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DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO PARA CARTEIRAS DE CRÉDITO A PESSOAS FÍSICAS Fabio Wendling Muniz de Andrade

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DESENVOLVIMENTO DE MODELO

DE RISCO DE PORTFÓLIO PARA

CARTEIRAS DE CRÉDITO A

PESSOAS FÍSICAS

Fabio Wendling Muniz de Andrade

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DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE

RISCO DE PORTFÓLIO PARA CARTEIRAS

DE CRÉDITO A PESSOAS FÍSICAS

Banca examinadora:

Prof. Orientador Abraham Laredo Sicsú

Prof. João Carlos Douat

Prof. Boris Krank Alves

Prof. Heber José de Moura

Prof. Eduardo de Almeida Prado

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

FABIO WENDLING MUNIZ DE ANDRADE

DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO

PARA CARTEIRAS DE CRÉDITO A PESSOAS FÍSICAS

Tese apresentada ao Curso de Doutorado da

FGV/EAESP

Área de Concentração: Controle, Finanças e

Contabilidade como requisito para a obtenção do título

de doutor em Administração de Empresas.

Orientador: Prof. Abraham Laredo Sicsú

SÃO PAULO

2004

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DE ANDRADE, Fabio Wendling Muniz. Desenvolvimento de Modelo de Risco de Portfólio para Carteiras de Crédito a Pessoas Físicas. São Paulo: EAESP/FGV, 2004. 196 p. (Tese de Doutorado apresentada ao Curso de Doutorado em Administração de Empresas da EAESP/FGV, Área de Concentração: Controle, Finanças e Contabilidade).

Resumo: Esta Tese apresenta o desenvolvimento conceitual, estimação de parâmetros e aplicação empírica de um Modelo de Risco de Portfólio cujo objetivo é realizar previsões da distribuição estatística da perda de crédito em carteiras de crédito ao consumidor. O modelo proposto é adaptado às características do crédito ao consumidor e ao mercado brasileiro, podendo ser aplicado com dados atualmente disponíveis para as Instituições Financeiras no mercado brasileiro. São realizados testes de avaliação da performance de previsão do modelo e uma comparação empírica com resultados da aplicação do Modelo CreditRisk+.

Palavras-Chaves: Crédito ao Consumidor; Administração de Risco; Modelo de Portfólio; Perda de Crédito; Simulação de Monte Carlo; Função de Cópula; Segmentação; Bootstrap; Ajuste de Distribuições; CreditRisk+.

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Agradeço à SERASA S.A. a colaboração que foi indispensável para a

conclusão deste trabalho.

Dedico o resultado deste trabalho à minha esposa Sandra e à minha filha

Victória que me apoiaram em todos os momentos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................10

1 - MODELOS DE RISCO DE CRÉDITO ...........................................................................................15

1.1 - O CONCEITO DE RISCO DE CRÉDITO ................................................................................................15

1.2 - TAXONOMIA DE MODELOS DE RISCO DE CRÉDITO ...........................................................................18

1.3 - MODELOS DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCO .........................................................................................19

1.4 - MODELOS ESTOCÁSTICOS DE RISCO DE CRÉDITO ............................................................................24

1.5 - MODELOS DE RISCO DE PORTFÓLIO.................................................................................................30

2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...........................................................................................................48

2.1 - APLICAÇÃO DA TEORIA DE PORTFÓLIO PARA CARTEIRAS DE CRÉDITO ............................................49

2.2 - MODELOS PARA GERAR A DISTRIBUIÇÃO DE PERDAS OU VALOR DE CARTEIRAS .............................56

3 - ESCOPO DO MODELO PROPOSTO..............................................................................................64

3.1 - DIVISÃO DA CARTEIRA EM SEGMENTOS..........................................................................................66

3.2 - SIMULAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE PERDA NA CARTEIRA .................................................................68

3.3 - ESTIMAÇÃO DE PARÂMETROS E APLICAÇÃO DO MPCC ..................................................................70

3.4 - APLICAÇÃO DO MPCC EM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS .................................................................74

4 - DADOS EMPÍRICOS UTILIZADOS NA PESQUISA....................................................................75

5 - CÁLCULO DA PERDA DE CRÉDITO............................................................................................78

5.1 - DEFINIÇÃO DE PERDA DE CRÉDITO .................................................................................................78

5.2 - CONSIDERAÇÕES SOBRE PERDA DE CRÉDITO E RECUPERAÇÃO........................................................79

5.3 - PROPOSTA DE CÁLCULO DE PERDA DE CRÉDITO NO MPCC.............................................................81

6 - SEGMENTAÇÃO DA CARTEIRA DE CRÉDITO AO CONSUMIDOR ....................................86

6.1 – SEGMENTAÇÃO DAS OPERAÇÕES – AGRUPAMENTO POR CARACTERÍSTICAS DO CONSUMIDOR.......90

6.2 - SEGMENTAÇÃO DAS OPERAÇÕES – AGRUPAMENTO POR RISCO DE CRÉDITO .................................101

6.3 - FORMAÇÃO DOS SEGMENTOS FINAIS.............................................................................................109

7 - AJUSTE E SELEÇÃO DE DISTRIBUIÇÕES PARA PERDA DE CRÉDITO ..........................113

7.1 - GERAÇÃO DA AMOSTRA ...............................................................................................................113

7.2 - AJUSTES DE DISTRIBUIÇÕES..........................................................................................................120

7.3 - SELEÇÃO DE DISTRIBUIÇÕES .........................................................................................................124

8 - MODELAGEM DE DEPENDÊNCIAS ATRAVÉS DE CÓPULAS ............................................128

8.1 - FUNÇÃO DE CÓPULA .....................................................................................................................130

8.2 - APLICAÇÃO DAS FUNÇÕES DE CÓPULA NO MPCC ........................................................................135

9 - SIMULAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE PERDA DE UMA CARTEIRA DE CRÉDITO AO

CONSUMIDOR ......................................................................................................................................137

9.1 - PROCESSO DE OBTENÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE PERDA DA CARTEIRA...........................................137

9.2 - ALGORITMOS DE SIMULAÇÃO .......................................................................................................140

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9.3 - APLICAÇÃO DO MPCC EM PORTFÓLIOS SIMULADOS ....................................................................142

9.4 - TESTES ESTATÍSTICOS SOBRE AS DISTRIBUIÇÕES ..........................................................................146

9.5 - PERFIL DAS DISTRIBUIÇÕES OBTIDAS ............................................................................................151

9.6 - APLICAÇÃO EM CARTEIRAS PEQUENAS E COMPARAÇÃO EMPÍRICA COM O MODELO CREDITRISK+

.............................................................................................................................................................155

10 - CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISA ..................................................................158

11 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................................163

ANEXO A – DISTRIBUIÇÕES ESTATÍSTICAS TESTADAS.........................................................173

ANEXO B – RESULTADOS DOS AJUSTES DE DISTRIBUIÇÕES...............................................186

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1-1 – ESQUEMA DE UM MODELO DE CREDIT SCORING .......................................22

FIGURA 1-2 – CRITÉRIOS UTILIZADOS NO RATING DA MOODY’S.....................................24

FIGURA 1-3 – EXEMPLO DE MODELO ESTOCÁSTICO .......................................................25

FIGURA 1-4 – ILUSTRAÇÃO DO MODELO DE MERTON ....................................................27

FIGURA 1-5– ESTRUTURA DO MODELO CREDITMETRICS ................................................33

FIGURA 1-6 – MAPEAMENTO ENTRE RATING E DISTRIBUIÇÃO DO VALOR DAS AÇÕES .......36

FIGURA 1-7 – MODELO CREDITPORTFOLIOVIEW...........................................................43

FIGURA 3-1 – RESPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO MPCC ...........................................73

FIGURA 5-1 – PERDA DE CRÉDITO APURADA PARA TODA A AMOSTRA DE DADOS. ............85

FIGURA 6-1 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DA SEGMENTAÇÃO ADOTADA.................89

FIGURA 6-2 – ILUSTRAÇÃO DO RESULTADO...................................................................92

FIGURA 6-3 – EXEMPLO DE SÉRIES HISTÓRICAS DE PERDA DE CRÉDITO...........................99

FIGURA 6-4 – VARIÂNCIA EXPLICADA X NÚMERO DE SEGMENTOS ...............................100

FIGURA 6-5 – MODELO DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCO ..................................................101

FIGURA 6-6 – CURVA ROC ........................................................................................107

FIGURA 6-7 – TAXA DE PERDA POR CLASSIFICAÇÃO DE RISCO ......................................109

FIGURA 6-8 – PROCESSO DE SEGMENTAÇÃO UTILIZADO NO MPCC .............................110

FIGURA 7-1 – PRINCÍPIO DO PROCESSO DE BOOTSTRAP................................................116

FIGURA 7-2 – HISTOGRAMA DE OBSERVAÇÕES MENSAIS DE PERDA DE CRÉDITO

PERCENTUAL ......................................................................................................120

FIGURA 7-3 – EXEMPLO DE AJUSTE DE DISTRIBUIÇÕES. ...............................................122

FIGURA 7-4 – SELEÇÃO DE DISTRIBUIÇÕES DE PERDA PARA OS SEGMENTOS..................127

FIGURA 8-1 – EXEMPLO DE RELAÇÕES DE DEPENDÊNCIA .............................................130

FIGURA 8-2 – APLICAÇÃO DE UMA FUNÇÃO DE CÓPULA...............................................131

FIGURA 8-3 – DISTRIBUIÇÃO BIVARIADA COM CÓPULAS NORMAL E STUDENT ..............134

FIGURA 9-1 – ESTIMAÇÃO DE PARÂMETROS E APLICAÇÃO DO MPCC. .........................139

FIGURA 9-2 – APLICAÇÃO DO MPCC NOS PORTFÓLIOS SIMULADOS E APURAÇÃO DE

VALORES HISTÓRICOS PARA VALIDAÇÃO..............................................................144

FIGURA 9-3 – DISTRIBUIÇÕES DE PERDA EMPÍRICA E SIMULADA COM CÓPULA NORMAL –

NÃO CONSIDERANDO EXPOSIÇÕES DE OPERAÇÕES EM DEFAULT.............................151

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FIGURA 9-4 – DISTRIBUIÇÕES DE PERDA EMPÍRICA E SIMULADA COM CÓPULA STUDENT-2

– NÃO CONSIDERANDO EXPOSIÇÕES DE OPERAÇÕES EM DEFAULT. .........................152

FIGURA 9-5 – DISTRIBUIÇÕES SIMULADAS COM CÓPULAS NORMAL E STUDENT-2 – NÃO

CONSIDERANDO EXPOSIÇÕES DE OPERAÇÕES EM DEFAULT. ...................................152

FIGURA 9-6 – DISTRIBUIÇÕES DE PERDA EMPÍRICA E SIMULADA COM CÓPULA NORMAL –

CONSIDERANDO EXPOSIÇÕES DE OPERAÇÕES EM DEFAULT. ...................................153

FIGURA 9-7 – DISTRIBUIÇÕES DE PERDA EMPÍRICA E SIMULADA COM CÓPULA STUDENT-2

– CONSIDERANDO EXPOSIÇÕES DE OPERAÇÕES EM DEFAULT. ................................153

FIGURA 9-8 – DISTRIBUIÇÕES SIMULADAS COM CÓPULAS NORMAL E STUDENT-2 –

CONSIDERANDO EXPOSIÇÕES DE OPERAÇÕES EM DEFAULT. ...................................154

FIGURA 9-9 – DISTRIBUIÇÕES DE PERDA EMPÍRICA E PRODUZIDA PELO CREDITRISK+ –

CONSIDERANDO EXPOSIÇÕES DE OPERAÇÕES EM DEFAULT. ...................................157

FIGURA 9-10 – DISTRIBUIÇÕES DE PERDA EMPÍRICA E PRODUZIDA PELO CREDITRISK+ –

NÃO CONSIDERANDO EXPOSIÇÕES DE OPERAÇÕES EM DEFAULT.............................157

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1-1 – EXEMPLO HIPOTÉTICO DE MATRIZ DE MIGRAÇÃO.....................................35

TABELA 3-1 – EXEMPLO DE SEGMENTAÇÃO DE CARTEIRA DE CRÉDITO ..........................68

TABELA 6-1 – EXEMPLO DE CODIFICAÇÃO COM VARIÁVEIS DUMMIES.............................96

TABELA 6-2 – CATEGORIZAÇÃO TRADICIONAL E POR DUMMIES ORDENADAS .................96

TABELA 6-3 – VARIÁVEIS SELECIONADAS NO MODELO DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCO ....105

TABELA 6-4 – TAXA DE PERDA POR CLASSIFICAÇÃO DE RISCO .....................................108

TABELA 6-5 – CATEGORIAS DE RISCO PARA A FORMAÇÃO DOS SEGMENTOS FINAIS.......112

TABELA 6-6 – DISTRIBUIÇÃO DAS OPERAÇÕES DE CRÉDITO NOS SEGMENTOS FINAIS.....112

TABELA 7-1 – ESTATÍSTICAS DE OBSERVAÇÕES MENSAIS DE PERDA DE CRÉDITO

PERCENTUAL ......................................................................................................119

TABELA 7-2– RESUMO DE RESULTADOS DE AJUSTES DE DISTRIBUIÇÕES .......................126

TABELA 9-1 – CASOS DE PERDA ACIMA DO PERCENTIL FORNECIDO PELO MPCC ..........145

TABELA 9-2 – RESULTADOS DO TESTE DE BERKOWITZ (2001) .....................................150

TABELA 9-3 – TESTE DE BERKOWITZ PARA O MODELO CREDITRISK+ ..........................156

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10

INTRODUÇÃO

Mudanças no mercado financeiro global e o grande volume de perdas de

crédito geraram uma crescente preocupação com o risco de crédito. Caouette

et al. (1999) apresentam o perfil da evolução do risco de crédito nas últimas

décadas e apresentam o gerenciamento do risco de crédito como o próximo

grande desafio financeiro. No Brasil, o crédito tem assumido um papel de

crescente importância. Isso pode ser verificado pelo crescimento acentuado do

volume de crédito após a estabilização econômica. Segundo dados do Banco

Central do Brasil, o volume de crédito cresceu 266% de julho de 1994 a agosto

de 2003.

A necessidade do controle e gerenciamento eficaz do risco de crédito levaram

ao desenvolvimento de inúmeros modelos de risco de crédito por instituições

financeiras e provedores de serviços de consultoria. Também foram vistas

iniciativas de órgãos regulatórios visando reduzir o risco de crédito no sistema

financeiro. A principal delas resultou nos critérios e recomendações definidos

pelo acordo de Basiléia em 1988 (BIS, 1998). Paralelamente, o

desenvolvimento do mercado de derivativos de crédito trouxe a necessidade de

mecanismos de precificação adequados a estes instrumentos financeiros.

O movimento de melhoria de processos de quantificação e gerenciamento do

risco de crédito decorrente desse novo cenário levou as instituições financeiras

a se aprimorarem no uso de modelos quantitativos de risco de crédito, como,

por exemplo, modelos de Credit Scoring.

Esses fatores foram acompanhados de um maior interesse da comunidade

acadêmica pela questão do risco de crédito a partir da segunda metade da

década de 90. Os trabalhos acadêmicos na área e as iniciativas de firmas de

consultoria e provedores de serviços criaram um arcabouço teórico e um

ferramental prático que possibilitaram que muitas instituições financeiras

migrassem da administração tradicional e julgamental de uma carteira de

crédito para uma administração técnica apoiada em critérios quantitativos.

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11

Apesar da evolução no uso de modelos de risco de crédito, a administração de

uma carteira de crédito ainda está longe de ser uma tarefa regida rigidamente

por modelos quantitativos. Critérios subjetivos e julgamentais ainda ocupam um

forte papel na administração da carteira, notadamente no Brasil. Contudo, o

papel dos modelos quantitativos de risco de crédito não é ditar todas as

decisões envolvidas na administração de uma carteira, mas sim compor um

ferramental técnico para suprir de informações os gestores de crédito. De

posse dos instrumentos e informações apropriados, esses gestores podem

tomar as decisões mais adequadas aos objetivos estratégicos de suas

instituições.

Os primeiros modelos de crédito desenvolvidos ou publicados foram modelos

voltados para a classificação do risco do devedor. Exemplos são o zeta-score

de Altman (1968) para classificar empresas e modelos de credit scoring para

crédito ao consumidor, que começaram a ser desenvolvidos na década de 50

nos Estados Unidos (Lewis, 1992).

Os movimentos que o mercado sofreu nas décadas de 80 e 90 e a

preocupação com a saúde financeira das instituições financeiras contribuíram

para que o foco das atenções na área de risco de crédito passasse a incluir

não somente como classificar o risco dos devedores, mas também como

gerenciar o risco de uma carteira. Como resultado, verificou-se o

desenvolvimento de inúmeros modelos de risco de portfólio para avaliar o risco

de crédito agregado de uma carteira.

O surgimento de um modelo regulatório para determinação de exigências

mínimas de capital em instituições financeiras através do acordo de Basiléia

(BIS, 1988) também foi uma contribuição importante para o gerenciamento de

risco. Apesar da evolução dos critérios do acordo de Basiléia (BIS, 2001), o

modelo regulatório ainda apresenta regras gerais para diversos parâmetros

importantes na determinação do risco da carteira, expresso pelo capital exigido.

A alternativa para o modelo regulatório está nos modelos internos de risco de

portfólio da instituição. Esses modelos buscam suprir as necessidades da

instituição de quantificar e gerenciar o risco de crédito da carteira com base em

uma análise quantitativa mais apurada.

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12

Visando atender à demanda por modelos internos de risco de portfólio de

crédito, diversas empresas de consultoria desenvolveram e publicaram

modelos. Eles foram desenvolvidos principalmente para o mercado de crédito a

empresas. O uso de alguns desses modelos no Brasil é limitada pela falta de

disponibilidade no mercado brasileiro de informações necessárias à sua

aplicação.

São raros os trabalhos publicados abordando modelos de portfólio orientados

para crédito a pessoas físicas ou aplicações no mercado brasileiro. Nessa Tese

está sendo proposto um modelo de risco de portfólio que completa esta lacuna.

O trabalho apresenta o desenvolvimento conceitual de modelo para carteiras

de crédito ao consumidor, bem como uma aplicação empírica utilizando dados

do mercado brasileiro. No decorrer desta Tese usaremos o termo consumidor

como sinônimo de pessoas físicas.

Dados do Banco Central do Brasil indicam que o crédito ao consumidor

cresceu mais de dez vezes entre julho de 1994 e agosto de 2003 e que a taxa

de inadimplência acima de 60 dias nessa modalidade de crédito chegou a

14,4% no primeiro semestre de 2003. A crescente importância do crédito ao

consumidor no Brasil e as altas taxas de inadimplência enfrentadas neste

segmento de mercado justificam o desenvolvimento de uma ferramenta de

gestão de risco de portfólio para crédito a pessoas físicas que seja adequada

às características específicas do crédito ao consumidor e de aplicação viável

com os dados disponíveis no mercado brasileiro.

No Capítulo 1 desta Tese são apresentados os fundamentos de modelos de

risco de crédito para embasar o desenvolvimento deste trabalho. São

abordados não somente modelos de risco de portfólio, mas também modelos

de classificação de risco e modelos estocásticos de risco de crédito. Modelos

de classificação de risco atribuem uma classificação a um devedor ou operação

de crédito e modelos estocásticos de risco de crédito modelam o

comportamento ao longo do tempo de variáveis ligadas ao processo de default.

O objeto desta Tese são modelos de risco de portfólio. Entretanto, as duas

outras categorias de modelos apresentam relações com modelos de portfólio

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13

que justificam sua descrição nesta Tese. Modelos de classificação de risco são

utilizados como dados de entrada na maioria dos modelos de portfólio. Já

modelos estocásticos de risco de crédito formam parte da fundamentação

teórica na qual o desenvolvimento de modelos de portfólio se apóia.

Nesse capítulo também são descritos os quatro principais modelos de risco de

portfólio existentes: CreditRisk+ (CSFP, 1997), CreditPortfolioView (Wilson,

1997a e 1997b), Creditmetrics (Gupton et al., 1997) e KMV (KMV, 1993). Estes

dois últimos podem ser aplicados apenas aos processos de gestão de crédito

de carteiras de empresas. Apesar do foco do modelo aqui proposto ser

carteiras de crédito ao consumidor, é importante analisar os modelos existentes

para empresas para obter uma visão completa da teoria sobre o tema bem

como para possibilitar comparações.

Adicionalmente, o modelo proposto pode ter seu escopo de aplicação

ampliado, podendo ser aplicado também ao crédito a pessoas jurídicas,

principalmente nos segmentos de micro e pequenas empresas, onde a

aplicação de grande parte dos modelos de portfólio existentes encontram

barreiras de disponibilidade de dados.

No Capítulo 2 é feita uma revisão dos principais trabalhos publicados sobre a

aplicação da teoria moderna de finanças em portfólios de crédito e de

desenvolvimento de modelos de risco de portfólio. Modelos de risco de portfólio

de crédito são uma aplicação da teoria moderna de finanças no sentido em que

são aplicados conceitos básicos introduzidos por Markowitz (1952), como

diversificação, por exemplo. Entretanto, eles diferem da abordagem clássica de

obtenção de portfólios eficientes.

O termo modelo de risco de portfólio de crédito é utilizado preponderantemente

para modelos cujo maior objetivo é gerar a distribuição estatística de perdas da

carteira. Esses modelos não determinam a composição de portfólios eficientes

na forma de uma fronteira eficiente. Entretanto, existem trabalhos, como por

exemplo Altman (1996) e Gollinger e Morgan (1993), que tiveram o objetivo da

aplicação do modelo clássico de Markowitz ou adaptações desse modelo para

portfólios de crédito. Esses trabalhos também são descritos nesse capítulo.

Page 15: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

14

Nos capítulos 3 a 9 é apresentado o desenvolvimento do modelo proposto

nesta Tese. Paralelamente ao desenvolvimento teórico e conceitual do modelo

é feita a aplicação com dados empíricos brasileiros. É realizada também uma

comparação empírica entre o modelo proposto e o modelo CreditRisk+.

Por fim, no Capítulo 10 elaboramos nossas considerações finais sobre o

potencial de aplicação do modelo desenvolvido, bem como sugestões para

futuras pesquisas que dêem seqüência ao trabalho apresentado.

Page 16: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

15

1 - MODELOS DE RISCO DE CRÉDITO

Esta seção visa apresentar conceitos e informações que fornecem suporte ao

desenvolvimento deste trabalho. São definidos conceitos básicos como risco e

modelos de risco de crédito. Uma possível forma de taxonomia de modelos de

créditos é descrita e as características e objetivos de cada categoria de

modelos são exploradas. Também são apresentados os principais modelos de

risco de portfólio encontrados na literatura. Esses modelos podem ser vistos

como padrão de comparação para o modelo aqui desenvolvido.

1.1 - O conceito de risco de crédito

De acordo com o dicionário Aurélio (Ferreira, 1986) risco pode ser definido de

duas maneiras: “a possibilidade de perda ou responsabilidade pelo dano” ou

“perigo ou a possibilidade de perigo”.

Segundo Bernstein (1997), a origem da palavra risco vem do italiano antigo

risicare, que significa “ousar”, indicando que é uma opção e não uma

fatalidade. Siqueira (2000) reforça a idéia de risco como uma opção definindo

risco financeiro como “uma conseqüência da decisão livre e consciente de

expor-se a uma situação na qual há a expectativa de ganho sabendo-se que há

a possibilidade de perda ou dano”. Para Steiner Neto (1998) o conceito de risco

implica na possibilidade de escolha.

Essas definições nos ajudam a formar um conceito de risco que está associado

a três elementos:

• Risco está associado a uma possibilidade de ocorrência de algum

evento negativo que pode levar a uma perda.

• Risco é decorrente de uma decisão. Portanto é uma opção de quem

assume o risco.

Page 17: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

16

• Risco é assumido visando ganho.

Segundo o dicionário Aurélio (Ferreira, 1986), crédito é definido como cessão

de mercadoria, serviço ou importância em dinheiro, para pagamento futuro.

Podemos então definir inicialmente risco de crédito como possibilidade de

perda associada à incerteza no recebimento de pagamentos futuros

decorrentes de obrigações de crédito.

Entretanto, a possibilidade de perda não é algo mensurável nem gerenciável. A

evolução do conceito de risco em finanças possibilita chegarmos a uma

definição de risco que seja mais apropriada para a utilização em modelos de

risco de crédito. O conceito de risco em finanças está associado à variabilidade

sobre um resultado esperado. É o conceito utilizado por Markowitz (1952) em

seu trabalho que fundamentou o desenvolvimento moderno de finanças. O

risco de uma carteira de ativos sendo definido como a variância do retorno

esperado.

Apesar do termo risco e incerteza serem muitas vezes vistos como sinônimos

(Sassatani, 1999; Machina e Rotstchild, 1992), Knight (1965) fez a distinção

entre os dois: "A diferença prática entre as duas categorias, risco e incerteza, é

que na primeira a distribuição do resultado num grupo de casos é conhecida

(quer através do cálculo a priori, quer das estatísticas da experiência passada),

enquanto no caso da incerteza isso não ocorre, em geral devido ao fato de que

é impossível formar um grupo de casos, porque a situação que se enfrenta é,

em alto grau, singular".

Sobre essa diferença Siqueira (2000) comenta: “Dessa forma, incerteza se

refere a situações em que não se conhece a distribuição de probabilidade dos

resultados. Risco é a situação em que se podem estabelecer os possíveis

resultados e suas respectivas probabilidades de ocorrência”.

Assim, risco de crédito para uma carteira pode ser definido simplesmente como

a distribuição de probabilidade de perdas na carteira, que apresenta duas

informações básicas:

• Perda esperada;

Page 18: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

17

• Variabilidade da perda esperada.

Esses dois elementos estão dentro de um conceito genérico de risco de crédito

e, dependendo do objetivo do modelo de crédito são utilizadas como sinônimos

de risco de crédito.

Dessa forma, um modelo de credit scoring que busca classificar o risco do

devedor utiliza o conceito de risco como perda esperada para um determinado

perfil de devedor em uma determinada operação. Por outro lado, um modelo de

portfólio visa quantificar o risco de uma carteira como a diferença entre um

percentil superior da distribuição de perda e a perda média da carteira, que é

uma medida de variabilidade da perda de crédito.

O termo risco muitas vezes é utilizado na forma composta “risco cliente” ou

“risco operação” quando se refere à classificação de risco de crédito de clientes

e operações de crédito, respectivamente. O risco cliente avalia o risco,

entendido como probabilidade média de inadimplência ou perda, do cliente

incondicionalmente às características de operações de crédito e está

relacionada com a saúde creditícia do cliente em termos gerais.

O risco operação engloba a associação do risco cliente como características

específicas de uma operação de crédito, como garantias, prazos e valores. O

risco operação pode ser visto como o risco cliente condicionado às

características de uma operação de crédito.

Outro conceito importante é o de evento de risco de crédito. O termo evento de

risco de crédito é utilizado para descrever uma alteração no risco cliente ou

operação. Esse evento é considerado grave quando envolve o não pagamento

ou pagamento parcial das obrigações do devedor. Para um evento grave de

risco de crédito, o termo utilizado nesta Tese é default.

Os termos equivalentes em português são inadimplência e insolvência.

Inadimplência refere-se ao atraso ou não pagamento de um compromisso

financeiro e é aplicável tanto a consumidores como a empresas. Já insolvência

se relaciona à falência ou concordata de uma empresa. Visando fugir da

Page 19: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

18

questão de formalização ligada à falência e para utilizar um termo único para

empresas e consumidores o termo default será utilizado.

1.2 - Taxonomia de modelos de risco de crédito

O termo modelo de risco de crédito é genérico e pode abordar muitas

ferramentas com aplicações diferentes. A definição geral de modelo, de acordo

com o Dicionário Aurélio (Ferreira, 1986), é algo "destinado a ser reproduzido

por imitação". Entretanto, podemos também dizer ser ele a própria imitação de

algo, muitas vezes em menor escala e em menor número de detalhes. Assim,

podemos definir modelo como uma representação simplificada de algo real.

Desse modo, algoritmos, fórmulas, sistemas ou regras que busquem

representar processos ou atributos reais relacionados ao risco de crédito

podem ser considerados modelos de risco de crédito. Esta definição é bastante

abrangente mas, para o desenvolvimento desta Tese, propomos uma

classificação dos modelos de risco de crédito em três categorias, nas quais

concentramos nosso interesse:

• Modelos de classificação de risco: Nesta categoria se encontram os

modelos que visam atribuir uma medida de risco a um devedor ou a uma

operação de crédito em específico. A classificação do risco, que pode ser

expressa na forma de uma escala categórica, contínua ou mesmo

dicotômica, normalmente está relacionada à previsão da ocorrência ou não

de default.

• Modelos estocásticos de risco de crédito: São modelos que procuram

modelar o comportamento estocástico de variáveis relacionadas ao default.

Exemplos desta categoria são modelos para descrever o padrão de

comportamento do valor de uma empresa ou de taxa de default em uma

carteira ao longo do tempo. Os modelos estocásticos são utilizados na

precificação de derivativos de crédito e também fornecem uma base teórica

Page 20: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

19

para o desenvolvimento de muitos modelos de risco de portfólio, que são

descritos no próximo item.

• Modelos de risco de portfólio: Estes os modelos não tratam operações

individualmente, mas sim a carteira de crédito como um todo. Estes

modelos buscam quantificar o risco decorrente de determinada composição

de portfólio, que é expresso na distribuição de perdas ou de valor da

carteira.

1.3 - Modelos de classificação de risco

Modelos de classificação de risco atribuem a um devedor ou a uma operação

de crédito uma medida de risco ordinal (na forma de categorias ordenadas,

como A, B, C) ou cardinal (na forma de uma escala contínua, como uma

pontuação). Estes modelos se encontram fortemente ligados ao processo

operacional de análise e concessão de crédito e são um dos principais critérios

utilizados para a decisão de aprovação de operações de crédito.

O uso de um modelo de classificação de risco no processo de aprovação em

uma instituição financeira está relacionado a dois objetivos:

• fornecer uma avaliação do risco, permitindo a rejeição de operações com

risco acima do desejado ou a atribuição de taxas de juros adequadas ao

risco;

• proporcionar eficiência operacional no processo de decisão, uma vez que o

modelo permite a automação do processo de aprovação a um baixo custo

operacional.

Dentro dessa categoria de modelos se encontram sistemas especialistas, credit

scoring e credit rating.

Page 21: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

20

1.3.1 - Sistemas especialistas

Segundo Weber (1993), sistemas especialistas são sistemas que se propõe a

resolver problemas conforme especialistas humanos através da incorporação

de uma base de conhecimento.

Modelos de classificação de crédito baseados em sistemas especialistas são

formados por um conjunto de regras que buscam reproduzir a decisão de

especialistas em análise de crédito. Os modelos procuram representar o

processo decisório de um especialista, criando uma estrutura de decisão e

classificação baseada em regras que imitam a decisão de analistas

experientes. Estes modelos permitem que o processo decisório de um analista

seja automatizado em processos de decisão em massa.

Normalmente, a classificação de risco de crédito fornecida por um sistema

especialista é dicotômica, ou seja, inclui apenas duas alternativas: aceitável ou

não aceitável. Exemplos de aplicação de sistemas especialistas em crédito

podem ser encontradas em Weber (1993) e Rosa (1992).

1.3.2 - Modelos de credit scoring

Modelos de credit scoring são normalmente utilizados para avaliação de

consumidores (pessoas físicas). A partir de características do proponente ou do

proponente e da operação de crédito, esses modelos geram uma pontuação

(escore) que representa a expectativa de risco de default. Quando são

utilizadas características do proponente e da operação, o risco avaliado refere-

se ao risco do proponente em uma determinada operação de crédito.

Apesar da medida de risco ser normalmente fornecida em uma escala

contínua, ela pode ser categorizada para fornecer uma medida ordinal. As

características do indivíduo que geralmente são utilizadas são informações

cadastrais ou relacionadas ao comportamento de crédito. Se o escore objetiva

Page 22: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

21

avaliar o consumidor em uma operação de crédito em específico, também são

utilizadas as características da operação como informações preditivas.

Estes modelos são geralmente baseados em técnicas de análise estatística

multivariada como modelos de regressão linear, regressão logística, análise

discriminante e AID ou em modelos de inteligência artificial como redes

neurais. Apesar dos modelos de credit scoring serem resultado de análises

estatísticas na vasta maioria dos casos, algumas instituições utilizam modelos

de credit scoring julgamentais. Nos modelos julgamentais as variáveis que

compõe o escore e seus respectivos pesos são determinados pelos gestores

da carteira com base em sua experiência.

Modelos de credit scoring também são utilizados na avaliação de risco de

pequenas empresas, onde o risco da empresa em muito se confunde com o

risco do proprietário. Algumas referências na literatura sobre modelos de credit

scoring são Thomas et al. (2001), Lewis (1992), Mays (1998), Sicsu (1998a e

1998b) e Smith (1964).

A formulação mais comum de um credit scoring é expressá-lo como a

probabilidade de default obtida de um modelo de regressão logística. O

resultado da probabilidade pode ser multiplicado por uma constante como 100

ou 1000 para ajustar a escala final da pontuação. Assim, um modelo de credit

scoring em uma escala de pontuação de 0 a 1000 é representado por:

�=

+=

−+=

n

1iiiXBAF

)Fexp(11000

S

Eq. 1-1

Onde:

• Xi são os atributos ou características do tomador de crédito;

• Bi são seus pesos das variáveis;

• n é o número de variáveis,

• A é uma constante do modelo;

• S é a pontuação.

Page 23: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

22

Para o desenvolvimento de um modelo de credit scoring os seguintes

elementos precisam ser definidos:

• Conceito de default – É a definição do que se deseja prever. É

estabelecida de acordo com o conceito utilizado em cada instituição

financeira. Os conceitos de default mais comuns são atrasos superiores

a 30, 60 ou 90 dias.

• Período de performance – É o período no qual será avaliada a

performance de crédito do consumidor para classifica-lo como bom ou

mau pagador (com default). Este período normalmente varia de 6 a 12

meses. Entretanto, quando o escore é específico de uma operação

(utiliza características preditivas do consumidor e da operação) o

período de performance em geral é igual ao prazo da operação.

• Período de observação – É o período histórico no qual são observadas

características preditivas do consumidor, como por exemplo

comportamento de pagamento em outras operações de crédito.

Variáveis preditivas de origem cadastral são observadas no final do

período de observação, que é a data de referência para cálculo do

escore (T0).

Figura 1-1 – Esquema de um modelo de Credit Scoring

Período de

Performance

Período de

Observação

VARIÁVEIS

PREDITIVAS

BOM

PAGADOR

MAU

PAGADOR

Tempo T0 T-1 T-1 T1

Page 24: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

23

A Figura 1-1 apresenta um esquema sobre o funcionamento de um modelo de

credit scoring e pode ser interpretado da seguinte maneira: o escore é

calculado em T0 utilizando informações preditivas do período de observação

para prever se o consumidor será bom ou mau pagador no período de

performance.

1.3.3 - Modelos de Credit Rating

Modelos de credit rating são modelos aplicados à classificação de empresas

em categorias de risco de crédito, normalmente integrando critérios

quantitativos e julgamentais. Credit ratings são tradicionalmente fornecidos por

agências de classificação de risco como a Moody’s e a Standard and Poor’s.

No Brasil a principal fornecedora de ratings de crédito é a SERASA. Estes

modelos também podem ser desenvolvidos internamente por instituições

financeiras.

Os credit ratings providos pela SERASA são baseados em modelos

estatísticos, exceto para o segmento de grandes empresas (Borges, 2001). Já

os fornecidos pelas Moody’s e a Standard and Poor’s seguem uma

metodologia de análise na qual o elemento julgamental é mais forte (Crouhy et

al.) . A Figura 1-2 ilustra os elementos considerados no rating de uma empresa

pela Moody’s, que contempla desde de aspectos macroeconômicos e de risco

soberano até uma eventual característica específica da emissão de títulos.

Para a obtenção do credit rating, são utilizados índices financeiros extraídos

das demonstrações contábeis da empresa, além de uma variedade de outras

informações como variáveis sócio-demográficas da empresa, dos sócios, do

grupo econômico e desabonos da empresa e dos sócios. Em geral, quanto

maior é o porte da empresa analisada, maior é a influência de critérios

qualitativos no rating.

Um modelo de credit rating baseado somente em critérios quantitativos é

exatamente equivalente a um modelo de credit scoring para crédito ao

Page 25: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

24

consumidor. A diferença dos termos nesse caso é apenas uma questão de

convenção. Apesar de tecnicamente o modelo ser igual a um credit scoring,

convencionou-se chamar modelos para empresas, exceto micro-empresas, de

credit rating.

Borges (2001) fornece uma visão da aplicação de modelos de rating no Brasil e

Crouhy et al. (2001) exploram a metodologia de agências internacionais de

classificação de risco de crédito. Outra referência relevante é o trabalho de

Altman (1968), que foi um dos primeiros a aplicar análise estatística

multivariada para obter uma classificação de risco de crédito de uma empresa.

Figura 1-2 – Critérios utilizados no rating da Moody’s*

*retirado de Crouhy et al. (2001), pp.263.

1.4 - Modelos estocásticos de risco de crédito

Modelos estocásticos de risco de crédito são utilizados principalmente para a

precificação de títulos e derivativos de crédito. Esses modelos são

essencialmente multitemporais. Buscam modelar o comportamento estocástico

Estrutura da emissão

Estrutura da empresa

Posição financeira/operacional

Qualidade de gerenciamento

Tendência do setor e regulatória

Análise Macroeconômica e de risco soberano

Page 26: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

25

de variáveis ligadas à determinação do risco de crédito, como o valor de uma

empresa ou taxa de default.

Um modelo estocástico não fornece qual será o valor da variável modelada no

futuro, mas sim fornece uma possível “realização” de como esta variável evolui

com o tempo, isto é, um possível caminho que o valor da variável pode seguir

na realidade. O modelo estabelece as relações que governam a evolução da

variável analisada no tempo. Essa evolução depende de fatores aleatórios que

introduzem incerteza no modelo.

A Figura 1-3 apresenta 4 possíveis realizações de evolução de uma variável V.

Os caminhos descritos iniciam no mesmo valor inicial de V e, apesar de serem

distintos, foram gerados pelo mesmo modelo estocástico. Através das

possíveis realizações de valor da variável analisada é possível obter

distribuições de probabilidade do valor da variável em algum período específico

no futuro.

Figura 1-3 – Exemplo de modelo estocástico

Duffee e Singleton (1999) estabeleceram uma classificação para esse tipo de

modelo que se tornou padrão, separando-os em:

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47

t

V

Distribuição de V no período t =47

Page 27: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

26

• Modelos estruturais - Surgiram a partir do trabalho inicial de Merton

(1974) e relacionam o valor da firma com o default.

• Modelos de forma reduzida - Não avaliam explicitamente o processo de

default em uma firma. Seu foco é modelagem da intensidade de

ocorrência eventos de default, independente dos fatores que os

provocam.

Modelos estocásticos de risco de crédito são abordados em detalhes em

Bielecki e Rutkowski (2002). Giesecke (2002) apresenta um resumo de fácil

compreensão.

1.4.1 - Modelos estruturais

Modelo de Merton (1974)

O modelo de Merton se baseia na seguinte equação para o comportamento do

valor dos ativos1 de uma firma:

tt

t dWdtV

dVσ+µ= Eq. 1-1

onde:

• Vt é o valor da firma no período t;

• dVt é a variação do valor da firma no período t;

• dt é uma variação temporal;

• µ é um parâmetro de tendência;

• σ um parâmetro de volatilidade;

• dW é um termo aleatório que segue uma distribuição normal.

1 O valor dos ativos refere-se ao valor de mercado da firma, que reflete o fluxo de caixa futuro

que é esperado para a empresa. Não se trata do valor escritural do ativo da empresa.

Page 28: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

27

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50

Período

Valor dos ativos

Débito

Default

Merton (1974) considera que o capital próprio dos acionistas da empresa

funciona como uma opção de compra sobre os ativos da empresa. Os

acionistas possuem o direito, mas não o dever de “comprar” os ativos da

empresa pelo valor de exercício igual ao valor do débito da empresa. Se no

período de exercício dessa opção (data de vencimento do débito) o valor da

firma for inferior ao valor do débito, os acionistas não pagariam a dívida e

deixariam os direitos sobre os ativos da firma para os credores.

Figura 1-4 – Ilustração do Modelo de Merton

A Figura 1-4 exemplifica o conceito adotado. O comportamento do valor dos

ativos da firma é definido pela equação 1-1. O modelo considera que a firma

entra em default quando esse valor se torna inferior ao valor do débito.

Modelos de processos salto-difusão

O processo estocástico adotado no modelo de Merton (1974) é conhecido

como processo de difusão. Um problema dos modelos baseados no processo

de difusão para o valor do ativo é a preditividade dos eventos de default. Como

pelo modelo o valor da firma segue um processo contínuo onde uma grande

queda repentina do valor da firma é extremamente improvável, o evento de

Page 29: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

28

default praticamente nunca será uma completa surpresa. Desta forma, a

probabilidade de uma firma com boa qualidade de crédito entrar em default no

curtíssimo prazo tenderia a zero e os spreads de curto prazo também

tenderiam a zero. Entretanto, evidências empíricas mostram que isto não é

constatado na realidade (Fons, 1994; Sarrig e Varga, 1989).

Os modelos de salto-difusão (Zhou, 1997) contornam este problema

acrescentando ao processo estocástico de valor da firma um componente de

salto:

( ) ( )dY1dWdtV

dV

t

t −Π+σ+λν−µ= Eq. 1-2

onde:

• Vt é o valor da firma no período t;

• dVt é a variação do valor da firma no período t;

• dt é uma variação temporal;

• dY é uma variação aleatória de Y, que segue a distribuição de Poisson

com intensidade λ ;

• Π é a amplitude de saltos com um valor esperado igual a ν+1;

• dW é um termo aleatório que segue uma distribuição normal;

• (µ - λν)dt + σdw é o componente de difusão;

• (Π-1)dY é o componente de salto;

• dW, dY e Π são mutuamente independentes.

O componente de difusão reflete a flutuação do valor da firma, devida às

mudanças graduais em condições econômicas e à chegada de nova

informação que causa mudanças marginais no valor da firma. Já o componente

de salto reflete mudanças bruscas no valor da firma devido à chegada de

informações importantes que podem ter um grande impacto.

Considera-se também que a firma entra em insolvência se o seu valor atingir

certo limite inferior. Zhou (1997) propõe uma solução utilizando simulação de

Page 30: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

29

Monte Carlo para resolver a equação diferencial e precificar títulos e derivativos

de crédito.

1.4.2 - Modelos de forma reduzida

Uma abordagem explorada por diversos autores como Duffie e Singleton

(1999), Jarrow, Lando e Turnbull (1994) e Jarrow e Turnbull (1995) não procura

modelar a relação entre default e valor da firma. O default é considerado um

evento de Poisson com uma determinada intensidade, cujo processo

estocástico é modelado. Modelos de forma reduzida não fazem nenhuma

premissa acerca da origem ou causa de eventos de default e não utilizam ou

formulam nenhuma teoria ligando estrutura de capital ou qualquer outra

característica da firma à ocorrência de um evento específico de default.

Segundo um processo de Poison com intensidade λ constante, a probabilidade

de default entre t = 0 e t = T é:

Te1P λ−−= Eq. 1-3

A equação acima pode ser estendida para uma intensidade variável em função

do tempo levando a:

���

���

� �−=λ− T

0 dt)t(eE1P Eq. 1-4

Conforme Giesecke (2002), o processo estocástico da intensidade λ pode ser

modelado como um processo de salto-difusão dado por:

( ) dJdWdtbad ttt +λσ+λ−=λ Eq. 1-5

onde :

Page 31: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

30

• λt é a intensidade de ocorrência de default no período t;

• dλt é a variação da intensidade de ocorrência de default no período t;

• dt é uma variação temporal;

• a, b e σ são parâmetros;

• dJ é a variação aleatória de J que segue uma distribuição de Poisson;

• dW é um termo aleatório que segue uma distribuição normal.

Modelos de forma reduzida tipicamente modelam o comportamento da

intensidade de ocorrência de default em um determinado grupo de devedores.

Essa característica é importante para crédito ao consumidor, onde uma carteira

de uma instituição financeira pode alcançar milhões de devedores. Aplicações

práticas de modelos estruturais em carteiras de crédito ao consumidor seriam

difíceis devido ao grande volume de cálculos que seria necessário. Por outro

lado, um único modelo de forma reduzida pode ser utilizado para descrever o

comportamento da taxa de default em uma carteira ou em um segmento de

uma carteira.

1.5 - Modelos de risco de portfólio

Modelos de risco de portfólio estão associados a dois objetivos básicos:

determinação da distribuição de perda (ou valor) do portfólio e a quantificação

de riscos marginais. A cada um destes objetivos estão associadas aplicações

que visam o controle do risco e a utilização mais eficiente da capacidade da

instituição assumir riscos.

O principal objetivo de um modelo de risco de crédito de portfólio é obter a

distribuição de perda por default ou de valor em uma carteira de crédito em um

determinado horizonte de tempo. A distribuição de perda é um elemento chave

na gestão do risco da carteira e pode ser utilizada dentro da instituição com

diversas finalidades como a determinação do VAR e cálculo do capital

econômico.

Page 32: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

31

O modelo de risco de portfólio também permite o cálculo do risco marginal de

uma operação de crédito da carteira, bem como de uma nova operação. O

risco marginal de uma operação de crédito difere do risco absoluto por

considerar os efeitos de diversificação dentro da carteira originados da

correlação existente entre os créditos que fazem parte do portfólio. O risco

marginal tem aplicações relacionadas à identificação de concentrações na

carteira, estabelecimento de limites de crédito, precificação e avaliação de

performance.

1.5.1 - Principais modelos de risco de portfólio

Diversos modelos foram desenvolvidos na década de 90 e se tornaram

populares em função de uma ampla divulgação por parte de seus originadores,

normalmente firmas ou instituições financeiras que vendem serviços de

consultoria.

Os modelos de risco de portfólio mais difundidos no mercado são:

• Creditmetrics, criado no banco J. P. Morgan ( Gupton et al, 1997);

• CreditRisk+, criado na Credit Suisse Financial Products (CFSF, 1997);

• CreditPortfolioView, criado na McKinsey e publicado por Wilson (1997a e

1997b);

• KMV, modelo que leva o nome da empresa de consultoria que o criou

(KMV, 1993).

Análises comparativas dos modelos de risco de portfólio podem ser

encontradas em Crouhy et al. (2000), Smithson (2003) e Gordy (1998).

Mais recente e menos conhecido é o modelo comercializado pela Kamakura

Corporation baseado nos trabalhos de Jarrow (2000, 2001) e Jarrow e van

Deventer (1998a, 1998b).

Page 33: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

32

1.5.1.1 - CreditMetrics

O Creditmetrics é um modelo baseado em valores de mercado e busca avaliar

a distribuição de valor do portfólio em um determinado horizonte de tempo. O

risco no Creditmetrics é visto como a variação do valor de mercado do portfólio

de crédito, que ocorre não somente pela ocorrência de eventos de default, mas

também pela mudança positiva (upgrade) ou negativa (downgrade) dos ratings

dos devedores.

A aplicação do Creditmetrics depende do uso de um modelo de classificação

de risco, que pode ser um rating interno da instituição ou rating provido por

uma agência de classificação de riscos. O valor de cada crédito da carteira é

avaliado de acordo com o rating da empresa devedora. Havendo uma elevação

do risco devedor, o valor do crédito relacionado a ele vai ser reduzido. De

maneira semelhante, uma diminuição no risco causa uma elevação no valor do

crédito.

A Figura 1-5 ilustra a estrutura do modelo Creditmetrics. Para melhor

compreensão do fluxo do processo de determinação da distribuição de valor da

carteira, a estrutura do modelo foi dividida em três blocos:

• geração de cenários;

• mapeamento entre valor da ação e rating para cada devedor da carteira;

• determinação do valor de cada crédito em cada cenário.

Page 34: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

33

Figura 1-5– Estrutura do modelo Creditmetrics

Geração de cenários

Para obter a distribuição de valor da carteira, o Creditmetrics utiliza o método

de simulação de Monte Carlo, que consiste na simulação de um número muito

grande (500 mil, por exemplo) de possíveis “realizações” de valor da carteira.

Todas essas possíveis “realizações” definem a distribuição de freqüência de

possíveis valores para a carteira.

Para chegar a uma determinada “realização” de valor para uma carteira, o

Creditmetrics simula variações de preços de ações de cada devedor da

Geração de cenários

������������ ���

� ����� � � �� ��� ������ ����� � � � � �� ���� ���� ������ �

� ��� � � �������� ��� ���

� �� � ��� �� ���� � � � ������ ����

��� � � �� �� ����� � �� � � �

Mapeamento entre Valor de Ativo e Rating para cada

devedor � �� ����

�� � � � ��

� �� �� ����� ����� ��� �� �� � ������ � � � ������ ����� � � � ��

� �� �� ���� �� � � � ������ ����

� � � � ��

Determinação do valor de cada crédito em cada cenário

� � � � ������ ����� � � � ��

� � � ��� ��

� � � ! �� ��������� ������ ��� �� � ���

� ��� �� � � ������ �" ���� ���� �����

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N

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� ��� � � �������� ��� ����

& % ������� �� �� � � �

S

Page 35: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

34

carteira. As variações dos preços das ações são utilizadas para obter variações

simuladas dos ratings dos devedores, que são utilizadas para obter o valor da

carteira.

Deste modo, um dos blocos na aplicação do Creditmetrics é a simulação de um

número muito grande de possíveis “realizações” de variações de valor das

ações dos devedores da carteira. Uma realização de variação de valor das

ações de todos os devedores da carteira em conjunto é chamada de cenário de

variação de preços de ações. O processo de simulação de Monte Carlo

envolve a geração de muitos milhares de cenários.

O processo gera variações do valor de ações que seguem a distribuição normal

e estão correlacionados entre si por uma determinada matriz de correlações.

Apesar do uso da distribuição normal para retornos de ações ser questionável,

isso é uma das premissas do Creditmetrics.

Para simplificar a geração de cenários correlacionados, o Creditmetrics sugere

que o comportamento do preço de ações seja representado por diversos

índices de mercado relativos a setores econômicos e a países. Assim, a matriz

de correlações entre os diversos devedores da carteira pode ser obtido através

das correlações entre os índices de mercado e dos pesos da influência de cada

índice nas ações de cada devedor.

Mapeamento entre variação do valor da ação e rating para cada devedor

da carteira

A cada cenário gerado pelo processo descrito acima, o Creditmetrics determina

o rating de um devedor no final do período através da variação de valor de

suas ações que foi simulada pelo processo de Monte Carlo.

A matriz de migração dos ratings é um instrumento central nesse processo e

apresenta as probabilidades de uma empresa com um determinado rating,

migrar para outras categorias de rating no final do período de avaliação

Page 36: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

35

(normalmente 1 ano). A Tabela 1-1 apresenta um exemplo de matriz de

migração.

Tabela 1-1 – Exemplo hipotético de matriz de migração

1 2 3 4 5 6 7 8 Default1 82,0% 9,0% 4,3% 1,8% 1,3% 0,9% 0,4% 0,2% 0,1%2 7,9% 78,9% 5,8% 2,2% 1,7% 1,3% 1,0% 0,7% 0,5%3 3,0% 9,8% 70,6% 9,1% 2,6% 1,9% 1,3% 1,0% 0,7%4 0,5% 1,5% 5,9% 69,6% 8,0% 4,5% 3,8% 3,2% 3,0%5 0,1% 0,4% 2,6% 4,8% 47,1% 15,0% 11,9% 10,1% 8,0%6 0,0% 0,1% 1,3% 3,2% 11,3% 34,3% 19,0% 16,3% 14,5%7 0,0% 0,0% 0,3% 2,6% 4,0% 16,0% 35,2% 23,0% 18,9%8 0,0% 0,0% 0,1% 0,2% 0,7% 4,9% 22,0% 34,7% 37,4%

Rating FinalRating Inicial

Para chegar aos ratings de cada devedor no final do período de avaliação o

Creditmetrics estabelece uma relação de conversão entre as categorias de

rating e o valor das ações das firmas devedoras. Assim, uma determinada

variação do valor de ação passa a ser diretamente equivalente a uma variação

do rating da firma. Este processo é chamado de mapeamento e se baseia na

abordagem de Merton (1974), que é extrapolada para adotar não somente um

limite para o caso de default, mas vários entre os diversos estados de saúde

creditícia representadas pelas categorias do rating.

No Creditmetrics a variação do valor das ações da firma é utilizada como proxy

da variação do valor dos ativos da firma utilizado por Merton, uma vez que este

não é diretamente observável. O modelo pressupõe que a variação do valor

das ações de uma empresa segue a distribuição normal, apesar de retornos

sobre ativos financeiros normalmente apresentarem uma distribuição

assimétrica com uma cauda acentuada à direita.

O processo de mapeamento é exemplificado através da Figura 1-6 para uma

firma com rating inicial 5. Cada faixa da distribuição representa um certo estado

de rating ou default e existem pontos na distribuição que definem as fronteiras

entre cada estado. Se a variação do valor da ação no período se enquadrar

dentro da faixa da distribuição referente ao estado de default, considera-se que

a empresa estará em default no final do período. Este raciocínio funciona para

todas as possíveis transições de rating.

Page 37: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

36

Figura 1-6 – Mapeamento entre rating e distribuição do valor das ações

Default 8 7 6 5 4 3 2 1

Variação de valor de ativo

Os valores dos pontos de corte entre cada categoria de rating são definidos

através das probabilidades da matriz de transição. Por exemplo, supondo que a

probabilidade de transição de uma empresa do estado atual para o estado de

default seja 10%, o ponto de corte para o estado de default é o ponto da

distribuição para o qual há uma probabilidade de 10% que a variação do valor

da ação seja inferior a ele. De maneira similar, se a probabilidade da empresa

migrar para o rating imediatamente superior ao estado de default for 15%, o

ponto de corte para este estado será o ponto da distribuição para o qual há

uma probabilidade de 25% (10% + 15%) que a variação do valor da ação seja

inferior a ele.

Determinação do valor de cada crédito em cada cenário

O Creditmetrics precifica cada crédito no final do período de avaliação em cada

cenário gerado. A realização deste processo para um número muito grande de

cenários (500 mil, por exemplo) gera valores que permitem a construção da

distribuição da variação de valor da carteira.

Variação de valor da ação

Page 38: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

37

O Creditmetrics faz a precificação dos créditos pela obtenção do valor presente

dos pagamentos futuros descontados utilizando taxas extraídas da curva a

termo de spreads para títulos com o mesmo rating. As curvas fornecem as

taxas de spread de títulos zero-coupom com diferentes vencimentos, que

funcionam como taxas de desconto ajustadas ao risco do devedor e ao prazo

de vencimento da obrigação. Cada pagamento de um crédito é considerado

como um título de zero-coupom, com seu valor calculado pelo valor presente

do pagamento descontado na taxa referente ao prazo do pagamento.

A soma dos valores presentes de cada pagamento fornece o valor de mercado

do crédito. No caso de default, o valor do crédito é definido pela taxa de

recuperação. Na formulação do modelo considera-se que a taxa de

recuperação segue uma distribuição beta, cujos parâmetros (média e desvio

padrão) são obtidos a partir de dados históricos. No processo de simulação, se

a categoria do rating no final do período de um devedor é o estado de default, é

simulada uma realização de taxa de recuperação que é utilizada para avaliar o

valor do crédito.

A aplicação integral do Creditmetrics no Brasil não é possível devido à

ausência de dados de mercado sobre spreads de títulos de empresas. Seria

necessário um mercado secundário de títulos de crédito líquido para que esses

dados pudessem ser gerados. Mesmo que este tipo de dado existisse no

mercado brasileiro, a aplicação do Creditmetrics no Brasil ainda seria limitada

pelo número relativamente pequeno de empresas com ações negociadas em

bolsa.

1.5.1.2 - CreditRisk+

O modelo CreditRisk+ (CSFP, 1997) estima a distribuição de perdas utilizando

técnicas estatísticas desenvolvidas no setor segurador. Diferente do

Creditmetrics, que é um modelo marcado a mercado (reflete variações de valor

de mercado devido a variação nos níveis de risco de cada devedor), o

Page 39: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

38

CreditRisk+ é um modelo de modo de default, ou seja, ele considera apenas a

ocorrência ou não de default e não alterações de valor do portfólio decorrentes

de alteração da qualidade de crédito dos devedores da carteira. A migração de

créditos não é modelada explicitamente e um determinado devedor só pode

assumir dois estados: default ou não. O modelo trata a taxa de ocorrência de

default como uma variável aleatória contínua.

O CreditRisk+ é um modelo de concepção simples. Nenhuma premissa foi feita

acerca das causas de default, o que levou a um modelo que pode ser expresso

analiticamente e que mantém a necessidade de dados requeridos para sua

aplicação em um nível mínimo. A premissa fundamental é que o default é um

evento raro, podendo a distribuição do número de eventos de default em uma

carteira ser aproximado pela distribuição de Poison.

Por requerer dados de entrada relativamente simples, o CreditRisk+ é um

modelo com forte apelo no mercado brasileiro. Entretanto, a premissa de baixa

taxa de default não condiz com a realidade brasileira e pode gerar distorções

nos resultados.

A formulação do modelo define primeiramente a distribuição de eventos de

default para, a partir dela, gerar a distribuição de perdas do portfólio. Para

conseguir fazer esta transição, o modelo utiliza uma simplificação adicional que

é considerar os valores em exposição como valores inteiros múltiplos de uma

unidade de valor.

O modelo considera a existência de fatores que influenciam o movimento de

ocorrência dos eventos de default e os tornam correlacionados, ainda que não

exista uma relação causal entre os eventos de default. Esses fatores estão

relacionados à economia e são responsáveis pela ocorrência de default ser, em

média, maior ou menor em diferentes períodos. No modelo, a média e a

volatilidade da taxa de default de cada devedor podem ser influenciados de

forma diferente pelos diversos fatores de risco.

Na aplicação do modelo é necessário definir como os fatores de risco

influenciam cada devedor da carteira. Assim, é possível aplicar o CreditRisk+

com diferentes níveis de complexidade, citados a seguir:

Page 40: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

39

• Todos os devedores da carteira são influenciados por um único fator de

risco.

• A carteira está subdividida em diversos grupos de devedores e que cada

grupo é influenciado apenas por um fator.

• Cada devedor é influenciado por diversos fatores de risco.

O CreditRisk+ caracteriza cada fator de risco através de uma taxa de default e

uma volatilidade desta taxa. O modelo assume que a distribuição da taxa de

default característica de um fator de risco segue a distribuição Gamma. A

premissa de distribuição Gamma para fatores de risco insere no CreditRisk+

mais uma aproximação que pode ser questionada. Contudo, a distribuição

Gamma é capaz de incorporar no modelo a assimetria que é esperada para os

fatores de risco e sua utilização é condição necessária para a obtenção de uma

solução analítica para a distribuição de perda da carteira.

O CreditRisk+ não modela as taxas de recuperação, que são consideradas

como variáveis exógenas ao modelo. As exposições utilizadas para aplicar o

modelo já são valores descontados da taxa de recuperação esperada. Assim,

se há uma exposição de R$ 100 mil, com uma taxa de recuperação esperada

de 25%, no modelo é considerada uma exposição de R$ 75 mil.

O modelo CreditRisk+ não deriva diretamente a probabilidade de perda na

carteira, mas utiliza a função de geração de probabilidade (fgp) para atingir o

alvo de gerar uma solução analítica para a distribuição. A solução analítica na

forma de uma fórmula de recorrência é tida como a grande vantagem da

abordagem do CreditRisk+ pois permite o cálculo rápido da distribuição de

perdas, o que não ocorre nos métodos baseados em simulação.

Entretanto a solução analítica depende fortemente da premissa que o default é

um evento raro. A utilização do escopo geral do modelo CreditRisk+, mas com

um método de solução baseado em simulação de Monte Carlo permite o

relaxamento tanto da premissa de default como evento raro quanto da

utilização da distribuição Gamma para as taxas de default características dos

fatores de risco.

Page 41: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

40

1.5.1.3 - CreditPortfolioView

O modelo CreditPortfolioView utiliza simulação de Monte Carlo e modelagem

econométrica para gerar a distribuição de perda do portfólio e possui um apelo

intuitivo forte.

De acordo com o modelo os devedores são agrupados em segmentos

definidos por setor econômico, país e rating. Carteiras de varejo também

podem ser avaliadas na determinação da distribuição das perdas da instituição,

sendo agrupadas por tipo de produto, cada qual constituindo um segmento

adicional.

Para cada segmento é construído um modelo econométrico que visa explicar e

determinar a taxa de default do segmento a partir de índices macroeconômicos.

A construção destes modelos exige uma série longa de observações da taxa

de default de cada segmento bem como dos índices macroeconômicos. Para

gerar uma expectativa futura de taxa de default, o CreditPortfolioView utiliza

modelos de séries temporais auto-regressivos de segunda ordem para gerar

estimativas futuras dos índices macroeconômicos. Estes valores são utilizados

nos modelos econométricos de cada segmento para gerar uma expectativa de

taxa média de default.

O modelo econométrico de um segmento é definido por:

jtYjte1

1P

−+= j = 1, 2, ..., J; t = 0, 1, ..., T Eq. 1-6

Onde jtP é a probabilidade de default no segmento j no período t e Yjt é uma

função linear definida por:

jt

m

1iitji0jjt XY ν+β+β= �

= j = 1, 2, ..., J; t = 0, 1, ..., T Eq. 1-7

Page 42: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

41

onde β0 é uma constante, itX e jiβ são o índice macroeconômico “i” e seu

coeficiente para o segmento “j” e jtν é o termo de erro, com distribuição

N(0,σj), para todo j e t.

Podemos notar que as equações acima são equivalentes às de uma regressão

logística. Entretanto, a variável resposta não é dicotômica, mas sim uma taxa

de default entre 0 e 100%.

Todos os índices macro-econômicos são modelados por modelos

autoregressivos de segunda ordem, independente de ser verificado

empiricamente se este tipo de modelo é adequado ou não para cada índice. O

índice macro-econômico “i” pode ser representado por:

it)2t(i)2t(i)1t(i)1t(i0iit XXX ε+γ+γ+γ= −−−− Eq. 1-8

j = 1, 2, ..., J; t = 0, 1, ..., T

onde o valor do índice em um período é uma função linear dos valores dos dois

períodos anteriores, adicionado de termos de erro εit independentes entre si e

com distribuição N(0,σεi).

Temos então diferentes modelos: um modelo para cada segmento e um para

cada índice econômico. O processo de estimação de parâmetros para cada um

desses modelos gera uma série temporal de termos de erro, para a qual se

assume uma distribuição normal com média zero. A partir das séries temporais

de erros de cada um dos segmentos (νjt) e dos índices (εit) é construída uma

matriz de correlação de termos de erro que é utilizada no processo de

simulação de Monte Carlo.

Note que a matriz de correlações não se refere aos valores da taxa de default

em cada segmento ou aos índices macro-econômicos, mas sim aos erros.

Desse modo, a matriz de correlações correlaciona as porções das séries de

taxa de default dos segmentos e dos índices que não são explicadas pelos

seus respectivos modelos.

Page 43: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

42

A aplicação do modelo consiste em simular cenários de termos de erro e

utilizá-los junto com os modelos de previsão de taxa de default e de índices

macroeconômicos para gerar cenários de taxa de default por segmento. Em

cada cenário também é simulada uma taxa de recuperação em caso de default

em cada segmento, que, em conjunto com a taxa de default, gera valores de

perdas para cada segmento em cada cenário.

Um número muito grande de cenários leva à obtenção de distribuições

conjuntas de perda para cada segmento. A ponderação das taxas de perda dos

diversos segmentos pela exposição da carteira em cada um deles permite

obter a distribuição de perda da carteira. A Figura 1-7 apresenta um esquema

do processo utilizado para gerar a distribuição de perda para a carteira.

O modelo assume que a taxa de recuperação tem um comportamento

estocástico com uma distribuição de valores para cada segmento analisado. No

entanto, não é especificada que distribuição deve ser utilizada para modelar as

taxas de recuperação. Uma possível alternativa é utilizar a distribuição beta,

como é feito no Creditmetrics.

O CreditPortfolioView permite também a avaliação da variação do valor da

carteira por marcação a mercado. Nesta abordagem, para cada cenário gerado

na simulação é também é necessário simular a migração dos créditos para

outras categorias de rating utilizando as probabilidades da matriz de migração.

A precificação dos créditos é realizada pelo mesmo processo utilizado pelo

Creditmetrics.

Page 44: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

43

Figura 1-7 – Modelo CreditPortfolioView

Cenários simulados de termos de erro

Previsões de taxas médias de default

para cada segmento

Previsões de índices

macroeconômicos

Simulação de Monte Carlo

Cenários simulados de índices macroeconômicos

Cenários simulados de taxas de default por segmento

Termos de erro dos modelos e matriz de correlações dos

termos de erro

Modelos autoregressivos para

índices

Modelos econométricos para taxa de default em

segmentos

Simulação de taxa de recuperação para cada

segmento em cada cenário

Cenários simulados de perda por segmento Distribuição conjunta de perda nos segmentos

Distribuição de perda para a carteira

Page 45: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

44

O modelo não considera, como o Creditmetrics, que a matriz de migração é

estacionária, mas que é afetada por ambientes de recessão ou expansão

econômica. O CreditPortfolioView propõe a utilização de um operador na matriz

de migração não condicional (obtida historicamente abrangendo um período

que engloba diversos ciclos econômicos) para a obtenção de matrizes de

migração condicionais a uma determinada situação econômica. A função do

operador é elevar as probabilidades de downgrade ou upgrade em ambientes

recessivos ou de expansão econômica respectivamente.

A aplicação do modelo CreditPortfolioView no Brasil enfrenta dificuldades para

o levantamento de séries históricas longas de índices macroeconômicos. O

histórico relativamente curto de estabilidade econômica no Brasil impõe uma

limitação ao uso de dados anteriores a 1995, pois representam uma realidade

econômica muito diferente da atual.

1.5.1.4 - KMV

O KMV é baseado no modelo de estrutura de capital da firma proposto por

Merton (1974) onde uma empresa é considerada em default quando o valor de

seus ativos é inferior ao de seus passivos. A magnitude da diferença entre o

valor de mercado do ativo e o valor escritural do passivo determina a

probabilidade de default do tomador. Note que estamos tratando do valor dos

ativos no sentido de valor de mercado da firma e não valor escritural do ativo.

A primeira questão a ser resolvida para a formulação do modelo é a

determinação do valor de mercado do ativo da firma, que não é diretamente

observável. Considerando o capital próprio (Patrimônio Líquido) da firma como

uma opção de compra sobre os ativos da firma, pode ser estabelecida uma

relação entre os dados de mercado observáveis relacionados às ações da

empresa com os valores não observáveis de valor de ativo e sua volatilidade.

O KMV adota um modelo proprietário, que estende a abordagem de Black-

Scholes de precificação de opções para produzir um modelo de probabilidade

Page 46: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

45

de default baseado em opções. Este modelo é utilizado para gerar a

probabilidade de default que é chamada de EDF (Expected Default Frequency).

Os passos para determinar o EDF de uma empresa são:

• Estimativa do valor de mercado e volatilidade da empresa a partir do valor e

volatilidade do valor de suas ações e no valor escritural de seu passivo.

• Cálculo do ponto de default da empresa que é calculado a partir do valor do

ativo, de sua volatilidade e do valor escritural do passivo.

• Determinação da distância entre o valor atual dos ativos da empresa e seu

ponto de default.

• Mapeamento entre distância ao default e a taxa de default com base na

experiência histórica de default contida em uma ampla base de dados de

empresas com diferentes valores de distância ao default.

O modelo de determinação do valor do ativo, considera o capital próprio da

empresa como uma opção de compra sobre os ativos da firma na qual o preço

de exercício é o valor escritural do passivo. Os acionistas têm o direito, mas

não o dever de pagar os credores e ficar com os ativos restantes da firma. O

modelo estabelece as seguintes relações:

Valor das Ações = f(valor do ativo, volatilidade do ativo,

estrutura de capital, taxa de juros)

Volatilidade das Ações = g(valor do ativo, volatilidade do ativo,

estrutura de capital, taxa de juros)

Onde f e g são funções derivadas de um modelo de opções. Nestas duas

relações as duas únicas variáveis que não são observáveis são o valor do ativo

e sua volatilidade, cujos valores implícitos podem ser extraídos utilizando

métodos numéricos de resolução das equações acima. É um processo similar

Page 47: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

46

ao de extrair a volatilidade implícita de ações através do modelo de Black-

Scholes (1973).

Pelo modelo de opções, uma firma entraria em default quando o valor de seu

ativo ficasse inferior ao de seu passivo. Entretanto, através da observação de

um grande número de empresas, a KMV verificou que a firma entra em default

quando o valor do seu ativo atinge algum ponto entre o valor total do passivo e

o valor do passivo de curto prazo. Em função desta observação empírica, o

modelo KMV adota como o ponto de default para o valor do ativo, o valor do

passivo de longo prazo mais metade do valor do passivo de longo prazo.

A distância ao default é a diferença entre o valor esperado da firma no final do

período de avaliação e o ponto de default, expressa em termos de número de

desvios-padrão do valor do ativo.

O KMV estabelece um mapeamento entre valores de distância ao default e a

probabilidade de default através de um processo derivado da análise do

histórico de milhares de empresas, proporcionando a conversão da distância

ao default para expectativa de taxa de default, expressa na forma de basis

points como o EDF. Resultados empíricos indicaram que a relação de

conversão entre a distância e o EDF é constante em relação a setor da

economia, tamanho e região geográfica.

O modelo KMV utiliza um modelo de fatores para derivar a matriz de correlação

entre os ativos. O modelo está estruturado em 3 níveis:

• Primeiro nível: representa o retorno do ativo de uma firma como função de

um fator sistemático e um fator específico da firma.

• Segundo nível: estabelece o fator sistemático de cada firma como função de

fatores relacionados a países e a tipo de atividade econômica.

• Terceiro nível: estabelece cada fator de país e de atividade econômica

como uma função de fatores relacionados a efeito econômico global,

regional, setorial e específico da atividade econômica ou país.

Page 48: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

47

A matriz de correlações entre as empresas do portfólio pode ser determinada

através da estrutura de dependência estabelecida acima, utilizando os pesos

de cada fator em cada empresa, a variância dos fatores e a matriz de

correlação entre os fatores.

O modelo KMV avalia o valor do portfólio de crédito utilizando um modelo de

precificação baseado na abordagem de risk neutral valuation e determina a

distribuição de perda da carteira, definida como a diferença entre o valor de

mercado do portfólio e o valor do portfólio descontado na situação de

inexistência de default.

Para gerar a distribuição de perda do portfólio, sob fortes premissas

simplificadoras, pode ser utilizada uma solução analítica. Pode ser

demonstrado que para portfólios amplamente diversificados a distribuição limite

é uma normal inversa. Entretanto, em sua aplicação comercial, o software KMV

Portfolio Manager, o modelo deriva a distribuição de perdas através de

simulação de Monte Carlo.

A aplicação do modelo KMV no Brasil enfrenta dificuldades semelhantes a do

Creditmetrics. Poucas empresas negociadas em bolsa e falta de liquidez

inviabilizam a aplicação de forma abrangente do KMV em carteiras de crédito

no Brasil.

Page 49: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

48

2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Podemos dividir a literatura existente sobre modelos de portfólio de risco de

crédito em dois grupos:

- Desenvolvimento, comparações e testes de modelos de risco de portfólio de

crédito, compreendidos no sentido descrito no Capítulo 1, ou seja, modelos

que visam determinar a distribuição de perda ou valor da carteira.

- Aplicações da teoria moderna de portfólio em carteiras de crédito visando

otimizar a relação risco/retorno da carteira.

A primeira abordagem, apesar de utilizar os conceitos básicos da teoria

moderna de finanças como, por exemplo, o efeito da diversificação, tem um

caráter essencialmente descritivo da situação de uma carteira. Não obstante, a

determinação da distribuição de perdas da carteira e de como novos créditos

impactam esta distribuição terem evidentes aplicações na administração ativa

da carteira, a principal aplicação deste tipo de modelo, que é a determinação

do capital econômico, possui mais caráter reativo e preventivo que pró-ativo.

Por outro lado, as tentativas da aplicação direta da teoria de portfólio de

Markowitz (1952) apresentam formas de estabelecer um alvo de composição

da carteira que, para um dado nível de risco, maximiza o retorno do portfólio.

Desta forma esta abordagem assume um caráter de administração

predominantemente pró-ativa da carteira uma vez que estabelece uma situação

ótima que deve ser perseguida.

As duas abordagens não são conflitantes mas, pelo contrário, se

complementam na administração da carteira e podem ser construídas sobre

uma mesma abordagem conceitual. Nesta seção serão descritos os trabalhos

mais relevantes nestas duas linhas de desenvolvimento.

Page 50: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

49

2.1 - Aplicação da teoria de portfólio para carteiras de crédito

A teoria de portfólio estabeleceu as bases da atual teoria de finanças. O tema

foi introduzido por Markowitz (1952), trazendo como principal contribuição a

metodologia de tratamento de risco e retorno dentro do contexto de média-

variância, com a introdução de conceitos como diversificação, portfólio

eficiente, risco sistemático e risco assistemático. Markowitz definiu risco em

função da variação dos retornos de ativos, representada pelo desvio padrão ou

pela variância.

O trabalho de Markowitz foi prosseguido por diversos outros teóricos em

finanças e constituiu o fundamento sobre o qual foram desenvolvidas as teorias

de precificação de ativos, como o CAPM e o APT e a teoria de opções.

Conforme Douat (1994), a teoria de portfólio de Markowitz pode ser sumarizada

nos seguintes itens:

1 – As características relevantes do portfólio são o retorno e o risco.

2 – Investidores racionais manterão carteiras eficientes, maximizando o retorno

para dado risco ou minimizando o risco para dado retorno.

3 – É teoricamente possível identificar portfólios eficientes, analisando o retorno

e a variância do retorno de cada ativo e a relação entre os retornos dos ativos,

ou seja, sua correlação.

4 – Existem meios computacionais que permitem a determinação dos portfólios

eficientes.

O conjunto de portfólios que definem a fronteira eficiente tem como

característica a diversificação eficiente do risco. O risco total de um portfólio

pode ser dividido em risco diversificável e risco sistemático (ou não

diversificável). A porção sistemática do risco é aquela referente à variabilidade

das taxas de retorno devido a movimentos do mercado e a parte diversificável

é aquela devida à peculiaridades dos ativos que compõe o portfólio em questão

e pode ser minimizada através de uma diversificação eficiente.

Page 51: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

50

Markowitz (1952) verificou que, se investidores forem maximizadores de uma

função de utilidade, a análise de média-variância será válida se a função

utilidade for quadrática ou se a distribuição dos retornos dos ativos for

multivariada normal.

Douat (1994) e Caouette et al. (1999) apresentam uma série de dificuldades na

aplicação da teoria de portfólios em uma carteira de crédito. Existem problemas

tanto de ordem teórica quanto prática na aplicação da teoria moderna de

portfólio em uma carteira de crédito. A primeira questão de ordem prática diz

respeito a como calcular o retorno esperado e a variância deste retorno para

cada elemento da carteira. O retorno esperado de um empréstimo pode ser

calculado a partir do nível de risco estimado para a operação de crédito.

Entretanto, quando falamos de variância, enfrentamos uma grande dificuldade

devido ao desconhecimento da distribuição do retorno de cada empréstimo.

Adicionalmente, existe a necessidade de cálculo de correlações entre os

empréstimos. Estes requisitos de dados levam a uma grande barreira para a

aplicação direta da abordagem de média-variância.

A outra questão se refere a um problema computacional. Em uma carteira de

milhares de empréstimos seria necessário calcular milhões de correlações e

mesmo com o poder computacional hoje disponível, isto é uma barreira

operacional impeditiva para esta abordagem.

Atenção especial deve ser dada à questão da correlação, pois além da

dificuldade prática em medi-la, há também problemas relacionados à

estabilidade destas medidas. Se a correlação foi medida em um período

suficientemente grande para abranger diversos ciclos econômicos, as

estimativas serão incondicionais, ou seja, não serão condicionadas a nenhum

cenário econômico em específico. Entretanto a aplicação do modelo vai utilizar

estas estimativas incondicionais em um período condicionado a certas

condições macroeconômicas que podem ter grande influência sobre os valores

das correlações.

Este problema fica ainda mais grave se a estimativa de correlações não for

realizada em um período grande suficiente, pois teremos uma medida

Page 52: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

51

condicional a uma determinada situação econômica aplicada em outra

condição econômica. Entretanto, se a medida e a aplicação forem realizadas

dentro de um mesmo ciclo, não há este problema, mas surge outro relacionado

à utilização de um número muito pequeno de observações para calcular a

correlação, o que pode levar a pouca precisão na medida das correlações.

Outra questão com relação às correlações é que, na concepção da teoria

moderna de portfólio, elas devem ser calculadas sobre os retornos dos ativos.

Entretanto, muitas vezes é difícil medir o retorno e freqüentemente são

utilizadas alternativas para correlações entre ativos de crédito como

correlações entre variáveis relacionadas à qualidade de crédito do devedor,

entre probabilidades de perda ou inadimplência ou mesmo entre categorias de

classificação de risco do devedor.

Uma questão determinante do ponto de vista prático é a dificuldade na

obtenção de dados para aplicação da abordagem. Normalmente é muito difícil

ou mesmo impossível obter históricos longos de preços ou retornos de

classificação de risco e de default para todos os tipos de ativos de crédito que

podem fazer parte da carteira de uma instituição. Isto somente seria possível

em com um mercado secundário de títulos de crédito muito desenvolvido e com

alta liquidez.

Do ponto de vista teórico, a maior dificuldade para a aplicação da teoria

moderna de portfólio a carteiras de crédito é a distribuição dos retornos de

ativos de crédito, que não é normal. A distribuição de retornos sobre ativos de

crédito é assimétrica, o que inflige uma das premissas básicas da abordagem

de média-variância.

Outros problemas de ordem teórica são originados pela não compatibilidade

com as premissas adotadas na elaboração da teoria de Markowitz, como:

- Custos de transação e falta de liquidez podem impedir na prática que se

atinja o portfólio ótimo.

- Restrições de ordem regulatória de concentração da carteira podem levar a

uma fronteira que não é eficiente.

Page 53: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

52

No desenvolvimento desta pesquisa não foi encontrado nenhum trabalho

acadêmico na linha de aplicação da abordagem clássica de Markowitz

especificamente a crédito ao consumidor. Do ponto de vista de sua utilização

prática por parte das instituições financeiras, também não foi encontrado

registro de grandes avanços. O relatório “The Customer Value Imperative”,

publicado em 1999 pela Robert Morriz Associates, apresenta resultados de

uma pesquisa de melhores práticas no mercado de crédito ao consumidor em

38 bancos americanos. A pesquisa constatou que a gestão de portfólio no

contexto da aplicação da moderna teoria de portfólio não estava sendo

praticada no setor bancário norte americano em crédito ao consumidor.

Entretanto, três trabalhos na linha de aplicação de princípios da teoria moderna

de portfólio a carteiras de crédito merecem destaque e são resumidos a seguir.

O primeiro não é uma aplicação direta da abordagem de Markowitz, mas

introduz a utilização em carteiras de crédito de alguns conceitos básicos da

teoria moderna de finanças. Os outros dois são aplicações da teoria de média-

variância para obter fronteiras eficientes para portfólios de crédito.

O trabalho de Bennet (1984)

O primeiro trabalho que fez uma tentativa de gerar uma medida que represente

o risco de uma carteira de crédito foi o de Bennet (1984). Apesar de ele não

buscar gerar uma distribuição de risco ou uma medida de dispersão como o

desvio padrão, ele cria uma medida de risco baseada na variação dos ratings

dos devedores de uma carteira em função de impactos de variações fatores

macroeconômicos como crescimento econômico, câmbio, preços, etc.

O trabalho de Bennet não foi uma tentativa de aplicação do escopo tradicional

de média-variância de Markowitz, mas foi o primeiro trabalho publicado que

tentou utilizar em carteiras de crédito alguns conceitos básicos introduzidos por

Markowitz, como diversificação e risco sistemático.

Page 54: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

53

Na abordagem de Bennet, um choque em um fator macroeconômico como, por

exemplo, aumento de 10% no preço do dólar, pode levar uma empresa ao

downgrade de dois níveis de seu rating e uma outra empresa ao upgrade de

um nível. Desta forma o efeito do impacto é medido em níveis de mudança de

ratings e depende das características da empresa, principalmente do setor de

atividade.

A metodologia permite a avaliação do impacto de cenários econômicos.

Através da consolidação dos impactos das condições de um determinado

cenário econômico nos ratings das empresas de uma carteira de crédito, é

obtida a mudança na distribuição de qualidade de crédito na carteira que este

cenário pode trazer. As variações da participação na carteira das diversas

categorias de rating são utilizadas para gerar uma medida do impacto do

cenário analisado no risco da carteira.

O efeito das correlações é incorporado através do reconhecimento do efeito

dos fatores econômicos nos diversos créditos de uma carteira. Bennet também

introduz um conceito importante na gestão de portfólios de crédito que é o risco

marginal de um devedor, o que traz a avaliação do efeito de diversificação. O

risco marginal é definido como a variação absoluta da medida de risco

resultante do aumento da exposição de um devedor e é denominado de índice

de contribuição no portfólio. Bennet sugere a utilização deste índice como um

parâmetro para precificação.

Diversas críticas podem ser feitas ao trabalho de Bennet:

• A medida proposta é específica para um cenário econômico esperado e não

é apresentada nenhuma forma para consolidar as expectativas dos diversos

possíveis cenários futuros.

• O impacto do choque de um fator macroeconômico no risco de um devedor

é medido em unidades de variação das categorias do rating. Entretanto, a

alteração de um rating 1 para um 2 e de um 4 para um 5 podem significar

alterações de qualidade de crédito muito diferentes.

Page 55: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

54

• Bennet também considera que o efeito dos impactos dos diversos fatores

são independentes e aditivos o que é uma grande simplificação.

• O modelo proposto depende fundamentalmente de critérios julgamentais

para definir qual será o cenário analisado, quais serão os impactos e quais

serão os pesos utilizados na ponderação.

O trabalho de Gollinger e Morgan (1993)

Gollinger e Morgan (1993) fizeram uma aplicação da teoria de portfólio de

Markowitz tratando setores de atividade econômica como ativos individuais.

Como retorno em cada setor, eles utilizaram o ROA (retorno sobre ativos) de

um empréstimo padrão no setor de atividade em questão. O empréstimo

padrão era uma operação de US$ 30 milhões com 3 anos de prazo para uma

empresa de US$ 300 milhões de vendas anuais. Para calcular o ROA foram

utilizadas informações fornecidas por uma empresa provedora de dados sobre

precificação de empréstimos.

Para analisar o risco, Gollinger e Morgan utilizaram a variância da série

histórica da média dos Zetas scores do setor de atividade. O Zeta score,

desenvolvido por Altman (1968), é uma medida de classificação de risco

baseada em índices financeiros de empresas.

Com base nos dados de ROA e variância do Zeta score médio de cada setor

de atividade, Gollinger e Morgan utilizaram um programa de otimização para

gerar a fronteira eficiente em duas situações: sem restrição na participação de

um ramo e limitando a participação de um ramo em 10%. Em ambos os casos,

a aplicação do método permitiu encontrar a composição mais eficiente do

portfólio para dado nível de risco.

A aplicação de Gollinger e Morgan apresenta algumas limitações em relação à

abordagem tradicional de Markowitz. O retorno utilizado foi baseado em um

empréstimo padrão, não representando a diversidade de perfis de operações

de crédito que podem compor uma carteira. Outra questão é que a medida de

Page 56: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

55

risco não se baseia na distribuição dos retornos, mas em uma medida

alternativa de variabilidade de qualidade de crédito. O uso desta medida

alternativa de risco afasta esta aplicação da teoria original de Markowitz (1952)

e leva a portfólios que podem não ser realmente eficientes no critério da teoria

moderna de finanças.

Apesar dessas limitações oriundas da limitação em termos de dados

disponíveis, o trabalho de Gollinger e Morgan foi o primeiro a demonstrar que a

abordagem de otimização para obtenção da fronteira eficiente é viável para

uma carteira de crédito, ainda que tenham que ser utilizadas medidas

substitutas ao retorno médio e variância do retorno, propostos por Markowitz.

O trabalho de Altman (1996)

Altman (1996) fez a aplicação da análise tradicional de média-variância para

carteiras de títulos de renda fixa e empréstimos. Para a calcular o retorno

Altman utilizou a diferença entre a taxa de retorno prometida para o título de

crédito, dada pela yield-to-maturity (taxa de juros implícita no título), e a perda

esperada de crédito. Altman reconhece a possibilidade de ganhos ou perdas

por variações na estrutura de taxas de juros que não seriam considerados na

forma utilizada de cálculo de retorno. Entretanto, ele considera estes efeitos

aleatórios e que o resultado de ganho esperado devido a eles é nulo.

As taxas esperadas de perdas foram obtidas a partir de tabelas de taxas de

mortalidade em função do rating inicial do título. Estas tabelas foram

produzidas por Altman em trabalhos anteriores (Altman, 1988 e 1989).

Com base em dados de retornos trimestrais de 10 títulos no período de 1991 a

1995, Altman aplicou a abordagem clássica de média-variância construindo

uma fronteira eficiente. Entretanto, devido à insuficiência de dados disponíveis

no mercado e a questões de ordem teórica, como a não normalidade da

distribuição de retornos, Altman julga inapropriado o uso da variância dos

Page 57: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

56

retornos como medida de risco em aplicações da teoria de portfólio em

carteiras de crédito.

Altman sugere uma abordagem que utiliza perdas inesperadas como medida

de risco. O conceito de perda inesperada está ligado à variabilidade ou

dispersão dos possíveis resultados de perda. Altman utilizou o modelo Z’-Score

(Altman et al., 1995) calculado em cada período para cada empresa, para

estimar a perda esperada dos títulos analisados ao longo do tempo. A medida

de perda inesperada utilizada por Altman foi a variância da perda esperada de

um título. Altman obteve a fronteira eficiente com esta nova abordagem para o

mesmo conjunto de títulos que utilizou na abordagem tradicional, obtendo

portfólios eficientes com composições bastante parecidas em ambas as

metodologias, indicando uma sensibilidade pequena dos resultados ao conceito

de risco utilizado.

Apesar da perda inesperada ser uma medida de risco útil para avaliação do

risco de crédito, Altman se desvia do contexto teórico da abordagem de

Markowitz (1952) ao substituir a variância dos retornos pela perda inesperada.

Na medida em que a variância dos retornos não é mais utilizada não podemos

afirmar que os portfólios obtidos na fronteira eficiente são realmente eficientes

no sentido estabelecido por Markowitz.

2.2 - Modelos para gerar a distribuição de perdas ou valor de carteiras

O trabalho de Chirinko e Guill (1991)

O primeiro trabalho a propor um método que possibilita gerar a distribuição de

perdas de uma carteira foi o de Chirinko e Guill (1991). Eles propuseram uma

abordagem econométrica para a obtenção da distribuição das perdas de uma

carteira de crédito. Sua proposta relaciona a perda de crédito em um

determinado setor com variáveis macroeconômicas e variáveis específicas do

setor. A distribuição de perdas de crédito é construída a partir de diferentes

Page 58: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

57

premissas acerca de possíveis estados da natureza, que podem ser vistos

como possíveis conjuntos ou cenários de condições econômicas. Eles

estabelecem que:

[ ] is,is,i I3,..., 2, 1,i S2,..., 1,s I ==ε+Λ= y Eq. 2-1

onde:

• li,s é a perda de crédito no setor i no estado da natureza s;

• yi,s é um vetor de variáveis que influenciam a rentabilidade no setor;

• Λ[⋅] é uma função que é estimada econometricamente;

• εi é um fator específico do setor.

Os determinantes da perda em um setor (yi,s) são considerados função de

fatores macroeconômicos como, por exemplo, taxa de juros e crescimento do

PIB:

( ) I3,..., 2, 1,i S2,..., 1,s , NJxSs,i ==ψ= ZXy Eq. 2-2

onde:

• XJxS é uma matriz contendo os J fatores macroeconômicos que variam

em função do estado da natureza s;

• ZN e um vetor de N fatores macroeconômicos que permanecem fixos em

todos os estado da natureza;

• ψ é uma função estimada por meios econométricos.

Para cada fator macroeconômico que compõe XJxS é especificado um conjunto

de possíveis resultados com suas respectivas probabilidades. A permutação

entre os possíveis resultados dos fatores dá origem ao conjunto de possíveis

estados da natureza. A probabilidade de ocorrência de cada estado da

natureza é obtida através das probabilidades de ocorrência de cada um dos

resultados dos fatores macroeconômicos considerados.

Page 59: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

58

Um determinado estado da natureza é representado por um cenário de valores

das J variáveis macroeconômicas descritas acima, ou seja, por uma coluna da

matriz XJxS. A probabilidade de ocorrência dos estados da natureza é

representada no vetor de probabilidades ΠΠΠΠSx1 , cuja soma dos elementos

totaliza 1.

A matriz XJxS é utilizada para gerar a perda de crédito em um determinado setor

condicionada ao estado da natureza s. Os valores de perda de cada setor em

um determinado estado da natureza são ponderados pela participação de cada

setor na carteira para gerar a perda da carteira no estado da natureza s, que,

em conjunção com o vetor de probabilidades ΠΠΠΠSx1, geram a distribuição de

perda da carteira.

O trabalho de Jacobson e Roszbach (2003)

Na pesquisa realizada nesta Tese a única referência encontrada na literatura

de um modelo de risco de portfólio aplicado ao crédito a consumidores foi

Jacobson e Roszbach (2003), que apresentam uma aplicação de cálculo do

VAR de crédito no mercado sueco. Eles utilizaram uma base de dados de

13.338 propostas de empréstimos com informações sócio-demográficas, valor

dos empréstimos, performance dos empréstimos (bom ou mau). Esta base foi

enriquecida com informações de comportamento de crédito provenientes de um

bureau de crédito sueco. Em função dos dados disponíveis o horizonte médio

de previsão utilizado na nesta aplicação foi de 619 dias. Não foi feita distinção

entre os conceitos de default e perda utilizados. Ambos foram definidos como o

evento da operação de crédito ser enviada para uma agência de cobrança.

Jacobson e Roszbach (2003) construíram um modelo que consiste de duas

equações simultâneas, uma para a decisão de conceder ou não o empréstimo

e outro para prever o resultado de ocorrência ou não de default nos créditos

concedidos. Para a formulação do modelo, eles estabeleceram duas variáveis

não observadas y*1i e y*2i:

Page 60: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

59

N ,2, 1, i para xy

xy

i22i2*

i2

i11i1*i1

�=ε+α=

ε+α=

Eq. 2-3

Onde:

- i é o índice que representa uma proposta de crédito;

- x1i e x2i são vetores de variáveis explicativas;

- αααα1 e αααα2 são vetores de coeficientes (parâmetros);

- ε1i e ε2i são termos de erro com distribuição bivariada normal com média

zero, variâncias unitárias e correlação ρ.

A variável de aceitação ou não da proposta, y1i, é definida como:

y1i = 0 se a proposta não for aceita (y*1i < 0)

y1i = 1 se a proposta não for aceita (y*1i ≥ 0)

A variável de performance do empréstimo, y2i, é definida como:

y2i = 0 se houver default (y*2i < 0)

y2i = 1 se não houver default (y*2i ≥ 0)

Os parâmetros do modelo são obtidos por método de máxima verossimilhança.

A distribuição de perda para a carteira é obtida por simulação de Monte Carlo

da seguinte forma:

1. Para cada operação aprovada da base de dados utilizada é gerada uma

realização do termo de erro do modelo de previsão de default.

2. Utilizando o valor simulado acima, calcula-se a probabilidade esperada de

default, E[pi].

3. A perda na carteira é calculada sumarizando os resultados para todas as

operações aprovadas:

[ ]� ×=i

ii qpEPerda

onde E[pi] é o valor esperado da probabilidade de default e qi é o valor do

empréstimo.

Page 61: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

60

4. Os passos anteriores são repetidos milhares de vezes para obter milhares

de realizações de perda na carteira que representam a distribuição de

perda.

A deficiência do método proposto por Jacobson e Roszbach (2003) é que não

são consideradas as relações de dependência entre as perdas nas diversas

operações, o que pode levar a resultados subavaliados para o VAR de crédito

da carteira. A metodologia de simulação de Monte Carlo para obter

distribuições de perda ou de inadimplência a partir dos erros de modelos

econométricos também foi adotada na formulação do modelo

CreditPortfolioView, vista anteriormente, e por Andrade (2003).

Outros trabalhos

A linha de pesquisa em modelos para determinação de distribuição de perdas

ou valor de uma carteira de crédito obteve a maior parte de seu crescimento

inicial fora da academia, em uma série de iniciativas de empresas de

consultoria e instituições financeiras. Desta forma surgiram os 4 modelos de

risco de portfólio descritos no Capítulo 1 desta Tese (CreditMetrics,

CreditRisk+, CreditPortfolioview e KMV).

As instituições que desenvolveram estes modelos os divulgaram largamente, o

que levou a uma série de trabalhos publicados que buscam analisar, comparar,

aplicar e estabelecer extensões aos modelos citados acima. Esses modelos se

tornaram uma referência para todos os trabalhos desenvolvidos posteriormente

e, mesmo em outros modelos propostos, seus autores buscam freqüentemente

encaixar esses modelos como casos especiais do novo modelo desenvolvido.

Descrições adicionais sobre esses quatro modelos podem ser encontradas em

Caouette et al. (1999), Saunders (1999) e Smithson (2003).

Koyluoglu e Hickman (1998) formularam uma estrutura geral para modelos de

risco de portfólio na qual os modelos Creditmetrics, KMV, CreditRisk+ e

Page 62: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

61

CreditPortfolioview podem ser encaixados. A estrutura proposta por Koyluoglu

e Hickman (1998) é formada por três elementos:

• Comportamento conjunto de default – Definição de como movimentos

conjuntos de alta ou baixa de ocorrência de defaults estão

explicitamente ou implicitamente relacionados com fatores sistêmicos.

• Distribuição condicional da taxa de default do portfólio - Refere-se à

definição da distribuição que, condicionada a um determinado cenário de

fatores sistêmicos, governa a ocorrência de default em grupos

homogêneos de devedores. Condicionalmente a um determinado

cenário de fatores sistêmicos, a ocorrência de defaults em um grupo

homogêneo de devedores é considerada independente.

• Covolução/agregação – Junção das distribuições condicionais dos

grupos homogêneos de devedores que compõe a carteira. Para obter a

distribuição incondicional de default no portfólio, as distribuições

condicionais de cada grupo são agregadas em cada cenário de fatores

sistêmicos e ponderadas conforme a probabilidade de ocorrência de

cada cenário.

Gordy (2000) faz uma comparação entre os modelos Creditmetrics e

CreditRisk+. Para tornar a comparação mais fácil, Gordy utilizou uma versão do

Creditmetrics com apenas 2 estados de situação de crédito: em default ou não.

Apesar das diferenças entre as premissas de distribuição e formas funcionais,

Gordy verificou que o Creditmetrics pode ser colocado na estrutura do

CreditRisk+ e vice-versa. Gordy realizou simulações dos dois modelos com

portfólios hipotéticos e concluiu que os resultados foram muito similares

quando a volatilidade da taxa de default é baixa.

Crouhy, Galai e Mark (2000) também realizaram um estudo comparativo entre

modelos de risco de portfólio, incluindo além do Creditmetrics e do CreditRisk+

também o KMV e o CreditPortfolioView. O trabalho apresenta um resumo de

cada metodologia e breves comparações conceituais.

Page 63: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

62

Kern e Rudolph (2001) realizaram outro estudo comparativo de modelos com

aplicação em portfólios de empréstimos na Alemanha. Eles analisaram o

Creditmetrics, o CreditRisk+ e o CreditPortfolioView e concluíram que as

diferenças em resultados são decorrentes principalmente das diferenças nas

abordagens de aproximação das correlações.

Koyluoglu et al. (1999) analisaram a diferença entre resultados obtidos com

diferentes modelos e concluíram que, apesar de apresentarem resultados

semelhantes quando os parâmetros de entrada dos modelos estão

harmonizados2 entre si, é encontrada inconsistência nos resultados quando

são utilizados os parâmetros e fontes de dados originais dos modelos. Essas

inconsistências são potencialmente derivadas de diferentes sistemas para

estimar a probabilidade de default, diferentes considerações sobre taxas de

recuperação e diferenças no tratamento dos valores de exposição de das

correlações.

Giese (2002) propõe uma nova fórmula de recursão para gerar a solução

analítica no CreditRisk+. A formula proposta é mais rápida que a recursão de

Panjer (1981) utilizada originalmente no CreditRisk+, e é numericamente

estável e precisa, mesmo para portfólios muito grandes e com muitos fatores

de risco, situação em a formulação tradicional do CreditRisk+ apresenta

instabilidade (Gordy, 2002) .

Schönbucher (2000) defende a utilização de modelos de fatores para que a

obtenção da distribuição de perdas de uma carteira possa ter um tratamento

analítico. Modelos de fatores, também conhecidos como modelos de risco de

crédito condicionalmente independentes, estabelecem que a dependência

entre a ocorrência individual de defaults é devida a um número pequeno de

fatores sistemáticos. Condicionalmente a valores destes fatores os defaults são

independentes. Devido às dificuldades de obtenção de dados para cálculo de

correlações, Schönbucher afirma que é preciso um modelo teórico para as

correlações que permita o uso das fontes de dados disponíveis. Ele apresenta

2 Koyluoglu e Hickman (1998) fornecem equações de harmonização dos parâmetros.

Page 64: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

63

duas soluções para um modelo de risco de crédito: utilizando um fator único e

múltiplos fatores.

Nickel et al. (2001) fizeram testes de modelos de risco de portfólio de crédito

em carteiras de Eurobonds. Foram utilizados um modelo baseado em ratings

(semelhante ao Creditmetrics) e um modelo baseado na teoria de opções

(semelhante ao KMV). As conclusões indicaram que os modelos subavaliaram

o risco real dos portfólios analisados de Eurobonds, principalmente de

empresas não norte-americanas.

No contexto brasileiro Schechtman et al. (2003) realizaram a aplicação do

CreditRisk+ em carteiras de bancos brasileiros, comparando níveis de

exigência de capital utilizando a abordagem de ratings internos (IRB) (BIS,

2001) com resultados do CreditRisk+ utilizando uma ampla faixa de valores de

volatilidade da taxa de default. Eles concluíram que, para maioria dos casos

analisados as exigências de capital utilizando o CreditRisk+ foram inferiores.

Apenas quando a volatilidade utilizada é muito alta o CreditRisk+ fornece

resultados com exigências superiores à abordagem do IRB. Trabalho

semelhante foi realizado por Balzaroti et al. (2002) na Argentina, onde verificou-

se que os resultados da aplicação do CreditRisk+ foram muito sensíveis ao

parâmetro de volatilidade utilizado. Outro trabalho realizado no mercado

brasileiro foi o de Prado et al. (2001), que apresentaram um exemplo de cálculo

de capital econômico para uma carteira de um banco.

Paralelamente aos artigos publicados sobre desenvolvimento, comparação e

aplicação de modelos de risco de portfólio, dois trabalhos de pesquisa sobre

práticas de mercado merecem citação. O comitê de Basiléia de supervisão

bancária publicou em 1999 o relatório “Credit Rik Modelling: Current Practies

and Applications” que incluiu o envolvimento de 20 grandes bancos

internacionais em 10 diferentes países. Este trabalho inclui uma descrição das

práticas correntes em modelagem de crédito e discussões sobre aplicações e

limitações dos modelos existentes para propósitos regulatórios e de

supervisão. A RMA publicou, também em 1999, o relatório “The Customer

Value Imperative”, abordando resultados de uma pesquisa com 38 bancos

americanos sobre práticas de gestão de carteira em crédito ao consumidor.

Page 65: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

64

3 - ESCOPO DO MODELO PROPOSTO

O modelo proposto, de agora em diante denominado MPCC (Modelo de

Portfólio de Crédito ao Consumidor), visa ser um instrumento para previsão da

distribuição de perdas de crédito ao consumidor no mercado brasileiro. Desta

forma, o modelo desenvolvido deve possuir características que não só sejam

consistentes em relação à sua aplicação a carteiras de crédito ao consumidor,

mas também que sejam adequadas à disponibilidade de dados de crédito ao

consumidor no Brasil.

O primeiro ponto a destacar quando falamos de modelos aplicáveis ao crédito

ao consumidor é a grande dificuldade de uma abordagem estrutural da mesma

forma como é feita para modelos direcionados ao crédito corporativo. A

abordagem estrutural envolveria a formulação de uma teoria microeconômica

sobre o processo de default no crédito ao consumidor. A aplicação do modelo

formulado necessitaria da realização de simulações para cada elemento da

carteira, o que demandaria um poder computacional muito grande em carteiras

de crédito ao consumidor, que normalmente possuem um número muito grande

de operações.

Desta forma, ficamos limitados à utilização dos modelos chamados de forma

reduzida, cuja base conceitual são modelos estocásticos que visam modelar a

intensidade de ocorrência de default. O Capítulo 1 apresentou detalhes sobre

este tipo de modelo.

Outro ponto que diferencia o modelo proposto dos modelos aplicados ao

crédito corporativo em mercados maduros, como nos EUA, é o período de

avaliação utilizado. Ao invés de trabalharmos com o período de um ano,

tradicionalmente utilizado em modelos de risco de portfólio de crédito,

utilizamos um período de avaliação de um mês. Esta escolha foi devida às

características do crédito ao consumidor no mercado nacional, constituído em

grande parte de operações de CDC e crédito pessoal de prazo inferior a um

ano, e à disponibilidade de informações históricas, que não abrangia um

período muito longo. Conforme se adota um período de avaliação mais longo

Page 66: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

65

torna-se necessário um histórico de dados para estimar os parâmetros do

modelo também mais longo.

Desta forma o modelo proposto nesta Tese pretende prever a distribuição de

perda relacionada aos recebíveis do mês subseqüente. Entretanto, se existir a

necessidade de obtenção da distribuição de perda de crédito para períodos de

avaliação maiores e houver disponibilidade de um histórico longo de dados

para estimação dos parâmetros do modelo, nada impede a sua utilização com

tais períodos.

Os modelos de risco de portfólio existentes atualmente não modelam

diretamente a recuperação de crédito ou assumem uma premissa de

independência ao modelar a recuperação de crédito. No MPCC o default e a

recuperação não são tratadas separadamente. Busca-se modelar diretamente

a perda de crédito. Esta abordagem simplifica o processo de obtenção da

distribuição de perda e torna desnecessário utilizar uma premissa de

independência entre ocorrência de default e recuperação, pois esta relação de

dependência já está internalizada na avaliação direta da perda de crédito.

A formulação do MPCC objetiva a simplicidade conceitual e caracteriza-se pela

obtenção da distribuição de perda de crédito de uma carteira por simulação de

Monte Carlo. De uma maneira geral o modelo proposto pode ser dividido em

duas etapas principais:

- Divisão da carteira em segmentos

Nesta etapa busca-se separar as operações de crédito de uma carteira em

grupos que possam ser considerados, segundo os objetivos de nosso

modelo, como homogêneos. Cada segmento caracterizará um determinado

tipo ou perfil de operação de crédito. Para um deles determinaremos uma

distribuição estatística de perda característica.

Com o processo de segmentação da carteira, um número muito grande de

elementos de uma carteira passa a ser representado por um número

pequeno de segmentos. A etapa posterior de simulação utilizará os

segmentos ao invés dos elementos individuais da carteira, simplificando o

Page 67: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

66

processo de obtenção da distribuição de perda da carteira e reduzindo o

poder computacional necessário para a aplicação do modelo.

- Simulação da distribuição de perda da carteira

O processo de segmentação gera valores simulados de perda de crédito em

cada segmento da carteira de acordo com a distribuição estatística que

historicamente caracteriza cada segmento. Estes valores seguem

conjuntamente uma distribuição estatística multivariada na qual as perdas

de crédito dos diversos segmentos da carteira estão correlacionadas entre

si. A simulação gera valores de perda nos segmentos de acordo com uma

matriz de correlações que é obtida a partir de dados históricos.

Obtendo a média ponderada das perdas simuladas conjuntamente nos

segmentos chega-se a valores simulados de perda na carteira. A

ponderação é baseada na representatividade de cada segmento na carteira.

Milhares de valores simulados de perda na carteira representam a

distribuição de perda de crédito para a carteira.

3.1 - Divisão da Carteira em segmentos

Para solucionar a questão de qual o critério de segmentação a ser utilizado,

propomos a utilização de duas dimensões para segmentar as operações de

crédito de uma carteira:

- Características do consumidor;

- Classificação de risco da operação.

A seguir é realizada uma breve descrição dos processos utilizados na

segmentação, que serão estudados em maior detalhe no capítulo 6.

Page 68: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

67

3.1.1 - Segmentação por características do consumidor

Nosso objetivo final nesta segmentação é obter grupos de consumidores com

um comportamento homogêneo de perda de crédito. No processo de

segmentação proposto consideramos que dois consumidores são homogêneos

quando existe uma alta correlação entre as séries históricas de perda de

crédito apuradas para o perfil de cada um dos dois consumidores.

Para atingir o objetivo proposto, o processo de segmentação dos consumidores

é realizado em duas etapas:

• Definição de segmentos iniciais (solução inicial) utilizando variáveis

sócio-demográficas e comportamentais dos consumidores. Essas

últimas são baseadas no histórico de busca, utilização e pagamento

de crédito dos consumidores.

• Agrupamento dos segmentos iniciais com base no comportamento de

perda verificado nas operações de crédito dos consumidores desses

segmentos.

A etapa inicial de segmentação é necessária porque apenas é possível

construir séries históricas de perda de crédito para grupos de consumidores e

não consumidores individuais. Desta forma, inicia-se pela divisão dos

consumidores da carteira em grupos com características cadastrais e

comportamentais homogêneas. Em seguida, esses grupos iniciais sofrem um

segundo agrupamento conforme seu comportamento histórico de perda de

crédito.

3.1.2 - Segmentação por risco da operação

A dimensão do risco da operação é caracterizada através de um modelo que

permite prever a perda em uma operação de crédito no horizonte de um

Page 69: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

68

período. Esse modelo utiliza como variáveis preditivas características do

consumidor e da própria operação. O resultado deste modelo é fornecido na

forma de uma pontuação que pode ser categorizada em classes de risco. Este

modelo pode ser, por exemplo, um modelo de credit scoring ou behavior

scoring da instituição.

3.1.3 - Definição dos segmentos finais

De acordo com os processos descritos acima, as operações de crédito que

compõe uma carteira podem ser agrupadas tanto segundo o perfil do

consumidor e quanto em função do risco da operação. Os segmentos finais

que serão utilizados na fase de simulação são obtidos pelo cruzamento entre

estas duas dimensões. A Tabela 3-1 ilustra a obtenção dos segmentos finais

para o caso simples de 2 segmentos em cada dimensão.

Tabela 3-1 – Exemplo de segmentação de carteira de crédito

Risco da operação

Baixo Risco Alto Risco

Consumidor

Tipo 1 Segmento A Segmento B

Características

do consumidor Consumidor

Tipo 2 Segmento C Segmento D

3.2 - Simulação da distribuição de perda na carteira

Após a definição final dos segmentos, no MPCC utilizamos simulação de Monte

Carlo para gerar a distribuição conjunta de perda nos segmentos da carteira,

que é posteriormente utilizada para deduzir a distribuição de perda na carteira.

O processo engloba duas etapas:

Page 70: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

69

• Seleção de distribuições estatísticas teóricas para modelar perda de

crédito em cada segmento da carteira.

• Modelagem da dependência entre a perda de crédito nos diversos segmentos da carteira e simulação de Monte Carlo.

3.2.1 - Seleção de distribuições estatísticas para modelar perda em cada

segmento da carteira

A abordagem nesta etapa é a determinação empírica da distribuição estatística

mais adequada aos dados históricos de perda em um determinado segmento.

A metodologia proposta envolve o teste de diversas distribuições teóricas e a

avaliação da melhor opção através da estatística de Anderson-Darling (1952),

que é uma medida de avaliação de ajuste de distribuições. Esta medida foi

escolhida por ser muito sensível ao ajuste das caudas da distribuição, que

possuem especial importância na avaliação do risco de crédito. O teste de

distribuições envolve a estimação de parâmetros para as diversas distribuições

testadas.

A estimação de parâmetros de distribuições foi realizada utilizando técnicas de

regressão não linear e de otimização de função de máxima verossimilhança e

está descrita em detalhe no capítulo 7.

Um problema para o processo de ajustes de distribuições é a existência de

poucas observações mensais de perda. Para ter um número grande de

observações o período de abrangência dos dados deve ser muito grande, o

que normalmente não está disponível. No escopo do MPCC é proposto um

método de reamostragem (Politis et al., 2001) para gerar um grande número de

observações mensais de perda para o processo de ajuste de distribuições.

Page 71: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

70

3.2.2 - Modelagem de dependência e simulação de Monte Carlo

No MPCC a relação de dependência entre a perda de crédito de dois

segmentos é definida por um valor de correlação e uma função de cópula

(Nelsen, 1999). A função de cópula é o mecanismo adotado para gerar a

distribuição conjunta de perda de crédito nos diversos segmentos da carteira

(distribuição multivariada) a partir das distribuições marginais de cada

segmento (distribuições univariadas) e da matriz de correlações entre as

perdas nos segmentos. Para a aplicação do MPCC é necessário selecionar

que tipo de função de cópula será utilizado. A aplicação de funções de cópula

no MPCC será discutida em maior detalhe no capítulo 8.

Através da aplicação da função de cópula, a simulação gera milhares de

realizações conjuntas de perda nos diversos segmentos, cada qual seguindo a

sua respectiva distribuição estatística marginal. A ponderação destas

realizações pela exposição de cada segmento na carteira gera uma realização

simulada de perda na carteira. Milhares dessas realizações definem a

distribuição de perda para a carteira.

3.3 - Estimação de parâmetros e aplicação do MPCC

Após esta introdução inicial acerca do MPCC, para facilitar a compreensão

acerca da formulação e do funcionamento do modelo é interessante

realizarmos a separação entre dois processos:

• Estimação de parâmetros do MPCC.

• Aplicação do MPCC.

O primeiro processo diz respeito à utilização de uma base de dados contendo

informações históricas de operações de crédito contendo dados de

pagamentos para estimar os parâmetros que serão posteriormente utilizados

para realizar previsões da distribuição de perda de crédito da carteira em

Page 72: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

71

períodos futuros. A realização destas previsões é o que chamamos de

aplicação do MPCC.

O conceito de parâmetros do MPCC deve ser compreendido de maneira ampla,

englobando não somente grandezas numéricas, mas também as distribuições,

funções de cópula e segmentação da carteira que serão utilizadas na aplicação

do modelo. Seguindo este conceito, podemos listar os seguintes parâmetros a

serem definidos ou estimados para possibilitar a futura aplicação do MPCC a

uma carteira de crédito:

• A segmentação da carteira que será utilizada. Isto se traduz em um

algoritmo que possibilita a alocação de uma exposição a um dos

segmentos.

• Distribuições marginais de perda de crédito que serão utilizadas em

cada segmento.

• Parâmetros das distribuições marginais escolhidas.

• Função de cópula que será utilizada.

• Matriz de correlações entre a perda de crédito nos diversos segmentos

da carteira.

Para o processo de estimação de parâmetros do MPCC para uma carteira de

crédito precisamos utilizar uma base de dados contendo:

• Informações históricas de operações de crédito – utilizadas para avaliar

historicamente o padrão de ocorrência de perda de crédito na carteira.

• Informações cadastrais e comportamentais dos consumidores

devedores das operações citadas acima – utilizadas para estabelecer o

processo de segmentação da carteira.

Para a o processo de aplicação do MPCC em uma carteira de crédito

precisamos precisa utilizar uma base de dados contendo:

Page 73: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

72

• Exposição de cada operação de crédito da carteira no período –

expressa pelo valor dos pagamentos previstos no horizonte de previsão

de um período.

• Informações cadastrais e comportamentais dos consumidores

devedores das operações citadas acima – utilizadas para alocar a

operação em um dos segmentos definidos na etapa de estimação dos

parâmetros.

A Figura 3-1 é uma representação esquemática do MPCC e auxiliará ao leitor

na compreensão dos processos de estimação de parâmetros e aplicação do

modelo. As setas vermelhas representam os inputs e outputs dos processos. A

estimação de parâmetros e a aplicação do modelo são apresentadas de forma

paralela, sendo identificadas em cada processo as etapas relacionadas à

segmentação da carteira e à simulação da distribuição de perdas.

No decorrer dos próximos capítulos estaremos explorando em maior detalhe

cada aspecto relevante dos processos descritos na Figura 3-1. Paralelamente à

discussão da metodologia e dos conceitos adotados estaremos também

apresentando resultados relativos à estimação de parâmetros e aplicação do

MPCC a uma base de dados de crédito ao consumidor.

Para assegurar resultados consistentes com a utilização do modelo o processo

de estimação de parâmetros deve ser validado através da aplicação do MPCC

em diversos períodos históricos para os quais é possível comparar a

distribuição de perda simulada com a distribuição de perda empírica

(observada). O trabalho empírico realizado nesta Tese segue esta linha e é

composto pela estimação de parâmetros do modelo e validação do modelo

pela aplicação em uma base histórica de dados.

Page 74: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

73

Figura 3-1 – Respresentação esquemática do MPCC

APLICAÇÃO DO MODELO

ESTIMAÇÃO DE PARÂMETROS

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ÃO

Page 75: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

74

3.4 - Aplicação do MPCC em instituições financeiras

O MPCC foi desenvolvido utilizando informações de um Bureau de crédito, mas

pode ter seu desenvolvimento inteiramente replicado em uma instituição com

uma grande carteira de crédito ao consumidor. A necessidade de uma base de

dados com grande número de consumidores é a principal restrição à aplicação

do modelo, pois os métodos utilizados para segmentar e selecionar a

distribuição de perda de cada segmento necessitam de uma massa de dados

expressiva. Estimamos que o método possa ser aplicado em carteiras com

mais de 10 mil operações ativas sem trazer prejuízos para o processo proposto

de segmentação.

Em instituições ou carteiras muito pequenas, a utilização dados de um bureau

de crédito que contenha informações de diversas instituições do mercado

possibilitaria a aplicação do MPCC. Neste caso, alguns dos critérios utilizado

no modelo seriam definidos utilizando a base de dados do bureau de crédito.

Por exemplo, em uma situação de poucos dados e recursos para o

desenvolvimento do modelo internamente, uma instituição pode realizar a

simulação de perda para a sua carteira utilizando os segmentos, distribuições

marginais e a matriz de correlações obtidos em um contexto genérico de um

bureau de crédito.

Page 76: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

75

4 - DADOS EMPÍRICOS UTILIZADOS NA PESQUISA

O trabalho empírico utilizou informações de operações de crédito nas

modalidades crédito pessoal e financiamento de bens realizadas por dois

milhões de consumidores. Os dados foram fornecidos pela SERASA S.A., que

é a maior empresa de informações de crédito no Brasil. Os consumidores

foram selecionados aleatoriamente a partir da base de pessoas físicas com

informações no CREDIT BUREAU SERASA, que é o serviço de Bureau de

Crédito oferecido pela SERASA.

No desenvolvimento do modelo foram utilizados dados de comportamento de

pagamento de operações de crédito janeiro de 1999 até janeiro de 2002. Não

foi estabelecida nenhuma restrição quanto à data de concessão de crédito.

Assim temos operações iniciadas tanto antes quanto depois de janeiro de

1999.

Os dados disponíveis de comportamento de crédito possuíam alto grau de

detalhamento, com a informação de valores de cada parcela dos

financiamentos, como suas datas de vencimento, pagamento e valores pagos.

Além das informações de pagamentos previstos e realizados, a amostra

continha características cadastrais e comportamentais dos consumidores.

Adicionalmente, foram disponibilizadas para os consumidores desta amostra

resultados de produtos comerciais de classificação de risco e segmentação

comercializados pela SERASA, que também foram utilizados como

características dos consumidores.

As informações disponíveis para o desenvolvimento do trabalho foram:

• Anotações negativas - registros de não pagamento de dívidas, incluindo:

• Protestos;

• Ações judiciais;

• Cheques sem fundo;

Page 77: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

76

• Registros de dívidas vencidas e não pagas enviadas para à

SERASA por seus clientes.

• Informações cadastrais:

• Sexo;

• Idade;

• Renda;

• Profissão;

• Natureza da ocupação (se empregado, funcionário público,

profissional liberal, etc.) ;

• CEP residencial.

• Consultas realizadas por clientes da SERASA aos consumidores:

• Consultas de cheques;

• Consultas para aprovação de crédito.

• Credit Bureau Scoring – modelo de credit scoring genérico

comercializado pela SERASA. É um sistema composto de 5 diferentes

modelos de regressão logística, cada qual voltado para segmentos

específicos da população. O Credit Bureau Scoring é fornecido na forma

de uma pontuação entre 0 (maior risco) e 1000 (menor risco) que está

associada à probabilidade do consumidor apresentar informações

negativas em um prazo de 12 meses. Os modelos se baseiam no

histórico comportamental do consumidor registrado na SERASA e em

seu perfil sócio-demográfico. Foram fornecidos os valores do score de

cada consumidor em cada mês do período analisado.

• Credit Target – modelo de segmentação comercializado pela SERASA

que é baseado nos últimos 2 anos de comportamento de busca e

consumo de crédito do consumidor. No modelo são analisadas as

dimensões de nível de atividade de crédito, tempo de atividade de

crédito registrada e tendência de evolução da atividade de crédito. Um

consumidor pode ser alocado em um dos seguintes segmentos:

• Atividade de crédito alta e entrada recente no mercado;

• Atividade de crédito alta com tendência crescente de atividade;

Page 78: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

77

• Atividade de crédito alta com tendência decrescente de

atividade;

• Atividade de crédito média e entrada recente no mercado;

• Atividade de crédito média com tendência crescente de

atividade;

• Atividade de crédito média com tendência decrescente de

atividade;

• Baixa atividade de crédito;

• Inativos em crédito, mas ativos em cheques;

• Inativos em crédito e em cheques.

Esta variável foi fornecida para cada consumidor em cada mês do

período analisado.

• Dados de compromissos financeiros assumidos – contendo informação

sobre:

• Data de realização das operações;

• Prazo das operações;

• Valor das operações.

• Dados de pagamentos previstos e realizados:

• Valor devido;

• Valor pago;

• Data de vencimento;

• Data de pagamento.

Todas as informações fornecidas permitiam identificar em uma determinada

data no passado quais eram as informações vigentes para o consumidor

naquele exato momento. Isto é de vital importância para a construção dos

modelos, pois é necessário reproduzir a situação exata do consumidor em cada

mês do período analisado.

Page 79: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

78

5 - CÁLCULO DA PERDA DE CRÉDITO

5.1 - Definição de Perda de crédito

Na medida em que o objetivo principal de um modelo de risco de portfólio é

determinar a distribuição de perda de crédito na carteira, a definição da perda

de crédito é um ponto de importância central no desenvolvimento do modelo.

Seu impacto dá-se no modo como a perda de crédito é calculada e como ela é

tratada na formulação do modelo.

A abordagem mais comum em modelos de risco de crédito é a modelagem da

distribuição de eventos de default ou da taxa de inadimplência. A perda de

crédito é obtida multiplicando a taxa de inadimplência por (1 - taxa de

recuperação). Nesses modelos considera-se a recuperação de créditos em

default como uma variável aleatória independente da inadimplência ou mesmo

como uma variável exógena ao modelo. Esse tratamento simplificado da taxa

de recuperação advém tanto da dificuldade de modelar a recuperação como de

levantar e controlar informações de valores de recuperação no mercado de

crédito corporativo.

A recuperação é freqüentemente representada na forma da medida “perda

dada inadimplência” (traduzido do termo inglês Loss Given Default), onde:

Perda dada inadimplência = 1 – Taxa de recuperação Eq. 5-1

Os valores envolvidos na perda dada a inadimplência, ou PDI, se referem à

perda do principal do empréstimo, do custo de carregamento (juros devidos) e

dos custos de execução e cobrança.

No desenvolvimento do MPCC não foi feita a separação entre taxa de

inadimplência e recuperação. Procurou-se modelar diretamente a perda de

crédito, que é definida genericamente no Quadro 5-1.

Page 80: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

79

Quadro 5-1 – Definição de perda de crédito adotada no MPCC

dívida da Valorrealizados pagamentos dos presente Valor

1crédito de Perda −=

Seja, por exemplo, uma exposição de R$ 1.000 cujo vencimento foi em

01/01/2001 e cujo devedor realizou em atraso dois pagamentos de R$ 500

cada, um em 01/03/2001 e outro em 01/06/2001. Supondo que a taxa de

desconto utilizada seja 2% a.m., o valor presente dos dois pagamentos em

01/01/2001 (vencimento da exposição) é R$ 915,15. A perda de crédito

apurada para esta exposição seria então igual a (1 - 915,15/1.000), ou seja,

8,5%.

Por simplicidade e conveniência, assumiu-se que os custos de cobrança ou

recuperação são desprezíveis. Apesar desta premissa ser questionável, ela foi

adotado em função da não disponibilidade deste tipo de informação na base de

dados utilizada. Entretanto, havendo disponibilidade deste tipo de informação

para a aplicação do MPCC por uma instituição financeira, ela deve ser

considerada.

5.2 - Considerações sobre perda de crédito e recuperação

Diversos trabalhos estimaram taxas de recuperação ou de PDI como, por

exemplo, Gupton et al. (2000). Esses trabalhos descrevem o histórico de taxas

de recuperação, mas não buscam desenvolver um modelo para estimá-las. A

maioria dos trabalhos nesta linha avalia a perda dada inadimplência através de

dados de mercado, ficando restritos a títulos ou empréstimos negociados no

mercado financeiro. Utilizando dados que incluíam a experiência no Brasil,

destaca-se um estudo realizado pelo CityBank (Hurt e Felsovalyi, 1998) que

avaliou a perda dada inadimplência em empréstimos bancários na América

Latina. Outras iniciativas buscaram desenvolver modelos para taxa de

Page 81: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

80

recuperação como o LossCalc da Moody’s (Gupton e Stein, 2002). No

segmento de crédito à pessoas físicas, Eales e Bosworth (1998) fizeram um

estudo sobre a severidade de perdas envolvendo grandes empréstimos a

pessoas físicas e a pequenos negócios.

De acordo com Schuermann (2003), a recuperação ou equivalentemente a

perda dada inadimplência pode ser medida de três maneiras distintas:

• Baseada em dados explícitos de mercado – aplicável a títulos e

empréstimos que são negociados no mercado. A PDI pode ser medida

através de preços de mercado após o evento de default, que refletem a

expectativa geral dos investidores na recuperação do crédito. A relação

entre os preços de mercado do título após e antes do evento de default

fornece a expectativa que o mercado tem de recuperação para o título e,

por conseqüência, a PDI.

• Baseada em dados implícitos de mercado – utiliza informações de

spreads de títulos de risco e deriva a perda dada inadimplência a partir

de um modelo teórico de precificação de ativos. Modelos descritos por

Bakshi et al. (2001) e Unal et al. (2001) identificam as contribuições

devidas ao prêmio de risco e ao prêmio de liquidez no spread de títulos,

possibilitando a obtenção da perda esperada implícita no spread. Como

a perda esperada é:

Perda esperada = Probabilidade de inadimplência x PDI Eq. 5-2

para uma dada probabilidade de inadimplência a PDI implícita no spread

é obtida facilmente.

• Baseada no fluxo de caixa do processo de execução ou cobrança – o

fluxo de caixa resultante do processo de cobrança, incluindo pagamento

de principal, juros, multas bem como as despesas incorridas na

cobrança são apropriadamente descontadas para obter o valor da

recuperação.

A maneira mais simples de avaliar a recuperação é a utilização de dados de

mercado, o que é aplicável a títulos no mercado norte-americano. Entretanto,

Page 82: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

81

quando nos voltamos para o objeto de nossa pesquisa, crédito ao consumidor

no Brasil, enfrentamos a total ausência de informações de mercado para utilizar

esta alternativa. A avaliação baseada no fluxo de caixa pode ser uma opção

difícil do ponto de vista de empréstimos corporativos dada a necessidade de

identificar todos os elementos do fluxo de caixa relativos aos empréstimos, mas

atraente quando se trata de crédito ao consumidor.

Em comparação ao crédito corporativo, informalmente sabemos que o crédito

ao consumidor apresenta uma situação mais favorável em função de diversos

fatores:

• Processos de recuperação mais rápidos.

• Geralmente os processos de cobrança no crédito ao consumidor não

são resolvidos judicialmente.

• Não há complicações ligadas à subordinação de créditos.

• Em crédito pessoal e crédito direto ao consumidor normalmente não são

utilizadas garantias, ou seja, o que se recupera é apenas o que é pago.

Desta forma, a maior simplicidade do processo de cobrança no crédito ao

consumidor permite o levantamento das informações necessárias para

construir o fluxo de caixa do processo de recuperação com maior facilidade.

5.3 - Proposta de cálculo de perda de crédito no MPCC

Dada a inexistência de dados que permitam a utilização de outros métodos, a

avaliação do fluxo de caixa foi a alternativa escolhida para calcular perda de

crédito na formulação do MPCC. Adicionalmente, visando a simplicidade do

processo de modelagem, propomos que a taxa de default e a perda dada

inadimplência não sejam modeladas separadamente, mas sim que o modelo

trabalhe diretamente com a perda de crédito.

Page 83: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

82

Essa abordagem é inédita na formulação de modelos de portfólio e só é

possível na medida em que há disponibilidade de dados que incluam toda a

história da “vida” das operações de crédito da carteira alvo, desde a originação

até a eventual efetivação da perda de crédito após os procedimentos de

cobrança visando a recuperação de créditos inadimplentes. Essa abordagem

para crédito corporativo seria difícil, em função da maior dificuldade de

obtenção desses dados. Entretanto, os bureaus de crédito voltados ao crédito

ao consumidor propiciam um repositório de dados organizado e que possui

todos os elementos de informação referentes a operações individuais de

crédito que são necessárias para modelar diretamente a perda de crédito.

Devido à maior simplicidade do processo de crédito ligado a pessoas físicas é

mais fácil o levantamento dos dados necessários dentro de uma instituição

financeira, mesmo sem a utilização de bureaus de crédito.

Essa abordagem leva à simplificação da modelagem do risco, pois a

inadimplência e a recuperação não precisam ser tratadas separadamente.

Adicionalmente, não é necessário assumir a premissa de independência entre

inadimplência e recuperação, que pode gerar imprecisão nos resultados. Tão

pouco é necessário adicionar qualquer tipo de tratamento da relação de

dependência entre inadimplência e recuperação dentro do modelo, pois a

relação entre estas duas variáveis passa a ser internalizada na variável perda

de crédito.

Para estimar os parâmetros do MPCC é necessário calcular a perda de crédito

decorrente de cada operação a cada período, ou seja, em nosso caso

mensalmente. Para tal, cada parcela mensal de uma determinada operação de

crédito é avaliada como um elemento individual para o qual é calculado seu

respectivo valor de perda de crédito.

Dada uma operação de crédito “n”, a perda de crédito na i-ésima parcela da

operação n será calculada como:

Page 84: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

83

realizado for pagamento o se VD

)r1(

VP

1

realizado for não pagamento o se 1

P

i

inin

ii

n

30)dtvencdtpag(nn

+−

=−

Eq. 5-3

onde:

• inP é a perda de crédito da i-ésima parcela da operação n;

• inVD é o valor devido da i-ésima parcela da operação n;

• inVP é o valor efetivamente pago da i-ésima parcela da operação n;

• indtpag é a data de pagamento da i-ésima parcela da operação n;

• indtvenc é a data de vencimento da i-ésima parcela da operação n;

• r é uma taxa mensal de desconto.

Analisando a equação acima, verificamos que o conceito de perda adotado

compara o valor devido com o valor presente dos pagamentos (à data de

vencimento).

De forma semelhante, a perda de crédito da operação n é:

VD

)r1(

VP

1P

iin

i30)indtvencindtpag(

in

n�

� −+−= Eq. 5-4

onde nP é a perda de crédito da operação n e os outros termos estão descritos

acima. A fórmula acima também pode ser utilizada para calcular a perda de

crédito em um portfólio, bastando aplicar os somatórios às parcelas de todas as

operações da carteira.

A média da perda em cada parcela de uma determinada operação de crédito

ponderada pelo respectivo valor de cada parcela também leva à perda de

crédito da operação:

Page 85: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

84

( ) VDPVD1

Pi

nn

in

n ii

i

���

� ×= ��

Eq. 5-5

onde:

• nP é a perda de crédito da operação n;

• inP é a perda de crédito da i-ésima parcela da operação n;

• inVD é o valor devido da i-ésima parcela da operação n.

Para o desenvolvimento do modelo, é necessário obter valores de perda de

crédito de um portfólio em um determinado período. Isso é obtido de forma

similar ao cálculo da perda de uma operação. Através da média ponderada da

perda relacionada às parcelas das operações de crédito de um portfólio com

data de vencimento em um determinado período obtém-se a perda de crédito

do portfólio no período:

( ) VDPVD1

Pn

nn

nn

j jj

j

���

� ×= ��

Eq. 5-6

onde:

• jP é a perda de crédito da carteira no período j;

• jnP é a perda de crédito da operação n no período j;

• jnVD é o valor devido da parcela da operação n no período j.

A taxa de desconto r deve refletir o custo de oportunidade da instituição. Foram

identificadas duas alternativas para a taxa: CDI ou taxa média de captação

para operações de crédito ao consumidor (fornecida pelo Banco Central do

Brasil, www.bcb.gov.br). Dados sobre a taxa média de captação só existem a

partir de janeiro de 2000, que é uma data posterior ao do início do período

considerado nos dados deste trabalho. Entretanto, tanto a taxa média do CDI

entre jan/99 e fev/2002 quanto a taxa média de captação para operações de

crédito ao consumidor entre jan/00 e fev/02 foram 1,5% a.m., sendo este o

valor escolhido para a taxa de desconto r. Por simplicidade, optou-se pela

Page 86: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

85

utilização do valor médio da taxa no período ao invés do valor da taxa em cada

mês.

De acordo com definição de taxa de perda utilizada, podemos identificar

situações atípicas, onde a taxa de perda poderá ser negativa:

• Se houver um pagamento em atraso (recuperação) com valor pago com

encargos superiores a r.

• Se houver um pagamento antecipado sem desconto.

Estas situações fazem parte da realidade econômica de operações de crédito

ao consumidor, mas, trabalhando com agregados de operações, é esperado

que estes casos se diluam, não ocorrendo taxas agregadas negativas.

Os resultados para o cálculo da perda de crédito para toda a amostra de dados

disponível estão apresentados na Figura 5-1.

Figura 5-1 – Perda de crédito apurada para toda a amostra de dados.

2%

3%

4%

5%

6%

7%

8%

9%

10%

11%

jan/

99fe

v/99

mar

/99

abr/

99m

ai/9

9ju

n/99

jul/9

9ag

o/99

set/9

9ou

t/99

nov/

99de

z/99

jan/

00fe

v/00

mar

/00

abr/

00m

ai/0

0ju

n/00

jul/0

0ag

o/00

set/0

0ou

t/00

nov/

00de

z/00

jan/

01fe

v/01

mar

/01

abr/

01m

ai/0

1ju

n/01

jul/0

1ag

o/01

set/0

1ou

t/01

nov/

01de

z/01

jan/

02

Taxa

de

Per

da

Page 87: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

86

6 - SEGMENTAÇÃO DA CARTEIRA DE CRÉDITO AO

CONSUMIDOR

Uma das principais características do MPCC é o processo de segmentação da

carteira de crédito ao consumidor, que possibilita que a distribuição de perda

da carteira seja simulada sem a necessidade de simular resultados para cada

elemento da carteira e que possam ser incorporadas na modelagem as

variações da composição da carteira ao longo do tempo. No decorrer deste

capítulo utilizaremos os termos segmentos, agrupamentos, grupos ou clusters

como sinônimos para designar subconjuntos de operações de crédito da

carteira.

Com o objetivo de simular a distribuição de perda da carteira, podem ser

adotadas três estratégias distintas:

• Avaliar a carteira como um todo, simulando diretamente a perda de

crédito no portfólio utilizando uma distribuição teórica que se ajuste

aos dados históricos da carteira.

• Avaliar cada elemento da carteira individualmente, para chegar à

perda da carteira agregando os resultados simulados de cada crédito

individual.

• Dividir a carteira em segmentos, realizar a simulação de perda para

cada segmento e obter a resultado para a carteira agregando os

resultados para cada segmento.

A primeira alternativa certamente é a mais simples, mas traz em sua realização

a premissa de que as características da carteira de crédito se mantém

constantes ao longo do tempo. Se, por exemplo, houver uma mudança no perfil

dos clientes ou das operações que compõe a carteira devido a uma alteração

estratégia de aquisição de novas contas, é esperado que ocorram variações na

taxa de perda que não serão capturadas pela modelagem. A administração de

uma carteira de crédito ao consumidor é dinâmica e implica em diferentes

estratégias em diferentes momentos com relação a características da operação

Page 88: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

87

(entrada, prazo, tipo de bem financiado etc), perfil do cliente necessário para

aprovação, pontos de venda e campanhas promocionais. Todos estes aspectos

que podem influenciar o perfil da carteira. Na medida em que reconhecemos a

dinâmica existente na composição de uma carteira, verificamos que considerar

uma carteira de crédito, sem analisar como ela é composta é uma simplificação

muito forte.

Esse tipo de problema não ocorre se a opção adotada for modelar cada

elemento da carteira individualmente. Entretanto, passa-se a enfrentar duas

dificuldades adicionais. A primeira se refere à como modelar individualmente

uma operação de crédito ao consumidor. Para essa tarefa é necessário

estabelecer um modelo estrutural que faça a ligação entre os fenômenos

microeconômicos relacionados a um consumidor e a ocorrência de default e

perda. É adicionada a essa alternativa a dificuldade de obter dados

microeconômicos em nível de consumidores individuais e de conceber a

estrutura do modelo estrutural para o consumidor.

O segundo problema dessa abordagem está ligado à capacidade

computacional necessária para simular individualmente todos os elementos de

uma carteira de crédito ao consumidor, que pode ter dezenas de milhares de

operações. Para obter a distribuição de perda da carteira seria necessário

realizar dezenas de milhares de interações, cada uma envolvendo dezenas de

milhares de simulações individuais, mas que devem ser correlacionadas entre

si. Mesmo com poder computacional disponível hoje, realizar esta tarefa em

tempo razoável poderia ter custos proibitivos.

A terceira alternativa para obter a simulação da perda de crédito na carteira é a

adotada na formulação do MPCC, que divide a carteira em segmentos que,

para a finalidade de modelagem de risco de crédito, são considerados

homogêneos. Assim, é adotada a premissa de que as operações de uma

carteira que estão em um mesmo segmento possuem o mesmo padrão de

comportamento com relação à perda de crédito.

Isto, além de ser extremamente coerente, simplifica muito o processo de

simulação, que passa a ser realizado para cada segmento da carteira ao invés

Page 89: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

88

de para cada elemento dela. A perda de crédito é simulada para cada

segmento obedecendo à estrutura de dependência entre a perda de crédito nos

segmentos que é descrita no capítulo 8. Por fim, os resultados de perda de

cada segmento são agregados para chegar à perda na carteira.

Nessa abordagem as mudanças no perfil da carteira que naturalmente ocorrem

no decorrer do tempo são modeladas como variações na participação de cada

segmento na composição da carteira. Por exemplo, suponha que condições de

mercado ou mesmo de estratégia mercadológica da instituição financeira cause

uma maior concentração de suas exposições em um determinado segmento. O

impacto desta alteração do perfil da carteira na avaliação da perda de crédito

será incorporado ao modelo através do aumento da participação deste

segmento na exposição da carteira.

Adicionalmente, o poder computacional necessário para realizar a simulação

não é proibitivo, podendo a simulação de uma carteira de milhões de

consumidores ser realizada em um microcomputador. A abordagem também

possibilita a regulagem do esforço computacional necessário ao deixar flexível

a escolha do número de segmentos que compõe a carteira.

No processo de segmentação são consideradas duas dimensões fundamentais

que influenciam a modelagem do risco de portfólio:

1. Características do consumidor: é analisada a influência das

características dos consumidores nas relações de dependência entre

os diversos segmentos formados. Diferentes perfis de consumidores

são influenciados de diferentes maneiras pelos fatores econômicos

que fazem com que as taxas de perda sejam em geral mais altas ou

mais baixas. Isso reflete em como valores de perda de crédito nos

diferentes segmentos de consumidores estão correlacionados entre

si.

2. Classificação de risco das operações: caracteriza a perda esperada

para uma operação individual. Influencia diretamente o risco da

carteira elevando ou diminuindo o patamar de perda de crédito

esperada para a carteira em função do risco associado às operações.

Page 90: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

89

O processo de formação dos segmentos finais de operações de crédito que

serão utilizados na aplicação do MPCC segue o seguinte procedimento:

1. Formação de grupos de operações de crédito segundo as características

dos consumidores, discutida na seção 6.1.

2. Formação de grupos de operações de crédito segundo o risco de crédito

das operações, discutida na seção 6.2.

3. Formação dos segmentos finais pelo cruzamento entre os grupos

formados nas etapas anteriores, discutida na seção 6.3.

A Figura 6-1 apresenta esquematicamente a formação de segmentos de uma

carteira de crédito ao consumidor a partir das duas dimensões citadas

anteriormente. Neste exemplo, são formados 3 grupos de operações de crédito

pelas características dos consumidores (A, B e C) e 3 grupos pelo risco de

crédito das operações (A’, B’ e C’). O cruzamento das duas dimensões

analisadas resulta em 9 segmentos finais. Por exemplo, o segmento AA’ é

formado por operações que fazem parte do grupo A segundo as características

dos consumidores e do grupo A’ segundo o risco de crédito da operação.

Figura 6-1 – Representação esquemática da segmentação adotada

Segmento

A

Segmento

B

Segmento

C

Segmento

D

Segmento

E

Segmento

F

Segmento

G

Segmento

H

Segmento

I

Classificação de risco da operação

Car

acte

rístic

as d

o co

nsum

idor

Segmento

A

Segmento

B

Segmento

C

Segmento

D

Segmento

E

Segmento

F

Segmento

G

Segmento

H

Segmento

I

Segmento

A

Segmento

B

Segmento

C

Segmento

D

Segmento

E

Segmento

F

Segmento

G

Segmento

H

Segmento

I

Classificação de risco da operação

Car

acte

rístic

as d

o co

nsum

idor

Para a aplicação da metodologia proposta são necessários dados históricos da

carteira contendo diversos meses (ou períodos) de informações de pagamento

das operações de crédito e de variáveis cadastrais e comportamentais de seus

respectivos devedores. Neste capítulo são descritas as variáveis utilizadas para

AA’ AB’ AC’

BA’

CA’

BB’

CB’ CC’

BC’

Page 91: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

90

a segmentação nesta Tese. Esta lista não pretende ser completa nem conter

todas as variáveis que devem ser utilizadas. Ela reflete a disponibilidade de

dados que havia nas bases de dados utilizadas para definir um perfil do

consumidor. Na aplicação da metodologia proposta de segmentação em

qualquer outra carteira, é necessária a definição das variáveis que serão

utilizadas como características dos consumidores em função da disponibilidade

de informações para a carteira analisada.

Como a metodologia de segmentação envolve a correlação entre séries

temporais de perda de crédito é interessante trabalhar com um número grande

de períodos para possibilitar maior precisão na estimativa das correlações. Na

aplicação do método, foram utilizados 37 meses (períodos) de informações de

pagamentos. Este número foi definido em função da disponibilidade de

informações na base de dados utilizada. Não estabelecemos nesta Tese um

número teórico mínimo de períodos a ser utilizado.

6.1 – Segmentação das operações – Agrupamento por características do

consumidor

Nesta seção será proposta uma metodologia para segmentar consumidores

segundo suas características. Esta segmentação visa obter grupos de

consumidores que possam ser considerados homogêneos com relação ao

comportamento da variável perda de crédito nas operações nas quais eles

figuram como devedores. Para alcançar este objetivo, o processo é realizado

em duas etapas:

• Segmentação inicial baseada em variáveis sócio-demográficas e

comportamentais.

• Agrupamento dos segmentos iniciais pelo comportamento de perda

de crédito.

Page 92: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

91

6.1.1 - Segmentação Sócio-demográfica e Comportamental Inicial

Esta é uma etapa preliminar da segmentação de consumidores e objetiva a

formação de grupos de consumidores que possuam características cadastrais

e comportamentais homogêneas. Esses grupos iniciais serão posteriormente

agrupados em segmentos finais na segunda etapa.

Para realizar a etapa final da segmentação por características dos

consumidores é necessário obter séries históricas de perda de crédito. Uma

vez que estas séries não podem ser obtidas para um consumidor individual, é

preciso obter inicialmente grupos de consumidores para os quais seja possível

construir séries históricas de perda. Esta é a razão da segmentação preliminar.

Algumas características são desejáveis nesta etapa preliminar:

• Geração de grupos com consumidores homogêneos, de forma que

possamos atribuir um determinado comportamento histórico de perda

de crédito a um perfil específico de consumidor.

• Formação um número relativamente grande de grupos, possibilitando

um processo posterior de agrupamento pelo comportamento de

perda de crédito mais efetivo. Se forem formados poucos grupos,

haverá pouco espaço para o agrupamento final. Adicionalmente,

quanto maior for o número de clusters formados nesta etapa, mais

homogêneo será cada um deles, pois os elementos agrupados em

cada cluster tenderão a estar mais próximos.

• Formação de grupos com um número de elementos suficiente para

construir séries históricas de perda de crédito3. Com poucos

elementos pode não ser possível construir séries históricas que

representem precisamente o perfil de comportamento de perda de

crédito do segmento.

3 Detalhes acerca do cálculo de perda de crédito para a construção de séries históricas se

encontram no capítulo 5.

Page 93: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

92

Nesta Tese não estabelecemos regras nem teorias que definam um número

mínimo de grupos que devem ser formados nem um número mínimo de

consumidores em cada segmento. Entretanto, procuramos nesta etapa da

segmentação ter pelo menos 1.000 consumidores em cada grupo formado e

formar um número de grupos superior a 300. Estes valores foram definidos de

forma arbitrária para atender as necessidades acima descritas.

Não podemos afirmar que estes números devam ser adotados como padrão

para qualquer carteira. Eles dependerão, entre outras coisas, do tamanho e do

perfil da carteira. De uma maneira geral podemos afirmar que a utilização de

uma amostra de dados grande é desejável para possibilitar a geração de um

número grande de clusters com muitos elementos.

O método estatístico utilizado para obter este agrupamento foi o de K-means

(MacQuenn, 1967). O método K-means não fornece como resultado o número

de clusters (grupos) que devem ser formados, mas divide os elementos

analisados em um número de clusters pré-determinado. Desta forma, é

necessário definir a priori qual é o número de clusters desejado.

Os clusters são formados procurando agrupar os elementos que são mais

próximos entre si. A Figura 6-2 ilustra um exemplo de resultado de formação de

clusters pelo método K-means em 3 dimensões. Os elementos agrupados

neste exemplo são representados por pontos com cores e formatos diferentes

no espaço onde cada dimensão representa uma variável utilizada no processo

de segmentação.

Figura 6-2 – Ilustração do resultado

de formação de clusters pelo método

K-means.

Page 94: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

93

De maneira simplificada, o algoritmo do método K-means é composto das

seguintes etapas:

1. Definição do número desejado de clusters.

2. Definição de um igual número de elementos que serão as sementes do

processo de formação de clusters. As sementes são os núcleos iniciais

de cada cluster e cada elemento é agrupado inicialmente a uma delas.

Dillon e Goldstein (1984) citam diversas metodologias para definir as

sementes, como por exemplo:

• escolha aleatória das sementes a partir da amostra de dados;

• escolha dos elementos com maior distância euclidiana entre si;

• escolha das sementes baseada no conhecimento do analista.

A metodologia utilizada neste trabalho foi a seleção aleatória de casos.

3. Na primeira iteração do processo utilizamos as sementes como os

núcleos iniciais de cada cluster. Cada elemento é agrupado ao cluster

cujo núcleo estiver mais próximo. Para calcular a distância entre um

elemento e um núcleo é utilizada a medida de distância euclideana:

[ ]2

1p

1j

2)j,l(X)j,i(X)l,i(D

���

�−= �

=

Eq. 6-1

onde:

• D(i,l) é a distância euclideana entre os elementos i e o cluster l;

• X(i,j) é o valor da variável j para o elemento i;

• )j,l(X é a média da variável j no cluster l4;

• P é o número de variáveis consideradas.

4. Após a primeira iteração, centróides de cada cluster são calculados

através da média das variáveis dos elementos que compõe o cluster.

4 Na primeira iteração ao invés dessa média é utilizado o valor da variável na semente.

Page 95: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

94

5. Os elementos são redistribuídos pelos clusters cujo centróide é mais

próximo e são calculados novos centróides. O processo continua até

não haver mais variação na alocação dos elementos ou se atingir um

número predeterminado de iterações.

Por simplificação computacional, a base de dados de 2 milhões de

consumidores foi dividida em duas de 1 milhão cada para obter o algoritmo de

alocação dos devedores nos clusters. O algoritmo de classificação nos clusters

foi desenvolvido utilizando 1 milhão de consumidores. Os 1 milhão de

consumidores restantes foram então alocados aos clusters formados para que

toda a amostra de dados fosse classificada. Cada consumidor foi alocado ao

cluster com o qual possuía menor distância euclidiana em relação ao centróide

do cluster.

A aplicação da metodologia de segmentação K-means foi aplicada no

desenvolvimento empírico desta Tese em duas etapas. Inicialmente o processo

do K-means foi utilizado para obter 500 clusters. Entretanto verificou-se que

diversos clusters obtidos possuíam um pequeno número de elementos

(consumidores), o que poderia afetar a precisão da série histórica de perda de

crédito que teria que ser construída para o cluster. Para solucionar esta

questão, foram excluídos os clusters que possuíam menos que mil elementos,

restando 308. A escolha deste corte foi arbitrária. Foi realizado novamente o

processo de análise de clusters por K-means utilizando os centróides dos 308

clusters restantes como sementes, realocando assim os elementos da amostra

de dados.

Na aplicação da metodologia K-means nesta Tese as variáveis utilizadas foram

as seguintes:

• Sexo

• Idade

• Renda

• Profissão

Page 96: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

95

• Natureza da ocupação (empregado de empresa privada, funcionário

público, profissional liberal, vive de renda, aposentado e outro tipo de

atividade)

• CEP (área delimitada pelos 2 primeiros dígitos)

• Consultas de cheques realizadas nos últimos 6 meses na SERASA

• Consultas de crédito realizadas nos últimos 6 meses na SERASA

• Número de anotações negativas.

• Credit Bureau Scoring

• Credit Target

O Credit Bureau Scoring é um credit score fornecido pela SERASA e considera

o histórico comportamental de crédito do consumidor. O Credit Target é outro

modelo fornecido pela SERASA que classifica um consumidor em 9 diferentes

segmentos conforme as características de sua atividade pregressa de

utilização de crédito. Estas duas variáveis são descritas em maior detalhe no

capítulo 4.

Algumas das variáveis são específicas da base de dados utilizada que tem

como origem um bureau de crédito. Na aplicação da metodologia em uma

carteira de uma instituição financeira, podem ser utilizadas as informações

cadastrais disponíveis para os consumidores e informações comportamentais

relacionadas à experiência de crédito do consumidor na instituição em um

determinado período de tempo como, por exemplo, 1 ano. Em uma instituição

financeira poderiam ser utilizadas variáveis como: quantidade de operações

realizadas com a instituição, quantidade de pagamentos realizados em dia,

quantidade de pagamentos realizados em atraso, utilização máxima do limite

de crédito e saldo devedor na instituição.

Na aplicação da segmentação pelo método K-means nesta Tese, todas as

variáveis foram tratadas na forma de dummies, isto é, codificadas como

variáveis com valores 0 ou 1. A Tabela 6-1 apresenta um exemplo de

codificação com variáveis dummies para uma variável categórica. Com esse

processo de codificação damos um tratamento homogêneo para todas as

Page 97: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

96

variáveis utilizadas e contornamos possíveis problemas com diferenças de

escala entre as variáveis.

As variáveis contínuas como idade e renda, por exemplo, foram categorizadas.

Na existência de uma estrutura de ordem para a variável, foi utilizada

categorização por dummies ordenadas para manter a estrutura. A Tabela 6-2

compara o processo de categorização por dummies tradicional e o através de

dummies ordenadas através de um exemplo. Este processo é realizado para

que a distância calculada no processo de clusterização seja superior em

categorias não adjacentes que em categorias adjacentes, o que é um ponto

importante neste processo de segmentação.

Tabela 6-1 – Exemplo de codificação com variáveis dummies

Categoria Dummy 1

Dummy 2

Dummy 3

Dummy 4

Dummy 5

Funcionário público 0 1 0 0 0 Empregado privado 1 0 0 0 0 Profissional liberal 0 0 1 0 0 Vive de renda 0 0 0 1 0 Aposentado 0 0 0 0 1 Outras atividades 0 0 0 0 0

Tabela 6-2 – Categorização tradicional e por Dummies ordenadas

Dummies Simples Dummies Ordenadas Idade

d1 d2 d3 d4 d5 d1 d2 d3 d4 d5

< 21 1 0 0 0 0 1 1 1 1 1

[21,30] 0 1 0 0 0 0 1 1 1 1

[31,40] 0 0 1 0 0 0 0 1 1 1

[41,50] 0 0 0 1 0 0 0 0 1 1

> 50 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1

A utilização de um processo de segmentação como o K-means normalmente

tem o objetivo de formação de clusters que auxiliem o entendimento da base

de dados, gerando uma visão de agrupamento dos elementos estudados que

tenham uma interpretação e uma validação sob a ótica de negócios ou da

aplicação dos resultados obtidos na segmentação. Entretanto, este não é o

Page 98: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

97

caso da aplicação do método dentro da formulação do MPCC. Aqui o método

este processo preliminar de segmentação pelo método K-means não objetiva

obter clusters que tenham algum sentido do ponto de vista de negócios ou

mesmo de risco. O algoritmo é utilizado nesta etapa de segmentação preliminar

apenas como um método numérico para gerar agrupamentos homogêneos que

serão alimentados na segunda etapa da segmentação.

6.1.2 - Agrupamento dos segmentos iniciais pelo comportamento de

perda de crédito.

A etapa final de formação de segmentos pelo perfil do consumidor é a

aplicação de um segundo método de análise de clusters que utiliza os grupos

formados na primeira etapa como elementos que serão agrupados para formar

os segmentos finais.

Cada cluster formado na primeira etapa representa um determinado perfil de

consumidor, definido através das variáveis utilizadas na segmentação

preliminar pelo método K-means. O objetivo desta etapa final é agrupar estes

perfis segundo o comportamento da série histórica de perda de crédito

calculada para cada perfil. Assim, obtém-se um número relativamente pequeno

de segmentos cujos consumidores apresentam padrões semelhantes de

comportamento de perda de crédito.

Esta segmentação final é importante para reduzir a dimensionalidade da matriz

de correlações que será utilizada na aplicação do MPCC, o que tem impacto

direto nos recursos computacionais e tempo necessários para a aplicação do

modelo de risco de portfólio de crédito.

Para cada um dos clusters resultantes da análise pelo método de K-means é

calculada uma série histórica de perda de crédito utilizando a metodologia

descrita no capítulo 5. Assim, a construção da série histórica de perda de

crédito para um cluster de consumidores n segue o seguinte procedimento:

Page 99: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

98

1. Selecionar todas as parcelas das operações de crédito dos

consumidores do cluster n cuja data de vencimento esteja dentro do

período t.

2. Aplicar a equação 5.2 calculando a perda de crédito no período t no

cluster n.

3. Repetir o procedimento para todos os períodos obtendo uma série

histórica de perda de crédito para o cluster n.

O procedimento realizado nesta segunda etapa de segmentação de

consumidores é um processo de redução de variáveis no qual buscamos

representar um número grande de variáveis (as séries históricas de perda de

crédito em cada cluster formado na etapa preliminar da segmentação) por um

número pequeno de novas variáveis (as séries históricas de perda em cada

segmento final), que sejam capazes de explicar pela maior parte do

comportamento das variáveis originais.

Quanto maior for o número de segmentos finais, maior será a carga

computacional necessária para aplicar no modelo de risco de portfólio, pois

maior será a matriz de correlações entre os segmentos que deverá ser

utilizada. Por outro lado, junto com a redução do número de variáveis, o

processo de agrupamento gera perda de conteúdo informacional. Quanto

menor o número de segmentos finais obtidos, menor será a parcela do

comportamento das séries históricas de perda dos clusters iniciais que será

explicada pelo comportamento das séries de perda dos segmentos finais. Em

termos menos técnicos poderíamos dizer que os segmentos finais não

representariam tão bem o comportamento dos consumidores.

Para uma melhor compreensão de como funciona esta etapa final da

segmentação de consumidores apresentamos o exemplo da Figura 6-3, onde

vemos duas séries históricas de perda de crédito para dois perfis diferentes de

consumidores. Como um perfil de consumidor entenda-se um dos clusters

iniciais formados pela metodologia K-means. Estas duas séries de perda de

crédito, ainda que com patamares de perda distintos, apresentam um

comportamento das séries muito semelhante. O cálculo da correlação entre as

Page 100: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

99

duas séries de perda forneceria um resultado muito próximo de 1. A

metodologia aplicada nesta etapa agrupa os clusters iniciais cujas séries

históricas de perda apresentam este tipo de similaridade (alta correlação).

Figura 6-3 – Exemplo de séries históricas de perda de crédito

0%

1%

2%

3%

4%

5%

6%

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

Período

Pro

babi

lidad

e de

inad

impl

ênci

a

Consumidor tipo 1 Consumidor tipo 2

O algoritmo matemático utilizado é o presente no procedimento VARCLUS do

software SAS (SAS Institute, 1990), que pode ser resumido pelas seguintes

etapas:

1. Todas as variáveis (em nosso caso séries históricas de perda) são

agrupadas em um único grupo.

2. É realizada uma análise de componentes principais nas variáveis destes

grupos para obter as duas primeiras componentes principais deste grupo

de variáveis. O primeiro componente principal é a combinação linear das

variáveis que possui o maior grau de explicação da variação das

variáveis analisadas:

CP1 = V1P1 + V2P2 + ... + VnPn Eq. 6-2

Per

da d

e C

rédi

to

Page 101: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

100

Onde:

• CP1 é a primeira componente principal;

• V1, V2, ..., Vn são as variáveis analisadas;

• P1, P2, ..., Pn são seus respectivos pesos.

A segunda componente principal é a combinação linear das variáveis

que possui correlação nula com a primeira componente principal e que

possui o maior grau de explicação da variação das variáveis analisadas

que não foi explicada pela primeira componente principal.

3. O grupo inicial é dividido em dois novos grupos alocando cada variável

(séries de perda de crédito em nosso caso) à componente principal com

que apresenta maior correlação.

4. Cada grupo formado é dividido em dois novos grupos pelo mesmo

processo.

5. O processo é repetido para cada novo grupo formado até se obter o

número desejado de grupos.

A Figura 6-4 apresenta a relação entre número final de segmentos e percentual

da variância total das séries de perda dos clusters iniciais explicada pelos

segmentos finais. O gráfico apresenta resultados para a amostra de dados

utilizada no desenvolvimento do MPCC, com a formação de até 36 diferentes

segmentos.

Figura 6-4 – Variância explicada x Número de segmentos

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

0 5 10 15 20 25 30 35 40

Número de Segmentos

Pro

porç

ão d

a va

riaç

ão e

xplic

ada

Page 102: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

101

6.2 - Segmentação das operações – Agrupamento por risco de crédito

Para agrupar operações segundo seu risco de crédito é necessário

desenvolver uma medida de risco de crédito que possa ser utilizada para

avaliar as operações. Essa medida é gerada a partir de um modelo de

classificação de risco obtido por técnicas de regressão.

No escopo de nosso trabalho, queremos analisar a perda proveniente de uma

operação de crédito um período à frente. Desta forma, o modelo analisa as

características do consumidor e o histórico de pagamento da operação para

prever a perda de crédito que ocorrerá um período à frente.

Figura 6-5 – Modelo de classificação de risco

A Figura 6-5 apresenta um esquema ilustrando o modelo de classificação de

risco. O risco de uma operação é definido como a perda de crédito prevista no

período subseqüente. Dada uma operação de crédito iniciada no período T0 e

avaliada no período Tn, o modelo gera uma pontuação relacionada à perda de

T0

Histórico de comportamento na

operação e características da operação

Tn Tn+1

Horizonte de Previsão de

Perda

Histórico de comportamento de crédito do consumidor

Informações Cadastrais

Page 103: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

102

crédito no período Tn+1. Para realizar a previsão são utilizados 3 tipos de

variáveis preditivas:

• Informações cadastrais, referentes ao consumidor no período Tn.

• Informações da operação de crédito, inclusive o comportamento do

consumidor no seu pagamento entre os períodos T0 e Tn.

• Outras informações de comportamento do consumidor. Essas

informações são originadas de operações de crédito anteriores que o

consumidor realizou na instituição e/ou informações de comportamento

de crédito registradas em um bureau de crédito.

Esse modelo difere dos modelos de classificação de risco utilizados para a

aceitação das operações de crédito, que seriam utilizados no período inicial da

operação (T0). Entretanto, nosso objetivo não é avaliar o risco que uma

operação teria se fosse aceita, mas sim avaliar o risco de uma operação que já

está na carteira da instituição. O modelo é utilizado no período Tn onde Tn ≥ T0,

ou seja, em operações já iniciadas.

Duas técnicas de regressão tipicamente utilizadas em modelos de classificação

de risco de crédito de consumidores são a regressão linear e a regressão

logística. A principal diferença entre as duas técnicas é que a regressão linear

é aplicada a variáveis dependentes contínuas e a regressão logística a

variáveis dependentes dicotômicas. A variável dependente é aquilo que

queremos prever, ou seja, o que consideramos como conceito de risco para

uma operação de crédito no modelo. Uma variável dependente dicotômica

assume apenas dois valores como por exemplo, com ocorrência de default ou

sem ocorrência de default.

Em nosso modelo estamos utilizando a perda de crédito no horizonte de um

período como variável dependente. Esta variável é contínua e indicaria o uso

da regressão linear para o desenvolvimento do modelo. Entretanto,

características dos dados utilizados trariam problemas com a utilização da

regressão linear. Apesar da variável dependente ser contínua os dados

indicavam o seguinte padrão:

Page 104: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

103

• A maior parte das observações possuía perda nula ou perda de 100%.

• Os valores intermediários em geral se concentravam próximos a esses

dois extremos.

Na amostra de dados, 74,9% das operações possuíam perda de crédito nula,

11,6% perda de crédito de 100% e apenas 13,4% perda entre 0 e 100%. Este

padrão de dados próximo da situação de variável dicotômica leva a resultados

na regressão linear em que os erros da regressão não possuem distribuição

normal. Ocorrência de erros normais é uma das principais premissas do

modelo tradicional de regressão linear (Dillon e Goldstein, 1984).

A segunda alternativa de metodologia é a regressão logística, que foi a

utilizada nesta Tese. Os algoritmos de estimação de parâmetros para a

regressão logística permitem a utilização de dados em dois padrões (SAS

Institute, 1984):

• Quando a variável resposta é utilizada na forma dicotômica e cada

experimento representa uma observação isolada, como observar se uma

operação de crédito entrou ou não em default.

• Quando a variável resposta é utilizada na forma de uma proporção e

cada experimento representa um grupo de observações, como a

proporção de mortes em diversos grupos de doentes ou proporção de

peças defeituosas em diversos lotes de fabricação.

O problema de trabalhar com uma variável dependente que não é dicotômica,

mas que pode ser expressa na forma de uma proporção entre 0 e 1 pode ser

contornado utilizando a segunda alternativa apresentada acima. Neste caso,

consideramos a perda de crédito na forma de uma proporção sobre o valor da

exposição. Para os casos atípicos descritos no capítulo 5, que podem gerar

valores de perda negativa, utilizamos na regressão um valor de perda igual a

zero.

Ressaltamos que o modelo de classificação de risco não vai ser utilizado no

MPCC com o intuito de gerar diretamente um valor de previsão de perda, mas

Page 105: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

104

apenas para ranquear as operações por risco, de modo que operações de

crédito com risco semelhante possam ser agrupadas.

A regressão logística estima parâmetros para uma equação do tipo:

fe11)x(Y −+

= Eq. 6-1

onde:

• f = ao + a1X1 + ... + anXn

• Y é a variável dependente ou resposta (no nosso caso perda de crédito

expressa como uma proporção entre 0 e 1);

• X1 a Xn são as variáveis independentes ou preditivas;

• a0 é o intercepto e a1 a an são os pesos ou parâmetros do modelo.

Diferentemente da regressão linear, cujos pesos são estimados pelo método

dos mínimos quadrados, a regressão logística utiliza o método de máxima

verossimilhança, que leva a parâmetros que maximizam a probabilidade dos

dados observados na amostra serem obtidos pela equação (Hosmer e

Lemeshow, 2000).

O resultado da equação obtida no modelo é uma proporção entre 0 e 1, que é

posteriormente multiplicada por um fator de 1000 apenas para tornar o

resultado em uma pontuação com escala entre 0 e 1000, onde quanto maior for

a pontuação, maior é a perda esperada para a observação. Para desenvolver o

modelo de classificação de risco da operação de crédito foi utilizada uma

amostra selecionada aleatoriamente de 100 mil observações, cada qual

referente a uma operação de crédito avaliada no horizonte de um período.

Page 106: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

105

Tabela 6-3 – Variáveis selecionadas no modelo de classificação de risco

Tipo Variáveis

Cadastrais • Renda;

• Tempo de emprego;

• Natureza da ocupação do consumidor (empregado em empresa privada, funcionário público, empresário, autônomo, profisional liberal ou aposentado);

• Nível de escolaridade;

• Sexo;

• Idade.

Características e comportamento de pagamento na operação avaliada

• Tipo da operação (CDC, crédito com cheques pré-datados, crédito pessoal ou crédito de veículos);

• Maturidade (relação entre número de parcelas vencidas e o número total de parcelas da operação);

• Número de parcelas pagas da operação;

• Número de parcelas não pagas da operação;

• Número máximo de dias de atraso na operação;

• Número de parcelas da operação;

• Comprometimento de renda (como percentual) que é gerado pelo valor da parcela da operação.

Outras variáveis de comportamento

• Quantidade de cheques prédatados vencidos e à vencer;

• Consultas para crédito e para cheques realizadas à SERASA sobre consumidor;

• Quantidade de empresas que consultaram o consumidor na SERASA;

• Quantidade de cheques com oposição ao pagamento;

• Quantidade de registros de pagamento em dia em compromissos financeiros;

• Quantidade de registros de pagamento com atraso em compromissos financeiros;

• Quantidade de informações negativas (registros de não pagamento de em compromissos financeiros, protestos, cheques sem fundo e ações judiciais);

• Tempo decorrido desde a última ocorrência de informação negativa;

• Valor total das informações negativas;

• Valor da última ocorrência de informação negativa

A Tabela 6-3 apresenta as variáveis que foram selecionadas no processo de

desenvolvimento do modelo através do método de seleção stepwise (Hosmer e

Lemeshow, 2000). O método de seleção stepwise acrescenta as variáveis

independentes passo a passo, iniciando pela mais significativa e, em passos

Page 107: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

106

posteriores, acrescentando ou retirando variáveis conforme critérios de

significância mínima para entrada e permanência de variáveis independentes

no modelo obtido. Os critérios utilizados foram de 5% de significância para

entrada de variáveis e 10% para saída de variáveis. Todas as variáveis foram

codificadas como variáveis dummy para o desenvolvimento. A codificação de

variáveis contínuas ou discretas em variáveis dummy permite modelar não

linearidades presentes na relação entre estas variáveis independentes e a

variável dependente.

A lista apresentada inclui diversas variáveis comportamentais específicas da

base de dados utilizada nesta Tese (proveniente de um bureau de crédito). Na

aplicação da metodologia apresentada por uma instituição financeira, os dados

provenientes do bureau de crédito podem ser substituídos por variáveis

relativas ao comportamento do consumidor na instituição.

Os resultados obtidos na regressão mostraram um forte poder preditivo do

modelo, indicando, de acordo com a analogia utilizada para aplicar a regressão

logística, que o modelo está discriminando bem entre unidades monetárias com

e sem perda. A medida de avaliação do ajuste da regressão logística utilizada

para avaliar o modelo foi a área sob a curva ROC (Oliveira e Andrade, 2002). A

curva ROC é construída utilizando-se dois conceitos:

• Sensitividade: proporção de acerto na previsão da ocorrência de um

evento nos casos em que ele realmente ocorre.

• Especificidade: proporção de acerto na previsão de que um evento não

vai ocorrer nos casos em que ele realmente não ocorre.

A sensibilidade e especificidade são calculadas para cada observação da

amostra de dados. Para realizar este cálculo, é prevista para as demais

observações com pontuação inferior ou superior à da observação em questão

perda total e perda nula, respectivamente. Os resultados obtidos são

registrados em um gráfico de (1-especificidade) X sensitividade para obter a

curva apresentada na Figura 6-6. A área sob a curva é a medida de avaliação

que estamos utilizando, isto é, a área sob a curva ROC.

Page 108: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

107

Hosmer e Lemeshow (2000) descrevem em maior detalhe a utilização desta

medida de avaliação e apresentam uma regra geral de avaliação do resultado

da área sob a curva ROC:

• Igual a 0,5 – nenhuma discriminação;

• No intervalo [0,7;0,8[ – discriminação aceitável;

• No intervalo [0,8;0,9[ – excelente discriminação;

• Acima de 0,9 – excepcional discriminação;

• Igual a 1 – discriminação perfeita.

Para o modelo desenvolvido o valor da área sob a curva ROC foi de 0,942, o

que pode ser considerado um resultado excepcional do modelo de regressão

logística.

Figura 6-6 – Curva ROC

A Tabela 6-4 e a Figura 6-7 apresentam a distribuição das observações pelas

diferentes faixas de valores da pontuação do modelo de classificação de risco,

bem como a perda de crédito média calculada para as observações referentes

a cada faixa.

Área sob a curva ROC

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

1 - especificidade

sens

ibili

dade

Page 109: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

108

Tabela 6-4 – Taxa de perda por classificação de risco

Faixa de Pontuação Freqüência Participação Taxa de perda

0 - 10 34.077 34,1% 0,7%

10 <- 20 20.164 20,2% 1,6%

20 <- 30 13.584 13,6% 2,2%

30 <- 40 7.071 7,1% 3,2%

40 <- 50 4.689 4,7% 4,5%

50 <- 100 8.917 8,9% 6,2%

100 <- 150 1.887 1,9% 10,8%

150 <- 200 822 0,8% 14,3%

200 <- 300 687 0,7% 19,7%

300 <- 400 289 0,3% 34,7%

400 <- 500 240 0,2% 40,2%

500 <- 600 259 0,3% 49,9%

600 <- 700 364 0,4% 67,5%

700 <- 800 544 0,5% 75,8%

800 <- 900 632 0,6% 85,7%

900 <- 950 671 0,7% 91,7%

950 <- 975 706 0,7% 92,6%

975 <- 999 3.301 3,3% 99,1%

1000 1.096 1,1% 100,0%

Podemos notar que há duas concentrações principais dos valores da

pontuação: uma preponderante em valores baixos da pontuação e outra menor

no extremo oposto da escala. Os valores médios são relativamente mais raros.

Nas faixas inferiores da pontuação se encontram as observações cujas

operações no período de referência da observação não se encontram em

estado de atraso. Essas observações, como esperado, apresentam uma perda

de crédito relativamente pequena. A concentração menor em valores altos da

pontuação incorpora predominantemente as observações de operações que,

no período de referência da observação já se encontram em atraso.

Page 110: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

109

Figura 6-7 – Taxa de perda por classificação de risco

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

0 -

10

10 <

- 2

0

20 <

- 3

0

30 <

- 4

0

40 <

- 5

0

50 <

- 1

00

100

<- 1

50

150

<- 2

00

200

<- 3

00

300

<- 4

00

400

<- 5

00

500

<- 6

00

600

<- 7

00

700

<- 8

00

800

<- 9

00

900

<- 9

50

950

<- 9

75

975

<- 9

99

1000

Faixa de Pontuação

Tax

a d

e P

erd

a

A partir do modelo de classificação de risco, a formação de segmentos em

função do risco é realizada estabelecendo-se cortes na escala da pontuação do

modelo. Por exemplo, pode ser formado um grupo de baixo risco e um grupo

de alto risco a partir da escolha de uma pontuação que seria o limite entre os

dois grupos. Utilizando procedimento similar é possível criar qualquer outro

número desejado de grupos.

6.3 - Formação dos segmentos finais

A Figura 6-8 apresenta esquematicamente o processo de formação dos

segmentos que serão utilizados no MPCC. Neste exemplo temos a formação

de 9 segmentos nomeados de A a I.

Já descrevemos anteriormente como os segmentos finais são obtidos pelo

cruzamento entre segmentos por características dos consumidores e por risco

da operação. Entretanto, para efetuar este processo é necessário realizar uma

escolha sobre a granularidade que será adotada. A granularidade da

segmentação é o número de segmentos finais que se deseja obter. Ele é a

multiplicação do número de grupos formados pela segmentação por

Page 111: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

110

características do consumidor pelo número de grupos obtido pela segmentação

por risco.

Figura 6-8 – Processo de segmentação utilizado no MPCC

Para escolher o número de grupos a ser formado deve-se considerar que,

quanto maior for o número de segmentos, mais homogêneas serão as

operações de crédito que fazem parte de um determinado segmento. Veremos

no capítulo seguinte que, para cada segmento será estimada a distribuição

estatística de perda que é característica do perfil de operações de crédito do

segmento. Na medida em que o segmento for mais homogêneo, podemos

afirmar com mais segurança que a distribuição de perda de uma determinada

operação de crédito é adequadamente representada pela distribuição de perda

do segmento do qual a operação faz parte.

Por outro lado, um maior número de segmentos demanda um maior custo de

aplicação do MPCC, expresso em tempo de estimação de parâmetros e

recursos computacionais e tempo necessários para a aplicação do modelo

Segmento

A

Segmento

B

Segmento

C

Segmento

D

Segmento

E

Segmento

F

Segmento

G

Segmento

H

Segmento

I

Classificação de risco da operação

Car

acte

rístic

as d

o co

nsum

idor

Segmento

A

Segmento

B

Segmento

C

Segmento

D

Segmento

E

Segmento

F

Segmento

G

Segmento

H

Segmento

I

Segmento

A

Segmento

B

Segmento

C

Segmento

D

Segmento

E

Segmento

F

Segmento

G

Segmento

H

Segmento

I

Classificação de risco da operação

Car

acte

rístic

as d

o co

nsum

idor

Segm

entação sócio-dem

ográfica e com

portamental

Clusters Iniciais de consum

idores

Segm

entação pelo com

portamento

de perda de cr’editoS

egmentos por

caracter’isticas dos consum

idores

Modelo de regressão

Score de risco de crédito

Categorização do score em classes de risco

Segmentos por risco da operação

Operações de crédito

Consum

idores

Segmento

A

Segmento

B

Segmento

C

Segmento

D

Segmento

E

Segmento

F

Segmento

G

Segmento

H

Segmento

I

Classificação de risco da operação

Car

acte

rístic

as d

o co

nsum

idor

Segmento

A

Segmento

B

Segmento

C

Segmento

D

Segmento

E

Segmento

F

Segmento

G

Segmento

H

Segmento

I

Segmento

A

Segmento

B

Segmento

C

Segmento

D

Segmento

E

Segmento

F

Segmento

G

Segmento

H

Segmento

I

Classificação de risco da operação

Car

acte

rístic

as d

o co

nsum

idor

Segm

entação sócio-dem

ográfica e com

portamental

Clusters Iniciais de consum

idores

Segm

entação pelo com

portamento

de perda de cr’editoS

egmentos por

caracter’isticas dos consum

idores

Modelo de regressão

Score de risco de crédito

Categorização do score em classes de risco

Segmentos por risco da operação

Operações de crédito

Consum

idores

Segm

entos por características dos

consumidores

Page 112: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

111

desenvolvido. A escolha da granularidade da segmentação deve levar em

consideração o impacto destes dois efeitos.

Adicionalmente, deve-se atentar para a restrição existente no tamanho da base

de dados disponível para a aplicação do MPCC, uma vez que, se a base de

dados for pequena, pode não ser possível trabalhar com um número muito

grande de segmentos.

Dada a limitação de recursos computacionais, optou-se por trabalhar com um

número reduzido de segmentos no desenvolvimento dessa Tese. Assim,

formando 4 grupos na dimensão características do consumidor e 4 na

dimensão risco da operação obteve-se 16 segmentos finais para a modelagem

de risco de portfólio.

A formação de 4 categorias na análise de clusters sobre características do

consumidor é um resultado direto da aplicação do algoritmo, bastando limitar o

número de clusters a 4. Já na classificação de risco das operações deve-se

decidir quais serão os pontos de corte na pontuação que serão os limites entre

as quatro categorias de risco. Essa escolha foi realizada de forma julgamental

a partir dos resultados apresentados na Tabela 6-4 e está refletida na Tabela 6-

5. Procurou-se formar dois grupos de mais baixo risco com aproximadamente a

mesma participação (cerca de 35% cada). Os 30% de participação restantes

foram divididos dos outros grupos de maior risco.

Uma determinada operação de crédito classificada em um dos segmentos em

um determinado período pode ser classificada em outro segmento no período

seguinte em função de alteração do risco da operação (ocorrência de um

atraso, por exemplo) ou de características do consumidor (variação no padrão

de utilização de crédito, por exemplo). A Tabela 6-6 apresenta a distribuição

dos dados pelos 16 segmentos. Deve-se notar que cada operação de crédito

foi classificada em um dos segmentos a cada período. Assim, uma operação

de 12 meses, foi classificada 12 vezes não necessariamente no mesmo

segmento e está sendo contabilizada 12 vezes para o cálculo da freqüência

apresentada.

Page 113: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

112

Tabela 6-5 – Categorias de risco para a formação dos segmentos finais

Categoria de risco

da operação

Faixa de pontuação do modelo

de classificação de risco

1 (risco mais baixo) [0;10]

2 ]10;30]

3 ]30;500]

4 (risco mais alto) ]500;1000]

Tabela 6-6 – Distribuição das operações de crédito nos segmentos finais

Legenda:Código do segmentoFreqüênciaParticipação

1 2 3 411 12 13 14

1.761.027 1.351.634 980.752 251.752 16,6% 12,7% 9,2% 2,4%

21 22 23 24473.916 560.866 502.611 204.633

4,5% 5,3% 4,7% 1,9%31 32 33 34

209.483 196.112 194.269 83.401 2,0% 1,8% 1,8% 0,8%

41 42 43 441.112.717 1.489.179 1.008.912 260.548

10,5% 14,0% 9,5% 2,5%Car

acte

ríst

icas

do

Con

sum

idor

Risco da Operação

1

2

3

4

Page 114: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

113

7 - AJUSTE E SELEÇÃO DE DISTRIBUIÇÕES PARA PERDA DE

CRÉDITO

Na formulação do MPCC não é feita nenhuma premissa acerca de quais

distribuições devem ser utilizadas para a perda de crédito. A abordagem

utilizada no modelo busca determinar empiricamente, caso a caso, quais

distribuições mais se adequam aos segmentos de uma carteira de crédito ao

consumidor. Esse processo é realizado em três etapas: geração da amostra,

ajustes de distribuições e seleção de distribuições.

7.1 - Geração da amostra

O processo para gerar uma amostra de observações de perda para o ajuste de

distribuições utilizando diretamente a partir da base de dados disponível seria a

construção de uma série histórica de perda de crédito. As observações de cada

período seriam utilizadas no processo de ajuste de distribuições. Entretanto,

mesmo que o período utilizado fosse mensal e o histórico abranjesse diversos

anos, o número de observações de perda não seria muito expressivo. Isso

prejudica o processo de ajuste, principalmente em relação às caudas da

distribuição, que possuem importância fundamental em modelos de risco.

Valores extremos de perda ocorrem na cauda superior da distribuição, que

ocorrem com baixa freqüência a não ser que exista um número muito grande

de observações. Por exemplo, para que ocorram 20 observações em média

acima do percentil 99% da distribuição é preciso 2.000 observações de perda,

o que significaria aproximadamente 167 anos de observações mensais de

perda de crédito.

Page 115: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

114

Para contornar esse problema, que também está presente no processo de

back-test5 de modelos de risco de crédito, é recomendável a utilização de um

processo de reamostragem ou bootstrap.

A idéia do processo é gerar um número muito grande de observações a partir

da amostra original de dados e implica na extração de diversas amostras

aleatórias a partir da amostra de dados original. O método de bootstrap foi

introduzido por Efron (1979) e é utilizado hoje em diversas aplicações,

principalmente na definição de intervalos de confiança de estatísticas

calculadas sobre amostras de dados (Efron e Tibshirani, 1993).

A teoria estatística trata de três questões básicas:

• Como coletar dados?

• Como analisar e sumarizar os dados coletados através de medidas

estatísticas?

• Qual é a acurácia das medidas estatísticas geradas?

A terceira questão constitui parte do processo chamado de inferência

estatística. O bootstrap é um método de simulação de dados criado

originalmente para realizar alguns tipos de inferência estatística. O termo

bootstrap deriva da frase “to pull oneself up by one’s bootstrap” , que é

baseada no livro Barão de Munchausen, escrito no século 18 por Rudolph Erich

Raspe, onde o Barão cai em um lago e salva a si mesmo puxando-se para fora

do lago pelo cordão de suas botas (bootstrap).

O bootstrap funciona gerando novas amostras de dados a partir de uma

amostra original. Suponha, por exemplo, que se deseja realizar uma inferência

estatística acerca da correlação entre duas variáveis e que para tal seja

utilizada uma amostra de 20 pares de dados das duas variáveis, ou seja, 20

observações. Com essas 20 observações é possível calcular um valor de

correlação, mas não avaliar precisamente qual é o intervalo de confiança desta

5 O processo de backtest consiste na aplicação do modelo em bases de dados históricas para

verificar se os resultados previstos de perda de crédito são consistentes com os

historicamente realizados.

Page 116: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

115

medida. O método de bootstrap clássico gera diversas novas amostras de 20

observações cada uma a partir da amostra original. Esse processo é chamado

de reamostragem. As amostras são chamadas de amostras de bootstrap e são

geradas amostrando com reposição a partir da amostra original de 20

observações. Para cada amostra bootstrap é possível calcular um valor de

correlação, chamado de replicação. Supondo que, por exemplo, sejam

formadas 1000 amostras de bootstrap, é possível calcular 1000 replicações da

correlação, que definem uma distribuição estatística para a correlação. Com

essa distribuição é possível calcular intervalos de confiança para a correlação.

A idéia do método de bootstrap é que, na ausência de qualquer outra

informação sobre uma distribuição, uma amostra de observações contém toda

a informação disponível sobre a distribuição da população e, portanto,

reamostrar a amostra é o mais próximo que se pode chegar do resultado que

seria obtido extraindo amostras diretamente a partir da população.

Sejam:

• X uma variável aleatória que segue uma distribuição estatística não

conhecida, que é definida como P;

• L uma amostra aleatória contendo n observações de x;

• α̂ a estatística de interesse, que é calculada sobre a amostra L através

de uma determinada função g;

• G a distribuição estatística não conhecida de α̂ .

Se desejamos determinar a distribuição G, duas alternativas poderiam ser

utilizadas:

• Retirar um número grande de amostras L a partir da população e

calcular α̂ para cada amostra para obter sua distribuição empírica.

• Gerar um número grande de amostras L a partir da distribuição P e

calcular α̂ para cada amostra para obter sua distribuição empírica.

Page 117: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

116

Entretanto, não temos disponível a população inteira para extrairmos diversas

amostras nem conhecemos a distribuição P. Como apenas temos disponível

uma amostra de dados L para determinar a distribuição G, as duas abordagens

colocadas acima são invalidadas. O bootstrap é utilizado para resolver este

problema utilizando a distribuição empírica de X, denominada P*, obtida a partir

da amostra de dados disponível.

A Figura 7-1 compara os processos de obtenção de uma distribuição amostral

a partir de uma distribuição conhecida para a variável aleatória X a partir da

distribuição empírica P*.

Figura 7-1 – Princípio do processo de Bootstrap

G )L(gˆ )L,,L(L P n1 →=α→=→ �

Distribuição Amostra aleatória Estatística Distribuição

desconhecida observada de interesse de α̂

*G *)L(gˆ )L,,L(L *P *n

*1

** →=α→=→ �

Distribuição Amostra de Estatística Distribuição

empírica bootstrap de interesse de α̂ *

Na distribuição empírica P* admite-se a probabilidade 1/n em cada observação

da amostra de n observações. Isto significa que, se um determinado valor

representa 10% da amostra, a distribuição empírica alocará probabilidade de

ocorrência igual a 0,1 a esse valor. Segundo Efron e Tibshirani (1993), pode

ser provado que a distribuição empírica P* é uma estatística suficiente da

distribuição real P. Isto significa que toda a informação de P contida na amostra

L também esta contida em P*.

Page 118: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

117

Desta forma, o método de bootstrap gera um número grande de amostras L* a

partir da distribuição P*. Essas são as amostras bootstrap obtidas por

reamostragem com reposição sobre a amostra original L. A partir das amostras

L* a replicações da estatística α̂ , denominadas α̂ *, são calculadas e utilizadas

para definir a distribuição empírica G*, que é nossa estimativa da distribuição

G.

Um processo de reamostragem que apresenta algumas diferenças em relação

ao bootstrap clássico foi explorado por Politis et al. (2001). O processo envolve

a extração de amostras menores que a amostra original e sem reposição. Esse

método, chamado de subamostragem é, segundo Politis et al. (2001), mais

robusto que o bootstrap, pois não depende de premissas de independência

entre as observações6. Entretanto, para aplicar a subamostragem é necessário

definir uma proporção de observações da amostra original que será utilizada

para definir o tamanho das subamostras. Politis et al. (2001) mostra que o

processo de subamostragem funciona bem com uma ampla faixa de tamanho

relativo das subamostras em relação à amostra original.

Conceitualmente, a principal diferença do bootstrap clássico ao buscar

determinar a distribuição de uma determinada estatística de interesse é que

este calcula a estatística de interesse sobre amostras do mesmo tamanho que

a amostra original. Já o processo de subamostragem utiliza amostra com

tamanho inferior à da amostra original. No bootstrap clássico as amostras com

reposição que são extraídas de uma amostra original da população são

aproximações de amostras sem reposição extraídas diretamente da população.

Já as amostras geradas na subamostragem são efetivamente amostras sem

reposição da população.

Para gerar amostras para ajuste de distribuições foi utilizada a metodologia de

subamostragem. Para o processo, cada registro de pagamento ou não

pagamento de uma parcela de uma operação de crédito foi tratado como um

elemento da amostra original. Chamaremos este elemento de elemento de

exposição, que se refere à exposição do credor a uma operação de crédito de

6 As amostras bootstrap são extraídas com reposição para obter observações independentes.

Page 119: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

118

um consumidor durante um período. Deste modo, a base de dados contendo

as operações de crédito de 2 milhões de consumidores foi tratada como uma

amostra de elementos de exposição.

A base de dados utilizada continha cerca de 10,6 milhões elementos de

exposição. Através de uma rotina computacional de amostragem do software

SAS foram extraídas 3.000 amostras sem reposição de 300 mil elementos cada

uma. O tamanho e a quantidade das subamostras foram escolhidos

preponderantemente em função das limitações computacionais existentes nos

softwares e hardware utilizados para o desenvolvimento desta Tese.

A principal aplicação do método de bootstrap é gerar uma distribuição empírica

de uma estatística de interesse. Esse também é o nosso objetivo e a estatística

em que estamos interessados é a perda média nos elementos de exposição

em um período. Esta estatística não é apenas a média aritmética simples da

perda nos diversos elementos de exposição, mas sim a média da perda nos

elementos ponderada pelo valor da exposição de cada elemento.

Havendo sido geradas as subamostras o próximo passo seria calcular a

estatística de interesse para cada uma das subamostras. Entretanto, se isto

fosse realizado sobre toda a subamostra, a perda média obtida para cada

subamostra abrangeria todos os 37 períodos para os quais tínhamos dados.

Isto não seria interessante, pois mascararia os efeitos que condições

econômicas diferentes têm sobre a perda média em diferentes períodos. Para

contornar esta questão, para cada subamostra foram calculados 37 valores de

perda média, um para cada período, utilizando a seguinte equação:

j período no o vencimentcom parcelas das Valor

j período no o vencimentcom parcelas das realizados pagamentos dos presente Valor1Pj

��

−=

Onde Pj é a perda média de crédito no período j e o valor presente se refere ao

valor das parcelas descontado até a data de vencimento das mesmas.

Page 120: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

119

Como cada subamostra gerou 37 observações de perda média de crédito,

trabalhamos com um total de 111.000 observações em todas as 3.000

subamostras geradas pelo processo de bootstrap. No decorrer desta Tese, a

perda média de crédito em um período será denominada simplesmente por

perda de crédito.

Procedimentos similares de reamostragem em portfolios de crédito também

foram utilizados por Lopez (1999) e Carey (1998).

Estatísticas descritivas e o histograma das 111.000 observações de perda de

crédito são apresentadas na Tabela 7-1 e Figura 7-2, respectivamente. No

entanto, em nossa metodologia são ajustadas distribuições de perda de crédito

para cada um dos segmentos da carteira. Deste modo, precisamos das

distribuições empíricas de perda para cada segmento. Isto foi realizado

particionando os 3 mil subportfólios pelos 16 segmentos utilizados no

desenvolvimento do MPCC. Assim, obtivemos 3 mil subportfólios para cada um

dos 16 segmentos. istogramas com a distribuição de perda de crédito nos

segmentos

Tabela 7-1 – Estatísticas de observações mensais de perda de crédito

percentual

TAXA DE PERDA

Média 6,84%

Mediana 6,61%

Desvio padrão 1,27%

Curtose 3,69

Assimetria 0,88

Mínimo 3,54%

Máximo 12,28%

Page 121: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

120

Figura 7-2 – Histograma de observações mensais de perda de crédito

percentual

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

0,40

3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 11,0 12,0 13,0

Perda de crédito (%)

f.d.

p.

7.2 - Ajustes de distribuições

Com amostras de observações de perda de crédito para cada um dos

segmentos geradas conforme explicamos na seção anterior, o próximo passo

da metodologia proposta é o ajuste de diversas distribuições para cada

segmento. Para realizar o ajuste de distribuições utilizamos dois métodos

distintos de estimação de parâmetros. Estes métodos são os mais largamente

utilizados e de mais fácil implementação nos softwares @Risk e SAS e são

descritos a seguir:

• Método de máxima verossimilhança - Os parâmetros obtidos

maximizam a probabilidade de obter os dados com a função de

densidade da distribuição teórica e sua obtenção é obtida pela derivação

da função de verossimilhança. Para uma densidade de probabilidade f(x)

Page 122: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

121

com parâmetros α1, α2, ..., αJ e n valores xi a função de verossimilhança

é:

∏=

ααα=n

1iJ21i ),,,,x(fL �

onde os parâmetros da distribuição α1, α2, ... , αn, são obtidos igualando

a zero as derivadas parciais de L:

0ddL

j=

α para j = 1, 2, ..., J

• Regressão não-linear – os parâmetros são obtidos de forma a

minimizar o soma dos erros quadráticos entre a função de distribuição

acumulada empírica e teórica. Para uma distribuição F(X) com

parâmetros α1, α2,..., αJ e dados com n valores xi e seus respectivos

valores de função de distribuição acumulada empírica (Yi), a função

objetivo que se pretende minimizar é:

( )�=

−ααα=n

1i

2iJ21i Y),,,,x(F

n1

Fobj �

Ambos os métodos podem ser utilizados. Porém, se não é possível obter uma

fórmula analítica para a função de densidade de probabilidade de uma

determinada distribuição estatística, em geral o método utilizado é o de

regressão não-linear.

Referências sobre o processo de ajuste de distribuições podem ser

encontradas em Vose (1996). O processo de ajuste visa selecionar uma

distribuição estatística teórica cuja curva da função de densidade de

probabilidade represente adequadamente os dados empíricos. A idéia fica mais

clara através da Figura 7-3, na qual apresentamos histogramas com dados

Page 123: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

122

empíricos e dois ajustes de distribuições. Vemos no exemplo A que a curva da

função de densidade de probabilidade da distribuição teórica (linha vermelha)

não se ajusta muito bem aos dados empíricos representados pelo histograma.

Já no exemplo B existe uma boa aderência entre a curva e o histograma,

indicando que o ajuste da distribuição teórica aos dados empíricos é adequada.

Figura 7-3 – Exemplo de ajuste de distribuições.

7.2.1 - Distribuições testadas

Na aplicação empírica que acompanhou o desenvolvimento da metodologia do

MPCC, diversas distribuições estatísticas teóricas foram testadas. Para a

realização dos testes utilizamos as distribuições disponíveis no software @Risk

que são capazes de modelar a assimetria característica das distribuições de

perda de crédito, que possuem cauda acentuada à direita. Estas distribuições

são:

• Beta generalizada

• Chi-quadrada

• Extreme Value

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

-2 0 2 4 6 8 10 12 14 16

fdp

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

-2 0 2 4 6 8 10 12 14 16

fdp

A B

Page 124: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

123

• Gamma

• Lognormal

• Inversa Gaussiana

• Log-logística

• Pearson tipo V

• Pearson tipo VI

• Rayleight

• Weibull

Adicionalmente, também foram avaliadas duas classes de distribuições menos

conhecidas, que possuem a propriedade de se adaptar a uma ampla variedade

de formas:

• Distribuições de Johnson (1949)

• Distribuição dos Lambdas Generalizados (Dudewicz e Karian, 1996).

Todas as distribuições testadas são apresentadas em maior detalhe no Anexo

A. Cada uma das distribuições descritas acima foi ajustada a cada um dos 16

segmentos finais de operações de crédito utilizando as 111 mil observações de

perda para cada segmento que foram obtidas pelo método descrito na seção

7.1. Com exceção das distribuições de Johnson e dos Lambdas Generalizados,

os parâmetros foram estimados pelo método de máxima verossimilhança

utilizando o software @Risk.

Os parâmetros das distribuições de Johnson e dos Lambdas Generalizados

foram estimados pelo método de regressão não linear descrito anteriormente

utilizando o software SAS. Na geração de valores iniciais para o processo

iterativo de resolução de uma regressão não linear foram utilizadas

metodologias de estimação dos parâmetros sugeridas na literatura que são

mais simples que a regressão não linear e usam apenas alguns pontos ou

características da distribuição. Os valores iniciais dos parâmetros da

distribuição dos Lambdas Generalizados foram gerados pelo método proposto

por Dudewicz e Karian (1996) através da resolução de um sistema de

equações que igualam os primeiros quatro momentos teóricos da distribuição

(média, variância, assimetria e curtose) com momentos calculados

Page 125: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

124

empiricamente. As equações são complexas e requerem resolução por cálculo

numérico. Entretanto, Dudewicz e Karian (1996) fornecem tabelas com

soluções para os quatro parâmetros da distribuição em função dos momentos

da distribuição.

Para determinar os valores iniciais dos parâmetros das distribuições de

Johnson utilizamos o método proposto por Slifker e Shapiro (1980). O

procedimento é iniciado através da definição de 4 pontos referenciais na

distribuição definidos por:

5,0)Z3(nP

5,0)Z(nP

5,0)Z(nP

5,0)Z3(nP

4

3

2

1

+Φ=+Φ=

+−Φ=+−Φ=

Onde Φ(⋅) é a função de distribuição acumulada normal padronizada e Z

assume um valor recomendado de 0,8 para amostras superiores a 200

observações (Slifker e Shapiro, 1980). Os valores de P1 a P4 definem a posição

dos pontos de referência x1 a x4 na lista ordenada dos valores de X (variável de

interesse).

Os parâmetros são obtidos a partir dos pontos x1 a x4 por equações que são

apresentadas em Slifker e Shapiro (1980).

7.3 - Seleção de distribuições

Para a comparação e seleção de quais distribuições teóricas oferecem melhor

ajuste para os dados empíricos existem três principais alternativas de medidas

não paramétricas de qualidade de ajuste: as estatísticas Chi-quadrado, de

Kolgomorov-Smirnof (K-S) e Anderson-Darling (1952). Esses três testes

comparam a distribuição empírica com a distribuição teórica, gerando

estatísticas que indicam um melhor ajuste quanto menor for seu valor.

Page 126: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

125

Para a seleção de distribuições na formulação do MPCC, das três estatísticas

de aderência disponíveis a de Anderson-Darling (AD) foi escolhida como

critério. Essa escolha se deu em função de características indesejáveis das

demais estatísticas. A estatística Qui-quadrado requer a utilização dos dados

em forma categorizada e a medida é sensível ao número e forma das

categorias formadas. Já a medida K-S, que é a maior diferença entre a

distribuição acumulada testada e a distribuição acumulada dos dados

empíricos, possui a desvantagem de seu valor ser determinado apenas pela

maior discrepância entre as distribuições empírica e teórica, não considerando

o ajuste nos demais pontos. Como a maior discrepância da função de

distribuição raramente se localiza nas caudas da distribuição, a estatística KS

não avalia apropriadamente o ajuste nas caudas.

Na gestão de risco a cauda superior da distribuição de perda assume grande

importância, pois é a parte da distribuição onde se descrevem as maiores

perdas. A estatística AD utiliza todos os pontos e é especialmente sensível ao

ajuste das caudas. Segundo Vose (1996), a estatística AD é uma medida em

geral mais útil que a KS, especialmente quando se deseja que o ajuste das

caudas seja considerado. Maiores detalhes acerca de medidas de ajustes de

distribuições podem ser encontrados em D’Agostino e Stephens (1986).

O processo de seleção de distribuições foi realizado para cada um dos 16

segmentos. Para obter melhores resultados nos ajustes de distribuições, nos

segmentos que possuem altas taxas de perda (1.4, 2.4, 3.4 e 4.4) foi modelada

a distribuição do complementar da perda, ou seja, 1 – perda. Este artifício foi

utilizado neste segmento porque os ajustes de distribuições utilizando

diretamente a perda de crédito não forneceram bons resultados.

O Anexo B apresenta, para cada um dos 16 segmentos formados os 3

melhores ajustes com seus respectivos valores da estatística AD, os

parâmetros e os gráficos das distribuições com o melhor ajuste para cada

segmento. A Tabela 7-2 apresenta o resumo dos resultados com os melhores

ajustes.

Page 127: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

126

Tabela 7-2– Resumo de resultados de ajustes de distribuições

Segmento Distribuição ajustada No. de parâmetros

Estatítica A-D

1.1 Johnson 4 4,2 1.2 Johnson 4 0,9* 1.3 Lambdas Generalizados 4 1,1* 1.4 Pearson V 2+1** 87,9 2.1 Lambdas Generalizados 4 1,7* 2.2 Johnson 4 0,6* 2.3 Johnson 4 0,5* 2.4 Johnson 4 15,5 3.1 Inversa Gaussiana 2+1** 58,1 3.2 Lambdas Generalizados 4 10,5 3.3 Johnson 4 0,2* 3.4 Johnson 4 40,9 4.1 Johnson 4 3,8* 4.2 Johnson 4 1,8* 4.3 Johnson 4 0,6* 4.4 Johnson 4 12,3

* valores inferiores ao valor crítico da estatística AD com nível de significância de 1%.

** 2 parâmetros da distribuição mais 1 parâmetro de deslocamento da distribuição

Valores críticos da estatística AD dependem da distribuição utilizada.

Entretanto Giles (2000) apresenta uma aproximação teórica da distribuição da

estatística AD na situação de um número muito grande de pontos. Utilizamos

um valor crítico da estatística AD com nível de significância de 1% que foi

extraído por interpolação da tabela apresentada por Giles (2000). Se o valor da

estatística AD for superior ao valor crítico podemos rejeitar a hipótese nula de

que os dados seguem a distribuição testada ao nível de 1% de significância.

Em diversos segmentos a distribuição com o melhor ajuste ainda apresentou a

estatística AD acima do valor crítico. Isto não invalida a utilização das

distribuições na aplicação do MPCC, uma vez que nosso objetivo nesta etapa é

utilizar a distribuição disponível que aproxime da melhor maneira possível a

distribuição real dos dados empíricos e não necessariamente chegar à

distribuição verdadeira dos dados empíricos de perda de crédito de cada

segmento.

Page 128: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

127

Podemos verificar a superioridade das distribuições com 4 parâmetros para

modelar a perda de crédito nos segmentos, em especial a distribuição de

Johnson. Dos 16 segmentos utilizados, em 11 o melhor ajuste foi o da

distribuição de Johnson e em 3 foi o ajuste da distribuição dos Lambdas

Generalizados.

O processo de seleção de distribuições de perda de crédito para os segmentos

de uma carteira está resumido na Figura 7-4. A metodologia proposta leva à

escolha de distribuições estatísticas específicas para cada segmento da

carteira que serão posteriormente utilizadas no processo final de obtenção da

distribuição de perda de crédito da carteira.

Figura 7-4 – Seleção de distribuições de perda para os segmentos

.

Criação de subportfólios através de bootstrap por subamostragem

Divisão dos sub-portfólios nos segmentos da carteira

Cálculo da perda de crédito média em

cada combinação de subportfólio, período e segmento

Obtenção da distribuição empírica de perda em cada segmento

Ajustes de distribuições estatísticas para cada segmento da carteira

Calculo da estatística de AD para cada ajuste de distribuição

Seleção da distribuição com melhor ajuste para cada segmento da carteira

Page 129: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

128

8 - MODELAGEM DE DEPENDÊNCIAS ATRAVÉS DE CÓPULAS

Modelos de risco de portfólio de crédito devem modelar o comportamento

conjunto de ocorrência de default nos diversos devedores de uma carteira.

Entretanto, a ocorrência de default nos diversos devedores de uma carteira não

é independente. Existem fatores econômicos que fazem com que ocorram

movimentos de alta ou baixa no número de defaults, que afetam os devedores

de forma conjunta. O modo como é tratado o relacionamento entre a ocorrência

de default nos diversos devedores da carteira é um dos principais elementos na

formulação de um modelo de risco de portfólio de crédito.

Em modelos de risco de portfólio fundamentados em modelos estocásticos

estruturais, como o CreditMetrics e o KMV, os eventos de default de diferentes

firmas estão associados a variáveis latentes, que na maioria dos modelos são

representadas pelo valor das ações das firmas. Como os eventos de default

são decorrentes da variação destas variáveis, a correlação entre estes eventos

é determinada pelas correlações entre os valores das ações das firmas.

Já em modelos de portfólio baseados em modelos estocásticos de forma-

reduzida, como o CreditPortfolioView e o CreditRisk+, a ocorrência de default

em um devedor pode ser visto como uma variável de Bernuilli (variável que

assume os valores 0 ou 1) que apresenta um determinado parâmetro de

intensidade (probabilidade de default). Os parâmetros de intensidade dos

diversos devedores da carteira são correlacionados entre si em função de uma

série de fatores que podem afetá-las conjuntamente, como condições

econômicas, por exemplo.

Uma das premissas dos modelos de forma reduzida é que a correlação entre

os parâmetros de intensidade de default advém apenas desses fatores. Deste

modo, as ocorrências de default são, condicionalmente aos fatores,

independentes. Isto significa que, para um dado cenário estabelecido para os

fatores, as ocorrências de default são consideradas independentes. Esta

suposição impõe uma simplificação aos modelos de forma reduzida, uma vez

que a correlação entre os diversos devedores de uma carteira pode advir na

Page 130: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

129

prática de outras causas além de fatores econômicos como, por exemplo,

consumidores que dependem de uma mesma fonte pagadora.

Os modelos de risco de crédito mais conhecidos, sejam eles estruturais ou de

forma reduzida utilizam um modelo de fatores para simplificar a estrutura de

correlações que é apresentado em uma forma genérica pela equação 8-1. Nos

modelos estruturais ele é aplicado às variáveis latentes, buscando representar

o comportamento de ações a partir de índices setoriais ou de países. Nos

modelos de forma reduzida ele é utilizado para representar a influência de

variáveis econômicas ou de setores econômicos na intensidade de default dos

devedores.

Y = G(f1,f2, ... , fn) Eq. 8-1

Onde:

• Y pode representar o retorno de uma ação em um modelo estrutural ou

a taxa de default em um modelo de forma reduzida.

• G é uma função contínua e monotônica;

• f0, f1, ... , fn são fatores;

Descrições do tratamento de correlações nos principais modelos de risco de

crédito encontram-se em Erlenmaier (2001) e em Nyfeler (2000).

A maneira como duas variáveis se relacionam será genericamente chamada de

dependência. Dentre diversas medidas de associação entre variáveis utilizadas

na avaliação de dependência, a mais popular é a correlação linear (Embrenchts

et al., 1999), que é definida por:

2Y

2X

)Y,X(Cov)Y,X(

σσ=ρ Eq. 8-2

Page 131: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

130

Onde:

• ρ(X,Y) é a correlação linear entre as variáveis X e Y;

• Cov(X,Y) é a covariância entre as variáveis X e Y;

• σX e σY são os desvios padrão de X e Y.

Figura 8-1 – Exemplo de relações de dependência

Entretanto, a relação entre duas variáveis não é totalmente definida pela

correlação entre elas. Duas variáveis com uma determinada correlação podem

apresentar diferentes padrões de dependência, como é exemplificado na

Figura 8-1, na qual são apresentadas duas distribuições bivariadas que

apresentam a mesma correlação. Pode-se notar que o gráfico da direita

apresenta maior concentração na diagonal e extremidades mais acentuadas.

Mais adiante explicaremos como geramos essas duas distribuições conjuntas.

8.1 - Função de cópula

Não vamos aprofundar-nos no estudo de funções de cópula. Daremos aqui

apenas a introdução necessária para o desenvolvimento desta Tese. O leitor

Cópula Normal

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

-4 -2 0 2 4

Cópula Student-2

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

-4 -2 0 2 4

Page 132: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

131

interessado no tema poderá encontrar detalhes em Nelsen (1999). O objetivo

de modelar a dependência entre variáveis é a determinação de sua distribuição

conjunta (multivariada). A distribuição conjunta apresenta não só o

comportamento de cada variável, mas também elas se comportam em

conjunto. A distribuição conjunta pode ser definida através de:

• Distribuições univariadas de cada variável, chamadas de distribuições

marginais;

• Relação de dependência entre as variáveis, ou seja, como elas se

comportam conjuntamente.

A relação de dependência entre variáveis pode ser completamente definida por

uma função de cópula. A função de cópula é uma função matemática que,

utilizando como argumentos as distribuições marginais de cada variável, gera

como resultado a distribuição multivariada das variáveis.

Figura 8-2 – Aplicação de uma função de cópula.

A idéia da utilização da função de cópula é ilustrada pela Figura 8-2, que

apresenta um exemplo para duas variáveis. Neste exemplo apresentamos duas

variáveis aleatórias A e B cujas distribuições são dadas (distribuições

marginais) e deseja-se obter a distribuição conjunta das duas variáveis

(distribuição multivariada). Para obter a distribuição conjunta aplica-se uma

$ �%�&�

$ �%���

& �

. �� � � �����

� ) � �� ��

Distribuições

Marginais

Distribuição

Multivariada

Page 133: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

132

função matemática sobre as distribuições das variáveis A e B. Esta função é o

que chamamos de função de cópula.

Para uma distribuição multivariada F definida por:

F(x1,...,xN) = Prob (X1 ≤ x1, ..., XN ≤ xN) Eq. 8-3

cujas funções de distribuição marginais são:

Fn(xn) = Prob (Xn ≤ xn), 1 ≤ n ≤ N Eq. 8-4

A função de cópula C é formalmente definida como a função de distribuição

acumulada tal que:

• C: [0,1]N → [0,1];

• C é crescente e contínua em todo xn , 1 ≤ n ≤ N ;

• C possui marginais Cn, tais que Cn(un) = C(1,...,1, un,1,...,1) = un para

0 ≤ un ≤ 1.

• F(x1,...,xN) = C(F1(x1),..., Fn(xn))

Referências sobre funções de cópula e aplicações em gestão de risco podem

ser encontradas em Nelsen (1999), Embrechts et al. (1999), Frey et al. (2001),

Das e Geng (2002) e Lindskog (2000).

No modelo proposto nesta Tese o comportamento conjunto de perda de crédito

nos diversos segmentos de uma carteira é modelado através do uso de uma

função de cópula elíptica. Este tipo de cópula possui como parâmetro a matriz

de correlações entre as variáveis modeladas. Utilizando a matriz de

correlações como parâmetro da função de cópula, incluímos no escopo da

modelagem a medida mais amplamente utilizada e conhecida de associação

entre variáveis. Outra vantagem da matriz de correlações é que é possível

relacionar cada par de variáveis de forma diferente, o que não seria possível se

fossem utilizadas outras funções de cópula com um único parâmetro (Nelsen,

1999).

Page 134: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

133

Foram analisadas duas alternativas de funções de cópula: a Gaussiana ou

normal e a cópula Student. O fato destas duas funções de cópula serem as

mais comumente utilizadas no contexto de risco de crédito (Bluhm et al., 2003)

nos levou a escolher estas funções. A cópula normal para o caso bivariado é

definida por:

dt ds )1(2

tst2sexp

12

1)u,u(C

2

22)u( )u(

2211

12

1

��

ρ−+ρ−−

ρ−π= � �

− −Φ

∞−

Φ

∞− Eq. 8-5

onde ρ é a correlação linear entre u1 e u2 e Φ(.) é a função de distribuição

acumulada normal padrão.

A função de cópula Student com ν graus de liberdade é definida para o caso

bivariado como:

dsdt)1(

tst2s1

12

1)u,u(C

22

2

22)u(t )u(t

2211

12

1+ν−

∞− ∞−

��

ρ−ν+ρ−+

ρ−π= � �

−ν

−ν

Eq. 8-6

Uma determinada função de cópula pode ser aplicada a quaisquer distribuições

marginais. Por exemplo, pode-se utilizar uma cópula normal para modelar a

estrutura de dependência em que uma variável possui distribuição Beta e outra

possui distribuição Gamma. A distribuição multivariada resultante será

composta pelas distribuições marginais associadas através da função de

cópula. A utilização de uma cópula normal não quer dizer que a distribuição

conjunta será normal (isso só ocorre se as distribuições marginais também

forem distribuições normais).

A Figura 8-3 apresenta o mesmo gráfico da Figura 8-1, mas revelando as

funções de cópula utilizadas. São apresentados 1000 pares de valores de duas

variáveis com distribuições marginais normais e correlação linear igual a 0,7

seguindo a cópula normal e Student com 2 graus de liberdade. As diferenças

no padrão dos dados são devidas às funções de cópula utilizadas para gerar os

dados.

Page 135: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

134

Figura 8-3 – Distribuição bivariada com cópulas normal e Student

Pode-se verificar que a cópula de Student gera uma maior concentração na

diagonal e mais valores conjuntos nos extremos. A cópula Student apresenta

maior dependência nas caudas que a cópula normal, que concentra a maior

parte da dependência nas observações centrais.

Na gestão de risco de crédito, o comportamento de dependência nas caudas

possui especial importância em virtude da ocorrência eventos extremos

simultâneos. A princípio, isto leva a crer que a cópula adequada deve

apresentar dependência na cauda superior da distribuição de perdas

(Embrechts et al., 1999).

Diz-se que duas variáveis X1 e X2 são assintoticamente dependentes na cauda

superior se seu coeficiente de dependência da cauda superior definido por:

���

�� >>=λ −−

→)z(FX)z(FXobPrlim 1

111

221z

Eq. 8-7

estiver no intervalo [0,1] (Embrechts et al., 1999). O coeficiente de dependência

superior a zero significa que, se ocorrem valores “muito extremos” em uma das

variáveis (onde o percentil da distribuição está do limite de 100%), há uma

Cópula Normal

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

-4 -2 0 2 4

Cópula Student-2

-4

-3

-2

-1

0

1

2

3

4

-4 -2 0 2 4

Cópula normal Cópula Student-2

Page 136: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

135

probabilidade não nula de ocorrer um valor muito extremo na outra variável.

Embrechts et al. (1999) demostraram que a cópula de Student apresenta λ ∈

[0,1] e que na cópula normal o coeficiente λ é igual a zero.

Apesar da cópula de Student levar a uma maior dependência caudal, não

podemos afirmar categoricamente que ela é sempre superior à cópula normal

na modelagem de distribuições de perda de crédito. Deve ser verificado qual é

o real padrão dos dados e qual função de cópula mais se ajusta a esse padrão.

Esta verificação pode ser realizada pela comparação de dados históricos de

perda na carteira com o resultado do modelo utilizando as diferentes

alternativas de função de cópula.

8.2 - Aplicação das funções de cópula no MPCC

O modelo proposto nesta Tese busca fornecer uma forma simples de modelar

correlações em carteiras de crédito ao consumidor. Conforme a metodologia

descrita no capítulo 6, cada consumidor é alocado a um segmento em função

de suas características socio-demográficas e de comportamento histórico de

crédito. A partir de séries históricas de perda de crédito dos diversos

segmentos de consumidores é calculada uma matriz de correlações. O modelo

considera que a correlação entre dois consumidores é igual à correlação entre

os segmentos aos quais eles pertencem.

Se dois consumidores estão em um mesmo segmento a correlação entre eles é

igual a 1. Isto não significa que eles vão entrar em default sempre ao mesmo

tempo, mas que os movimentos da intensidade de perda em consumidores

com estes perfis serão perfeitamente correlacionados.

Para definir completamente a relação de dependência entre as intensidades de

ocorrência de perda de dois consumidores de segmentos diferentes, nossa

abordagem adotará o uso de uma função de cópula para associar distribuições

univariadas de perda de cada segmento da carteira em distribuições conjuntas

que possuam a matriz de correlações obtida pelo processo descrito acima.

Page 137: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

136

O método apresentado dispensa a utilização tradicional de modelos de fatores

para simplificar a estrutura de correlações uma vez que esta já é obtida com

uma dimensionalidade suficientemente baixa, normalmente inferior a 30

variáveis, cada qual representando a perda de crédito em um segmento da

carteira. Entretanto, a metodologia proposta pressupõe estabilidade da matriz

de correlações, o que é mais factível se a aplicação e a estimação da matriz for

realizada em um mesmo ciclo econômico.

Page 138: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

137

9 - SIMULAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DE PERDA DE UMA

CARTEIRA DE CRÉDITO AO CONSUMIDOR

Neste capítulo apresentamos os algoritmos e procedimentos finais utilizados

para a obtenção da distribuição de perda de crédito de um portfólio através do

MPCC. Também apresentamos neste capítulo como o MPCC foi aplicado na

base de dados utilizada nesta Tese. Procuramos realizar uma aplicação

exaustiva do método explorando ao máximo a base de dados disponível

através da simulação de milhares de portfólios para os quais apuramos a perda

de crédito realizada historicamente e a comparamos com os resultados

gerados a partir do MPCC. Por fim, aplicamos aos resultados um teste de

avaliação de modelos de risco de portfólio de crédito e apresentamos uma

visão gráfica dos resultados.

9.1 - Processo de obtenção da distribuição de perda da carteira

No modelo proposto nesta Tese, a distribuição de perdas de uma carteira é

obtida através de simulação de Monte Carlo. Esse processo envolve a geração

de um número muito grande de possíveis realizações de valores de perda de

crédito para a carteira.

O conjunto de realizações simuladas de perda na carteira define a distribuição

simulada e qualquer aplicação do modelo de risco de portfólio, como cálculo de

Capital Econômico e Var pode ser realizada diretamente a partir deste conjunto

de valores simulados de perda. A avaliação de riscos marginais, como por

exemplo, elevação da exposição da carteira a algum segmento específico do

mercado ou área geográfica, também pode ser realizada através dos valores

simulados de perda na carteira. Neste caso, são comparadas duas

distribuições distintas, com e sem a exposição adicional.

A simulação de perda para a carteira é composta de duas etapas:

Page 139: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

138

• Geração de realizações conjuntas de perda em cada segmento definido

na etapa de segmentação da carteira, descrita no capítulo 6.

• Ponderação das realizações obtidas pela exposição da carteira a cada

segmento. A média ponderada das realizações conjuntas de perda na

carteira é uma realização simulada de perda na carteira. O conjunto de

realizações de perda na carteira define a distribuição simulada de perda

de crédito na carteira.

Para executar a primeira etapa é necessário simular a perda de cada segmento

seguindo a distribuição marginal selecionada para cada segmento conforme o

processo descrito no capítulo 7. Entretanto, os valores de perda em cada

segmento devem seguir uma determinada estrutura conjunta de dependência,

definida no MPCC por uma função de cópula elíptica (normal ou Student) e

uma matriz de correlações entre séries históricas de perda de crédito nos

segmentos.

Conforme vimos anteriormente, na fase de estimação de parâmetros do

modelo MPCC para uma carteira de crédito, são obtidos:

• Quantidade e perfil dos segmentos que compõe a carteira de crédito e

algoritmo de alocação de exposições aos segmentos.

• Matriz de correlações lineares entre perda de crédito nos segmentos,

calculada a partir de séries históricas de perda de crédito de cada

segmento da carteira.

• Distribuições estatísticas teóricas que melhor modelam a perda de

crédito em cada segmento com seus respectivos parâmetros

(distribuições marginais).

• Função de cópula elíptica mais adequada aos dados empíricos.

Supondo que queremos aplicar o MPCC para obter a distribuição de perda de

crédito de um portfólio no próximo período, precisamos utilizar as informações

citadas acima, obtidas na fase de estimação do modelo, e a composição atual

do portfólio em termos da participação de cada um dos segmentos da carteira.

Page 140: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

139

Figura 9-1 – Estimação de parâmetros e aplicação do MPCC.

1 0,4 0,5

0,4 1 0,6

0,5 0,6 1

Segmentação da carteira

Séries históricas de perda para cada segmento

Matriz de correlações entre perda nos segmentos

Distribuições marginais de perda nos segmentos

ESTIMAÇÃO DE PARÂMETROS

Perda de crédito

1%

Alocação das exposições aos segmentos

Simulação de Monte Carlo

Distribuição conjunta de perda nos segmentos

Ponderação da distribuição conjunta de perda

Distribuição de perda na carteira

APLICAÇÃO DO MODELO

���

Escolha da função de cópula

Page 141: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

140

A Figura 9-1 apresenta um esquema do processo de geração da distribuição de

perdas de uma carteira de crédito. São ilustrados os processos de estimação

de parâmetros e a aplicação do MPCC. A seta vermelha de feedback da

distribuição de perda da carteira para a seleção da função de cópula ilustra o

procedimento de escolha da função de cópula que é realizada comparando

resultados empíricos com os produzidos pelo modelo utilizando alternativas de

função de cópula (Normal ou Student). Se considerarmos que esta escolha já

esteja definida, a seta vermelha pode ser omitida.

Na aplicação do MPCC em períodos consecutivos em uma carteira, como por

exemplo, na situação de uma instituição financeira a cada mês avaliando a

distribuição de perdas de sua carteira para o mês seguinte, a única variação na

aplicação do MPCC será a composição da carteira nos segmentos utilizados.

Entretanto, periodicamente a instituição financeira deverá atualizar os

parâmetros utilizados no modelo. Esta atualização pode ocorrer uma vez por

ano, por exemplo, ou quando alterações significantes ocorrerem no cenário

econômico.

O resultado final da aplicação do MPCC é a distribuição de perda para a

carteira no horizonte de um período. Entretanto esta distribuição não é obtida

na forma de uma fórmula analítica, mas sim na forma de milhares de possíveis

“realizações” de perda na carteira obtidas pelo processo de simulação de

Monte Carlo.

9.2 - Algoritmos de simulação

Para realizar a simulação é utilizado o algoritmo citado por Romano (2001).

Para gerar W observações aleatórias em N dimensões de acordo com a cópula

normal o procedimento é:

1. Dada a matriz de correlações lineares R, encontrar a decomposição de

Cholesky (Gentle, 1998) A, onde AAT=R;

Page 142: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

141

2. Simular n variáveis aleatórias normais independentes representadas por Z

=(z1,..., zN)T;

3. Obter X=AZ;

4. Determinar as componentes ui = Φ(xi), i = 1,...,N , formando o vetor

U=(u1,..., uN),

5. Repetir W vezes o algoritmo a partir do passo 2, gerando a matriz W x N

(U1,... ,UW)T que o resultado da simulação de W observações de uma

distribuição multivariada de acordo com a cópula normal e com marginais

uniformes(0,1).

Uma variação desse algoritmo é utilizada para a cópula Student:

1. Dada a matriz de correlações lineares R, encontrar a decomposição de

Cholesky A, onde AAT=R;

2. Simular n variáveis aleatórias normais independentes representadas por Z

=(z1,..., zN)T;

3. Simular uma variável aleatória, s, de acordo com a distribuição quiquadrado

com ν graus de liberdade;

4. Obter Y=AZ ;

5. Obter Ys

Xν= ;

6. Determinar as componentes ui = tν(xi), i = 1,...,N , formando o vetor

U=(u1,..., uN);

7. Repetir W vezes o algoritmo a partir do passo 2, gerando a matriz W x N

(U1,... ,UW)T que o resultado da simulação de W observações de uma

distribuição multivariada de acordo com a cópula Student com ν graus de

liberdade e com marginais uniformes(0,1).

A partir das marginais uniformes, pode-se aplicar qualquer outra distribuição

marginal utilizando a transformação F-1(U(0,1)), onde F é a distribuição

marginal desejada e U(0,1) é o valor da variável de distribuição uniforme entre

Page 143: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

142

0 e 1. Em nossa aplicação, F são as distribuições estatísticas definidas no

capítulo 7.

9.3 - Aplicação do MPCC em portfólios simulados

Para realizar a validação do modelo, o MPCC foi aplicado a dois conjuntos

distintos de portfólios formados através da seleção aleatória (subamostragem

sem reposição) a partir da base de dados utilizada para o desenvolvimento

desta Tese:

• 3 mil portfólios que incluíam exposições de operações de crédito em

estado de default;

• 3 mil portfólios que não incluíam exposições de operações de crédito em

estado de default.

Para a seleção dos portfólios, uma determinada operação de crédito foi

considerada em estado de default após apresentar um atraso superior a 30

dias no pagamento das obrigações devidas. Dos 10,6 milhões de elementos de

exposição presentes na base de dados utilizada, 9,5 % deles eram de

operações em estado de default. Estes elementos de exposição são parcelas

que, em seus vencimentos, suas respectivas operações de crédito já estavam

em default.

A perda de crédito analisada no primeiro conjunto de portfólios reflete o

resultado integral da carteira, isto é, englobando todas as operações que foram

realizadas na instituição. A contribuição das operações em default no resultado

de perda é dada pelo valor em default no período analisado menos a

recuperação esperada deste valor, ainda que este seja pago em períodos

posteriores (vide definição de perda apresentada no capítulo 5).

Já, a perda analisada no segundo conjunto de portfólios segue a linha

tradicionalmente adotada na avaliação de distribuições de perda ou valor de

portfólios. As exposições restantes das operações que entraram em estado de

Page 144: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

143

default foram retiradas da análise. Um argumento forte a favor desta

abordagem é que a distribuição que se pretende obter representa a avaliação

de perdas inesperadas e uma operação em default já não contribui para a

perda inesperada uma vez que ela já está realizada.

Cada um dos 6 mil portfólios analisados continha 300 mil elementos de

exposição. Como elemento de exposição compreende-se a exposição de uma

operação de crédito em um período. Assim, uma operação com um prazo de

10 meses gera 10 elementos de exposição que são as 10 parcelas da

operação. Os 300 mil elementos de exposição de cada portfólio estavam

distribuídos ao longo dos 37 períodos utilizados na aplicação. Desta forma, não

temos 300 mil elementos de exposição que são acompanhados por 37 meses,

mas sim cerca de 8.108 (300 mil / 37 períodos) elementos de exposição

avaliados a cada mês.

Os elementos de exposição (parcelas de operações de crédito) que formaram

cada um dos 6 mil portfólios foram selecionados aleatoriamente a partir da

base de dados com 10,6 milhões de elementos de exposição. Assim, se um

elemento de exposição de uma operação foi selecionado para um determinado

portfólio, não necessariamente os demais elementos de exposição da mesma

operação também foram selecionados para o portfólio. Desta forma, cada um

dos 6 mil portfólios de 300 mil elementos de exposição utilizados também pode

ser interpretado como 37 portfólios diferentes, cada qual com

aproximadamente 8.108 elementos de exposição com vencimento em um dos

37 meses analisados. O MPCC foi aplicado a cada um dos portfólios utilizando

tanto a função de cópula normal quanto a Student com 2 graus de liberdade.

Para cada simulação foram realizadas 370 mil iterações (10 mil para cada

período). Para cada uma das distribuições simuladas foram calculados os

percentis 95% e 99%. A Figura 9-2 ilustra o processo de aplicação do MPCC e

a apuração dos valores históricos de perda que foram utilizados para avaliar a

capacidade preditiva do modelo.

Page 145: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

Figura 9-2 – Aplicação do MPCC nos portfólios simulados e apuração de valores históricos para validação.

...

Período ...

...

1 2 37

10 mil valores simulados de

perda

10 mil iterações no MPCC

10 mil valores simulados de

perda

10 mil iterações no MPCC

10 mil valores simulados de

perda

10 mil iterações no MPCC

Composição do portfólio no

período 1

Composição do portfólio no

período 2

Composição do portfólio no

período 37

370 mil iterações do MPCC gerando

370 mil valores simulados de perda

por portfólio

37 valores históricos de perda apurados para cada portfólio com 300 mil elementos de

exposição

1 valor histórico de

perda apurado

1 valor histórico de

perda apurado

1 valor histórico de

perda apurado

6 MIL PORTFÓLIOS (3 mil com exposições em default e 3 mil sem exposições em default )

222 mil valores históricos de perda apurados 2,22 bilhões de valores simulados de perda

6 mil valores calculados de percentis 95% e 99%

1 valor de percentil 95% e 1 valor de percentil 99% para cada

portfólio

~ 8108 el. de exposição

~ 8108 el. de exposição

~ 8108 el. de exposição

Valores históri-cos�

Simula-ções�

Page 146: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

145

Para cada um dos 6 mil portfólios foram apurados os valores agregados de

perda efetivamente ocorrida em cada um dos 37 meses analisados, totalizando

111 mil observações mensais de perda de crédito para cada uma das duas

situações analisadas. É possível apurar estes valores de perda uma vez que

trabalhamos com uma base de dados histórica contendo a informação

detalhada de pagamento das operações de crédito. A este conjunto de

observações empíricas de perda chamamos de distribuição empírica de perda

de crédito na carteira.

Os resultados apresentados nos capítulos anteriores foram baseados na

utilização da base de dados incluindo as exposições em default. Para aplicar o

MPCC nos portfólios sem exposições de operações em default, as distribuições

marginais obtidas no capítulo 8 tiveram que ser reestimadas para considerar

esta condição.

Tabela 9-1 – Casos de perda acima do percentil fornecido pelo MPCC

Considera exposições

em default Função de Cópula Percentil

Percentual de casos

acima do percentil

Sim Normal 95% 2,95%

Sim Normal 99% 0,41%

Sim Student-2 95% 3,00%

Sim Student-2 99% 0,49%

Não Normal 95% 5,20%

Não Normal 99% 1,08%

Não Student-2 95% 5,16%

Não Student-2 99% 0,50%

As 37 observações de perda apuradas para cada portfólio foram comparadas

com os percentis 95% e 99% obtidos pelo MPCC para o portfólio. O percentual

das observações cujos valores foram superiores aos percentis 95% e 99%

calculados pelo MPCC estão tabulados na Tabela 9-1. Se o modelo está

avaliando os percentis superiores da distribuição corretamente e os portfólios

analisados são independentes, espera-se que 5% das observações empíricas

sejam superiores ao percentil 95% simulado. De forma semelhante, espera-se

Page 147: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

146

que 1% das observações empíricas sejam superiores ao percentil 99%

simulado.

Considerar como independentes valores de perda de crédito em portfólios

extraídos por subamostragem de uma mesma base de dados é questionável.

Se a perda de crédito apurada em um determinado período no portfólio

completo (toda a base) for alta, os sub-portfólios amostrados tenderão a, em

média, apresentarem perda mais alta neste período. Isto infringe a premissa de

independência.

Apesar da questão de independência, podemos verificar os resultados obtidos

nos portfólios sem exposições em default foram próximos do esperado,

notadamente quando é utilizada a cópula normal. Resultados relativos aos

portfólios que consideraram exposições em default apresentaram piores

resultados.

Os piores resultados obtidos em portfólios com exposição em default podem

ser justificados pela maior concentração de elementos de exposição nos

segmentos de alto risco, onde se encontram as exposições em default.

Podemos verificar pela Tabela B-1 que o ajustes das distribuições de perda nos

segmentos de alto risco (1.4, 2.4, 3.4 e 4.4) são menos precisos e isto tem um

efeito na cauda da distribuição de perda da carteira.

9.4 - Testes estatísticos sobre as distribuições

Conforme notam Frerichs e Löffler (2002), a literatura sobre avaliação e testes

empíricos da habilidade preditiva de modelos de risco de portfólio de crédito é

escassa. O maior problema na realização deste tipo de teste é a necessidade

de longos períodos de dados para obter um número suficiente de observações

de perda de crédito para que o teste seja confiável. Diferentemente do risco de

mercado onde é possível trabalhar com observações diárias e um ano de

dados pode fornecer centenas de observações, no risco de crédito, pela própria

natureza dos fenômenos observados, é necessário utilizar períodos maiores, o

Page 148: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

147

que reduz drasticamente o número de observações empíricas para a realização

de testes.

Para avaliar o poder de previsão de modelos de risco de portfólio de crédito,

encontramos na literatura dois testes estatísticos:

• Testes de percentis (Lopez e Saidenberg, 2000);

• Teste da distribuição (Berkowitz, 2001).

Ambos os testes são passíveis de algumas críticas. O primeiro deles por adotar

uma premissa não realista de independência entre amostras geradas por um

processo de re-amostragem (Frerichs e Löffler, 2002). Frerichs e Löffler

afirmam que este teste apresenta viés para a rejeição dos modelos. A

avaliação realizada por eles mostrou que a aplicação do teste de Lopez e

Saindenberg em dados gerados por um determinado modelo rejeitou o próprio

modelo que gerou os dados em 74% a 90% das vezes, dependendo das

condições do tamanho das subamostras utilizadas. Dado este resultado,

optamos por não utilizar este teste no modelo desenvolvido.

O teste de Berkowitz pode ser questionado por avaliar a distribuição completa

de perda. Assim, podem ocorrer situações em que o teste fornece um resultado

positivo para a distribuição indicando que ela é adequada mesmo havendo

divergências na cauda superior. Estas divergências podem não afetar de forma

significativa a avaliação global da distribuição, mas serem relevantes na

determinação de percentis extremos da distribuição.

A importância da avaliação de percentis superiores na distribuição de perdas

se deve ao fato de que a gestão de risco da carteira está fortemente ligada a

cauda superior da distribuição, onde ocorrem as grandes perdas. As principais

aplicações de modelos de risco de portfólio de crédito, como determinação de

capital econômico e default VAR, envolvem a estimativa de percentis

superiores da distribuição de perdas. Apesar do teste de Berkowitz avaliar toda

a distribuição de perdas e não se concentrar apenas nas caudas superiores,

consideramos que ele é a melhor opção de teste presente na literatura e o

utilizamos para a avaliação do modelo desenvolvido nesta Tese.

Page 149: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

148

9.4.1 - Teste de Berkowitz (2001)

No teste proposto por Berkowitz (2001), a série histórica de perdas da carteira

é transformada de maneira a obter uma variável que segue a distribuição

normal padrão. A função de distribuição acumulada estimada para perda de

crédito, )(F̂ ⋅ , obtida pelo modelo de risco de portfólio, é aplicada sobre os

dados observados de perda:

�∞−

==ty

tt du)u(f̂)y(F̂x Eq. 9-1

onde:

• yt são perdas observadas;

• )(F̂ ⋅ é a função de distribuição acumulada estimada para perda de

crédito;

• )u(f̂ é a probabilidade prevista para uma perda de valor u.

Em termos práticos, a integral acima é calculada para uma distribuição obtida

por simulação através de:

número de valores simulados de perda abaixo de yt número total de valores simulados de perda

Se a distribuição de perda estimada pelo modelo for igual à distribuição

verdadeira de perdas, as variáveis transformadas xt seguem a distribuição

uniforme entre 0 e 1 e é independente e identicamente distribuída.

Utilizando a função normal inversa sobre a variável xt chega-se a uma nova

variável transformada zt.

)x(z t1

t−Φ= Eq. 9-2

Page 150: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

149

Se a distribuição estimada estiver correta a variável zt é independente e

identicamente distribuída com distribuição normal padrão. Para testar se a série

de zt é N(0,1) é utilizado um teste de razão de verossimilhança:

( ) ( )[ ]1,0Llogˆ,ˆLlog2LR 222 =σ=µ−σ=σµ=µ= Eq. 9-3

onde:

• ( )

�= σ

µ−−σ−π−=σµ

T

1t2

t2

2

z)log(

2T

)2log(2T

),(Llog

• T é o número de períodos;

• T

z

ˆ

T

1tt�

==µ

( )

T

z

ˆ

T

1t

2t

2�

=

µ−

• LR possui distribuição 2)2(χ .

O teste acima é uma versão do teste original de Berkowitz (2001) que não

inclui o teste de autocorrelação nula. Este teste foi utilizado por Frerchs e

Löffler (2002). Simulações realizadas por Frerchs e Löffler (2002) indicaram

que, utilizando o teste de Berkowitz, é possível identificar problemas em

modelos de risco de crédito com até dez observações.

Berkowitz (2001) admite que o teste pode não ser adequado se alguém está

interessado apenas na cauda da distribuição, não se importando se ocorrerem

divergências em relação à distribuição real no centro da distribuição. Ele

propõe a realização do teste utilizando dados truncados para avaliar apenas a

cauda da distribuição. Entretanto, este procedimento não é útil se houverem

poucas observações para o teste, pois pode não haver observações suficientes

Page 151: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

150

na cauda. Esta situação ocorre nesta Tese, o que não permitiu a utilização

desta variante do teste de Berkowitz.

A Tabela 9-2 apresenta o percentual de casos onde a hipótese nula de que a

variável transformada zt é N(0,1) foi rejeitada para portfólios considerando e

não considerando exposições em default e com o MPCC utilizando cópula

normal e Student com 2 graus de liberdade. O teste foi avaliado com 5% e 1%

de nível de significância.

Tabela 9-2 – Resultados do teste de Berkowitz (2001)

Portfólios onde a hipótese

nula é rejeitada Considera

exposições em

default

Função de Cópula Nível de

Significância # %

Sim Normal 5% 4 0,13%

Sim Student-2 5% 2 0,07%

Sim Normal 1% 0 0%

Sim Student-2 1% 0 0%

Não Normal 5% 25 0,83%

Não Student-2 5% 0 0%

Não Normal 1% 0 0%

Não Student-2 1% 0 0%

Os resultados indicaram que em geral o MPCC representa adequadamente a

distribuição de perdas da carteira. Para todas as opções analisadas a hipótese

nula do teste não é rejeitada em nenhum portfólio ao nível de 1% de

significância. Utilizando o nível de significância de 5% a rejeição máxima foi

0,83% dos portfólios analisados quando se utiliza a cópula normal nos 3.000

portfólios sem exposições em default.

Page 152: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

151

9.5 - Perfil das distribuições obtidas

Para obter uma visão gráfica das distribuições obtidas foram formados dois

grandes portfólios, considerando e não considerando exposições de operações

em estado de default. Estes portfólios englobaram todos os elementos de

exposição presentes na base de dados utilizada.

Para obter a distribuição empírica de perda foram utilizados 6 mil subportfólios

obtidos por subamostragem sobre a base de dados completa (3 mil

considerando e 3 mil não considerando exposições de operações em default).

Esses foram os mesmos portfólios utilizados na realização dos testes

anteriormente descritos. Cada portfólio contribuiu com 37 observações,

totalizando 111 mil observações empíricas de perda considerando exposições

de operações em default e 111 mil observações empíricas de perda não

considerando exposições de operações em default, cujas distribuições são

apresentadas graficamente nas Figuras 9.3 a 9.8 que também mostram

resultados da aplicação do MPCC com função de cópula normal e Student com

2 graus de liberdade.

Figura 9-3 – Distribuições de perda empírica e simulada com cópula

normal – não considerando exposições de operações em default.

MPCC (Normal) x Dados empíricos

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5

Perda de Crédito (%)

f.d.p.

Empírica

MPCC

Page 153: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

152

Figura 9-4 – Distribuições de perda empírica e simulada com cópula

Student-2 – não considerando exposições de operações em default.

MPCC (Student-2) x Dados empíricos

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5

Perda de crédito (%)

f.d.p.

Empírica

MPCC

Figura 9-5 – Distribuições simuladas com cópulas normal e Student-2 –

não considerando exposições de operações em default.

MPCC (Normal) x MPCC (Student-2)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5

Perda de crédito (%)

f.d.p.

Cóp. Normal

Cóp. Student-2

Page 154: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

153

Figura 9-6 – Distribuições de perda empírica e simulada com cópula

normal – considerando exposições de operações em default.

MPCC (Normal) x Dados Empíricos

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0,4

0,45

2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0

Perda de crédito (%)

f.d.p.

Empírica

MPCC

Figura 9-7 – Distribuições de perda empírica e simulada com cópula

Student-2 – considerando exposições de operações em default.

MPCC (Student-2) x Dados empíricos

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0,4

0,45

2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0

Perda de crédito

f.d.p.

Empírica

MPCC

Page 155: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

154

Figura 9-8 – Distribuições simuladas com cópulas normal e Student-2 –

considerando exposições de operações em default.

MPCC (Normal) x MPCC (Student-2)

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0

Perda de crédito (%)

f.d.p.

Cóp. Student-2

Cóp. Normal

Analisando os gráficos anteriores apresentados podemos verificar dois pontos:

• O resultado de ajuste da distribuição empírica foi visivelmente melhor

nos portfólios que não consideram exposições em default.

• Graficamente não é possível afirmar se há diferença significativa ao

utilizar o MPCC com cópula normal ou Student-2. Visualmente as duas

distribuições obtidas são muito semelhantes, principalmente na cauda

superior.

Page 156: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

155

9.6 - Aplicação em carteiras pequenas e comparação empírica com o

modelo CreditRisk+

Visando avaliar o resultado da aplicação do MPCC em carteiras pequenas, o

procedimento de aplicação do modelo foi repetido com um conjunto de dados

menos volumoso. Para esta avaliação utilizamos 2 mil portfólios aleatoriamente

formados, seguindo o mesmo padrão descrito nas seções anteriores, com

1.000 portfólios considerando exposições de operações em estado de default e

1.000 não considerando estas exposições. Estes portfólios possuíam 50 mil

elementos de exposição cada um. Os elementos de exposição (parcelas de

operações de crédito) estavam distribuídos ao longo dos 37 períodos utilizados

nesta Tese, com uma média de 1351 elementos de exposição por mês. Isto

equivale a uma carteira com 1351 operações ativas, o que pode ser

considerada uma carteira bastante pequena.

Utilizando este mesmo conjunto de dados, fizemos também a aplicação do

modelo CreditRisk+ (CSFP, 1997) para comparação com o MPCC. Por

questões de simplicidade, foi utilizada a versão do CreditRisk+ que utiliza um

único fator de risco. Na aplicação do modelo foi adotado como conceito de

default a efetivação da perda. Utilizando este conceito, não precisamos ajustar

as exposições da carteira para considerar a expectativa de recuperação. A

unidade ou banda de valor utilizada no processo de discretização do

Creditrisk+ foi arbitrariamente estabelecida em R$25. Os parâmetros de

entrada do modelo (taxa e volatilidade de default) foram obtidos historicamente

para cada classe de risco a partir da base de dados utilizada. A definição das

classes de risco foi feita com base no modelo de classificação de risco descrito

no Capítulo 6.

A Tabela 9-3 apresenta os resultados obtidos para o teste e Berkowitz (2001)

na aplicação do CreditRisk+ e do MPCC utilizando cópula Student-2. Em

relação aos resultados obtidos nas seções anteriores, percebemos uma

deterioração na performance de previsão da distribuição de perdas nestes

portfólios menores. Notadamente, os resultados para o CreditRisk+ foram muito

Page 157: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

156

desfavoráveis. Os resultados indicam que a acurácia dos resultados do MPCC

pode ser sensível ao tamanho da carteira.

No teste de Berkowitz (2001) verificamos em quase todos os portfólios onde foi

aplicado o CreditRisk+ que a hipótese nula do teste foi rejeitada, indicando que

a distribuição fornecida pelo CreditRisk+ não corresponde à distribuição real de

perda da carteira. Para o MPCC obtivemos melhores resultados nos portfólios

sem considerar exposições em default, apesar da hipótese nula ter sido

rejeitada em uma proporção relativamente grande dos portfólios analisados.

Nos demais portfólios a performance do MPCC foi semelhante a do

CreditRisk+.

Tabela 9-3 – Teste de Berkowitz para o modelo CreditRisk+

Portfólios onde a hipótese

nula é rejeitada

Considera

exposições em

default Modelo

Nível de

Confiança # %

Sim CreditRisk+ 95% 1.000 100%

Sim MPCC 95% 996 99,6%

Sim CreditRisk+ 99% 1.000 100%

Sim MPCC 99% 1.000 100%

Não CreditRisk+ 95% 1.000 100%

Não MPCC 95% 287 28,7%

Não CreditRisk+ 99% 991 99,1%

Não MPCC 99% 142 14,2%

Para obter uma visão gráfica, as Figuras 9-9 e 9-10 apresentam o resultado da

aplicação do Creditrisk+ e a distribuição empírica obtida para os dois portfólios

descritos no item 9-5. Podemos verificar que a distribuição resultante do

CreditRisk+ realmente é muito divergente da distribuição empírica de perda de

crédito. Entretanto, parece haver uma convergência na cauda superior, onde

reside nosso maior interesse.

Page 158: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

157

Figura 9-9 – Distribuições de perda empírica e produzida pelo CreditRisk+

– considerando exposições de operações em default.

Credit Risk+ x Dados Empíricos

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0,4

0,45

0,5

2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0

Perda de crédito (%)

f.d.p.

CR+

Empírica

Figura 9-10 – Distribuições de perda empírica e produzida pelo

CreditRisk+ – não considerando exposições de operações em default.

CreditRisk+ x Dados empíricos

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5

Perda de crédito (%)

f.d.p.

Empírica

CR+

Page 159: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

158

10 - CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISA

O modelo MPCC apresentado neste trabalho traz como principais

contribuições:

- Proposição de uma metodologia para previsão de distribuições de perda em

carteiras de crédito ao consumidor utilizando dados disponíveis no mercado

brasileiro.

- Proposição de uma metodologia para tratamento das relações de

dependência entre perda de crédito em diferentes segmentos de uma

carteira de crédito. A metodologia proposta pode ser utilizada em outros

modelos ou aplicações além do próprio MPCC.

Ressaltamos ainda que este trabalho foi a primeira aplicação de funções de

cópula e técnicas de reamostragem em risco de portfólio de crédito no Brasil.

O modelo apresentado nesta Tese é um passo importante no sentido de uma

melhor gestão do risco de crédito em carteiras de crédito ao consumidor e abre

possibilidades de aplicações antes apenas acessíveis para carteiras de crédito

corporativo. O MPCC é perfeitamente ajustado à disponibilidade de dados do

mercado brasileiro necessitando apenas de informações cadastrais e de

características e performance de pagamento de operações de crédito. Essas

informações atualmente já são amplamente utilizadas por instituições

financeiras no Brasil para desenvolvimento de credit e behaviour scores.

O modelo foi desenvolvido utilizando informações de bureau de crédito, mas

pode ser inteiramente aplicado em uma instituição financeira que possua uma

grande carteira de crédito ao consumidor. A existência de uma base de dados

grande é a maior restrição à aplicação do MPCC, já que os métodos propostos

de segmentação e ajuste de distribuições precisam de uma quantidade

expressiva de dados para sua aplicação. Entretanto, instituições com carteiras

muito pequenas podem utilizar o MPCC com alguns de seus estágios

Page 160: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

159

desenvolvidos a partir de um banco de dados de um bureau de crédito que

agregue informações de diversas instituições.

Resultados obtidos no teste de Berkowitz (2001) apresentados na seção 9.4

revelam que o MPCC modela adequadamente distribuições de perda em

crédito ao consumidor no mercado brasileiro. Apesar dos resultados positivos

no teste de Berkowitz, verificamos pela análise gráfica das Figuras 9-6 e 9-7

que o ajuste da cauda superior quando consideramos exposições de

operações em default é deficiente. Duas possíveis alternativas que podem ser

exploradas em pesquisas futuras para melhorar o ajuste da cauda superior

nestes casos são:

• Modelar estas exposições exogenamente, de maneira determinística

utilizando uma taxa média de recuperação para operações em default ou

estocasticamente, simulando possíveis realizados de recuperação de

acordo com uma distribuição pré-determinada.

• Melhorar o ajuste de distribuições de perda dos segmentos da carteira

que concentrem exposições de operações em default. Além de testar

novas classes de distribuições, pode-se testar a utilização da

distribuição empírica através de simulação histórica e não paramétrica.

Apesar do MPCC ser uma abordagem flexível, possibilitando a utilização de

diferentes distribuições para modelar a perda de crédito nos diferentes

segmentos da carteira, verificou-se a superioridade das distribuições de

Johnson na grande maioria dos casos analisados. Desta forma, se a fase de

seleção de distribuições para cada segmento da carteira for suprimida,

adotando-se distribuições de Johnson para todos os segmentos, não haverá

perda significativa na performance do modelo.

A análise gráfica apresentada na seção 9.5 permite confirmar visualmente que

o ajuste da distribuição de perda de uma carteira pelo MPCC é satisfatória em

portfólios sem exposições de operações de crédito em default. Outro ponto

revelado na análise gráfica da seção 9.5 é a semelhança dos ajustes

realizados utilizando as funções de cópula normal e Student-2, principalmente

Page 161: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

160

na cauda superior das distribuições. Esta semelhança se nota tanto para os

portfólios com como nos sem exposições em default. Entretanto, verificamos

que o teste de Berkowitz apresentou resultados ligeiramente melhores para o

MPCC quando foi utilizada a função de cópula de Student com 2 graus de

liberdade.

O teste de Berkowitz (2001) aplicado aos portfólios com 50 mil elementos de

exposição utilizados na comparação entre o MPCC e o modelo CreditRisk+

mostrou uma deterioração geral em relação aos resultados obtidos nos

portfólios de 300 mil elementos de exposição. Este fato levanta a hipótese de

que a performance da aplicação do MPCC ou os testes aplicados sejam

sensíveis ao tamanho do portfólio. Outra possibilidade é que o processo de

subamostragem utilizado seja inadequado com um menor tamanho de sub-

portfólios. Não obtivemos uma conclusão definitiva sobre esta questão, uma

possível extensão do trabalho apresentado seria a realização de trabalho

empírico adicional para testar as diversas hipóteses levantadas e verificar a

sensibilidade dos resultados em relação ao tamanho dos portfólios.

Ainda assim foi possível verificar superioridade dos resultados do MPCC em

relação aos do CreditRisk+ na maioria dos testes realizados. A análise gráfica

realizada para o CreditRisk+ nos mostra que a distribuição fornecida pelo

CreditRisk+ é no geral bastante divergente em relação à distribuição empírica.

Entretanto, nota-se uma curiosa convergência entre a distribuição empírica e o

CreditRisk+ na cauda superior. Não podemos encontrar nenhuma referência

bibliográfica que indique uma explicação teórica ou outra evidência empírica

deste tipo de convergência. Também não podemos afirmar que este fenômeno

possa ser generalizado para qualquer portfólio.

Uma das principais virtudes do modelo CreditRisk+ é sua solução analítica que

possibilita gerar a distribuição de perda da carteira com rapidez. Entretanto,

verificamos que o tempo necessário para aplicação da fórmula de recorrência

utilizada pelo CreditRisk+ é sensível ao tamanho do portfólio e, para uma

carteira de milhões de exposições, é bastante significativo. Por outro lado, o

tempo de aplicação do MPCC é pouco sensível ao número de exposições o

Page 162: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

161

que torna sua aplicação em grandes portfólios mais rápida que a do

CreditRisk+.

Todo o trabalho apresentado nesta Tese utilizou como período de avaliação um

mês. Todavia uma instituição financeira pode desejar trabalhar com um

horizonte de avaliação maior. Duas alternativas são possíveis para estender o

período de avaliação para mais de um mês:

• Estimar todos os parâmetros do modelo utilizando uma definição de

período mais longa.

• Aplicar o modelo com horizonte de um mês consecutivamente até o

horizonte de previsão desejado.

A primeira alternativa apresenta como desvantagem a necessidade de utilizar

um histórico mais longo de dados para o processo de estimação de

parâmetros, o que pode não estar disponível em uma instituição financeira. Se,

por exemplo, utilizarmos 36 períodos para estimar o modelo, em base mensal

utilizaríamos um histórico de 3 anos. Por outro lado, em utilizando um período

de 6 meses, seria necessário um histórico 18 anos.

A segunda alternativa não demanda um histórico mais longo, mas exige a

realização de um processo de simulação mais complexo. A simulação precisa

utilizar uma matriz de migração entre os segmentos da carteira, que deve ser

estimada empiricamente. O processo funcionaria da seguinte forma:

1. Realização da simulação de perda no primeiro mês.

2. Simulação da migração das exposições utilizando a matriz de migração

dos segmentos da carteira.

3. Realização da simulação no segundo mês.

4. Repetição do processo até o período de previsão desejado.

5. Consolidação dos resultados de perda em cada mês para obter a

distribuição de perda no período desejado.

Page 163: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

162

A pesquisa e utilização de modelos de risco de portfólio em carteiras de crédito

ao consumidor ainda são insipientes e existem diversas oportunidades de

pesquisas adicionais, como por exemplo:

• Teste da abordagem apresentada em carteiras de crédito rotativo.

• Avaliação de outros tipos de função de cópula, principalmente as que

permitem dependência assimétrica, ou seja, a ocorrência de diferentes

graus de dependência nas caudas inferior e superior.

Por fim gostaríamos de ressaltar que o modelo proposto também pode ser

aplicado para carteiras de crédito a empresas. O MPCC pode ser uma

alternativa viável de avaliação da distribuição de perdas em carteiras de crédito

a micro e pequenas empresas, onde muitas vezes não é possível a obtenção

das informações necessárias para a aplicação de outros modelos.

Page 164: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

163

11 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ANEXO A – Distribuições Estatísticas Testadas

F(x) é a função de distribuição acumulada e f(x) é a função de densidade de

probabilidade.

Beta generalizada(αααα1, αααα2, , Min, Max)

( ) ( )( )( )

( )( ) min-max

min-xz com

,B,B

)x(F

minmax,B

xmaxminx)x(f

21

21z

12121

1211

=αααα

=

−αα

−−=−α+α

−α−α

onde B é a função Beta e Bz é a função Beta Incompleta, Min e Max são os

limites inferior e superior (Max > Min); α1 e α2 são parâmetros de forma (α1 > 0

e α2 > 0).

Domínio: Min ≤ x ≤ Max

Figura A-1 – Exemplo de distribuição Beta Generalizada

Beta Generalizada(1,5; 5; 0; 5)

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

-1 0 1 2 3 4 5 6

x

fd

p

Page 175: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

174

Rayleight(b)

2

bx

212

bx

21

2e1)x(F e

b

x)x(f

���

�− �

���

�−−==

Onde b é um parâmetro de escala da distribuição (b>0).

Domínio: x ≥ 0

Figura A-2 – Exemplo de distribuição Rayleigh

Rayleigh(1)

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

-0,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5

x

fd

p

Page 176: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

175

Gaussiana Inversa(µµµµ, λλλλ)

( )

���

���

����

� +µ

λ−Φ+���

���

����

� −µ

λΦ=π

λ= µλ��

��

µ

µ−λ−

1x

xe1

xx

F(x) ex2

)x(f 2x22

2x

3

onde Φ é a função erro e λ e µ são os parâmetros da distribuição (λ > 0 e µ

>0).

Domínio: x > 0

Figura A-3 – Exemplo de distribuição Gaussiana Inversa

Inversa Gaussiana(2,5; 5)

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0,4

0,45

-1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

x

fd

p

Guassiana Inversa(2,5 ; 5)

Page 177: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

176

Log Normal(µµµµ, σσσσ)

��

��

����

µσ+=σ

��

��

µ+σ

µ=µ

���

σµ−Φ=

σπ=

��

���

σµ−−

2

22

2

''xln

21

1ln21

' e ln' com

''xln

F(x) e'2x

1)x(f

onde Φ é a função erro e σ e µ são os parâmetros da distribuição (σ > 0 e µ>

0).

Domínio: x ≥ 0

Figura A-4 – Exemplo de distribuição Lognormal

Lognormal(2,5; 2,5)

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0,4

-2 0 2 4 6 8 10 12 14

x

fd

p

Page 178: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

177

Gamma(αααα,ββββ)

)(F(x) e

x)(

1)x(f xx

1

αΓ

Γ=

����

βαΓβ= ββ−

−α

onde Γ é a função Gamma, Γx é a função Gamma incompleta, α é um

parâmetro de forma (α > 0) e β é um parâmetro de escala (β > 0).

Domínio: x > 0

Figura A-5 – Exemplo de distribuição Gamma

Gamma(2; 1,25)

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

-1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

x

fd

p

Page 179: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

178

Weibull(αααα,ββββ)

( ) ( )αβαβ−−α

α= x-x1

e-1F(x) ex

)x(f

onde α é um parâmetro de forma (α > 0) e β é um parâmetro de escala (β> 0).

Domínio: x ≥ 0

Figura A-6 – Exemplo de distribuição Weibull

Weibull(1,4; 2,4)

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

-1 0 1 2 3 4 5 6 7 8

x

fd

p

Page 180: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

179

Pearson tipo V(αααα, ββββ)

( )

x

e)(

1)x(f

1

x

β−

β⋅

αΓβ=

onde α é um parâmetro de forma (α > 0) e β é um parâmetro de escala (β > 0).

F(x) não possui fórmula analítica.

Domínio: x ≥ 0

Figura A-7 – Exemplo de distribuição Pearson tipo V

Pearson5(3; 5)

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0,4

0,45

0,5

-2 0 2 4 6 8 10 12

x

fd

p

Page 181: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

180

Pearson tipo VI(αααα1, αααα2, ββββ)

( )

x11

x),(B

1)x(f

21

11

21 α+α

−α

����

β++

β⋅ααβ

=

onde α1 e α2 são parâmetros de forma (α1 > 0 e α2 > 0) e β é um parâmetro de

escala (β > 0). F(x) não possui fórmula analítica.

Domínio: x ≥ 0

Figura A-8 – Exemplo de distribuição Pearson tipo VI

Pearson6(3; 3; 1)

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

-1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

x

fd

p

Page 182: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

181

Log-logística

( ) βγ=

���

�+

=+β

α= αα

−α -x tcom

t1

1

1F(x)

t1

t)x(f

2

1

onde γ é um parâmetro de localização, β é um parâmetro de escala (β > 0) e α

é um parâmetro de forma (α > 0).

Domínio: x ≥ γ

Figura A-9 – Exemplo de distribuição Loglogística

LogLogistica(0; 5; 3)

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1

0,12

0,14

0,16

0,18

-5 0 5 10 15 20 25

x

fd

p

Page 183: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

182

Qui-quadrado(νννν)

( )( ) ( )

( )2

2F(x) xe

22

1)x(f 2x122x

2 νΓ

νΓ=

νΓ= −ν

ν

onde Γ é a função Gamma, Γx é a função Gamma incompleta e ν é um

parâmetro de forma (ν > 0).

Domínio: x ≥ 0

Figura A-10 – Exemplo de distribuição Qui-quadrado

ChiQuadrada(4)

0

0,02

0,04

0,06

0,08

0,1

0,12

0,14

0,16

0,18

0,2

-2 0 2 4 6 8 10 12 14

x

fd

p

Qui-quadrado(4)

Page 184: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

183

Extreme Value(a, b)

����

� �

���

� −− �

����

� �

���

� −−+=

�����

=

bax

expb

axexpz

e

1F(x)

e

1b1

)x(f

onde a é um parâmetro de localização e b é um parâmetro de escala (b > 0).

Domínio: - ∞ ≤ x ≤ ∞

Figura A-11 – Exemplo de distribuição Extreme Value

ExtremeValue(5; 1)

0

0,05

0,1

0,15

0,2

0,25

0,3

0,35

0,4

3 4 5 6 7 8 9 10

x

fd

p

Page 185: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

184

Lambda Generalizados

A distribuição dos lambdas generalizados foi proposta por Ramberg e

Schmeiser (1972, 1974) com o propósito de gerar variáveis aleatórias para

simulações de Monte Carlo e tem sido aplicada na estimativa de funções de

densidade de probabilidade em diferentes campos de conhecimento. Karian e

Dudewicz (2000) fazem uma abordagem completa do método.

A distribuição dos Lambdas Generalizados possui quatro parâmetros:

• λ1 – parâmetro de posição da distribuição;

• λ2 – parâmetro de escala da distribuição;

• λ3 – parâmetro relativo à assimetria da distribuição;

• λ4 – parâmetro relativo à curtose da distribuição.

A distribuição dos Lambdas generalizados é mais facilmente definida por sua

função de distribuição inversa:

Figura A-12 – Exemplo de

distribuição dos Lambdas

Generalizados

( )2

431

F1F)F(x

λ−−+λ=

λλ

Lambdas Generalizados

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

0,40

0,45

4,0 6,0 8,0 10,0 12,0

x

fdp

Page 186: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

185

Distribuições de Johnson

O sistema de distribuições de Johnson (Johnson, 1949) é composto por três

famílias de distribuições (não limitadas, lognormais e limitadas) caracterizadas

por 4 parâmetros (ε, λ, γ e η).

A função de distribuição acumulada da distribuição de Johnson é derivada da

função de distribuição Normal:.

)z()x(F Φ= ,onde:

Distribuições não limitadas: ∞<<∞ �

���

λε−η+γ= − x-

xsenhz 1

Distribuições lognormais: ( ) ε≥ε−η+γ= − x xsenhz 1

Distribuições não limitadas: λ+ε≤≤ε �

���

−λ+εε−η+γ= − x

xx

senhz 1

onde Φ é função de distribuição Normal acumulada.

Figura A-13 – Exemplo de

distribuição de Johnson

Johnson

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

0,40

0,45

4,0 6,0 8,0 10,0 12,0

x

fdp

Page 187: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

186

ANEXO B – Resultados dos ajustes de distribuições

Tabelas de Estatística de Anderson-Darling e gráficos da distribuições

acumuladas empírica e ajustada

Tabela B-1 – Melhores ajustes das distribuições de perda dos segmentos

Segmento Ranking Distribuição ajustada Estatítica A-D

1.1 1 Johnson 4,2

2 Pearson V 46,1

3 Lognormal 306,3

1.2 1 Johnson 0,9

2 Lambdas Generalizados 3,4

3 Pearson V 16,8

1.3 1 Lambdas Generalizados 1,1

2 Loglogística 33,7

3 Pearson V 47,1

1.4 1 Pearson V 87,9

2 Lognormal 92,8

3 Loglogística 93,9

2.1 1 Lambdas Generalizados 1,7

2 Inversa Gaussiana 25,7

3 Lognormal 60,5

2.2 1 Johnson 0,6

2 Lognormal 4,7

3 Pearson V 8,6

2.3 1 Johnson 0,5

2 Lambdas Generalizados 5,9

3 Loglogística 39,0

2.4 1 Johnson 15,5

2 Pearson V 602,1

3 Inversa Gaussiana 642,1

Page 188: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

187

Segmento Ranking Distribuição ajustada Estatítica A-D

3.1 1 Inversa Gaussiana 58,1

2 Johnson 71,5

3 Lognormal 192,3

3.2 1 Lambdas Generalizados 10,5

2 Johnson 14,2

3 Inversa Gaussiana 55,4

3.3 1 Johnson 0,2

2 Lambdas Generalizados 0,8

3 Pearson V 2,4

3.4 1 Johnson 40,9

2 Lambdas Generalizados 41,2

3 Inversa Gaussiana 2.077,1

4.1 1 Johnson 3,8

2 Pearson V 24,8

3 Lognormal 58,7

4.2 1 Johnson 1,8

2 Lambdas Generalizados 2,9

3 Pearson V 40,3

4.3 1 Johnson 0,6

2 Lambdas Generalizados 2,3

3 Loglogística 17,8

4.4 1 Johnson 12,3

2 Lambdas Generalizados 232,2

3 Lognormal 350,0

Page 189: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

188

Tabela B-2 – Parâmetros das distribuições com os melhores ajustes

Segmento/

Distribuição Parâmetro Valor

Segmento/

Distribuição Parâmetro Valor

1.1 η 0,8859 3.1 µ 0,9048 Johnson γ -1,3376 Inversa λ 0,6018

ε 0,2241 Gaussiana deslocamento -0,0107 λ 0,1052

1.2 η 1,7822 3.2 η 1,4216 Johnson γ -3,1261 Johnson γ -4,5888

ε 0,2411 ε -0,4771 λ 0,4037 λ 0,1607

1.3 λ1 5,8119 3.3 η 2,8001 Lambdas λ2 0,0416 Johnson γ -2,7940 Genera- λ3 0,0229 ε 0,9558 lizados λ4 0,0782 λ 5,9395

1.4 α 2,4955 3.4 η 1,2347 Pearson V β 15,366 Johnson γ -3,3822

deslocamento -2,0864 ε -1,8407 λ 0,6833

2.1 λ1 0,1684 4.1 η 1,2947 Lambdas λ2 -0,4278 Johnson γ -2,3634 Genera- λ3 -0,0088 ε 0,1011 lizados λ4 -0,2210 λ 0,1374

2.2 η 2,2045 4.2 η 1,4304 Johnson γ -6,8847 Johnson γ -1,5211

ε -0,4642 ε 0,7247 λ 0,1721 λ 0,5114

2.3 η 3,5977 4.3 η 2,4229 Johnson γ -2,3078 Johnson γ -1,5289

ε 3,2328 ε 4,6543 λ 6,1982 λ 2,7770

2.4 η 1,0245 4.4 η 0,6488 Johnson γ -3,2554 Johnson γ -1,7733

ε -0,8162 ε 0,0277 λ 0,3028 λ 0,3638

Page 190: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

189

Figura B-1 – Ajuste de distribuição de perda de crédito – Segmento 1.1

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0

Perda de Crédito (%)

Distribuição empírica

Distribuição teórica

Figura B-2 – Ajuste de distribuição de perda de crédito – Segmento 1.2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0,0 2,0 4,0 6,0

Perda de Crédito (%)

Distribuição empírica

Distribuição teórica

Page 191: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

190

Figura B-3 – Ajuste de distribuição de perda de crédito – Segmento 1.3

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0

Perda de Crédito (%)

Distribuição empírica

Distribuição teórica

Figura B-4 – Ajuste de distribuição de perda de crédito – Segmento 1.4

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0 10 20 30 40 50 60

Perda de Crédito (%)

Input Fit

100 -

––– Distribuição empírica

––– Distribuição teórica

Page 192: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

191

Figura B-5 – Ajuste de distribuição de perda de crédito – Segmento 2.1

Figura B-6 – Ajuste de distribuição de perda de crédito – Segmento 2.2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0

Perda de Crédito (%)

Distribuição empírica

Distribuição teórica

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0

Perda de crédito (%)

Distribuição empírica

Distribuição teórica

Page 193: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

192

Figura B-7 – Ajuste de distribuição de perda de crédito – Segmento 2.3

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0

Perda de Crédito (%)

Distribuição empírica

Distribuição teórica

Figura B-8 – Ajuste de distribuição de perda de crédito – Segmento 2.4

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0 5 10 15 20 25 30

Perda de Crédito (%)

Distribuição empírica

Distribuição teórica

100 -

Page 194: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

193

Figura B-9 – Ajuste de distribuição de perda de crédito – Segmento 3.1

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0

Perda de Crédito (%)

Distribuição empírica

Distribuição teórica

Figura B-10 – Ajuste de distribuição de perda de crédito – Segmento 3.2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0

Perda de Crédito (%)

Distribuição empírica

Distribuição teórica

Page 195: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

194

Figura B-11 – Ajuste de distribuição de perda de crédito – Segmento 3.3

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0

Perda de Crédito (%)

Distribuição empírica

Distribuição teórica

Figura B-12 – Ajuste de distribuição de perda de crédito – Segmento 3.4

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0

Perda de Crédito (%)

Distribuição empírica

Distribuição teórica

100 -

Page 196: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

195

Figura B-13 – Ajuste de distribuição de perda de crédito – Segmento 4.1

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0

Perda de Crédito (%)

Distribuição empírica

Distribuição teórica

Figura B-14 – Ajuste de distribuição de perda de crédito – Segmento 4.2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0

Perda de Crédito

Distribuição empírica

Distribuição teórica

Page 197: DESENVOLVIMENTO DE MODELO DE RISCO DE PORTFÓLIO …

196

Figura B-15 – Ajuste de distribuição de perda de crédito – Segmento 4.3

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0

Perda de Crédito (%)

Distribuição empírica

Distribuição teórica

Figura B-16 – Ajuste de distribuição de perda de crédito – Segmento 4.4

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0

Perda de Crédito (%)

Distribuição empírica

Distribuição teórica

100 -