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Desenvolvendo a competência comunicativa em gêneros da escrita acadêmica

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Sebastião J. Votre

Vinícius C. Pereira

José C. Gonçalves

Desenvolvendo a competência comunicativa

em gêneros da escrita acadêmica

UFF/PROAC/NEAMI

Niterói, RJ - 2010

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Copyright © 2009 by Sebastião J. Votre, Vinícius C. Pereira, José C. Gonçalves

Direitos desta edição reservados à EdUFF - Editora da Universidade Federal Fluminense

Rua Miguel de Frias, 9 - anexo - sobreloja - Icaraí - CEP 24220-900 - Niterói, RJ - Brasil

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É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Editora.

Normalização: Danúzia da Rocha de Paula

Edição de texto e revisão: Icléia Freixinho

Capa: Felipe Ribeiro (Laboratório de livre Criação/IACS)

Projeto gráfico: Marcos Antonio de Jesus

Supervisão gráfica: Káthia M. P. Macedo

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

V972 Votre, Sebastião J.; Pereira, Vinícius C.; Gonçalves, José C.

Desenvolvendo a competência comunicativa em gêneros da escrita acadêmica/Sebastião

Votre, Vinícius C. Pereira, José C. Gonçalves/Niterói: EdUFF, 2009.

94 p.; il. 29,7 cm – (Apoio ao aluno calouro, livro-texto 1).

inclui bibliografias.

ISBN 978-85-228-0531-0

1. Manuais 2. Aprendizagem I. Título II. Série.

CDD 808.02

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

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Marco Antonio Sloboda Cortez

Renato de Souza Bravo

Silvia Maria Baeta Cavalcanti

Tania de Vasconcellos

Editora filiada à

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Sumário

Introdução ........................................................................7

Unidade 1 Gêneros e tipos textuais – macro e microestruturas ....................... 9

Unidade 2 Coesão textual ..................................................................21

Unidade 3 Coerência textual ...............................................................32

Unidade 4 Argumentação ...................................................................41

Unidade 5 Fichamento, resumo e resenha ...............................................53

Unidade 6 Relatório e projeto .............................................................63

Unidade 7 Artigo científico e monografia de conclusão de curso .....................75

Unidade 8 O domínio da norma-padrão ..................................................81

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Introdução

Este manual tem a finalidade de ajudá-lo a conhecer e utilizar de modo adequado o estilo aca-

dêmico. Você pode estudar cada unidade na ordem em que aqui se encontra ou ir diretamente para

a unidade que lhe interessa. Por exemplo, se estiver com alguma dificuldade de natureza gramatical,

vá para a última unidade e veja o que lá oferecemos.

O manual contém oito unidades, voltadas para o domínio da escrita acadêmica, com ênfase

nos gêneros textuais que a caracterizam. A primeira unidade apresenta os modos de organização

textual e sua manifestação em cada gênero. Descreve e comenta, brevemente, o conteúdo, a forma

e a função dos modos de organização textual. Apresenta também informações sobre os gêneros que

escolhemos.

Seguem-se três unidades, sobre coesão, coerência e argumentação, com textos ilustrativos,

atividades e reflexões, com vistas a ajudá-lo no desempenho intelectual. Estas unidades têm o ob-

jetivo de fazê-lo escrever de forma coerente, mantendo coesão entre as partes e, sobretudo, com

argumentos capazes de convencer seu leitor do que você está propondo.

Vêm então as unidades específicas que escolhemos, organizadas em termos de utilização ime-

diata e em nível de complexidade. Portanto, você trabalhará, de imediato, com os gêneros fichamen-

to, resenha e resumo; em seguida, lidará com as características do projeto de pesquisa e do relatório,

para, por fim, familiarizar-se com as propriedades da monografia e do artigo científico.

Optamos por incluir uma unidade de suporte geral para quem escreve, em que constam ques-

tões e problemas de escrita. É uma unidade inovadora, no sentido de que os problemas que aí se

analisam são pontos controversos, com que nos defrontamos no dia a dia da produção de textos no

meio universitário.

Em cada unidade, mostramos o que vamos fazer, o que propomos que você faça, para alcançar

os objetivos da unidade e em seguida apresentamos o núcleo da unidade, com introdução, desenvol-

vimento e conclusão. As unidades são permeadas de atividades de reflexão e escrita, propostas para

o domínio das habilidades acadêmicas. Oferecemos uma alternativa de resposta para cada atividade

e concluímos a unidade com referências bibliográficas e on-line.

Por se tratar de um manual para escrita de textos, tomamos alguns cuidados na seleção dos

textos com que trabalhamos. Esses textos representam bem o gênero que está sendo estudado, são

coesos e coerentes e apresentam argumentação confiável. São escritos de forma clara e são breves.

Cuidamos também do nosso próprio estilo, em que procuramos interagir com você de forma

cooperativa, com linguagem acessível e clara. Procuramos incluir atividades relevantes para você

executar, à medida que trabalha cada unidade. Essas atividades têm respostas previsíveis, de modo

que oferecemos uma alternativa de resposta para cada atividade.

Então? Mãos à obra?

Um abraço,

Os autores

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Unidade 1

Gêneros e tipos textuais – macro e microestruturas

Apresentando a unidade

Bem-vindo! Você está iniciando o seu curso de análise e produção de texto acadêmi-co. Neste curso você vai aprender primei-

ro a reconhecer e depois a produzir os diversos gêneros textuais da escrita acadêmica. Você vai aprender olhando, examinando, entendendo e depois redigindo os diversos textos que circu-lam no mundo acadê-mico. Como já dizia Confúcio (151 a.C.): “O que eu ouço, eu es-queço. O que eu vejo, eu lembro. O que eu faço, eu entendo.”

Definindo os objetivos

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:1. compreender a noção de tipo textual e de gênero textual;2. reconhecer os tipos textuais ex-positivo e argumentativo;3. identificar tipos e funções dos parágrafos;4. redigir com clareza os diferentes tipos de pará-grafos.

Conhecendo os gêneros textuais

De acordo com os Parâme-tros Curriculares Nacionais – PCNs –, ensinar lín-gua significa ensinar diferentes gêneros textuais. O gênero é uma unidade de linguagem em uso, na vida real, inserida numa moldura comunicativa de interlocutores e intenções. Assim, dependen-do do tipo e do teor da informação que quere-mos comunicar, utilizamos gêneros diferentes, geralmente convencionados em sociedade.

Perceba, por exemplo, que a finalidade deste manual é diferente da de um jornal, em-bora ambos sejam agrupados em uma categoria

maior, de textos informativos. Tal diferença nos objetivos do locutor (quem escreve ou fala) e do interlocutor (quem ouve ou lê) implica também diferenças na estruturação do texto e na organi-zação da informação. Veja que, por ser um mate-rial didático, este texto que você está lendo tem características muito próprias, como uma lin-guagem clara e direta, ilustrações e exemplifica-ções. Já o jornal, por ser produzido diariamente e apresentar informações que são lidas e descar-tadas muito rapidamente – pois no dia seguin-te já há novas notícias –, tende a ser um texto muito mais breve. Além disso, a maior parte das reportagens de um jornal têm caráter narrativo, isto é, verbos que indicam ação, personagens, narrador etc. Já este manual tem caráter expo-sitivo, pois, em vez de encadear ações, agrupa ideias abstratas de modo lógico.

Como você pode perceber, existem inúme-ros gêneros textuais com os quais convivemos, dentro e fora da universidade. Neste manual, você aprenderá a ler e escrever os gêneros típi-cos do meio acadêmico. Antes, porém, observe a seguir os fatores que determinam as caracte-rísticas de forma e conteúdo de cada um desses gêneros:

Tempo: Refere-se a diferenças cronológi-cas, do ponto de vista cultural, social, político e econômico, bem como aos graus de conheci-mento compartilhado entre o produtor e o re-ceptor dos textos, no momento da produção e recepção. Diferentemente dos gêneros da intera-ção oral face a face, nos textos de escrita aca-dêmica o produtor e o leitor geralmente estão situados em diferentes momentos e é, portanto, necessário explicitar as informações básicas para contextualizar a informação.

Lugar: Designa o lugar físico da produção e recepção dos textos (escola, escritório, casa, empresa, mídia), bem como a posição social do produtor e do receptor na interação (aluno, em-pregado, redator, jornalista, professor, cliente, amigo). Você, quando escrever um texto acadê-mico, vai estar num lugar físico e ocupar um pa-pel social diferentes dos lugares físicos e sociais dos seus possíveis leitores e/ou destinatários.

Objetivo da interação: Qual o efeito que o seu texto deve e espera produzir no recep-tor, isto é, para que serve o texto? Quando você escreve um texto, quais são as suas intenções? Será que a sua intenção comunicativa vai ser igual à interpretação do seu possível leitor?

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Canal: Que canal é utilizado para a intera-ção entre o produtor e o receptor do texto: pa-pel, vídeo, e-mail, livro, revista, chat, videocon-ferência, telefone, telegrama, carta? Em outras palavras, qual o meio que você vai utilizar para a transmissão da mensagem?

Grau de formalidade da situação: A conju-gação dos quatro fatores acima vai determinar o grau de formalidade da situação. Numa interação face a face entre amigos, num bate-papo, o nível de formalidade é bem baixo. Uma interação face a face num julgamento no tribunal vai ser muito mais formal. Igualmente, um gênero de escrita acadêmica, como o ensaio, é muito mais formal do que um bilhete ou um e-mail informal, trocado entre colegas de trabalho.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 1Leia atentamente o texto abaixo e respon-

da às seguintes perguntas:1. Que informações sobre a realidade brasileira esse texto recupera?2. A quem se destina o texto? Quais são as carac-terísticas que evidenciam o destinatário?3. Que conhecimentos são necessários para que o leitor compreenda as informações subentendi-das no texto?4. A que gênero esse texto pertence? Quais são as características principais da composição des-se gênero?

“É a pior calamidade ambiental que já enfrentamos”, diz Lula, em SC

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu uma entrevista coletiva na tarde desta quarta--feira (26) no aeropor-to de Navegantes, em Santa Catarina, após sobrevoar a região afetada pela chuva nos últimos dias. “É a pior calamida-de ambiental que já enfrentamos”, afirmou. Ele

retornou a Brasília por volta das 17h15.O presidente sobrevoou as cidades de Ita-

jaí, Luiz Alves e Navegantes. “Sou de uma região em que as pessoas passam mais da metade do ano pedindo para que chova. Em Santa Catarina, temos que pedir a Deus para parar de chover.”

Lula assinou, nesta quarta, uma medi-da provisória liberando R$ 1,6 bilhão para aju-dar na recuperação de estradas, casas e para ações da Defesa Civil e das Forças Armadas. O dinheiro será usado para ajudar não só Santa Ca-tarina, mas também outros estados que venham a sofrer com as fortes chuvas previstas para o ve-

rão.Luciana Rossetto

Conhecendo os tipos textuais

Os diferentes tipos textuais não são mutuamente exclusivos. De forma geral, um gênero textual é composto de vários tipos textuais, dependendo das diferentes funções que o autor quer atingir. No exemplo usado na Atividade 1, pode-se no-tar que o gênero notícia utiliza-se de estruturas narrativas, para contar o que foi feito pelo pre-sidente Lula, e de estruturas descritivas, para descrever a situação das cidades nas enchentes e algumas medidas implementadas para tentar resolver o problema. Como vários tipos de or-ganização textual podem ocorrer em um mesmo gênero, busca-se caracterizar o seu modo de or-ganização predominante. Assim, no exemplo aci-ma, o modo de organização textual predominan-te é o narrativo, com verbos usados geralmente no pretérito perfeito, como se vê no seguinte tre-cho da notícia:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu uma entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (26) no aeroporto de Navegantes, em Santa Cata-rina, após sobrevoar a região afetada pela chuva nos últimos dias. “É a pior calamidade ambiental que já enfrentamos”, afirmou. Ele retornou a Brasília por volta das 17h15.

No restante do texto, vários verbos na terceira pessoa do pretérito perfeito também ocorrem, como: sobrevoou e assinou. Pode-se afirmar então que o gênero notícia utiliza-se pre-dominantemente do modo de organização narra-tivo para relatar os fatos ocorridos.

Os tipos textuais são caracterizados pelas sequências linguísticas predominantes (esco-

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lhas de palavras, estruturas gramaticais, tempos verbais, relações lógicas).

Portanto, os gêneros textuais podem se constituir em diversos tipos textuais, que pos-suem finalidades específicas, conforme vemos

abaixo:

TIPOS TEXTUAIS FINALIDADE

Descritivo Caracterizar a paisagem, o ambiente, as pessoas e os objetos.

Narrativo Contar fatos reais ou imaginários ou relatar acontecimentos que ocorreram em determinado lugar e tempo, envolvendo os participantes em ação e movi-mento no transcorrer do tempo.

Expositivo Apresentar informações sobre assuntos, idealmente de forma isenta e impes-soal. Expor ideias, pensamentos, doutrinas, teses, argumentos e contra-argu-mentos. Envolve refletir, explicar, avaliar, conceituar, analisar, informar.

Argumentativo Convencer, influenciar, persuadir as pessoas para realizar ações e alcançar objetivos. Consiste no emprego de provas, justificativas, com o objetivo de apoiar ou refutar teses. Envolve raciocínio para provar ou negar proposições.

Injuntivo Dizer como fazer ou realizar ações; descrever e prescrever regras, normas para uso e regulação de comportamentos.

Dialogal Interagir, por meio de troca interpessoal de ideias, sentimentos e informações sobre diferentes temas.

No meio acadêmico, podem ser encontra-dos todos os tipos textuais, concretizados em gêneros textuais diferentes. Um relatório, por exemplo, utiliza-se de características descriti-vas, para avaliar algo. A metodologia encontra-da em um artigo, por sua vez, é predominan-temente narrativa, pois apresenta a sucessão dos passos adotados por um pesquisador na condução de seu estudo. Um resumo é um texto expositivo, em que se apresentam, de forma im-pessoal, as informações presentes em um outro texto. Um ensaio, no entanto, por conter uma tese defendida acerca de determinado assun-to, possui características predominantemente argumentativas. Este manual, como os demais materiais didáticos, além do caráter obviamen-te expositivo, tem também uma feição injunti-va, na medida em que ensina como proceder na escrita acadêmica. Por fim, os gêneros orais da vida universitária, como a arguição, por exem-plo, estão intimamente ligados ao tipo textual chamado dialogal, em que a interação locutor--interlocutor é primordial.

Veja a seguir outros gêneros discursivos do domínio acadêmico, tanto na modalidade escrita quanto na modalidade oral da comunicação.

Modalidade escrita: temos artigos cien-

tíficos, relatórios científicos, notas de aula, di-

ários de campo, teses, dissertações, monogra-fias, artigos de divulgação científica, resumos de artigos, de livros, de conferências, resenhas, comentários, projetos, manuais de ensino, bi-bliografias, fichas catalográficas, currículos vi-tae, memoriais, pareceres técnicos, sumários, bibliografias comentadas, índices remissivos, glossários etc.

Modalidade oral: palestras, conferências, debates, entrevistas, seminários, apresentações em congressos, arguições etc.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 2Leia atentamente o texto abaixo, “Dimen-

são e horizonte de investimento em carteiras imunizadas: uma análise sob a perspectiva das entidades de previdência complementar”, retira-do da READ – Revista Eletrônica de Administra-ção. A que gênero textual ele pertence? Qual é o modo de organização textual nele predominan-te? Justifique suas respostas.

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Dimensão e horizonte de investimento em carteiras imunizadas: uma análise sob a perspectiva das entidades de previdência complementar

O termo imunização denota a construção de uma carteira de títulos de forma a torná-la imune a variações nas taxas de juros. No caso das entida-des de previdência complementar, o objetivo da imunização é distribuir os recebimentos interme-diários e finais dos ativos de acordo com o fluxo de pagamentos dos benefícios. Em geral, quanto maior a classe de alterações na estrutura a termo das taxas de juros, mais restritivo se torna o mo-delo. O artigo busca comparar o desempenho de modelos de gestão de risco de taxa de juros que, baseados em alternativas distintas de programa-ção matemática, objetivam garantir o pagamento do fluxo futuro de benefícios. Embora exista uma vasta literatura sobre o aspecto estatístico e so-bre o significado econômico dos modelos de imu-nização, o artigo inova ao prover uma análise de-talhada do desempenho comparado dos modelos, sob três perspectivas complementares: o método escolhido, a dimensionalidade e, ainda, o hori-zonte de investimento. A análise permite concluir que os modelos de imunização tradicional, quan-do examinados sob a ótica conjunta da redução do risco, das restrições impostas à formatação da carteira e dos custos de transação associados, são mais eficientes, no médio e longo prazo, que os modelos multidimensionais de gestão do risco de taxa de juros, os quais se mostram superiores apenas na gestão restrita ao curto prazo.

Sérgio Jurandyr Machado - IBMEC-SPAntonio Carlos Figueiredo Pinto - PUC-RJ

Conhecendo a estrutu-ra do parágrafo

Na primeira parte desta unida-de, você aprendeu a diferenciar tipos e gêneros tex--tuais, e como essas categorias se combinam na hora de produzir um texto. Assim, nossa preocupação ini-cial era a macroestrutura textual, isto é, a compreen- são da estruturação geral dos textos acadêmicos.

A partir de agora, voltamos nossas aten-ções para a microestrutura textual, ou seja, as partes menores que compõem um texto. Para efeitos didáticos, vamos trabalhar com uma uni-dade conhecida por todos os alunos: o parágrafo.

É preciso que compreendamos cada pará-grafo como um pequeno texto, o qual deve ter sua estrutura reconhecida. Inicialmente, vamos observar alguns exemplos de parágrafos bem construídos e proceder a sua análise:

Lula repassa terras da União a Roraima e diz que está pagando dívida

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva as-sinou, nesta quarta-feira (28), um decreto e uma medida provisória repassando 6 milhões de hec-tares (60 mil quilômetros quadrados) de terras da União para Roraima. O repasse equivale a 25% da área total do estado e é 50% maior que a Suíça (41,2 mil quilômetros quadrados).

Segundo Lula, o governo está pagando uma “dívida” que tem com Roraima desde a “celeuma da reserva indígena Raposa Serra do Sol”. O governador do estado, José de Anchieta Júnior, negou que esteja recebendo uma espé-cie de recompensa por ter perdido parte do seu território por causa da demarcação da reserva indígena.

[...] (Jeferson Ribeiro Do G1, em Brasília)

O trecho acima, retirado de uma notícia, é composto por dois parágrafos. Analisando-se cada um deles, vemos que são compostos por mais de uma frase. Tal fato nos sugere não escre-ver parágrafos de uma única frase enorme, pois isso dificulta a compreensão do leitor. Para que a leitura seja fácil e agradável, os sinais de pon-tuação devem estar devidamente empregados e as frases devem ter um tamanho razoável.

Atente para a seleção das frases empre-gadas em cada parágrafo. No primeiro deles há uma frase principal, que o resume e apresenta a ideia central: “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, nesta quarta-feira (28), um decreto e uma medida provisória repassando 6 milhões de hectares (60 mil quilômetros quadrados) de terras da União para Roraima”. A essa frase ini-cial, chamamos de frase-tópico.

A frase-tópico é, geralmente, a primeira frase do parágrafo. Sua função é expor de forma resumida a ideia geral, que será desenvolvida nas outras frases. Observe agora o segundo pe-ríodo do parágrafo: “O repasse equivale a 25% da área total do estado e é 50% maior que a Suí-ça (41,2 mil quilômetros quadrados)”. Essa frase

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desenvolve a frase-tópico na medida em que dá informações complementares acerca do repasse mencionado na frase anterior.

Analisemos agora o segundo parágrafo, cuja frase-tópico é: “Segundo Lula, o governo está pagando uma ‘dívida’ que tem com Rorai-ma desde a ‘celeuma da reserva indígena Rapo-sa Serra do Sol’”. Tal frase apresenta como ideia principal do parágrafo a opinião do presidente diante da questão da reserva indígena. Porém, é bom complementar a frase-tópico, para que o texto se torne mais coeso e informativo. O au-tor desenvolveu essa frase principal com uma relação de oposição, ao escrever: “O governador do estado, José de Anchieta Júnior, negou que esteja recebendo uma espécie de recompensa por ter perdido parte do seu território por cau-sa da demarcação da reserva indígena”. O autor do texto poderia inclusive iniciar esse segundo período por um conectivo que expressasse opo-sição, como porém, contudo, todavia etc.

Veja ainda que há muitas formas de desen-volver a ideia central fixada e exposta na frase--tópico: definições, enumerações, comparações, contrastes, razões, análise, exemplos, fatos, estatísticas, citações, ilustrações, evidências e contraevidências da ideia apresentada na frase--tópico. As frases de suporte fornecem as dife-rentes especificações que explicam, delimitam, reforçam, contradizem ou expandem a ideia cen-tral exposta na frase-tópico.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 3Algumas das frases-tópico seguintes di-

zem respeito a conhecimento compartilhado na cultura local e nacional, de modo que podem ser desenvolvidas imediatamente após a leitura das mesmas. Outras supõem conhecimento especia-lizado e só podem ser aprofundadas após con-sulta a fontes de informação. Comecemos pelo primeiro grupo. Leia-as e escreva parágrafos que com elas se iniciem, acrescentando frases de su-porte/desenvolvimento.

1. Meus dois professores são totalmente diferentes em aparência, comportamento e per-sonalidade.

2. O futebol está se tornando popular nos Estados Unidos graças à simplicidade do equipa-mento, das regras e das habilidades envolvidas.

3. A paisagem, as praias, e o carnaval tor-nam o Rio de Janeiro uma cidade maravilhosa.

Já as frases-tópico seguintes fazem afirma-ções acerca de assuntos mais especializados, de modo que você deve buscar algumas informa-ções sobre eles antes de tentar desenvolvê-las.

4. Astronomia é uma ciência fascinante.5. A adaptação animal é imprescindível

para a sobrevivência das espécies.6. A intensa miscigenação teve importan-

tes consequências para a formação do povo brasileiro.

Na seção anterior, vimos como um pará-grafo se constitui em linhas gerais: uma frase--tópico e frases de suporte, podendo ainda ha-ver uma frase de conclusão. Da mesma forma, um ensaio, uma redação, um artigo científico ou um texto expositivo ou argumentativo também têm essa estrutura de três partes: um parágrafo introdutório, parágrafos de suporte e um pará-grafo de conclusão.

O parágrafo de introdução

A principal característica de um parágrafo de introdução é a presença da tese, ideia central do texto. Em um texto expositivo, a tese é uma informação principal, ampla, dentro da qual há uma série de outras informações que serão apre-sentadas nos parágrafos subsequentes. Em um texto argumentativo, a tese é o ponto de vista que o autor defende, inserido em um tema mais amplo, o qual também deve ficar claro logo no primeiro parágrafo.

É de suma importância que a tese seja apresentada com clareza, pois isso facilita a lei-tura do texto, bem como sua escrita, visto que impede que você fuja ao tema. Ao longo do texto, tente sempre que possível remeter o que escreve nos demais parágrafos à tese, afinal tal estratégia garante unidade, coesão e coerência ao texto.

Há mais de uma maneira de redigir um pa-rágrafo introdutório, embora este deva sempre situar o tema geral do texto e a tese. A seguir, va-mos analisar diferentes parágrafos de introdução redigidos acerca do mesmo tema: o crescimento

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da violência na contemporaneidade. Atente para os diferentes recursos usados em cada parágra-fo e perceba que uma mesma temática pode ser introduzida de diferentes maneiras. Com a práti-ca, você logo selecionará as estratégias com que se sente mais à vontade.

1. Abordagem-padrão – Neste tipo de in-

trodução, apresenta-se primeiramente

a tese e logo a seguir enumeram-se os

argumentos que serão desenvolvidos

ao longo do texto (cada um desses ar-

gumentos corresponderá a cada um dos

parágrafos de desenvolvimento subse-

quentes). Veja o exemplo abaixo:

É indiscutível que a violência cresce de forma exponencial nos dias de hoje, como não cessam de informar os meios de comunicação. Tal fato acarreta mudanças drásticas na arqui-tetura urbana, como a construção de grades por toda a parte, em uma tentativa de prender a si, já que o assustador Outro não cabe por inteiro na cadeia. Mudam também as ofertas de emprego, com a popularização do ofício de “segurança” e a quase extinção de profissões que exigem con-fiança em pessoas desconhecidas, como o antigo vendedor de porta em porta, que hoje não ganha mais do que um grito repelente por trás do “olho--mágico”. Esses são apenas alguns entre muitos outros fenômenos que nos escapam na discussão da violência, geralmente suscitada por tragédias veiculadas na mídia.

Nesse caso, a primeira frase do parágrafo é também a tese do texto (ponto de vista princi-pal defendido na redação). Seguem-se a ela dois exemplos que serão explorados em detalhe nos próximos dois parágrafos de desenvolvimento. Por fim, veja que a frase de conclusão (última do parágrafo) serviu para retomar e resumir as ideias anteriormente apresentadas, às quais se somou um dado novo: a predominância de tra-gédias no discurso midiático sobre violência. Tenha sempre em mente que uma frase de con-clusão, mesmo que sirva para encapsular tudo o que foi dito antes, deve conter alguma informa-ção nova, que justifique sua existência. Do con-trário, o texto torna-se repetitivo.

2. Definição – Nesse tipo de introdução,

antes de se apresentar a tese, faz-se

uma ambientação, isto é, uma afirmação

inicial que situa a tese no tema geral ao

qual pertence. Como no exemplo abai-

xo, a ambientação pode ser a definição

de um conceito-chave para a argumen-

tação acerca do tema proposto.

Segundo Houaiss (2008), violência é “cons-trangimento físico ou moral exercido sobre al-guém, para obrigá-lo a submeter-se à vontade de outrem; coação”. Tal definição explicita uma faceta da violência por vezes esquecida: a dimen-são moral. Do mesmo modo como a agressão fí-sica pode causar danos irreparáveis, a ofensa e a injúria deixam sequelas para sempre, devendo haver, portanto, preocupação social no combate a esse problema.

3. Questionamento(s) – A ambientação

pode também ser composta por per-

guntas que convidem o leitor à reflexão

acerca do tema. No entanto, tome o cui-

dado de, após essas perguntas, afirmar

sua tese. Não deixe também de respon-

der a todas as perguntas ao longo de

seu texto.

Medidas punitivas são o suficiente para coibir o aumento da violência? A história já pro-vou que não. Assim como o senso comum tem cristalizada a máxima de que “prevenir é melhor do que remediar”, estudos provam que países que investiram em educação tiveram reduções mais significativas de índices de violência do que aqueles que destinaram sua verba à construção de presídios.

4. Citação – A ambientação também

pode apresentar uma citação de alguém

famoso. Nesse caso, lembre-se de pôr

entre aspas uma fala que não é propria-

mente sua. Tal recurso tem a vantagem

de se valer da autoridade do discurso

alheio, que pode ser posto em diálogo

com o seu.

“A não-violência absoluta é a ausência absoluta de danos provocados a todo ser vivo. A não-violência, na sua forma ativa, é uma boa dis-posição para tudo o que vive. É o amor na sua perfeição”. Essa célebre citação de Gandhi, ao referir-se a uma “não-violência ativa”, mostra ser possível optar pela paz e praticá-la de forma ativa

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e consciente, o que deve se dar em todas as situa-ções da vida. Tal princípio da não-violência é hoje símbolo da possibilidade de um mundo pacífico, a despeito das evidentes dificuldades para que isso se efetive.

5. Sequência de frases nominais – Um

recurso interessante para iniciar um

texto é fazer uma enumeração de frases

nominais (sem verbo), separando-as

por ponto final. Por ser um recurso di-

ferente, isso chama a atenção do leitor.

Como sempre, a presença da tese logo

após essa ambientação é fundamental.

Bala perdida. Sequestro-relâmpago. Falsa blitz. Basta abrir o jornal ou ligar a televisão para se ouvir mais uma notícia de crime no país. A me-nos que medidas conscienciosas sejam tomadas para o combate dessa realidade hostil, o quadro tende a se tornar cada vez pior.

6. Exposição do ponto de vista oposto

– Você pode também iniciar seu texto

enunciando um ponto de vista contrá-

rio ao seu, na ambientação. Em segui-

da, você deve usar um conectivo que

expresse oposição de ideias (PORÉM,

NO ENTANTO, CONTUDO, TODAVIA

etc.) e apresentar sua própria tese,

provando ser ela mais acertada do que

o posicionamento anteriormente men-

cionado.

Há quem diga que basta instituir a pena de morte para que haja reduções bruscas nos índices da violência. No entanto, esse é um po-sicionamento por demais simplista, que acredita na solução de um problema de dimensões eco-nômicas, sociais e políticas, que assola todo o país, por meio de uma simples resolução jurídi-ca. Na verdade, alteração alguma na lei é sufi-ciente sem que medidas preventivas, as quais culminem na redução das desigualdades sociais, sejam tomadas.

7. Alusão histórica – Antes de apresen-

tar sua tese, você pode lançar mão de

uma ambientação que a situe historica-

mente, apresentando, brevemente, os

antecedentes históricos que confirmam

seu ponto de vista.

Ao falarmos sobre violência, alguns discur-sos apontam-na como sendo uma problemática contemporânea. Porém, a história do descobri-mento e da colonização do Brasil é marcada por uma violência que muitas vezes esquecemos: o massacre dos indígenas. Ao estudarmos de forma profunda e atenta essa mortandade que está no início da história escrita sobre o país, podemos não só compreender o passado da nossa forma-ção, mas entender também a violência presente, em suas semelhanças e diferenças com a pretéri-ta, e pensar em intervenções que combatam esse problema nos dias de hoje.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 4Do texto a seguir, retirou-se o primeiro

parágrafo. Com base nos demais parágrafos, re-dija pelo menos três versões para a introdução, utilizando diferentes técnicas estudadas nesta unidade:

Crítico de cinema: profissão em extinção?

[...]O “New York Times” dedica-se a tentar en-

tender a perda de importância dos jornais – e o crescimento da influência dos blogs – no proces-so de divulgação dos filmes pelos grandes estú-dios. O sinal mais aparente deste fenômeno – im-portante pelo volume de recursos que Hollywood movimenta em marketing – é que os jornais con-tribuem cada vez menos com aquelas publicida-des repletas de frases retiradas de críticas.

Uma das mais antigas ferramentas de marke-ting de um filme, a citação tirada de uma crítica de cinema (coisas como “eletrizante” “imperdí-vel”, “muito engraçado”, “ri do início ao fim”) já foi motivo de muita polêmica. Há alguns anos, descobriu-se que um estúdio, a Sony, havia publi-cado um anúncio com uma frase inventada, dita por um crítico que não existia. Também é comum tirar palavras ou frases de contexto, mudando

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o sentido do que o crítico quis dizer para realçar qualidades inexistentes de um filme.

O que inquieta o “New York Times” agora é o fato de que os grandes estúdios de Hollywood preferem recorrer a críticas publicadas em blogs do que em jornais. Escreve o diário:

“Os seis grandes estúdios gostam de ir à Internet em busca de frases para usar em publi-cidade porque há uma variedade muito grande de sites de onde tirar a palavra ou a frase certa. Alguns sites, é claro, são sérios. Outros, incluindo sites como Ain’t It Cool News, não fazem segredo do seu olhar de ‘animador de torcida’ em relação a alguns gêneros de filmes”.

Em outras palavras, raciocina o “New York Times”, os estúdios preferem recorrer a sites e blogs porque eles tratam os filmes de forma mais generosa e complacente que os jornais. O gran-de diário americano está, evidentemente, fazen-do uma generalização injusta, já que há também muitos críticos em jornais que funcionam mais como “animadores de torcida” do que, propria-mente, como analistas sérios e isentos.

Em todo caso, dois entrevistados do jor-nal reforçam a tendência de recorrer a sites e blogs no lugar dos jornais na leitura das críticas de cinema. Um vice-presidente da Universal, Mi-chael Moss, diz ao jornal: “Alguns dos melhores críticos de cinema e a maioria das boas críticas são encontradas online”.

Já Mike Vollman, presidente de marketing da MGM e United Artists, afirma que vai prefe-rir se basear mais em blogs do que na revista “Time” para promover o remake do filme “Fama”. “A realidade, e lamento dizer isso para você, é que os jovens que vão ao cinema são mais in-fluenciáveis por um blog do que por um crítico de jornal”.

A reportagem, em resumo, confirma as previsões mais pessimistas dos que enxergam na revolução promovida pela nova mídia um si-nal de empobrecimento e decadência cultural. Ainda assim, o próprio “New York Times” reco-nhece que há sites “sérios”, publicando textos sobre cinema com o mesmo grau de rigor que os jornais ditos de prestígio.

E o Brasil? – algum leitor perguntará. O problema, ainda que em grau menor, até porque a indústria de cinema nacional é minúscula, se comparada a Hollywood, já aparece por aqui. Ain-da estamos, pelo que observo, numa etapa ante-rior. Há um crescimento impressionante de sites e

blogs dedicados ao cinema, mas o mercado ainda observa com desconfiança, procurando enten-der – e separar o joio do trigo de toda essa movi-mentação. Em todo caso, é possível observar que alguns produtores já utilizam frases retiradas de sites e blogs para divulgação de seus filmes.

Maurício Stycer

Parágrafos de desenvolvimento

Como quaisquer outros parágrafos, os de desenvolvimento apresentam frases-tópico, fra-ses de suporte e, às vezes, frases de conclusão. O que os difere dos parágrafos de introdução e conclusão é seu caráter menos abrangente e mais específico: enquanto no início e no final do texto dá-se preferência por apresentar ideias gerais, o desenvolvimento de um texto deve ser marcado por parágrafos de caráter mais deta-lhado, os quais apresentem, de forma pormeno-rizada, as informações que sustentam a tese do texto. Desse modo, é importante que você evite parágrafos de desenvolvimento extremamente curtos, os quais contenham apenas a apresen-tação de uma ideia. Como o próprio nome já indica, é preciso desenvolver essas ideias, apre-sentando causas, consequências, contrastes etc. Para isso, você aprenderá neste curso, na uni-dade sobre Coesão, como estabelecer relações desse tipo entre as frases e as orações.

O parágrafo de conclusão

O parágrafo final é a conclusão, uma parte muito importante do seu texto. Concluir um tex-to envolve sintetizar, reformular e/ou comentar o assunto abordado ao longo dele. Na síntese, você escreve um resumo dos principais assun-tos ou argumentos discutidos no corpo do texto. Outra forma de concluir é reformulando a ideia principal do seu texto em outras palavras. No co-mentário, você externa seu(s) ponto(s) de vista sobre o problema enfocado no texto. Como esse comentário é a última coisa que o leitor vai ver, é essencial que você redija uma mensagem impor-tante e impactante, que o leitor vá lembrar.

Para que seu texto seja bem-sucedido, não basta que você comece bem e explique com clareza suas ideias. Caso a conclusão não seja satisfatória, a impressão final do leitor não será boa, o que revela a importância de caprichar na elaboração do último parágrafo.

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Lembre-se de que, caso você tenha inicia-do seu texto com uma analogia, é interessante que essa mesma analogia seja revisitada na con-clusão. Do mesmo modo, se seu texto se inicia com uma pergunta, é interessante que a respos-ta a ela esteja clara na conclusão. Veja a seguir um exemplo de texto dissertativo em que a con-clusão e a introdução completam-se mutuamen-te, reiterando a tese do autor:

Homem Virtual

A história do homem é marcada por gran-des invenções e acontecimentos que modificam as relações familiares, sociais e internacionais. Transformações essas que não se prendem ex-clusivamente ao passado dos homens descobri-dores do fogo, criadores da roda, aventureiros dos mares, pilares do Renascimento... Os revo-lucionários do século XX inserem-se na História com ferramentas virtuais e o poder da tecla enter.

A atual Revolução Tecnológica é uma transformação sem qualquer precedente na his-tória da humanidade. Enquanto, no passado, as revoluções limitavam-se no espaço e no tempo, ou mesmo nas diferenças culturais, o mundo globalizado de hoje lhes permite percorrer rapi-damente quilômetros de distância sem que mes-mo haja tempo para resistências ideológicas. É dessa facilidade que se extrai a explicação para as repentinas e profundas mudanças nas rela-ções humanas no século XX e especialmente na década de 90.

O computador é a perfeita materializa-ção da Revolução do século XX. Através dele, o homem conecta-se ao mundo, percorre paí-ses, acessa diferentes informações ou diferen-tes ângulos de uma mesma informação, agiliza trabalhos, melhora imagens, cria recursos... transformações desse nível foram muitas vezes vivenciadas pelo homem. Nunca, porém, elas conseguiram atingi-lo paralelamente em sua es-sência, visões, ideologia, prioridades. O mundo tecnológico trouxe também novas fontes de la-zer, menos convivência pessoal, busca incessan-te de novos conhecimentos, necessidade de al-cançá-los rapidamente. Criou um homem quase digital com emoções contidas, experiências vir-tuais, convivência cibernética, família matricial. A velha conversa no botequim deu lugar às salas de bate-papo, a visita vespertina agora é um e--mail, o amigo é o computador.

É inegável que a tecnologia trouxe vanta-gens ao dia-a-dia. É lamentável, porém, que o ho-mem a tenha manipulado de tal forma a perder o controle sobre sua criação. Os heróis digitais confundem-se com os vilões, que deletam aos poucos o sentido de humanidade de nossa so-ciedade.

(retirado de http://www.puc-rio.br/vesti-bular/repositorio/redacoes/redacao18.html)

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 5Do texto a seguir, retirou-se a conclusão.

Com base nos demais parágrafos, redija, pelo menos, duas versões para a conclusão, utilizan-do diferentes técnicas estudadas nesta unidade.

Novos desafios para o planeta (adaptado)

Por Marcelo Barros – Agência de Informa-ção Frei Tito para a América Latina – de São Paulo

Em torno ao dia 05 de junho que a ONU consagra como “dia internacional do meio am-biente”, o mundo inteiro promove uma série de discussões e eventos que durarão toda a semana. De fato, os problemas ambientais se agravam. Hoje, não há quem não se assuste com a frequência e a intensidade de inunda-ções e secas, assim como, em algumas regiões do mundo, terremotos e furacões ganham fúria nunca vista.

Como disse Leonardo Boff na assembleia geral da ONU: “se a crise econômica é preocu-pante, a crise da não-sustentabilidade da Terra se manifesta cada dia mais ameaçadora. Os cien-tistas que seguem o estado do Planeta, especial-mente a Global Foot Print Network, haviam falado do Earth Overshoot Day, isto é, do dia em que se ultrapassarão os limites da Terra. Infelizmente, os dados revelam que, exatamente no dia 23 de setembro de 2008, a Terra ultrapassou em 30% sua capacidade de reposição dos recursos ne-cessários para as demandas humanas.

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No momento atual, precisamos de mais de uma Terra para atender à nossa subsistência. Como garantir ainda a sustentabilidade da Ter-ra, já que esta é a premissa para resolver as de-mais crises: a social, a alimentar, a energética e a climática? Agora, não temos uma “arca de Noé” que salve alguns e deixe perecer a todos os de-mais. Como asseverou recentemente, com muita propriedade, o Secretário Geral desta casa, Ban Ki-Moon: “não podemos deixar que o urgente comprometa o essencial”. O urgente é resolver o caos econômico, mas o essencial é garantir a vitalidade e a integridade da Terra.

É importante superar a crise financeira, mas o imprescindível e essencial é como vamos salvar a Casa Comum e a humanidade que é par-te dela. Esta foi a razão pela qual a ONU adotou a resolução sobre o Dia internacional da Mãe Terra (International Mother Earth Day), a ser ce-lebrado no dia 22 de abril de cada ano. Dado o agravamento da situação ambiental da Terra, especialmente o aquecimento global, temos de atuar juntos e rápido. Caso contrário, há o risco de que a Terra possa continuar, mas sem nós” (discurso na ONU – abril de 2009).

Infelizmente, governos e instituições in-ternacionais continuam insistindo no modelo capitalista depredador. Somente o governo ame-ricano destinou este ano mais de US$ 4 trilhões a salvar bancos e multinacionais irresponsáveis que perderam dinheiro no cassino financeiro da imprevisibilidade. Este dinheiro do povo, dado aos ricos, “é um valor 40 vezes maior do que os recursos destinados a combater as mudanças climáticas no mundo e a pobreza” (Le Monde Di-plomatique Brasil, maio de 2009, p. 3). O próprio governo brasileiro advoga que, contra a crise econômica que assola o planeta e também atin-ge o Brasil, a solução será consumir e comprar, porque isso gera empregos e receitas. As conse-quências ecológicas desta escolha não se colo-cam. Menos ainda a questão ética fundamental. Quantos brasileiros podem viver esta febre do consumo? O PNUD do ano passado confirma: 20% das pessoas mais ricas absorvem 82% das riquezas mundiais, enquanto 20% dos mais po-bres têm de se contentar apenas com 1,6% des-ta riqueza que deveria ser comum. Uma ínfima minoria monopoliza o consumo e controla os processos econômicos que implicam a devasta-ção da natureza e uma imensa injustiça social.

[...]

Respostas às atividades

Atividade 1 1. O texto fala das enchentes que destruí-

ram cidades no estado de Santa Catarina, no ano de 2009.

2. O texto se destina aos brasileiros em ge-ral, dada a abrangência do assunto e a linguagem simples, clara e direta.

3. O leitor tem de saber que as chuvas causaram enchentes, o que o texto não explicita. Além disso, a construção “para ajudar na recu-peração de estradas, casas” apresenta um pres-suposto, isto é, se é preciso recuperar, é porque houve destruição.

4. Trata-se do gênero notícia, que, no pla-no do conteúdo, caracteriza-se por trazer infor-mações recentes e que se tornam datadas em poucos dias. No plano da forma, a linguagem é direta e clara, misturando traços narrativos e ex-positivos.

Atividade 2 – Trata-se de um resumo, como se pode ver pela densidade de informa-ções, causada pela quase inexistência de frases com baixa informatividade. Nesse gênero, pre-domina a exposição, pois os fatos são apresen-tados de forma imparcial.

Atividade 3 – Esta atividade tem muitas possíveis respostas. Apresentamos, a seguir, al-gumas:

1. Meus dois professores são totalmente diferentes em aparência, comportamento e per-sonalidade. Um é alto e magro, com nariz aquili-no e modos distintos. O outro é baixo, gordinho e tem um jeito alegre de falar. Ambos, porém, são muito dedicados e dão, cada um a seu modo, óti-mas aulas.

2. O futebol está se tornando popular nos Estados Unidos graças à simplicidade do equipa-mento, das regras e das habilidades envolvidas. Enquanto beisebol e basquete, tradicionais no país, exigem alguns equipamentos caros, como luvas, tacos ou cestas, o futebol não pede mais do que uma bola de meia e um pouco de ginga nos pés. Esse acaba sendo o fator que atrai po-pulações de baixa renda.

3. A paisagem, as praias, e o carnaval tor-nam o Rio de Janeiro uma cidade maravilhosa. Turistas do mundo inteiro deixam cidades com fama internacional por sua beleza e ordenação

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social para reverenciar a terra dos cariocas, pois, apesar de notórios problemas de seguran-ça pública, “o Rio de Janeiro continua lindo”.

4. A astronomia é uma ciência fascinante. Desenvolvida a partir da astrologia, segundo a qual os astros influenciariam o destino humano, a astronomia hoje pouco se parece com essa mo-dalidade adivinhatória. Em lugar de mapas as-trais, telescópios de alta potência e cálculos ma-temáticos muito precisos analisam o movimento dos corpos celestes, deixando aos corpos huma-nos que cuidem eles mesmos de seus destinos.

5. A adaptação animal é imprescindível para a sobrevivência das espécies. Darwin per-cebera isso quando postulou sua teoria da Se-leção Natural, segundo a qual apenas o mais adaptado sobreviveria. O homem, por exemplo, fisicamente frágil, teve de se adaptar para sobre-viver às intempéries e ao hostil ambiente, desen-volvendo a tecnologia.

6. A intensa miscigenação teve importan-tes consequências para a formação do povo bra-sileiro. Porém, quando falamos em miscigenação, muitos reduzem a exemplos simplistas o fenôme-no de hibridação cultural, como a diferentes re-ceitas culinárias ou às origens distintas de vocá-bulos de nossa língua. Tal visão apaga o quanto da visão de mundo que os brasileiros têm, em to-das as esferas da vida pública e privada, é fruto da mistura de uma série de culturas.

Atividade 4 – Segue abaixo a introdução do texto original.

“Levantamento do jornal The Salt Lake Tribune indica que ao menos 55 críticos de cine-ma foram demitidos ou mudaram de área na im-prensa americana desde 2006. O dado, citado em reportagem na edição dominical do ‘New York Times’, ilumina um aspecto da crise que afeta os jornais americanos e, em particular, ajuda a compreender uma mudança significativa que vem ocorrendo na relação de Hollywood com a imprensa”.

Atividade 5 – Segue abaixo a conclusão do texto original.

“Para quem vive uma busca espiritual, o cuidado amoroso com a Mãe Terra, com a água e com todo ser vivo fazem parte do testemunho de que Deus é amor, está presente e atuante no uni-verso. Apesar de todas as agressões e crimes co-metidos contra o Planeta, ainda podemos salvá-lo.

Em 2003, a UNESCO assumiu a ‘Carta da Terra’ como instrumento educativo e referência ética para o desenvolvimento sustentável. Participa-ram ativamente de sua concepção humanista pensadores do mundo inteiro. É preciso que a ONU assuma este documento que qualquer pessoa pode ler e comentar na Internet (basta consultar: ‘carta da terra’). É o esboço de uma ‘declaração dos direitos da Terra’ e toda a hu-manidade é chamada a conhecê-la e praticá-la”.

Referências

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BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da Lingua-gem. São Paulo: Hucitec, 1987.

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GARCIA, O. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: FGV, 1981.

FEITOSA, V.C. Redação de Textos Científicos. São Paulo: Papirus, s.d.

HALLIDAY, M.A. K; HASAN. Language, context and text: aspect of language in a social-semiotic perspective. Deakin University Press. Oxford: OUP 1989.

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MACHADO, S. J.; PINTO, A. C. F. Dimensão e horizonte de investimento e carteiras imuni-zadas: uma análise sob a perspectiva das enti-dades de previdência complementar. Revista Eletrônica de Administração. Disponível em: <http://read.adm.ufrgs.br/edicoes/resumo.php?cod_artigo=618&cod_edicao=63&titulo_p=a&acao=busca&pagina=l>. Acesso em 15 jun. 2009.

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MOURA, M. L. S.; FERREIRA, M. C. Projetos de pesquisa. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2005.

ROSSETTO, L. ‘É a pior calamidade ambiental que já enfrentamos’, diz Lula, em SC. O GLOBO, 26. nov. 2008. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL880093-5598,00-E+A+PIOR+CALAMIDADE+AMBIENTAL+QUE+JA+ENFRENTAMOS+DIZ+LULA+EM+SC.html>. Acesso em 15 jun. 2009.

RIBEIRO, Jefferson. Lula repassa terras da União a Roraima e diz que está pagando dívida. O GLO-BO, 28 jan. 2009. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL975896-5601,00.html>. Acesso em 15 jun. 2009.

STYCER, M. Crítico de cinema: profissão em extin-ção? Disponível em: <http://colunistas.ig.com.br/mauriciostycer/tag/critico-de-cinema/>. Acesso em 15 jun. 2009.

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Unidade 2

Coesão textual

Apresentando a unidade

Nesta unidade, identificamos, ilustramos e comentamos os recursos mais eficazes para aumentar a coesão entre as partes

dos parágrafos e dos textos.Antes de iniciarmos propriamen-te o tema

desta unidade, observe a letra de música abai-xo, que muito se relaciona com o assunto desta unidade.

A linha e o linho(Gilberto Gil)

É a sua vida que eu quero bordar na minhaComo se eu fosse o pano e você fosse a linhaE a agulha do real nas mãos da fantasiaFosse bordando ponto a ponto nosso dia-a-diaE fosse aparecendo aos poucos nosso amorOs nossos sentimentos loucos, nosso amorO ziguezague do tormento, as cores da alegriaA curva generosa da compreensãoFormando a pétala da rosa, da paixãoA sua vida, o meu caminho, nosso amorVocê a linha e eu o linho, nosso amorNossa colcha de cama, nossa toalha de mesaReproduzidos no bordadoA casa, a estrada, a correntezaO sol, a ave, a árvore, o ninho da beleza

O texto acima revela a intimidade entre a li-nha e o linho, não só no plano da forma (por cau-sa da estrutura parecida das duas palavras do título), mas também no plano do significado (de-vido a ambas as palavras pertencerem ao campo da costura). Observe que o conteúdo dialoga di-retamente com a noção de coesão textual, que es-tudaremos nesta unidade, afinal é o fenômeno da coesão que “costura” as partes de um texto, ga-rantindo-lhe coerência e clareza. Nas próximas seções, você estudará os mecanismos que deve empregar em seus textos, para que sejam sem-pre coesos e bem articulados.

Definindo os objetivos

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:

1. compreender a noção de coesão textual e sua importância para uma boa legibilidade dos textos;2. identificar as estratégias textuais que assegu-ram coesão ao discurso;3. reconhecer e corrigir falhas textuais que com-prometam a coesão do discurso;4. produzir textos mais coesos.

Conhecendo a coesão textual

Muitas vezes, ao escrever-mos, temos boas ideias, mas sentimos dificul-dades para relacioná-las. Se não tomarmos cui-dado, podemos acabar por lançar no papel uma série de frases gramaticalmente corretas, mas que não se relacionam de forma clara entre si. Para que um conjunto de frases se torne um tex-to, é preciso que haja coesão: que as ideias se entrelacem, completando-se e retomando-se, de modo que as frases sigam um fluxo lógico e con-tínuo, não parecendo blocos isolados. Quando um texto está coeso, temos a sensação de que sua leitura “flui” com facilidade.

A origem do termo texto remete a tecido: um texto, como um tecido, deve entretecer seus fios de ideias, de modo que, nos pontos em que essas ideias se tocam, se estabeleça a coesão tex-tual. Para entender isso melhor, observe o con-to abaixo, escrito por Clarice Lispector. Em sua composição, a autora, para encadear as partes do texto de forma clara e criativa, utiliza-se de uma série de estratégias linguísticas, de modo a evitar a repetição sistemática de palavras e a ligar de forma lógica as ideias. Para fins didáticos, desta-camos apenas alguns dos mecanismos de coesão que aparecem nesse texto, os quais serão explo-rados mais aprofundadamente ao longo da unida-de. Por enquanto, reflita sobre a importância das palavras em destaque na composição do conto.

Uma esperança

Aqui em casa pousou uma esperança. Não a clássica, que tantas vezes verifica-se ser ilusó-ria, embora mesmo assim nos sustente sempre.

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Mas a outra, bem concreta e verde: o inseto. Houve um grito abafado de um de meus

filhos: – Uma esperança! e na parede, bem em

cima de sua cadeira! Emoção dele também que unia em uma só as duas esperanças, já tem ida-de para isso. Antes surpresa minha: esperança é coisa secreta e costuma pousar diretamente em mim, sem ninguém saber, e não acima de minha cabeça numa parede. Pequeno rebuliço: mas era indubitável, lá estava ela, e mais magra e verde não poderia ser.

– Ela quase não tem corpo, queixei-me. – Ela só tem alma, explicou meu filho e,

como filhos são uma surpresa para nós, desco-bri com surpresa que ele falava das duas espe-ranças.

[...]Foi então que farejando o mundo que é

comível, saiu de trás de um quadro uma aranha. Não uma aranha, mas me parecia “a” aranha. An-dando pela sua teia invisível, parecia transladar--se maciamente no ar. Ela queria a esperança. Mas nós também queríamos e, oh! Deus, quería-mos menos que comê-la. Meu filho foi buscar a vassoura. Eu disse fracamente, confusa, sem saber se chegara infelizmente a hora certa de perder a esperança:

– É que não se mata aranha, me disseram que traz sorte...

– Mas ela vai esmigalhar a esperança! res-pondeu o menino com ferocidade.

[...]

Para encadear os aconteci-mentos da narrativa, mos-trando que todos estão re-

lacionados ao animal chamado esperança, a autora utilizou uma série de palavras e expres-sões que remetem à criatura que dá título ao conto: uma esperança, a clássica, que, a outra, o inseto, ela, entre outras. Assim, o texto não peca pela repetição desnecessária de palavras.

O encadeamento dos fatos referentes a essa criatura também é garantido por outras palavras, que estabelecem relações de senti-do entre os acontecimentos da narrativa; entre elas, destacam-se e, mas, e então. No trecho “Pequeno rebuliço: mas era indubitável”, a pa-lavra mas estabelece uma oposição entre as ca-racterísticas atribuídas ao rebuliço: pequeno, porém indubitável.

Antes de avançar para um novo assunto, que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 1Observe o resumo abaixo, referente ao

artigo “Pedagogia de projetos”, de Lúcia He-lena Alvarez Leite. Após uma primeira leitura para tomar ciência do sentido global do texto, destaque, em uma segunda leitura, algumas das expressões que estabelecem coesão entre as ideias apresentadas no resumo. Proceda de maneira semelhante à apresentada na análise do conto de Clarice Lispector.

RESUMO: A discussão sobre Pedagogia de Projetos não é nova. Ela surge no início do século, com John Dewey e outros pensadores da chamada “Pedagogia Ativa”. Já nessa época, a discussão es-tava embasada numa concepção de que “educação é um processo de vida e não uma preparação para a vida futura e a escola deve representar a vida pre-sente – tão real e vital para o aluno como o que ele vive em casa, no bairro ou no pátio” (DEWEY, 1897).

Os tempos mudaram, quase um século se passou e essa afirmação continua ainda atual. A discussão da função social da escola, do signi-ficado das experiências escolares para os que dela participam foi e continua a ser um dos as-suntos mais polêmicos entre nós, educadores. As recentes mudanças na conjuntura mundial, com a globalização da economia e a informatiza-ção dos meios de comunicação, têm trazido uma série de reflexões sobre o papel da escola dentro do novo modelo de sociedade, desenhado nesse final de século.

É nesse contexto e dentro dessa polêmi-ca que a discussão sobre Pedagogia de Projetos, hoje, se coloca. Isso significa que é uma discussão sobre uma postura pedagógica e não sobre uma técnica de ensino mais atrativa para os alunos.

Conhecendo os recursos de coesão textual

Para conectar e relacionar as partes de um texto, vários mecanismos podem ser adotados. A seguir, encontram-se os dois principais tipos de recursos de que você pode se valer para garantir coesão e legibilidade àqui-lo que escreve:

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1. Coesão referencialA coesão referencial é estabelecida por

meio de expressões que retomam ou antecipam ideias. Esse tipo de coesão serve para evitar a re-petição desnecessária de termos, além de garan-tir que uma informação nova esteja conectada a outra que já havia sido mencionada. Tal articu-lação pode se dar basicamente de duas formas, como estudaremos a seguir:

1.1. Emprego dos pronomes na coesão referencial

Observe o trecho abaixo, retirado do arti-go “Esporte e saúde”, de Selva Maria Guimarães Barreto. Preste atenção ao papel dos pronomes (em negrito) na articulação do texto.

Esporte e Saúde

Nos cursos de Educação Física está ocor-rendo uma revolução, que vem provocando questionamentos sobre alguns conceitos: o que se tenta expor criticamente hoje é a relação entre “Esporte e Saúde”. Esta vinculação, infe-lizmente, não é a mais usual, pois geralmente é substituída por “Esporte é Saúde” pelo conhe-cimento popular, uma relação que aparenta ser uma verdade absoluta, quando não, obrigato-riamente, é. Os novos conceitos trabalhados relacionam Esporte, Saúde e Qualidade de Vida, de maneira a levantar o debate para refletirmos sobre os mesmos.

O Esporte, como conceito, é conside-rado uma atividade metódica e regular, que associa resultados concretos referentes à anatomia dos gestos e à mobilidade dos indi-víduos. Esta é a conotação que podemos cha-mar de “Esporte de alto nível”, veiculada nas mídias em geral, representada por pessoas executando gestos extremamente mecaniza-dos, uniformes, com um certo gasto de energia para produzir um determinado tipo de movi-mento repetidas vezes. São gestos plásticos, muito organizados, moldados e com muitas re-gras, para que se possa obter algum resultado prático. O Esporte pode ser encarado, dentro de outras ópticas, tanto como o Esporte vei-culado nas mídias, como uma atividade dentro de um grupo de amigos (na escola, na rua ou qualquer local).

[...]

Você já deve ter passado por problemas enquanto escrevia, porque não queria repetir desnecessariamente uma palavra. Evitar a reu-tilização excessiva de determinada expressão garante elegância ao seu texto, revelando uma elaboração cuidadosa. Os pronomes, como você viu, são bastante úteis para esse fim, pois per-mitem o encadeamento de ideias e podem subs-tituir os termos a que se remetem. Observe a seguir como tal recurso foi empregado no artigo “Esporte e saúde”.

“Nos cursos de Educação Física está ocor-rendo uma revolução, que vem provocando questionamentos sobre alguns conceitos [...]”

No trecho acima, o pronome que evitou a repetição de revolução. Assim, a autora ganhou em coesão, pois o trecho, sem o pronome, ficaria da seguinte forma:

Nos cursos de Educação Física está ocorren-do uma revolução. A revolução vem provocan-do questionamentos sobre alguns conceitos.

De maneira semelhante, o texto apresenta o período abaixo:

“O Esporte, como conceito, é considera-do uma atividade metódica e regular, que asso-cia resultados concretos referentes à anatomia dos gestos e à mobilidade dos indivíduos”.

Tal frase poderia ser desdobrada em duas outras, mas isso atrapalharia uma leitura fluente do texto, tornando-o repetitivo. Observe:

O Esporte, como conceito, é considerado uma atividade metódica e regular. A ativida-de metódica e regular associa resultados con-cretos referentes à anatomia dos gestos e à mobi-lidade dos indivíduos.

Há outros pronomes como esses (prono-mes relativos), que ligam duas orações e evitam a repetição de termos, como você verá a seguir:

l ONDE – Esse pronome relativo, embora empregado com frequência nos textos veicu-lados pela mídia, tem um uso bastante restri-to: segundo a gramática tradicional, tal pro-nome pode apenas indicar a noção de “lugar”.

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Exemplos:O Brasil é um país onde o incentivo à edu-

cação é primordial.A frase está correta de acordo com a nor-

ma dita culta, pois o pronome onde retoma a pa-lavra país, que indica a noção de “lugar em que”.

l CUJO – Tal pronome estabelece, geral-mente, relação de posse entre dois substantivos. Observe que ele deve concordar com o termo que o sucede, o qual não pode vir acompanhado por um artigo.

Exemplos:(a) Machado de Assis é um autor cujas

obras são estudadas até hoje.A frase (a) está de acordo com a norma

culta, pois cujo está conectando dois substan-tivos (autor e obras), estabelecendo entre eles uma relação de posse, pois as obras pertencem ao autor. Veja agora:

(b) Animais cujos os filhos são amamenta-dos são chamados de mamíferos.

A frase (b) estabelece uma relação de posse entre dois substantivos (animais e filhos), mas erra ao pôr o artigo os entre cujos e filhos.

l O QUE – Essa expressão não substitui, como os pronomes relativos anteriormente men-cionados, uma palavra, mas sim uma oração in-teira. Observe:

Exemplo: A democracia eletrônica permi-te uma eficaz articulação entre cidadão e gover-no, o que facilita processos de consulta pública, como referendos via Internet.

Na frase acima, o que evita a repetição não de uma palavra, mas de toda a oração que o antece-de, funcionando como o sujeito do verbo facilitar.

Além dessas, há outras estratégias no uso do pronome que estabelecem coesão entre as partes de um texto. Observe o exemplo retirado do texto de “Esporte e saúde”:

“Nos cursos de Educação Física está ocor-rendo uma revolução, que vem provocando questionamentos sobre alguns conceitos: o que se tenta expor criticamente hoje é a relação entre ‘Esporte e Saúde’. Esta vinculação, infelizmente, não é a mais usual, pois geralmente é substituída por ‘Esporte é Saúde’ pelo conhecimento popu-lar, uma relação que aparenta ser uma verdade absoluta, quando não, obrigatoriamente, é”.

Veja que, dessa vez, o pronome não co-nectou duas orações em uma mesma frase, mas duas frases diferentes. Geralmente, isso é fei-to por um pronome como “esse(a)”, “este(a)”, “isso” ou “isto”. Tais palavras, chamadas pro-nomes demonstrativos, costumam apontar para outra ideia no texto, que já tenha sido menciona-da ou que ainda será expressa. No exemplo ana-lisado, o pronome “esta”, ligado a “vinculação”, refere-se à ideia vinculada em “Esporte e Saúde”, expressão que já havia sido mencionada na frase anterior. No entanto, é preciso observar que a maioria dos gramáticos tradicionais preferem o uso de “esse”, “essa” e “isso”, quando o pronome se refere a algo que já foi dito. Assim, uma me-lhor redação do trecho seria:

Nos cursos de Educação Física está ocorren-do uma revolução, que vem provocando questio-namentos sobre alguns conceitos: o que se tenta expor criticamente hoje é a relação entre “Espor-te e Saúde”. Essa vinculação, infelizmente, não é a mais usual, pois geralmente é substituída por “Esporte é Saúde” pelo conhecimento popular, uma relação que aparenta ser uma verdade abso-luta, quando não, obrigatoriamente, é.

Situação semelhante ocorre no trecho abaixo, extraído do mesmo artigo:

“O Esporte, como conceito, é considera-do uma atividade metódica e regular, que asso-cia resultados concretos referentes à anatomia dos gestos e à mobilidade dos indivíduos. Esta é a conotação que podemos chamar de “Espor-te de alto nível”, veiculada nas mídias em geral, representada por pessoas executando gestos extremamente mecanizados, uniformes, com um certo gasto de energia para produzir um deter-minado tipo de movimento repetidas vezes”.

O pronome “esta” retoma o conteúdo de toda a frase anterior, atribuindo-lhe os novos sentidos da segunda frase. No entanto, como se trata de remissão a algo que já havia sido dito, seria mais adequado o uso de “essa”.

Geralmente, os pronomes “este”, “esta” e “isto” referem-se a algo que ainda será mencio-nado. Observe a frase abaixo como modelo, pois o pronome “isto” aponta não para uma informa-ção anterior, mas para algo que se apresenta de-pois dele: a palavra violência.

Exemplo: O que me assusta no Brasil é isto: a violência.

É importante atentar, além disso, para uma construção muito comum em textos acadê-

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micos, em que há duas referências consecutivas a termos que foram mencionados.

Exemplo: O Brasil exporta cacau e soja. Esta é plantada na região Sul; aquele, no Nordeste.

Embora ambos os pronomes em destaque re-firam-se a palavras já mencionadas, não se usam os pronomes “esse”, “essa” e “isso” nesse caso. Conven-cionou-se que, em situações como essa, devem-se usar “este”/“esta”/”isto” para apontar para a palavra mais próxima (“soja”) e “aquele”/“aquela”/“aquilo” para a palavra mais distante (“cacau”).

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto, que

tal pôr em prática o que você acabou de ver na uni-dade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 2Os trechos abaixo poderiam se tornar

mais coesos, caso fosse empregado o recurso da coesão referencial. Aplique tal estratégia coesi-va, unindo as informações em uma única frase.

1. Este é o país. Moro no país.2. Este é o país. O país se chama Brasil.3. Não se sabe onde está o livro. Dependo

do livro para fazer um trabalho.4. Perguntei-lhe o nome. Baseou-se no

nome para tomar sua decisão.5. Os Estados Unidos conduziram uma in-

cursão destruidora no Iraque. Os soldados dos Estados Unidos alegavam defender sua pátria.

6. O corpo humano é percorrido por um sistema circulatório. Pelo sistema circulatório são conduzidos os nutrientes às células.

7. O verbo concorda com o sujeito. O nú-cleo do sujeito não pode ser uma preposição.

8. O Brasil foi descoberto pelos portugue-ses. Nos navios dos portugueses foi transporta-do pau-brasil.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteú-do aqui estudado.

Atividade 3Observe os parágrafos abaixo e identifi-

que neles problemas decorrentes do mau uso das estratégias de coesão referencial.

1. Giddens descreve o surgimento da Teo-ria da estruturação a partir do encontro de várias correntes teóricas com as quais foi se familiarizan-do nos anos 60, como o Marxismo. Pontua o seu princípio na continuidade da vida social, em que as estruturas dependem das ações dos indivíduos e só existem na medida em que as pessoas agem no contexto a partir de seu referencial interno.

2 . “As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”. Essa citação do poeta brasileiro Vinícius de Moraes mostra-se não só politica-mente incorreta, mas também caduca nos dias de hoje. A atualidade enxerga a mulher sob uma nova perspectiva, não mais atrelada à sua cons-tituição física, como um objeto, mas voltada para aspectos como força de trabalho, produção intelectual e igualdade de direitos. Ela revela, as-sim, mudanças profundas em sua constituição.

1.2. Emprego de itens do léxico na coesão referencial

Quando você escreve um texto, interrom-pe mais de uma vez o processo de composição, em busca de expressão que substitua alguma palavra que você já utilizou. A coesão lexical co-necta as partes do texto e evita a repetição voca-bular, por meio do uso de substantivos, verbos e adjetivos, o que exige um vocabulário amplo, adquirido com a leitura constante e frequentes consultas ao dicionário. Para entender melhor esse tipo de estratégia coesiva, observe o trecho abaixo, retirado do artigo “Análise da publicidade de medicamentos veiculada em Goiás – Brasil”, de Johnathan S. de Freitas et alii:

A propaganda/publicidade é um conjunto de técnicas utilizadas com o objetivo de divulgar conhecimentos e/ou promover adesão a princí-pios, ideias ou teorias, visando exercer influên-cia sobre o público através de ações que objeti-vem promover determinado medicamento com fins comerciais (BRASIL, 2000). Quando tais téc-nicas são utilizadas apenas com a finalidade de ampliar lucros em detrimento da qualidade da informação veiculada, ocultando ou diminuin-do os aspectos negativos e superestimando os benefícios do produto medicamentoso, surgem questões de cunho ético, uma vez que, podem promover o uso irracional de medicamentos e,

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consequentemente, danos à saúde e à economia. [...]Existem diversos casos em que a propaganda e publicidade de medicamentos têm apresenta-do estes produtos como soluções rápidas para diversos problemas de saúde que acometem a população, sem levar em consideração o risco sanitário intrínseco que todo produto medica-mentoso possui.Para evitar a repetição desnecessária de pala-

vras, o autor usou expressões como “produto medicamentoso” e simplesmente “produto” para se referir a medicamento, garan-

tindo a coesão textual. Veja a seguir algumas es-tratégias para o bom uso de itens do léxico a fim de tornar seus textos mais coesos.

1.2.1. Uso de sinônimosEssa é a estratégia a que mais recorremos

enquanto escrevemos, embora nem sempre seja fácil encontrar um sinônimo. Dificilmente um par de sinônimos pode ser considerado perfeito, isto é, com um elemento podendo ser trocado pelo outro em qualquer contexto. Quando você leu o texto acima, deve ter se perguntado por que o autor não usou a palavra “remédio” para se referir a “medicamento”. Tal substituição não foi feita, pois, como acabamos de ver, esse não é um par de sinônimos perfeitos. Segundo o Grande Dicionário Português ou Tesouro da Lín-gua Portuguesa, de Domingos Vieira, “Remédio tem um sentido mais amplo que medicamento. O remédio compreende tudo o que é emprega-do para a cura de uma doença. [...] O exercício pode ser um remédio, porém nunca é um medi-camento”.

Assim, é preciso ter cuidado no uso de sinônimos, especialmente no texto acadêmico, do qual se espera grande precisão. No texto que estamos analisando, o autor preferiu utilizar “produtos medicamentosos” como sinônimo de “medicamentos”.

1.2.2. Uso de hiperônimosUm hiperônimo é uma palavra com sentido

mais genérico do que uma outra, chamada de hipôni-mo. O significado de um hiperônimo contém o signifi-cado de vários hipônimos ao mesmo tempo, como no caso de “produtos” (hiperônimo) e “medicamentos” (hipônimo), palavras retiradas do artigo aqui anali-sado. Ao se referir a “produtos”, o autor nos remete diretamente a “medicamentos”, único produto que

já havia sido citado. No entanto, se o texto também falasse de cosméticos, seria necessário buscar ou-tra forma de estabelecer coesão, pois “produtos” en-globa tanto “medicamentos” quanto “cosméticos”. Tal relação pode ser definida da seguinte forma:

Essa estratégia garante que o leitor recu-pere a relação entre as partes do texto sem que o autor precise repetir desnecessariamente pala-vras. Você deve tomar cuidado, porém, para não usar um hiperônimo vago demais, como “coisa”, por exemplo. Tal palavra poderia ser interpretada como se referindo a praticamente qualquer item mencionado no texto, gerando grave ambiguidade.

1.2.3. Uso de perífrasesA perífrase é uma construção complexa

para designar algo para o qual há uma expressão mais simples. No caso do texto analisado, o au-tor poderia ter empregado uma perífrase para re-meter a “medicamentos”, escrevendo, por exem-plo, “substâncias empregadas no tratamento de uma afecção ou de uma manifestação mórbida”. Para isso, o uso de dicionários e de boas fontes de consulta é imprescindível, de modo que você possa apresentar informações precisas.

A perífrase permite que você acrescente novos dados ao tópico sobre o qual você está escrevendo, como propusemos ao criar a perí-frase “substâncias empregadas no tratamento de uma afecção ou de uma manifestação mórbi-da”. Nesse caso, tal construção acrescentaria ao texto uma informação sobre a função do medi-camento.

O uso das perífrases pode ser útil para você reforçar seu ponto de vista ao longo de um texto dissertativo. Veja a seguir dois exemplos:

Exemplos:(a) Deve ser permitido o porte de armas

a civis, pois a sociedade está cada vez mais vio-lenta. É impensável a vida em uma grande socie-dade sem esses instrumentos que garantem a

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autodefesa do cidadão.(b) Apesar da crescente onda de violência

nas grandes capitais, deveria ser proibido a civis o porte de armas. É absurdo haver cidadãos co-muns portando esses instrumentos de ameaça à vida e à integridade física do outro.

Em (a), sendo o autor favorável ao porte de armas, valeu-se de uma perífrase (em negri-to) que reforça essa ideia, valorizando as vanta-gens trazidas por esses instrumentos. Por outro lado, como em (b) o autor é contrário ao porte de armas, utilizou uma perífrase que reafirma tal ponto de vista, destacando as consequências ne-gativas do uso desses objetos.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 4 Observe o trecho abaixo, retirado do ar-

tigo “Edifícios ecológicos”, de Francisco Maia Neto. Identifique, no texto, os itens lexicais que retomam a palavra em destaque, estabelecendo com ela coesão referencial:

Criticada mundialmente pela pouca preo-cupação com o meio ambiente, a China anun-ciou recentemente que está investindo em cons-truções ambientalmente responsáveis, tendo sido lançado seu primeiro edifício ecológico, com uma economia de até 70% de energia e 60% de água, o que lhe valeu uma certificação inter-nacional.

Concebida por profissionais americanos e chineses, esta construção destinada a escri-tórios constitui-se no primeiro edifício no país a receber o “LEED”, sigla em inglês de Liderança em Energia e Design Ambiental, que é um certi-ficado criado por um grupo de empresários da construção nos Estados Unidos, preocupados com a preservação do meio ambiente.

Para imaginarmos a dimensão da iniciati-va, foi feita uma projeção sobre o impacto que resultaria se esta tecnologia fosse aplicada em todos os edifícios comerciais na China. A econo-mia energética obtida anualmente seria equiva-lente à Usina Hidrelétrica de Três Gargantas, o

megaprojeto chinês do Rio Yangtse, com capa-cidade de 18.200 megawatts, que fará com que supere Itaipu, transformando-se na maior usina do mundo.

O projeto contempla iniciativas que come-çam pelo telhado, cujo terraço acumula 70% da água da chuva e filtra os agentes poluentes, utili-zando espécies naturais de Pequim, além de pai-néis solares, que fornecem 10% de toda a energia consumida no edifício.

2. Coesão sequencialPara que um texto seja coeso, não basta

evitar a repetição desnecessária de palavras, re-tomando, pelos mecanismos que vimos acima, termos que já haviam sido mencionados. É pre-ciso também estabelecer relações lógicas entre as ideias expressas, o que é especialmente im-portante em gêneros de escrita acadêmica.

Para estabelecer relações lógicas entre as ideias, utilizamos conectivos, como preposições e conjunções. Observe o trecho abaixo, retira-do do artigo “Mensuração da glicemia em cães mediante a utilização do glicosímetro portátil: comparação entre amostras de sangue capilar e venoso”, de G. A. S. Aleixo. Atente para os conec-tivos em negrito e sua função no encadeamento das ideias:

A glicose é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de energia, por isso é necessário manter sua concentração no sangue em equilíbrio (BUSH, 2004). Níveis gli-cêmicos alterados (elevação ou redução) trazem consequências negativas para o corpo e a manei-ra mais adequada de reduzir essas complicações é tentando manter o equilíbrio. Para isso se faz necessário realizar medições da glicemia (PICA et al., 2003).

As diferentes técnicas de monitoramento da glicose no sangue podem ser classificadas em laboratorial e portátil. A primeira opção é mais confiável, entretanto, por gerar maiores custos, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais (PICA et al., 2003). Outra des-vantagem observada é a necessidade de maiores volumes de sangue (três mililitros) para realizar o teste (GROSS et al., 2002).

Além disso, é preciso muito cuidado e agi-lidade ao manipular uma amostra que será sub-metida à dosagem de glicose no laboratório, pois o consumo desse carboidrato pelos eritrócitos no sangue ocorre na taxa de aproximadamente

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10% por hora em temperatura ambiente. Esse consumo pode ser ainda mais acelerado se a amostra estiver contaminada com microrganis-mos ou em ambientes quentes (COLES, 1984; KANEKO, 1997).

Logo na primeira frase, as duas principais ideias (o aproveitamento da glicose e a necessidade de manter sua concentração equilibrada são ligadas pelo conectivo “por isso”. A escolha dele estabelece entre essas ideias uma relação de conclusão, de modo que, em consequência do constante aproveitamento da glicose, seja necessário manter sua concentração no sangue em equilíbrio.

Observe agora o período: “A primeira op-ção é mais confiável, entretanto, por gerar maio-res custos, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais”. Nessa frase, há mais de um conectivo estabelecendo relações ló-gicas entre as ideias. A palavra “entretanto”, por exemplo, indica uma oposição, contrastando a confiabilidade (aspecto positivo) e a restrição (aspecto negativo) das técnicas laboratoriais de monitoramento da glicose. Já a palavra “por” in-dica um valor de causa, de modo que a geração de maiores custos é o motivo de restringir tais técnicas. Por fim, o conectivo “e” tem valor de adição, somando os locais a que se restringem as técnicas laboratoriais de monitoramento da glicose: clínicas e hospitais.

A seguir apresentamos as principais ideias que os conectivos podem acrescentar ao encadeamento da frase.

2.1. Relação de causa-consequênciaEssa é uma das relações mais comuns na

construção de um texto. É possível estabelecê-la por uma série de mecanismos diferentes. Como exemplo, vamos retomar uma frase do texto.

“A glicose é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de energia, por isso é necessário manter sua concentração no sangue em equilíbrio”.

Conforme você já viu, esse conectivo in-troduz uma ideia de consequência a algo que ha-via sido dito antes. Essa frase poderia também ter sido dita de outras formas. Veja:

Exemplos:(a) A glicose é constantemente aproveita-

da pelas células do corpo como fonte de energia, logo é necessário manter sua concentração no sangue em equilíbrio.

(b) A glicose é constantemente aproveita-da pelas células do corpo como fonte de energia, portanto é necessário manter sua concentração no sangue em equilíbrio.

(c) A glicose é constantemente aproveita-da pelas células do corpo como fonte de energia; é necessário, pois, manter sua concentração no sangue em equilíbrio.

(d) A glicose é constantemente aproveita-da pelas células do corpo como fonte de energia, de modo que é necessário manter sua concen-tração no sangue em equilíbrio

Observe que em (c) há uma construção pouco comum na fala cotidiana. Geralmente, a palavra “pois” é empregada para introduzir uma causa. Na frase que estamos analisando, no en-tanto, esse conectivo está introduzindo uma con-sequência. Para isso, deve ser posicionado após o verbo da oração em que se encontra.

Outros conectivos que expressam rela-ções de consequência (ou conclusão) são assim, então, por conseguinte, em vista disso.

Se você inverter a estrutura dessa frase, passando o conectivo para a outra oração, não haverá mais ideia de consequência, mas sim de causa. Na verdade, essas ideias estão intima-mente relacionadas. Observe:

(a) É necessário manter a concentração de glicose no sangue em equilíbrio, porque ela é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de energia.

(b) É necessário manter a concentração de glicose no sangue em equilíbrio, pois ela é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de energia.

(c) É necessário manter a concentração de glicose no sangue em equilíbrio, visto que ela é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de energia.

(d) É necessário manter a concentração de glicose no sangue em equilíbrio, já que ela é constantemente aproveitada pelas células do corpo como fonte de energia.

Observe que em (b) o emprego da palavra “pois” corresponde ao uso mais frequente na lín-gua. Nesse caso, para expressar ideia de causa, esse conectivo deve ser posicionado antes do verbo da oração em que se encontra.

Outros conectivos que expressam relações

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de causa são dado que, como, uma vez que, por-quanto, por, por causa de, em vista de, em vir-tude de, devido a, por motivo de, por razões de.

2.2. Relação de oposiçãoObserve a frase: “A primeira opção é mais confiável, en-

tretanto, por gerar maiores custos, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais”.

A palavra “entretanto” realça o contraste que há entre a confiabilidade e a restrição da “pri-meira opção”. Tal frase poderia ser reescrita de vá-rias outras formas, mantendo seu sentido básico.

Exemplos:(a) A primeira opção é mais confiável, mas,

por gerar maiores custos, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(b) A primeira opção é mais confiável, porém, por gerar maiores custos, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(c) A primeira opção é mais confiável, no entanto, por gerar maiores custos, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(d) A primeira opção é mais confiável, todavia, por gerar maiores custos, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(e) A primeira opção é mais confiável, contudo, por gerar maiores custos, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

Veja que, embora todos esses conectivos expressem basicamente a mesma ideia, têm um comportamento sintático diferente: à exceção de “mas”, todos os outros têm mobilidade na oração, podendo ser posicionados em diferentes locais da frase.

Exemplos:(b.1) A primeira opção é mais confiável;

por gerar maiores custos, porém, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(b.2) A primeira opção é mais confiável; por gerar maiores custos, seu uso fica restrito aos la-boratórios de análises clínicas e hospitais, porém.

Da mesma maneira que na seção referente às relações de causa-consequência, você tem a

opção de mudar o conectivo de oração para ex-pressar uma mesma oposição. No entanto, em-bora a relação entre as ideias continue sendo de oposição, a ênfase muda. Veja:

Exemplos:(a) A primeira opção é mais confiável, mas

seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(b) Embora a primeira opção seja mais confiável, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

O conectivo “mas” e seus equivalentes, vistos acima, introduzem a oração a que se quer dar ênfase. O conectivo “embora” e seus equiva-lentes, vistos a seguir, reduzem a importância do fato expresso pela oração que introduzem.

Veja agora construções equivalentes às de (b).

Exemplos:(b.1) Apesar de que a primeira opção seja

mais confiável, seu uso fica restrito aos laborató-rios de análises clínicas e hospitais.

(b.2) Mesmo que a primeira opção seja mais confiável, seu uso fica restrito aos laborató-rios de análises clínicas e hospitais.

(b.3) Ainda que a primeira opção seja mais confiável, seu uso fica restrito aos laborató-rios de análises clínicas e hospitais.

(b.4) Posto que a primeira opção seja mais confiável, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(b.5) Não obstante a confiabilidade da pri-meira opção, seu uso fica restrito aos laborató-rios de análises clínicas e hospitais.

(b.6) Malgrado a confiabilidade da primei-ra opção, seu uso fica restrito aos laboratórios de análises clínicas e hospitais.

(b.7) A despeito da confiabilidade da pri-meira opção, seu uso fica restrito aos laborató-rios de análises clínicas e hospitais.

2.3. Relação de condiçãoObserve a frase a seguir, retirada do artigo

que estamos analisando: “Esse consumo pode ser ainda mais acelerado se a amostra estiver contaminada com microrganismos ou em am-bientes quentes”.

Nesse caso, o conectivo “se” apresenta a contaminação da amostra como uma condição para a aceleração do consumo. Veja que, com algumas modificações nos tempos verbais, essa

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frase poderia ser escrita de outras maneiras.Exemplos:(a) Esse consumo pode ser ainda mais

acelerado caso a amostra esteja contaminada com microrganismos ou em ambientes quentes.

(b) Esse consumo pode ser ainda mais ace-lerado, desde que a amostra esteja contaminada com microrganismos ou em ambientes quentes.

(c) Esse consumo pode ser ainda mais ace-lerado, contanto que a amostra esteja contamina-da com microrganismos ou em ambientes quentes.

2.4. Relação de finalidadeObserve agora o seguinte trecho retirado

do texto: “Níveis glicêmicos alterados (elevação ou redução) trazem consequências negativas para o corpo e a maneira mais adequada de re-duzir essas complicações é tentando manter o equilíbrio. Para isso se faz necessário realizar medições da glicemia”.

Nesse contexto, o conectivo “para isso” estabelece que a manutenção do equilíbrio é a finalidade (ou objetivo) das medições da glice-mia. Veja, abaixo, como essas ideias poderiam ser reunidas em apenas uma frase, por meio de diferentes conectivos.

Exemplos:(a) Para que se mantenha o equilíbrio, faz-

-se necessário realizar medições da glicemia.(b) A fim de que se mantenha o equilíbrio,

faz-se necessário realizar medições da glicemia.(c) Com o objetivo de manter o equilíbrio,

faz-se necessário realizar medições da glicemia.(d) Com o intuito de manter o equilíbrio,

faz-se necessário realizar medições de glicemia.Observe, por fim, que há outras relações

lógicas que podem ser estabelecidas por conec-tivos, como adição, tempo, conformidade, com-paração, proporcionalidade etc.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 5Observe abaixo o trecho retirado do arti-

go “A dependência química”, de Júlio Cruz. Iden-tifique o valor semântico dos conectivos em des-taque e sugira outros que possam substituí-los, sem acarretar mudanças no significado básico:

A série de capítulos penosos protagoniza-da pelo ator global Fábio Assunção traz à baila mais uma vez a discussão da temática que mais tem afligido nossa sociedade nos últimos anos: a dependência química. Uma síndrome caracte-rizada pelo uso de substâncias psicoativas nas quais se incluem o álcool, a maconha, a cocaína e o crack, em troca das sensações de tranquilida-de e de prazer.

Avaliando a intermitente ampliação deste panorama, pode-se perceber quão complexa é a matéria e constatar que a dependência química já faz parte de nossas estatísticas mais nefastas, quando grifam o expressivo número de aciden-tes de trânsito e crimes que têm origem no uso das drogas.

Levar à sociedade um maior número de informações significará permitir compreender que a dependência química é uma doença e não uma opção de vida, e que essa doença gera consequências danosas ao indivíduo e às pes-soas que dele estão próximas. Faz-se relevante compreender que a doença não se inicia com a dependência química, pois, de antemão, o usuá-rio já se encontra doente existencialmente, indo procurar nas drogas a cura de suas feridas mais íntimas, fato reconhecido pela Organização Mun-dial de Saúde.

Por outro lado, a falta de transmissão de notícias precisas acaba gerando conceitos erra-dos, tanto sobre o usuário da droga quanto so-bre o mito que ela tem de solucionar problemas. Nesse sentido, saliente-se que os familiares do usuário são de fundamental importância para o aprendizado de quais atitudes se devem tomar perante tal problema, mesmo porque muitos dos dependentes químicos iniciam seu relacio-namento com drogas exatamente no lugar onde se suporia que estariam mais seguros: dentro de seus próprios lares.

Glossário

l Pronome – palavra que substitui ou acompanha nomes;

lNorma dita culta (ou norma-padrão) – variedade linguística de prestígio em uma co-munidade, sendo a forma consagrada em textos

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acadêmicos e jornalísticos;l Léxico – conjunto aberto de palavras

da língua, que abrange todos os substantivos, verbos e adjetivos, bem como alguns advérbios.

Respostas às atividades

Atividade 1 – Esta atividade pode ter mais de uma possibilidade de resposta, mas listam-se a seguir algumas das palavras/expressões que estabelecem coesão no resumo de Lúcia Helena Alvarez Leite: Ela, outros pensadores, nessa épo-ca, e não, vida futura/vida presente, e, o que, ele, ou, nesse contexto, dessa polêmica, isso...

Atividade 2l Este é o país onde moro/ Este é o país

em que moro.l Este é o país que se chama Brasil.l Não se sabe onde está o livro de que

dependo para fazer o trabalho. (Observe que as preposições – DE, no caso – são atraídas pelo pro-nome relativo)

l Perguntei-lhe o nome em que se baseou para tomar sua decisão. (Observe que as prepo-sições – EM, no caso – são atraídas pelo prono-me relativo)

Os Estados Unidos, cujos soldados alega-vam defender sua pátria, conduziram uma in-cursão destruidora no Iraque. (Observe que o pronome CUJO nunca é seguido por um artigo e geralmente indica uma relação de posse)

l O corpo humano é percorrido por um sistema circulatório, pelo qual são conduzidos os nutrientes às células. (Observe que as prepo-sições – POR, no caso – são atraídas pelo prono-me relativo)

l O verbo concorda com o sujeito, cujo núcleo não pode ser uma preposição.

l O Brasil foi descoberto pelos portugue-ses, em cujos navios foi transportado pau-brasil. (Observe que as preposições – EM, no caso – são atraídas pelo pronome relativo)

Atividade 3l Giddens descreve o surgimento da Teo-

ria da estruturação a partir do encontro de várias correntes teóricas com as quais foi se familiarizan-do nos anos 60, como o Marxismo. Pontua o seu princípio na continuidade da vida social, em que as estruturas dependem das ações dos indivíduos e só existem na medida em que as pessoas agem

no contexto a partir de seu referencial interno.Comentário: A que palavras/expressões se

referem os pronomes em destaque? O leitor fica confuso ao ter contato com essas frases, dado o caráter ambíguo delas. Não se sabe se o autor está falando do princípio das várias correntes te-óricas ou do Marxismo, nem se está falando sobre o referencial interno das pessoas ou do contexto.

l “As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”. Essa citação do poeta brasileiro Vinícius de Moraes revela-se não só politicamen-te incorreta, mas também caduca nos dias atuais. A atualidade enxerga a mulher sob uma nova perspectiva, não mais atrelada à sua constitui-ção física, como um objeto, mas voltada para aspectos como força de trabalho, produção inte-lectual e igualdade de direitos. Ela revela, assim, mudanças profundas em sua constituição.

Comentário: Novamente, trata-se de uma construção ambígua. A que palavra o pronome “ela” remete? A “atualidade” ou a “mulher”?

Atividade 4 – “primeiro edifício no país”, “construção”, “iniciativa”, “projeto” e “edifício”.

Atividade 5 l E – relação de adição, podendo ser rees-

crito o trecho com “além de”;l Quando – relação de tempo, podendo

ser reescrito o trecho com “no momento em que grifam” ou “ao grifarem”;

l E não – relação de oposição, podendo ser reescrito o trecho com “em vez de”;

l Pois – relação de causa (ou explicação), podendo ser reescrito o trecho com “visto que”, “já que”, “porque” etc.;

l Por outro lado – relação de oposição, podendo ser reescrito o trecho com “todavia”, “contudo”, “entretanto”, “no entanto” etc.;

l Tanto quanto – relação de adição, po-dendo ser reescrito o trecho com “não só sobre o usuário da droga, mas também sobre o mito”;

l Para – relação de finalidade, poden-do ser reescrito o trecho com “a fim de que se aprendam” ou “para que se aprendam”;

l Mesmo porque – relação de causa, po-dendo ser reescrito o trecho com “visto que”, “haja vista que”, “já que” etc.

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Unidade 3

Coerência textual

Apresentando a unidade

Nesta unidade, você estudará mecanis-mos que garantem que um texto faça sentido, os quais evitam ruídos na co-

municação entre as pessoas. Para escrever bem, além de ter boas ideias, é preciso apresentá-las de forma clara, de modo que não se contradigam e não estabeleçam relações ilógicas entre si.

Definindo os objetivos

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:1. compreender a noção de coerência textual e sua importância para uma boa legibilidade dos textos;2. identificar as principais estra-tégias textuais que asseguram coerência ao discurso;3. reconhecer e corrigir falhas textuais que com-prometam a coerência do discurso;4. identificar informações implícitas no discurso;5. produzir parágrafos e textos mais coerentes.

Conhecendo a coerência textual

Talvez você já tenha se deparado com alguma leitura que não com-preendeu muito bem. Isso pode ter acontecido por falta de familiaridade com o assunto do tex-to ou por desconhecimento de certas palavras e construções gramaticais nele encontradas. No entanto, a dificuldade para compreender o texto também pode ter sido causada por problemas na coerência das ideias que o constituem.

Coerência é uma palavra utilizada no co-tidiano com o sentido de “condição para que algo seja compreensível”. Quando lemos ou ouvimos informações confusas, dizemos que aquilo não faz sentido, pois está incoerente. Em um contexto mais técnico, coerência significa a condição para que um texto seja interpretado por um indivíduo em uma situação específica.

Assim, a coerência transforma uma sequ-ência de palavras em texto e não em um amon-toado desconexo de vocábulos. Essa sequência é entendida como texto quando o leitor é capaz de percebê-la como um todo com significado, que lhe comunica alguma ideia. Compare os exemplos abaixo para entender mais claramente a noção de coerência.

Exemplos:(a) Sapato. Água. Estudar. Todavia.(b) Vim. Vi. Venci.Enquanto em (a) o conjunto de palavras

não é capaz de veicular uma mensagem, não constituindo um texto, em (b), a mensagem é clara e coerente, embora o texto seja bastante curto e simples.

Um leitor só é capaz de conferir coerência a um texto, isto é, torná-lo coerente, quando leva em conta os contextos de produção e recepção, pois algumas leituras apenas fazem sentido se soubermos de antemão quando, onde, para quem e por quem o texto foi produzido. Dizer, hoje em dia, que a Terra é achatada e plana é absoluta-mente incoerente, pois não corresponde à rea-lidade, segundo nosso atual conhecimento de mundo. No entanto, na Idade Média, tal afirmati-va era interpretada como coerente, já que estava de acordo com o discurso científico da época.

De maneira semelhante, a frase “Navios brasileiros entravam portugueses na Baía da Guanabara” parece incoerente a um primeiro olhar, se pensarmos que o verbo nessa oração é “entrar”, referindo-se a uma ação passada. Po-rém, uma leitura mais atenta confere coerência a esse texto, percebendo que se trata do verbo “entravar”, indicando uma ação presente.

Agora que você entendeu o que é coerên-cia, precisa compreender quais são as estraté-gias que garantirão a seu texto essa qualidade. Na próxima seção, você encontrará algumas re-gras que devem ser obedecidas para se redigir um texto coerente.

Definindo as regras de coerência textual

1. Regra da repetição (ou regra da coe-rência sintática) – Ao longo da exposição das ideias, é preciso que as partes do texto se conec-tem entre si, de modo que cada nova informação remeta à antiga. Dessa forma, ao mesmo tempo em que avança em termos de conteúdo, o texto

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deve sempre explicitar a relação de cada nova informação com as anteriores, para que o leitor não se perca na leitura.

Observe como isso é feito no trecho abai-xo, retirado do artigo “A convergência dos aspec-tos de inclusão digital: experiência nos domínios de uma universidade”, de Barbara Coelho Neves. Atente, principalmente, para as palavras em des-taque:

“A Sociedade da Informação, formaliza-da nos inventos de uma série de máquinas in-teligentes criadas ao logo da Segunda Guerra Mundial, origina novas responsabilidades para todos os atores sociais nela inseridos. Tais res-ponsabilidades representam a necessidade da provisão do fluxo de informações que permita desde a geração de novos conhecimentos até o efetivo exercício da cidadania pela sociedade civil.

Várias iniciativas de instituições – mantidas com recursos de origem privada, pública ou mista de mecanis-mos nacionais e internacio-nais – têm contribuído com a criação de espaços que proporcionam tipos de acessos variados à informação eletrônica”.

No trecho acima, as frases estão bem re-lacionadas entre si, o que garante coerência ao texto. A expressão “tais responsabilidades” re-mete diretamente a “novas responsabilidades”, presente na frase anterior.

Além disso, a transição entre parágrafos também se dá de forma clara. Apesar de se dizer geralmente que mudamos de parágrafo quando encerramos um assunto, é preciso perceber que os parágrafos devem estar relacionados entre si, interligando esses tópicos distintos. No texto aqui analisado, a expressão “criação de espaços que proporcionam tipos de acessos variados à informação eletrônica” está intimamente ligada ao parágrafo anterior, pois funciona como uma solução para a “necessidade da provisão do flu-xo de informações que permita desde a geração de novos conhecimentos até o efetivo exercício da cidadania pela sociedade civil”.

2. Regra da progressão – Ao mesmo tem-po em que um texto precisa retomar, por meio de mecanismos coesivos, termos que já haviam sido mencionados, é preciso que haja renovação dos conteúdos, com progressão semântica. As-

sim, o texto avança na condução das ideias, não se tornando repetitivo.

Observe o mesmo trecho de “A convergên-cia dos aspectos de inclusão digital: experiência nos domínios de uma universidade”, agora aten-tando para a aplicação da regra da progressão:

“A Sociedade da Informação, formalizada nos inventos de uma série de máquinas inteli-gentes criadas ao logo da Segunda Guerra Mun-dial, origina novas responsabilidades para todos os atores sociais nela inseridos. Tais responsabi-lidades representam a necessidade da provisão do fluxo de informações que permita desde a geração de novos conhecimentos até o efetivo exercício da cidadania pela sociedade civil.

Várias iniciativas de instituições – man-tidas com recursos de origem privada, pública ou mista de mecanismos nacionais e interna-cionais – têm contribuído com a criação de es-paços que proporcionam tipos de acessos varia-dos a informação eletrônica”.

O primeiro parágrafo do trecho falava so-bre necessidades decorrentes do advento da so-ciedade da informação. O segundo reafirma tais necessidades, mas adiciona uma nova informa-ção: a contribuição de instituições para suprir tal demanda. Assim, o desenvolvimento do texto avança, ao mesmo tempo em que mantém liga-ções com ideias anteriores.

Você deve ter percebido que, na constru-ção de um texto coerente, combinam-se as re-gras da repetição e da progressão. Assim, deve haver um equilíbrio entre informações “velhas” (já conhecidas pelo leitor) e novas, sendo os dois grupos expostos de forma intercalada. Caso contrário, há problemas de comunicação: um texto com excesso de informações velhas tem baixa informatividade, não agregando conheci-mento ao leitor. Por outro lado, o excesso de in-formações desconhecidas pelo leitor pode obs-truir completamente a compreensão do texto. Note, no entanto, que as informações serão “ve-lhas” ou novas de acordo com o leitor, de modo que, ao escrever, você precisa ter bem definido a quem se destina seu texto, para poder selecio-nar e organizar bem as ideias.

Para que isso fique mais claro, atente para os exemplos abaixo, retirados de Koch e Trava-glia (2008, p. 86).

Exemplos:(a) O oceano é água.

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(b) O oceano é água. Mas ele se compõe, na verdade, de uma solução de gases e sais.

(c) O oceano não é água. Na verdade, ele é composto de uma solução de gases e sais.

A primeira frase deve ser evitada em um texto acadêmico, pois seu conteúdo é óbvio e nada acrescenta ao leitor, que se perguntará qual a intenção do autor ao escrever algo forma-do apenas por informações por ele já conheci-das. Por outro lado, mesmo que esteja correta, a terceira construção causará dúvidas no leitor, visto que provavelmente não há nela nenhu-ma informação por ele conhecida para situá-lo quanto ao enunciado. Ambas as frases em (c) veiculam ideias absolutamente novas, o que pre-judica a compreensão; se não conhecemos boas referências do autor, podemos até achar que se enganou enquanto escrevia.

Para um texto acadêmico, a melhor opção seria (b), pois há um equilíbrio entre informação “velha” (oceano formado por água) e nova (ocea-no formado por gases e sais). Sempre que tiver de escrever, tenha em mente a importância de balancear trechos com alta e baixa informativida-de, para que a leitura possa fluir com facilidade.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 1Leia atentamente o artigo abaixo, escrito

por Beto Albuquerque. Apesar de atender às nor-mas da gramática tradicional, o texto incorre em uma falha, pois desobedece às regras da progres-são e da repetição, segundo as quais uma parte do texto deve avançar em termos temáticos, mas sempre relacionando as informações novas ao que já havia sido dito. Identifique no artigo em questão o trecho em que o autor lança uma ideia inesperada ao leitor, mas sem explicá-la em mais detalhes ou contextualizá-la em relação ao senti-do global do texto.

Incrível: tem gente torcendo por mortes no trânsito [25/09/2008]

Ao completar três meses de vigência, a lei do álcool zero no trânsito (Lei 11.705/08) já pou-pou centenas de vidas no Brasil. Para continuar salvando vidas, a ação dos órgãos de trânsito nas três esferas de governo federal, estadual e municipal e a conscientização e mudança de ati-tude da população são imprescindíveis.

Desde sua entrada em vigor, a lei diminui a incidência de acidentes de trânsito, mesmo sob muita discussão. A lei é popular, positiva e eficaz mesmo sem campanhas permanentes. Imagine se o poder público fizer a sua parte! O que é la-mentável é assistir a alguns incautos torcendo pelas mortes no trânsito como forma de fazer valer o seu desejo de beber e dirigir.

O fato é que a perigosa mistura do álcool com a direção, que antes da lei era responsável por 60% das mortes e após a lei, por 40%, conti-nua muito presente. Um dos efeitos da nova lei é provocar uma mudança de atitude de todos nós no volante, de forma semelhante à aplicação das leis que tornaram obrigatório o uso do cinto de segurança e a obrigatoriedade do uso do capace-te pelos motociclistas.

Outro ponto a considerar é que, segun-do a Organização Mundial da Saúde, cada país terá o número de mortes no trânsito que estiver disposto a tolerar. A Lei nº 11.705/08 demonstra que a sociedade não está mais disposta a tole-rar tantas mortes evitáveis no trânsito. Mesmo quando há um efeito considerável na redução de acidentes devido à entrada em vigor de uma lei, esse efeito pode ser anulado após certo tempo, se houver percepção pública de impunidade e/ou desconhecimento da lei vigente.

[...]

3. Regra da não contradição (ou coerência semântica) – Um texto coerente não pode con-tradizer uma informação apresentada por ele anteriormente. Nesse aspecto, é importante to-mar cuidado quando você for apresentar visões opostas acerca de uma mesma questão, procedi-mento comum em textos acadêmicos. Para que essa contraposição de perspectivas não se torne paradoxal, é importante explicitar que se trata de diferentes visões sobre um mesmo tema, de-fendidas por pessoas distintas, e não posiciona-mentos contraditórios daquele que escreve.

Veja o parágrafo a seguir, retirado do artigo “Concepções de professores de enfermagem so-bre drogas”, de Gertrudes Teixeira Lopes e Haly-

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ne Limeira Pessanha. Nele, as visões do senso comum e de Moutinho (2005) são contrapostas por meio da expressão “quando, na realidade”, que explicita que esta visão é mais apropriada do que aquela, o que garante coerência ao texto, não o tornando contraditório.

Exemplo: “A forma como se aborda habitualmen-

te o tema traz a impressão de que se trata de algo novo, de um mal contemporâneo quando, na realidade, o uso de substâncias psicoativas é um fenômeno que acompanha toda a história da Humanidade (MOUTINHO, 2005). O mesmo pode ser dito sobre a busca do prazer e a necessidade da satisfação”.

Por outro lado, observe o parágrafo abai-xo, retirado do texto de um aluno, o qual infringiu a regra da não contradição enquanto escrevia.

Exemplo: O país tem uma política econômica con-

troversa: enquanto vende para o exterior seu melhor café, consumindo internamente um pro-duto de baixa qualidade, exporta tecnologia de mineração. Desse modo, enquanto fazendeiros do café enriquecem, a Vale do Rio Doce endivida--se com a aquisição de maquinário estrangeiro.

O trecho acima se contradiz ao afirmar pri-meiramente que o Brasil exporta tecnologia mine-radora e depois que a Vale do Rio Doce tem de im-portar maquinaria. Ambas as afirmações podem até ser verdadeiras, caso a Vale constitua uma exceção no panorama das empresas mineradoras brasileiras, mas tal fato precisaria ser claramente expresso no texto para garantir-lhe coerência.

4. Regra da relação – Um texto coerente deve apresentar o que se convencionou chamar de coerência externa, a adequação à realidade de que fala. Não deve, pois, fazer afirmações fal-sas sobre a realidade. Observe o exemplo abaixo de um texto que contraria o princípio da relação.

Exemplo: A utilização da tecnologia digital na educa-

ção como ferramenta para inclusão social é um excelente meio para levar o conhecimento e a informação disponível necessários para a forma-ção da inteligência.

Tal trecho não condiz com a realidade, pois afirma que a aquisição de determinados co-

nhecimentos é imprescindível para a formação da inteligência. Tal argumento, erroneamente, conduz à ideia de que sem acesso a um grupo específico de saberes não há inteligência. Pre-conceituosa, essa afirmação acarreta a generali-zação de que pessoas sem acesso a tais informa-ções não têm inteligência.

Ainda no que diz respeito à regra da re-lação, um autor deve se preocupar para não in-correr em um erro de acidente, incoerência que se origina de falsas generalizações, de modo que um fato particular a um ou mais indivíduos é es-tendido para toda a classe. Tal generalização, no entanto, não pode ser provada por argumentos lógicos. Observe os exemplos abaixo:

(a) Todos os cães são mamíferos.

(b) Nenhum mamífero põe ovos.

A primeira frase apresenta uma generali-zação sobre a classificação canina, que corres-ponde ao que diz a ciência. A segunda, no en-tanto, baseada em um conhecimento parcial, generaliza uma característica que pertence a quase todos os mamíferos, mas não a todos; afinal, ornitorrincos são mamíferos que põem ovos.

Para solucionar problemas como esse, é preciso lançar mão de certas expressões que re-lativizem afirmações tão generalizantes. Assim, o uso de a maioria de, boa parte de, uma parce-la ínfima de e de outras locuções mostra que o autor não recorre a falsas afirmativas universali-zantes para defender seu ponto de vista.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 2Os trechos a seguir foram retirados do livro

Curso de redação, de Antônio Suárez Abreu, cons-tando de uma seção de exemplos de incoerência textual, que figuram como estratégia de humor em O melhor do besteirol, de Petras (1995). Com base nos trechos abaixo, identifique qual regra de coerência foi desrespeitada, justificando sua resposta.

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a. “É realmente apropriado que nos reu-namos aqui hoje, para homenagear Abraham Lincoln, o homem que nasceu numa cabana de troncos que ele construiu com suas próprias mãos”. (Político, em um discurso, homenagean-do Lincoln)

b. “Damos cem por cento na primeira par-te do jogo e, se isso não for suficiente, na segun-da parte damos o resto”. (Yogi Berra, jogador norte-americano de beisebol, famoso por suas declarações esdrúxulas)

c. “Substituição de bateria: substitua a bateria velha por uma nova”. (Instrução em um manual elétrico)

d. “[...] este Conselho resolve: a) que uma nova cadeia seja construída; b) que a nova ca-deia seja construída com os materiais da velha cadeia; c) que a velha cadeia seja usada até que a nova esteja pronta”. (Resolução da Junta dos Conselheiros, Canto, Mississipi, 1800)

e. “Por que deveriam os irlandeses ficar de braços cruzados e mãos nos bolsos enquanto a Inglaterra pede ajuda?” (Sir Thomas Myles, falan-do em um comício em Dublin, em 1902, sobre a guerra dos Boeres)

f. “Quando um grande número de pessoas não consegue encontrar trabalho, o resultado é o desemprego”. (Calvin Coolidge, presidente ameri-cano em 1931)

g. “Acho que os senhores pensam que, em nossa diretoria, metade dos diretores trabalha e a outra metade nada faz. Na verdade, cavalheiros, acontece justamente o contrário”. (Diretor de em-presa, defendendo os membros de seu staff)

Identificando informações implícitas

Agora que você já conhece os princípios que tornam um texto coerente, precisa enten-der a importância de reconhecer informações implícitas em um texto, pois a incapacidade de percebê-las pode obstruir sua leitura.

Quando lemos, atentamos para uma série de informações que estão claramente expressas em determinadas escolhas de palavras, certas construções gramaticais etc. Essas informações ficam claras em uma primeira leitura, pois estão sendo explicitamente apresentadas ao leitor.

Por outro lado, um bom leitor não cons-trói sentidos a partir só das informações explí-citas, pois deve atentar também para uma se-gunda camada, mais profunda, de significação.

Essa segunda camada contém as informações implícitas, que não vêm claramente expressas em um texto, mas são necessárias para sua compreensão. Quando escreve, um autor deixa determinadas informações sugeridas nessa se-gunda camada, mas não claramente ditas, seja por brevidade, ironia ou mesmo necessidade de camuflar certos posicionamentos, como na épo-ca da ditadura militar.

Se um leitor é capaz de identificar e enten-der o que está implícito no texto, pode reconsti-tuir, em parte, a intenção do autor. Veja o exem-plo abaixo, retirado do editorial “Efeito prático”, da Gazeta do Povo:

Surge uma notícia capaz de devolver a fé aos que já tinham perdido as esperanças de ver a ética prevalecer na vida pública: a Advocacia--Geral da União espera reaver aos cofres do Es-tado R$ 110 milhões desviados, em todo o país, por meio de licitações irregulares e superfatura-mento na compra de unidades móveis de saú-de. [...] Os processos também têm o importante objetivo de afastar da vida pública aqueles que, comprovadamente, não seguem os princípios básicos da impessoalidade e da moralidade – essenciais quando se trata de atuar em nome de toda a socie-dade. Felizmente, já não se pode dizer que o Brasil varre toda a sujeira para debaixo do tapete. Investigações e processos cor-rem às mancheias. Falta-nos agora acabar com a pizza e extrair efeitos práti-cos da caça aos corruptos. A recuperação de R$ 110 milhões será um bom começo.

Observe que em momento algum do texto o autor fala explicitamente da história brasileira marcada pela corrupção impune. No entanto, tal ideia está implícita na frase “Felizmente, já não se pode dizer que o Brasil varre toda a sujeira para debaixo do tapete”. O emprego da palavra “já” sugere que não se pode mais falar dessa im-punidade no Brasil, mas que um dia isso já foi comum. Segundo o autor, hoje o Brasil não varre mais a sujeira para baixo do tapete, embora no passado a corrupção passasse despercebida, o que está implícito no texto. Assim, além de noti-ciar a recuperação dos R$ 110 milhões, o autor tem a intenção de criticar o passado de impuni-dade na corrupção.

No caso acima, apesar de a informação so-bre a antiga impunidade não estar explicitamen-

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te apresentada no texto, há uma “pista” (tam-bém chamada de marca linguística) deixada pelo autor, para que percebamos esse sentido. Trata-se, como vimos, da palavra “já”. Quando o leitor pode se basear em uma marca linguísti-ca para entender o que está implícito, chama-se essa informação implícita de pressuposto.

Por outro lado, há certas informações im-plícitas que não são sinalizadas por pistas no texto. Logo, o leitor deve, com seu conhecimento prévio, preencher as lacunas deixadas pelo au-tor, de modo a tornar clara a leitura. Nesse caso, chama-se a informação implícita de subentendido.

É impossível, quando se escreve um texto, explicar absolutamente tudo o que envolve as ideias expostas. Por motivos de concisão, sele-cionamos as informações principais e deixamos a cargo do leitor inferir as outras. Por exemplo, ao relatar o que fizemos durante o dia, não es-crevemos: “Primeiro pus o pé esquerdo no chão; depois o direito; depois o esquerdo; depois o direito. Depois calcei um pé de chinelo. Depois calcei o outro”. Seria impossível comunicar qual-quer coisa se os textos fossem tão detalhados.

Assim, é tarefa do leitor perceber e recons-truir mentalmente as informações auxiliares su-bentendidas, sem que o autor tenha de explicitá--las. Todavia, quem escreve tem de se preocupar se o leitor tem conhecimento suficiente para preencher sozinho os subentendidos. Veja que um livro de matemática para a graduação não ex-plica aos alunos como se multiplicam números, mesmo que isso seja um conhecimento necessá-rio para resolver determinada atividade propos-ta pelo livro, como, por exemplo, uma equação. Em vez disso, o autor assume que os alunos sa-bem multiplicar sem ajuda e não esmiúça esse procedimento.

Todavia, se uma professora do Ensino Fundamental não relembra aos alunos como se faz uma multiplicação, muitos não conseguem resolver uma equação. Perceba, assim, a neces-sidade de avaliar se determinada informação deve estar implícita ou explícita no texto. Na escrita acadêmica, geralmente escrevemos para pessoas conhecedoras – pelo menos em termos gerais – do assunto de que trata nosso texto. As-sim, por exemplo, em um artigo sobre Literatura, um aluno universitário não precisa afirmar que Machado de Assis é um autor brasileiro. Muito provavelmente, o leitor já sabe disso.

Observe agora o uso de subentendidos na

construção do trecho abaixo, retirado do artigo “Europa diverge sobre combate ao aquecimento global”:

Os líderes europeus se reúnem nesta quin-ta-feira em Bruxelas profundamente divididos so-bre como cumprir suas promessas de combate ao aquecimento global. Mesmo assim, eles não admi-tem a hipótese de fracasso do acordo.

A União Europeia está dividida entre os países mais pobres do leste e os mais ricos da parte ocidental do continente. Apesar das di-vergências, até o fim de semana os presidentes e primeiros-ministros precisam tomar decisões--chave para a elaboração de um pacote de leis sobre alterações climáticas que valerá para os 27 países-membros.

De um lado, estão Polônia, que ameaça ve-tar o pacote; Alemanha, que  não quer que sua indústria pague para poluir; e a Itália, que consi-dera o plano ambicioso demais. De outro, a Grã--Bretanha diz que o pacote acabará resultando em ganhos para as empresas.

Ao ler o texto, você provavelmente não se deu conta, mas, caso não soubesse previamen-te que Polônia, Alemanha, Itália e Grã-Bretanha são países europeus, esse trecho não teria feito qualquer sentido para você. Talvez tivesse até achado que os posicionamentos desses países fossem reações da comunidade internacional (fora da Europa) à reunião da União Europeia. Assim, perceba a importância de compreender bem o que está subentendido para ser um leitor eficiente. Às vezes, o subentendido é facilmente recuperável. Caso contrário, na hipótese de o lei-tor não ter conhecimento prévio suficiente para entender o que está implícito, é melhor o autor explicitar suas ideias.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 3Os tempos verbais são uma espécie de

marca linguística que funciona como “pista” para o leitor, apontando para determinadas in-formações implícitas no texto. A partir dos ver-

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bos destacados em negrito, identifique que pres-supostos seus tempos verbais sugerem.

a.

Manutenção com foco no negócioJoubert Flores

Não faz muito tempo, quando se falava de manutenção em indústrias, a ideia que se forma-va na mente das pessoas era a do conserto de algo, de reparo de alguma falha e, não raro, en-volvia interrupção da produção e a utilização de prestadores de serviços. Era algo que se fazia reativamente, ou seja, depois de os problemas te-rem surgido. Prevenção era uma expressão pou-co ouvida em fábricas e manufaturas em geral.

[...]

b.

Boa Sorte, Congresso Brasileiro de Medicamentos

Jávier Godinho

Um dia alguém escreverá, com honesti-dade e detalhes, a história da indústria de me-dicamentos no Brasil. Sendo verdadeiro e cri-terioso, com certeza, nela incluirá o nome de Benedito Vicente Ferreira, o Benedito Boa Sor-te, o goiano que, durante todo seu mandato de senador, com unhas e dentes, defendeu no Con-gresso, contra o apetite insaciável das multina-cionais, os então oprimidos, débeis, incipientes e desprotegidos laboratórios nacionais.

[...]

Respostas às atividades

l Atividade 1 – Ao afirmar que há “al-guns incautos torcendo pelas mortes no trân-sito como forma de fazer valer o seu desejo de beber e dirigir”, o autor não desenvolve essa ideia nem explica como tal desejo seria satisfei-to, em comparação a todo o texto, que se refere aos benefícios trazidos pela “Lei Seca”.

lAtividade 2 a. A regra da relação é desrespeitada, pois

é impossível no mundo real alguém ter construí-do a casa em que nasceu.

b. A regra da não contradição é desrespei-tada, pois já ter feito 100 % de alguma coisa e ainda ter mais a fazer são ideias contraditórias.

c. A regra da progressão é desrespeitada, pois a mesma informação é repetida duas vezes, sem acréscimo de informação nova.

d. A regra da relação é desrespeitada, pois é impossível respeitar concomitantemente os dois últimos comandos da resolução do Conselho.

e. A regra da não contradição é desrespei-tada, pois é impossível cruzar os braços com as mãos no bolso ao mesmo tempo. Uma ideia ex-clui a outra automaticamente.

f. A regra da progressão foi desrespeitada, pois a mesma informação é afirmada duas vezes, sem acréscimo de dados relevantes.

g. A regra da progressão é desrespeitada, pois “justamente o contrário” daria no mesmo que a informação anteriormente mencionada.

lAtividade 3a. O uso recorrente de verbos no pretérito

imperfeito, tempo verbal que, nesse caso, indica ações passadas rotineiras que não mais ocor-rem no presente, sugere uma mudança. Assim, no passado raramente havia preocupação com a manutenção em indústrias. Embora o trecho analisado não explicite, pelo uso do pretérito imperfeito percebe-se que houve uma mudança nessa situação. Logo, há o pressuposto de que a preocupação com a manutenção em indústrias é hoje frequente.

b. O uso dos verbos no futuro do presente sugere nesse texto que, até então, a história da indústria de medicamentos nunca foi contada.

Glossário

lInformatividade – qualidade do que se destina a informar ou explicar algo; geralmente se caracteriza por clareza, objetividade e rele-vância daquilo que se fala.

lMarca linguística – uma marca linguís-tica é qualquer estrutura gramatical ou palavra usada por um autor na composição do texto. São essas marcas que permitem que o leitor com--preenda o sentido do texto.

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Referências

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Unidade 4

Argumentação

Apresentando a unidade

Nesta unidade, apresentamos e ilustramos o modo textual argumentativo, com que você já teve contato inicial na primeira

unidade. Argumentar é uma competência mui-to importante na hora de discutir ideias, pois o exercício do debate permite que novas perspec-tivas sejam conhecidas e ocorra um saudável intercâmbio de informações.

Definindo os objetivos

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:1. compreender o fenômeno da argumentação e os diversos tipos de argu-mentos que há;2. identificar em um texto os argumentos utilizados pelo autor para sustentar seu pon-to de vista;3. redigir parágrafos argumentativos consistentes.

Conhecendo o modo de organização textual argumentativo

Como você viu brevemente na primeira unida-de deste manual, um texto pode ser composto por mais de um modo de organização textual.

Assim, diversos gêneros abrangem a ar-gumentação, pois é muito frequente, quando es-crevemos, precisarmos justificar determinadas colocações e posicionamentos.

A argumentação é um modo de organiza-ção textual que visa à defesa de pontos de vista, por meio da apresentação de provas, exemplos, refutações de opiniões opostas etc. Mesmo fora do domínio acadêmico, estamos o tempo todo argumentando, quando queremos explicar por que preferimos um time, por que tomamos de-terminada atitude, por que deixamos de fazer algo. Argumentar é explicitar o porquê de algo. Porém, antes de analisarmos detidamente a ar-

gumentação, vamos retomar o que a distingue da exposição.

No modo de organização expositivo, os tex-tos são predominantemente informativos, levando o leitor a conhecer algo. É o que se observa no tex-to a seguir:

Pena de morte

A pena de morte é um tipo de punição apli-cado pelo Estado em casos de crimes hediondos. É a punição máxima que um criminoso recebe, sendo utilizada em mais de cinquenta países. As execuções mais utilizadas são:

Lapidação ou Apedrejamento: Forma de execução bastante antiga e ainda utilizada em países como Afeganistão, Nigéria, Irã, Arábia Saudita, Paquistão e Sudão. Consiste em enter-rar a vítima até a altura do peito e atacá-la com pedras pequenas até a morte.

Fuzilamento: Forma de execução bastante usada em guerras, sendo utilizada na China, So-mália, Vietnam, Bielorrússia, Taiwan e Uzbequis-tão. Consiste em disparar várias armas de fogo contra o condenado de uma só vez.

Cadeira Elétrica: Forma de execução in-ventada pelos Estados Unidos ainda utilizada na Flórida, Alabama, Carolina do Sul, Nebraska, Virgínia e Tennessee. Consiste em sentar e amar-rar o condenado na cadeira, molhá-lo com uma solução condutora e aplicar choques de 20.000 watts até a morte.

Forca: Forma de execução bastante antiga e ainda utilizada no Iraque, Japão, Egito, Paquis-tão, Cingapura e Jordânia. Consiste em colocar uma corda num poste de madeira e em seguida amarrá-la ao pescoço do criminoso. O mesmo é colocado em pé sobre uma cadeira que é retirada, fazendo com que o condenado morra por asfixia.

Injeção Letal: Forma de execução mais rá-pida utilizada nos Estados Unidos, Japão, Guate-mala, Tailândia e Filipinas. Consiste em aplicar uma grande quantidade de substâncias químicas que anestesiam levemente o condenado e parali-sam o diafragma, os pulmões e o coração.

Você acabou de ler um trecho do artigo “Pena de morte”, de Gabriela Cabral. O texto acima é claramente expositivo, pois tem como objetivo informar o leitor sobre um assunto. No texto que estamos analisando, o tema central é a pena de morte. Assim, observe que o parágrafo de introdução apresentou uma definição, embo-

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ra simplificada, do que é pena de morte. Nesse sentido, é importante chamar a atenção para o fato de que a maneira de construir o texto preci-sa levar em conta quem vai lê-lo. O texto acima foi retirado de um site voltado para alunos da Educação Básica, logo não seria interessante uti-lizar uma definição técnica e complexa de pena de morte.

Além disso, como esse é um texto expositi-vo, é preciso perceber que, ao passar as informa-ções, o autor tenta se manter o mais imparcial pos-sível. Veja que, ao longo do texto, a organização das ideias enumera de forma isenta algumas das mais conhecidas técnicas de execução, sem envol-vimento pessoal do autor com aquilo que escreve.

Já no modo argumentativo, você procu-ra convencer, muito mais do que informar, por meio de argumentos consistentes e lógicos. É o que se observa no texto a seguir, intitulado “Vio-lência e impunidade andam juntas”, de Maurício Forneck. Atente para as diferenças principais en-tre ambos os textos:

Violência e impunidade andam juntas

Há muito tempo, es-tudiosos, políticos e inte-lectuais brasileiros tentam buscar respostas para as causas da crescente e in-terminável onda de violência que assusta nosso país. Por mais que soluções sejam discutidas, por mais que medidas sejam tomadas e por mais interesse que haja na população em mudar tal quadro, nada parece surtir efeito. A cada minuto somos “brindados” com uma nova notícia de es-tupro, homicídio ou sequestro. A principal cau-sadora desse estado de descontrole tem apenas um nome: impunidade.

O que realmente intimida um criminoso é a certeza do castigo que sofreria pelo seu ato. O indivíduo pratica o crime pois sabe, de ante-mão, que a probabilidade de ser preso é peque-na. Logo, o nascimento de um crime reside na deficiência das autoridades que o deviam coibir. Uma polícia despreparada e corrupta é um in-centivo às mentes mal-intencionadas.

Some-se a isso a morosidade e a compla-cência com o crime de nosso sistema penal. Um réu, além de poder levar anos até ser julgado, en-contra atalhos e falhas em uma legislação confu-sa, de um ordenamento jurídico despadronizado

e complexo. Há sempre algum caminho obscu-ro na lei que justifica a impunidade de pessoas comprovadamente culpadas. Paulo Maluf passou apenas um mês na prisão, o juiz Nicolau passa os dias em sua mansão, os irmãos Cravinho e Suzane Richthofen estão de volta às ruas... Esta é a ima-gem que a justiça brasileira passa à população.

Radicalizar, porém, não é a solução. Muitos defendem a pena de morte e a prisão perpétua no Brasil. Não é o caminho. Enquanto não esti-ver presente uma estrutura confiável e eficiente, que dê garantias ao cidadão de bem do cumpri-mento correto de sua função, não será a maior ou menor rigidez de uma outra lei que intimidará a ação dos que sabem que não serão atingidos.

Crimes e criminosos existem e existirão em todas as partes do mundo. A resposta das so-ciedades às suas agressões é que dá a dimensão de sua seriedade e o exemplo aos que pensam em agir de forma semelhante.

Esse texto, diferente do anterior, pode ser considerado predominantemente argumentati-vo, pois, por meio dele, o autor defende um posi-cionamento pessoal diante do tema discutido: a relação entre violência e impunidade.

Em um texto argumentativo, o autor visa a provar/negar determinado ponto de vista, cha-mado, em um contexto mais técnico, de tese. Assim, diferente da exposição, a argumentação pressupõe envolvimento do autor, que deve lan-çar mão de diferentes argumentos para susten-tar seu posicionamento. Isso faz com que o texto argumentativo seja sempre parcial, pois o autor visa a convencer o leitor acerca de algo.

Em “Violência e impunidade andam jun-tas”, o primeiro parágrafo do texto já apresenta a tese que será defendida, expressa na seguinte frase: “A principal causadora desse estado de descontrole tem apenas um nome: impunidade.” As frases que antecedem essa servem para situar a tese no contexto maior sobre o qual fala o texto: a violência. Desse modo, as primeiras frases do texto descrevem brevemente o panorama malsu-cedido das discussões anteriores sobre violência, enquanto o último período do parágrafo introdu-tório revela o ponto de vista do autor, segundo o qual a violência é resultado da impunidade.

Veja que, ao escrever seu texto argumen-tativo, você deve, logo de início, apresentar ao leitor que posicionamento defenderá ao longo da argumentação, de modo a tornar claro o seu objetivo ao redigir o texto. Isso é importante

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para situar a pessoa que lerá seu texto e para que você mesmo não se perca ao longo da es-crita, evitando se desviar do tópico central ou mesmo cair em contradição.

Agora observe os argumentos emprega-dos pelo autor para defender seu ponto de vista.

A primeira frase do segundo parágrafo sintetiza a argumentação nele contida: “O que realmente intimida um criminoso é a certeza do castigo que sofreria pelo seu ato”. Veja que a fra-se apresenta o tópico do parágrafo, como uma pequena introdução. Assim, o autor do texto que estamos analisando desenvolve no segundo pa-rágrafo o argumento de que um criminoso só se sente intimidado pela certeza do castigo. Obser-ve que tal afirmação respalda a tese defendida pelo autor, de que a impunidade é a principal causa da violência no país.

O terceiro parágrafo, para apresentar outro argumento que justifique o ponto de vis-ta exposto no texto, inicia-se com a expressão “some-se a isso”. Tal construção expressa ideia de adição entre as informações de ambos os parágrafos, de modo que o argumento que o terceiro parágrafo apresenta auxilie o segundo para sustentar a tese. O tópico frasal novamente sintetiza o argumento desenvolvido no terceiro parágrafo: a morosidade e a complacência com o crime de nosso sistema penal. Tais fatores tam-bém reforçam o papel central da impunidade na manutenção da violência no Brasil.

O quarto parágrafo, por outro lado, apre-senta uma ressalva, modalizando o discurso. Ao afirmar que “radicalizar, porém, não é a so-lução”, o autor expressa seu posicionamento de que, apesar de a impunidade ser nociva, não adianta radicalizar as medidas punitivas. Veja que, para introduzir tal ressalva ao que foi dito ao longo do texto, foi utilizado o conectivo po-rém, de valor opositivo.

Por fim, no último parágrafo do texto, o autor concluiu seu posicionamento perante o tema, reafirmando a tese ao dizer que “a respos-ta das sociedades às suas agressões é que dá a dimensão de sua seriedade e o exemplo aos que pensam em agir de forma semelhante”. Quando você escrever seus textos argumentativos, não deixe de, na conclusão, reafirmar o posiciona-mento defendido ao longo do texto. Assim, intro-dução e conclusão apresentam um paralelo, que garante ao texto unidade e progressão.

O modo de organização textual argumen-

tativo está presente na maior parte das situa-ções cotidianas de comunicação, mas, no meio acadêmico, ele se concentra primordialmente nos gêneros texto de opinião e ensaio.

Texto de opinião é um termo bem gené-rico que abrange produções textuais voltadas à defesa de um ponto de vista. Geralmente es-ses textos não empregam a primeira pessoa do singular, preferindo-se formas mais impessoais. Assim, em vez de “defendo”, dá-se preferência a construções como “defendemos”, “defende-se” ou “é defendido”. A extensão do texto é variá-vel, mas o aprofundamento da argumentação é bem menor do que em um ensaio, podendo ca-ber as reflexões em uma ou duas laudas. Grosso modo, pode-se dizer que um texto de opinião tem estrutura parecida com suas redações disserta-tivo-argumentativas do Ensino Médio, embora se espere maior capacidade de argumentação e abstração de um aluno universitário.

O ensaio é um texto de mais fôlego, exigin-do reflexões mais maduras, profundas e pesquisa sobre determinado tema, para que a argumenta-ção leve em consideração estudos e posiciona-mentos de especialistas a cerca da questão dis-cutida. Dessa forma, o ensaio é um texto longo, podendo ser inclusive dividido em subseções para facilitar a organização das ideias.

Basicamente, o ensaio deve conter ele-mentos pré-textuais (resumo/abstract), pelo me-nos três seções na parte textual, a serem nomea-das com subtítulo (introdução, desenvolvimento e conclusão) e elementos pós-textuais (referên-cias bibliográficas e, caso necessário, anexos).

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 1 Observe o texto a seguir, retirado do jor-

nal O Globo, de 5/11/08. Como editorial, trata-se de um texto predominantemente argumentativo, apresentando as características gerais que estu-damos até agora nesta lição. Identifique, no tex-to: a) o tema; b) a tese defendida pelo autor; e c) os argumentos que ele emprega para justificar

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seu posicionamento. Proceda da mesma forma que na análise do texto “Violência e impunidade andam juntas”:Dificilmente a Câmara dos Deputados conseguirá aprovar a curto prazo a Lei de Biossegurança que precisa votar por ter sido modificada no Senado. É muito longa a pauta de projetos à espera de apreciação: além de outras importantes leis, há projetos de emendas constitucionais e uma série de medidas provisórias, que trancam a pauta.

Mas, com tudo isso, é importante que os deputados tenham consciência da necessidade de conceder aos cientistas brasileiros, o mais rapidamente possível, a liberdade de que eles necessitam para desenvolver pesquisas na área das células-tronco embrionárias.

Embora seja este um novo campo de in-vestigação, já está fazendo surgir aplicações prá-ticas concretas, que demonstram seu potencial curativo fantasticamente promissor.

Não é por outro motivo que os eleitores da Califórnia aprovaram a emenda 71, que destina US$ 3 bilhões às pesquisas com células-tronco, causa defendida com veemência por seu go-vernador, o mais do que conservador Arnold Schwarzenegger.

O caso chama a atenção porque o ex-ator, ao contrário de outros republicanos (como Ron Reagan, cujo pai sofria do mal de Alzheimer), não tem interesse pessoal no desenvolvimento de tratamentos médicos para doenças degenera-tivas hoje incuráveis.

Apenas o convívio com pessoas como o recentemente falecido Christopher Reeve, que ficou tetraplégico após um acidente, ou Michael J. Fox, que sofre do mal de Parkinson, parece ter sido suficiente para convencer Schwarzenegger de que é fundamental apoiar a pesquisa.

O projeto que retornou do Senado ainda inclui graves restrições à ciência, como a limita-ção das pesquisas às células de embriões con-gelados há pelo menos três anos nas clínicas de fertilização — embriões descartados que, com qualquer tempo de congelamento, vão acabar no lixo.

Também algum dia será preciso admitir a clonagem com fins terapêuticos, hoje vedada, e que é particularmente promissora.

Ainda assim, comparado com o projeto proibitivo que veio originalmente da Câmara, o novo texto da Lei de Biossegurança é um impor-tante passo à frente. Merece ser apreciado com

rapidez e aprovado pelos de-putados.

Conhecendo os méto-dos de raciocínio

Agora que você já conhece a estrutura geral do texto argumentativo, precisa aprimorar sua capa-cidade de argumentar, isto é, construir justificati-vas consistentes e lógicas que sustentem sua tese. Para isso, vamos estudar os principais métodos de raciocínio empregados na formulação de argu-mentos, a saber: o raciocínio indutivo e o raciocí-nio dedutivo.

A palavra “método” significa um conjunto de procedimentos que conduzem a um determi-nado objetivo. No texto argumentativo, esses métodos conduzem à formulação de justifica-tivas sólidas que embasam a tese, por meio de operações lógicas. Veja a seguir os principais métodos de raciocínio que você pode empregar na construção de seu texto.

1. Método indutivo – Esse método parte de afirmações particulares para chegar a uma conclusão maior, de cunho geral. No entanto, como você viu na lição sobre coerência, deve ter cuidado para não criar uma generalização falsa. Assim, ao selecionar os fatos em relação aos quais você vai traçar uma lei universal, tome cuidado para não afirmar algo que não se aplica a todos os casos.

Veja agora como o método indutivo pode ser usado na formulação de argumentos, observando o trecho abaixo, retirado de um texto de Salvatore Santagada:

O filme Central do Brasil, de Walter Salles, tem como protagonista a professora aposentada Dora, que ganha um dinheiro extra escrevendo cartas para analfabetos na Central do Brasil, esta-ção ferroviária do Rio de Janeiro. Outra persona-gem é o menino Josué, filho de Ana, que contrata os serviços de Dora para escrever cartas passio-nais para seu ex-marido, pai de Josué. Logo após ter contratado a tarefa, Ana morre atropelada. Jo-sué, sem ninguém a recorrer na megalópole sem rosto, sob o jugo do estado mínimo (sem proteção social), vê em Dora a única pessoa que poderá le-vá-lo até seu pai, no interior do sertão nordestino.

[...]No filme, a grande questão do analfabetis-

mo está acoplada a outro desafio, que é a questão

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nordestina, ou seja, o atraso econômico e social da região. Não basta combater o analfabetismo, que, por si só, necessitaria dos esforços de, no mínimo, uma geração de brasileiros para ser de-belado, pois, em 1996, o analfabetismo da popu-lação de 15 anos e mais, no Brasil, era de 13,03%, representando um total de 13,9 milhões de pes-soas. Segundo a UNESCO, o Brasil chegaria ao ano 2000 em sétimo lugar entre os países com maior número de analfabetos.

No Brasil, carecemos de políticas públicas que atendam, de forma igualitária, a população, em especial aquelas voltadas para as crianças, os idosos e as mulheres. A permanência da ques-tão nordestina é um exemplo constante das nos-sas desigualdades, do desprezo à vida e da falta de políticas públicas que atendam aos anseios mínimos do povo trabalhador. Não saber ler nem escrever, no Brasil, é um elemento a mais na de-sagregação dos indivíduos que serão párias per-manentes em uma sociedade que se diz moderna e globalizada, mas que é debilitada naquilo que é mais premente ao povo: alimentação, trabalho, saúde e educação. Sem essas condições básicas, praticamente se nega o direito à cidadania da ampla maioria da população brasileira.

Os ensinamentos que podemos tirar de Central do Brasil são que devemos atacar a ques-tão social de várias frentes, em especial na edu-cação de todos os brasileiros, jovens e velhos; lutar por políticas públicas de qualidade que di-recionem os investimentos para promover uma desconcentração regional e pessoal da renda no país, propugnando por um novo modelo econô-mico e social.

Esse é um texto predominantemente ar-gumentativo sobre a questão do analfabetismo, embora sua introdução tenha sido dedicada à descrição do filme Central do Brasil. Longe de constituir um desvio em relação ao tema, essa breve sinopse do roteiro, acompanhada por rápi-da apresentação das personagens, desempenha papel importante na construção da argumenta-ção do texto.

Ao chamar a atenção para um caso espe-cífico, mesmo que fictício, de problemas sociais atrelados ao analfabetismo, o autor apresenta um exemplo claro e particular de uma ideia mais geral, que apresenta no último parágrafo, como conclusão do texto: “Os ensinamentos que po-demos tirar de Central do Brasil são que deve-mos atacar a questão social de várias frentes,

em especial na educação de todos os brasilei-ros, jovens e velhos; lutar por políticas públicas de qualidade que direcionem os investimentos para promover uma desconcentração regional e pessoal da renda no país, propugnando por um novo modelo econômico e social”.

Assim, a referência ao filme é apresentada como um argumento de natureza mais específica, com vistas a traçar, na conclusão, uma generali-zação em relação ao que foi dito sobre a questão do analfabetismo na obra de Walter Salles. Assim, o autor do texto estendeu aos demais casos de analfabetismo o que Central do Brasil apresenta em um contexto mais específico. Salvatore Santa-gada empregou, pois, o método indutivo em sua argumentação, pois partiu do particular (caso de analfabetismo em Central do Brasil) para o geral (analfabetismo em geral).

2. Método dedutivo – Esse método parte de uma afirmação mais geral para chegar a con-clusões mais específicas, aplicando essa regra mais genérica a casos particulares. Esse método tem a vantagem de que, caso a afirmação geral esteja correta, as conclusões estarão corretas.

Veja agora como o método dedutivo pode ser empregado na condução da argumentação, observando o trecho abaixo, retirado do artigo “Direito de morrer ou direito à dignidade?”, de Daniele Carvalho:

No início da semana, uma menina inglesa, de apenas 13 anos, foi notícia no mundo. Han-nah Jones teve leucemia e os fortes remédios ingeridos desde os 5 anos de idade enfraquece-ram seu coração. Hannah precisaria passar por uma cirurgia para tentar evitar a morte, mas teria poucas chances de sucesso. Além disso, se sobrevivesse, a adolescente teria que se sub-meter a cuidados médicos intensivos pelo resto da vida. Hannah optou por não fazer a cirurgia e disse que prefere morrer com dignidade. O hospital onde ela estava internada entrou com um processo na Justiça para obrigá-la a fazer a operação. Após ser examinada por uma assisten-te social, o hospital desistiu da causa, dando à menina o direito de morte e de voltar para casa.

No caso de uma criança ou adolescente, as doenças terminais ficam ainda mais comple-xas. De acordo com a legislação, os pais são res-ponsáveis legais dos seus filhos até completa-rem a maioridade, aos 18 anos, interferindo em qualquer tipo de atitude que possa influenciar

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suas vidas. Embora os pais de Hannah tenham apoiado sua decisão, foi a própria menina que fez a escolha. Segundo o bioeticista e chefe da Divisão Técnico-Científica do INCA, Dr. Carlos Henrique Debenedito, as crianças têm após os 8 anos um desenvolvimento cognitivo, ou seja, uma capacidade de ouvir e compreender. “A partir desta idade, são capazes de ter uma po-sição definida sobre qualquer assunto, mesmo que o raciocínio dependa de tirar dúvidas para esclarecer questões na mente. O grau de matu-ridade intelectual nessa idade permite uma de-cisão consciente e, no caso da menina britânica, acredito que tudo deve ter sido bem esclarecido para que ela pudesse resolver sua própria vida”.

Nesse trecho, a autora do artigo cita a fala do Dr. Carlos Henrique Debenedito, o qual apre-senta seu ponto de vista sobre o caso da menina Hannah Jones. Veja que, antes de o biocientista posicionar-se diante desse caso específico, seu raciocínio parte de uma afirmação mais ampla, que se refere a todas as crianças após os oito anos de idade: “A partir desta idade, são capazes de ter uma posição definida sobre qualquer as-sunto, mesmo que o raciocínio dependa de tirar dúvidas para esclarecer questões na mente. O grau de maturidade intelectual nessa idade per-mite uma decisão consciente”.

Só depois de fazer uma afirmação de na-tureza mais geral, o chefe da Divisão Técnico--Científica do INCA define seu posicionamento quanto à possibilidade de decisão de Hannah Jones: “no caso da menina britânica, acredito que tudo deve ter sido bem esclarecido para que ela pudesse resolver sua própria vida”. Isso mostra a aplicação de sua ideia mais geral – a capacidade de decisão das crianças com mais de oito anos – a uma situação particular: o caso de Hannah, a qual, segundo ele, tem capacidade cognitiva para tomar sua decisão.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 2Leia atentamente o texto abaixo, retirado

do editorial da Gazeta do Povo, e identifique o método de raciocínio (indutivo ou dedutivo) empregado pelo autor para chegar à conclusão de que os provões são necessários para garan-tir equilíbrio entre quantidade e qualidade no acesso à Educação Superior.

Provões necessários

O Ministério da Educação fez a coisa certa: cortou o número de vagas oferecidas por quatro cursos de medicina em três estados (Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro) porque não ofereciam condições de dar boa formação pro-fissional aos seus futuros alunos. As deficiências das instituições de ensino, todas particulares, foram constatadas por meio do Exame Nacional de Desempenho do Estudante (Enade): elas fa-zem parte de um grupo de 17 escolas classifica-das com as medíocres notas 1 e 2 no certame do ano passado. A decisão do MEC vai ao en-contro da indiscutível necessidade de promover o equilíbrio entre quantidade e qualidade. Se é importante proporcionar a chance para que mais estudantes ingressem no ensino superior, mais importante ainda é garantir-lhes ensino de padrão minimamente aceitável – princípio que deve valer não só para os que almejam a carreira médica, como foi o caso – como para os futuros engenheiros, professores, dentistas... Nesse sen-tido, a criação, no governo de Fernando Henri-que Cardoso, dos exames de desempenho das escolas brasileiras, de que níveis sejam, revela--se como um instrumento indispensável para a

melhoria geral da qualidade do ensino no país. Deve-riam ser mais respeitados pelos próprios estudantes, que tanto resistem aos “pro-

vões”.

Conhecendo os tipos de argumentos

Ora construída por indução ora por dedução, a argumentação é a parte central do texto ar-gumentativo. Apenas uma seleção e uma arti-culação inteligente de argumentos podem con-vencer alguém da relevância da tese defendida pelo autor. Assim, é fundamental que você baseie seu discurso em argumentos aceitáveis para o leitor, de modo que ele também se con-vença de sua tese, mesmo que não esteja ini-

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cialmente de acordo com ela.Para isso, você agora vai estudar os prin-

cipais tipos de argumentos, a fim de fazer uso de-les, da melhor forma possível, em seus próprios textos.

1. Argumentação por causa/consequênciaUma maneira eficaz de defender um ponto

de vista é explicar os motivos que levaram você a posicionar-se daquela forma. Esse é um dos ti-pos de argumentos mais frequentes e eficazes, visto que argumentar é, justamente, dizer os porquês que sustentam sua tese. Veja o trecho abaixo, retirado do artigo “Por um país da mala branca”, de Mauro Chaves:

Já que os valores morais da sociedade brasileira se encontram tão destroçados (pelo menos no momento), é preciso buscar novas for-mas de conter os distúrbios de nosso convívio humano e as ameaças à nossa já precária coesão social. E já que nossa sociedade se mostra tão avessa à punição pelo desrespeito à lei (pois a cada eleição perdoa tantos nas urnas), façamo-la, de vez, cumprir a lei apenas mediante incentivos.

O autor explicita nos seguintes trechos a tese que defende: “é preciso buscar novas for-mas de conter os distúrbios de nosso convívio humano e as ameaças à nossa já precária coesão social” e “façamo-la, de vez, cumprir a lei apenas mediante incentivos”. Segundo o autor, para tor-nar a lei mais eficiente, é preciso substituir prá-ticas punitivas por incentivos a quem cumpre os regulamentos.

Para sustentar essa tese, lança mão no mes-mo parágrafo de dois argumentos de valor causal: “os valores morais da sociedade brasileira se en-contram tão destroçados (pelo menos no momen-to)” e “nossa sociedade se mostra tão avessa à punição pelo desrespeito à lei (pois a cada eleição perdoa tantos nas urnas)”. Veja que ambos os argu-mentos expressam os motivos pelos quais o autor adota sua tese; logo, são introduzidos por um co-nectivo que expressa relação de causa (“já que”), como você viu na unidade sobre coesão textual.

Na hora de produzir seu próprio texto, tome cuidado para não expressar uma falsa re-lação de causa/consequência entre ideias que são apenas próximas, mas não desencadeadoras uma da outra.

2. Argumentação por exemplificaçãoUm exemplo traz força à argumentação,

ao mostrar casos reais em que a tese se prova

verdadeira. Nesse sentido, é importante sele-cionar exemplos fortes, preferencialmente de conhecimento geral ou surpreendentes. Um exemplo mal escolhido, ou pouco representati-vo, pode suscitar no leitor desconfiança.

Veja abaixo, em um trecho da reportagem “Afinal, nossas urnas eletrônicas são ou não totalmente seguras?”, de Sérgio Pires, como a exemplificação foi empregada para defender de-terminado ponto de vista:

Afinal, nossas urnas eletrônicas são ou não totalmente seguras?

Há anos o assunto é motivo de discussões. Nessa semana, de novo. O professor do Institu-to de Computação da Universidade de Campi-nas, Jorge Stolfi, disse em audiência na Câmara Federal que as urnas eletrônicas utilizadas nas eleições no Brasil não são seguras e permitem fraudes. E mais: que o sistema pode ter interfe-rências para beneficiar um ou outro candidato sem que a fraude seja detectada. Lembrou que vários países – Estados Unidos, Alemanha, Ho-landa e Inglaterra, entre outros – não utilizam as urnas eletrônicas como no Brasil porque já de-tectaram que elas não são imunes ao que cha-mou de “riscos incontornáveis” de fraude. Des-tacou que a única maneira de fazer com que o sistema seja totalmente seguro é adotar o voto impresso, como maneira complementar para a segurança da votação. O professor afirmou ain-da, contrariando técnicos dos TREs e do próprio TSE, que há sérios riscos “de fraudes feitas por pessoas internas ao sistema, que não podem ser detectadas antes, durante ou depois da eleição”. E agora, José?

Jorge Stolfi manifesta claramente seu pon-to de vista no trecho “as urnas eletrônicas utili-zadas nas eleições no Brasil não são seguras e permitem fraudes. E mais: [...] o sistema pode ter interferências para beneficiar um ou outro can-didato sem que a fraude seja detectada”. Para defender essa opinião, utiliza como argumento exemplos de países que discordam do sistema de votação eletrônica: “vários países – Estados Unidos, Alemanha, Holanda e Inglaterra, entre outros – não utilizam as urnas eletrônicas como no Brasil porque já detectaram que elas não são imunes ao que chamou de ‘riscos incontorná-veis’ de fraude”.

Veja como o professor foi cuidadoso na

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seleção dos países que empregou para respaldar sua tese: Estados Unidos, Alemanha, Holanda e Inglaterra são todos países desenvolvidos que têm organizações políticas democráticas mun-dialmente reconhecidas.

3. Argumentação por dados estatísticosPara provar o que se diz, dados estatís-

ticos são comumente utilizados, visto que são fruto de pesquisas feitas por órgãos de reconhe-cimento público. É preciso tomar cuidado, no entanto, para selecionar quais dados serão usa-dos, citando a fonte de que foram retirados.

Veja abaixo como o uso de valores numé-ricos calculados por agências especializadas foi usado no artigo “Mulheres das classes C e D são as que mais creem que Brasil vai melhorar em 2009”:

Mulheres das classes C e D são as que mais creem que

Brasil vai melhorar em 2009

De acordo com pesquisa realizada pelo IBOPE, a pedido da agência de publicidade 141 SoHo Square, as mulheres das classes C e D são as que mais acreditam que o Brasil não está bem, mas vai melhorar em 2009, com índices de 46% e 44%, respectivamente. Na classe A, o percentual verificado foi de 41%.

Além disso, a pesquisa intitulada “O So-nho é maior que o medo – Panorama sobre o comportamento de compra das mulheres brasi-leiras” apurou que 41% das mulheres da classe C e 36% da D avaliam que a economia brasileira está sólida, mas vai sofrer o impacto da crise.

Na opinião do presidente da agência que encomendou o estudo, Mauro Motryn, os núme-ros mostram que as mulheres de menor poder aquisitivo parecem não querer acreditar na cri-se. “Elas estão tão felizes de finalmente terem en-trado no mercado de consumo que até fecham o bolso agora [...] Mas estão esperando muito a volta do crédito no início do ano para poderem continuar comprando.”

Mauro Motryn tem um ponto de vista claro diante do comportamento das mulheres das classes C e D em relação à crise econômi-ca: “Elas estão tão felizes de finalmente terem entrado no mercado de consumo que até fe-cham o bolso agora [...] Mas estão esperando muito a volta do crédito no início do ano para poderem continuar comprando.” Para justificar esse posicionamento, o presidente da agência

de publicidade 141 SoHo Square baseia-se em dados estatísticos de pesquisa que encomen-dou ao IBOPE, segundo a qual “as mulheres das classes C e D são as que mais acreditam que o Brasil não está bem, mas vai melhorar em 2009, com índices de 46% e 44%, respectivamente. Na classe A, o percentual verificado foi de 41%”.

4. Argumentação por testemunho de au-toridade

Nos textos de escrita acadêmica, é muito frequente que, para respaldar sua tese, o autor se refira a pesquisas anteriores, de outros pes-quisadores. Para isso, cite a fonte de onde re-tirou a citação empregada em seu texto, tendo cuidado de empregar como argumento as pala-vras de alguém reconhecido como conhecedor da causa discutida.

Veja abaixo como esse recurso foi empre-gado na argumentação do artigo “Produção cien-tífica no Brasil sobe, mas não o número de paten-tes”, do qual transcrevemos o trecho a seguir:

A produção científica brasileira subiu de 2006 para 2007 e representa 2,02% de todos os ar-tigos científicos publicados no mundo, mas esse conhecimento ainda não se traduz na prática. Quando se analisa o registro de patentes nos Es-tados Unidos, o índice brasileiro é próximo a zero.

“O Brasil está muito atrás de outros países que até produzem menos artigos científicos. Di-ficilmente um País que produz ciência não faz as duas coisas. Todos têm ciência e patentes, mas não é o caso do Brasil”, disse Jorge Guimarães, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes).

O autor do artigo, em sua argumentação, de-nuncia o baixo número de patentes registrado no Brasil, apesar da alta produção científica. Para de-fender essa tese, clara logo no primeiro parágrafo, o autor se vale das palavras de uma autoridade no assunto, Jorge Guimarães, presidente da Coorde-nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes). A própria instituição por ele pre-sidida é reconhecida internacionalmente como re-ferência no que diz respeito à pesquisa científica.

5. Argumentação por contra-argumentaçãoMuitas vezes, ao redigir um texto argu-

mentativo, você já imagina quais serão os pos-síveis posicionamentos contrários de alguns leitores. Para fortalecer sua argumentação, você pode citar essas visões diferentes da sua e

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contrapor-se a elas, utilizando o que chamamos de contra-argumentação. É preciso tomar cui-dado, no entanto, para refutar com consistên-cia os argumentos que se opõem à sua tese, ou seu posicionamento pode perder credibilidade.

Observe o trecho abaixo, retirado do arti-go “Crise e poder”, de Rubens Ricupero, e atente para o uso que o autor fez da contra-argumenta-ção para respaldar sua tese.

A crise econômica é também uma crise da globalização. Dizia-se antes que o poder do Esta-do estava sendo corroído pela interdependência da globalização. Ora, o que vimos é que esta foi de fato responsável pelo contágio da doença. O remédio, porém, vem sendo administrado pelo Estado nacional por meio dos bancos centrais e dos Tesouros.

A primeira conclusão, portanto, é que, apesar da globalização, permanece intacta a configuração dominada pelo Estado-Nação, cujo poder em relação ao mercado e à sociedade é reforçado pela crise.

A tese central defendida pelo autor no tre-cho analisado é que, “apesar da globalização, permanece intacta a configuração dominada pelo Estado-Nação”. No entanto, para chegar a essa afir-mativa, o texto parte de uma ideia contrária a ela: “Dizia-se antes que o poder do Estado estava sendo corroído pela interdependência da globalização”.

Veja que essa ideia contrária à tese foi intro-duzida pela expressão “dizia-se”, a qual não define quem é que dizia que o poder do Estado estava sendo corroído pela interdependência da globa-lização. O agente responsável por essa ação não pode ser identificado no texto. Só o que sabemos é que não se diz mais isso; chega-se a tal conclu-são pelo tempo do próprio verbo em “dizia-se”.

É importante perceber que a oposição en-tre essa afirmativa inicial e a tese defendida pelo autor não torna o texto contraditório. Na verdade, para fortalecer sua argumentação, o autor afirma algo que era dito antigamente para logo rechaçar essa ideia, na frase: “O remédio, porém, vem sen-do administrado pelo Estado nacional por meio dos bancos centrais e dos Tesouros”. A palavra “porém”, conectivo de oposição (conforme você estudou na unidade sobre coesão textual), intro-duz uma ressalva à ideia inicial do texto, dando suporte à tese defendida pelo autor.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto, que

tal pôr em prática o que você acabou de ver na uni-dade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 3Agora é a sua vez de redigir parágrafos ar-

gumentativos! Siga as instruções abaixo e lem-bre-se do que você estudou na lição sobre estru-tura geral dos parágrafos.

1. O tema dos parágrafos será a implanta-ção da Lei Seca. Portanto, antes de redigi-los, opte por uma tese, posicionando-se a favor ou contra a legalização desse tipo de punição no Brasil.

2. Agora que você já optou por uma tese, escreva cinco parágrafos argumentativos que a sustentem, empregando, respectivamente: a) causa/consequência; b) exemplificação; c) da-dos estatísticos; d) testemunhos autorizados; e e) contra-argumentação.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado. Esta questão foi retirada do exame vestibular UFF 2008.

Atividade 4Leia atentamente a entrevista do acadêmi-

co Evanildo Bechara e o artigo “Nó górdio é a vaidade e a pequenez” da escritora Ângela Dutra de Menezes e reflita sobre seus diferentes pon-tos de vista. Transcreva de cada texto duas afir-mativas que apresentam, de forma clara, pontos de vista diferentes quanto ao acordo ortográfico e sua implantação:

Um dos maiores conhecedores da língua portuguesa, o acadêmico Evanildo Bechara cri-tica o acordo ortográfico de 1990, que, em sua opinião, não simplifica suficientemente as regras de emprego do hífen, e ainda admite um número excessivo de casos de acentuação. Para Becha-ra, a Academia Brasileira de Letras e os países lusófonos deveriam se unir para alterar “a filoso-fia” da reforma ortográfica.

O GLOBO: Qual sua opinião geral sobre o

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Acordo Ortográfico de 1990?EVANILDO BECHARA: As mudanças foram

muito modestas para conseguirmos uma unifica-ção do sistema gráfico em Portugal e no Brasil. Não há grandes revoluções nas alterações que se vão fazer. Esse é um ponto. O outro é que as modificações no sistema brasileiro são em maior número do que as que os portugueses vão ter que fazer. Portugal a rigor só vai ter duas modifi-cações: vão deixar de usar as consoantes mudas e eliminar o “h” inicial em palavras como úmido. O Brasil fez mais cedências.

O GLOBO: Por que se criaram tantos acentos?

BECHARA: As primeiras tentativas de re-forma ortográfica datam de 1886 em Portugal, e no Brasil de 1906. Uma época em que a rede escolar era muito mais frágil do que hoje. Era ne-cessária uma reforma em que a maneira de gra-far as palavras ajudasse as pessoas a pronunciá--las corretamente. O sistema educacional ainda era precário, tanto em Portugal quanto no Brasil. Hoje, com a rede escolar, com o rádio, com a te-levisão, é diferente. Esses meios de comunicação ajudam mais na difusão da pronúncia correta do que a ortografia. Basta ver que há casos em que as pessoas pronunciam a palavra de um jeito di-ferente do indicado pela grafia.

O GLOBO: A Academia Brasileira de Letras pensa em apresentar essas propostas?

BECHARA: A ABL não pode, nesse momen-to. Mas se o impasse continuar, quem sabe? Mi-nha opinião é que as academias do Brasil e de Portugal deveriam se reunir, juntamente com os outros países, para mudar a filosofia da reforma.

“As mudanças foram muito modestas” –

Evanildo Bechara (fragmento) O Globo,

Prosa & Verso, setembro de 2007.

Nó górdio é a vaidade e a pequenez

Recebi a notícia de que o meu livro “O por-tuguês que nos pariu” é best-seller em Portugal. “Top ten”, explicou-me, via e-mail, a Editora Civi-lização, da cidade do Porto.

Feliz? Nem tanto. O livro que está sendo vendido no além-mar, descumprindo um pedido meu, foi “traduzido” para o, digamos, lusitano. A descortesia dos editores esconde mais do que apenas desrespeito ao meu texto e às minhas convicções. A atitude autoritária prova que ve-lejamos a anos-luz do acordo ortográfico que, teoricamente, está prestes a desencantar. Não de-sencantará. A língua é o mais forte signo de uma nacionalidade. Abrir mão de suas características significa, mesmo que simbolicamente, render-se. Mas render-se a quê? A quem? Afinal, todos fala-mos português. As diferentes versões do nosso idioma não anulam a realidade de sua unidade. Negar isto é negar a belíssima história das nave-gações portuguesas e assumir uma atitude tímida diante do maravilhoso mundo novo. Quem acre-dita que os falantes de um português são incapa-zes de ler ou entender outro, além de se desmere-cer intelectualmente, demonstra medo de perder a sua identidade, a sua História, o seu passado, o respeito próprio.

Acredito que leio e, desde criança, leio os autores portugueses no “original”. Hoje, faço o mesmo com escritores angolanos e moçambica-nos e, se tropeço em uma palavra, enriqueço o meu vocabulário com leve toque no teclado do computador: um dicionário eletrônico esclare-ce a minha dúvida. Acredito que nós, brasilei-ros, somos perfeitamente decodificáveis pelos consumidores lusos, sem que alguém, paterna-listicamente, precise se intrometer para avisar que o escritor quis dizer isto ou aquilo. Ou as-sumimos as diferenças que nos aproximam ou continuaremos alimentando a nossa triste vo-cação para o nada. Afinal, deve pensar quem nos cerca com um esgar de desprezo, quem é esta pobre gente que não se entende nem na língua em que fala?

“Nó górdio é a vaidade e a pequenez” –

Ângela Dutra de Menezes (fragmento)

O Globo, Prosa &Verso, setembro de 2007

Respostas às atividades

l Atividade 1

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Tese: “é importante que os deputados te-nham consciência da necessidade de conceder aos cientistas brasileiros, o mais rapidamente possível, a liberdade de que eles necessitam para desenvolver pesquisas na área das células--tronco embrionárias”.

Argumento 1: “já está fazendo surgir apli-cações práticas concretas, que demonstram seu potencial curativo fantasticamente promissor”.

Argumento 2: “os eleitores da Califórnia aprovaram a emenda 71, que destina US$ 3 bi-lhões às pesquisas com células-tronco”.

Argumento 3: “embriões congelados há pelo menos três anos nas clínicas de fertiliza-ção — embriões descartados que, com qualquer tempo de congelamento, vão acabar no lixo”.

Argumento 4: “Também algum dia será preciso admitir a clonagem com fins terapêuti-cos, hoje vedada, e que é particularmente pro-missora”.

l Atividade 2 – O autor emprega o méto-do indutivo em sua argumentação, pois parte de um caso particular – a ação do MEC sobre algumas instituições privadas de ensino – para defender uma ideia mais geral: a necessidade das ações decorrentes do diagnóstico levanta-do pelos provões.

l Atividade 3 – Exemplos de possíveis res-postas:

a) A despeito das discussões sobre direito à liberdade de consumo, a redução do limite de álcool permitido no sangue de motoristas tem de ser encarada como uma decisão razoável do governo. Afinal, há que se considerar, sobretu-do, o principal motivo que conduziu à adoção de tal medida: o automóvel, veículo criado no sécu-lo XIX para servir ao homem como meio de loco-moção eficaz, tornou-se arma nos séculos XX e XXI graças à sua associação com o consumo de bebidas alcoólicas.

b) Além da clara redução das mortes em acidentes de trânsito, a implantação da Lei Seca traz outras consequências benéficas a reboque, como, por exemplo, a diminuição dos valores de apólices de seguros. Havendo menos acidentes, as seguradoras poderão cobrar valores mais baixos para seus clientes, atingindo até 10% de redução, o que pode, inclusive, aumentar o mer-cado consumidor desse tipo de serviço.

c) A adoção da Lei Seca no Brasil revela

uma prudente preocupação diante da forte rela-ção entre alcoolismo e acidentes de trânsito. No primeiro mês após a implantação da lei, o IML (Instituto Médico Legal) de São Paulo registrou uma redução de 63% no número de óbitos cau-sados por acidentes de trânsito. De modo seme-lhante, dados do Ministério da Saúde garantem que os resgates do Samu (Serviço de Atendimen-to Móvel de Urgência) caíram em 24% desde o início da nova legislação.

d) Com a alteração no código de trânsito que baixa para dois decigramas de álcool por li-tro de sangue o limite tolerado por lei, o governo Lula conseguiu implementar uma drástica redu-ção nos índices de acidentes de trânsito. Segun-do Flavio Adura, presidente da Abramet (Asso-ciação Brasileira de Medicina de Tráfego), “A lei evita que, diariamente, cinquenta pessoas mor-ram, que trezentas fiquem feridas e que cento e vinte fiquem com alguma sequela. São duzentas internações hospitalares a menos e uma econo-mia diária estimada em quarenta e cinco milhões de reais”.

e) Muitos alegam que a redução do limi-te de álcool permitido no sangue de motoristas é uma medida descabida do governo, visto que acarreta redução de lucros para donos de bares e consequente desemprego. No entanto, é impro-cedente tal colocação, visto que essa mesma ló-gica conduziria à conclusão de que é necessário que haja mais acidentes para que mais profissio-nais da área de saúde possam estar empregados.

Atividade 4TEXTO 1 “As mudanças foram muito mo-

destas”, Evanildo Bechara1. Era necessária uma reforma em que a

maneira de grafar as palavras ajudasse as pesso-as a pronunciá-las corretamente.

2. Hoje, com a rede escolar, com o rádio, com a televisão é diferente. Esses meios de comunicação ajudam mais na difusão da pronúncia correta do que a ortografia.

3. Basta ver que há casos em que as pes-soas pronunciam a palavra de um jeito diferente do indicado pela grafia.

TEXTO 2 “Nó górdio é a vaidade e a peque-nez”, Ângela Dutra de Menezes

1. As diferentes versões do nosso idioma não anulam a realidade de sua unidade.

2. Ou assumimos as diferenças que nos

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aproximam ou continuaremos alimentando nos-sa triste vocação para o nada.

3. Acredito que leio e, desde criança, leio os autores portugueses no “original”. Hoje, faço o mesmo com escritores angolanos e moçambi-canos e, se tropeço em uma palavra, enriqueço o meu vocabulário com leve toque no teclado do computador: um dicionário eletrônico esclarece minha dúvida.

Glossário

l Modalização – Modalizar é expressar como o falante/autor vê aquilo que diz/escreve. Ao afirmar “Indiscutivelmente, amanhã choverá”, o falante mostra, com o modalizador “indiscuti-velmente”, ter absoluta certeza do que diz.

l Contra-argumentação – Rejeição do ar-gumento apresentado e sua substituição por argumento oposto, ou complementar.

Referências

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CHAVES, M. Por um país da mala branca. Disponí-vel em: <http://www.estadao.com.br/estadaodeho-

je/20081206/not_imp289412,0.php>. Acesso em 15 jun. 2009.

FORNECK, M. Violência e impunidade andam juntas. Disponível em: <http://www.unoescxxe.edu.br/unoesc/noticias_unoesc/desc_noticias.php?cod_noticia=188>. Acesso em 15 jun. 2009.

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IBOPE. Mulheres das classes C e D são as que mais creem que Brasil vai melhorar em 2009. Disponí-vel em: <http://www.ibope.com.br/calandraWeb/servlet/CalandraRedirect?temp=6&proj=PortalIBOPE&pub=T&nome=home_materia&db=caldb&docid=5CBC555564290316832575150044F16E>. Acesso em 15 jun. 2009.

LEONI. Ao vivo: Por que não eu? Som livre, 2005.

O Globo. Editorial da edição de 05.11.08.

PERELMAN, C. & TYTECA, L. Tratado da argu-mentação: a nova retórica. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

PIRES, S. Afinal, nossas urnas eletrônicas são ou não totalmente seguras?. Disponível em: <http://www.gentedeopiniao.com.br/ler_noticias.php?codigo=39220>. Acesso em 15 jun. 2009.

PROTEC. Produção científica no Brasil sobe, mas não o número de patentes. Disponível em: <http://www.protec.org.br/noticias_inovacao_patente.asp?cod=26>. Acesso em 15 jun. 2009.

Provões necessários. Gazeta do Povo, Para-ná, 07.12.08. Disponível em: <http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=835500&tit=Provoes-necessa-rios>. Acesso em 15 jun. 2009.

RICUPERO, R. Crise e poder. Disponível em: <http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/opi-niao/conteudo.phtml?tl=1&id=835502&tit=Crise--e-poder>. Acesso em 15 jun. 2009.

SANTAGADA, S. Zero Hora. Edição de 20/3/1999.

VOESE, I. Argumentação jurídica. Curitiba: Juruá, 2001.

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Unidade 5

Fichamento, resumo e resenha

Apresentando a unidade

Nesta unidade, vamos apresentar e discu-tir a forma e o conteúdo do fichamento, do resumo e resenha, a partir de exem-

plos de cada gênero, explicitando o seu papel na atividade acadêmica.

Definindo os objetivos

Ao final da unidade, você deverá ser capaz de:1. distinguir fichamento, resu-mo e resenha;2. ler e compreender textos em cada um desses gêneros;3. produzir textos em cada um desses gêneros;4. justificar a relevância dessas competências.

Conhecendo o fichamento, o resumo e a resenha

Fichamento, resumo e resenha são gêneros textuais muito recorrentes na vida universitária, pois, na interação com um texto acadêmico, é comum que o leitor tenha de produzir um novo texto escrito, estabelecendo um claro diálogo en-tre ambos. Assim, um bom desempenho acadêmi-co passa, necessariamente, pela intimidade com esses gêneros textuais e com a própria escrita científica, que tem características próprias, como temos visto ao longo das unidades.Assim, antes de analisarmos as características do fichamento, do resumo e da resenha, vamos ana-lisar um artigo científico, o qual poderia, por sua vez, ser fichado, resumido e/ou resenhado pelo leitor.

Os desafios do desenvolvimento da ciência e da tecnologia no país

Marco Antonio Raupp

Nos últimos 50-60 anos, a atividade orga-

nizada de produção de conhecimento científico estabeleceu-se no país. No centro desse proces-so estiveram a reforma universitária, institucio-nalizando a pós-graduação, e a estruturação de um sistema de apoio e financiamento à pesqui-sa e aos pesquisadores nas universidades e nos centros de pesquisa governamentais.

O CNPq, a Capes, a FINEP e as fundações de amparo à pesquisa (FAPs) foram e são agentes executores dinâmicos do processo. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) desempe-nharam papel fundamental no convencimento e na mobilização das mentes e dos esforços para que o processo se estabelecesse e se desenvolvesse.

Como indicador sinalizando efetivos re-sultados desse sistema, temos hoje a taxa de 2% de participação da produção nacional de traba-lhos científicos na produção mundial – resultado bastante significativo, pois mostra que o nosso sistema básico de produção de ciência está do “tamanho econômico do país”, já que esse índice é basicamente o mesmo da participação do PIB brasileiro no mundial.

Notável também no período foi a constitui-ção de casos específicos de sucesso no que se refere às ciências aplicadas e à pesquisa tecnoló-gica. São exemplos emblemáticos desses casos o sistema Embrapa nas atividades agropecuárias; a rede Petrobras, capitaneada pelo Cenpes e com destaque para a Coppe/UFRJ, na indústria petro-lífera; a tradicional Fiocruz no Sistema de Saúde Pública; o Centro Técnico Aeroespacial (CTA) e a Embraer na indústria aeronáutica; o Inpe na pro-dução de previsões de tempo e articulando uma rede industrial de construção de satélites artifi-ciais; e o sistema Cnen – Eletronuclear na tecno-logia nuclear.

Estabelecida uma plataforma básica im-portante, a responsabilidade de ampliação com qualidade e atenção às demandas e necessida-des da sociedade e do desenvolvimento do País, pelo seu bom e pleno funcionamento, é grande. Implica o enfrentamento de desafios que mere-cerão dedicação e esforços iguais ou maiores que aqueles já dedicados à construção do siste-ma básico.

Lanço aqui vários deles, cuja superação é crucial para saúde e bom funcionamento do pró-prio sistema, para o reconhecimento de sua uti-lidade pela sociedade e para que as atividades dos cientistas contribuam também para o equi-

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líbrio social e regional no País. O primeiro deles é a deficiente educação básica e média. Requer o engajamento da comunidade científica para a sua superação, além da cidadania, obviamente. Não podemos nos furtar à participação, espe-cialmente na questão do ensino das Ciências e das Matemáticas.

As nossas melhores universidades devem priorizar a formação de bons professores, e em boa quantidade. Isso não vem ocorrendo. Pelo contrário, a formação de professores está cada vez mais sendo relegada àquelas mais destituí-das de condições e qualidades. A expectativa positiva é que a nova Capes estimule esse mo-vimento.

Educação de qualidade é o mais importan-te requisito para a inclusão social. A ampliação de vagas nas universidades públicas, sem perder a qualidade, é outro grande desafio. A vaga em instituição pública é a que de fato está aberta para os filhos da nova classe média, e o atendi-mento da demanda por profissionais de ensino superior e técnico é condição sine qua non para o desenvolvimento do País. Basta comparar o número de engenheiros que formamos com aquele da China para que entremos em “estado de choque”.

Os dez mil doutores que o nosso sistema de pós-graduação forma anualmente certamente nos darão condições de garantir essa expansão, especialmente na esfera das universidades tec-nológicas e escolas técnicas, tão necessárias.

A ciência brasileira está 60% localizada na Região Sudeste. Por razões estratégicas e de justiça federativa, é uma situação que não pode perdurar, constituindo-se num desafio para o planejamento estratégico e a política de ciência e tecnologia (C&T). Temos que redirecionar in-vestimentos federais e estimular as FAPs locais. Isso, de fato, já vem ocorrendo em estados como Amazonas, Pará e Bahia, mas em outros com alguma tradição houve retrocesso. Em regiões como a Amazônia, o semi-árido e a Plataforma Continental Marinha, o conhecimento científico é absolutamente necessário para uma interven-ção econômica sustentável – ambientalmente e socialmente –, preservando o patrimônio do País. É imperativa a atuação do Sistema de Ciên-cia e Tecnologia nessas áreas, e sua expansão, contemplando essa atuação, é vital, até para justificar os investimentos da sociedade nas nossas atividades. O aspecto estratégico impõe

o desafio de melhor distribuirmos as atividades de C,T&I no País, contribuindo para a superação das desigualdades regionais.

Outro importante desafio a ser enfrentado reside na separação existente tradicionalmente entre o sistema universitário e as atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) nas empre-sas. Existem honrosas exceções de colaboração e temos avançado bastante na aproximação, mas muito ainda resta a fazer para que o fluxo de transformação do conhecimento em riqueza seja otimizado, desde o aspecto cultural, passando pelo operacional, até o marco legal.

Além do estímulo à participação eventual de pesquisadores em projetos de interesse da empresa, mecanismos como incubadoras de empresas nascentes nas universidades, parques tecnológicos congregando universidades, cen-tros de pesquisas e empresas com interesse em tecnologia e inovação, e mestrados profissio-nais, podem ser estimulados por políticas públi-cas para criar pontes de cooperação, em benefí-cio da economia do País. O sistema universitário de pesquisa terá, certamente, o reconhecimento da sociedade por essa postura.

Finalmente, menciono o desafio de superar um gargalo que decorre do fato de a C&T ser ati-vidade recente em nosso País, e que é transversal a todas as outras, sua superação sendo importan-te para a boa fluência de todas as outras supera-ções. Tal é a questão no marco legal para o exercí-cio dessas atividades.

Legislações desenvolvidas em outras épo-cas e situações, voltadas para outros propósitos, são confrontadas e/ou questionadas sistematica-mente pelas atividades demandadas pelo desen-volvimento científico e tecnológico do País. São exemplos a coleta de material biológico de nossa biodiversidade, o uso de animais em experimen-tos científicos, a coleta e o uso de células-tronco embrionárias, as impropriedades legais na coope-ração entre entidades científicas públicas e em-presas privadas, o regime “ultra-rápido” nas im-portações de insumos científicos, e muitos outros.

Alguns avanços estão ocorrendo, como a nova lei que regulamenta o uso de animais em pesquisa, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre células-tronco, a Lei de Inovação e a Lei do Bem. Mas entendemos que uma revisão geral para identificação de gargalos, incluindo aí um estudo sobre o status institucional das orga-nizações de pesquisa, o regime de contratação

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de pessoal, entre outros, torna-se necessário.

Reflexão

Vemos que o artigo acima é do tipo expositivo e argumentativo. Seu autor baseia-se em dados de outros estudos para analisar e avaliar a pesquisa no Brasil e propor medidas que melhorem o de-sempenho brasileiro. Para analisarmos a produção acadêmica, em textos como o de Raupp, bem como para com-preendermos os pontos que os orientam, preci-samos de três ferramentas específicas, que são o fichamento, o resumo e a resenha. O exame da produção mostra que as citações relevantes de autores resultam do fichamento adequado das leituras de seus textos. Além disso, compreende--se o papel dos resumos e das resenhas como documentos indispensáveis para a tomada de decisão sobre a consulta das obras a que se re-ferem Por fim, verifica-se que os melhores resu-mos e resenhas resultam de bons fichamentos.

Características do fichamento

Agora vamos apresentar as características deste gênero discursivo. O fichamento consiste no registro das ideias de um texto que se consi-deram relevantes para o estudo. Para realizá-lo, leia o texto, uma primeira vez. Na segunda leitu-ra, destaque as partes do que quer citar. Trans-creva fielmente as passagens selecionadas, com registro das páginas em que constam essas pas-sagens. Seja rigoroso na seleção, transcrevendo somente o que for necessário para seu projeto.

O fichamento pode ser incluído em seu trabalho acadêmico, quer na parte de revisão de literatura, quer na análise ou na interpretação dos resultados. No artigo de Raupp, transcrito acima, você poderá destacar e fichar o que lhe parecer relevante para o seu estudo. Se você estiver em busca de argumentos favoráveis ao investimento na educação, poderá selecionar o parágrafo sete, por inteiro. Mas vai resultar uma citação longa, nem sempre bem vista. Portanto, vale a pena reler o parágrafo, para ver o que real-mente importa. Assim, um fichamento ideal des-se parágrafo teria a seguinte transcrição:

As nossas melhores universidades devem priorizar a formação de bons professores, e em boa quantidade. Isso não vem ocorrendo. Pelo contrário, a formação de professores está cada vez mais sendo relegada àquelas mais destituídas de condições e qualidades.

Veja um pequeno exemplo de fichamento inicial de um fragmento de texto publicado na Revista Gragoatá. Realçamos a parte que merece ser fichada e, em seguida, transcrevemos essa parte, em destaque.

Quando o preconceito se faz silêncio: relações raciais na literatura

brasileira contemporânea

Regina Dalcastagnè

A literatura contemporânea reflete, nas suas ausências, talvez ainda mais do que naquilo que expressa, algumas das características cen-trais da sociedade brasileira. É o caso da popu-lação negra, que séculos de racismo estrutural afastam dos espaços de poder e de produção de discurso. Na literatura, não é diferente. São poucos os autores negros e poucas, também, as personagens – uma ampla pesquisa com roman-ces das principais editoras do País publicados nos últimos 15 anos identificou quase 80% de personagens brancas, proporção que aumenta quando se isolam protagonistas ou narradores. Isto sugere uma outra ausência, desta vez temá-tica, em nossa literatura: o racismo. Se é possí-vel encontrar, aqui e ali, a reprodução paródica do discurso racista, com intenção crítica, ficam de fora a opressão cotidiana das populações ne-gras e as barreiras que a discriminação impõe às suas trajetórias de vida. O mito, persistente, da “democracia racial” elimina tais questões dos discursos públicos, incluindo aí o do romance.

Se os dados agregados da pesquisa de “mapeamento” do romance brasileiro recente revelam a baixa presença da população negra en-tre as personagens – além de sua representação estereotipada –, o exame das exceções pode per-mitir a compreensão das potencialidades e dos limites das (poucas) abordagens do tema. Aqui, serão discutidos alguns números desta pesqui-sa, referentes à cor das personagens e dos seus autores, para, em seguida, fechar o foco sobre obras em que as relações raciais estão presen-tes: seja reforçando os estereótipos racistas, seja

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parodiando-os, ou ainda refutando-os a partir da construção de outros modos de interpretá-los. Nestas narrativas, encontramos estratégias di-ferentes, com diferentes resultados, de inclusão de identidades negras em nossa literatura – um gesto político que se faz estético (ou vice-versa) e que se dá, sempre, no embate com formas abertas ou sutis de discriminação e preconceito.

Ao falar de racismo neste texto, estarei pensando-o nos termos de Ella Shohat e Robert Stam (2006, p. 51): O racismo é a tentativa de es-tigmatizar a diferença com o propósito de jus-tificar vantagens injustas ou abusos de poder, sejam eles de natureza econômica, política, cul-tural ou psicológica.

[...]Observe como procedemos, para desta-

car as partes selecionadas: a autora justifica o título de seu trabalho:

A literatura contemporânea reflete, nas suas ausências, talvez ainda mais do que naquilo que expressa, algumas das características centrais da sociedade brasileira.

Sua definição de racismo gira em torno da ideia de vantagens injustas e abusos de poder:

O racismo é a tentativa de estigmatizar a diferença com o propósito de justificar vantagens injustas ou abusos de poder, sejam eles de natu-reza econômica, política, cultural ou psicológica.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 1A partir do que você acabou de estudar,

elabore um fichamento do artigo “Os desafios do desenvolvimento da ciência e da tecnologia no país”, de Marco Antonio Raupp. Lembre-se de destacar apenas as ideias principais do texto, o que exige análise atenta de seu conteúdo.

Características do resumo

Vamos agora conhecer as principais ca-racterísticas do resumo, que normalmente aparece no início de trabalho de conclusão de

curso, monografia, projeto de pesquisa, ensaio, artigo científico, dissertação de mestrado e tese de doutorado, com informações básicas sobre o conteúdo desses textos. A expectativa do leitor é que o resumo forneça uma visão geral do texto a que se refere, de modo a favorecer a avaliação do mesmo, tanto pelos consultores que o examinam para recomendar suporte das agências de financiamento, como pelos parece-ristas de periódicos, além dos pesquisadores e leitores em geral.

Sua importância acadêmica é tal que as agências, os periódicos e os promotores de con-gressos e seminários privilegiam o resumo como primeiro documento que permite avaliar o con-teúdo de determinado texto. Os livros de resumo são parte da produção acadêmica relevante de cada área de investigação, de instituições públi-cas e privadas de pesquisa. Algumas agências de financiamento à pesquisa, a exemplo da Funda-ção de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Ja-neiro, FAPERJ, publicam os livros de resumos dos projetos aprovados de alguns de seus programas.

Como vários outros gêneros acadêmicos, o resumo contém uma parte pré-textual, o texto propriamente dito e uma lista de palavras-cha-ve. Na parte pré-textual, aparecem o título da obra, nome dos autores e sua filiação. Na parte textual, fornecem-se informações precisas e con-cisas sobre o contexto de produção do trabalho, seus objetivos, o corpus, a metodologia de coleta e análise, a orientação teórica e os principais re-sultados. As palavras-chave, juntamente com o título, sintetizam o tema do trabalho.

O resumo normalmente não contém pará-grafos, mas as informações são estritamente or-ganizadas, na sequência referida acima. Assim, o contexto de produção do trabalho apresenta o estado da arte da temática investigada, em que se aponta uma lacuna, que justifica o estudo. O objetivo geral ocupa a primeira informação espe-rada no resumo. Dependendo do caso, pode ser detalhado nos objetivos específicos. A metodo-logia dá conta do modo de coletá-los, organizá--los e analisá-los. O contexto teórico do trabalho se especifica, em termos de corrente de pensa-mento. A referência a autores depende do grau de familiaridade dos leitores com seus nomes. Os resultados detalham os principais achados, bem como implicações para novos estudos.

Até agora, falamos do resumo que precede ou segue um trabalho maior, do tipo artigo, dis-

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sertação, tese e ensaio. Mas há outros tipos de resumo, como o que sintetiza as ideias básicas de uma aula. Temos também os resumos estendidos, de duas ou três páginas, que são solicitados por algumas instituições de pesquisa e que são ver-dadeiros artigos densos, com dados analisados e interpretados.

Perceba que, apesar de semelhantes, ficha-mento e resumo são gêneros textuais indepen-dentes, com características próprias: enquanto aquele é formado por trechos do texto fichado, que são transcritos literalmente, este é compos-to por paráfrases. Isso quer dizer que, em um resumo, repetem-se as ideias do texto a ser re-sumido, mas não suas frases. Assim, enquanto um fichamento é formado por frases soltas, um resumo tem de ter coesão entre suas estruturas internas, como vimos na Unidade 2.

Agora, vamos ler e observar as partes do resumo seguinte, sobre teoria crítica de discur-so e texto:Revista Linguagem em (Dis)curso, volume 4, número especial, 2004

TEORIA CRÍTICA DO DISCURSO E TEXTO

Izabel Magalhães

Resumo:O propósito deste artigo é apresentar uma

agenda para o debate e a pesquisa da teoria crí-tica do discurso, relacionando-a, por um lado, à teoria social crítica e, por outro, à linguística sistêmico-funcional. Conceitos centrais na teo-ria crítica do discurso são os de prática social, evento social, gênero discursivo e texto. A aná-lise de discurso textualmente orientada (ADTO) é uma proposta de compreensão das práticas sociais na concepção dialética do discurso, en-volvendo gêneros discursivos e a construção de sentidos nos textos: ações (gêneros), represen-tações (discursos), identificações (estilos). Três momentos significativos do desenvolvimento da teoria são apresentados, assim como são desta-cados pontos para futuras pesquisas.

Palavras-chave:Teoria crítica; discurso; prática social; tex-

to; gênero; transdisciplinaridade.Observe que a autora abriu mão da tarefa

de contextualizar o trabalho, começando direta-mente pelo objetivo do mesmo. Localiza o qua-

dro teórico no qual vai desenvolver o artigo, se-leciona os conceitos centrais, mostra o perfil da proposta de análise, sinaliza que vai falar de três momentos da trajetória da teoria, bem como de perspectivas para o futuro. Veja que as palavras--chave retomam o conteúdo do resumo.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 2A partir do que você acabou de estudar,

elabore um resumo do artigo “Os desafios do desenvolvimento da ciência e da tecnologia no país”, de Marco Antonio Raupp. Lembre-se de destacar as ideias principais do texto e parafra-seá-las, isto é, redigi-las com suas próprias pala-vras. Não se esqueça de que seu texto deve ser coeso e coerente.

Características da resenha1

Passemos agora às características da re-senha. O objetivo da resenha é despertar o inte-resse em ler a obra e oferecer uma primeira aná-lise crítica do seu conteúdo. A resenha contém três partes: pré-textual, textual e pós-textual. Na parte pré-textual, constam o título e a autoria da resenha. Em seguida, os dados da obra: autoria, título, local de publicação, editora, ano, edição, número de páginas e volume, se houver.

A parte textual contém as credenciais do resenhado, sua nacionalidade, formação acadê-mica e principal obra publicada. Destaca as con-clusões a que a autoria da obra chegou, ou que o resenhista localizou, descreve de forma sucinta os capítulos ou partes em que se divide a obra. Expõe os métodos de coleta e análise, os instru-mentos de coleta e organização dos dados e do modo de apresentação dos resultados.

O resenhista indica a referência teórica da autoria, com a corrente de pensamento a que se filia e dos autores privilegiados. Critica a obra a partir do ponto de vista da coerência entre a

1 Contamos com a participação de Ana Paula Alves na elaboração das características da resenha.

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tese central e a sua sustentação, e a partir do emprego de métodos e técnicas específicas.

Por fim, avalia o mérito da obra, sua origi-nalidade e contribuição para o desenvolvimento da ciência, por apresentar novas ideias e resulta-dos, ou por utilizar abordagem inovadora e rele-vante. Na parte pós-textual constam as referên-cias da bibliografia consultada pelo resenhista.

Alguns editores exigem que a resenha seja precedida por um resumo, outros não. No caso da resenha seguinte, que foi publicada na Revista Gra-goatá, da UFF, a autora optou por apresentar um resumo do livro resenhado ao longo do texto.

O sul e os trópicosLivia Reis

Última obra da escritora chilena, publica-da originalmente na Espanha em 2005, O sul e os trópicos, ensaios de cultura latino-americana, mantém-se fiel ao espírito questionador e polê-mico presente na obra anterior de Ana Pizarro e, ao mesmo tempo, avança em algumas dimen-sões ainda pouco contempladas em trabalhos anteriores. Em permanente diálogo com críticos de seu tempo, como García Canclini e Cornejo Polar, os ensaios que compõem a coletânea tra-zem inquietações com questões basilares dos estudos de cultura na América Latina, como por exemplo, a complexa e controversa noção de América Latina e suas articulações culturais e históricas em torno da unidade e diversidade, além das constantes preocupações com uma his-toriografia literária da e para a América Latina.

De certa forma a obra de Ana Pizarro é herdeira daqueles que primeiro pensaram o con-tinente e buscaram conceber uma nova história literária: Martí, González Prada, Mariátegui, Pedro Henrique Ureña, posteriormente Angel Rama e Antonio Candido. Todos estes intelectuais propu-seram questões que conduziram a questionamen-tos densos e complexos a respeito da cultura e da literatura latino-americana e terminaram por for-mular novas propostas metodológicas, mediante os câmbios e os deslocamentos de seus objetos de estudo.

Ancorada na noção de “sistema literário” forjada por Can dido, que perpassa os debates propostos, a autora abre um leque de questiona-mentos que alavancam suas reflexões em torno de temas que exigem urgência no cenário da crí-tica da cultura na América Latina. A partir desta

urgência, Ana Pizarro abre a coletânea questio-nando a situação cultural da modernidade tar-dia na América Latina. Em seguida, sua reflexão volta-se aos questionamentos centrados no cam-po da história. A partir deste campo cria pon-tes com a historiografia literária, com a relação história e ficção, e ainda propõe interrogar os espaços, tempos, períodos históricos e regiões culturais do subcontinente. Ao lon go dos capítu-los a reflexão avança para questões conceituais que frequentam a crítica cultural da atualidade, como as problemá ticas ligadas à mestiçagem e ao hibridismo, as de deslizamentos causados por viagem e exílio, além de problemas levanta-dos a partir das vanguardas históricas dos anos 20. Também o papel desempenhado pelas pri-meiras escritoras no início do século XX é mo-tivo para a arguta reflexão da escritora chilena que encerra o volume com uma análise sobre o impacto da indústria de bens culturais, a TV e o cinema na cultura periférica.

Todos os temas elencados aparecem em um, às vezes em mais capítulos discutidos, res-gatados, reavaliados, redimensio nados sob di-versos ângulos e olhares. Por trás da preocupa-ção com a construção de um arcabouço teórico que dê sustentação a uma historiografia literá-ria aberta aos estudos de cultura, sua relação com os imaginários e sua vinculação com a história, os ensaios se encaixam conduzindo a reflexão e a leitura pelos diferentes espaços da geografia cultural latino-americana. No en tanto, é no capítulo 11, “Áreas culturais da modernida-de tardia”, que a autora coloca sua mais recen-te preocupação: a incorporação e reivindicação da Amazônia, espaço privilegiado da cultura do continente, tradicionalmente isolada dos estu-dos latino-americanos.

Entendendo a região amazônica como su-porte de nosso imaginário mítico, para além das questões ecológicas e ambien tais, o texto de Ana Pizarro constrói uma reflexão que entende esta região tão rica e abandonada, espaço dividido por oito países do continente, como um dos “es-paços culturais que configuram a fragmentada unidade do continente e que, historicamente, tem contribuído no desenho de nosso imaginá-rio cultural”.

Ana Pizarro se serve de todos estes te-mas para desenvolver sua delicada e perspicaz análise da cultura latino-americana do último sé-culo. A obra, além da pertinência dos estudos,

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desenvol vidos sempre com delicadeza e profun-didade, vem envolvida em uma linguagem aces-sível que conduz o raciocínio de seu leitor ao questionamento a respeito de temas que estão a nossa volta, em nosso dia-a-dia cultural sem, no entanto, abrir mão de uma grande erudição que faz com que a autora esteja em permanente diálogo com críticos de sua época e do passado.

Acreditamos que O sul e os trópicos já te-nha o seu lugar nos estudos de literatura e cul-tura no Brasil, sobretudo hoje, momen to em que assistimos a um sensível crescimento dos estu-dos comparativos, ao mesmo tempo em que va-mos construindo um processo de incorporação do mundo hispânico e caribenho à nossa cultu-ra brasileira. Este processo também pode ser perce bido na medida em que começamos a nos identificar e nos sentir parte deste continente. Podemos observar, pelo lado inverso, o mesmo processo que descreve Ana Pizarro, de incorpo-ração do bloco luso falante aos estudos literá-rios latino-americanos.

Este é outro mérito de O sul e os trópicos. Repetindo o movimento que teve início na trilo-gia América Latina, palavra, literatura e cultura (Unicamp, 1995), este livro incorpora o Brasil, sua literatura e cultura, seus processos de de-senvolvimento, vanguarda e modernidade, que são analisados em conjunto com os diferentes países do bloco hispânico e do Caribe.

Com isso, damos boas vindas à primeira edição brasileira de O sul e os trópicos: ensaios de literatura e cultura latino-americana.

Analisemos brevemente a resenha. Logo no início do texto, introduzindo o livro de que fala, Livia Reis contextualiza a obra analisada entre as demais produções da autora Ana Pizarro, sobre quem algumas informações são apresentadas, como sua nacionalidade e suas áreas de atuação. Tais informações são imprescindíveis em uma boa resenha, pois as credenciais do autor estão entre os principais argumentos para convencer alguém a ler, ou não, determinada obra.

Ainda no primeiro parágrafo do texto de Livia Reis, a autora situa O sul e os trópicos em relação à produção intelectual de outros críticos contemporâneos, como García Canclini e Cor-nejo Polar. Perceba que essa é uma importante estratégia de composição textual, visto que a au-toridade que se atribui aos dois autores citados passa a se estender à obra de Ana Pizarro. Des-se modo, um leitor que admire García Canclini e

Cornejo Polar terá bons motivos para ler O sul e os trópicos.

A partir da contextualização da obra em relação a outros discursos que gravitam em torno do mesmo tema, a resenhista explicita a temática principal do livro: “inquietações com questões basilares dos estudos de cultura na América Latina, como por exemplo, a complexa e controversa noção de América Latina e suas articulações culturais e históricas em torno da unidade e diversidade, além das constantes preocupações com uma his toriografia literária da e para a América Latina”.

A seguir, o texto apresenta breve síntese das partes que compõem a obra, destacando como se estabelece o percurso lógico que enca-deia as ideias apresentadas acerca da América La-tina. O trecho abaixo, retirado da resenha, ilustra esse procedimento de análise estrutural da obra. Nele destacamos algumas estruturas que ajudam a ordenar a enumeração das partes da obra.

Ancorada na noção de “sistema literário” forjada por Can dido, que perpassa os debates propostos, a autora abre um leque de questio-namentos que alavancam suas reflexões em tor-no de temas que exigem urgência no cenário da crítica da cultura na América Latina. A partir desta urgência, Ana Pizarro abre a coletânea questionando a situação cultural da modernida-de tardia na América Latina. Em seguida, sua reflexão volta-se aos questionamentos centrados no campo da história. A partir deste campo cria pontes com a historiografia literária, com a rela-ção história e ficção, e ainda propõe interrogar os espaços, tempos, períodos históricos e regiões culturais do subcontinente. Ao lon go dos capítu-los a reflexão avança para questões conceituais que frequentam a crítica cultural da atualidade, como as problemá ticas ligadas à mestiçagem e ao hibridismo, as de deslizamentos causados por viagem e exílio, além de problemas levantados a partir das vanguardas históricas dos anos 20. Também o papel desempenhado pelas primeiras escritoras no início do século XX é motivo para a arguta reflexão da escritora chilena que encerra o volume com uma análise sobre o impacto da indústria de bens culturais, a TV e o cinema na cultura periférica.

Para evidenciar que se trata de uma se-quência lógica de partes da obra, a resenhista optou por relacionar suas ideias por meio de conectivos que expressam sucessão, como “a

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partir de”, “em seguida”, “e ainda”, “ao longo de”, “também”. A esse caráter sequencial, so-mam-se os verbos utilizados para apresentar os componentes do livro, como “abre”, “volta-se”, “avança” e “encerra”.

Após ter introduzido e desenvolvido a re-senha, coube a Livia Reis concluí-la, o que fez rei-terando e sintetizando as ideias principais do li-vro na seguinte frase: “uma reflexão que entende esta região tão rica e abandonada, espaço dividi-do por oito países do continente, como um dos ‘espaços culturais que configuram a fragmenta-da unidade do continente e que, historicamente, tem contribuído no desenho de nosso imaginário cultural’”. Observe que, para dar maior impacto à sua conclusão, a resenhista optou por empre-gar uma citação direta de O sul e os trópicos.

Uma resenha não está completa se, após uma breve explanação do conteúdo da obra analisada, não se inclui o posicionamento críti-co do resenhista. Assim, a resenha que estamos estudando se encerra com comentários favorá-veis ao texto, por sua delicadeza, profundidade e linguagem acessível, bem como pela inclusão do Brasil nas questões latino-americanas. Note, por fim, que Livia Reis optou por findar o texto com uma informação que supostamente inte-ressaria a maior parte de seus leitores: publi-cada em um periódico brasileiro, a resenha da autora será lida majoritariamente por brasilei-ros, os quais provavelmente se interessam pela situação de seu país no panorama latino-ameri-cano. Ao encerrar a resenha com uma informa-ção adicional que fala diretamente aos anseios da maior parte de seus leitores, a autora é bem--sucedida em seu objetivo de divulgar O sul e os trópicos e incentivar sua leitura.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 3A partir do que você acabou de estudar,

elabore uma resenha do artigo “Os desafios do desenvolvimento da ciência e da tecnologia no país”, de Marco Antonio Raupp. Lembre-se de

sintetizar as ideias principais do texto e apresen-tar também uma crítica a ele.

Respostas às atividadesNesta unidade, todas as atividades pro-

postas diziam respeito à produção textual. Dis-cuta com seu professor/tutor que procedimento será adotado para entrega/correção dos textos redigidos em aula.

É preciso apontar, porém, que há, neces-sariamente, um certo grau de similaridade nas respostas a serem apresentadas, já que todos os textos produzidos devem dialogar com o artigo “Os desafios do desenvolvimento da ciência e da tecnologia no país”, apresentado no início da unidade. Assim, são destacadas abaixo as ideias principais desse texto, que deveriam aparecer em qualquer fichamento, resumo ou resenha.

l “Nos últimos 50-60 anos, a atividade or-ganizada de produção de conhecimento cien-tífico estabeleceu-se no país. No centro desse processo estiveram a reforma universitária, ins-titucionalizando a pós-graduação, e a estrutura-ção de um sistema de apoio e financiamento à pesquisa e aos pesquisadores nas universidades e nos centros de pesquisa governamentais”.

l “Como indicador sinalizando efetivos re-sultados desse sistema, temos hoje a taxa de 2% de participação da produção nacional de traba-lhos científicos na produção mundial”.

l “Notável também no período foi a cons-tituição de casos específicos de sucesso no que se refere às ciências aplicadas e à pesquisa tec-nológica”.

l “Estabelecida uma plataforma básica im-portante, a responsabilidade de ampliação com qualidade e atenção às demandas e necessidades da sociedade e do desenvolvimento do País, pelo seu bom e pleno funcionamento, é grande”.

l “As nossas melhores universidades de-vem priorizar a formação de bons professores, e em boa quantidade”.

l “A ampliação de vagas nas universida-des públicas, sem perder a qualidade, é outro grande desafio”.

l “A ciência brasileira está 60% localizada na Região Sudeste. Por razões estratégicas e de justiça federativa, é uma situação que não pode perdurar, constituindo-se num desafio para o planejamento estratégico e a política de ciência e tecnologia (C&T)”.

l “Outro importante desafio a ser enfrenta-do reside na separação existente tradicionalmen-

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te entre o sistema universitário e as atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D) nas empresas”.

Referências

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FEITOSA, V.C. Redação de Textos Científicos. São Paulo: Papirus, s.d.

GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever, aprendendo a pensar. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002.

KATO, M. A. No Mundo da Escrita. Uma perspecti-va psicolinguística. Série Fundamentos. São Paulo: Ática. 1986.

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REIS, L. M. F. O sul e os trópicos. In: Gragoatá 22. Niterói: EdUFF, 2006.

SERAFINI, M.T. Como escrever textos. Rio de Ja-neiro: Globo, 1988.

SOARES, M. & Campos e Nascimento, E. Técnica de Redação. Rio, Ao Livro Técnico, 1978.

TACHIZAWA, T. e MENDES, G. Como fazer mono-grafia na prática. Rio de Janeiro, FGV, 2001.

VOTRE, S. et al. Laboratório de redação. Manual do professor. Rio: MEC, 1978.

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VOTRE, V. e VOTRE, S. A escrita técnica. São Paulo: Zero Erro, 1991.

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Unidade 6

Relatório e projeto

Apresentando a unidade

Nesta unidade, orientamos você sobre como redigir um relatório, em geral, e sobre como redigir um relatório de pes-

quisa, em particular. Nesta etapa do curso, você vai conviver com o mundo das ideias, que se for-ma, em parte, graças aos relatórios produzidos em diferentes áreas da atividade humana. Além disso, vai conhecer também como se elabora um projeto de pesquisa, um dos primeiros passos no longo percurso da construção do conheci-mento científico.

Definindo os objetivos

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:1. ler criticamente um relatório, reconhecendo suas partes componentes;2. produzir seus próprios rela-tórios;3. ler criticamente um projeto, reconhecendo suas partes com ponentes;4. produzir seus próprios projetos.

Conhecendo o relatório

Podemos pensar em relató-rios como descrições avalia-

tivas que reportam resultados parciais ou totais de uma determinada atividade, experimento, projeto, ação, pesquisa, ou outro evento. Desse modo, representam um retorno a respeito do tra-balho feito por outros, ou pelo próprio relator.

Os relatórios são parte integrante das atividades regulares de qualquer setor da vida profissional. Sem eles, as organizações não fun-cionam e as reuniões para tomada de decisões se enfraquecem, perdendo produtividade. De vez em quando, empresas pedem relatórios das atividades realizadas por seus funcioná-rios, de modo a definir mais claramente as fun-ções de cada cargo e garantir que estas sejam

desempenhadas com eficácia. É com base nos resultados de relatórios que projetos ou pla-nos são reafirmados ou reajustados, sempre visando a uma maior excelência na realização de determinada atividade.

No ambiente acadêmico, os re-latórios têm um papel prepon- derante na condução de pes-quisas. É por meio deles que orientadores e agências fomen-

tadoras e incentivadoras à pesquisa podem ga-rantir que tempo, esforço e recursos materiais sejam empregados de forma produtiva, otimizan-do os resultados da atividade acadêmica. Além disso, a produção de relatórios, como atividade de avaliação do trabalho próprio ou alheio, torna mais agudo o olhar crítico. Assim, desenvolve-se a capacidade de identificar pontos positivos e negativos e de trabalhar de modo proativo para a redução destes.

Observe que um relatório pode ser exigi-do ao final de um processo, funcionando como um balanço do que se fez e produziu, ou mesmo durante o próprio processo, de modo a avaliar se é satisfatória a maneira como determinada atividade está sendo conduzida. Caso você este-ja produzindo um relatório no meio do processo, é importante ressaltar que quaisquer resultados são ainda inconclusivos, sendo preciso chegar ao final do processo para poder criticar com cer-teza os procedimentos adotados.

Para tornar mais claro o que vimos até agora, analisaremos um relatório (adaptado) de pesquisa de iniciação científica, apresenta-do por duas alunas da PUC-RJ.

CRIANçAS E ADULtOS EM DIfERENtES CONtExtOS: A INfâNCIA, A CULtURA

CONtEMPORâNEA EA EDUCAçãO

Alunas: Camila Barros e Simone NascimentoOrientadora: Sonia Kramer

Objetivo:O projeto de pesquisa “Crianças e Adul-

tos em diferentes contextos: a infância, a cultu-ra contemporânea e a educação” tem por obje-tivo compreender as interações entre crianças e adultos nos espaços urbanos e em diferentes contextos do ensino regular, bem como estudar as mediações entre a infância, a cultura contem-porânea e a educação.

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Este estudo tem sido desenvolvido desde 2005 e seus eixos principais de análise nessas interações são: a identidade, a autoridade e a di-versidade.

Ao observarmos esses eixos visamos sa-ber quem são esses adultos e crianças e como eles se reconhecem nesses espaços onde há tanta desigualdade. Queremos também enten-der a construção nas interações da percepção do outro, que se constitui socialmente em fon-te de discriminação (por exemplo: como se dá a inclusão nos locais observados), e perceber como é a questão da distribuição do poder en-tre adultos e crianças diante da contempora-neidade.

Fundamentação teórica:A pesquisa contou com aportes teóricos

das áreas de estudos da linguagem e estudos culturais, filosofia, psicologia, antropologia e sociologia da infância, que nos ajudaram a construir concepções de homem, infância e educação. Delineamos um referencial com base na teoria crítica da cultura e da modernidade, em especial em Benjamin (1987a, 1987b), na concepção de linguagem de Bakhtin (1988a, 1988b, 1992) e na ideia de formação social da consciência e sua ligação com a cultura, assim como expresso por Vigotski (1987, 1998, 1999), considerando a produção de leitores e pesqui-sadores das obras destes autores. Os principais teóricos de nossas discussões e reflexões são, portanto, Lev Vigotski, Mikhail Bakhtin e Walter Benjamin.

Os estudos da linguagem e estudos cultu-rais ajudaram a entender que o outro ocupa um papel muito importante na construção do nosso conhecimento. Já a antropologia fez perceber os significados que o outro atribui. E a sociologia da infância contribuiu para a metodologia de pesquisa com crianças.

Para Bakhtin, a pesquisa em ciências hu-manas é sempre estudo de textos, e o objeto da pesquisa, nas ciências humanas, é sempre um sujeito. Porém, é preciso procurar manter um afastamento, uma distância do campo para que possamos conseguir captar o real da melhor for-ma possível. Sendo assim, é de extrema impor-tância que texto e contexto estejam sempre em harmonia.

Realizamos, ainda, uma revisão bibliográ-fica que nos levou à discussão de relatórios de

pesquisa, artigos, teses e dissertações ou livros de outros autores que também se dedicam ao es-tudo da infância, seja através de pesquisas rea-lizadas no Brasil, como em Martins Filho (2006), Freitas (2006) e Delgado (2007), seja através de pesquisas realizadas em outros países, como as de Sirota (2001, 2005, 2006), Corsaro (1985, 2003, 2005) e Sarmento (2000).

Estratégias metodológicas:Nossas estratégias metodológicas foram:

observação intensiva, fotografias, entrevistas e interações a partir de produções culturais das e para as crianças. Através disso, pretendemos fazer com que a criança seja vista, percebida, ob-servada em nosso campo.

A pesquisa foi realizada em vinte esco-las das redes pública, particular e comunitária, sendo cinco creches, sete escolas exclusivas de educação infantil e oito escolas de ensino fundamental com turmas de educação infantil, todas situadas no Município do Rio de Janeiro. Foram realizados, inicialmente, estudos de caso simultâneos nessas instituições, como etapa ex-ploratória, e, em seguida, com maior densidade em seis destas instituições (duas creches, duas escolas de educação infantil e duas escolas de ensino fundamental que têm turmas de educa-ção infantil). A escolha foi pautada pelo critério da positividade do trabalho.

A observação dá suporte na descrição densa para conhecermos as ações, as interações, as práticas e os valores éticos/preconceitos que as permeiam e as orientam; e compreendermos como se lida com identidade, autoridade e diver-sidade, tendo como foco as ações dos adultos, as relações entre adultos e crianças e as trocas entre as crianças. Há o desafio metodológico de observar crianças nas atividades cotidianas em contextos institucionais, tendo em vista que, muitas vezes, as ações nesses espaços são con-duzidas e tuteladas pelos adultos. Assim, busca-mos construir um olhar sensível, para ver e ouvir as crianças: entender a linguagem para além do que era dito, compreender os significados do cor-po e seus movimentos, as tensões e apreensões, os sentidos do choro, do riso, das disputas, das demonstrações de carinho ou raiva e dos mo-mentos de partilha. O mesmo é válido para as entrevistas, entendidas como um espaço para a escuta do outro.

[...]

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Atividades realizadas enquanto bolsistas

Enquanto bolsistas de iniciação científi-ca, participamos das discussões realizadas nas reuniões semanais, onde discutimos as questões emergentes dos cadernos de campo, bem como textos ligados ao referencial teórico da pesquisa e resultados de pesquisas na área da educação infantil. Além disso, confeccionamos atas das reuniões e resenhas de artigos extraídos dos periódicos Cadernos de Pesquisa, Educação e Sociedade, Revista Brasileira de Educação, e Re-vista Brasileira de Estudos Pedagógicos, a serem compartilhadas com o grupo, servindo como fonte de estudo. Selecionamos fotos dos espa-ços observados para a análise. Estas fotos foram analisadas pelo grupo com o objetivo de refletir sobre as especificidades e os pontos comuns de creches, escolas exclusivas de educação infantil e turmas de educação infantil em escolas de en-sino fundamental; contribuímos na elaboração do Relatório Final, que aponta os resultados da pesquisa, enviado ao CNPq. Colaboramos na pre-paração de textos que sistematizassem as ques-tões emergentes do campo. Os próximos passos serão a preparação de um seminário que objetive a devolução dos dados às pessoas pesquisadas e a organização de evento comemorativo dos 10 anos do grupo Infância, Formação e Cultura.

Conclusão:

Esta pesquisa buscou compreender a in-fância e a criança no contexto educacional e da cultura contemporânea, tendo sempre como foco as questões de diversidade, autoridade e identidade implicadas nas interações entre crianças e adultos.

Concluímos que em todos os espaços ob-servados, as crianças buscam formas de mani-festar as culturas infantis, a despeito das impo-sições e enquadramentos dos adultos na escola. È nesta lacuna que o pesquisador da infância em instituições escolares deve se colocar para ver e ouvir as crianças.

Referências

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Pau-lo, Martins Fontes,1992, 2003.

BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo, Hucitec, 1988a.

BAKHTIN, M. Questões de literatura e de estética. São Paulo, Hucitec, 1988b.

BENJAMIN, W. Obras Escolhidas I: Magia e Técni-ca. Arte e Política, São Paulo, Brasiliense, 1987a.

BENJAMIN, W. Obras escolhidas II: Rua de mão única, São Paulo, Brasiliense, 1987b.

CORSARO, W. Entrada no campo, aceitação e na-tureza da participação nos estudos etnográficos com crianças pequenas. In: Educação e Socieda-de, Campinas, vol. 26, n 91, p. 443-464, Maio/Ago 2005.

CORSARO, W. Friendship and peer culture in the ear-ly years. Norwood. Ablex, 1985.

CORSARO, W. “We’re friends, right?”: children’s use of access rituals in a nursery school. Washing-ton D.C., Joseph Henry Press, 2003.

DELGADO, A. C. C. Uma etnografia com crianças: grupos geracionais e manifestações culturais das crianças. In: REDIN, Euclides (org.). Infân-cias: cidades e escolas amigas das crianças. Porto Alegre: Mediação, 2007.

FREITAS, M. C. de (org.). Desigualdade social e diversidade cultural na infância e na juventude. São Paulo: Editora Cortez, 2006.

KRAMER, S.; NUNES, M. F. Gestão municipal e formação: a educação infantil no Estado do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Estudos Peda-gógicos, v.88, n° 218, ano 2007. Rio de Janeiro.

MARTINS FILHO, A. J. et al. Infância Plural: crian-ças do nosso tempo. Porto Alegre: Mediação, 2006.

SARMENTO, M. J. Lógicas de ação nas escolas. Lisboa: Instituto Inovação Educacional, 2000.

SIROTA, R. Emergência de uma sociologia da in-fância: evolução do objeto e do olhar. In: Cader-nos de Pesquisa Fundação Carlos Chagas, São Paulo, n.112, p.7-31, mar. 2001.

SIROTA, R. Primeiro os amigos: os aniversários da infância, dar e receber. Campinas, Revista Educa-ção e Sociedade, vol 26, no 91, p 535-562, 2005.

SIROTA, R, (org). Éléments pour une sociologie de l’enfance. Rennes, Presses Universitaires de Rennes, 2006.

VIGOTSKI, L.S. La imaginación y el arte en la in-fancia (ensayo psicologico). Mexico, Hispanicas, 1987.

VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. O de-senvolvimento dos processos

psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fon-tes, 1998. (tradução Paulo Bezerra).

VIGOTSKI, L.S. Psicologia da arte. São Paulo, Mar-tins Fontes, 1999 (tradução Paulo Bezerra).

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Depois de termos lido atentamente o rela-tório, vamos passar à sua análise.

Observe que o texto se inicia com uma componente chamada de Identificação, em que as autoras optaram por informar o título do re-latório e os nomes dos envolvidos em sua con-fecção, isto é, bolsistas e orientador. Observe que os itens da Identificação de um relatório geralmente são definidos pela instituição que o exige. Assim, além dos dados acima menciona-dos, pode-se optar também por incluir o nome do projeto a que se vincula o relatório do pesqui-sador, bem como o local em que se efetivaram as atividades relatadas e a duração desse processo.

Em seguida, um relatório deve ter uma In-trodução, a qual apresente a questão estudada e os objetivos da pesquisa. No relatório acima, essas informações foram trazidas pela frase “tem por objetivo compreender as interações entre crianças e adultos nos espaços urbanos e em di-ferentes contextos do ensino regular, bem como estudar as mediações entre a infância, a cultu-ra contemporânea e a educação”. Note que, até aqui, as autoras apresentaram o objetivo geral da pesquisa. Porém, além de objetivos gerais, é importante discriminar também os objetivos es-pecíficos, como elas fizeram no trecho a seguir:

“visamos saber quem são esses adultos e crianças e como eles se reconhecem nesses es-paços onde há tanta desigualdade. Queremos também entender a construção nas interações da percepção do outro, que se constitui socialmente em fonte de discriminação (por exemplo: como se dá a inclusão nos locais observados), e perceber como é a questão da distribuição do poder entre adultos e crianças diante da contemporaneidade”.

Ainda na Introdução, é importante haver a Contextualização da pesquisa, em que se diz há quanto tempo se está estudando algo, como se chegou àquela questão, em que projeto/grupo/instituição esse projeto se insere etc. No relató-rio acima, a contextualização está representada pela seguinte frase: “Este estudo tem sido de-senvolvido desde 2005 e seus eixos principais de análise nessas interações são: a identidade, a autoridade e a diversidade”. As autoras opta-ram por não apresentarem exatamente nesse momento outras informações, diluindo-as em outras partes do relatório. A menos que as re-gras da instituição sejam muito rígidas, não há problemas em flexibilizar um pouco a estrutura do relatório.

Ainda contextualizando a pesquisa, mas agora dentro de um panorama mais amplo das principais publicações na área sobre o assunto abordado, as autoras explicitaram as relações de seu estudo com obras de referência. Tal Fun-damentação Teórica é extremamente importan-te na formulação de uma pesquisa, pois serve de argumento de autoridade a atestar a pertinên-cia das hipóteses levantadas pelo pesquisador. Quando você formular seu próprio relatório, tome o cuidado de indicar de forma clara e ade-quada, dentro dos padrões da ABNT, as fontes consultadas.

A partir desse ponto, o texto do relatório avança para questões de Metodologia, em que se apresentam as técnicas, os recursos, os procedi-mentos e as ferramentas adotadas na condução de uma pesquisa. Alguns especialistas preferem, no entanto, chamar essa seção de Materiais e Métodos. Apesar dessas diferenças de nomencla-tura, a importância da Metodologia em qualquer relatório é inegável, pois só assim o leitor é ca-paz de compreender os procedimentos lógicos que conduziram o pesquisador a chegar a de-terminada conclusão. No relatório apresentado anteriormente, a metodologia da pesquisa pode ser resumida à seguinte frase: “Nossas estraté-gias metodológicas foram: observação intensiva, fotografias, entrevistas e interações a partir de produções culturais das e para as crianças.”

Observe que a metodologia de um rela-tório tem caráter predominantemente narrati-vo-descritivo, enumerando os procedimentos adotados pelo pesquisador, os quais devem ser detalhadamente caracterizados. Nesse sentido, é importante que você observe a importância de haver verbos que indiquem ações (típicos da narração) e adjetivos avaliativos (típicos da descrição). Para isso, analise o trecho abaixo, retirado do relatório “Crianças e adultos em di-ferentes contextos: a infância, a cultura contem-porânea e a educação”:

“A pesquisa foi realizada em vinte escolas das redes pública, particular e comunitária, sendo cinco creches, sete escolas exclusivas de educação infantil e oito escolas de ensino fun-damental com turmas de educação infantil, todas situadas no Município do Rio de Janeiro. Foram realizados, inicialmente, estudos de caso simultâneos nessas instituições, como etapa ex-ploratória, e, em seguida, com maior densidade em seis destas instituições (duas creches, duas es-

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colas de educação infantil e duas escolas de en-sino fundamental que têm turmas de educação infantil). A escolha foi pautada pelo critério da positividade do trabalho”.

Perceba que os verbos acima destacados estão predominantemente no pretérito perfeito do modo indicativo, expressando ações que fo-ram realizadas no passado pelos pesquisadores. Já os adjetivos destacados em negrito descre-vem, restringem ou explicam os procedimentos metodológicos ou o objeto analisado nessa etapa.

Dando continuidade à Metodologia, o re-latório que estamos analisando possui uma se-ção intitulada Atividades realizadas enquanto bolsistas, que complementa os procedimentos metodológicos já mencionados. Veja que, nessa parte do texto, predomina também o modo de organização textual narrativo-descritivo, com verbos no pretérito perfeito e adjetivos.

Na sequência, todo relatório deve apre-sentar Conclusões ou Discussão dos Resultados, mesmo que esses sejam ainda parciais. Nesse momento, apresentam-se os resultados da pes-quisa, os quais devem ser interpretados à luz de teorias coerentes e organizados da forma mais apropriada. Para isso, pode-se adotar o forma-to da prosa, da lista (pontuada ou numérica), de tabelas, gráficos ou figuras, dependendo do teor da informação a ser compilada.

Por fim, trabalho acadêmico algum está completo sem as Referências bibliográficas de que o pesquisador se valeu para conduzir seu estudo. A fim de sistematizar de maneira práti-ca e acessível esse tipo de informação, é impor-tante que se respeitem os padrões prescritos pela ABNT.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 1Agora que você conhece a estrutura de um

relatório de pesquisa, analise o relatório abaixo e responda às seguintes perguntas:

a. Destaque do relatório a questão central de estudo, os objetivos gerais e específicos da pesquisa.

b. Sintetize em algumas frases o procedi-mento metodológico adotado pelo pesquisador.

c. Identifique verbos marcadamente narra-tivos que foram empregados na elaboração da metodologia. Em que tempo verbal eles se en-contram?

d. A pesquisa científica é marcada pela au-tocrítica. Em que partes do texto pode-se iden-tificar um posicionamento dessa natureza por parte do autor do relatório?

A OBSERVAçãO DO DESENVOLVIMENtO tíPICO DA COMUNICAçãO NãO-VER-BAL: SUBSíDIOS PARA A PROMOçãO

DO USO DA LINgUAgEM NO AUtISMO

Aluno: Gilberto Bruzzi DesiderioOrientadora: Carolina Lampreia

IntroduçãoO autismo é concebido como um trans-

torno do desenvolvimento e é caracterizado basicamente por falhas na interação social e na comunicação tanto verbal quanto não-verbal (DSM-IV-TR; Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 2002). Seu diagnóstico deve ser feito antes dos 36 meses de idade, sendo que tem sido buscada uma identificação mais preco-ce, visando a uma intervenção também precoce que permita minorar os possíveis efeitos do pre-juízo biológico subjacente. Para o fim da identi-ficação precoce antes dos 2 anos de idade, têm sido desenvolvidos instrumentos específicos e realizados estudos de vídeos familiares (LAM-PREIA, no prelo).

Os estudos do desenvolvimento típico dos diversos comportamentos de atenção com-partilhada que surgem a partir dos 9 meses de idade também têm servido de referência, mos-trando que as falhas no apontar declarativo por parte da criança autista e no seguir o apontar do adulto podem estar ligadas a distúrbios de linguagem e do jogo simbólico, que servem de marcadores do autismo (BARON-COHEN, ALLEN & GILLBERG, 1992).

Esses vários estudos de identificação pre-coce, assim como os de intervenção precoce, usam preferencialmente categorias discretas de observação e treinamento. Por outro lado, alguns estudos do desenvolvimento típico da intersubje-tividade e da comunicação inicial não-verbal, tais como os de Stern (1977; 1992), Hobson (2002) e

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Bates (1976; 1979), adotam uma metodologia que enfoca a observação dos aspectos qualitativos da passagem de uma habilidade a outra. Estes es-tudos não apenas registram a aquisição de uma nova habilidade em determinado momento do desenvolvimento mas descrevem as condições em que ela surge em termos das atividades nas quais a criança está envolvida e a participação do adulto. Eles descrevem a passagem de uma habilidade a outra quando, por exemplo, a crian-ça passa a substituir o gesto pela vocalização que já a acompanhava.

Em suma, para que se possa melhor com-preender em que consistem as falhas iniciais de desenvolvimento no autismo, que acarretam posteriormente suas características mais bási-cas, torna-se necessário conhecer os aspectos qualitativos e descritivos do desenvolvimen-to típico, assim como os aspectos afetivos da comunicação inicial. Isto poderá vir a permitir uma identificação precoce mais fidedigna assim como uma intervenção precoce mais eficaz.

A comunicação afetiva

As primeiras interações sociais do bebê acontecem já nos primeiros dias de vida através das interações mãe-bebê, que se dão no contex-to da regulação fisiológica. As tarefas de comer, adormecer e a homeostase geral são geralmente acompanhadas por comportamentos sociais dos pais: embalar, acariciar, tranquilizar, conversar, cantar e fazer sons e caretas. Eles ocorrem em resposta a comportamentos do bebê, tais como chorar, choramingar, olhar e olhar fixamente. No entanto, essas primeiras interações são permea-das por uma qualidade exclusiva e inata do ser humano, a capacidade de ser sensível e respon-sivo às emoções de seus semelhantes (HOBSON, 2002). É a partir dessa sensibilidade que pode-mos esperar uma qualidade de interação nos hu-manos diferente das observadas nos outros ani-mais, uma qualidade que possibilita ao humano desenvolver a linguagem, pois mesmo antes da linguagem essa sensibilidade já possibilita quali-dades de interação que agem como precursoras da linguagem. Uma grande quantidade de intera-ção social acontece a serviço da regulação fisio-lógica, e pode-se dizer que essas interações são o berço para o desenvolvimento da linguagem.

Além disso, os bebês parecem ter uma capacidade geral inata, que pode ser chamada

percepção amodal (STERN, 1992), de tomar a in-formação recebida de uma modalidade sensorial e de alguma maneira traduzir para uma outra modalidade sensorial. A percepção amodal per-mite que uma coisa vista, ouvida e tocada possa de fato, através da coordenação de informações que vêm de várias modalidades perceptuais di-ferentes (como visão, tato, audição...), ser sen-tida como parte de uma fonte externa única. Essa capacidade é fundamental para que o bebê possa experienciar um senso de eu e de outro emergentes, que possibilita que, por volta dos dois meses, o bebê se encontre em uma nova si-tuação bem mais social. Situação essa em que o bebê sorri, vocaliza, faz contato ocular em res-posta aos comportamentos exagerados e repe-tidos da mãe que apresenta algumas alterações na linguagem, nas expressões faciais e jogos de esconde-esconde. Mãe e bebê regulam, então, mutuamente os interesses e sentimentos um do outro através de padrões rítmicos, sinais multi-modais, equiparação de expressão vocal, facial e gestual.

[...]

ObjetivoA presente pesquisa teve como objeti-

vo mais geral descrever e analisar as diferen-tes fases do desenvolvimento da comunicação não-verbal até o surgimento da comunicação verbal, no desenvolvimento típico, de maneira a obter subsídios para a elaboração de progra-mas que visem à promoção do uso da linguagem pela criança autista. O objetivo específico, neste momento, foi elaborar uma metodologia de aná-lise de vídeos que permitisse identificar catego-rias que descrevam e analisem a fase inicial do desenvolvimento da comunicação afetiva até o surgimento da comunicação não-verbal entre os 9 e 12 meses de idade, de maneira que os resul-tados dessa análise contemplem as diferenças entre o desenvolvimento típico e o não-típico (no caso especifico, o autismo) para melhor compreender os processos envolvidos na co-municação.

MetodologiaParticipantes e ProcedimentoForam analisados vídeos de bebês entre

3 e 12 meses de idade, filmados em situações naturais em interação com seu cuidador. Foram usados vídeos feitos geralmente pela família do

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cuidador, sem objetivos relacionados especifi-camente à pesquisa, apenas para documentar eventos cotidianos do bebê.

As categorias de análise de vídeos foram assim definidas:

1. Categorias discretas: sorriso (parceiro sorri para o outro ou responde ao sorriso do ou-tro, retribuindo o sorriso imediatamente); con-tato ocular (parceiro dirige sua atenção visual para o outro e olha diretamente para sua face e nos seus olhos); vocalização (um dos parceiros emite sons);

2. Categorias afetivas – I: engajamento afe-tivo: grau de conexão emocional entre o bebê e seu cuidador (GARCÍA-PEREZ, LEE & HOBSON, 2007). A avaliação será subjetiva e pontuada em 3 níveis: sem conexão emocional, alguma conexão, conexão emocional forte; fluxo da in-teração: harmonia do intercâmbio entre o bebê e seu cuidador (GARCÍA PEREZ, LEE & HOBSON, 2007). A avaliação será subjetiva e pontuada em 3 níveis: intercâmbio mínimo, pouco harmonio-so (requer esforço por parte da mãe para fazer com que ocorra intercâmbio), muito harmonio-so (intercâmbio relaxado e regular);

3. Categorias afetivas – II: intensidade (o nível de intensidade do comportamento do par-ceiro é o mesmo que o do outro, independen-temente do modo ou forma de comportamento – p. ex., a altura da vocalização da mãe iguala a força de um abrupto movimento de braço do bebê – STERN, 1992); timing (uma pulsação re-gular, no tempo, é igualada – p. ex., a inclinação da cabeça da mãe e o gesto do bebê obedecem à mesma batida – STERN, 1992); forma (algum as-pecto espacial de um comportamento é igualado – p. ex., a mãe toma emprestada a forma vertical do movimento para-cima-para-baixo do braço do bebê e a adapta a seu movimento de cabeça – STERN, 1992).

O procedimento para a análise dos vídeos consistiu, primeiramente, em assistir às filma-gens recolhidas como um todo e em seguida des-tacar as cenas consideradas aptas, ou seja, cenas em que fosse possível visualizar a face do bebê e do cuidador simultaneamente. Em um segundo momento eram destacados, das cenas aptas, epi-sódios de interação ou de tentativa de interação. Cada episódio tinha início sempre quando havia solicitação por parte de um dos integrantes da díade. Se não houvesse, após cinco segundos, resposta do parceiro, o episódio era considerado

como uma tentativa frustrada de interação. Para cada episódio, procurou-se identificar as catego-rias de análise anteriormente definidas e assina-lar suas ocorrências em uma folha de registro. A duração de cada episódio de interação não foi previamente estipulada. Os episódios eram inter-rompidos quando se passavam cinco segundos sem que um dos parceiros da díade respondesse.

ConclusãoAs categorias de análise utilizadas podem

permitir o rastreamento de falhas básicas encon-tradas no desenvolvimento de bebês com risco de autismo. A metodologia de análise das cate-gorias discretas está bem elaborada. Contudo, a metodologia para as categorias afetivas precisa de mais tempo de treinamento, já que estas ca-tegorias foram recentemente reformuladas para que melhor se adequassem às novas necessida-des da pesquisa. Isso porque os resultados aqui obtidos permitiram a elaboração de um novo projeto de pesquisa “A investigação de sinais precoces de risco de autismo em bebês com ir-mãos autistas”, que deverá procurar analisar in-terações mãe-bebê com o objetivo de identificar possíveis indícios de risco de autismo antes dos 12 meses de idade.

AgradecimentoOs autores deste trabalho agradecem

ao CNPq pelo apoio financeiro (Bolsa PIBIC – 2007/2008).

Referências

1. Baron-Cohen, S., Allen, J. & Gillberg, C. (1992) Can Autism be Detected at 18 Months? The Nee-dle, the Haystack, and the CHAT. British Journal of Psychiatry, 161, 839-843.

2. Bates, E. (1976) Language and context. The ac-quisition of pragmatics. N.Y.:

Academic Press. 3. Bates, E. (1979) The emer-gence of symbols. Cognition and communica-tion in infancy. N.Y.: Academic Press.

3. DSM-IV-TR (2002) Manual diagnóstico e esta-tístico de transtornos mentais. trad. Dayse Ba-tista, 4. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul.

4. Hobson, P. (2002) The cradle of thought. Lon-don: Pan books.

5. Lampreia, C. (no prelo) Algumas considerações sobre a identificação precoce no autismo. In: Te-mas em Educação Especial. São Carlos, São Paulo: EDUFSCar.

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6. Stern, D. (1977) The First Relationship: Infant and Mother. London: Fontana/Open Books.

7. Stern, D. (1992) O Mundo interpessoal do bebê. Uma visão a partir da psicanálise e da psicologia do desenvolvimento. Tradução Ma-ria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artes Médicas.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 2Produza um breve relatório sobre a dis-

ciplina que mais exigiu de você no último se-mestre. Indique os objetivos de seu relatório, a metodologia utilizada para chegar à conclusão de que disciplina lhe exigiu mais, as atividades realizadas nela. De que argumentos você dispõe para defender esse ponto de vista? Para susten-tar sua argumentação, utilize citações de outras fontes, devidamente apresentadas em Referên-cias bibliográficas. Como sugestão, indicamos o artigo “A importância da leitura no Ensino Supe-rior”, que pode ser encontrado em <http://sare.unianhanguera.edu.br/index.php/reduc/article/view/193/190>.

Conhecendo o projeto de pesquisa

O projeto é um gênero bá-sico na vida social, pois, em certo sentido, es-tamos sempre fazendo projeto para alguma coisa que queremos realizar. É também uma prá-tica de escrita indispensável na vida acadêmica, em que o foco é a pesquisa. Nossa tarefa, como pesquisadores, é analisar algum aspecto da rea-lidade que nos intriga, procurar compreender al-gum comportamento que nos desafia, examinar o andamento de alguma atividade ou processo, e assim por diante. Para isso, sempre que vamos iniciar uma pesquisa, é preciso que tenhamos em mente quais serão os procedimentos adotados nesse processo de aquisição do conhecimento. Caso o projeto não seja claro, corre-se o risco de se perder no meio do caminho, dadas as inúme-ras possibilidades que se apresentam no percur-

so.

familiarizando-se com as partes do projeto

O formato do projeto varia segundo as instituições de pesquisa e as agências de finan-ciamento, mas predomina o que vai ser apresen-tado e comentado aqui. As partes básicas do projeto são:

1. situação-problema – o contexto em que se situam os aspectos que você quer estudar;2. objetivo do estudo – os alvos que quer atingir, os pontos que quer compreender e explicar, com o estudo. Introduza-os sem-pre com verbos no infinitivo (por exem-plo, “analisar”, “interpretar”, “discutir”);3. justificativa e relevância – qual o valor que você vai agregar ao conhecimento na área, ou quais as inovações que vai facul-tar, a partir dos resultados do estudo;4. hipótese – o que você pensa que vai confirmar ou validar; quais são as ideias que espera confirmar. Observe que alguns tipos de projeto não precisam ter neces-sariamente uma hipótese. Entretanto, se você tiver algum palpite ou opinião sobre como se dá o fenômeno que vai estudar, isso valoriza seu projeto;5. corpus – quais são os dados para análi-se, o que supõe material coletado ou cons-truído a ser utilizado; 6. métodos de coleta e de análise – como vai coletar ou construir os dados; qual a forma de analisá-los;7. suporte em autor(es) que você respeita e que segue – quais são as ideias básicas que orientam o estudo e quais são os au-tores que as apresentam;8. cronograma de execução – qual a distribui-ção das atividades previstas acima, desde a coleta até a elaboração do relatório final;9. orçamento – quais as principais despe-sas que a execução do projeto implica e como vai cobrir essas despesas;10. referências básicas – quais as principais fontes de informação com que já conta, no momento em que escreve o projeto. Procu-re citar apenas os autores que efetivamen-te se relacionam com o seu estudo. É fato que, se forem referências válidas, servirão para fortalecer seus argumentos;

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11. relatório final – qual é o sumário provisó-rio do relatório sobre a pesquisa.Para você entender melhor como essas

partes se relacionam na construção de um proje-to de pesquisa, apresentamos um modelo (adap-tado), retirado do site <br.geocities.com/sergio-fk/minicurso.pdf>. Logo após o texto, segue uma breve análise sobre ele.

Exemplo de projeto de pesquisa (condensado)

BOLSA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DO CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) – PIBIC/CNPq

Período de vigência: setembro/98 a julho /99Título: RECURSOS HÍDRICOS DA BACIA

HIDROGRÁFICA DO RIO PACOTI-CEARÁ: POTEN-CIALIDADES, USO ATUAL E DEGRADAÇÃO AM-BIENTAL

Pesquisador: FUCK Júnior, Sérgio Cesar de França – aluno de graduação do curso de Ba-charelado em Geografia/CCT/UECE.

Orientador: LIMA, Timóteo Sérgio Ferrei-ra – professor do Departamento de Geociências/CCT/UECE.

Colaboradora: Veríssimo, Maria Elisa Za-nella – professora do Departamento de Geogra-fia/CC/UFC.

Introdução

A água é um dos recursos mais importantes à sociedade humana, constituindo-se em elemen-to básico à sua sobrevivência e ao desenvolvimen-to econômico e social. A sua utilização tem-se in-tensificado nas últimas décadas, tendo em vista o seu crescente uso, quer seja no abastecimento de áreas urbanas, industriais e rurais, na irrigação, quer nas atividades de lazer, entre outras.

Problema/justificativa

Contudo, muitos problemas ligados à de-gradação dos mananciais hídricos, tanto super-ficiais quanto subterrâneos, vêm sendo enfren-tados pelo homem. Mais grave ainda é o fato de que tais problemas devem-se à sua própria ocu-pação no meio físico, de forma desordenada, o que repercute negativamente sobre os recursos naturais e consequentemente na qualidade de vida das populações.

A bacia hidrográfica do rio Pacoti, respon-sável pela maior oferta potencial de água para a região metropolitana de Fortaleza e objeto do presente estudo, não foge à regra, apresentando sérios problemas de degradação dos recursos hídricos, dada a expansão das atividades agríco-las e atualmente da urbanização.

Dessa forma, tornam-se necessários es-tudos que contribuam para um maior conheci-mento de seu potencial hídrico, sua utilização e conservação, para que as gerações futuras pos-sam também usufruí-los visando atender às suas próprias necessidades.

Área de estudo

A área de estudo compreende a bacia hidrográfica do rio Pacoti, uma das bacias me-tropolitanas do Estado, localizada próximo à cidade de Fortaleza. Ocupa uma área aproxima-da de 700 km2, onde se destacam o rio Pacoti e seus contribuintes de maior porte: os riachos Baú e Água Verde, afluentes pela margem es-querda. Nessa bacia foram construídos inúme-ros açudes, dentre os quais destacam-se o sis-tema Pacoti-Riachão-Gavião e o açude Acarape do Meio.

O rio Pacoti nasce na serra de Baturité, sendo a maior parte da bacia (alto e médio cur-so) representada por rochas do embasamento cristalino. Seu baixo curso encontra-se sobre terrenos sedimentares representados pela For-mação Barreiras e Dunas e Paleodunas da Planí-cie Litorânea, onde são amplas as planícies alu-vionares que margeiam o rio principal.

Objetivo geral

Este projeto tem como objetivo estudar os recursos hídricos superficiais e subterrâneos da bacia do rio Pacoti, suas potencialidades, uso atual e degradação ambiental.

Objetivos específicos

1. Efetuar o levantamento da rede de dre-nagem, delimitando a bacia hidrográfica e os corpos d’água;

2. Caracterizar a rede de drenagem com relação ao padrão e densidade hidrográfica, es-tabelecendo relações com as unidades geoam-bientais;

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3. Caracterizar os aquíferos da área em es-tudo;

4. Avaliar o uso atual dos recursos hídri-cos da bacia (abastecimento humano/industrial, irrigação, pesca, atividades de lazer, entre ou-tros);

5. Analisar a degradação ambiental dos re-cursos hídricos superficiais e identificar as pos-síveis fontes geradoras de tal degradação.

Materiais e métodos

Materiais:Serão necessários para o desenvolvimen-

to da pesquisa os seguintes materiais:• Imagens de satélites TM-LANDSAT;• Cartas topográficas da SUDENE na esca-

la de 1:100.000;• Folhas planimétricas da Funceme na es-

cala de 1:100.000 (Monitoramento dos Espelhos D’água do Estado do Ceará, 1988);

• Levantamentos sistemáticos dos recur-sos naturais realizados a nível exploratório/re-conhecimento, tais como RADAMBRASIL (1981), SEMACE (1992);

• Plano Estadual de Recursos Hídricos;• Projeto Áridas – GT2 – Recursos Hídricos.

Procedimentos metodológicos:• Seleção e análise do material geocartográ-

fico e bibliográfico disponível;• Análise das cartas topográficas e imagens

de satélites para a obtenção das informações da rede de drenagem, reservatórios e lagoas, bem como para a delimitação das unidades geo-ambientais;

• Interpretação das características da rede de drenagem (padrão e densidade hidro-gráfica), relacionando-as às diferentes unidades geoambientais;

• Levantamento de dados em órgãos pú-blicos sobre a utilização atual dos recursos hí-dricos e sua degradação;

• Análise da água nos parâmetros físico--químicos e biológicos;

• Trabalho de campo para coleta de infor-mações e para reconhecimento in loco das confi-gurações espaciais atuais;

• Elaboração da cartografia final na escala de 1:100.000, através do uso de programas grá-ficos;

• Interpretação e redação final do traba-

lho.[...]

Referências

BRANDÃO, R. L. Diagnóstico Geoambiental e os Principais Problemas de Ocupação do Meio Físi-co da Região Metropolitana de Fortaleza. CPRM, 1995, 88p.

CHRISTOFOLETTI, A. A Análise das Bacias Hidro-gráficas. In: Geomorfologia, p. 102-127. São Paulo: Blucher, 2a edição, 1980.

FEITOSA, F. A. C., et al. Hidrogeologia: conceitos e aplicações. Fortaleza: CPRM, 1997.

MOTA, S. Introdução à Engenharia Ambiental. Rio de Janeiro: ABES, 1997. 280p.

OLIVEIRA, P. T. M. Recursos Hídricos. In: Recur-sos Naturais e Meio Ambiente: uma Visão de Bra-sil, p. 89-94. São Paulo: CPRM, 1992.

Plano Estadual de Recursos Hídricos. 1992.

Projeto Áridas – GT2 – Recursos Hídricos. 1994.

Observe que, no projeto acima, o pes-quisador optou por, na introdução, situar o tema da pesquisa, enquanto o problema foi apresentado na seção subsequente. Veja ainda que o caráter descritivo que estudamos no iní-cio da unidade, como sendo uma característi-ca do relatório, repete-se aqui no projeto. Isso é bem evidente no item “área de estudo”, em que se descreve a bacia hidrográfica a ser pes-quisada.

Atente ainda para a formulação dos ob-jetivos: todos eles foram introduzidos por ver-bos na forma infinitiva, o que vale tanto para o gênero projeto quanto para o relatório. As semelhanças, no entanto, não param por aí. Como vimos anteriormente, a metodologia de uma pesquisa tem caráter descritivo e narra-tivo, pois enumera os passos que foram toma-dos (no caso de um relatório) ou que serão tomados (no caso de um projeto). No entan-to, o autor do projeto “Recursos hídricos da bacia hidrográfica do rio Pacoti-Cerará: poten-cialidades, uso atual e degradação ambiental” optou por uma estratégia diferente, mas igual-mente válida: em vez de verbos, preferiu for-mas nominais para indicar as ações a serem efetuadas ao longo da pesquisa, expressas por substantivos abstratos, como “seleção”, “aná-lise”, “interpretação”, “levantamento” etc. Em seu projeto, você pode escolher qualquer uma

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das opções – verbos ou substantivos abstratos –, mas não misture ambos os recursos em uma enumeração.

Veja, por fim, que a estrutura do projeto é flexível: apesar de não apresentar em uma ordem fixa todos os elementos estudados nesta unida-de, o projeto é absolutamente bem-sucedido em seu propósito informativo.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 3A partir do que você acabou de estudar,

elabore um pequeno projeto de pesquisa. Se você está já avançado em seus estudos univer-sitários, elabore um projeto para seu futuro trabalho de conclusão de curso. Se você pensa em ingressar na Iniciação Científica, escreva um projeto para apresentar a seu possível orienta-dor. Se você está entrando na Universidade, su-gerimos que estude as relações entre os alunos novos e os veteranos, no período do que se con-vencionou chamar de “trote”, considerando as várias faces que esse fenômeno apresenta em nosso país. Trata-se de assunto polêmico e que merece ser investigado cientificamente.

Na elaboração de seu projeto, não deixe de:1. propor um título ao estudo que quer

fazer.2. escrever parágrafos breves, claros, con-

trolando cada palavra. 3. definir um índice provisório, em que

apareçam:a. a questão que você pretende investigar;b. seus objetivos com essa pesquisa;c. os estudos precedentes (busca de re-

sumos, relatórios de pesquisa, livros, artigos, ensaios, resenhas, teses e dissertações da área) sobre essa questão;

d. sua hipótese, mesmo que muito vaga, no caso de estar ainda muito no início de sua pesquisa;

e. dados com que conta, ou com que pre-tende contar, como seu corpus;

f. procedimentos metodológicos a serem

adotados;g. referências (bibliográficas, sites, filmes,

vídeos etc.).

Respostas às atividades

Atividade 1 a. Questão central: “para que se possa me-

lhor compreender em que consistem as falhas iniciais de desenvolvimento no autismo, que acarretam posteriormente suas características mais básicas, torna-se necessário conhecer os aspectos qualitativos e descritivos do desenvol-vimento típico, assim como os aspectos afetivos da comunicação inicial”.

Objetivo geral: “descrever e analisar as di-ferentes fases do desenvolvimento da comunica-ção não verbal até o surgimento da comunicação verbal, no desenvolvimento típico, de maneira a obter subsídios para a elaboração de programas que visem à promoção do uso da linguagem pela criança autista”.

Objetivo específico: “elaborar uma me-todologia de análise de vídeos que permitisse identificar categorias que descrevam e analisem a fase inicial do desenvolvimento da comunica-ção afetiva até o surgimento da comunicação não verbal entre os 9 e 12 meses de idade, de maneira que os resultados dessa análise contem-plem as diferenças entre o desenvolvimento típi-co e o não típico (no caso específico, o autismo) para melhor compreender os processos envolvi-dos na comunicação”.

b. Metodologia: “Foram analisados vídeos de bebês entre 3 e 12 meses de idade, filmados em situações naturais em interação com seu cui-dador. Foram usados vídeos feitos geralmente pela família do cuidador, sem objetivos relacio-nados especificamente à pesquisa, apenas para documentar eventos cotidianos do bebê”.

c. “Foram analisados”, “foram usados”, “foram definidas”. Essas locuções verbais estão no pretérito perfeito do indicativo.

d. “A metodologia de análise das catego-rias discretas está bem elaborada. Contudo, a metodologia para as categorias afetivas precisa de mais tempo de treinamento, já que estas ca-tegorias foram recentemente reformuladas para que melhor se adequassem às novas necessida-des da pesquisa”.

Atividades 2 e 3 – estas atividades pro-

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postas diziam respeito à produção textual. Dis-cuta com seu professor/tutor que procedimento será adotado para entrega/correção dos textos redigidos em aula.

Referências

BARROS, C; NASCIMENTO, S. Crianças e adultos em diferentes contextos: a infância, a cultura con-temporânea e a educação. Disponível em: <http://www.puc-rio.br/pibic/relatorio_resumo2008/resumos/ctch/edu/Edu_camilaaaa.pdf>. Acesso em 15 jun. 2009.

BOOTH, W. C. et al. A arte da pesquisa. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

DESIDÉRIO, G. B. A observação do desenvolvi-mento típico da comunicação não verbal: subsí-dios para a promoção do uso da linguagem no autismo. Disponível em: <http://www.puc rio.br/pibic/relatorio_resumo2007/relatorios/psi/

psi_gilberto_bruzz_desiderio.pdf>. Acesso em 15 jun. 2009.

D’ONOFRIO, S. Metodologia do trabalho intelec--tual. São Paulo: Atlas, 1999.

FEITOSA, V.C. Redação de Textos Científicos. São Paulo: Papirus, s.d.

FUCK Júnior, S. C. F. Recursos hídricos da bacia hidrográfica do rio Pacoti-Ceará: potencialidades, uso atual e degradação ambiental. Disponível em: <http://br.geocities.com/sergiofk/projetopacoti.doc>. Aceso em 15 jun. 2009.

GARCIA, O. M. Comunicação em prosa moderna: aprenda a escrever, aprendendo a pensar. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002.

HUBNER, M. M. Monografias e projetos de disser-tação de mestrado e doutorado. São Paulo: Pionei-raThompson Learning/Mackenzie, 2004.

LIMA, M. C. Monografia: a engenharia da produ-ção acadêmica. São Paulo: Saraiva, 2004.

TACHIZAWA, T. e MENDES, G. Como fazer mono-grafia na prática. Rio de Janeiro, FGV, 2001.

TRALDI, M. C.; DIAS, R. Monografia passo a passo. Campinas: Alínea, 2006.

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Unidade 7

Artigo científico e monografia de conclusão de curso

Apresentando a unidade

Nesta unidade, vamos estudar artigos científicos e monografias de conclusão de curso, textos de mais fôlego que se

exigem de graduandos no fim de seus cursos. Além de analisarmos as partes que compõem es-ses gêneros, vamos compreender sua relevância na vida acadêmica e as regras específicas que norteiam sua produção.

Conhecendo os objetivos

Ao final da unidade, você deverá ser capaz de:1. identificar as características principais

de artigos científicos e mono-grafias de conclusão de curso;

2. analisar criticamente artigos científicos e monogra-fias de conclusão de curso;

3. dominar as técnicas para produzir seus próprios artigos científicos e sua monografia de conclusão de curso.

Conhecendo o artigo científico

No começo de nossas unida-des, você estudou aspectos da textualidade presentes em qualquer tipo de tex-

to, como coesão, coerência, tipologia textual e gêneros discursivos, o que permitiu que você desenvolvesse ainda mais suas capacidades de escrita e leitura.

Em seguida, você estudou o fichamento, o resumo e a resenha, três gêneros básicos na vida acadêmica, os quais servem como ferramentas de estudo e sistematização do conhecimento ad-quirido. É por meio desses gêneros que você po-tencializa sua leitura de referências teóricas, pos-sivelmente usadas em suas futuras pesquisas.

Depois, você aprendeu como elaborar um projeto, estruturando de forma clara seu plano de pesquisa, o qual define objetivos, hipóteses,

metodologia, cronogramas etc. para o estudo que você pretende conduzir. E você ainda estu-dou como produzir um relatório sobre sua pes-quisa – parcial ou final –, o qual será lido por seu orientador e por eventuais agências de fomento.

No entanto, sua pesquisa não pode ficar restrita a esse pequeno círculo de leitores. A partir de agora, você aprenderá como redigir um artigo científico, gênero que serve à divulgação de estudos e seus resultados no meio acadêmi-co. Observe que, sem divulgação, sua pesquisa não cumpre o objetivo de ajudar a evolução da ciência, pois só se ela for conhecida por outros pesquisadores poderá ser usada como referên-cia para futuros estudos.

Assim, se queremos que nosso trabalho seja reconhecido e útil aos demais, devemos apresentá-lo em congressos e seminários ou publicá-lo na forma de artigos científicos em pe-riódicos especializados. Veja que, mesmo que você opte por expor seu trabalho oralmente em congressos, costuma-se exigir do congressista uma versão escrita de seu texto, na forma de um artigo, o qual é publicado em anais do evento.

No que diz respeito à publicação em perió-dicos, a primeira coisa que se deve esclarecer é que toda área tem os seus, impressos ou digitais, os quais divulgam resultados e métodos de pes-quisas de forma bem mais detalhada e sistemá-tica do que relatórios. Uma boa pesquisa biblio-gráfica alia a leitura dos clássicos em torno de uma determinada questão, os quais geralmente estão publicados na forma de livros, e a leitura dos mais recentes estudos sobre essa mesma questão, frequentemente publicados na forma de artigos científicos.

Há dois tipos de artigo científico: a) arti-gos originais ou de divulgação, que apresentam temas ou abordagens originais, em relatos de caso, comunicações ou notas prévias; b) ar-tigos de revisão, que analisam e discutem tra-balhos já publicados e revisões bibliográficas. Em todo caso, ambos devem seguir as mesmas orientações gerais, que apresentaremos mais à frente na unidade, junto com as orientações ge-rais para a elaboração da monografia.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver

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na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 1Você conhece periódicos da sua área? É

sempre bom, ao longo da graduação, tomarmos contato com textos de pesquisadores, pois, além do aprendizado de novos conteúdos, ganhamos mais intimidade com a escrita acadêmica, que pode variar em termos de estilo de uma área do conhecimento para outra.

Vá à biblioteca de sua universidade e bus-que periódicos. Caso não saiba como fazê-lo, peça ajuda ao bibliotecário do setor. Caso prefira, visi-te a base de dados on-line SCIELO, no endereço http://www.scielo.org/php/index.php. Busque pe-riódicos de sua área e dê uma olhada nos artigos que encontrar. Faça um breve relatório dessa ex-periência, incluindo sua primeira impressão dos periódicos e dos artigos. Lembre-se de que toda pesquisa envolve uma etapa como essa, de levan-tamento de referenciais teóricos.

Conhecendo a monografia de conclusão de curso

A palavra monografia pode ser entendida de mais de uma forma: lato sensu, indica qualquer trabalho acadêmico dissertativo, obedecendo ou não às regras de metodologia e padronização da ABNT; stricto sensu, refere-se ao trabalho de conclusão de curso, que deve seguir uma série de normas e padrões da escrita acadêmica. Nes-ta unidade, trabalharemos o gênero monografia adotando a segunda acepção proposta acima. Observe ainda que, dependendo da universi-dade, seu nome pode mudar para trabalho ou artigo de conclusão de curso, mas suas caracte-rísticas permanecem inalteradas.

A monografia de conclusão de curso de graduação contribui para a qualidade da for-mação do aluno universitário, pois familiariza-o com o ambiente da pesquisa e com a escrita aca-dêmica. Trata-se geralmente de pesquisa biblio-gráfica ou empírica, na qual o aluno conta com o apoio de um orientador, professor que acom-panha suas pesquisas e ajuda o orientando na condução de seus estudos.

Os cursos de especialização normalmente também exigem uma monografia como trabalho final. Esses cursos vêm experimentando cres-

cimento expressivo, em praticamente todas as áreas de conhecimento. Em algumas áreas, têm prestígio muito alto, e na maioria delas funcionam como preparatórios para os cursos de mestrado.

No caso da graduação, as instituições de ensino vêm valorizando esse tipo de produção, organizando bancos de monografias. Vários es-forços se verificam, no sentido de preparar essas monografias para publicação. Uma consulta ao Google acadêmico mostra o prestígio desse tipo de produção.

Uma forma interessante de preparar-se, ao longo da graduação, para a elaboração da mono-grafia é participar de projetos de iniciação científi-ca. Assim, o aluno dá seus primeiros passos como membro de uma pesquisa e trava maior contato com a escrita acadêmica, lendo textos e, quando necessário, produzindo-os.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 2Você já viu uma monografia? Um primeiro

passo para elaborar sua monografia é ler outros textos desse gênero, para desenvolver um olhar crítico e analítico. Nesse sentido, visite o banco de monografias de sua universidade e peça para dar uma olhada em textos da sua área do saber. Assim, além de se familiarizar com a própria estrutura do texto acadêmico, pode encontrar algo interessante na revisão de literatura, a ser adotado futuramente como referencial teórico em sua própria pesquisa.

Faça um breve relatório dessa experiên-cia, incluindo sua primeira impressão sobre as monografias. Lembre-se de que toda pesquisa envolve uma etapa como essa, de levantamento de referenciais teóricos.

Características do artigo científico e da monografia

Em ambos os gêneros textuais, predomi-nam os modos de organização textual expositivo e argumentativo, que normalmente vêm entrela-çados. A expectativa é que se comece expondo,

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criando o contexto da pesquisa, e que na análise dos dados e nas conclusões se enfatize o tom ar-gumentativo, defendendo pontos de vista e suge-rindo aplicações.

As qualidades básicas do estilo acadêmico devem estar presentes no artigo científico e na monografia. Portanto, o texto deve ser marcado por concisão, coerência, coesão e clareza, aspec-tos já estudados neste curso, além de ser escrito na modalidade culta, tema da próxima unidade.

A estrutura do artigo científico e da mono-grafia segue o que se esboçou anteriormente no projeto de pesquisa, o qual já supõe uma pesquisa de campo e/ou de revisão bibliográfica. No entan-to, cabe ressaltar que um artigo tem dimensões menores que a de uma monografia, devendo, por-tanto, se centrar em um recorte mais específico.

Vejamos a seguir as partes componentes do artigo científico e da monografia:

1. Elementos pré-textuais – Neste ponto, artigos e monografias diferem, visto que, en-quanto aqueles têm poucos elementos pré-tex-tuais, estas dedicam considerável número de páginas a esses elementos.

1.a. Elementos pré-textuais do artigo – Um artigo deve apresentar título, nome do autor, breve currículo do autor e resumo na língua vernácula. O resumo deve apresentar de forma concisa os objetivos da pesquisa, sua metodo-logia e seus resultados, não ultrapassando 250 palavras e não contendo citações. Em seguida, enumeram-se de três a cinco palavras-chave, que sintetizem o tema do texto.

A formatação dos elementos pré-textuais varia de periódico para periódico, mas, de modo geral, utiliza-se a fonte Times New Roman em todo o texto, com as seguintes distinções de fon-te: tamanho 14 para títulos e subtítulos, 12 para o corpo do texto e 10 para notas de rodapé, sal-vo casos específicos a serem analisados a seguir.

1.b. Elementos pré-textuais da monografia – Sendo um texto mais longo (em torno de 60 pági-nas, embora isso varie muito de instituição para instituição), a monografia apresenta uma série de elementos pré-textuais, discriminados a seguir.

1.b.1. Capa – Este é um elemento obrigató-rio, pois, além de proteger o trabalho, apresen-ta informações essenciais a sua identificação, como os nomes da instituição e do autor, o título do trabalho, o local e a data. A inclusão de ou-tros elementos é opcional.

Segue abaixo um modelo de capa que pode facilmente ser adaptado à sua monografia.

Vale lembrar que o título deve ser informa-tivo, claro, com o mínimo possível de metáforas. O título revela o conteúdo central do estudo. Se o título tiver duas partes, a ideia principal deve aparecer em primeiro lugar.

1.b.2. Folha de rosto (anverso) – Ela segue o formato da capa, com a inclusão da natureza (monografia, tese, dissertação e outros), do ob-jetivo (aprovação em disciplina, grau pretendido e outros) e do orientador do trabalho.

Veja a seguir um modelo de folha de rosto que pode ser adaptado à sua monografia.

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1.b.3. Folha de rosto (verso) – Nessa par-te da monografia, inclui-se a ficha catalográfica, isto é, os dados necessários para a arquivação do trabalho na biblioteca. Tal ficha não é elabo-rada pelo aluno, mas sim pela biblioteca da ins-tituição.

1.b.4. Dedicatória/Agradecimentos – Este é um elemento opcional, no qual se prestam ho-menagem e agradecimentos às pessoas que con-tribuíram, de alguma forma, para a execução do trabalho.

1.b.5. Epígrafe – Folha em que o autor apre-senta uma citação, seguida de indicação de auto-ria, relacionada com a matéria tratada no corpo do trabalho.

1.b.6. Resumo e palavras-chave na língua vernácula – Este é um elemento obrigatório, que deve seguir as normas indicadas na uni-dade referente ao gênero resumo. Em linhas gerais, não há diferenças significativas em comparação ao resumo e às palavras-chave do artigo científico.

1.b.7. Resumo e palavras-chave em língua estrangeira moderna – O inglês, o espanhol e o francês são as mais frequentes, mas há periódi-cos que admitem ou restringem determinadas línguas.

1.b.8. Sumário – Este é um elemento obri-gatório, que permite ao leitor conhecer a estru-tura geral do trabalho. Tome o cuidado de uti-lizar com bom senso o recurso de dividir seu texto em capítulos, seções e subseções. Tal re-curso deve garantir clareza a seu texto, não frag-mentação excessiva.

1.b.9. Listas de ilustrações, tabelas, abre-viações, símbolos ou qualquer outro elemento recorrentemente utilizado no texto.

2. Elementos textuais do artigo e da mo-nografia – Quanto aos elementos textuais, ou ao texto propriamente dito, artigo e monografia são gêneros bem semelhantes, os quais se dividem em introdução, desenvolvimento e conclusão. Em todos eles, usa-se a fonte Times New Roman, em tamanho 14, adotando-se espaçamento de 1,5 cm entre as linhas.

2.1. Introdução – Nessa etapa, como já vimos na unidade sobre projeto e relatório de pesquisa, devem constar contextualização, situação-problema, justificativa e objetivos da pesquisa.

2.2. Desenvolvimento – Nessa etapa, metodologia e revisão da literatura são etapas imprescindíveis, bem como a apresentação e a discussão dos resultados. Para ratificar sua ar-gumentação, é importante apresentar outros pontos de vista e pesquisas de relevância, citan-do os pesquisadores por elas responsáveis.

A citação é um importante elemento no trabalho acadêmico, podendo ser feita de for-ma direta ou indireta. Uma citação direta é uma transcrição literal do texto de outro autor, res-peitando-se fielmente o original. Uma citação in-direta é uma paráfrase de trecho de outro texto. Ambas, no entanto, exigem que se informe a fon-te de onde a citação foi retirada.

Algumas instituições adotam o sistema numérico, em que a fonte é enunciada em nota de rodapé. O sistema alfabético, no entanto, é muito mais frequente, em que se apresentam no corpo do texto, entre parênteses, o autor e o ano (e a página, em caso de citação direta). Para identificar o autor, utiliza-se o último sobrenome em maiúsculas.

Exemplos:

Citação diretaÉ preciso perceber que “conceituar ‘uni-

versidade’ significa indicar atributos de natu-reza técnico-científica e de natureza filosófica para atingir um domínio amplo e mais profundo” (BARROS; LEHFELD, 2007, p.11).

Citação indireta É preciso perceber que o termo “univer-

sidade” pressupõe atributos técnico-científicos e filosóficos que garantem um domínio amplo e mais profundo (BARROS; LEHFELD, 2007).

Atente para a necessidade de estabelecer coesão entre a citação e o texto por você escrito. Uma série de citações mal entrelaçadas com a monografia ou o artigo pode causar a má impres-são de uma “colcha de retalhos”. A citação deve dar embasamento a sua argumentação, sendo essencial que ela se integre de forma harmônica ao restante do texto.

Outro ponto fundamental a ser observado é o tamanho do texto citado, caso você opte pela forma direta. Se a citação é curta (até 3 linhas), é apresentada entre aspas, no corpo do parágra-fo que a introduz. Observe, acima, o primeiro exemplo.

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No entanto, se a citação for longa, deverá ser apresentada em um parágrafo separado dos demais por uma “linha”, em fonte de tamanho 10 e espaçamento simples entre as linhas. Veja o exemplo a seguir:

Exemplo:A extensão é uma função importante da uni-

versidade, pois, por meio dela,

a universidade vem atender a sua respon-

sabilidade social, isto é, desde que ultra-

passe seus próprios domínios, para pres-

tar serviços voltados para a melhoria da

população. Nesse sentido, a universida-

de possui uma dívida social para com

o povo: deve trabalhar para a melhoria

dos padrões de saúde, educação e cultu-

ra, tratando de combinar os direitos dos

indivíduos com os direitos da coletivida-

de (BARROS; LEHFELD, 2007, p. 11).

Veja que, apesar da semelhança na forma de apresentar a fonte, a citação direta longa, além das diferenças já mencionadas, não empre-ga aspas. Além disso, é preciso utilizar um recuo de 4 cm da margem esquerda.

2.3. Conclusão – Nessa etapa, você deve traçar as considerações finais de seu trabalho, revisitando os principais pontos do desenvolvi-mento. Além disso, é muito importante que você explicite as contribuições e as limitações de seu trabalho, bem como possibilidades de desdo-bramentos futuros, em pesquisas posteriores.

3. Elementos pós-textuais

3.1. Referências bibliográficas – Essa é uma seção de extrema importância em um tra-balho acadêmico. Há inclusive avaliadores que, antes mesmo de lerem os elementos textuais, analisam as referências bibliográficas utilizadas pelo pesquisador, pois estas denotam a capaci-dade de seleção de referenciais teóricos relevan-tes para uma área do conhecimento.

É preciso que você seja cuidadoso na sis-tematização de suas referências bibliográficas, pois a clareza e o método garantem ao leitor a possibilidade de encontrar esses textos também, caso se interesse por utilizá-los em suas próprias pesquisas. Os principais elementos a serem cita-

dos são: o nome e o sobrenome do autor, o nome do livro/do artigo, o nome do periódico de onde foi tirado o artigo, a edição, a editora, a cidade e a data de publicação. Veja o modelo abaixo:

SOBRENOME DO AUTOR, Prenome. Título: subtítulo. Edição. Local de publicação: Editora, ano de publicação.

O título do livro ou do periódico deve sem-pre aparecer em itálico ou negrito. Caso seja neces-sário apresentar o nome do artigo e depois o do periódico em que ele foi publicado, apenas o nome do periódico vem em itálico ou negrito. Observe:

SOBRENOME DO AUTOR, Prenome. Título do artigo: subtítulo. Título do periódico. Edição. Local de publicação: Editora, ano de publicação.

Essas são apenas regras gerais para a sis-tematização de suas referências bibliográficas. Para informações mais detalhadas, consulte a NBR-6023, da ABNT.

3.2. Apêndices – Nessa parte do texto, incluem-se documentos elaborados pelo autor a fim de complementar o texto principal.

3.3. Anexos – Nessa parte do texto, apre-sentam-se documentos não elaborados pelo au-tor, os quais servem de fundamentação e ilustra-ção para o texto principal.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto, que

tal pôr em prática o que você acabou de ver na uni-dade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 3Você agora vai elaborar um pequeno arti-

go científico, o qual, se bem redigido, pode in-clusive ser enviado para periódicos da sua área especializados em textos de graduandos. Para isso, parta do projeto de pesquisa que você ela-borou na Unidade 6, desenvolvendo o que você já havia esboçado de forma sucinta no projeto.

Respostas às atividadesAs atividades desta unidade envolviam

produção de textos acadêmicos, como relató-rios e um artigo científico. Peça ao tutor da disci-plina que os corrija e, em seguida, escreva uma segunda versão a partir dessa correção.

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Referências

BAUER, M. W.; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som. Um manual prático. Pe-trópolis: Vozes, 2002.

ECO, U. Como se faz uma tese. Perspectiva: São Paulo, 1989.

FRANÇA, J. L. et alii. Manual para normalização de publicações técnico-científicas. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1998.

GARCIA, M. Normas para elaboração de disserta-ções e monografias. São Paulo: Universidade do Grande ABC, 2000.

VOTRE, S. J. e VOTRE, V. Escrita técnica: o vôo da abelha. Zero Erro: São Paulo, 1991.

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Unidade 8

O domínio da norma-padrão

Apresentando a unidade

Até aqui, você estudou os principais fenô-menos da textualidade (coesão, coerência, tipo-logia textual e gêneros textuais) e os principais gêneros da escrita acadêmica (fichamento, resu-mo, resenha, projeto, relatório, artigo e mono-grafia). Agora, vai lapidar o que já sabe sobre a norma-padrão e conhecer regras práticas para que seu texto obedeça às regras dessa variação linguística a que se filia a escrita acadêmica.

Definindo os objetivos

Ao final desta unidade, você deverá ser capaz de:1. comunicar-se, com facili-dade, segundo as regras da norma-padrão;2. revisar seus próprios tex-tos, no que diz respeito a as-pectos de concordância, pontuação, regência e ortografia.

Conhecendo a impor-tância da norma culta

Você já deve ter percebi-do que a língua portuguesa não é uniforme, variando de acordo com o tempo, o espaço e aspectos sociais. Um brasileiro e um português têm formas diferentes de se expressar. Um avô e um neto fazem uso de variedades da língua que diferem em alguns pontos. Artistas e cien-tistas usam muitas vezes termos específicos de suas áreas de atuação, os quais podem parecer incompreensíveis a alguém que não pertença àquele determinado grupo social.

O mesmo vale para a escrita acadêmica, a qual tem particularidades que você deve do-minar para se comunicar bem com seus pares. Depois de ter lido tantos textos acadêmicos ao longo deste curso, você pode notar similarida-des entre eles, como, por exemplo, a obediên-cia praticamente unânime à norma-padrão. É importante notar, no entanto, que essa não é a única forma de se comunicar em Língua Portu-guesa: fazemo-nos entender no dia a dia o tempo

todo, mesmo usando gírias, não realizando con-cordâncias gramaticais... afinal, a norma-padrão (também chamada de norma culta, ou dita culta) é apenas uma das muitas variedades que há de nosso idioma.

No entanto, é preciso perceber também que a norma-padrão goza de maior prestígio em nossa sociedade, sendo ela a adotada em docu-mentos, na maior parte dos veículos midiáticos e também no meio acadêmico. Sendo este um curso que visa a desenvolver as habilidades de escrita acadêmica, seu foco claramente é o do-mínio da norma-padrão, mas isso não quer dizer que conhecer e dominar as demais variedades linguísticas do Português não seja importante. Aliás, como disse Evanildo Bechara, “o falante deve ser poliglota em sua própria língua”.

Para tentar sistematizar as principais re-gras prescritas pela norma culta, dividimo-las, a seguir, nos tópicos pontuação, concordância, regência, crase e reforma ortográfica.

Conhecendo as principais regras de pontuação

Uma das principais dúvidas na hora da escrita é o uso da vírgula, pois a ideia de que “ela marca uma pausa curta para respirar” representa uma sim-plificação excessiva, a qual conduz a erros. Veja, a seguir, um breve resumo sobre quando usar ou não esse sinal de pontuação.

a. Onde não podemos pôr vírgulaRelembremos que o texto é constituído

de parágrafos, que os parágrafos se formam por períodos e que os períodos são compostos por orações. Essas são cadeias contínuas, constitu-ídas por segmentos identificáveis e separáveis. Esses segmentos, por sua vez, mantêm entre si graus específicos de coesão.

A oração possui dois segmentos essen-ciais, sujeito e predicado. Sujeito nomeia o item de que se fala e predicado diz aquilo que se fala sobre o sujeito. Logo, não cabe separação entre os dois segmentos, em hipótese alguma, mesmo que o sujeito seja longo e, na leitura, sejamos le-vados a fazer uma pausa após enunciá-lo.

Exemplo:O representante da turma de formandos do

turno vespertino produziu um discurso excelente.

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Você pode ser tentado a pôr vírgula após “vespertino”, mas deve evitar isso, a todo custo, visto que “o representante da turma de forman-dos do turno vespertino” é o sujeito da frase.

Também no interior do predicado, há uma conexão muito forte entre o verbo e seus comple-mentos. Logo, nesse caso, não faz sentido separá--los por uma vírgula. No exemplo acima, é impos-sível ocorrer uma vírgula após “produziu”.

b. Onde devemos pôr vírgula

b.1. Elementos intercalados/deslocados – ainda pensando na forte relação entre sujeito e verbo e entre verbo e complemento, é preciso destacar que qualquer elemento que se imponha entre eles precisa ser marcado por vírgula. Veja:

Exemplo:A pomba, em vez de cantar, arrulha.A relação entre o sujeito “a pomba” e o

verbo “arrulha” foi interrompida por um termo intercalado, o qual deve sempre ser marcado entre vírgulas. Caso você ache difícil perceber se um elemento está intercalado, um expedien-te interessante é passar a oração para a ordem direta. Caso, na frase original, haja algum termo deslocado, cabe separá-lo por vírgula (a menos que se trate de um sujeito).

Exemplo: A pomba, em vez de cantar, arrulha.Essa frase, passada para a ordem direta,

ficaria assim:A pomba arrulha em vez de cantar.Como houve o deslocamento de um termo

na frase original, esse deve ser isolado por vírgulas.

OBSERVAçãO: A ordem direta em português é: SUJEItO + VERBO + COMPLEMENtOS VERBAIS + ADJUNtOS

ADVERBIAIS

Para ficar ainda mais claro, veja outro exemplo de vírgula para marcar o deslocamento de um termo:

Exemplo:No final do verão passado, poucas andori-

nhas reencontraram seus ninhos.Na ordem direta, essa frase se apresenta-

ria da seguinte forma:Poucas andorinhas reencontraram seus ni-

nhos no final do verão passado.Como, na frase original, o adjunto adver-

bial “no final do verão passado” estava desloca-do, foi isolado por vírgula.

b.2. Enumeração de elementos – toda lis-ta deve ter seus elemento separados por vírgula. No entanto, se algum desses elementos já possui uma vírgula, utiliza-se ponto e vírgula para orga-nizar a enumeração.

Exemplos: Comprei bananas, cenouras e laranjas.Comprei bananas, que têm potássio; cenou-

ras, que possuem vitamina A; e laranjas, que são ricas em vitamina C.

b.3. Explicação de um termo antecedente – muitas vezes, quando estamos escrevendo um texto, precisamos esclarecer um termo uti-lizado. Essas explicações vêm, geralmente, entre vírgulas, como você pode ver abaixo.

Exemplo: Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes,

é um herói emblemático.Na frase acima, “o Tiradentes” desem-

penha função sintática de aposto, explicando o antecedente “Joaquim José da Silva Xavier”. Recebe, portanto, vírgula. Além disso, veja que termos explicativos alteram a ordem direta. No caso analisado, por exemplo, o aposto está en-tre o sujeito e o verbo, mas a ordem direta não prevê a inserção de nenhum termo entre essas estruturas. Isso confirma a necessidade da vírgu-la para isolar o aposto. Observe agora o próximo exemplo.

Exemplo:Joaquim José da Silva Xavier, que ficou

conhecido historicamente como Tiradentes, é um herói emblemático.

Na frase acima, a oração “que ficou conhe-cido historicamente como Tiradentes” explica o termo antecedente, sendo chamada de oração adjetiva explicativa, segundo a Gramática tradi-cional. Por explicar algo que já havia sido mencio-nado e ser semelhante a um aposto, essa oração também deve sempre vir isolada por vírgulas.

Note ainda que expressões corretivas ou explicativas, tais como “isto é”, “ou melhor”, “ou seja”, “por exemplo” etc., devem ser separadas por vírgulas, porque também retificam/explicam uma informação que já foi mencionada.

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Exemplo:O Brasil precisa reduzir o abismo social, ou

seja, prover condições iguais de vida a todos.

b.4. Omissão de verbo – Muitas vezes, quando escrevemos, optamos por omitir o ver-bo de uma frase, a fim de tornarmos o texto mais coeso. Nesse caso, o local onde se encontraria o verbo ocultado deve ser marcado por vírgula. Veja:

Exemplo:Cozinhar exige talento; lavar a louça, vontade.Na frase acima, foi omitido o verbo “exi-

ge”, sendo necessário colocar em seu lugar uma vírgula.

De forma alguma a lista acima pretende ser exaustiva de todos os casos em que se usa vírgula na Língua Portuguesa. Expusemos acima as dúvidas mais frequentes dos alunos de gra-duação e os casos mais recorrentes na escrita acadêmica. De qualquer maneira, vale a pena consultar uma gramática caso você tenha dúvi-das. Porém, é preciso ficar claro que, para saber pontuar corretamente um texto, o hábito da lei-tura e da escrita é fundamental.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 1Foram retiradas todas as vírgulas do texto

a seguir. Para tornar sua leitura mais clara, reco-loque esses sinais de pontuação, obedecendo às regras da norma-padrão:

(25/5/2009) Israel e Jordânia planejam construir “Canal da Paz” (adaptado)

O Estado de S. Paulo – Leda Balbino, Amã Ideia é salvar Mar Morto e abastecer de

água a região

Em uma região onde a escassez de água é vista como potencial causa de futuros confron-tos Jordânia Israel e Autoridade Palestina plane-jam desenvolver em conjunto um projeto para

salvar o Mar Morto por meio de uma drenagem do Mar Vermelho. Apelidado de “Canal da Paz” o projeto também prevê a construção de uma usi-na de dessalinização para abastecer com água potável principalmente a Jordânia um dos dez países mais secos do mundo.

Visto como uma tábua de salvação no país árabe onde o consumo aumentou quase 50% entre 1985 e 2005 o projeto foi descrito re-centemente pelo ministro jordaniano de Água e Irrigação Raed Abu Soud como “a solução dos problemas de água do país”.

Dos 850 bilhões de litros que seriam des-salinizados anualmente a Jordânia ficaria com 570 bilhões – quase 63% de seu consumo atual. O Banco Mundial realiza um estudo de viabilidade do projeto que deve ser finalizado no fim de 2010.

“O canal é um projeto regional de coopera-ção com o objetivo de aumentar a paz no Oriente Médio obter água potável e reabilitar o Mar Mor-to” disse ao Estado Elias Salameh professor de geologia da Universidade da Jordânia.

Como para Israel seria mais fácil dessali-nizar as águas do Mediterrâneo muitos indicam um interesse político dos israelenses no projeto. “Usinas no Mediterrâneo custariam cerca de US$ 800 milhões” disse Dan Zaslavsky ex-membro da Comissão de Água de Israel. Com o financiamen-to previsto pelo Banco Mundial o custo estimado do canal está entre US$ 5 bilhões e US$ 7 bilhões.

Mira Edelstein que trabalha em Tel-Aviv para a organização Amigos da Terra no Oriente Médio corrobora a opinião de Zaslavsky. “Israel quer passar a imagem de que coopera com Jor-dânia e a Autoridade Palestina em um projeto de paz” disse. Segundo a ativista o objetivo da Autoridade Palestina que controla a Cisjordânia também é político. “Como os palestinos estão em um território ocupado querem assegurar pe-rante a comunidade internacional seu direito ao Mar Morto” afirmou.

Com 200 quilômetros de extensão o canal ligaria o Mar Vermelho e o norte da Jordânia e enviaria 950 bilhões de litros de água por ano ao Mar Morto cujo encolhimento anual de 80 centí-metros ameaça o equilíbrio ambiental e o futuro abastecimento local. “Israel Jordânia e Autorida-de Palestina estão perdendo por ano 375 bilhões de litros de água de seus aquíferos para compen-sar o recuo do Mar Morto” afirmou Salameh.

Localizado no ponto mais baixo da Terra o nível do Mar Morto diminuiu 26 metros desde os

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anos 60 quando estava a 394 metros abaixo do nível do mar. Segundo o Banco Mundial as águas estão hoje a 420 metros abaixo do nível do mar. Se esse ritmo for mantido o lago desaparecerá em 50 anos e prejudicará o setor do turismo.

[...]

Conhecendo as principais regras de concordância

Em português, há dois grandes fenômenos de con-cordância: a verbal, que se dá entre o verbo e o sujeito, relacionada à flexão de número e pessoa; e a nominal, que se dá entre o substantivo e os seus modificadores nominais (adjetivos, prono-mes, artigos e numerais), relacionada à flexão de gênero e número.

O princípio geral que a norma culta esta-belece para a concordância é bastante simples: verbos devem concordar com o sujeito e os mo-dificadores nominais devem concordar com o substantivo que acompanham.

Exemplos:O meu primeiro carro vermelho quebrou. Os meus primeiros carros vermelhos que-

braram.Embora tal regra seja bastante simples e

de conhecimento geral, sua aplicação torna-se um pouco mais complexa em frases de maior comprimento, pois os termos que concordam entre si podem estar afastados por elementos intercalados. No texto acadêmico, tal situação é muito frequente, pois a complexidade das ideias a serem expostas por vezes exige frases compos-tas por mais de uma oração subordinada. Veja:

Exemplo:As relações dos ecologistas com uma gran-

de empresa que desrespeitava as normas de pre-servação ambiental começa a melhorar, para o benefício da humanidade.

Em uma frase maior, como a apresentada acima, é mais frequente o desvio de concordân-cia, pois sua extensão dificulta a identificação das relações sintáticas no período. No exemplo acima, o autor da frase confundiu-se ao empre-gar o verbo “começa” no singular, provavel-mente achando que seu sujeito é “preservação ambiental”. No entanto, o núcleo do sujeito é “relações”, o que exigiria que o verbo estivesse na forma “começam”.

Para que essa explicação se torne mais cla-ra, observe o exemplo abaixo.

Exemplo:Segundo a assessoria, o problema do atraso

foi resolvido em pouco mais de uma hora, e quem faria conexão para outros Estados foram alojados em hotéis de Campinas.

Novamente, o comprimento da frase acar-retou uma falha de concordância verbal. Erro-neamente, o autor empregou a forma verbal “foram”, possivelmente influenciado pela proxi-midade com o substantivo “Estados”. Contudo, o núcleo do sujeito é “quem”, o que exigiria a flexão “foi”.

Outra frequente causa de erros de con-cordância se deve também ao desrespeito a sua regra geral. Enquanto, nas frases anterio-res, a dificuldade se devia ao comprimento do período, analisamos agora os possíveis proble-mas acarretados pelo uso da ordem inversa. Veja:

Exemplos:Segue anexo as duas consultas.Sumiu todos os meus discos.Desapareceu completamente os sinais de

trânsito.As frases acima envolvem construções na

ordem verbo-sujeito, em que desrespeitamos a relação com o sujeito, pois tendemos a inter-pretar o que vem depois do verbo como objeto. Tal desatenção conduz a erros, em que se deixa de concordar o verbo com seu sujeito. Para que as frases acima ficassem corretas, seria preciso reescrevê-las assim:

Exemplos:Seguem anexas as duas consultas.Sumiram todos os meus discos.Desapareceram completamente os sinais de

trânsito.É também preciso perceber que, além

dessas regras gerais, há uma série de casos es-peciais no tema concordância, em que se torna difícil identificar quais termos devem concordar entre si em uma frase. A seguir, apresentamos os casos mais frequentes que geram dúvidas nos alunos. Porém, esta lista não se pretende exaustiva. Caso você queira mais informações, procure uma gramática ou fale com seu profes-sor/tutor.

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Casos especiaisa) o sujeito é um pronome de tratamento

– nesse caso, o verbo fica na 3ª pessoa. Observe que tal construção não tem papel preponderan-te nos escritos acadêmicos em geral, mas é de suma importância na hora de redigir correspon-dências, inclusive e-mails.

Exemplos:Vossa Senhoria esqueceu seu casaco.Vossas Senhorias esqueceram seus casacos.b) substantivos próprios plurais – a concor-

dância depende da presença ou não de artigo: se há artigo, o verbo fica no plural; se não há, o verbo fica no singular.

Exemplos:Minas Gerais fica na América.Os Estados Unidos ficam na América.Vidas Secas notabilizou Graciliano Ramos.Os Lusíadas notabilizaram Camões. c) Verbo apassivado pelo pronome se –

o verbo deve concordar com o sujeito que, no caso, está sempre expresso e vem a ser o pacien-te da ação.

Exemplos:Utilizaram-se amostras de diferentes

tipos.Apresentam-se a seguir os resultados da

pesquisa.Para ter certeza de que o verbo deve ser

flexionado no plural, veja se é possível passar a frase para a voz passiva analítica (formada pelo verbo SER + verbo no particípio).

Exemplos:Foram utilizadas amostras de diferentes tipos.São apresentados a seguir os resultados da

pesquisa.Cabe ressaltar que essas são estruturas

recorrentes na escrita acadêmica, em que você deve ser impessoal. Assim, em vez de utilizar “eu utilizei” ou “eu apresento”, você deve em-pregar formas como “utilizaram-se” e “apresen-tam-se”.

d) Verbo transitivo indireto (isto é, que rege preposição) + SE – o verbo fica no singular. Para certificar-se de que não deve haver con-cordância, veja que uma frase com essa estru-tura não pode ser transposta para a voz passiva analítica.

Exemplos:Necessita-se de mais experimentos. (O ver-

bo está no singular porque não existe uma forma passiva analítica. “De experimentos são necessi-tados” não existe em Português).

Depende-se de novas tecnologias. (O verbo está no singular porque não existe uma forma passiva analítica. “De tecnologias são dependi-das” não existe em Português).

e) Verbo “haver”, como sinônimo de “exis-tir” – o verbo fica sempre no singular. O verbo “haver” só pode se flexionar como verbo auxiliar.

Exemplos:Havia vários alunos na sala. (= existiam)Houve bastantes acidentes naquele mês. (=

existiram)Deve haver muitas pessoas na fila. (= de-

vem existir)Eles haviam feito as tarefas. (= tinham feito

– verbo auxiliar)Eles hão de vencer. (= vão vencer – verbo

auxiliar)d) Verbo “fazer” indicando tempo decor-

rido – esse verbo é impessoal, mantendo-se no singular.

Exemplos:Faz dez anos que não te vejo.Amanhã vai fazer dois meses que nos co-

nhecemos.e) Um adjetivo ligado a mais de um subs-

tantivo – se o adjetivo está posicionado após os substantivos, pode concordar com ambos ou apenas com o mais próximo. Porém, se o adjeti-vo aparece antes dos substantivos, deve concor-dar com o mais próximo.

Exemplos:Comprei vestido e blusa longos.Comprei vestido e blusa longa.Comprei longo vestido e blusa.f) “É bom”, “é necessário”, “é proibido” etc.

– essas expressões não variam se o sujeito não vier precedido de artigo ou outro determinante.

Exemplos: É proibido entrada de pessoas não autori-

zadas. /É proibida a entrada de pessoas não au-torizadas.

Dieta é bom para a saúde. /Essa dieta é boa para a saúde.

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g) “Anexo” – essa é uma palavra de uso mui-to frequente, principalmente no corpo de e-mails. Tome o cuidado de flexioná-la, concordando com o substantivo que designa o que está anexo.

Exemplos:Segue anexo o arquivo.Segue anexa a foto.Seguem anexos os arquivos.Seguem anexas as fotos.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto, que

tal pôr em prática o que você acabou de ver na uni-dade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 2Identifique entre as frases abaixo aquelas que pos-suem desvios de concordância quanto ao que pres-creve a norma-padrão. Reescreva esses períodos de acordo com a norma culta.

a) O projeto de integração que vêm reali-zando as frágeis democracias uruguaia, argenti-na e brasileira é um esforço inegavelmente signi-ficativo para o Cone Sul.

b) Haviam registros de um sistema de exa-mes competitivos elaborados por comunidades indígenas para selecionar os caçadores mais preparados.

c) Ignorância, preconceito e tradição man-têm vivas uma série de ideias que dificultam a implementação de programas direcionados a crianças superdotadas.

d) São extremamente importantes, para se criar um ambiente favorável ao trabalho em grupo, a criação de espaços de convivência e so-cialização dentro das empresas.

e) Até 2015, 50% dos recursos energéticos e de matéria-prima serão economizados por uma empresa que pretende investir 160 milhões de dólares num projeto.

f) Os Estados Unidos liderou durante dé-cadas o bloco ocidental, em rivalidade à extinta União Soviética.

g) É preciso ver que as águas contamina-das, o ar carregado de poluentes e as florestas devastadas pode acarretar o superaquecimento do planeta.

h) Ovos e leite bovinos tiveram aumento considerável de preço nos últimos três meses em decorrência da crise econômica mundial.

i) Acrescentou-se à pesquisa dois fatores primordiais para a compreensão dos fenôme-nos envolvidos. No entanto, precisa-se ainda de mais evidências para chegar a resultados con-clusivos.

Conhecendo as principais regras de regência

O uso de uma língua cria construções relativamen-te fixas, que merecem menção. Um exemplo muito comum dessas “cristalizações” é a relação que ver-bos e nomes estabelecem com a preposição. Veja que o verbo “gostar” é sempre acompanhado da preposição “de”, enquanto o verbo “acreditar” exi-ge a preposição “em”.

Provavelmente, você não pensa sobre isso quando está falando ou escrevendo, pois essa é uma associação automática feita pelos usuários do idioma. O problema é que a norma-padrão exige certas associações entre verbos/nomes e preposições que não usamos no dia a dia.

Um exemplo claro é o do verbo “ir”. A maioria dos falantes diz “Vou no dentista”, em-bora a norma-padrão exija que o verbo “ir” seja acompanhado pela preposição “a”, como em “Vou ao dentista”. Na escrita acadêmica, você deve seguir as determinações da norma culta, pois essa é a variante linguística que tem mais prestígio na vida universitária.

Assim, listamos abaixo alguns verbos com os quais você deve tomar cuidado, pois a norma culta prescreve para eles preposições diferentes das que usamos com maior frequência. Lembre--se de que esta não é uma lista exaustiva. Caso você precise de mais informações, busque-as em uma gramática, em sites confiáveis ou junto a seu professor ou tutor.

1. Aspirara) no sentido de “cheirar”, não exige pre-

posição. Exemplo:Aspiro um delicioso perfume.b) no sentido de “almejar”, exige a prepo-

sição “A”. Exemplo:Aspiro a uma promoção de emprego.

2. Assistira) no sentido de “ajudar”, não exige pre-

posição.

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Exemplo:Madre Teresa de Calcutá assistia os pobres.b) no sentido de “ver”, exige a preposição

“A”.Exemplo:Não assistimos ao show.c) no sentido de “pertencer”, exige a pre-

posição “A”.Exemplo: Esse direito não assiste a você.d) no sentido de “morar”, exige a preposi-

ção “EM”.Exemplo: Assisto em Cuiabá.

3. Chegar/Ir – Ambos exigem a preposição “A” e não a preposição “EM”.

Exemplo:A pesquisa chegou a resultados relevantes.

4. Implicara) no sentido de “causar”, não exige pre-

posição.Exemplo:Esta decisão implicará sérias consequências.b) no sentido de “envolver”, possui dois

complementos: um direto e um indireto com a preposição “EM”.

Exemplo:Implicou o negociante em esquemas corruptos.c) no sentido de “antipatizar”, exige a pre-

posição “COM”.Exemplo:Minha mãe implica com minha desorgani-

zação.

5. Informar Esse verbo, como a maioria dos demais, não ad-mite dois objetos indiretos. Assim, você deve op-tar por um dos modelos abaixo.

Exemplos:Informei o resultado a você.Informei você do resultado.Veja que o uso de preposição entre am-

bos os complementos verbais gera uma frase incorreta, como em “Informei a você do re-sultado”. Essa regra vale para outros verbos, como “comunicar”, “avisar”, “certificar” e “no-tificar”.

6. Obedecer/desobedecer – exigem a pre-posição “A”.

Exemplos:As crianças obedecem aos regulamentos.O aluno desobedeceu ao professor.

7. Preferir – exige dois complementos: um sem preposição e o outro com a preposição “A”. Observe que a norma-padrão condena o uso de expressões de reforço, como “mais”, “muito mais” etc., junto com esse verbo.

Exemplo:Prefiro estudar a sair à noite.

8. Procedera) no sentido de “ter fundamento”, não

exige preposição.Exemplo:Suas queixas não procedem.b) no sentido de “originar-se”, exige a pre-

posição “DE”.Exemplo: Esses queijos procedem da França.c) no sentido de “executar”, exige a prepo-

sição “A”.Exemplo: Os pesquisadores procederam a uma aná-

lise criteriosa.

9. Visarno sentido de “mirar”, não exige preposição. Exemplo: Disparou o tiro visando o alvo. b) no sentido de “almejar”, exige a prepo-

sição “A”.Exemplo: Viso a uma situação melhor.A seguir, acrescentamos duas observa-

ções importantes acerca do fenômeno da re-gência, baseadas em dúvidas que a maioria das pessoas tem na hora de escrever. Essas obser-vações dizem respeito a quase todos os casos de regência, não se restringindo a determinado verbo ou nome.

Regência entre orações

Em períodos compostos, mantém-se o fe-nômeno da regência, observando-se que alguns conectivos atraem as preposições.

Exemplos:A pesquisa a que nos referimos foi iniciada

em abril.

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Os dados de que dependemos serão coleta-dos em uma segunda etapa.

Há esperanças de que a situação melhore.Note que, na primeira frase, o verbo “re-

ferir-se” exige a preposição “A”, a qual é atraída pelo conectivo “QUE”. Na segunda e na terceira frases, o verbo “depender” e o substantivo “es-perança” exigem a preposição “DE”, também atraída pelo conectivo “QUE”. A supressão de qualquer uma dessas preposições seria um des-vio do que rege a norma-padrão, devendo ser evitada em textos acadêmicos.

Regência e pronomes oblíquos átonos

Na unidade sobre coesão, você aprendeu que o uso de pronomes pode evitar que um tex-to se torne repetitivo, garantindo-lhe coesão. No entanto, é preciso que se tomem alguns cuida-dos ao fazê-lo, principalmente no que diz respei-to aos pronomes oblíquos átonos de 3a pessoa. Esses pronomes (O/LHE) podem se referir ao lei-tor, substituindo a palavra “você”, ou a algo ou alguém de quem se fala, substituindo, por exem-plo, o pronome “ele” ou um substantivo. Veja:

Exemplos:Amo você. = Amo-o.Obedeço a você. = Obedeço-lhe.Amo João. = Amo-o.Obedeço a João. = Obedeço-lhe.Mas quando utilizar “O” e quando utilizar

“LHE”? A escolha entre esses dois pronomes é determinada pela regência do verbo que eles complementam. Como você pôde observar nos exemplos acima, o pronome “O” substitui um complemento sem preposição, enquanto “LHE” substitui um complemento preposicionado. No entanto, cabe lembrar que, caso se deva empre-gar o pronome “O”, às vezes é preciso fazer pe-quenas alterações. Veja:

Exemplos:Vi o filme. = Vi-o.Quero ver o filme. = Quero vê-lo.Comprei o filme. = Comprei-o.Compras o filme. = Compra-lo.Faço o filme. = Faço-o.Faz o filme. = Fá-lo.Fazem o filme. = Fazem-no.Caso o verbo termine em “R”, “S” ou “Z”,

perde a última letra e o pronome transforma-se

em “LO”. Caso o verbo termine em “M” ou “ÕE”, permanece inalterado, mas o pronome transfor-ma-se em “NO”.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 3Todas as frases abaixo possuem desvios

de regência quanto ao que prescreve a norma-pa-drão. Reescreva esses períodos de acordo com a norma culta.

a) O delegado procedeu o interrogatório dos suspeitos.

b) A chegada em uma conclusão foi crucial para que ficássemos aliviados.

c) Esta pesquisa visa um esclarecimento de questões socioeconômicas.

d) Aspiramos soluções para este problema.e) Maiores estudos podem implicar em re-

sultados mais confiáveis.f) Prefere-se a pesquisa quantitativa muito

mais do que a qualitativa.g) Informei-lhe de que não há mais pro-

blemas.h) Avisei-o que já está tudo bem.i) O apoio que necessitávamos chegou an-

tes do esperado.j) Temos medo que esse problema não te-

nha solução.k) O acontecimento que tínhamos fé não

se realizou.

Conhecendo as principais regras de crase

Ao se ordenarem linearmente na cadeia da fala, os sons das palavras se atritam, se des-gastam e, por vezes, se fundem. O caso típico da fusão que nos interessa é o da preposição “a” com o artigo ou pronome “a”, ou com o pri-meiro som de “aquele”, “aquela”, “aquilo”. A essa fusão de sons chamamos crase. Na escri-ta, marcamos a crase por meio de um acento grave.

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Para saber quando usar ou não o acento grave, você deve perceber se há uma preposição A e um artigo/pronome A. Veja:

Exemplos:Entreguei os presentes à moça.Visamos à promoção de emprego.Nas frases acima, os verbos “entregar” e

“visar” exigem a preposição “A”, conforme vis-to nesta unidade na seção sobre regência. Além disso, note que os substantivos que se seguem à preposição são femininos, admitindo artigos também femininos. Como é preciso que haja a preposição “A” e o artigo “A”, na grande maio-ria dos casos não há crase antes de palavras masculinas.

Exemplos:Confiei os livros a você.Confiei os livros a ela.Confiei os livros a papai.Nenhuma das frases acima pode receber

acento grave, pois nenhum dos complementos verbais admite o artigo “A”. Veja que, mesmo sendo feminino o pronome “ela”, ninguém diria “A ela é bonita”, pois tal pronome não pode ser antecedido por artigo.

Um expediente útil para verificar se há ou não crase em uma palavra “A” é reescrever a frase no masculino. Dessa forma, caso essa pala-vra “A” seja formada por “A” (preposição) + “A” (artigo), será trocada por “A” (preposição) + “O” (artigo). Observe:

Exemplos:Assisti à novela. = Assisti ao filme.Vi a novela. = Vi o filme. Em alguns momentos, esse expediente

conduzirá a duas possibilidades de transfor-mação. Nesses casos, a crase é facultativa. Isso acontece especialmente diante de substantivos próprios e pronomes possessivos.

Exemplos:Entregue o livro a/à Maria. = Entregue o li-

vro a/ao João.Entregue o livro a/à minha tia. = Entregue

o livro a/ao meu tio.Porém, nem sempre esses expedientes

são suficientes. Às vezes, para identificar a ne-cessidade da crase, é preciso trocar não o artigo, mas sim a preposição. Veja:

Exemplos:Vou à Bahia. = Venho da Bahia.Vou a Portugal = Venho de Portugal.Vou a Paris. = Venho de Paris.Vou à Paris de Baudelaire. = Venho da

Paris de Baudelaire.Cheguei a casa. = Venho de casa.Cheguei à casa de papai. = Venho da casa

de papai.Por meio desse artifício, podemos perce-

ber quando há a fusão entre a preposição “A” e o artigo “A”, pois o resultado da troca foi outra fusão, entre “DE” e “A”. Porém, se o resultado da troca for apenas a preposição “DE”, a frase origi-nal não apresentava a fusão entre a preposição e o artigo, não recebendo, portanto, crase.

A seguir, listamos algumas regras especiais sobre o uso do acento grave, as quais não se en-caixam nos princípios gerais estudados até aqui.

a) Locuções femininas – as locuções fe-mininas, como “à tarde”, “às pressas”, “às ce-gas”, “à tarde”, “à frente de”, “à medida que” etc. exigem sempre o uso do acento grave. Porém, trata-se de expressões fechadas, em que não se podem utilizar os mecanismos de substituição mencionados acima.

b) Palavras repetidas – entre palavras re-petidas, o acento grave não pode ser utilizado.

Exemplos:Gota a gota, a pia transbordou.Fiquei cara a cara com o bandido.c) A x HÁ – para se expressar distância ou

tempo futuro, utiliza-se a preposição “A”. Para indicar tempo decorrido, emprega-se o verbo “há”, mas nunca junto com o advérbio “atrás”.

Exemplos:Moro a poucas léguas da escola.Eles voltam daqui a meia hora.O correio chegou há uns vinte minutos.O correio chegou uns vinte minutos atrás.d) AQUELE, AQUELA, AQUILO – caso esses

pronomes sejam combinados com uma preposi-ção, devem receber um acento grave na primeira letra. Observe:

Exemplos:Aquela moça me encanta.Entreguei meu amor àquela moça.Aquilo não assusta ninguém.Eles só visavam àquilo; não paravam de pen-

sar naquilo em momento algum.

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e) A QUE x À QUE ou A QUAL x À QUAL – essa regra está intimamente ligada ao que es-tudamos anteriormente na seção de regência, pois combina as preposições ao uso de conecti-vos entre orações. Para verificar quando usar o acento grave nesses casos, utilize o expediente da troca pelo masculino. Lembre-se de que, ao empregar esse mecanismo, só receberá acento grave a frase cuja versão no masculino apresen-te a combinação “AO”. Veja:

Exemplos:A promoção a que aspiro surgirá em breve.

= O cargo a que aspiro surgirá em breve.Margaridas, as quais têm pétalas brancas,

alegram-me. = Jasmins, os quais têm pétalas brancas, alegram-me.

Não entregue o pacote à moça de verde, mas à que está de preto. = Não entregue o pacote ao moço de verde, mas ao que está de preto.

A promoção à qual aspiro surgirá em bre-ve. = O cargo ao qual aspiro surgirá em breve.

Como as demais regras estudadas nesta unidade, essa lista não se pretende conclusiva, discriminando apenas os casos mais frequentes de dúvidas no que diz respeito ao uso do acento grave. Caso você queira mais informações, con-tinue sua busca em gramáticas, sites da Internet, ou junto a seu professor ou tutor.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto, que

tal pôr em prática o que você acabou de ver na uni-dade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 4Observe as frases abaixo. Algumas delas

deveriam ter recebido acento grave, mas outras não. Identifique quais precisam ser acentuadas.

a) Aspiro a uma vida tranquila no campo.b) Desconheço a lei a que te referes.c) Estudo a noite, então saio as pressas

para chegar logo a casa.d) A escola fica próxima aquele restaurante,

a uns 200 metros de distância.e) A partir de agosto, começo a fazer dieta.f) Como você chegou a essas conclusões?g) Assistimos hoje a violência crescente

nas metrópoles.

h) A meta a qual visamos parece cada vez mais inatingível.

i) Dia a dia a tecnologia favorece o acesso a informação de todo o mundo.

j) Chegar a esta cidade não é gratificante como chegar a Ouro Preto ou a Brasília de JK.

k) Chegaremos cedo a Paraíba, mas não podemos deixar de ir a Belém.

Conhecendo as novas regras de ortografia

A partir de janeiro de 2009, entrou em vigor a nova ortografia da Língua Portuguesa. Trata-se de uma série de mudanças introduzidas pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de de-zembro de 1990, por Portugal, Brasil, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e, posteriormente, por Timor Les-te. No Brasil, o Acordo foi aprovado pelo Decreto Legislativo no 54, de 18 de abril de 1995. Observe que não foram eliminadas todas as diferenças ortográficas entre os países lusófonos, mas es-tas se reduziram bastante.

Vale ressaltar também que as mudan-ças são apenas ortográficas, ou seja, na forma como se escrevem algumas palavras. Não se trata, como se ouve falar equivocadamente, de uma “nova gramática”, ou um “novo por-tuguês”. Além disso, as transformações valem estritamente para a grafia, não havendo qual-quer mudança na forma como se pronunciam as palavras.

A seguir, enumeramos as principais mu-danças trazidas pelo acordo.

1. As letras K, W e Y foram reintroduzidas no alfabeto, embora nunca tivessem desapareci-do dos nossos dicionários.

2. Não se usa mais o trema para indicar que o “U” é pronunciado nas sequências QUE, QUI, GUE, GUI.

Exemplos: cinquenta, aquífero, aguentar, linguiça.

Observação: Em palavras estrangeiras e suas derivadas, como “Müller” e “mülleriano”, respectivamente, o trema permanece.

3. Os ditongos abertos ÉI e ÓI só con-tinuam acentuados nas oxítonas. Nas paroxíto-nas, os acentos que marcavam esses encontros vocálicos foram abolidos.

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Exemplos: papéis (oxítona), pastéis (oxí-tona), herói (oxítona), geleia (paroxítona), jiboia (paroxítona) e alcaloide (paroxítona).

4. Os hiatos EE e OO não são mais acen-tuados.

Exemplos: veem, deem, leem, enjoo, ma-goo, voo.

5. A letra I e a letra U, quando em hiatos pre-cedidos por ditongos, não são mais acentuadas.

Exemplos: feiura (fei-u-ra) e bocaiuva (bo--cai-u-va).

Observe que essa regra não se aplica a pa-lavras oxítonas. A palavra “tuiuiú” continua sen-do, portanto, acentuada.

6. Desaparecem quase todos os acen-tos diferenciais, como os que opunham “pára” (verbo) e “para” (preposição); “pêra” (substan-tivo), “pera” (preposição arcaica, equivalente a “para”) e “péra” (substantivo, sinônimo de “pedra”); “pólo” (substantivo) e “polo” (contra-ção entre a preposição arcaica “per” e o artigo “o”); etc. Hoje, escreve-se simplesmente “para”, “pera” e “polo”.

Observação: mantêm-se os seguintes acentos diferenciais:

a. pôr (verbo) x por (preposição);b. pôde (verbo no pretérito perfeito do

indicativo) x pode (verbo no presente do indi-cativo);

c. tem (singular) x têm (plural do verbo “ter”). O mesmo vale para os derivados: mantém x mantêm, retém x retêm etc.

d. vem (singular) x vêm (plural do verbo “vir”). O mesmo vale para os derivados: provém x provêm, advém x advêm etc.

A reforma ortográfica teve reflexos não só nas regras de acentuação gráfica, mas também no uso do hífen. Como esse normalmente é um assunto controvertido, em vez de sinalizarmos apenas o que mudou, vamos fazer um resumo do resultado final da mudança no que diz respeito a esse sinal. Note que se trata apenas das regras mais produtivas, ou seja, as que você mais tem de empregar quando escreve. Caso se trate de uma exceção, vale a pena recorrer ao dicionário.

1. Quando o radical (parte principal da pa-lavra) começa com H, usa-se hífen.

Exemplos: super-homem, anti-higiênico, macro-história, sobre-humano.

Exceção: subumano.2. Quando o prefixo termina com a mesma

letra com que começa o radical, usa-se hífen.

Exemplos: anti-inflamatório, micro-ôni-bus, contra-ataque, inter-racial, sub-bibliotecá-rio, super-romântico.

Exceção: palavras com o prefixo “co-”, tais como “coordenador”, “cooperar” e “coocupar”.

3. Quando o prefixo termina com uma le-tra diferente daquela com que começa o radical, não se usa hífen.

Exemplos: aeroespacial, socioeconômico, antiaéreo, anteprojeto, antediluviano, infraver-melho, antirrábica, contrarregra, ultrassom, mi-nissaia.

Observação: Note que as quatro últimas palavras da lista anterior seguem essa regra nor-malmente, mas exigem a duplicação das letras “R” e “S” para manter o som original do radical. Isso acontecerá sempre que o radical começar com R ou S e o prefixo não terminar com a mes-ma letra.

4. Os prefixos “vice-”, “ex-”, “sem-”, “além-”, “aquém-”, “recém-”, “pós-”, “pré-”, “pró-”, por-que são às vezes usados como substantivos, preposições ou advérbios, sempre exigem hífen. O mesmo vale para os sufixos de origem tupi--guarani, como “-açu”, “-guaçu” e “-mirim”.

Exemplos: vice-campeão, ex-aluno, sem--terra, além-mar, aquém-fronteira, recém-nasci-do, pós-graduação, pré-vestibular, pró-america-no, jacaré-açu, amoré-guaçu e paraná-mirim.

Exercitando Antes de avançar para um novo assunto,

que tal pôr em prática o que você acabou de ver na unidade? Se você encontrar dificuldades para realizar a tarefa a seguir, retome o conteúdo aqui estudado.

Atividade 5Os textos a seguir estão escritos de acor-

do com as regras ortográficas em vigor até dezembro de 2008. Faça as adaptações neces-sárias para que eles obedeçam às regras esta-belecidas no Acordo Ortográfico da Língua Por-tuguesa.

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texto I

Mais de 10 mil abelhas vão parar em asa de avião nos EUA

(adaptado)

Um enxame de abelhas acabou escolhen-do um lugar inusitado para “criar” sua colméia. Elas foram parar na asa de um avião que é uti-lizado por uma escola de vôo no aeroporto de Beverly, em Danvers (EUA), segundo a emissora de TV WCVB.

Segundo a emissora, havia mais de 10 mil abelhas no avião. O proprietário da escola de vôo ligou para a polícia, que chamou o perito em abelhas Al Wilkins. Ele utilizou um aspirador especialmente projetado para sugar as abelhas.

Wilkins acredita que a rainha deve ter para-do para descansar no avião, enquanto as demais abelhas ficaram ao seu redor para protegê-la.

texto II

incontinência urinária nos idosos: um problema sócio-econômico

Os idosos são, cada vez mais, foco de es-tudo e atuação. Por isso, é necessário e impor-tante falarmos não só dos problemas de saúde que atingem essa faixa etária, mas também de aspectos sociais que permeiam as doenças mais comuns da 3a idade. Entre elas, está a inconti-nência urinária. A doença consiste na perda in-voluntária de urina pelo meato uretral. A doença gera desconforto social, prejuízo profissional e psíquico ao paciente.

Apesar de não atingir exclusivamente os idosos, a incontinência urinária é mais comum na fase geriátrica e pode ser agravada pelo re-laxamento dos músculos perineais, consequên-cia da idade. Além dos efeitos físicos da doen-ça, a incontinência urinária afeta os indivíduos psicologicamente no que se refere à qualidade de vida, podendo acarretar depressão e influen-ciar na vida sexual por gerar desconforto para o paciente. Os sintomas afetam o trabalho e a auto-estima, uma vez que impõem restrições de convivência, ao limitar as atividades, por conta da incapacidade de conter a urina.

Na nossa sociedade, prevalece o fato cultural de que é normal perder urina na ve-lhice. Mas o dr. Fábio Baracat, urologista do

Hospital Alemão Oswaldo Cruz, alerta: “Perder urina nunca é normal. É uma doença que deve ser tratada”. Dificilmente os indivíduos procu-ram ajuda para o problema. Por isso, devem ser incentivados pelos especialistas a falarem sobre o assunto e procurarem ajuda médica para receberem medicação adequada. “Para se ter uma ideia da negligência dos indivíduos quanto a essa doença, atualmente apenas 27% dos indivíduos recebem medicação”, ressalta dr. Baracat.

[...]

Respostas às atividades

Atividade 1 – Reproduz-se, abaixo, o tex-to com as vírgulas que haviam sido retiradas. O símbolo (,) equivale a uma vírgula opcional.

Em uma região onde a escassez de água é vista como potencial causa de futuros confron-tos, Jordânia, Israel e Autoridade Palestina pla-nejam desenvolver (,) em conjunto (,) um proje-to para salvar o Mar Morto(,) por meio de uma drenagem do Mar Vermelho. Apelidado de “Canal da Paz”, o projeto também prevê a construção de uma usina de dessalinização para abastecer com água potável principalmente a Jordânia, um dos dez países mais secos do mundo.

Visto como uma tábua de salvação no país árabe, onde o consumo aumentou quase 50% en-tre 1985 e 2005, o projeto foi descrito (,) recen-temente (,) pelo ministro jordaniano de Água e Irrigação, Raed Abu Soud, como “a solução dos problemas de água do país”.

Dos 850 bilhões de litros que seriam des-salinizados anualmente, a Jordânia ficaria com 570 bilhões – quase 63% de seu consumo atual. O Banco Mundial realiza um estudo de viabilida-de do projeto, que deve ser finalizado no fim de 2010.

“O canal é um projeto regional de coope-ração (,) com o objetivo de aumentar a paz no Oriente Médio, obter água potável e reabilitar o Mar Morto”, disse ao Estado Elias Salameh, pro-fessor de geologia da Universidade da Jordânia.

Como para Israel seria mais fácil dessa-linizar as águas do Mediterrâneo, muitos indi-cam um interesse político dos israelenses no projeto. “Usinas no Mediterrâneo custariam cerca de US$ 800 milhões”, disse Dan Zasla-vsky, ex-membro da Comissão de Água de Is-rael. Com o financiamento previsto pelo Banco

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Mundial, o custo estimado do canal está entre US$ 5 bilhões e US$ 7 bilhões.

Mira Edelstein, que trabalha em Tel-Aviv para a organização Amigos da Terra no Oriente Médio, corrobora a opinião de Zaslavsky. “Israel quer passar a imagem de que coopera com Jor-dânia e a Autoridade Palestina em um projeto de paz”, disse. Segundo a ativista, o objetivo da Autoridade Palestina que controla a Cisjordânia também é político. “Como os palestinos estão em um território ocupado, querem assegurar pe-rante a comunidade internacional seu direito ao Mar Morto”, afirmou.

Com 200 quilômetros de extensão, o canal ligaria o Mar Vermelho e o norte da Jordânia e en-viaria 950 bilhões de litros de água por ano ao Mar Morto, cujo encolhimento anual de 80 centímetros ameaça o equilíbrio ambiental e o futuro abasteci-mento local. “Israel, Jordânia e Autoridade Pales-tina estão perdendo (,) por ano (,) 375 bilhões de litros de água de seus aquíferos para compensar o recuo do Mar Morto”, afirmou Salameh.

Localizado no ponto mais baixo da Terra, o nível do Mar Morto diminuiu 26 metros desde os anos 60, quando estava a 394 metros abaixo do nível do mar. Segundo o Banco Mundial, as águas estão (,) hoje (,) a 420 metros abaixo do nível do mar. Se esse ritmo for mantido, o lago desaparecerá em 50 anos e prejudicará o setor do turismo.

Atividade 2 – Seguem abaixo as frases que continham desvios em relação à norma-padrão, as quais foram devidamente reescritas.

b) Havia registros de um sistema de exa-mes competitivos elaborados por comunidades indígenas para selecionar os caçadores mais preparados.

d) É extremamente importante, para se criar um ambiente favorável ao trabalho em gru-po, a criação de espaços de convivência e socia-lização dentro das empresas.

f) Os Estados Unidos lideraram durante décadas o bloco ocidental, em rivalidade à extin-ta União Soviética.

g) É preciso ver que as águas contamina-das, o ar carregado de poluentes e as florestas devastadas podem acarretar o superaquecimen-to do planeta.

h) Ovos e leite bovino tiveram aumento considerável de preço nos últimos três meses em decorrência da crise econômica mundial.

i) Acrescentaram-se à pesquisa dois fato-res primordiais para a compreensão dos fenôme-nos envolvidos. No entanto, precisa-se ainda de mais evidências para chegar a resultados con-clusivos.

Atividade 3 – Seguem abaixo as frases de-vidamente corrigidas.

a) O delegado procedeu ao interrogatório dos suspeitos.

b) A chegada a uma conclusão foi crucial para que ficássemos aliviados.

c) Esta pesquisa visa a um esclarecimento de questões socioeconômicas.

d) Aspiramos a soluções para este pro-blema.

e) Maiores estudos podem implicar resul-tados mais confiáveis.

f) Prefere-se a pesquisa quantitativa à qua-litativa.

g) Informei-lhe que não há mais proble-mas./ Informei-o de que não há mais problemas.

h) Avisei-o de que já está tudo bem./ Avi-sei-lhe que já está tudo bem.

i) O apoio de que necessitávamos chegou antes do esperado.

j) Temos medo de que esse problema não tenha solução.

k) O acontecimento em que tínhamos fé não se realizou.

Atividade 4 – Seguem abaixo as frases que continham erros, agora devidamente acen-tuadas.

c) Estudo à noite, então saio às pressas para chegar logo a casa.

d) A escola fica próxima àquele restaurante, a uns 200 metros de distância.

g) Assistimos hoje à violência crescente nas metrópoles.

h) A meta à qual visamos parece cada vez mais inatingível.

i) Dia a dia a tecnologia favorece o acesso à informação de todo o mundo.

j) Chegar a esta cidade não é gratificante como chegar a Ouro Preto ou à Brasília de JK.

k) Chegaremos cedo à Paraíba, mas não podemos deixar de ir a Belém.

Atividade 5 – Seguem abaixo as palavras dos textos I e II que tiveram a grafia alterada com o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

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Texto IcolmeiavooTexto IIsocioeconômicoconsequênciaautoestimaideia

Referências

AZEREDO, J. C. de. Iniciação à sintaxe do portu-guês. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

BALBINO, L. Israel e Jordânia planejam construir ‘Canal da Paz’. O Estado de S. Paulo, 25 mai. 2009. Disponível em: <http://www.uniagua.org.br/>. Acesso em 15 jun. 2009.

BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. Rio de janeiro: Lucerna, 1999.

CUNHA, C. F. de. Gramática da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: MEC, 1992.

Incontinência urinária nos idosos: um proble-ma sócio-econômico. Disponível em: <http://jornalsuldeminas.com.br/alfredojunior/index.php?option=com_content&task=view&id=276&Itemid=9>. Acesso em 15 jun. 2009.

O GLOBO. Mais de 10 mil abelhas vão parar em asa de avião nos EUA. Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/PlanetaBizarro/0,,MUL1181243-6091,00-MAIS+DE+MIL+ABELHAS+VAO+PARAR+EM+ASA+DE+AVIAO+NOS+EUA.html>. Acesso em 15 jun. 2009.

ROCHA LIMA, C. H. Gramática normativa da Lín-gua Portuguesa. Rio de Janeiro: José Olimpio, 1987.

TUFANO, D. Guia prático da nova ortografia: saiba o que mudou na ortografia brasileira. São Paulo: Melhoramentos, 2008.

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Este livro foi composto na fonte Cheltenhan, corpo 10. Impresso na Flama Ramos Manuseio e Acabamento Gráfico , em

Papel Off-Set 75 gramas (miolo) e Cartão Supremo 250 gramas (capa),produzido em harmonia com o meio ambiente.Esta edição foi impressa em março de 2010.

PRIMEIRA EDITORA NEUTRA EM CARBONO DO BRASIL

Título conferido pela OSCIP PRIMA (www.prima.org.br) após a implementação de um Programa Socioambiental

com vistas à ecoeficiência e ao plantio de árvores referentes à neutralização das emissões dos GEE´s – Gases do Efeito Estufa.