambiente natural. Material e Métodos As raízes foram coletadas em um ambiente de restinga situado na Região Norte do Espírito Santo, cidade São Mateus, bairro Liberdade. Logo, foram conduzidas para o

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II SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA. 2013 99

Descrição anatômica de raiz da bromélia Cryptanthus beuckeri E.Morren no

ambiente de restinga

Fabiane Fonseca Ribeiro1 & Elisa Mitsuko Aoyama2 1Acadêmica no curso de Ciências Biológicas, Centro Universitário Norte do Espírito Santo, Universidade Federal do Espírito Santo, CEP 29932-540, São Mateus, ES. E-mail: [email protected]. 2Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas, Centro Universitário Norte do Espírito Santo, Universidade Federal do Espírito Santo, CEP 29932-540, São Mateus, ES. E-mail: [email protected].

Introdução

Bromeliaceae possui aproximadamente, 60 gêneros e 3170 espécies (Luther, 2008), sendo que no Brasil ocorrem cerca de 44 gêneros e 1290 espécies (Forzza et al., 2013), aproximadamente cerca de 70% dos gêneros e 40% das espécies (Wanderley & Martins, 2007). Geralmente esta família possui plantas na sua maioria herbáceas, perenes, terrestres, epífitas ou rupícolas, com caule reduzido, portadoras de folhas longas dispostas em rosetas e densamente imbricadas na base (Wanderley & Martins, 2007). Cryptanthus beuckeri E. Morren é distribuída nos Estados da Bahia e Espírito Santo (Kollman et al., 2007). De acordo com Tardivo & Cervi (1997), Nunes (2002) e Mercier & Nievola (2003) as espécies vem sofrendo ameaças por ação extrativista e predatória, para o cultivo e venda, devido ao seu valor ornamental, prática que está em constante aumento. Com isso, corre sério risco de desaparecimento, sendo necessário o desenvolvimento de medidas de conservação. As raízes podem ser absorventes nas espécies terrestres e/ou fixadoras nas epífitas, raramente ausentes (Tillandsia usneoides) (Wanderley et al., 2007) As raízes possuem a função de absorção, além da fixação, que é acompanhada de adaptações morfológicas (Proença & Sajo, 2008). A Restinga é um ecossistema da Mata Atlântica, abrangendo 7.110 km da costa brasileira, que corresponde 80% do litoral (Suguio & Tessler, 1984). Esse ecossistema é composto por distintas fitofisionomias, influenciadas, principalmente pelo nível do lençol freático, com plantas de porte variado principalmente hérbaceas, arbustivas e árboreas (Scarano, 2002; Pereira, 2003). C. beuckeri é pouco estudada e está incluída na Lista de Espécies Ameaçadas do Espírito Santo como vulnerável (Kollman et al., 2007). Portanto, este trabalho propõe descrever a estrutura interna da raiz, buscando informações para entender se esta espécie de bromélia possui adaptação anatômica em diferentes áreas no ambiente de restinga do Norte do Espírito Santo. Sendo assim, este presente estudo auxilia no conhecimento desta espécie para fornecer informações para futuros trabalhos de conservação em seu ambiente natural.

Material e Métodos

As raízes foram coletadas em um ambiente de restinga situado na Região Norte do Espírito Santo, cidade São Mateus, bairro Liberdade. Logo, foram conduzidas para o

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laboratório do CEUNES (Centro Universitário do Norte do Espírito Santo), onde foram fixadas em FAA (formaldeído: ácido acético: álcool etílico 50%, 2:1:18, v/v) (Johansen, 1940), mantidas por 48 horas e posteriormente transferidas para etanol 70%. Amostras da porção mediana das raízes foram secionadas transversalmente, à mão livre, com auxílio de lâmina de barbear e isopor, posteriormente foram montadas lâminas temporárias com gelatina. As lâminas foram analisadas ao microscópio fotônico e as ilustrações obtidas em fotomicroscópio, com projeção de escalas micrométricas.

Resultados e Discussão

No local da coleta foram selecionadas quatro áreas, sendo três de sombra e uma de sol pleno. Foram coletadas em média três plantas de cada área e foram analisadas anatomicamente três raízes de cada área selecionada. Os resultados obtidos mostraram que as raízes apresentam possivelmente uma epiderme uniestratificada, constituída por células epidérmicas com formato variado, presença de pêlos absorventes unicelulares que protegem as raízes e exercem também a função de absorver água (Figura 1). Em todas as áreas coletadas a espécie estudada apresenta córtex diferenciado em externo, mediano e interno. O córtex externo é formado pelo parênquima fundamental com 5 a 7 camadas com células de paredes delgadas sem plastídios, com espaços intercelulares pequenos que permitem as trocas gasosas, (Figura 2). O córtex mediano é formado pelo esclerênquima com células de paredes espessadas e fibrosas, e apresenta 3 a 4 camadas (Figura 3). O córtex interno é formado por células parenquimáticas delgadas, podendo ter poucos ou muitos espaços aéreos com 2 a 4 camadas de espessura (Figuras 4 e 5). Observa-se nesse estrato a endoderme, com células de paredes espessadas de formato em “U”, compacta e sem espaços intercelulares (Figura 6). O cilindro vascular é constituído pelo periciclo (Figura 6) e pelos feixes vasculares que são isolados e apresentam 10 a 14 pólos de protoxilema (Figura 6). A medula é constituída por células de paredes espessadas contendo fibras, provavelmente são lignificadas, trazendo rigidez à raiz (Figura 6). Raízes de Cryptanthus beuckeri são diferentes de outras espécies de Bromeliaceae citadas por Tomlinson (1969), Pita & Menezes (2002), Segecin & Scatena (2004), Proença & Sajo (2008) não apresentam velame e sim córtex, pois é provável que a epiderme seja uniestratificada com presença de pêlos absorventes. Na espécie estudada foram encontrados espaços intercelulares no córtex interno, sendo que na primeira área sombreada de coleta as raízes apresentaram poucos espaços intercelulares e nas demais áreas, inclusive na de sol pleno estes espaços foram em grande quantidade. De acordo com Tomlinson (1969) os espaços intercelulares presentes no córtex interno das raízes de Bromeliaceae têm a função de transportar a água por capilaridade através desses espaços. Segundo estudos de Pita & Menezes (2002) foi observado em raízes de Bromeliaceae a presença de medula lignificada e cordões de protoxilema conectados com metaxilema, confirmando a afirmação neste presente estudo. Os resultados das seções das raízes Cryptanthus beuckeri permitiu a avaliação das estruturas ou tecidos que são possíveis adaptações estruturais desta espécie no ambiente de restinga.

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Conclusão Nas distintas áreas de coleta foi observado que houve diferença somente nos espaços intercelulares, algumas plantas apresentaram esses espaços mais evidentes e em maiores quantidades do que em outras plantas. A espécie estudada apresentou características adaptativas ao ambiente de restinga e se desenvolve melhor em áreas sombreadas. Entretanto, são necessários mais estudos sobre esta espécie para a realização de projetos futuros.

Agradecimentos

À Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) pela bolsa de iniciação científica, e ao Bruno Sant’Anna Fanticelle pelo enorme apoio na coleta do material de pesquisa.

Literatura Citada

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Proença, S.L. & Sajo, M.G. 2008. Rhizome and root anatomy of 14 species of Bromeliaceae. Rodriguésia 59(1): 113-128.

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Scarano, F.R. 2002. Structure, function and floristic relantio ships of plants communities in stressful habitats marginal to Brazilian Atlantic Rainforest. Annals of Botany 90: 517-524.

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Figuras 1-6 – Secções transversais de raiz de Cryptanthus beuckeri. 1 – pêlos absorventes e epiderme uniestratificada. 2 - córtex externo, seta indica espaço intercelular. 3- córtex mediano, seta indica esclerênquima. 4 – seta indica córtex interno com poucos espaços aéreos. 5 – seta indica córtex interno com muitos espaços aéreos. 6 – córtex interno contendo endoderme (a), periciclo (b), floema (c), xilema (d) e medula (e).