Desenvolvimento de um produto lácteo a base de leite em pó ...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA PÓSGRADUAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO LEITE E DERIVADOS MESTRADO PROFISSIONAL EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO LEITE E DERIVADOS ARIANE DE OLIVEIRA GOMES DESENVOLVIMENTO DE UM PRODUTO LÁCTEO A BASE DE LEITE EM PÓ ACRESCIDO DE LINHAÇA PARA PROMOÇÃO DA SAÚDE DE MILITARES JUIZ DE FORA 2014

Transcript of Desenvolvimento de um produto lácteo a base de leite em pó ...

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

    PSGRADUAO EM CINCIA E TECNOLOGIA DO LEITE E DERIVADOS

    MESTRADO PROFISSIONAL EM CINCIA E TECNOLOGIA DO LEITE E

    DERIVADOS

    ARIANE DE OLIVEIRA GOMES

    DESENVOLVIMENTO DE UM PRODUTO LCTEO A BASE DE LEITE EM

    P ACRESCIDO DE LINHAA PARA PROMOO DA SADE DE

    MILITARES

    JUIZ DE FORA

    2014

  • ARIANE DE OLIVEIRA GOMES

    DESENVOLVIMENTO DE UM PRODUTO LCTEO A BASE DE LEITE EM

    P ACRESCIDO DE LINHAA PARA PROMOO DA SADE DE

    MILITARES

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincia e Tecnologia de Leite e Derivados, Mestrado Profissional em Cincia e Tecnologia do Leite e Derivados, da Universidade Federal de Juiz de Fora, como requisito parcial para a obteno do grau de Mestre.

    Orientador: Prof. DSc. Luiz Carlos Gonalves Costa Jnior

    Co-orientadora: Profa. DSc. Cristiane Gonalves de Oliveira Fialho

    JUIZ DE FORA

    2014

  • Desenvolvimento de um produto lcteo a base de leite em p acrescido

    de linhaa para promoo da sade de militares

    Ariane de Oliveira Gomes

    ORIENTADOR: Luiz Carlos Gonalves Costa Junior

    Dissertao de Mestrado submetida ao Mestrado Profissional em Cincia e Tecnologia

    do Leite e Derivados, da Universidade Federal de Juiz de Fora UFJF, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em Cincia e Tecnologia do Leite e Derivados.

    Aprovada em 29/08/2014

    BANCA EXAMINADORA

    _______________________________________________ Profa. DSc. Vanessa Agla Martins Teodoro

    _______________________________________________ Prof. DSc. Fernando Antnio Resplande Magalhes

    . _______________________________________________ Profa. DSc. Cristiane Gonalves de Oliveira Fialho

    ______________________________________________ Prof. DSc. Luiz Carlos Gonalves Costa Jnior

  • AGRADECIMENTOS

    Considero essa dissertao o resultado de uma longa caminhada, tarefa

    difcil e cheia de obstculos pessoais.

    O meu profundo obrigado famlia, aos professores, aos amigos, aos

    colegas, s instituies e aos servios que contriburam para que o presente

    trabalho de mestrado fosse uma realidade.

    Agradeo:

    Aos meus pais, em especial, minha melhor amiga Minha Me exemplo

    de fortaleza e dedicao, o meu amparo de sempre.

    Ao meu amor, Digenes Luiz que viveu todas as minhas dificuldades,

    frustraes e vitrias sempre juntos. Sendo fundamental principalmente nesta

    etapa final por acreditar nos meus sonhos, me ajudando a torn-los reais e por

    investir no nosso futuro e escolha.

    A toda minha famlia e aos meus sobrinhos queridos que me fizeram

    esquecer de tudo e sorrir e brincar com eles: Bia, Lulu e Gui.

    A Deus, por tantas oportunidades concedidas.

    Um agradecimento muito especial ao Doutor Luiz Carlos Gonalves

    Costa Junior pela generosidade desde o primeiro dia em que o conheci, pela

    pacincia nos meus momentos de fraqueza, por ter aceitado ser meu

    orientador e me ter encaminhado a realizao desse trabalho. Agradecer e

    desculpar por alguns momentos pessoais seria o mnimo a voc que sempre

    me transmitiu respeito e pacincia.

    A co-orientadora Cristiane Gonalves de Oliveira Fialho por mais um

    auxilio, presente em varias etapas de minha formao acadmica. Sempre

    disponvel quando precisei.

    Ao professor Fernando Antnio Resplande Magalhes que sempre me

    recebeu pronto a ajudar e esteve presente com sua alegria e positivao nos

    churrasquinhos do mestrado na minha casa.

    Aos professores participantes da banca pela disponibilidade e

    contribuio neste trabalho.

  • A todos os professores da EMBRAPA, ILCT e UFJF pelo apoio e

    ensinamentos.

    A minha amiga de profisso Elisa, exemplo de solidariedade e presteza

    a contribuir.

    A todos do Laboratrio de Analise Fsico - Qumica, do ILCT em especial

    Dona Alcy L. de Brito com toda sua destreza em ensinar.

    A empresa Nutrihouse Alimentos pela doao de toda linhaa utilizada

    no projeto.

    Ao Exrcito Brasileiro, em especial o 4 Depsito de Suprimento da

    cidade de Juiz de Fora, com seu esforo maior a Dona Sueli e aos coronis

    que disponibilizaram e confiaram no meu trabalho.

    Muito obrigada!

  • RESUMO

    Novos estudos na rea da cincia da nutrio podem ser fundamentais para a

    preveno e tratamento de co-morbidades ainda atingidas por grande parte da

    populao como a colesterolemia, obesidade, doena cardiovasculare, entre

    outras, que poderiam ser evitadas por meio da alimentao e no do uso

    abusivo de medicamentos. A razo e a necessidade de se desenvolverem

    alimentos mais saudveis minimizar erros alimentares na vida adulta. O

    estudo de desenvolvimento de novos produtos ou fortificao do mesmo

    aparece como formas de tratamento e preveno, uma vez que se podem

    utilizar alimentos largamente consumidos pela populao, como o leite,

    trabalhando novas formulaes e sem alterar drasticamente os hbitos das

    pessoas, somente adicionando alimentos funcionais a promoo a sade.

    Estudo de campo e coleta de dados foram realizados no 4 Depsito de

    Suprimento do Exrcito Brasileiro, localizado em Juiz de Fora, Minas Gerais. O

    objetivo principal foi o desenvolvimento de um produto a base de leite em p

    reconstitudo e adicionado de fibras da linhaa e quatro sabores de frutas

    naturais, para promoo de sade de militares, de fcil preparo e consumo e

    avaliado quanto aceitao sensorial. Determinou-se a composio fsico-

    qumica do produto preparado. Todos os voluntrios participantes e com nvel

    limtrofe a alto de colesterol sanguneo apresentaram possveis co-morbidades

    relacionadas aos hbitos alimentares sendo confirmados por meio de dados

    antropomtricos e nutricionais. Os produtos elaborados dos quatro sabores

    apresentaram aceitao sensorial igual e satisfatria ("gostei muito") para o

    grupo hipercolesterolmico e manteve o mesmo comportamento para o grupo

    sem alterao no colesterol sanguneo, salvo menor aceitao para o sabor

    morango ("gostei moderadamente"). A associao da importncia nutricional do

    produto e sua aceitao sensorial contribuem para a promoo da sade.

    Palavras-chave: Anlise Sensorial. Colesterol. Aceitao. Exrcito

    Brasileiro.

  • ABSTRACT

    New studies in the science of nutrition can be critical for the prevention and

    treatment of co-morbidities still affected by a large population such as

    cholesterol, obesity, cardiovasculare disease, among others, that could be

    prevented through diet and lack of medication abuse. The reason and the need

    to develop healthier foods is to minimize dietary mistakes in adulthood. The

    study of new product development, or fortification of the same appears as forms

    of treatment and prevention, as it can be used widely food consumed by the

    population, such as milk, working and without new formulations drastically

    changing people's habits, only adding food promoting functional health. Field

    study and data collection were performed on the 4th Supply Deposit Brazilian

    Army, located in Juiz de Fora, Minas Gerais. The main objective was to develop

    a product based on milk powder reconstituted and added fibers of flax and four

    flavors of natural fruit for health promotion of military, easy preparation and

    consumption and evaluated for sensory acceptance. Determined the physical-

    chemical composition of the prepared product. All participants and with

    borderline to high level of blood cholesterol volunteers showed possible co-

    morbidities related to eating habits being confirmed by anthropometric and

    nutritional data. Products made of four flavors showed equal and satisfactory

    sensory acceptance ("liked") to the hypercholesterolemic group and remained

    the same behavior for the group with no change in blood cholesterol, lower

    acceptance except for the strawberry flavor ("like moderately"). The association

    of nutritional importance of the product and its sensory acceptance contribute to

    health promotion.

    Key words: Sensory Analysis. Cholesterol. Acceptance. Brazilian Army.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    QUADRO 1 Efeitos biolgicos dos cidos graxos insaturados na sade . 15

    QUADRO 2 Consumo do leite por perodo e faixa etria ......................... 17

    QUADRO 3 Composio e energia da linhaa por parte comestvel ........ 22

    QUADRO 4 Classificao de IMC para adultos ........................................ 36

    QUADRO 5 Classificao do Percentil da CB (cm) e PCT (mm) .............. 36

    QUADRO 6 Classificao do Percentil da CMB (cm) ............................... 38

    QUADRO 7 Classificao do Percentil da AGB ........................................ 39

    FIGURA 1 Modelo de ficha de avaliao para escala hednica de nove

    pontos aplicada para as quatro bebidas com frutas in natura, sabores ma,

    banana, mamo e morango preparadas base de leite em p reconstitudo e

    linhaa .............................................................................................................. 43

    FIGURA 2 Fluxograma para o preparo das bebidas base de leite em p

    reconstitudo e adicionados de linhaa nos sabores maa, mamo, morango e

    banana ............................................................................................................. 59

    FIGURA 3 Resumo da anlise de varincia do teste de aceitao das

    bebidas em seus quatro sabores destinadas ao grupo total de voluntrios..... 81

    FIGURA 4 Resumo da anlise de varincia do teste de aceitao das

    bebidas em seus quatro sabores destinadas ao grupo de voluntrios com nvel

    de colesterol limtrofe a alto.............................................................................. 81

  • LISTA DE TABELAS

    TABELA 1 Frequncia de voluntrios que possuram averso alimentar,

    intolerncia alimentar, uso do fumo ou de bebida alcolica, prtica de atividade

    fsica e utilizao de suplementos. .................................................................................. 44

    TABELA 2 Dados antropomtricos dos voluntrios selecionados e

    identificados pelos nveis limtrofes para colesterol total e aqueles

    hipercolesterolmicos ...................................................................................... 47

    TABELA 3 Dados antropomtricos complementares dos voluntrios

    selecionados e identificados pelos nveis limtrofes para colesterol total e

    aqueles hipercolesterolmicos ........................................................................ 49

    TABELA 4 Questionrio de Frequncia Alimentar (QFA) referente ao

    consumo de aucares e doces ......................................................................... 51

    TABELA 5 Questionrio de Frequncia Alimentar (QFA) referente ao

    consumo de cereais ........................................................................................ 52

    TABELA 6 Questionrio de Frequncia Alimentar (QFA) referente ao

    consumo de leguminosas, hortalias e frutas .................................................. 53

    TABELA 7 Questionrio de Frequncia Alimentar (QFA) referente ao

    consumo de gorduras ...................................................................................... 55

    TABELA 8 Questionrio de Frequncia Alimentar (QFA) referente ao

    consumo de carnes ......................................................................................... 56

    TABELA 9 Questionrio de Frequncia Alimentar (QFA) referente ao

    consumo de bebidas ....................................................................................... 57

    TABELA 10 Questionrio de Frequncia Alimentar (QFA) referente ao

    consumo de leite e derivados ........................................................................... 58

    TABELA 11 Composio fsico-qumica das quatro bebidas preparadas

    base de leite em p, linhaa e frutas in natura. Mdia de trs repeties ....... 60

    TABELA 12 Resultado do grau de aceitao feito pelo teste de Tuckey,

    por meio da escala hednica de nove pontos ................................................. 62

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AACR Aminocido de cadeia ramificada

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    AGB rea de gordura do brao

    AGMI cidos graxos poliinsaturados

    ALA cido-linolnico

    BIA Bioimpedncia eltrica

    CB Circunferncia do brao

    CLA cido linoleico conjugado

    CMB Circunferncia muscular do brao

    DCNT Doenas crnicas no transmissveis

    DCV Doenas cardiovasculares

    DHA Docosahexaenoico

    ECA Enzima Conversora de Angiotensina

    EPA cido eicosapentaenoico

    FOS Fonte de probiticos

    HDL-c HDL colesterol

    IMC ndice de Massa Corprea

    LDL-c LDL colesterol

    OMS Organizao Mundial de Sade

    PCT Prega cutnea triciptal

    RMF Resduo mineral fixo

    TAG Triacilgliceris sricos

    TMB Taxa metablica basal

    NT Nitrognio total

    N-NPN Nitrognio dos compostos no proticos

    NP Nitrognio protico

    POF Pesquisa de oramento familiar

  • SUMRIO

    1. INTRODUO.......................................................................... 13

    2. REFERENCIAL TERICO....................................................... 14

    2.1 Sade Geral............................................................................. 14

    2.1.1 O Leite...................................................................................... 16

    2.1.2 Clcio e Lipdeos...................................................................... 17

    2.1.3 Fibra na alimentao................................................................ 20

    2.1.4 Linhaa..................................................................................... 20

    2.1.4.1 Composio centesimal........................................................... 21

    2.1.4.2 Consumo de linhaa no Brasil e no mundo............................. 23

    2.1.4.3 Benefcios da linhaa............................................................... 24

    2.1.4.4 Estudos correlacionam a ingesto habitual da linhaa com a

    manuteno do peso...............................................................

    24

    2.1.4.5 Linhaa com produtos lcteos................................................ 25

    2.2 Desenvolvimento de novos produtos na nutrio................... 26

    2.3 Avaliao nutricional............................................................... 27

    2.3.1 Bioimpedncia eltrica (BIA)................................................... 28

    2.4 Anlises fsico-qumicas.......................................................... 28

    2.5 Anlise sensorial...................................................................... 29

    2.5.1 Teste de aceitao................................................................... 29

    3 OBJETIVOS............................................................................. 31

    3.1 Geral......................................................................................... 31

    3.2 Especficos............................................................................... 31

    4 MATERIAL E MTODOS......................................................... 32

    4.1 Localizao e Caracterizao................................................... 32

    4.2 Recrutamento dos voluntrios.................................................. 32

    4.3 Avaliao nutricional................................................................. 34

    4.3.1 Coleta de dados....................................................................... 34

    4.3.2 Avaliaes bioqumicas............................................................ 34

    4.3.3 Avaliao Antropomtrica......................................................... 34

    4.3.3.1 Peso corpreo.......................................................................... 35

    4.3.3.2 Estatura.................................................................................... 35

    4.3.3.3 ndice de Massa Corporal (IMC)............................................... 35

  • 4.3.3.4 Circunferncia do Brao (CB)................................................... 36

    4.3.3.5 Prega Cutnea do Trceps (PCT)............................................. 37

    4.3.3.6 Circunferncia Muscular do Brao (CMB)................................ 37

    4.3.3.7 Prega cutnea supra ilaca e supra escapular........................ 38

    4.3.3.8 Circunferncia da cintura........................................................ 39

    4.3.3.9 Bioimpedncia (BIA)................................................................ 38

    4.3.4 Avaliao do consumo alimentar.............................................. 39

    4.4 Preparao do produto............................................................. 39

    4.5 Anlises fsico-qumicas dos produtos..................................... 39

    4.5.1 Determinao do pH................................................................ 40

    4.5.2 Protena................................................................................... 40

    4.5.3 Umidade.................................................................................. 41

    4.5.4 Resduo mineral fixo (cinzas).................................................. 41

    4.5.5 Gordura (mtodo Rose-Gottlieh) ............................................ 41

    4.6 Anlise Sensorial.................................................................... 42

    4.6.1 Anlise estatstica................................................................... 43

    5 RESULTADOS E DISCUSSO.............................................. 44

    5.1 Recrutamento e caracterizao dos voluntrios..................... 44

    5.1.2 Avaliao nutricional................................................................ 46

    5.1.3 Questionrio de frequncia alimentar...................................... 50

    5.2 Preparao do produto............................................................. 59

    5.3 Anlises fsico-qumicas........................................................... 60

    5.4 Anlise sensorial....................................................................... 61

    5.4.1 Grupo total de voluntrios......................................................... 61

    5.4.2 Grupo de voluntrios com nvel de colesterol limtrofe a alto... 62

    6 CONCLUSO............................................................................ 64

    7 CONSIDERAES FINAIS...................................................... 65

    8 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.......................................... 66

    ANEXO 1 Questionrio de seleo........................................................... 74

    ANEXO 2 Termo de Consentimento......................................................... 77

    ANEXO 3 Dados antropomtricos............................................................ 79

    ANEXO 4 Questionrio de frequncia...................................................... 80

    ANEXO 5 Anlise sensorial...................................................................... 81

  • 13

    1. INTRODUO

    A alimentao fator primordial na rotina diria dos indivduos, no

    apenas por ser necessidade bsica, mas principalmente porque a sua

    obteno tornou-se um problema de sade pblica, uma vez que o excesso ou

    a falta da mesma pode causar doenas.

    Estudos na rea da cincia da nutrio so fundamentais para a

    preveno e tratamento de co-morbidades ainda atingidas por grande parte da

    populao como colesterolemia, obesidade, doena cardiovascular e diabetes,

    as quais poderiam ser evitadas por meio da alimentao saudvel.

    A razo e a necessidade de se desenvolverem alimentos mais

    saudveis minimizar erros alimentares na vida adulta. Assim, os estudos de

    desenvolvimento de novos produtos ou fortificao dos mesmos aparecem

    como formas alternativas de tratamento e preveno, uma vez que se podem

    utilizar alimentos largamente consumidos pela populao, como o leite,

    trabalhando novas formulaes e sem alterar drasticamente os hbitos da

    populao, somente adicionando alimentos funcionais para promoo da

    sade.

    O leite um alimento de fcil acesso e que fornece nutrientes para todas

    as camadas sociais, inclusive aqueles de menor renda, promovendo a sade.

    Representa uma das mais importantes fontes de origem animal, sendo sua

    protena, considerada de excelente qualidade. nutricionalmente importante

    por ser fonte de clcio, mineral com importantes funes no organismo. Sua

    disponibilidade comercial na forma de p, tambm facilita o consumo pela

    conservao maior do alimento e facilidade de manuseio e/ou preparo.

    J a linhaa considerada um alimento com potencial funcional, uma

    vez que, contm, alm de seus nutrientes bsicos, elementos que podem

    diminuir o risco de algumas doenas.

  • 14

    2. REFERENCIAL TERICO

    2.1 Sade Geral

    As mudanas econmicas, polticas, sociais e culturais, que ocorreram

    no mundo desde o sculo XIX e que se intensificaram no sculo passado,

    produziram alteraes significativas para a vida em sociedade. O Programa do

    Ministrio da Sade Brasil Saudvel envolve uma ao nacional para criar

    polticas pblicas que promovam modos de viver mais saudveis em todas as

    etapas da vida, favorecendo a prtica de atividades fsicas no cotidiano e no

    lazer, o acesso a alimentos saudveis e a reduo do consumo de tabaco

    (BRASIL, 2006).

    Nas ltimas dcadas, tornou-se muito importante cuidar da vida de modo

    que se reduzisse a vulnerabilidade do adoecer e as chances de que um

    paciente seja produtor de incapacidade, de sofrimento crnico e de morte

    prematura. As doenas crnicas representam a principal causa de mortalidade

    e incapacidade no mundo inteiro, principalmente as doenas cardiovasculares

    (DCV), obesidade, cncer, diabetes, hipertenso e doenas respiratrias

    (BRASIL, 2006).

    Dentre os fatores de risco destas doenas podem ser citados os

    excessos de Low Density Lipoproteins, protenas de baixa densidade - LDL-

    colesterol (LDL-c) e de triacilgliceris (TAG), reduo dos nveis de High

    Density Lipoproteins, protenas de alta densidade, tambm conhecido como o

    bom colesterol - HDL-colesterol (HDL-c), a presena de sndrome metablica,

    e outros (MOLENA et al, 2010).

    Alguns componentes ou fatores dietticos tm sido associados

    reduo desses fatores de risco, por exemplo, cidos graxos monoinsaturados

    (AGMI), cidos graxos poliinsaturados (mega 3 e mega 6) (quadro 1),

    flavonides, vitaminas (A, C e E) e mineral (Se e Zn) com ao antioxidante,

    lignanas, e um elevado consumo de frutas, verduras e alimentos integrais

    (MOLENA et al, 2010).

  • 15

    QUADRO 1 Efeitos biolgicos dos cidos graxos insaturados na sade.

    Reduo na produo de leucotrienos;

    Reserva como precursor para a sntese de lipdios cerebrais;

    Alvio de sintomas clnicos neurolgicos;

    Proteo contra doenas cardiovasculares e infarto do miocrdio;

    Controle da presso arterial;

    Diminuio dos nveis de colesterol e triacilgliceris sricos;

    Reduo da mortalidade por cncer;

    Possveis efeitos antitrombognicos e antiarrtmicos;

    Inibio da proliferao de linfcitos;

    Diminuio no crescimento de tumores;

    Atividades antiparasticas e antimalricas; e

    Essencial para o desenvolvimento neurolgico timo em seres humanos.

    Fonte: Adaptado de Oomah; Mazza, 2000.

    Pesquisas tm demonstrado ainda uma reduo da taxa de mortalidade

    para esse grupo de doenas aps o uso de cidos graxos poliinsaturados tais

    como, mega 3, cido eicosapentaenico (EPA) e docosahexaenico

    (DHA) e o cido-linolnico (ALA) (MOLENA et al, 2010).

    A alimentao e a nutrio so requisitos bsicos para promoo da

    sade e permitem alcanar o potencial de desenvolvimento humano. A

    transio nutricional, caracterizada pela coexistncia de deficincias

    nutricionais como exemplo a desnutrio, que tm diminudo, e das doenas

    crnicas no transmissveis (DCNT), que tem aumentado, um dos maiores

    desafios para a sade atual, onde o acesso alimentao um direito humano

    que se constitui no prprio direito vida, e a alimentao e a nutrio permitem

    alcanar o potencial de crescimento e de desenvolvimento humano com

    qualidade de vida (PIMENTEL et al, 2013).

  • 16

    2.1.1 O Leite

    A importncia da cincia e da tecnologia de alimentos na melhoria da

    qualidade de vida do ser humano ressaltada pela vital necessidade de se ter

    alimentos saudveis, com alto valor nutricional, disponveis e acessveis

    populao. Desde o nascimento do ser humano, o leite apresenta-se quase

    indissocivel de sua alimentao, sendo assim um objeto de estudo da cincia

    e tecnologia de alimentos (SILVA, 1997).

    O leite um complexo fludo biolgico composto por protenas, lipdeos,

    carboidratos, ressaltando a lactose, minerais e vitaminas (SOUZA et al, 2008).

    Os minerais no leite contm teores considerveis de cloro, fsforo, potssio,

    sdio, clcio e magnsio e baixos teores de ferro, alumnio, bromo, zinco e

    mangans, formando sais orgnicos e inorgnicos (SILVA, 1997). Em relao

    s vitaminas, o leite contem todas as principais: lipossolveis (A, D, E e K) e

    hidrossolveis, (B1, B2, B3, B6 e B12) e outras que no constituem fonte

    importante para o ser humano visto que podem ser destrudas no processo de

    pasteurizao.

    O leite composto em mdia, por 85,8% de gua, 4,9% de lactose,

    3,95% de lipdeos, 3,5% de protenas, 0,9% de minerais. A possibilidade de

    reunir em um s produto protena de alta qualidade, vitaminas A, D e B12,

    riboflavina, minerais e oligoelementos, especialmente clcio, fsforo, magnsio,

    potssio e zinco, aliada a sua potencialidade como veculo de complementao

    nutricional e sua biodisponibilidade, torna este produto um dos melhores

    alimentos consumidos pelo ser humano (MARGARIDO et al, 2004).

    Dados do Ministrio da Sade demonstram que o brasileiro deveria

    consumir, em mdia, 200 litros de leite por ano, seja na forma fluida ou

    como produtos lcteos. No entanto, o consumo mdio no pas, cerca de 120

    litros por habitante/ano, muito aqum do estabelecido. O Brasil quinto maior

    produtor de leite (30 bilhes de litros em 2010), ocupando posio de destaque

    no cenrio mundial (USDA, 2010).

    O quadro 2 ilustra a recomendao para o consumo mnimo de leite pelo

    Ministrio da Sade.

  • 17

    QUADRO 2- Consumo de leite por perodo e faixa etria.

    Volume dirio Volume anual Faixa etria

    400 mL 1461 Litros. Crianas de at 10 anos.

    700 mL 2561 Litros. Jovens de 11 a 19 anos.

    600 mL 2191 Litros. Adultos acima de 20 anos

    (inclusive idosos).

    Fonte: ZOCCAL, 2009.

    O leite , sem dvida nenhuma, um alimento de extrema importncia

    para o desenvolvimento humano. Entre suas inmeras vantagens, a

    amamentao nos primeiros meses de vida fundamental para o

    desenvolvimento, tanto do trato digestivo como da funo imune, esses

    benefcios so atribudos s protenas encontradas no leite humano, inclusive

    as soroprotenas (HARAGUCHI et al, 2006). Desde que o homem passou a

    domesticar o gado bovino, h cerca de seis mil anos, o leite assumiu papel de

    destaque na nutrio humana, principalmente por ser uma excelente fonte de

    clcio (TOBA et al, 2001).

    O Ministrio da Sade do Brasil, por meio de seu Guia Alimentar,

    recomenda o consumo dirio de trs pores de leite e/ou derivados, sendo

    essa quantia suficiente para atender 75% das necessidades dirias de clcio

    (HUTH et al, 2006). Segundo as DRIs, a ingesto de clcio recomendada

    diariamente, a partir dos 20 anos de idade varia de 1.000 a 1.200 mg/dia,

    sendo, portanto, difcil atingir tal recomendao sem o consumo suficiente de

    laticnios (MUNIZ et al, 2013).

    2.1.2 Clcio e Lipdeos

    Dentre os componentes do leite, a gordura esteve durante anos

    associada a uma variedade de doenas humanas, devido a seu alto contedo

    de cidos graxos saturados. Recentes estudos, porm, tm evidenciado

    componentes saudveis da gordura lctea, tais como o cido linolico

  • 18

    conjugado (CLA). Este consiste em um grupo de cidos graxos encontrado

    predominantemente no leite e na carne de animais ruminantes, como bovinos,

    ovinos e caprinos. O teor de CLA na gordura do leite geralmente se encontra

    entre 0,3 e 1,0%. Dentre os efeitos benficos atribudos ao consumo do CLA

    est a proteo contra a aterosclerose, a caquexia e o desenvolvimento do

    diabetes (BARROS et al, 2009).

    O clcio um nutriente essencial para varias funes vitais e est

    presente, principalmente, em leite e derivados. importante para ocorrncias

    de varias funes biolgicas como a contrao muscular, a mitose, a

    coagulao sangunea, a transmisso de impulso nervoso e suporte estrutural

    esqueltico. Muitos estudos tm observado que uma ingesto adequada de

    clcio previne doenas como a osteoporose, a hipertenso arterial, a

    obesidade e cncer de clon, sendo o leite a fonte de clcio mais biodisponvel

    para o organismo humano (ALMEIDA, 2011).

    A lactose, o caseinato e o citrato presentes no leite tornam o clcio mais

    solvel, o que explica a melhor absoro nesta fonte alimentar em relao a

    outras. Portanto, dietas com restries de lactose podem prejudicar a absoro

    de clcio (ALMEIDA, 2011).

    O leite tem sido relacionado como facilitador da solubilidade de clcio,

    zinco e ferro na presena de fibras de cereais e fitato de sdio. Isso explica,

    parcialmente, a melhora na absoro de clcio observada em indivduos que

    consomem leite contendo cereal de farelo de trigo. O clcio diettico parece

    desempenhar um papel central na regulao do metabolismo energtico e risco

    de obesidade (ZEMEL, 2005).

    Dietas com consumo elevado de clcio podem atenuar o acmulo de

    gordura e ganho de peso corporal quando associado dieta densamente

    energtica, alm disso aumenta a quebra de gordura e preserva o metabolismo

    durante a restrio calrica, assim, acelera significativamente a perda de peso

    e gordura corporal. Este efeito mediado, principalmente, por calcitriol

    circulante, o qual regula o Ca2+ intracelular no adipcito (ZEMEL, 2005).

    Estudos do metabolismo em adipcitos humanos demonstram um papel

    fundamental para Ca2+ intracelular na regulao do metabolismo lipdico e de

    armazenamento de triacilgliceris, com aumento de Ca2+ intracelular resultando

    na estimulao da expresso gnica, lipognica e lipognese e supresso da

  • 19

    liplise, resultando em lipdeos nos adipcitos com enchimento e aumento da

    adiposidade (ZEMEL, 2005).

    H uma relao inversa entre a ingesto de clcio proveniente do leite e

    seus derivados com a gordura corporal. O aumento no clcio diettico reduz as

    concentraes dos hormnios calcitrpicos, principalmente o 1,25

    hidroxicolecalciferol (1,25(OH)2 D). Em altas concentraes, esse hormnio

    estimula a transferncia de clcio para os adipcitos, onde altas concentraes

    de clcio levam lipognese (sntese do novo) e reduo da liplise.

    Portanto, a supresso dos hormnios calcitrpicos mediada pelo clcio

    diettico, pode ajudar a diminuir a deposio de gordura nos tecidos adiposos

    (ZEMEL, 2004).

    Notavelmente, fontes lcteas de clcio exercem efeito marcadamente

    maior no sentido de atenuar o peso e ganho de gordura e acelerar a perda de

    gordura. Este efeito aumentado de produtos lcteos versus suplemento de

    clcio tem sido localizado, em parte, pela frao de soro de leite e

    provavelmente devido a compostos bioativos adicionais, tais como enzima

    conversora de angiotensina (ECA) em produtos lcteos, bem como a

    concentrao de aminocidos de cadeia ramificada (AACR), que atuam

    sinergicamente com o clcio para atenuar adiposidade (ZEMEL, 2005).

    Aproximadamente 32% da populao brasileira apresenta sobrepeso

    ndice de massa corprea (IMC) 25, sendo 38% para o sexo feminino e 27%

    para o sexo masculino, de acordo com os dados do Ministrio da Sade. J a

    obesidade (IMC > 30) foi encontrada em 8% da populao brasileira

    (CORDOBILHA, 2008).

    O excesso de gordura corporal considerado um problema de sade

    pblica h muitos anos. Estudos populacionais vm mostrando que o excesso

    de peso um problema tanto para pases desenvolvidos como para aqueles

    em desenvolvimento. Vrios trabalhos tm mostrado que as soroprotenas do

    leite favorecem o processo de reduo da gordura corporal, por meio de

    mecanismos associados ao clcio e, por apresentar altas concentraes de

    AACR (HARAGUCHI et al, 2006).

    Consumidores esto familiarizados com os efeitos nocivos da gordura do

    leite, entretanto, h nutrientes lipossolveis tais como acido linolico

    conjugado, cido butrico, anti-oxidantes e vitaminas lipossolveis que exercem

  • 20

    efeitos benficos. As aes conjuntas destes nutrientes podem gerar benefcios

    no alcanveis quando ingeridos isoladamente (ROGELJ, 2000).

    O leite em si muito mais do que a soma de seus nutrientes. uma

    fonte natural de uma variedade de nutrientes benficos, com compostos

    biologicamente ativos e com um potencial impacto na sade humana

    (ROGELJ, 2000).

    2.1.3 Fibra na alimentao

    As fibras alimentares desenvolvem papis importantes no trato

    gastrintestinal humano. Alm de diminurem a absoro de gorduras,

    aumentam o peristaltismo intestinal, produzem cidos graxos de cadeia curta

    (atuantes no combate ao colesterol), promovem a regulao no tempo de

    trnsito intestinal e apresentam alto poder de saciedade. Destaca-se que essas

    propriedades fisiolgicas so essenciais para o tratamento e a preveno das

    complicaes oriundas da obesidade (LIMA et al., 2004; PITEIRA et al., 2006).

    Reconhecida como excelente fonte de fibra, as sementes de linhaa

    contm fibras como hemicelulose, celulose e lignina, auxiliando a prover uma

    fonte rica de cidos graxos mega-3 na dieta, alm de ser rica em minerais

    como clcio e fsforo (PUFFET, 2004).

    2.1.4 Linhaa

    A linhaa (Linum usitatissimum L.) a semente do linho, planta

    pertencente famlia das Linceas, que tem sido cultivada h cerca de 4000

    anos nos pases mediterrneos (VIEIRA et al, 2012). uma planta originria da

    sia, possivelmente do Cucaso, cuja semente, a humanidade tem consumido

    h milnios, incluindo, possivelmente, a Mesopotmia e, posteriormente

    Europa, frica, sia e Amrica do Norte (PINTO, 2007).

    A planta tem um talo principal do qual saem vrios ramos onde nascem

    as folhas, as flores e as cpsulas. Da casca da planta retirada a fibra do

    linho, matriaprima para fabricao de tecidos; e da cpsula se obtm a

    semente. O plantio do linho ocorre nos meses de maio e junho e a colheita se

    d nos meses de novembro, dezembro e janeiro (PINTO, 2007). uma

  • 21

    semente com vrias aplicaes podendo ser usada como matria-prima para

    produo de leo e farelo (VIEIRA et al, 2012).

    O grande interesse dos consumidores por alimentos naturais e

    saudveis, visando preveno e controle de doenas, faz aumentar, cada vez

    mais, o mercado desses produtos e as pesquisas sobre o assunto (ANJO,

    2004).

    Dentre as vrias oleaginosas, a linhaa possui alto teor de cido -

    linolnico (ALA), do grupo de cido graxo essencial chamado mega 3 e

    requerido em todas as dietas, tornando-se importante no grupo de alimentos

    saudveis (CHOO et al, 2007).

    A vantagem das protenas da linhaa com relao a outras protenas

    vegetais est na mucilagem, um co-produto da semente que pode melhorar

    suas propriedades na formulao de alimentos. O teor de leo das sementes

    est entre 40-45%, fibras 20-25% e protenas 20-25%, sendo muito utilizado

    pelas indstrias na fabricao de tintas, vernizes, plsticos PVC, produtos

    alimentares e de higiene pessoal (RABETAFIKA et al, 2011).

    Inmeros estudos tm evidenciado a eficcia do consumo da linhaa na

    reduo do colesterol sanguneo, manuteno da homeostase glicmica,

    preveno de cncer e doenas cardiovasculares (THOMPSON et al, 2005;

    STAVRO et al, 2003; WARD, 2003; PRASAD, 2002).

    A linhaa fonte principalmente de cidos graxos mega 3, lignanas,

    fibras solveis e vitamina E os quais esto intimamente relacionados

    preveno de DCNT (DAUN et al, 2003).

    2.1.4.1 Composio centesimal

    A linhaa ou semente de linho (Linum usitatissimun) possui 40% de sua

    massa em leo, dos quais 70% so poliinsaturados. O ALA constitui mais de

    50% desses lipdeos. Assim, a linhaa considerada o alimento de origem

    vegetal mais rico em mega 3, o que vem despertando o interesse em estudos

    sobre seus possveis efeitos funcionais (DAUN et al, 2003; STAVRO et al,

    2003).

    A linhaa possui 30% de fibra, das quais 75% so insolveis e 25%

    solveis. Contm, ainda, cerca de 20% de protena, apresentando a lisina, a

  • 22

    metionina e a cistena como aminocidos essenciais, 4% de cinzas e 6% de

    umidade (quadro 3). classificada como oleaginosa e pode ser considera um

    alimento de alta densidade energtica (DAUN et al, 2003; STAVRO et al, 2003)

    fato este que poderia reduzir a sua ingesto. fonte de vitamina E, na forma

    de - tocoferol e tocotrienol, contendo cerca de 30mg/100g na forma de -

    tocoferol. Prov vitaminas do complexo B e vitamina C e possui como

    principais minerais o potssio e o fsforo (DAUN et al, 2003).

    Por outro lado, a linhaa apresenta alguns fatores antinutricionais como

    o cido ftico, em teores de 0,8 a 1,5%, comparveis aos do amendoim e da

    soja. O cido ftico atua como agente quelante em minerais divalentes (como o

    zinco, clcio e ferro) tornando-os menos biodisponveis (DAUN et al, 2003),

    alm de complexar protenas, podendo estas serem de origem endgena,

    como exemplo as enzimas digestivas. Entretanto, estudos especulativos

    indicam que o cido ftico exerce efeito benfico na reduo da glicemia,

    devido complexao do clcio, catalisador enzimtico da amilase (YOON et

    al, 1983; THOMPSON et al, 1983; THOMPSON et al, 1987; DAUN et al, 2003).

    As lignanas, constituintes importantes presentes na semente de linhaa,

    so fitoestrgenos por apresentarem estruturas similares aos estrgenos, os

    quais exercem efeitos estrognicos ou anti-estrognicos. As duas maiores

    classes de fitoestrgenos so as isoflavonas, encontradas na soja e em seus

    Quadro 3: Composio e energia da linhaa por parte comestvel.

    Constituinte Quantidade

    Umidade 6,70 g

    Energia 495 kcal

    Protena 14,10 g

    Lipdeos 32,3 g

    Carboidratos 43,3 g

    Fibra Alimentar 33,5 g

    Fonte: Modificado de TACO, 2006.

  • 23

    derivados e as lignanas, distribudas em sementes, cereais integrais,

    leguminosas, frutas e hortalias (ZIEGLER, 2004; FILHO, 2001; ZUANAZZI,

    2001; ADLERCREATZ, 2001).

    A linhaa contm um teor de lignanas cerca de 100 vezes maior que o

    de outros alimentos fontes, como sementes de abbora e de aafro

    (THOMPSON et al, 1991; SLAVIN et al, 1999). Produtos refinados possuem

    menor teor de lignanas, pois a remoo da camada externa, que contm alto

    teor dos precursores, promove a sua depleo (SLAVIN et al, 1999) sendo

    benfico a ingesto de alimentos integrais.

    2.1.4.2 Consumo de linhaa no Brasil e no mundo

    De acordo com o Canadian Statistics (2006), o Canad o maior

    produtor mundial de linhaa. Em 2005, plantou 841,8 mil hectares comparado

    com 18,867 mil hectares no Brasil (Clicmercado, 2006). A linhaa no Brasil

    produzida principalmente no noroeste gacho, sendo utilizada para produzir o

    linho na fabricao de tecidos, leos para tinturas, cosmticos, medicamentos

    e para alimentao animal e humana (ALMEIDA et al, 2009).

    A produo mundial de linhaa se encontra entre 2.300 milhes e 2.500

    milhes toneladas anuais. Na Amrica do Sul, o maior produtor a Argentina,

    com cerca de 80 toneladas/ano. O Brasil apresenta uma produo com cerca

    de 21 toneladas/ano. (ALMEIDA et al, 2009).

    No Brasil, o cultivo da linhaa mantido por descendentes de imigrantes

    poloneses e alemes e se restringe basicamente ao Rio Grande do Sul, mais

    especificamente ao noroeste gacho, pois necessrio clima frio, em torno de

    0 C at -2 C, para que ocorra a florao. No exige grandes tratos culturais,

    sendo seu cultivo realizado muitas vezes no processo de rotao de culturas

    com a finalidade de recuperar terras cansadas e evitar o desgaste e eroso do

    solo, aproveitando a adubao residual de milho e soja (VIEIRA et al, 2012).

  • 24

    2.1.4.3 Benefcios da linhaa

    Devido aos diversos compostos bioativos da linhaa, estudos tm

    apontado sua ao na preveno e reduo da incidncia de doenas crnicas

    no transmissveis, como as cardiovasculares, cncer, obesidade e diabetes,

    bem como seus benefcios na menopausa. Alguns mecanismos de ao tm

    sido propostos (RIDEOUT et al, 2008).

    Estudos clnicos e epidemiolgicos confirmam que as fibras solveis

    presentes nas sementes agem favoravelmente na reduo dos nveis de

    colesterol sanguneo. As propriedades das fibras solveis devem-se

    principalmente sua viscosidade que provoca reduo na absoro de lipdeos

    e colesterol no intestino delgado. Ademais, a capacidade quelante das fibras

    aos cidos biliares (responsvel pelo transporte de colesterol exgeno para as

    fezes) resulta em uma reduo na absoro de cidos biliares no fgado. Esse

    efeito promove um aumento na converso de colesterol endgeno em cidos

    biliares, reduzindo, assim, o colesterol heptico e sanguneo (RIDEOUT et al,

    2008).

    2.1.4.4. Estudos correlacionam a ingesto habitual da linhaa com a

    manuteno do peso

    Observou-se que a ingesto 40 g/dia de linhaa por voluntrios com

    menos de 65 anos, durante trs meses, no promoveu alterao do peso.

    Porm, no grupo controle (consumo de dieta a base de trigo, 40 g/dia) foi

    observado ganho de peso, o que sugere efeito protetor da linhaa na

    manuteno do peso corporal (EDRALIN, 2002). Os resultados de outro estudo

    concordam com o citado anteriormente. Neste trabalho foi ingerido 40 g/dia de

    linhaa contra 40 g/dia de germe de trigo, porm, o perodo de durao foi de

    12 meses (DODIN et al, 2006).

    O mesmo efeito na manuteno do peso corporal foi verificado por

    Cintra et al. (2006), quando compararam a ingesto da linhaa com amendoim,

    em ratos Wistar. Neste estudo os animais foram divididos em grupos distintos

    para comparao da linhaa com o amendoim. No grupo de animais que

    ingeriu o amendoim houve perda de peso. Os mecanismos pelos quais a

  • 25

    linhaa pode atuar na manuteno do peso corporal requerem maiores

    investigaes (OLIVEIRA, 2006).

    Os estudos conduzidos com a linhaa utilizam quantidades viveis de

    ingesto pela populao (40g/dia), porm so, em geral, de curta durao.

    necessria a realizao de estudos por um perodo de tempo maior para a

    avaliao em longo prazo dos efeitos resultantes do consumo e de seus reais

    benefcios. Tais estudos devem ser delineados considerando os princpios da

    alimentao saudvel, no qual a linhaa possa ser inserida como componente

    funcional da dieta com o propsito de melhoria da sade humana (OLIVEIRA,

    2006).

    2.1.4.5 Linhaa com produtos lcteos

    A elaborao de um produto tendo como base um derivado lcteo

    considera o consumo desses produtos no Brasil (BARROS et al, 2009). Sendo

    um bom meio para multiplicao de culturas probiticas, alm de promover

    propriedades sensoriais adequadas, ser estveis e viveis durante o

    armazenamento e, ainda possuir boa viabilidade no intestino, como exemplo, a

    sobrevivncia de microrganismos no organismo.

    A influncia benfica de probiticos sobre a microbiota intestinal humana

    inclui propriedades imunolgicas, efeitos antagnicos e a competio contra

    microrganismos indesejveis. As fibras podem ser utilizadas adicionadas ao

    queijo podendo atuar como prebiticos (SALES et al, 2008).

    A possibilidade de se desenvolver uma tecnologia que envolva a adio

    de culturas probiticas, associadas s propriedades funcionais da linhaa, com

    objetivo de oferecer um produto com caractersticas saudveis, textura

    apropriada e boas perspectivas de aceitao pelos consumidores bastante

    promissora (BARROS et al, 2009).

    A Empresa Piracanjuba, uma das maiores marcas do segmento lcteo

    brasileiro, renovou sua linha de produtos e apresentou ao mercado uma

    exclusividade: quinoa e linhaa, juntas, em uma mesma bebida lctea. Ela

    conquistou o prmio Produto do Ano 2012 com a Linha Quinoa e Linhaa. Este

    lanado em maio de 2001, associa os benefcios do leite, da quinoa e da

    linhaa aos nutrientes das frutas (PIRACANJUBA, 2012).

  • 26

    Pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) da

    USP, em Piracicaba, elaborou um preparado lcteo em p para sorvetes

    enriquecidos com fibras de linhaa, inulina e fonte de prebiticos (FOS) com

    diminuio da quantidade de acar, gordura e sdio. O sorvete tem alto teor

    de fibra alimentar, clcio e vitaminas e foi saborizado com polpa de mangaba,

    fruta tpica do cerrado brasileiro (LAMOUNIER, 2013).

    2.2 Desenvolvimento de novos produtos na nutrio

    O desenvolvimento de novos produtos alimentcios torna-se cada vez

    mais desafiador, medida que procura atender demanda dos consumidores

    por produtos que, concomitantemente, sejam saudveis e atrativos.

    Consequentemente, a alimentao de indivduos com estilo de vida saudvel

    tende a ser um ato prazeroso, e que, ao mesmo tempo visa sade e o bem

    estar. Os efeitos benficos de determinados tipos de alimentos sobre a sade

    so conhecidos h muito tempo. Alimentos funcionais so aqueles que, alm

    de contriburem com a nutrio, contm substncias que podem ser

    consideradas biologicamente ativas, produtoras de benefcios clnicos ou de

    sade (KOMATSU, et al 2008).

    Estudos recentes mostrando a relao entre dieta e sade, somados ao

    crescente interesse de alguns indivduos em consumir alimentos mais

    saudveis, tm levado a indstria alimentcia ao desenvolvimento de novos

    produtos cujas funes pretendem ir alm do fornecimento de nutrientes

    bsicos e da satisfao do paladar do consumidor (BEHRENS et al, 2004).

    Segundo a Lertheread Food Research Association do Reino Unido,

    alimentos com alegaes de benefcios sade representaro nos prximos

    anos cerca de cinco por cento do mercado mundial de alimentos. No Brasil,

    este mercado ainda incipiente, porm, com um grande potencial,

    considerando-se a disponibilidade de fontes naturais, a capacidade produtiva

    da indstria local e o tamanho do mercado consumidor (BEHRENS et al, 2004).

    Com o aumento na expectativa de vida da populao, aliado ao

    crescimento exponencial dos custos mdico-hospitalares, a sociedade

    necessita vencer novos desafios, por meio do desenvolvimento de novos

    conhecimentos cientficos e de novas tecnologias que resultem em

  • 27

    modificaes importantes no estilo de vida das pessoas. A nutrio precisa se

    adaptar a esses novos desafios por meio do desenvolvimento de novos

    conceitos. A nutrio otimizada um desses novos conceitos, dirigida no

    sentido de maximizar as funes fisiolgicas de cada indivduo, de maneira a

    assegurar tanto o bem-estar quanto a sade, como tambm, o risco mnimo de

    desenvolvimento de doenas ao longo da vida. Nesse contexto, os alimentos

    funcionais so conceitos novos e estimulantes (SAAD, 2006).

    2.3 Avaliao nutricional

    As medidas antropomtricas (peso, altura, IMC, medidas de pregas

    cutneas, circunferncia do brao) so consideradas mtodos de avaliao

    duplamente indiretos de fcil aplicao na prtica clnica (SOETERS; SCHOLS,

    2009).

    A antropometria vem sendo utilizada em diversos estudos

    epidemiolgicos. Frisancho (1981) compilou e distribuiu em percentis os dados

    de 19.097 indivduos saudveis, com idades entre 1 e 74 anos, provenientes

    dos estudos de NHANES I (National Health and Nutrition Examination Survey),

    separando-os por sexo e faixa etrias. Esses dados tm sido utilizados como

    padres de referncia para as medidas de circunferncia e pregas cutneas

    obtidas em diferentes estudos.

    O IMC muito utilizado para classificao e monitoramento do estado

    nutricional em todo mundo, uma vez que de fcil aplicabilidade e baixo custo.

    Por outro lado, apresenta algumas limitaes, uma vez que no consegue

    determinar a distribuio e redistribuio da composio corporal decorrente do

    envelhecimento ou de variadas situaes clnicas (ANJOS, 1992;

    FERNANDES; BEZERRA, 2006).

    A medida das pregas cutneas tambm bastante utilizada, mas seus

    resultados apresentam grande variabilidade entre os observadores e exige

    treinamento e padronizao cuidadosa (PINHEIRO, 2007). Expressam a

    quantidade de tecido adiposo corporal e, consequentemente, as reservas de

    energia e o estado nutricional atual, porm, refletem apenas a disposio de

    gordura localizada na regio subcutnea (OSELKA, 2007).

  • 28

    As pregas so mtodos simples em indivduos saudveis, fornecendo

    clculo tambm para percentual de gordura corporal quando comparado

    obteno de gordura corporal pela densitometria.

    De acordo com um estudo realizado por Harrison et al. (1997), a

    circunferncia muscular do brao (CMB) e a prega cutnea tricipital (PCT),

    usados para estimar msculo e gordura corporal, respectivamente, tm sido

    considerados parmetro preferenciais de avaliao nutricional em adultos.

    2.3.1 Bioimpedncia eltrica (BIA)

    A anlise de bioimpedncia (BIA) um mtodo de avaliao da

    composio corporal de preciso aceitvel em pessoas sadias, com

    enfermidades crnicas e com obesidade leve ou moderada (KYLE et al., 2004).

    Por meio deste mtodo possvel verificar as estimativas de massa

    magra (kg e %), massa gorda (kg e %), massa intracelular e extracelular,

    relao massa intracelular/massa extracelular, gua corporal total, gua intra e

    extracelular, IMC e taxa metablica basal (TMB) (KYLE et al, 2004; OSELKA,

    2007).

    O acompanhamento longitudinal dos compartimentos corpreos, de

    massa magra e gordura corprea, possibilita compreender suas modificaes

    resultantes de vrias alteraes metablicas, alm de identificar precocemente

    os riscos sade associados a nveis excessivamente altos ou baixos de

    gordura corporal total e perda de massa muscular. um mtodo seguro,

    barato, no invasivo e rpido para determinao do compartimento de gua

    corporal total (KAMIMURA et al, 2005).

    2.4 Anlises fsico-qumicas

    Conhecer a composio dos alimentos de fundamental importncia

    para que se possa avaliar de maneira adequada o produto que est sendo

    consumido. A qumica bromatolgica estuda a composio qumica dos

    alimentos, bem como suas caractersticas de aptido para o consumo. Para

    isso importante conhecer tcnicas e mtodos adequados que permitam saber

    a composio dos alimentos, ou seja, determinar as fraes nutritivas do

  • 29

    mesmo, sendo estes compostos essenciais para a manuteno da vida, como

    teores de umidade, protenas, lipdeos e carboidratos, alm de pH e outros

    constituintes (PREUSS et al, 2010).

    2.5 Anlise sensorial

    Segundo a Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT), a anlise

    sensorial uma cincia que evoca, mede, analisa e interpreta as reaes

    humanas frente s caractersticas dos alimentos e materiais, percebidas pelos

    cinco sentidos: paladar, olfato, tato, viso e audio (ABNT, 1993).

    Os mtodos sensoriais se baseiam em sensaes verossmeis das

    caractersticas de alimentos e bebidas, que utilizam o homem em seus

    aspectos psicolgicos e fisiolgicos, como ferramenta principal. As sensaes

    necessitam ser medidas, o que as transformam de dados subjetivos em

    informaes objetivas (FERREIRA, 2000; MEILGAARD et al, 2006).

    As indstrias de alimentos tm buscado identificar e atender os anseios

    dos consumidores em relao a seus produtos. A anlise sensorial tem se

    mostrado importante ferramenta nesse processo, envolvendo um conjunto de

    tcnicas diversas, elaboradas com o intuito de avaliar um produto quanto sua a

    qualidade sensorial. (MINIM, 2006)

    uma cincia que objetiva, principalmente, estudar as percepes,

    sensaes e reaes do consumidor sobre as caractersticas dos produtos,

    incluindo sua aceitao ou rejeio. A qualidade sensorial o principal fator na

    determinao da aceitao e preferncia do consumidor, devendo se conhecer

    os parmetros sensoriais considerados importantes por esse pblico. (MINIM,

    2006).

    2.5.1 Teste de aceitao

    Os testes afetivos so utilizados quando necessrio conhecer o status

    afetivo dos consumidores em relao ao produto. A aceitabilidade, pelos

    valores relativos, por meio da escala hednica que infere diretamente na

    preferncia, difere aquele mais ou menos preferido (FERREIRA, 2000).

  • 30

    Os testes de aceitao so usados quando o objetivo avaliar se os

    consumidores gostam ou desgostam do produto. Existem varias escalas para

    medir a aceitao. O emprego da escala hednica facilmente compreendida

    pelos degustadores sendo at mesmo usada por varias empresas que

    obtiveram resultados validos e confiveis. Nela, o consumidor expressa sua

    aceitao pelo produto, seguindo uma escala previamente estabelecida que

    varie gradativamente, com base nos atributos gosta e desgosta (MINIM,

    2006).

  • 31

    3. OBJETIVOS

    3.1 Geral

    Desenvolver um produto lcteo a base de leite em p reconstitudo e

    acrescido de linhaa em quatro sabores a partir de frutas facilmente

    encontradas no mercado.

    3.2 Especficos

    Avaliar parmetros bioqumicos dos militares quanto ao colesterol;

    Selecionar os voluntrios com nvel de colesterol sanguneo de limtrofe a

    alto;

    Avaliar a composio corporal e hbito alimentar dos voluntrios

    selecionados;

    Analisar a composio centesimal do produto desenvolvido em cada sabor;

    Avaliar a aceitao dos sabores dos produtos preparados por meio de

    anlise sensorial; e,

    Comparar a aceitao do produto entre os voluntrios selecionados com os

    demais militares identificados com colesterol adequado.

  • 32

    4. MATERIAL E MTODOS

    4.1 Localizao e Caracterizao

    Trata-se de um estudo de campo, apoiado em pesquisa exploratria e

    de coleta de dados, assim como a conduo de anlise sensorial, realizada no

    4 Depsito de Suprimento do Exrcito Brasileiro, localizado na cidade de Juiz

    de Fora, Minas Gerais.

    As anlises de composio fsico-qumica dos produtos elaborados

    foram conduzidas nos laboratrios de pesquisa do Centro de Ensino e

    Pesquisa (CEPE) no Instituto de Laticnios Cndido Tostes (ILCT) da Empresa

    de Pesquisa Agropecuria de Minas Gerais (EPAMIG).

    4.2 Recrutamento dos voluntrios

    A divulgao da execuo do projeto foi realizada por palestras no 4

    Deposito de suprimento do Exercito Brasileiro da cidade de Juiz de Fora, com a

    participao de 246 militares, abordando o tema: Nutrio e Nutrientes x

    Importncia para promoo da sade para os militares, em duas

    apresentaes, abrangendo coronel, major, capites e tenentes na primeira e,

    posteriormente, aos sargentos e soldados.

    Do total de presentes, 102 candidatos manifestaram desejo de participar

    do projeto e preencheram o questionrio especfico para seleo (anexo1).

    Aps analise bioqumica, foram selecionados 40 voluntrios aptos ao

    estudo, entretanto, por motivo de transferncias e aes do Exercito, foi

    inicializado o trabalho com participao de 22 voluntrios que depois de

    orientados assinaram o termo de consentimento livre esclarecido (anexo 2).

    Critrios de incluso:

    - Idade superior a 18 anos;

    - no apresentar nenhuma desordem alimentar;

    - no apresentar alergia linhaa;

    - no apresentar alergia e ou intolerncia ao leite; e,

    - apresentar colesterol de limtrofe a alto.

  • 33

    Foram recrutados adultos, homens e mulheres, para compor os grupos

    testes. Inicialmente foram realizados exames para avaliar o colesterol total e,

    posteriormente, os indivduos participaram de avaliao nutricional, incluindo

    avaliao antropomtrica e alimentar seguida de anlise sensorial.

    Para executar suas atividades, o 4 Depsito de Suprimento possui em

    seu quadro, aproximadamente 330 militares distribudos em duas instalaes: a

    1 e 2 Companhias de Suprimento, situadas cerca de doze quilmetros de

    distncia entre si. O 1 batalho conta com um quadro de 246 funcionrios,

    sendo constitudo de 240 homens e 6 mulheres, sendo que, nas faixas etrias

    de 18-21 e acima de 21 anos, 96 e 150 so militares, respectivamente.

    No mbito do restaurante trabalham 10 militares homens. oferecido

    caf da manh, almoo, jantar e ceia todos os dias da semana, sendo o

    cardpio elaborado mensalmente. As refeies so oferecidas a todos que no

    dia esto de servio no quartel, desde o soldado ao coronel, com cardpio

    igualitrio.

    O caf da manh e lanche da tarde so compostos por leite em p, caf,

    po e manteiga. Foi nessa refeio que o estudo focou, de forma a fornecer um

    novo produto base de leite em p e linhaa para os voluntrios que se

    enquadrarem e que fossem escolhidos dentro do objetivo do estudo de reduo

    do colesterol.

    O uso de leite em p em substituio ao produto fluido se deu pelo fato

    de que o Exrcito Brasileiro compra este produto concentrado e desidratado,

    para facilitar a estocagem por perodos maiores e sua distribuio s demais

    unidades.

    Trata-se de pesquisa descritiva, onde os fatos foram registrados,

    analisados e com liberdade amostral para participar. O pesquisador esteve

    presente na unidade acompanhando o trabalho e seus resultados

    continuamente.

    A proposta deste trabalho foi enviada ao comit de tica para

    autorizao de seu desenvolvimento. No inicio da pesquisa todos os indivduos

    foram esclarecidos quanto aos objetivos e metodologia utilizada, sendo

    obtido o consentimento individual e por escrito do 4 Depsito de Suprimento.

  • 34

    4.3 Avaliao Nutricional

    4.3.1 Coleta de dados

    Aps a incluso do paciente ao estudo, foi aferida como indicador

    clnico, a presso arterial (Automatic Blood Pressure Monitor with IntelliSense

    Modelo HEM-711AC marca Premium).

    A consulta nutricional foi realizada com utilizao de protocolo de

    atendimento nutricional (anexo 1). Este protocolo era composto pelos seguintes

    dados coletados:

    - Identificao do paciente (nome, sexo, idade, telefone, endereo);

    - histria clnica;

    - antecedentes;

    - avaliao antropomtrica (Anexo 3); e,

    - questionrio de frequncia (Anexo 4).

    4.3.2 Avaliaes bioqumicas

    Dos 22 voluntrios foi analisado o exame bioqumico do colesterol total,

    a partir de amostra de sangue, coletadas no 4 deposito de suprimento e

    enviada para o laboratorio de anlises clinicas do Hospital Militar da cidade de

    Juiz de Fora, Minas Gerais.

    Uma vez recrutados, foram realizadas anlises em duplicata do

    colesterol total (COBAS MIRA Plus, Roche Diagnostic Systems, Branchburg,

    NJ). Foram utilizados vaccuntainers com agulhas e tubos descartveis na

    coleta de sangue. O exame bioqumico foi realizado no inicio da aplicao do

    trabalho.

    4.3.3 Avaliao Antropomtrica

    A avaliao antropomtrica constou de mensurao de peso, altura,

    IMC, CB, PCT, CMB, PCSE, PCSI. Para a realizao dessas medidas o

    paciente foi orientado a tirar sapatos, permanecendo com roupas leves (cala e

  • 35

    camisa), observando a retirada de qualquer objeto que pudesse comprometer

    tal medida (chaves, carteira, celular etc).

    4.3.3.1 Peso corpreo

    O peso atual foi determinado utilizando-se a balana calibrada digital

    (Digital Eletronic Personal Scale Model BF 105 Supermedy) com capacidade

    para 150 kg. O peso considerado foi aquele no 0,1 kg mais prximo e o valor

    encontrado em quilogramas (GIBSON, 1990). A pesagem dos indivduos foi

    realizada tarde. O peso foi verificado usando o mnimo de vestimenta

    necessria e sem sapatos. Solicitada a retirada de todos os adornos, para uma

    aproximao ao peso real e, respeitados as recomendaes de padronizao

    de medidas antropomtricas da OMS (1995), tais como:

    - Balana nivelada;

    - individuo posicionado verticalmente no centro da plataforma e com os braos

    estendidos ao longo do corpo;

    - realizada a pesagem com o indivduo totalmente parado; e,

    - registrado o peso somente aps estabilizao da medida indicada no visor.

    4.3.3.2 Estatura

    A tomada da medida foi realizada com estadimetro presente na balana

    tipo plataforma (barra vertical). A estatura foi obtida aps a inspirao profunda,

    mantendo a posio ereta. Os ps foram mantidos juntos com o peso do corpo

    distribudos entre eles, de costas para o estadimetro, sem sapatos e sem

    adornos na cabea. A leitura da estatura foi realizada no centmetro mais

    prximo com variao de 0,5 cm, quando a haste do estadimetro encostou

    cabea.

    4.3.3.3 ndice de Massa Corporal (IMC)

    O IMC definido como massa corporal dividido pela estatura ao

    quadrado (kg/m) e posterior classificao dos indivduos adultos de acordo

    com os critrios propostos pela OMS (1995), conforme (quadro 4).

  • 36

    Quadro 4: Classificao de IMC para adultos.

    Classificao IMC kg/m

    Baixo peso severo < 16,0

    Baixo peso moderado 16,0 a 16,9

    Baixo peso 17,0 a 18,4

    Eutrofia 18,5 a 24,9

    Sobrepeso 25,0 a 29,9

    Obesidade grau I 30,0 a 34,9

    Obesidade grau II 35,0 a 39,9

    Obesidade grau III 40,0

    Fonte: Organizao Mundial de Sade, 1995.

    4.3.3.4 Circunferncia do Brao (CB)

    Foi medida com uma fita mtrica inelstica com preciso de 1 cm, com o

    voluntrio em p, no membro superior no dominante posicionado flexionado

    em direo ao trax, formando um ngulo de 90 graus com o cotovelo. Em

    seguida, foi solicitado que o mesmo posicionasse o brao longitudinalmente ao

    corpo. A fita mtrica foi posicionada sobre a pele nua no ponto mdio entre o

    acrmio da escpula e o olcrano da ulna. Posteriormente, foi realizada a

    classificao do estado nutricional de adultos de diferentes sexos e idades

    segundo Frisancho (1990), conforme apresentado no (quadro 5).

    Quadro 5: Classificao do Percentil da CB (cm) e PCT (mm)

    Percentil Classificao

    5 Desnutrio

    5 15 Risco para desnutrio

    15 85 Eutrofia

    >85 Obesidade

    Fonte: Frisancho 1990.

  • 37

    4.3.3.5 Prega Cutnea do Trceps (PCT)

    A medida foi feita com os voluntrios em p e com o brao desnudo,

    sendo o procedimento realizado sempre na face posterior do membro superior

    no dominante. Com o brao do paciente fletido na frente do corpo formando

    um ngulo de noventa graus, foi medido o comprimento entre o acrmio da

    escpula e o olcrano da ulna e demarcado o ponto mdio dessa medida.

    Em seguida, foi solicitado que o paciente posicionasse o brao

    longitudinalmente ao corpo e a palma da mo voltada para a coxa. O

    profissional que realizou a medida permaneceu atrs do paciente avaliado. Foi

    localizado o ponto mdio dessa medida e foi destacada uma dobra cutnea

    entre os dedos polegar e indicador, a qual foi pinada com adipmetro da

    marca Lange Skinfold Caliper, com uma preciso de escala entre 0,2 mm a

    1,0 mm, exercendo uma presso constante de 10g/mm.

    Foram realizadas trs medidas sucessivas em um mesmo local, sendo

    considerado o valor mdio dessas medidas. Posteriormente, foi realizada a

    classificao do estado nutricional de adultos de diferentes sexos e idades

    conforme classificao apresentada segundo Frisancho (1990), demonstrada

    no (quadro 5).

    4.3.3.6 Circunferncia Muscular do Brao (CMB)

    Foi calculada por meio de frmula, a partir da CB (cm) e pela PCT (mm),

    descrita por Frisancho (1981) para indivduos de diferentes sexos e idades

    (quadro 6).

    CMB (cm) = CB (cm) ( X PCT);

    sendo: = 3,14

  • 38

    Quadro 6: Classificao do Percentil da CMB (cm).

    Percentil Classificao

    5 Desnutrio Deficincia de

    massa magra 5 10 Risco para desnutrio

    Baixa massa magra 10 90 Eutrofia

    > 90 Obesidade Musculatura

    desenvolvida Fonte: Frisancho (1990)

    4.3.3.7 Prega cutnea supra ilaca e supra escapular

    Tcnica para aferio da prega cutnea subescapular: a pele foi

    levantada 1 cm abaixo do ngulo inferior da escapula, com o brao e o ombro

    do paciente relaxados. A prega deve estar paralela s linhas naturais da pele.

    Na tcnica cutnea suprailaca a prega foi pinada 2 cm acima da crista ilaca,

    na linha axilar mdia, na posio diagonal. Foi utilizado adipmetro da marca

    Lange. Aps definido as pregas cutneas, foi estimado a quantidade de

    gordura corporal pelo somatrio de pregas (Durnin e Womersley).

    4.3.3.8 Circunferncia da cintura

    A medida da circunferncia da cintura foi realizada para avaliar gordura

    visceral. Utilizou-se uma fita mtrica inelstica posicionada na cicatriz umbilical

    aps a expirao do paciente. O risco aumentado de obesidade associada a

    complicaes metablicas a partir da circunferncia abdominal de acordo com

    a OMS (1997): para homens maior que 94 cm e, para mulheres, 80 cm; e

    risco muito aumentado para homens maior que 102 cm e, para mulheres, 88

    cm.

    4.3.3.9 Bioimpedncia

    Os dados foram mensurados usando o mnimo de vestimenta necessria

    e sem sapatos. Solicitada a retirada de todos os adornos. A BIA utilizada foi

    Full bodys sensor. Body composition monitor and scale Model HBF 516.

  • 39

    4.3.4 Avaliao do consumo alimentar

    Foram levantados dados do consumo alimentar habitual por meio do

    questionrio de frequencia alimentar. Sendo avaliados em grupos alimentares

    (alimentos/frequncia) como aucares e doces, cereais, leguminosas,

    hortalias - frutas, gorduras, carnes, bebidas e leite derivados, sendo

    compilado no programa Excel, por meio de planilha para anlise dos

    resultados.

    4.4 Preparao do produto

    Foram feitos testes preliminares no Laboratrio de Pesquisa,

    Desenvolvimento & Inovao, no Ncleo Industrial do ILCT/EPAMIG, para a

    elaborao do produto.

    Inicialmente foi reconstitudo leite em p com achocolatado quente

    para melhor dissoluo deste, alm de adio de acar e da linhaa, uma vez

    que se pretendia manter o mesmo cardpio em que era oferecido aos militares

    no horrio de caf. O produto apresentou consistncia muito viscosa para uma

    bebida, uma vez que a linhaa apresenta poder de emulsificao. Tambm no

    apresentou aparncia agradvel e, tampouco, sensorial.

    Iniciou-se o segundo teste com frutas, em substituio ao achocolatado,

    que permitiu dissoluo em gua gelada e apresentando consistncia e

    aspecto desejveis, determinando assim, alternativas do produto em quatro

    sabores: mamo, ma, morango e banana, frutas fceis de encontrar no

    mercado brasileiro o ano todo.

    4.5 Anlises fsico-qumicas dos produtos

    Foram realizadas anlises fsico-qumicas dos produtos nos seus quatro

    sabores desenvolvidos.

  • 40

    4.5.1 Determinao do pH

    O pH foi determinado utilizando-se o mtodo eletroanaltico

    (potenciomtrico) em medidor de pH, marca Tecnal, modelo Tec 3MP, por meio

    da determinao de concentraes inicas e por meio de clulas

    eletroqumicas compostas por dois eletrodos, um de referncia e outro de

    medio sensvel ao on a ser determinado.

    O sistema foi previamente padronizado por meio de calibrao com

    soluo tampo de pH adequado e ajuste de temperatura (BRASIL, 2006).

    4.5.2 Protena

    Os teores de protena foram determinados a partir da diferena entre os

    teores de nitrognio total (NT) e nitrognio dos compostos no proteicos (N-

    NPN), obtendo-se o nitrognio proteico (NP) pelo mtodo de Kjeldahl (BRASIL,

    2006), por meio das equaes 1, 2 e 3:

    % NT =(A - B) x Ci x fc x 1,4 (1); v

    % N-NPN =(A - B) x Ci x fc x 1,4 (2); e

    v

    % NP = (% NT) - (% N-NPN) (3)

    Sendo: % NT, %N-NPN e %NP: em percentual (m/v);

    A: volume de soluo de cido clordrico gasto na titulao da amostra;

    B: volume de soluo de cido clordrico gasto na titulao da prova em

    branco;

    Ci: concentrao (mol/L) da soluo de cido clordrico;

    fc: fator de correo para a soluo de cido clordrico;

    v: volume de amostra (mL).

    Aps calculado o teor de nitrognio protico, os teores de protena foram

    obtidos por meio da equao:

    % Protena (m/v) = % NP x 6,38

  • 41

    4.5.3 Umidade

    O teor de umidade foi determinado empregando mtodo gravimtrico

    pela secagem em estufa a 102 C 2 C, at massa constante (BRASIL,

    2006).

    4.5.4 Resduo mineral fixo (cinzas)

    Foi determinado segundo Brasil (2006), procedendo-se a eliminao da

    matria orgnica a temperatura de 550 C.

    Realizou-se o aquecimento das amostras dos cadinhos de porcelana no

    forno de mufla a 550 C durante meia hora e posterior esfriamento em

    dessecador.

    Pesou-se em balana analtica 5g de amostra homogeneizada

    diretamente no cadinho, levou-se o conjunto ao bico de Bunsen at a

    carbonizao completa em seguida ao forno mufla a 550 C por trs horas.

    Esfriou-se em dessecador e procedeu-se a pesagem.

    4.5.5 Gordura (mtodo Rose-Gottlieb)

    Procedeu-se separao da gordura aps solubilizao da casena e

    quebra da emulso gordura-casena, empregando solventes apropriados e

    finalmente, extraindo a gordura e determinando-a gravimetricamente (BRASIL,

    2006).

  • 42

    4.6 Anlise sensorial

    A anlise sensorial pode ser entendida como uma interao da trade:

    indivduo, produto e a avaliao propriamente dita. Esta relao oferece

    diversos tipos de metodologias utilizadas para uma anlise sensorial de

    diversos produtos (FERREIRA, 2000).

    As amostras foram submetidas ao teste sensorial do tipo afetivo em

    Escala hednica de nove pontos sendo realizada por julgadores no treinados,

    todos militares do 4 Depsito de Suprimento. Oferecidos aos provadores todas

    as frutas (ma, banana, mamo e morango) em dia e semanas alternadas.

    O julgador recebeu as amostras codificadas com trs dgitos, foi

    solicitado a avaliar os seus sentimentos com relao a cada amostra de posse

    da ficha-resposta, para o teste de aceitao, conforme modelo apresentado na

    figura 1, marcando a opo que melhor refletisse a opinio a respeito da bebida

    (MININ, 2006).

    A importncia nutricional foi claramente descrita no contexto do trabalho.

    A anlise sensorial vem ratificar e verificar a aceitao do produto em relao a

    todos os degustadores voluntrios do 4 Depsito de Suprimento do Exercito

    Brasileiro da cidade de Juiz de Fora. Para fins de apurao do resultado

    sensorial e, visando qualificar os dados para o objetivo do trabalho, os

    resultados foram separados em duas partes: um grupo de degustadores com

    nveis normais de colesterol (77 pessoas/sabor) e outro grupo de degustadores

    que apresentavam colesterol de limtrofe a alto, pblico alvo do estudo (22

    pessoas/sabor).

    O teste de aceitao foi realizado para cada um dos quatro sabores

    desenvolvidos, num total de 308 e 88 unidades experimentais de provadores

    com nvel normal de colesterol e de limtrofe a alto, respectivamente, sendo

    realizado em 3 repeties.

  • 43

    FIGURA 1: Modelo de ficha de avaliao para a escala hednica de nove pontos

    aplicada para as quatro bebidas com frutas in natura, sabores ma, banana,

    mamo e morango preparadas base de leite em p reconstitudo e linhaa.

    ESCALA HEDNICA

    Por favor, avalie a amostra e use a escala abaixo para indicar o quanto voc

    gostou ou desgostou das caractersticas sensoriais da bebida sabor

    ___________________.

    (9) Gostei extremamente

    (8) Gostei muito

    (7) Gostei moderadamente

    (6) Gostei ligeiramente

    (5) Indiferente

    (4) Desgostei ligeiramente

    (3) Desgostei moderadamente

    (2) Desgostei muito

    (1) Desgostei extremamente

    FONTE: Adaptado de CHAVES e SPROESSER, 2005.

    4.6.1 Anlise estatstica

    Os dados coletados foram avaliados estatisticamente pela anlise de

    varincia (ANOVA) e comparao das mdias de pares de amostras pelo teste

    de Tukey (MICROSOFT OFFICE EXCEL, 2007).

  • 44

    5. RESULTADOS E DISCUSSO

    5.1 Recrutamento e Caracterizao dos voluntrios

    Realizaram-se palestras no 4 Depsito de Suprimento do Exrcito Brasileiro

    localizado na cidade de Juiz de Fora, MG, onde foram apresentados os

    objetivos do trabalho e disponibilizadas fichas para preenchimento dos

    voluntrios (anexo 1), e os resultados so apresentados conforme questes

    mais pertinentes ao consumo da bebida e hbitos dos indivduos selecionados

    (tabela 1).

    Tabela 1 Frequncia de voluntrios que possuram averso alimentar,

    intolerncia alimentar, uso do fumo ou de bebida alcolica, prtica de

    atividade fsica e utilizao de suplementos.

    Dos voluntrios selecionados, 13,64% apresentaram averso alimentar a

    leguminosas e 100% no apresentaram intolerncia ou averso ao leite. Dados

    relevantes, uma vez que, o produto desenvolvido base destes grupos

    alimentares, no podendo interferir ou gerar nenhum sintoma negativo tais

    como diarreias ou desconfortos gastrointestinais.

    A intolerncia uma inabilidade para digerir completamente a lactose,

    acar predominante do leite. A lactose um dissacardeo e sua absoro

    FREQUENCIA Averso

    alimentar

    Intolerncia

    alimentar Fumo

    Bebida

    alcolica

    Atividade

    fsica Suplementos

    SIM (%) 13,64% 0% 95,45% 59,09% 45,45% 22,73%

    NO (%) 86,36% 100% 4,55% 40,91% 54,55% 77,27%

  • 45

    requer hidrlise prvia no intestino delgado por uma beta-galactosidase na

    borda em escova, comumente chamada lactase (TO, 2002).

    Constatou-se alto ndice de fumantes (95,45%), ou seja, apenas um dos

    voluntrios nunca fumou. Os hbitos dos fumantes podem estar relacionados a

    aumento dos nveis de colesterol apresentados, uma vez que diversos estudos

    comprovam essa relao.

    Os malefcios causados pelo hbito de fumar vo muito alm dos

    problemas pulmonares e respiratrios e do aumento do risco de

    desenvolvimento de cncer. O fumo tambm responsvel pelo aumento no

    ndice do mau colesterol, o que por sua vez, aumenta chances de

    aterosclerose, principal causa do infarto, derrame (AVC) e de outras doenas

    cardiovasculares (CASTELLO, 2014).

    O cigarro ocupa lugar entre os principais fatores de risco, ao lado de

    problemas como obesidade, hipertenso, diabetes, problemas renais,

    hepticos, e distrbios endcrinos. Hoje cerca de 40% dos brasileiros tem

    colesterol alto e, segundo dados da OMS, aproximadamente 17 milhes de

    pessoas morrem no mundo devido s doenas do corao, sendo que no Brasil

    pelo menos 300 mil sofrem infarto anualmente.

    O uso de bebida alcolica apresentou diferena em torno de 20% entre

    os voluntrios que bebem e que no bebem (59,09% a 40,91%

    respectivamente). A prtica frequente do uso de bebidas alcolicas em nveis

    acima dos aceitveis contribui de forma significativa para o aumento do

    colesterol (CASTELLO, 2014).

    Constatou-se ainda, que a maioria dos voluntrios no praticava

    atividades fsicas regulares (em torno de 54,55%). A insero de atividades

    fsicas regulares ajuda a equilibrar o aumento do CT, LDLc e HDLc desde que

    os nveis de lcool no sangue sejam aceitveis para que se possam considerar

    os efeitos benficos do seu uso.

    A prtica de atividades fsica induz a um perfil lipdico favorvel devido

    s interaes complexas envolvendo hormnios, enzimas e receptores. H

    evidncias de que durante a realizao de esforo fsico de intensidade

    moderada, tem-se um aumento da atividade da lpase no msculo esqueltico

    e no tecido adiposo, o qual associado ao possvel decrscimo da sntese

    heptica de acilgliceris, promovendo ajustes metablicos que levam a

  • 46

    concentraes menores de lipdeos plasmticos (GUEDES; GONALVES,

    2007).

    O consumo de quantidade moderada de lcool tem efeito benfico sobre

    a mortalidade e doenas coronarianas (GASIANO, 1999). Em parte esse efeito

    devido capacidade de elevao da concentrao de HDLc. Porm,

    indivduos propensos, o consumo de lcool pode aumentar os nveis de TG.

    Nesse estudo, 5,2% dos estudantes relataram ingesto de bebida alcolica

    mais de duas vezes por semana, apresentando, em mdia, aumento conjunto

    nos nveis sricos de CT, LDLc e HDLc e diminuio dos nveis de TG e

    VLDLc. (COELHO et al, 2005).

    A partir da era epidemiolgica das doenas crnico-degenerativas

    surgem diversos estudos epidemiolgicos relacionando atividade fsica como

    meio de promoo da sade, sendo que, nas ltimas trs dcadas, numerosos

    trabalhos tm consistentemente demonstrado que altos nveis de atividade

    fsica ou aptido fsica esto associados diminuio no risco de doena

    arterial coronariana, diabetes, hipertenso, osteoporose (PITANGA, 2002).

    Em relao ao uso de suplemento alimentar, a parcela estudada

    demonstrou-se pequena e mais associada queles que tinham prtica de

    atividade fsica regulares como forma de complemento nutricional e baseado

    nas necessidades individuais dirias, sem relaes diretas com os objetivos.

    5.1.2 Avaliao Nutricional

    Os resultados dos dados antropomtricos avaliados esto apresentados

    na tabela 2.

  • 47

    TABELA 2: Dados antropomtricos dos voluntrios selecionados e

    identificados pelos nveis limtrofes para colesterol total e aqueles

    hipercolesterolmicos.

    INDIVDUOS SEXO COLESTEROL

    (mg/dL)

    IDADE

    (anos)

    IMC

    (kg/m2)

    CIRC

    ABDOMINAL

    (cm)

    Risco de doenas

    metablicas associadas

    oobesidade? (who 2000)

    1 F 280 50 31 101,5 SIM

    2 F 338 57 36,4 105,5 SIM

    3 F 251 52 24,5 91 SIM

    4 F 210 48 30,2 99 SIM

    5 F 238 69 29,4 92 SIM

    6 F 251 62 23,04 90 SIM

    7 F 207 37 35,9 97 SIM

    8 M 208 45 21,5 82 NO

    9 M 232 39 30 100 SIM

    10 M 245 39 27,5 99 SIM

    11 M 251 43 31,3 96 SIM

    12 M 202 38 23,9 89 NO

    13 M 242 45 30,3 100 SIM

    14 M 200 46 24,4 88 NO

    15 M 278 42 36,1 115 SIM

    16 M 202 46 24,6 82 NO

    17 M 252 37 26 83 NO

    18 M 332 43 31 96 SIM

    19 M 277 39 25 99 SIM

    20 M 203 42 31 102 SIM

    21 M 208 45 21,5 82 NO

    22 M 244 47 20,2 80 NO

    Considera-se que os valores de referncia para o controle do ndice de

    colesterol total no sangue devem apresentar, como desejvel, inferior a 200

    mg/dL, no nvel limtrofe, entre 200 a 239 mg/dL e, como nvel alto

    (hipercolesterolemia) a partir de 240 mg/dL. Os 22 voluntrios selecionados,

    em sua maioria, apresentaram ndices entre limtrofes e altos sendo

    considerados oportunos para o objetivo do trabalho, que visa contribuir para a

    reduo dos nveis de colesterol. A mdia do nvel de colesterol do grupo torna-

    se significativa, uma vez que apresentou 243,23 mg/dL.

    A faixa etria mdia encontrada foi de 46 anos, portanto, trata-se de

    populao j propensa a fatores de risco de doenas associadas s alteraes

  • 48

    significativas em seus nveis de colesterol, IMC e ndice de circunferncia

    abdominal. O IMC conhecido pela OMS como um dos parmetros para

    definio dos riscos em relao obesidade, assim como, a circunferncia

    abdominal e colesterol.

    Os voluntrios apresentaram mdia do IMC de 27,95 kg/m2, ou seja,

    considera-se como um grupo acima do peso (sobrepeso) e que merece

    ateno, pois apresenta ndice acima do recomendado para suas alturas,

    condio que pode colocar em risco a sade do corpo.

    J a circunferncia abdominal, que refere ao acmulo de gordura

    naquela regio, apresentou entre os indivduos do sexo feminino, ndice

    superior ao recomendado, que deve ser de at 88 cm. Os do sexo masculino

    situaram-se 50% dentro do aceitvel, ou seja, 102 cm.

    Estudos realizados sobre as frequncias de sobrepeso e obesidade

    estimam que cerca de 40% de indivduos adultos do pas apresentaram

    excesso de peso (IMC 25 kg/m), e 8,9% dos homens e 13,1% das mulheres

    estavam obesos. Para obesidade abdominal, constatou-se ainda, percentual

    elevado entre mulheres (42%) e homens (22,2%). Na categoria sobrepeso,

    tanto homens quanto mulheres j apresentavam medida de circunferncia

    abdominal de risco, confirmando a presena de obesidade abdominal mesmo

    em indivduos com IMC inferior a 30. Este refora a importncia da utilizao

    desse indicador antropomtrico na rotina clnica (REZENDE et al, 2006).

    As referncias antropomtricas analisadas (tabela 2) serviram como

    base para identificao do grupo, e a maior parte apresentou riscos de doenas

    metablicas associadas obesidade, ou seja, esto mais expostos a fatores de

    riscos cardiovasculares, entre outros fatores.

    Outras avaliaes antropomtricas realizadas de forma complementar,

    como pela balana de bioimpedncia, permitiram comparar quelas dos

    mtodos usualmente utilizados, para validao e confirmao dos resultados

    anteriores (tabela 3). Verifica-se, no percentual de gordura do somatrio de

    pregas, que o grupo foi classificado como 100% de risco de doenas

    associadas obesidade, j o percentual de gordura da balana pelo mtodo de

    bioimpedncia, considerou que 64% dos indivduos foram considerados acima

    da mdia a obesos.

  • 49

    TABELA 3: Dados antropomtricos complementares dos voluntrios

    selecionados e identificados pelos nveis limtrofes para colesterol total e

    aqueles hipercolesterolmicos.

    INDIVDUOS

    % GORDURA SOMATRIO

    DAS PREGAS (Durnin e

    Womerstey, 1977).

    CLASSIFICAO

    (Nacif e Viebig, 2008).

    % GORDURA

    BALANA

    CLASSIFICAO

    (LOHAMAN, 1992) BIA

    PRESSO

    (mmHg)

    Mx/min

    1 49,6 risco de doenas associadas obesidade

    41,9 obeso 12/8

    2 52,7 risco de doenas associadas obesidade

    51,7 obeso 15/10

    3 49,2 risco de doenas associadas obesidade

    34,7 acima da media 12/'7

    4 45,8 risco de doenas associadas obesidade

    47,1 obeso 13'/8

    5 47,2 risco de doenas associadas obesidade

    43,7 obeso 13/7

    6 48,7 risco de doenas associadas obesidade

    31 dentro da mdia 14/9

    7 44,4 risco de doenas associadas obesidade

    46,1 obeso 12/8

    8 28,2 risco de doenas associadas obesidade

    14,9 abaixo da media 12/8

    9 30,1 risco de doenas associadas obesidade

    24,7 acima da media 15/9

    10 32,7 risco de doenas associadas obesidade

    30,6 obeso 11/7

    11 37 risco de doenas associadas obesidade

    23 dentro da mdia 14/9

    12 29 risco de doenas associadas obesidade

    23,8 acima da media 12/8

    13 38,7 risco de doenas associadas obesidade

    32,6 obeso 12/8

    14 37 risco de doenas associadas obesidade

    25 acima da media 12/8

    15 41,2 risco de doenas associadas obesidade

    38,2 obeso 13/6

    16 31,2 risco de doenas associadas obesidade

    15,7 abaixo da media 13/8

    16 27,8 risco de doenas associadas obesidade

    17 dentro da mdia 13/8

    17 36,4 risco de doenas associadas obesidade

    23 dentro da mdia 14/9

    18 32,3 risco de doenas associadas obesidade

    30,6 obeso 12/8

    19 35,3 risco de doenas associadas obesidade

    33 obeso 13/8

    20 28,2 risco de doenas associadas obesidade

    14,9 abaixo da media 13/9

    21 27,8 risco de doenas associadas obesidade

    13,3 dentro da mdia 15/9

    Estudo sobre comparao entre bioimpedncia e antropometria e a

    relao de ndices corporais obteve resultados estatisticamente iguais para a

    estimativa de composio corporal, sugerindo a intercambiabilidade desses

    mtodos (FETT et al, 2006).

  • 50

    A presso arterial mdia do grupo se manteve aceitvel dentro dos

    padres existentes, porm, foram identificadas pequenas oscilaes com maior

    fator de risco cardiovascular. Este grupo no se classifica como indivduos

    hipertensos apesar de diversos fatores de riscos existentes, entretanto, refora-

    se a importncia de modificarem hbitos alimentares e comportamentais com

    vistas a prevenir, possivelmente, a manifestao de tal enfermidade.

    Entre as doenas relacionadas obesidade, a hipertenso arterial tem

    se mostrado com uma das principais, sendo, muitas vezes, o excesso de peso

    responsvel pelo surgimento e pela resistncia teraputica da hipertenso.

    Cerca de 75% dos homens e 65% das mulheres brasileiras apresentam

    hipertenso diretamente atribudas ao sobrepeso (LOPES, et al 2013),

    resultados estes muito prximos ao observado nos indivduos deste estudo.

    Desta forma, intervenes relacionadas promoo da sade como

    preveno e controle da obesidade e das doenas cardiovasculares, alm do

    incentivo prtica de atividade fsica, abandono do tabagismo e educao

    nutricional da populao, tm recebido grande importncia por resultarem em

    alteraes desejveis, como reduo de peso e dos nve