Desdobramentos Da Concepcao de Boaventura de Sousa Santos So

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  • 7/24/2019 Desdobramentos Da Concepcao de Boaventura de Sousa Santos So

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    VI Colquio Marx e Engels

    GT 3 Marxismo e cincias humanas

    Desdobramentos da concepo de Boaventura de Sousa Santos sobre a

    teoria marxiana em seu projeto de emancipao socialRodrigo Bischoff Belli1

    Boaventura de Sousa Santos uma figura particular da sociologia contempornea.

    Contrariando a viso ainda comumente aceita de que a atividade acadmica deve se restringir ao

    gabinete, Santos assume uma postura ativa. Embasado na tese de que vivemos um perodo de

    transio paradigmtica profunda, que atinge o mundo de uma maneira geral e que se apresenta a

    todos como uma crise do entendimento e da efetivao do projeto moderno, ele assume uma

    posio de orientao dos possveis rumos que ela pode vir a seguir. E, neste sentido, seja como um

    dos organizadores do Frum Social Mundial, seja como pesquisador e organizador do projeto

    Reinventar a emancipao social, Santos direciona seus esforos na consolidao de um paradigma

    que promova a emancipao social.

    E quando se fala em emancipao social, impossvel no se remeter figura e teoria de

    Karl Marx. Mesmo um pouco mais de um sculo depois de sua morte, o intelectual alemo continua

    como uma das principais referncias tericas, seno a mais importante, no pensamento referente

    transformao social. Santos, claro, no foge risca e tem em Marx um importante referencial.

    Como cientista social tambm engajado na causa da emancipao social, no posso deixarde analisar a proposta da teoria de Santos. Neste texto, venho apresentar minhas primeiras opinies

    a respeito. Defendo a tese de que por mais bem-aventurada que possa ser a proposta de Santos, ela

    sofre com certos equvocos epistemolgicos, equvocos estes que podem ser visualizados se

    contrapostos a sua leitura da teoria marxista. Aqui, concordo com Netto, que afirma que Santos, no

    seu resgate da teoria marxiana ignora aquilo que lhe mais essencial: seu contedo unitrio e

    totalizante/totalizador, embasado numa ontologia do ser social a partir da crtica da economia

    poltica historicamente constitudo no mundo do capital (NETTO, 2004, p. 239). Esta leitura

    ontolgica da teoria marxiana, realizada originalmente por Georg Lukcs, nos parece aquela que

    realmente lhe extrai todo o seu contedo. Vejamos a seguir como isso ocorre.

    ***

    Santos bastante reticente ao adotar a teoria marxiana e marxista na elaborao do novo

    paradigma que ele afirma estar em construo e que pretende superar o paradigma moderno.

    1Mestrando no Programa de ps-graduao em Cincias Sociais da UNESP.

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    Mesmo entendendo que esse novo paradigma em construo (denominado por ele como ps-

    moderno2) pretenda ao socialismo3, a importncia e a influncia da teoria de Marx e da tradio

    desdobrada de seus escritos deve ser bastante ponderada. Afinal, o marxismo seria, para Santos, um

    produto legtimo da modernidade, herdando de sua matriz toda sua racionalidade e todos os seus

    pressupostos que se apresentariam hoje como completamente ultrapassados. Deste modo, a

    sociologia de Marx, ou seja, a teoria social marxiana seria insuficiente. Porm, apesar dos pesares,

    ela se constituiria como um projeto de emancipao social de grande impacto na histria, e mesmo

    limitada pela modernidade, seu potencial poltico no poderia ser descartado. Em poucas palavras, a

    questo do tratamento da teoria de Marx por Santos se resume na seguinte frase: em que medida a

    sociologia de Marx capaz de efetivar a utopia de Marx? (SANTOS, 1997, p. 36).

    Para Santos, o socialismo s poderia encontrar lugar na realidade se aqueles que pretendem

    emancipao humana superassem os entraves prprios teoria crtica moderna como um todo,

    mas em especial a teoria crtica marxista. Os principais entraves da teoria marxista (tambm

    compartilhados pela teoria crtica moderna em geral) seriam, para Santos, trs: a noo de

    totalidade, que deriva um posicionamento que preveria uma nica alternativa emancipatria; a

    centralidade da categoria trabalho nas anlises sociolgicas, supervalorizando assim as classes

    sociais como categoria modelar no reconhecimento dos agentes sociais capazes de promover tal

    emancipao; e a idia de progresso, que ignora problemas atuais mais urgentes, como o da

    ecologia e o da democracia, em favorecimento do um enfoque maior com relao ao

    desenvolvimento das foras produtivas (SANTOS, 1999).

    A anlise dessas contradies, derivadas supostamente da teoria marxista, deve ser levada acabo, segundo Santos, por uma teoria crtica ps-moderna. Esta nova teoria crtica deve comear

    pela crtica do conhecimento. Isto s poderia ocorrer se o sujeito tomar o seu objeto do saber

    enquanto sujeito, como um igual perante seu observador. Seria preciso adotar ao invs de um

    conhecimento-regulao, um conhecimento-emancipao.

    2Santos sempre se mostrou insatisfeito com essa denominao, pois que ela levava quase sempre a uma identificaosua ao movimento ps-moderno em geral. Santos utilizava o termo ps-moderno por achar que no havia outro melhorno momento, mas insistia na distino entre o seu ps-modernismo dito por ele mesmo como de oposio e o ps-

    modernismo mais em voga, classificado como celebratrio. Ambas as correntes, segundo o prprio Santos, teriamcincia da falncia do projeto moderno, tanto de suas instituies quanto de sua racionalidade, mas se diferenciariampelos rumos a serem tomados para sua superao. Enquanto o ps-modernismo de oposio orienta suas aes para aefetivao de um novo paradigma voltado para a emancipao, o ps-modernismo celebratrio concebe a prpria crisecomo um momento de transformao social contnuo, sem a necessidade de constituio de um novo modelo geral, nodiferenciando, assim, as diferenas entre teorias emancipatrias e regulatrias.3O sentido de socialismo parece sofrer uma alterao profunda em Santos. Ao invs de indicar um perodo de transiode uma sociedade de classes para uma sociedade livre, Santos identifica socialismo como uma aspirao dademocracia radical (SANTOS, 1999, p. 214). Em outras palavras, o socialismo, mais do que um projeto unificado deluta emancipatria, seria, para Santos, o agregado das diversas solues locais para o grande problema dairracionalidade global, solues estas no orientadas, especificamente, de acordo com a noo original de socialismo(Cf. SANTOS, 1997, p. 111).

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    O marxismo, assim como a teoria moderna em geral, se baseara sempre no conhecimento-

    regulao, ajudando a promover o monoculturalismo, aperitagem hericae a ao conformista. O

    monoculturalismo seria tirnico, impedindo que outras formas de saber contribussem para a

    tentativa de emancipao social. A peritagem herica ocorreria quando o pressuposto de que o

    conhecimento vlido independentemente das condies que o tornaram possvel provoca uma

    discrepncia entre a ao tcnica (o ato de efetivao da teoria) e as conseqncias tcnicas (os

    desdobramentos dessa ao na realidade), descontextualizando o conhecimento a ponto de torn-lo

    menos cientfico do que se pretendia. Essa situao colocaria o cientista numa posio de herosmo,

    de um aventureiro mais do que a de um cientista. E a ao conformista seria aquela que surge de um

    momento da modernidade que corresponde ao auge do capitalismo, onde qualquer ato de rebeldia,

    por mais radical que possa parecer, estaria, na verdade, preso aos limites estreitos dessa forma de

    sociabilidade e da forma de racionalidade prprios modernidade, que no ofereceriam solues

    para fora de sua lgica.

    Para a superao dessa forma de conhecimento, Santos prope: contra a monocultura, o

    multiculturalismo, atravs dos procedimentos da sociologia das emergncias e do trabalho de

    traduo. Procedimentos metodolgicos estes que visam transformar tambm a peritagem herica

    em conhecimento edificante. E prope tambm uma sociologia das emergncias para trazer tona

    os problemas realmente existentes e autenticamente percebidos pela sociedade em suas diversas

    fraes, substituindo assim a ao conformista pela ao rebelde.

    Vejamos agora um pouco mais detalhadamente, como Santos transparece a sua leitura da

    teoria marxiana e de como ela contribui para a elaborao de seu projeto emancipador.

    ***

    Em todos os textos mantm-se a mesma base argumentativa: seriam Marx e o marxismo

    produtos legtimos da modernidade e, por essa razo, herdariam desta todos os seus limites. A teoria

    marxista se tornaria til na elaborao do novo paradigma se passasse por uma anlise crtica que

    filtrasse as suas limitaes modernas expressas nas noes de totalidade, de centralidade do trabalho

    e de progresso.

    Para Santos, o marxismo concebe a sociedade enquanto uma totalidade, um conjuntounitrio de tendncias, e como conseqncia, tambm proporia uma nica alternativa sociedade

    que existe: o socialismo. Pautado sobre o pressuposto terico de que possvel abarcar abstrata e

    integralmente a totalidade social, o marxismo ignoraria as diversas formas de manifestao

    presentes na sociedade, orientando as aes transformadoras para um nico sentido e atribuindo a

    elas um nico agente histrico. A tendncia desse pensamento seguiria mais para a regulao do

    que para a emancipao.

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    Em contrapartida, Santos prope um reconhecimento das diversas formas de saber e de agir

    em prol da emancipao humana. A promoo desse multiculturalismo possvel com o auxilio de

    dois procedimentos metodolgico que ele denomina como sociologia da ausncia e o trabalho de

    traduo.

    A sociologia das ausncias uma forma de investigao que visa demonstrar que o que no

    existe , na verdade, ativamente produzido como no existente, isto , como uma alternativa no-

    credvel ao que existe (SANTOS, s/d, p. 11-2). O marxismo promoveria, no caso, a no existncia

    de um sem numero de teorias. O carter totalizante do marxismo derivaria num totalitarismo

    epistemolgico.

    Aliada a sociologia das ausncias, est o trabalho de traduo, que visa a criao de uma

    inteligibilidade recproca entre as experincias do mundo, tanto as disponveis quanto as possveis

    [...]. Trata-se de um procedimento que no atribui a nenhum conjunto de experincias nem o

    estatuto de totalidade exclusiva nem o estatuto de parte homognea (SANTOS, s/d, p.30).

    Estes dois procedimentos tambm so importantes para a desconstruo da segunda noo

    problemtica do marxismo, o da centralidade do trabalho e das posturas tericas e intervencionistas

    derivadas dela, em especial o uso do conceito de classe social pela sociologia e pelo pensamento

    revolucionrio. Por mais que esta categoria tenha representado uma ferramenta importante para a

    sociologia, coloc-la nos tempos de hoje como a principal categoria analtica significaria desprezar

    todas as outras formas de manifestao das relaes sociais, inclusive nas diversas facetas que a

    dominao e a opresso existem.

    Este princpio, supostamente apriorstico da concepo do sujeito da transformao social,

    o mesmo responsvel por aquilo que ocorre com a teoria moderna em geral e que Santos denomina

    de peritagem herica. A peritagem herica se faz quando o pressuposto de que o conhecimento

    vlido independentemente das condies que o tornaram possvel provoca uma discrepncia entre a

    ao tcnica (o ato de efetivao da teoria) e as conseqncias tcnicas (os desdobramentos dessa

    ao na realidade). O conhecimento passa a ser considerado completamente descontextualizado de

    sua origem, a ponto de torn-lo menos cientfico do que se pretendia. Essa situao colocaria o

    cientista numa posio de herosmo, de aventureiro mais do que de cientista.A teoria crtica ps-moderna, apoiado na sociologia das ausncias e no trabalho de traduo,

    toma o conhecimento sempre contextualizado pelas condies de sua produo e a medida que ele

    capaz de efetivar as transformaes para as quais ele foi elaborado. Seria uma forma de

    conhecimento prudente, que tenta manter os limites de seus desdobramentos muito prximos a

    contingncia de sua elaborao.

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    los a atingir determinada finalidade. A atividade humana se desenvolve, segundo ele, mediada por

    inmeras posies teleolgicas que implicam a relao do ser humano com a natureza e a dele com

    outros de sua espcie. Uma atividade que tem o carter de prxis, onde sujeito e objeto, como

    categorias distintas efetivamente existentes e operantes, interagem na produo de uma forma de

    existncia prpria de um ser social.

    Assim, a vida social no se constituiria para Marx, segundo Lukcs, numa simples

    continuidade da vida natural, mas teria por base as posies teleolgicas dos homens. As posies

    teleolgicas de um modo geral expressariam o modo particular da reproduo do ser social

    comparado s formas de existncia predominantemente naturais.4

    O trabalho, enquanto posio teleolgica primria, seria o momento predominante na

    diferenciao do ser humano, enquanto ser social, do mundo natural. Pelo trabalho o ser humano

    criaria um novo objeto e, ao mesmo tempo, se reconheceria como sujeito frente ao objeto por ele

    criado; criaria no s um novo ser como criaria a si mesmo como entidade genrica. Neste processose realizaria a superao da pura animalidade, haja vista que o trabalho contm, aqui, em germe, os

    atos da conscincia capazes de elaborar respostas ao ambiente natural, garantindo a sobrevivncia

    da espcie humana enquanto gnero.5

    O impulso prprio ao trabalho na superao da imediaticidade torna as relaes entre ser

    humano e natureza cada vez mais mediadas por categorias sociais crescentemente mais complexas.

    Nisto reside o carter central e decisivo do trabalho como categoria fundante do ser social. Mas, se

    Lukcs, na esteira de Marx, entende o trabalho como categoria ontolgica central do ser social, ao

    mesmo tempo considera que a totalidade deste ser, em ltima instncia, se realiza pela reproduo

    de categorias e de relaes propriamente sociais que, tendo o trabalho por seu fundamento,

    distinguem-se dele em sua processualidade interna e em suas qualidades essenciais.

    No processo de reproduo derivado da diviso do trabalho diversificar-se-iam as

    necessidades do ser humano para alm daquelas referentes simples reproduo da vida material. O

    ser humano passaria a desejar a conhecer a si mesmo, enquanto individualidade e generalidade, e

    4Esta afirmao j estava presente em Marx & Engels (1998, p. 10-1, grifo dos autores): Pode-se distinguir os homens

    dos animais pela conscincia, pela religio e por tudo o que se queira. Mas eles prprios comeam a se distinguir dosanimais logo que comeam a produzirseus meios de existncia, e esse passo frente a prpria conseqncia de suaorganizao corporal. Ao produzirem seus meios de existncia, os homens produzem indiretamente sua prpria vidamaterial. Entretanto, no se deve considerar esse modo de produo sob esse nico ponto de vista, ou seja, enquantoreproduo fsica dos indivduos. Ao contrrio, ele representa, j, um modo determinado de atividade desses indivduos,uma maneira determinada de manifestar sua vida, um modo de vidadeterminado.5 Os atos teleolgicos so resultados diretos da predominncia crescente da conscincia na atividade prtica;conscincia que surge como epifenmeno da condio orgnica da adaptao do ser humano, enquanto ser vivo, aoambiente natural: A essncia do trabalho consiste precisamente em ir alm dessa fixao dos seres vivos nacompetio biolgica com seu mundo ambiente. O momento essencialmente separatrio constitudo no pelafabricao de produtos, mas pelo papel da conscincia, a qual, precisamente aqui, deixa de ser mero epifenmeno dareproduo biolgica (LUKCS, 1978, p. 4).

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    para isso produziria generalizaes que no se destinariam a agir sobre as causalidades naturais,

    mas que responderiam aos conflitos que surgidos de sua relao com os outros seres humanos. So

    atos caracterizados como posies teleolgicas secundrias.

    Tais posies seriam extremamente importantes para que a atividade produtiva pudesse se

    manter e reproduzir. Isto porque a sociedade se desenvolveria a tal ponto que o modo de manifestar

    das necessidades cada vez mais se caracterizaria por orientar, de qualquer modo, os indivduos a

    tomarem ou no determinadas posies teleolgicas. As posies teleolgicas secundrias tornar-

    se-iam cada vez mais decisivas no desenvolvimento social, marcado pelo surgimento de classes

    sociais de interesses antagnicos, a ponto de se tornarem "a base espiritual-estruturante do que o

    marxismo chama ideologia (LUKCS, 1978, p. 9).

    Assim, a noo de totalidade no seria em Marx, seguindo a leitura de Lukcs, tal como

    pensa Santos, equivalente a noo de totalitarismo. Ela representa sim a observao da realidade

    como um todo integrado por diversas partes distintas, que, no entanto, no descarta uma certaautonomia dessas partes. A noo de totalidade coloca, na verdade, a viso de uma hierarquia de

    determinao das relaes sociais, onde as relaes econmicas so centrais, mas tal

    posicionamento no capaz de resumir a complexidade das formas de existncia propriamente

    sociais.

    Conseqentemente, tanto a noo de centralidade quanto a de progresso no marxismo no

    correspondem a leitura de Santos. A predominncia determinante das relaes de produo na

    maneira como o ser social se desenvolve coloca a categoria de classe social no centro das anlises

    obre a sociedade. Decerto podemos falar no aumento considervel na complexidade do real que

    teria proporcionado o surgimento de um sem-nmero de novas formas de opresso e de dominao,

    sem contar no surgimento de novas classes sociais diferentes das consideradas clssicas. Entretanto,

    por mais que assumam formas aparentemente independentes, todas elas so frutos de um

    determinado desenvolvimento histrico das foras produtivas.

    Sobre a noo de progresso, embora Marx credite a passagem ao socialismo como resultado

    do desenvolvimento das foras produtivas, no possvel atribuir a essa afirmao um carter

    finalstico, no sentido de que o socialismo seja o nico futuro, independentemente das aes que osindivduos tomarem daqui pra frente. O socialismo depende das foras produtivas tanto quanto

    depende da luta de sua implementao. O prprio devir histrico nos d provas disso, evidenciando

    que a no efetivao do projeto socialista s fez agravar as contradies das relaes regidas pelo

    capital, demonstrando que ao futuro tambm resta a barbrie. E mesmo que se cogite a importncia

    das diversas manifestaes de luta existentes para alm do socialismo, elas possuiro um resultado

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    radical apenas se forem capazes de orientar transformaes na maneira como os homens produzem

    e reproduzem sua vida.

    Se a crtica realizada aqui estiver correta, possvel formular a hiptese de que a concepo

    de Santos sobre a teoria marxiana pode derivar numa postura terico-prtica contraditria. Ao se

    pautar em pressupostos que negam conceitos bsicos de totalidade, da centralidade do trabalho e da

    noo de progresso, prprios aos textos marxianos, e que acarreta na negao das determinaes

    materiais incorporadas nos conflitos de classe, a concepo de Santos pode estar distante de

    reconhecer as limitaes objetivas dentro das quais ela mesma, enquanto formulao ideolgica

    alternativa, se encontra.

    Referncias:

    LUKCS, Georg. As bases ontolgicas do pensamento e da atividade do homem [traduo de

    Carlos Nelson Coutinho]. Temas de Cincias Humanas, n 4. So Paulo : Cincias Humanas,

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    [traduo de Carlos Nelson Coutinho]. So Paulo : Cincias Humanas, 1979.

    MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A ideologia alem [traduo de Luis Cludio de Castro e

    Costa]. 2 ed. So Paulo : Martins Fontes, 1998.

    NETTO, Jos Paulo. De como no ler Marx ou o Marx de Sousa Santos. In Marxismo

    impenitente: contribuio histria das idias marxistas. So Paulo : Cortez, 2004.

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    . Acesso em 30 de maro de 2009.

    _____________. Um discurso sobre as cincias. 7 ed. Porto : Edies Afrontamento, 1995.

    _____________. Pela mo de Alice: o social e o poltico na ps-modernidade. 4 ed. So

    Paulo : Cortez, 1997.

    _____________. Porque to difcil construir uma teoria crtica? Revista Crtica de Cincias

    Sociais, n 54 1999, p. 197-215. Disponvel em

    . Acesso em 13 de maio de 2009.

    _____________. Introduo a uma cincia ps-moderna. 4 ed. Rio de Janeiro : Graal, 2003.

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    _____________. Para uma sociologia das ausncias e uma sociologia das emergncias. S/d.

    Disponvel em: . Acesso em 15 de

    dezembro de 2008.