Desdobrável Do Museu Do Quartzo

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  • Aparies de Nossa Senhora da Paz

    No dia 10 de Maio de 1917, bem cedo, j o pastorinho Severino Alves ia a caminho do monte, rezando o tero. At que, numa ramada, perto da ermida de Santa Marinha, sentiu um relmpago... Vencida a emoo, atravessou um portelo, e olhou em redor. Nesse momento, avistou uma Senhora! Tinha as mos postas e o seu rosto era lindo como nenhum outro. Vestia-se de branco e um manto azul cobria-lhe a cabea. Toda ela era cheia de luz!

    Recuou uns passos e caiu por terra. Ainda exclamou Jesus Cristo, mas a Viso desapareceu...

    No dia seguinte, quando atravessava o portelo, deparou com a mesma Senhora, no mesmo stio.

    O mido caiu de joelhos. Olhou a Apario e disse-lhe o que o seu proco lhe havia aconselhado:

    Quem no falou, ontem, fale hoje... Ento, a voz da Apario tranquilizando-o: No te assustes, menino. Sou Eu! E acrescentou: Diz aos pastores do monte que

    rezem sempre o tero, que os homens e mulheres rezem o tero todos os dias e cantem a Estrela do Cu. E as mes que tm os filhos l fora que rezem tambm o tero, cantem a Estrela do Cu e se apeguem Comigo, que eu hei-de acudir ao mundo e aplacar a guerra.

    E, depois de uma pausa, perante o silncio de Severino que apenas respondeu Sim, Senhora, a Viso, olhando para uma ramada, exclamou:

    Que gomos to lindos, que cachos to bonitos! Severino olhou e, quando se voltou, viu que a

    extraordinria Apario j tinha desaparecido. A notcia espalhou-se. Dois jornais do Porto

    difundiram-na. As pessoas comearam a acorrer, aos milhares. Foi assim nos primeiros anos, mas, com o tempo, a afluncia comeou a diminuir... Pudera, no local, nem sequer existia uma imagem, muito menos uma capela. A ateno e a devoo passaram a concentrar-se, isso sim, em Ftima.

    MUSEU DO

    QUARTZO

    A caminho do centenrio

    das Aparies do Barral (P. da Barca) 1917-2017

    Agrupamento de Escolas de Ponte da Barca

    2013-2014

    Museu do Quartzo

    No cinquentenrio das aparies, em 1967, a Confraria de Santa Ana decidiu construir uma Capela a Nossa Senhora da Paz. O templo foi inaugurado, a 15 de Setembro de 1969.

    Seguiu-se a construo de uma Cripta, com o seu notvel altar. Foram tambm erigidos monumentos ao Sagrado Corao de Jesus, ao Anjo da Guarda de Portugal e Paz, todos constitudos por um pedestal de quartzo cristalizado.

    Em 1982, foram inaugurados a Biblioteca e o Museu do Quartzo que apresenta uma rica coleo de belos cristais, quase todos extrados na prpria freguesia. Trata-se de um equipamento nico, cujo esplio foi catalogado pelo Dr. Nuno Pousada, tcnico da Porta do Parque de Lindoso, e por Pedro Arajo, mestrando em Ordenamento e Valorizao de Recursos Geolgicos, com a colaborao dos alunos das turmas do 7. C e do 7. D e a superviso cientfica do Prof. Doutor Leal Gomes (UMinho).

    O desenvolvimento do projecto Um Quartzo cheio de brilho aconteceu na sequncia de uma candidatura apresentada pela Escola Bsica e Secundria, sob a coordenao da Professora Isabel Pinheiro, 11. edio do Prmio Fundao Ildio Pinho Cincia na Escola.

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  • NNoossssaa SSeennhhoorraa ddaa PPaazz

    ee ooss CCrriissttaaiiss ddee QQuuaarrttzzoo

    Minho e minas,

    granitos e pegmatitos

    A regio minhota marcada pela presena

    dominante dos granitos na paisagem, no edificado rural,

    nas actividades de pequena ou mdia escala associadas

    extraco desta rocha. Aos granitos associam-se jazigos

    minerais de natureza similar os pegmatitos. Estes foram

    alvo de intensa lavra mineira durante todo o sculo XX,

    tanto para o aproveitamento de minrios de estanho (Sn) e

    de nibio e tntalo (Nb-Ta), como dos minerais (massas

    minerais) quartzo e feldspato.

    Os pegmatitos so organizados por campos,

    segundo a sua filiao e distribuio espacial. O Campo

    Pegmattico de Ponte da Barca-Terras de Bouroi foi um

    dos mais produtivos no N de Portugal e fica situado entre

    Vila Nova de Mua e Vila Ch de Santiago. Os seus corpos

    pegmatticos possuem formas e dimenses muito distintas,

    so habitualmente aflorantes e a sua composio em

    minerais claros promove um grande contraste na paisagem

    relativamente s rochas encaixantes neste caso granitos.

    Durante as dcadas de 60 e 70, o Minho foi uma

    das regies com maior nmero de minas dedicadas

    explorao do quartzo (e acessoriamente feldspato)ii. Na

    maioria, os seus jazigosii

    apresentavam uma produo de

    quartzo na ordem de 10 a 20 mil toneladas. Este volume de

    reservas era reduzido, obrigando explorao integrada de

    vrios corpos pegmatticos pela mesma

    empresa/concessionria mineira. Nestas minas

    empregavam-se cerca de 15 pessoas; procediam-se a

    desmontes dirios de 100 a 120 toneladas, com

    aproveitamento de 25 a 30 toneladas de quartzo. Nestas

    condies, a durao mdia de explorao de um jazigo

    pegmattico estava estimada em dois a trs anosii.

    Pegmatito de Seixas Pedreira da Sra. da Paz

    O pegmatito de Seixas, situado aproximadamente a

    2300 metros do Santurio de Nossa Senhora da Paz (Lugar

    do Barral - Vila Ch, S. Joo Baptista - Ponte da Barca),

    corresponde a um corpo pegmattico de dimenso

    relativamente grande, com uma morfologia muito

    irregular, lembrando a forma de uma aranha

    (aracneiforme)i. Apresentava estrutura interna zonada, com

    pronunciado ncleo quartzoso, onde ocorriam cavidades

    miarolticas de grande volume, revestidas por drusas de

    quartzo. O corpo pegmattico apresentava ainda

    associaes minerais de fosfatos de ferro e mangans,

    clorite, apatite e sulfuretos (pirite, galena, molibdenite).

    As reservas deste jazigo foram excepcionalmente

    altas, estimaram-se 500 mil toneladas de material

    explorado.

    A actividade extractiva neste e noutros corpos

    pegmatticos, juntamente com a actividade agro-pecuria,

    constituram os principais motores de desenvolvimento da

    regio. Concretamente, em Vila Ch (S. Joo Baptista), a

    concesso mineira de quartzo e feldspato designada Seixo

    Branco n. 2, ou localmente Pedreira da Sra. da Paz,

    que explorou o pegmatito de Seixas durante cerca de oito

    anos, ter representado, juntamente com minas prximas,

    como Mata da Galinheira n. 1, Seixozinhas, Pedra da

    Moura, uma importante fonte de rendimento das

    povoaes adjacentes e principal actividade empregadora

    local.

    Explorao e devoo patrimnio geomineiro

    As Aparies de Nossa Senhora reportam-se ao

    Lugar do Barral, em 1917. A sua divulgao e afirmao

    como local de culto mariano foram-se impondo

    regionalmente, sendo um momento decisivo, em 1969, a

    construo da Capela, ncleo do Santurio. O alargamento

    do local de culto, em 1970, com a construo de uma

    Cripta e monumentos laterais teve o apoio do

    concessionrio mineiro A. J. Fonseca, emprestando

    mquinas para a terraplanagem do local e ainda cedendo

    cristais de quartzo para ornamentao de cada um dos

    edifcios, referindo-se com especial destaque a Capela-

    Museuiii.

    O Cnego Prof. Doutor Avelino da Costa, natural

    do Barral, foi Catedrtico na Universidade de Coimbra e

    medievista de renome internacional. Localmente, era

    conhecido pela sua devoo a Nossa Senhora e pelo seu

    gosto e envolvimento por cristais de quartzo, que

    coleccionava. Foi o Cnego Avelino o principal

    impulsionador da construo da Capela e, posteriormente,

    da sua ornamentao com cristais de quartzo das cavidades

    miarolticas do pegmatito de Seixas. A relao que

    estabeleceu com o concessionrio e os trabalhadores da

    mina (os mesmos que erigiram o Santurio) permitiu a

    extraco-conservao de drusas e cristais de elevada

    dimenso e perfeio.

    Hoje, o Santurio conta ainda com uma Biblioteca-

    Museu, que rene uma extensa coleco de cristais e

    drusas de quartzo, recolhidas na Pedreira da Sra. da

    Paz. Pode ainda referir-se um conjunto de amostras

    exticas, oferecidas ao Cnego Avelino por devotos do

    Santurio, na maioria estrangeiros, que partilhavam o

    gosto por minerais.

    Com maior relevncia, apresentam-se as variedades

    de quartzo leitoso e fumado do Museu e da Capela (peas

    encrustadas como nichos); na Cripta, excepcional a drusa

    que compe o altar (pea nica, de trs toneladas).

    Cada um dos monumentos do Santurio deixa

    expressa a identidade local como patrimnio mineralgico

    e, bem assim, geomineiro. O esplio que hoje se pode

    visitar permite o registo indelvel da singularidade de um

    jazigo mineral, bem como da importncia da actividade

    mineira.

    i SILVA, J. (2002) - Qualificao dos recursos de minerais cermicos pegmatticos Contributo para a gesto dos recursos pegmatticos do Minho. Tese de Mestrado. Univ. Minho. 151 p.. ii REYNAUD, R.; SIMES CORTEZ, J.; LOBATO, C.; GUIMARES, D.; FONSECA, A.J.;

    RAMOS, F.; RODRIGUES, R. (1976) - Definio tcnica de um projecto para desenvolvimento

    da produo de quartzo de origem pegmattica. Anexo A Caracterizao sumria do sector do Quartzo; Anexo B Algumas notas sobre pegmatitos. Direco-Geral de Minas e Servios Geolgicos, Relatrio Indito, 22 p.. iii Jornal Mensagem da Paz, Ano II n. 9, Setembro-Outubro de 1970, p.3..