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Agrotrópica 32(3): 197 - 206. 2020. Centro de Pesquisas do Cacau, Ilhéus, Bahia, Brasil Jair Carvalho dos Santos 1 , Rafael Moysés Alves 1 , Saulo Fabrício da Silva Chaves 2 DESEMPENHO ECONÔMICO-FINANCEIRO DE SISTEMA AGROFLORESTAL NA REGIÃO DE TOMÉ AÇU, PARÁ 1 Embrapa Amazônia Oriental, Trav. Dr. Enéas Pinheiro, s/n°, Bairro Marco, 66095-903, Caixa postal 48, Belém, PA. [email protected]; [email protected]. 2 Universidade Federal de Viçosa, Av. Peter Henry Rolfs, s/n, Campus Universitário, 36570-900, Viçosa, MG. [email protected]. Os sistemas agroflorestais (SAF) são considerados alternativas de modelos adequados para ocupação produtiva de solos de regiões tropicais. Diversos modelos de combinação de cultivos têm sido idealizados por instituições de pesquisas e produtores rurais, e estudados agronomicamente. No entanto, poucos estudos têm objetivado avaliar o desempenho econômico desses modelos. Este estudo objetivou estimar o custo de produção e a rentabilidade de um sistema agroflorestal, nas condições agroclimáticas do município de Tomé Açu/PA. O método utilizado foi a análise de benefício-custo e os indicadores de viabilidade foram: valor presente líquido, relação benefício-custo, taxa interna de retorno, payback econômico e custo unitário de produção. Os resultados obtidos demonstram que o modelo de sistema agroflorestal avaliado apresenta viabilidade econômico-financeira com boa margem de segurança, o que o caracteriza como uma boa opção de investimento por parte dos agricultores da região. Os componentes culturais bananeira, cupuaçuzeiro, pimenteira do reino e taperebazeiro também apresentaram desempenho econômico positivo no sistema, colaborando para a viabilidade do SAF. No entanto, o componente arroz apresentou desempenho econômico negativo, o que indica que deve passar por ajustes no seu processo produtivo, tecnológico ou de gestão. Em ciclos de preços baixos, a pimenta do reino também apresentou rentabilidade negativa. Palavras-chave: análise econômica, SAF, consórcio. Economic and financial perfomance of agroforestry system in Tomé Açu region, Pará. The agroforestry systems are considered alternatives of adequate models for productive occupation to tropical regions soils. Several cultivation combination models have been idealized by research institution and farmers, agronomically studied. However, few studies have the objective of evaluate these models economic performance. This study had the objective of estimate production cost and profitability of an agroforestry system, in the agroclimatic condition of Tome Açu/PA. The method used was the benefit-cost analysis and the indicators was: net present value, benefit cost ratio, internal rate of return, payback period and unit cost of production. The results obtained demonstrate that the agroforestry system model evaluated presents economic and financial viability with a good safety margin, which characterizes it as a good investment option by farmers in the region. The banana tree, cupuassu tree, black pepper and yellow mombin cultural components also showed positive economic performance in the system, contributing to the viability of the SAF. However, the rice component showed a negative economic performance, which indicates that it must undergo adjustments in its productive, technological or management process. In low price cycles in the studied period, black pepper also showed negative profitability. Key words: economic analysis, AFS, consortium. Recebido para publicação em 04 de agosto de 2020. Aceito em 02 de dezembro de 2020. 197 DOI:10.21757/0103-3816.2020v32n3p197-206

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Agrotrópica 32(3): 197 - 206. 2020.Centro de Pesquisas do Cacau, Ilhéus, Bahia, Brasil

Jair Carvalho dos Santos1, Rafael Moysés Alves1, Saulo Fabrício da Silva Chaves2

DESEMPENHO ECONÔMICO-FINANCEIRO DE SISTEMA AGROFLORESTAL NAREGIÃO DE TOMÉ AÇU, PARÁ

1Embrapa Amazônia Oriental, Trav. Dr. Enéas Pinheiro, s/n°, Bairro Marco, 66095-903, Caixa postal 48, Belém, [email protected]; [email protected].

2Universidade Federal de Viçosa, Av. Peter Henry Rolfs, s/n, Campus Universitário, 36570-900, Viçosa, [email protected].

Os sistemas agroflorestais (SAF) são considerados alternativas de modelos adequados para ocupação produtivade solos de regiões tropicais. Diversos modelos de combinação de cultivos têm sido idealizados por instituições depesquisas e produtores rurais, e estudados agronomicamente. No entanto, poucos estudos têm objetivado avaliaro desempenho econômico desses modelos. Este estudo objetivou estimar o custo de produção e a rentabilidade deum sistema agroflorestal, nas condições agroclimáticas do município de Tomé Açu/PA. O método utilizado foi aanálise de benefício-custo e os indicadores de viabilidade foram: valor presente líquido, relação benefício-custo,taxa interna de retorno, payback econômico e custo unitário de produção. Os resultados obtidos demonstram queo modelo de sistema agroflorestal avaliado apresenta viabilidade econômico-financeira com boa margem desegurança, o que o caracteriza como uma boa opção de investimento por parte dos agricultores da região. Oscomponentes culturais bananeira, cupuaçuzeiro, pimenteira do reino e taperebazeiro também apresentaramdesempenho econômico positivo no sistema, colaborando para a viabilidade do SAF. No entanto, o componentearroz apresentou desempenho econômico negativo, o que indica que deve passar por ajustes no seu processoprodutivo, tecnológico ou de gestão. Em ciclos de preços baixos, a pimenta do reino também apresentou rentabilidadenegativa.

Palavras-chave: análise econômica, SAF, consórcio.

Economic and financial perfomance of agroforestry system in Tomé Açu region,Pará. The agroforestry systems are considered alternatives of adequate models for productive occupation totropical regions soils. Several cultivation combination models have been idealized by research institution andfarmers, agronomically studied. However, few studies have the objective of evaluate these models economicperformance. This study had the objective of estimate production cost and profitability of an agroforestry system,in the agroclimatic condition of Tome Açu/PA. The method used was the benefit-cost analysis and the indicatorswas: net present value, benefit cost ratio, internal rate of return, payback period and unit cost of production. Theresults obtained demonstrate that the agroforestry system model evaluated presents economic and financialviability with a good safety margin, which characterizes it as a good investment option by farmers in the region.The banana tree, cupuassu tree, black pepper and yellow mombin cultural components also showed positiveeconomic performance in the system, contributing to the viability of the SAF. However, the rice componentshowed a negative economic performance, which indicates that it must undergo adjustments in its productive,technological or management process. In low price cycles in the studied period, black pepper also showed negativeprofitability.

Key words: economic analysis, AFS, consortium.

Recebido para publicação em 04 de agosto de 2020. Aceito em 02 de dezembro de 2020. 197DOI:10.21757/0103-3816.2020v32n3p197-206

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Introdução

Os sistemas agroflorestais (SAF) são considerados,a priori, alternativas de modelos adequados paraocupação produtiva de solos de regiões tropicais,especialmente na região amazônica. Representamcombinações de espécies agrícolas e florestais, dediferentes ciclos de vida e de porte, e cultivados deforma simultâneas e/ou sequenciais (Paludo eCostabeber, 2012).

Os SAF apresentam diversas característicaspositivas, entre as quais, favorecem a eficiência nouso do solo, na medida em que elevam o rendimentoprodutivo por unidade de área, por aproveitar melhoro espaço físico do solo, os nutrientes, a água e aluminosidade solar disponíveis. Em regiões onde hápouca disponibilidade de terra, essas particularidadestornam-se relevantes. No caso do Brasil, o crescimentopopulacional dos últimos anos, a expansão da fronteiraagrícola e as modificações recentes no Código Florestal,têm reduzido cada vez mais a oferta relativa de terradisponível para a produção agropecuária e silvicultural.A possibilidade de usar o sistema para compor Áreasde Preservação Permanente e Reservas Legais torna-o uma opção factível aos produtores (Silva, 2013) Adiversificação produtiva, outra característica dos SAF,tende a reduzir os riscos econômicos do investimento(Varela e Santana, 2009). Esta diversificaçãoproporciona, ainda, retorno econômico-financeiroescalonado por todo o período de cultivo, além decontribuir para a segurança alimentar do próprioprodutor (Armengot et al., 2016; Cerda et al., 2014).

Por outro lado, a configuração inadequada doscomponentes dos SAF, situação muito comum no meioprodutivo, resulta em maior competição entre oscomponentes pelos fatores de crescimento e produção, oque configura uma desvantagem, aliado a maiordificuldade de gestão agronômica e administrativa porparte do produtor, devido ao aumento da necessidade deconhecimento agronômico e comercial de um maiornúmero de culturas e produtos. Esses fatores,analogamente, constituem aumento nos riscosbioeconômicos do investimento (Henkel e Amaral, 2008).

O município de Tomé Açu, no estado do Pará,representa um dos principais polos de surgimento eexploração econômica de sistemas agroflorestais daregião Amazônica, por iniciativa da ação de produtores

rurais, especialmente de origem japonesa, que parecemter uma maior propensão a experimentação de novosmodelos de sistemas produtivos, e pela capacidadediferenciada de gestão de recursos agroeconômicos(Barros et al., 2009).

A iniciativa de gerar novos modelos de combinaçãode cultivos na forma de SAF tem sido realizada porinstituições de pesquisa, universidades, entre outras,assim como por parte de produtores rurais. A EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuária-EMBRAPA, emseus centros de pesquisas na Amazônia brasileira, temcombinado espécies vegetais nativas da Região comespécies introduzidas, em modelos experimentais, quecaracterizam SAF (Alves et al., 2018).

No entanto, poucos estudos têm objetivado avaliaro desempenho econômico desses modelos, muitasvezes, pelo estádio inicial de desenvolvimento doscomponentes dos SAF, o que não oferece segurançapara as análises, ou por não haver disponibilidade dedados sobre custos de produção ao longo do cultivo.Alguns trabalhos demonstraram o desempenho positivodos SAF, como foi o caso de Santos (1996) e Araújoet al. (2015). No entanto, a pequena quantidade deresultados disponíveis demonstra que a sustentabilidadeeconômica de SAF ainda constitui uma hipótese a serconsolidada, até que uma quantidade significativa deestudos venha convergir para desempenhos positivos.Portanto, avaliar parâmetros econômicos subsidiadospelas informações desses componentes, em ambientede SAF, seria estratégico para propiciar tomada dedecisões pelo agricultor e pelos agentes creditícios.

Este trabalho objetivou estimar o custo de produçãoe a rentabilidade de um sistema agroflorestal, tendocupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum (Willd. ex.Spreng) Schum.), taperebazeiro (Spondias mombinL.), bananeira (Musa spp.), pimenteira do reino (Pipernigrum L.), arroz (Oriza spp.) e feijão guandu(Cajanus cajan L. Millsp.), como componentesculturais, nas condições agroclimáticas do municípiode Tomé Açu/PA.

Material e Métodos

Região de Estudo - Caracteres edafoclimáticosAs condições edafoclimáticas e socioeconômicas

que condicionam o desempenho agronômico do sistemaprodutivo avaliado são encontradas no município de

Santos, Alves e Chaves

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Tomé Açu, que faz parte da microrregião de mesmonome e da mesorregião Nordeste Paraense, estadodo Pará, fazendo parte da Amazônia OrientalBrasileira. Nessa região, predomina o solo tipoLatossolo Amarelo, de textura média e de baixafertilidade natural. O clima prevalecente é do tipo Ami,na classificação de Köppen, quente e úmido, comelevada precipitação pluviométrica e irregularmentedistribuída durante o ano, o que pode resultar,normalmente, em deficiência hídrica no segundosemestre, período menos chuvoso do ano (Bolfe eBatistella, 2011).

Modelo de SAF - Características e PressupostosA escolha do sistema analisado foi feita com base

na adoção por produtores da região de estudo e nadisponibilidade de dados e informações básicas ecomplementares, em meio a grande diversidade deSAF. O modelo adotado na Fazenda Konagano e emoutras fazendas atendeu a esses critérios. Aidentificação e a quantificação das variáveiscomponentes da avaliação do sistema foram feitaspredominantemente com base nos resultados obtidosna Fazenda Konagano, onde o SAF já em faseavançada de produção, e complementadas com deoutras fazendas (produtores) que adotam sistemassemelhantes e com resultados de diversos experimentosrealizados pela equipe de pesquisadores da EmbrapaAmazônia Oriental, nas últimas décadas, em áreas deprodutores e em estações experimentais, envolvendoas culturas componentes do modelo, em sistemas depolicultivo, especialmente da região do município deTomé Açu. Os SAF experimentais em áreas deprodutores que se caracterizaram, também, comounidades de observação para a equipe da Embrapa,tendo em vista a participação dos pesquisadores nadefinição e acompanhamento de várias dessasiniciativas de produtores. As produtividades de cupuaçue taperebá, em fases finais de ciclo produtivo foramestimadas pelos produtores e pesquisadores, commaiores experiências no modelo de SAF e nessasculturas. De forma complementar, foi realizado umpainel técnico com a participação desses pesquisadorese produtores para checagem e consolidação do modelode SAF avaliado. O painel técnico consiste em reunirum grupo de informantes-chave (produtores e técnicoscom grande conhecimento sobre um determinado tema,

no caso, o cultivo de SAF ou de seus componentes, naregião), visando caracterizar ou avaliar detalhadamenteo sistema produtivo, sob as óticas agronômica eeconômica, assim como, realizar a contextualizaçãono ambiente socioeconômico, envolvendo a família, apropriedade, a comunidade, a cadeia produtiva e omercado (Guiducci, Lima Filho e Mota, 2012).

Dessa forma, o modelo de SAF avaliado representaum estudo de caso de um sistema produtivo compostode cultivos agrícolas de ciclo longo, ciclo médio e ciclocurto, implantados no mesmo período, de formaconsorciada em uma mesma área. As culturas de ciclolongo são representadas pelas fruteiras nativas,cupuaçuzeiro e taperebazeiro. As de ciclo médio, porpimenteira do reino e bananeira. Arroz é a espécie deciclo curto, como parte do sistema, tendo o plantio defeijão guandu utilizada apenas para adubação verdeda área.

O módulo de um hectare foi considerado naavaliação, com todas as culturas sendo implantadasno início do ano 1 do investimento, o que coincide como princípio do período chuvoso. O preparo de área éprogramado para ocorrer no final do ano anterior aode plantio, consistindo de remoção mecânica davegetação secundária espontânea (capoeira de cercade 4 anos), queima da vegetação removida e, aplicaçãoe incorporação de calcário no solo.

Cupuaçuzeiro e pimenteira do reino, por seremconsideradas as culturas principais do sistema, utilizamespaçamento e densidade próximos aos convencionaisde monocultivo, com redução na densidade. No SAF,o espaçamento é de 6 x 4 m para o cupuaçuzeiro e 2 x2 x 4 m para a pimenteira do reino. A implantação dasculturas na mesma área, no entanto, resulta em certograu de competição por espaço, água, nutrientes eluminosidade entre si, crescente a partir do segundoano, além da competição com as demais espécies dosistema. A bananeira é plantada com intuito de fornecersombra provisória ao cupuaçuzeiro, enquanto otaperebazeiro é estabelecido visando o sombreamentopermanente. No entanto, estas plantas não deixam decompetir pelos elementos essenciais à produção,havendo, portanto, a necessidade da diminuição dadensidade de plantio. Logo, a bananeira é implantadaem 6 x 4 m e o taperebazeiro, em 30 x 20 m. O arroze o guandu ocupam uma pequena porção da área decultivo, pois têm o papel de aproveitar as entrelinhas

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dos cultivos de maior ciclo, quando estas ainda nãoestavam exploradas pelos mesmos, por estarem emfase inicial de crescimento e de efetiva ocupação daárea. A Figura 1 apresenta um croqui que demonstrao arranjo das culturas componentes na estrutura doSAF. A Tabela 1 apresenta a densidade de plantio eas áreas efetivamente ocupadas pelas culturascomponentes do sistema. Observa-se que o somatóriode área efetivamente ocupada pelas culturascomponentes (2,71 ha) é maior que a área total de 1ha, o que pressupõe o aproveitamento de entrelinhas ea competição entre espécies, resultando em reduçãodo potencial produtivo individual, mas com ganho deprodutividade, produção e receita bruta no sistemaconsorciado, tendo como referência os modelos demonocultivos tradicionais. A Tabela 1 apresenta, ainda,o período de ocupação de área do sistema por cada

Figura 1. Croqui do stand inicial do modelo de sistema agroflorestal: Pimenteira doreino (Piper nigrum) – 2 x 2 x 4 m; Taperebazeiro (Spondias mombin) – 30 x 20 m;Bananeira (Musa spp) – 6 x 4 m; Cupuaçuzeiro (Theobroma grandiflorum) – 6 x 4 m;Arroz e feijão guandu nas entrelinhas, no primeiro ano de cultivo.

cultura componente, ao longo doperíodo de investimento.

Modelos teórico e analíticoNa avaliação econômico-

financeira do sistema, foi utilizado ométodo da Análise de Custo Benefício(ACB) para avaliação econômico-financeira do sistema produtivo. ParaMishan (1975), a base lógica dosestudos vigentes de custo-benefício éuma melhoria potencial de Pareto, comas duas se baseando no critério demelhor eficiência alocativa derecursos. Assim, tanto os princípios daeficiência econômica como da análisede custos-benefícios inspiram-se namelhoria potencial de Pareto, equalquer critério que exija que osbenefícios sociais excedam em valortodos os custos implica a realizaçãode uma melhoria desse potencial. Ray(1984) considera que a ACB serve debase para avaliação econômica deprojetos públicos ou privados, tendo emvista que os princípios em si sãosemelhantes por se basearem naalocação eficiente de recursos, ao secomparar os resultados ou benefícioslíquidos de um ou diversos projetos

alternativos. A ACB foi utilizada nessa avaliação, comauxílio das estruturas de custos e de benefíciosconstruídas, de acordo com a técnica de orçamentode capital. Na estruturação dos custos, foramconsiderados todos os serviços e materiais necessáriosà implantação e manutenção da área do SAF,considerando todos os seus componentes culturais, eos processos de colheita dos produtos, beneficiamentoprimário e transporte externo para comercialização,quando pertinentes, além dos custos de oportunidade(juro real sobre capital próprio ou de terceiros) dosrecursos financeiros imobilizados em serviços,materiais e terra.

Na avaliação foi utilizada a abordagem de longoprazo, ou seja, como estrutura de investimento, tendosido estimados os indicadores de viabilidadeeconômica, para um horizonte temporal de 30 anos,

Arroz - 0,29 0 a 1Feijão guandu - 0,29 0 a 1Banana 375** 0,34 0 a 5Pimenta do reino 1.836*** 0,73 0 a 7Cupuaçu 375 0,94 0 a 30Taperebá 15 0,12 0 a 30

* Comparativamente a 1 ha de área com monocultivo, em arranjo convencional.** Arranjo inicial mantido até o 5º ano, mas com controle de pseudocaules nas

touceiras. *** Stand inicial. Mas vai reduzindo a partir do ano 3, devido a morte deplantas por fusariose.

Tabela 1. Densidade de plantio, área efetivamente ocupada e período de ocupaçãoda área no sistema das culturas componentes do SAF (módulo de 1 ha)

Cultura Número de plantas/ha

Área útil(ha)*

Períodos noSAF (ano)

30 m

20 m

4 m

4 m

2 m

2 m

6 m 4 m

Piper nigrum

Spondiasmombin

Musa spp

Theobromagrandiflorum

6 m

Santos, Alves e Chaves

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participaram do painel técnico de avaliação preliminardo modelo, e se justifica pela volatilidade dos preçosda pimenta, como efeito das cotações no mercadointernacional, e pela disponibilidade de dados (sériehistórica de preços), o que torna factível a avaliação.Para isso, foram utilizados preços de pimenta pretaseca pagos aos produtores rurais, no período janeiro/1980 a julho/2018. Esses preços foram deflacionadoscom uso do IGP-DI (Índice Geral de Preços -Disponibilidade Interna), definidos pela FundaçãoGetúlio Vargas, ordenados de forma crescente edivididos em três categorias (baixo, médio e alto). Foiutilizada a média aritmética de cada categoria em cadacenário. Isso não foi feito para os preços de cupuaçue taperebá, principais geradores de receitas no sistema,por não haver disponibilidade de séries históricas depreços. O guandu foi considerado apenas no primeiroano, com a função de adubação verde da área e,portanto, sem receita financeira.

Em relação aos preços de insumos e produtosconsiderados na avaliação do modelo, foram obtidosno mercado local de Tomé Açu, no ano de 2018, nascondições acessadas pelos produtores da Região.Para pimenta do reino, foram obtidas séries históricasde preços pagos aos produtores, da FGV, da CONABe da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé Açu(CAMTA).

Foi considerado o referencial metodológico deavaliação econômica de tecnologias e sistemasadotados pela Embrapa, reportado por Guiducci, LimaFilho e Mota (2012), onde constam vários casos deaplicação. A definição e a estrutura matemática dosindicadores são as seguintes:

a) Relação Benefício-Custo (RBC): definidacomo o quociente entre o valor atual do fluxo debenefícios a serem obtidos e o valor atual do fluxo decustos. A alternativa se mostra inviável caso a RBC sejamenor do que um. Se expressa algebricamente como:

que consideram o ciclo produtivo do sistema e os limitestemporais necessários para análise, conforme Gittinger(1982), que estabelece um período em torno de 25 anos,como suficiente, quando o ciclo produtivo é acima disso,tendo em vista o efeito da taxa de desconto no cálculodos indicadores. Foram utilizados os seguintesindicadores de viabilidade econômica, para avaliaçãodo SAF completo: valor presente líquido (VPL),relação benefício-custo (RBC), taxa interna de retorno(TIR) e período de recuperação de capital ou paybackeconômico (PBE). O indicador custo unitário deprodução (CUP) foi utilizado na avaliação dodesempenho econômico das culturas agrícolas, comocomponentes culturais do SAF, assim como a RBC.Para isso, as despesas comuns entre dois ou maiscomponentes, a cada ano, foram rateadas entre eles,com base na proporção de receita financeira geradano sistema (Hoffmann et al., 1987, Santos, 1996) e,em seguida, foram agregadas as despesas específicas,resultando no custo total. A razão entre o custo total eo volume de produção total, ambos descontados à taxade desconto considerada na avaliação, definiu o CUPde cada cultura. Na apropriação dos custos relativosa ativos fixos e semifixos utilizados nos sistemasprodutivos, levou-se em conta que esses recursosmateriais se exaurem em mais de uma unidade detempo considerada (ano) e como são, em geral, deuso compartilhado com outras atividades produtivasou de lazer pelas famílias produtoras, essa apropriaçãofoi realizada por meio do cálculo de equivalente-aluguel,onde são consideradas as depreciações, as despesascom manutenção e a proporção de uso em relação àsdemais atividades.

Na estrutura de custos, foram apropriadas asdespesas com insumos materiais (agroquímicos,ferramentas, utensílios, máquinas, equipamentos ematerial genético), serviços prestados por terceiros,trabalho familiar e custo de capital, este através dataxa de desconto. Dessa forma, o resultado líquidoestimado remunera o produtor pelos riscos assumidoscom o investimento e pela sua capacidadeempreendedora.

A partir da estrutura de custos e receitas, foramestabelecidos três cenários de desempenho econômicodo modelo de SAF, definidos pela variação dos preçosde pimenta do reino. A avaliação de desempenhodesses cenários foi uma demanda dos produtores que

  RBC B Ct

t

nt

tt

nt

0 0

1 1

Sendo: Bt = Benefícios ou receitas no t-ésimo ano;

C t = Custos no t-ésimo ano = Taxa de desconto

real, ao ano (decimal); t = 0, 1, 2, 3, ..., n (anos).

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e) Custo Unitário de Produção (CUP): Definidocomo o custo de uma unidade produto, na avaliaçãodas atividades (culturas) componentes do SAF. Osvalores de referência foram os preços de mercado decada produto. A CUP de cada produto deve ser inferiorou igual ao respectivo preço. Pode ser expressa,algebricamente, como:

onde:

e PAi =

Sendo: CUPi = Custo unitário de produção da i-

ésima atividade; CTAi = Custo total atualizado da i-

ésima atividade.O custo de oportunidade de capital considerado foi

de 4% ao ano, como taxa de juros, em termos reais,utilizada como taxa de desconto no cálculo dosindicadores, quando pertinente. Esse valor reflete ataxa de juros reais do crédito agrícola para pequenosprodutores, disponibilizadas por meio do FundoConstitucional do Financiamento do Norte.

Os resultados da avaliação são apresentados emduas partes. A primeira, analisa o sistema agroflorestalcompleto, através do desempenho dos indicadoreseconômicos. A segunda, analisa o desempenho de cadauma das culturas que compõem o sistema. Os cenáriosalternativos foram avaliados para o sistemaagroflorestal e para a componente pimenta do reino.

Sendo: = Valor do fluxo líquido de caixa, obtidopela diferença entre benefícios (B

t) e custos (C

t), em

cada período t; θ = Taxa de desconto real, ao ano(decimal); t = 0, 1, 2, ..., n (anos).

b) Valor Presente Líquido (VPL): é definidocomo a soma algébrica dos valores do fluxo líquidode caixa a ele associado, atualizados a uma adequadataxa de desconto. A alternativa será consideradaviável se o VPL for positivo. Algebricamente, podeser expresso como:

c) Taxa Interna de Retorno (TIR): É definidacomo o valor da taxa de desconto ( ) que torna ovalor presente líquido igual a zero. A alternativa deinvestimento mostra-se inviável quando o valor da TIRfor inferior ao custo de oportunidade do capital.Algebricamente, pode ser expressa por:

Sendo: = Fluxo líquido de caixa de cadaperíodo t, obtido por B

t - C

t ; t = 0, 1, 2, ..., n (anos).

TIR =

d) Payback Econômico (PBE): determina oprazo para recuperação do capital inicial investido, emtermos de períodos, neste caso, em anos, levando-seem conta o valor do dinheiro no tempo. O resultadoprecisa ser menor ou igual ao ciclo do investimento equanto menor, melhor. Algebricamente, pode serexpresso como:

CUPi = CTA

i / PA

i

Resultados e Discussão

Observando de maneira conjunta os indicadores,na Tabela 2, verifica-se que o modelo de sistemaagroflorestal apresenta viabilidade econômica comconsiderável margem de segurança, considerando-seos pressupostos estabelecidos para o mesmo, tendoem vista que os indicadores calculados se mostrambem acima dos valores de referência. O indicador derentabilidade TIR, que representa o retorno médio anualao capital investido, teve valor de 23,4%; situou-se 5,8vezes acima do seu valor de referência, que representao custo de oportunidade do capital investido. A RBC,uma medida de relação da dimensão das receitas

PBE = k, tal que

e

Sendo: = Fluxo líquido de caixa de cada períodot, obtido por B

t - C

t , que são, respectivamente,

benefícios e custos; = Taxa de desconto real, aoano (decimal); t = 0, 1, 2, ..., n (anos).

Flt

θ

θ

θ

Flt

Flt

Santos, Alves e Chaves

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que sejam aplicadas taxas de jurosreais de até 4% ao ano ou mesmo,um pouco acima disso, havendo,também, necessidade de realização deestudos sobre mercado, quantificandodemandas e comportamento depreços, em resposta a variações deoferta, resultantes de estímulo pelo

comparativamente aos custos, apresentou valor queindica que para cada R$ 1.000,00 investido peloagricultor no sistema, espera-se um retorno de R$1.600,00. O VPL, medida residual que tambémcompara receitas e custos ao longo de todo o ciclo deavaliação, apresentou valor positivo e muito acima desua referência. O valor estimado para ao período deretorno de investimento, ou payback econômico, foide 4 anos e por este valor estar dentro do período devigência do investimento, caracteriza haverrecuperação do capital investido. Em Souza et al.(2007), avaliando Sistema com eucalipto consorciadocom arroz, soja e pastagem sequenciais, houve saldonegativo nos três primeiros anos, havendo saldopositivo somente a partir do quarto ano. Ocomportamento repetiu-se em um dos sistemasagroflorestais estudados por Sanguino et al. (2007),que avaliaram o desempenho econômico de dois SAF,envolvendo as culturas cupuaçu, pimenta do reino,maracujá e mogno amazônico (SAF-A) e açaí, cacaue mogno (SAF-B). Esse payback é considerado baixo,o que é interessante, tendo em vista se tratar de umsistema produtivo de longo prazo, onde os principaiscomponentes são culturas perenes, e sua vida útilpoderá se estender por mais de três décadas. Esserápido retorno do investimento teve a considerávelcontribuição de culturas de ciclo mais rápido, como foio caso da pimenta e da banana, que apresentaramdesempenho econômico positivo. No entanto, ocomponente arroz apresentou desempenho negativo,influenciando de forma oposta no comportamentodesse indicador e nos demais. Esse efeito financeironegativo da cultura do arroz representou poucarelevância ao sistema, devido a pequena área ocupadapela cultura e, apenas no primeiro ano de cultivo.

Os resultados confirmam a viabilidade econômicado empreendimento, podendo ser objeto definanciamento por parte de instituições que atuam nocrédito agrícola, com baixo período de carência, desde

Tabela 2. Indicadores de viabilidade econômico-financeira para o sistemaagroflorestal (1 ha), na microrregião de Tomé Açu, Pará. 2018

Indicador deviabilidade

Unidade ValorIndicador

ValorReferência

Taxa Interna de Retorno % 23,4 4,00Relação Benefício-Custo - 1,60 1,00Valor Presente Líquido R$ 129.516,27 0,00Prazo de Retorno do Investimento Ano 4 -

crédito, especialmente para produtos de consumopredominantemente regional, como é o caso docupuaçu e do taperebá.

A análise a seguir avaliou o desempenho individualdas atividades que compõem o modelo em questão.Consideraram-se os custos específicos de cada culturae os custos comuns a duas ou mais culturas, que foramrateados entre os respectivos componentes do sistema,conforme a metodologia descrita.

Apesar do bom desempenho econômico do sistemacompleto, pode-se verificar na Tabela 3, que a culturado arroz apresentou desempenho negativo, com a RBCabaixo de 1,00 e o custo de se produzir um kg de arrozficando bem acima do preço de venda do produto. Omesmo comportamento do cultivo de arroz pôde serconstatado em Santos (1996) e em Souza et al. (2007).No entanto, essa performance negativa foi mais quecompensada pelos demais componentes, queapresentaram rentabilidades positivas. Com isso,infere-se que o processo tecnológico de produção dearroz deve ser alterado visando a melhoria do seudesempenho econômico ou se proceda a substituiçãodesse componente cultural por outro que cumpra afunção de aproveitamento das entrelinhas ociosas, eapresente rentabilidade, contribuindo positivamentepara a performance do SAF. É possível que a escalade produção da cultura tenha contribuído para odesempenho negativo, tendo em vista que apenas 29%da área foi ocupada pela mesma. O fato da cultura doarroz ser cultivada apenas no primeiro ano deimplantação do SAF resultou, não só na baixaparticipação na geração e receita para o sistema, mastambém, na baixa participação no seu custo total, oque facilita a compensação de sua performanceeconômica negativa, pelos demais componentesculturais de desempenho positivo e de maiorparticipação nas receitas e despesas do sistema.

O componente cultural banana apresentouviabilidade econômica, com uma RBC bem acima de

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1,00 e o custo de produção de um cacho da frutaconsideravelmente abaixo do preço comercial e dereferência (R$2,66 e R$5,00). A rentabilidade positivacontribuiu favoravelmente para a performanceeconômica do SAF. A cultura apresentou participaçãorelativamente baixa na geração de receitas pelo SAF,mas apresentou resultado semelhante em termos departicipação nos custos totais do sistema, devido apermanecer apenas em 6 dos 30 anos do ciclo deavaliação do sistema (Tabelas 3 e 1).

Com relação aos três principais componentesculturais do SAF, verifica-se que todos apresentaramrentabilidade, contribuído positivamente para aviabilidade econômica do sistema. Todos apresentaramRBC bem acima de 1,00 e o custo de produção deuma unidade física de produto abaixo do preço demercado e de referência. No caso da pimenta do reino(R$6,46 e R$7,30), do cupuaçu (R$0,50 e R$1,00) edo taperebá (R$0,56 e R$1,00). A cultura da pimenta,apesar de permanecer em apenas 8 dos 30 anos dosistema (Tabela 1), foi responsável pela segunda maiorparticipação nas receitas e pela maior participação noscustos totais do SAF. Isto se deve ao preço comercialdo produto pimenta ser bem maior em relação aosfrutos do cupuaçu e taperebá, na composição dasreceitas e, pelo lado das despesas, necessitar deelevados valores de investimento em estacas paratutoramento das plantas e intensivo uso de adubos noprocesso produtivo. Sanguino et al. (2007), ao avaliaremdois sistemas agroflorestais, sendo um deles sem acultura da pimenta-do-reino, atestou que este

Valores de referência (preços de venda): Arroz em casca (R$1,00/kg); Banana (R$R$5,00/cacho); pimenta do reino preta e seca (R$7,30/kg); Cupuaçu (R$1,00/kg fruto) etaperebá (R$1,00/kg fruto).

¹Somatório de todo o ciclo de análise do SAF. Valor descontado, a taxa de desconto de4% a.a. 2Relação benefício-custo, no horizonte de 30 anos (período de análise do SAF).

3Custo unitário de produção.

Tabela 3 - Indicadores de Desempenho Econômico dos Componentes Culturais doSistema Agroflorestal. Tomé Açu, Pará. 2018

Receita Total1 Custo Total1 RBC2 CUP3

Cultura (R$) % (R$) % - Unid. Valor

Arroz 384,6 0,1 692,6 0,3 0,56 R$/kg 1,80Banana 14.954,3 4,3 7.945,1 3,7 1,88 R$/cacho 2,66Pimenta do reino 94.761,8 27,4 83.795,0 38,8 1,13 R$/kg 6,46Cupuaçu 142.338,7 41,3 71.710,3 33,2 1,98 R$/kg 0,50Taperebá 92.968,8 26,9 51.748,9 24,0 1,80 R$/kg 0,56

SAF (Total) 345.408,2 100,0 215.891,9 100,0 1,60 - -

apresentou os dois primeiros anosdeficitários, e atribuiu este prejuízoà ausência da cultura. As culturascupuaçu e taperebá permanecem nosistema durante todo o ciclo deanálise, iniciando suas fasesprodutivas a partir dos anos 3 e 4,respectivamente, o que concorrepara suas elevadas participaçõesnas receitas e nos custos geradospelo sistema. As altasprodutividades esperadas paraessas duas culturas tambémconcorrem para a geração daselevadas receitas. Cupuaçuapresenta as maiores participações

na composição das receitas do SAF e a segunda maiorparticipação nos custos, ficando atrás apenas dapimenta do reino. Taperebá apresenta as menoresparticipações de receitas e custos, considerando-se ostrês principais componentes do sistema, tendo ajustificativa de ter baixa densidade de plantas (apenas15 plantas no módulo de 1 hectare), comparativamenteaos demais componentes culturais consideradosprincipais. Segundo Cordeiro (2010), o espaçamentopode ser responsável por resultados negativos oupositivos nos fluxos de caixa de investimento.

A Tabela 4 apresenta os indicadores de viabilidadee de desempenho econômico-financeiro para o sistemaagroflorestal completo e para a componente pimentado reino, quando se considera o cenário de preçosbaixos de pimenta. O preço utilizado na avaliação foide R$6,20/kg de pimenta preta seca, estimado comomédia do primeiro tercil da série histórica de preçosmensais pagos aos produtores no período 1980-2018,ordenados de forma crescente. Considerando que opreço de pimenta nesse cenário representa o preçomédio de período de baixa cotação, e que esse preçoé inferior à média dos preços pagos aos produtoresem 2018 (R$7,30/kg de pimenta), considerado nomodelo básico do sistema, os indicadores de viabilidadedo SAF apresentaram desempenho inferior, comredução nos valores estimados para TIR, RBC e VPL,e um prazo maior de recuperação de capital, o quetambém representa uma desvantagem. No entanto, aperda de desempenho do sistema completo ocasionadopela pimenta do reino, acrescido aos do componente

Santos, Alves e Chaves

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arroz, foi compensado pela performance positiva doscomponentes banana, cupuaçu e taperebá, que nãotiveram suas estruturas individuais básicas de receitase despesas alterados.

Quando se analisa o desempenho da componentepimenta do reino, ainda na Tabela 4, os indicadoresmostram que cultura apresentou um desempenhomoderadamente negativo, com sua RBC abaixo dovalor de referência e o custo unitário de produção umpouco acima do preço de referência. Para cadaR$1.000,00 de despesas com o processo de produçãode pimenta, o produtor tem um retorno de R$970,00,assim como uma perda de R$0,19 para cada kg depimenta vendida, considerando os pressupostos domodelo e o preço médio das cotações mais baixas doproduto.

Quando se considera o preço representativo dosegundo tercil da série, ou seja, os preços de nívelintermediário pago ao produtor (no caso, R$11,30/kgde pimenta), o modelo de sistema agroflorestalapresenta uma forte elevação no desempenhoeconômico-financeiro, conforme pode-se verificar naTabela 5, com indicadores TIR, RBC e VPL muitoacima dos valores de referência e bem mais elevadosem relação aos indicadores obtidos para o modelobásico, que considera os preços médios de pimentapara o ano de 2018, quando o estudo foi realizado. O

prazo de recuperação de capital reduziu de quatro paratrês anos. Na avaliação da componente pimenta, odesempenho econômico também apresenta umaelevação positiva considerável, com a RBC saindo de1,60, no modelo básico, para 1,70, quando se considerao preço mediano de pimenta. O custo de produção deum kg de pimenta (R$6,64) focou bem abaixo do preçode venda do produto (R$11,30/kg).

Optou-se por não apresentar os resultados para ocenário que consideraria o preço de pimenta pago aoprodutor, como representativo do tercil superior da sériehistórica de preços, ou seja, preço para período deelevada cotação da pimenta, tendo em vista que emtermos qualitativos esses resultados seriam semelhantesao do cenário com preços medianos, diferindo apenasnos valores quantitativos dos indicadores, queapresentariam uma robusta elevação.

Conclusões

Os resultados obtidos demonstram que o modelode sistema agroflorestal avaliado apresenta viabilidadeeconômico-financeira com boa margem de segurança,considerando os pressupostos definidos, o que ocaracteriza como uma boa opção de investimento porparte dos agricultores da região. Os componentesculturais bananeira, cupuaçuzeiro, pimenteira do reino

Tabela 4. Indicadores de viabilidade e desempenho econômico-financeiro para osistema agroflorestal e a componente pimenta do reino (1 ha), para o cenário de preçosbaixos de pimenta, na microrregião de Tomé Açu, Pará. 2018

Indicador Unid. SAF Pimenta V. Referência

Taxa Interna de Retorno % 19,7 - 4,00Relação Benefício-Custo - 1,53 0,97 1,00Valor Presente Líquido R$ 115.237,09 - 0,00Prazo de Retorno do Investimento Ano 5 - -Custo Unitário de Produção R$/kg - 6,39 6,20

Tabela 5. Indicadores de viabilidade e desempenho econômico-financeiro para osistema agroflorestal e a componente pimenta do reino (1 ha), para o cenário de preçosmedianos de pimenta, na microrregião de Tomé Açu, Pará. 2018

Indicador Unid. SAF Pimenta V. Referência

Taxa Interna de Retorno % 38,4 - 4,00Relação Benefício-Custo - 1,84 1,70 1,00Valor Presente Líquido R$ 180.921,29 - 0,00Prazo de Retorno do Investimento Ano 3 - -Custo Unitário de Produção R$/kg - 6,64 11,30

e taperebazeiro tambémapresentaram desempenhoeconômico positivo no sistema,colaborando para a viabilidade doSAF. No entanto, o componentearroz apresentou desempenhoeconômico negativo, o que indica quedeve passar por ajustes no seuprocesso produtivo, tecnológico ou degestão, que promova melhoriasignificativa no desempenho, oumesmo ser substituído por outrocomponente agrícola, quedesempenhe a função deaproveitamento das entrelinhas dasculturas de ciclo mais longo, e queapresente resultado econômicopositivo.

Para o cenário de baixo preço depimenta, essa componente

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apresentou desempenho econômico-financeironegativo, mas de baixa intensidade. Isso culminou pararedução da rentabilidade do sistema agroflorestal que,ainda assim, apresentou-se viável economicamente eem nível considerável, como efeito da boa performancedos componentes banana, cupuaçu e taperebá.

Agradecimentos

Os autores agradecem a eng. agrônoma Claudeli MArnand (da Fazenda Konagano), pela importanteparticipação na obtenção e revisão dos dadosagronômicos do sistema; ao pesquisador da Embrapa,Adilson da Silva Elleres, pelos dados de preços e revisãobibliográfica; aos técnicos ou produtores MichinoriKonagano, Elton Takaki , Emerson Y. Shioya, RobertoHanawa e Ivan H. Saiki (da Cooperativa Agrícola Mistade Tomé-açu - CAMTA); a Jasson L. P. Moreira (daComissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira -CEPLAC); a Cícero S. Silva (da Secretaria Municipalde Agricultura de Tomé Açu) e a Felício H. Inada (doBanco da Amazônia), pela checagem dos dados evalidação do modelo e da análise.

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