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DESENVOLVIMENTO DE UM PROJETO DE MELHORIA PARA UM PROCESSO DE TORREFAÇÃO DAS AMÊNDOAS DE CACAU PARA ATENDER À PADRÕES SANITÁRIOS FABIANO RODRIGUES SORIANO (UESC ) [email protected] Vinicius CArdoso da Silva Lopes (UESC ) [email protected] O cumprimento dos padrões microbiológicos sanitários de alimentos é obrigação legal. Por isso, um Ponto Crítico de Controle (PCC) responsável pela adequação do produto a estes padrões, deve permitir variações, nos seus parâmetros de controlle, em torno das dimensões adequadas para a segurança de alimentos. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é a melhoria da qualidade em um PCC responsável pelo tratamento térmico do nibs de cacau. De acordo com a proposta metodológica desta pesquisa-ação, foram utilizadas técnicas estatísticas e gerenciais para a resolução de problemas. Na aplicação desta pesquisa obteve-se um aumento de 2,01 minutos no tempo de tratamento térmico para determinada quantidade de aditivo. Observou-se também que a quantidade de aditivo reflete no tempo necessário e na temperatura de estabilização e consequentemente no tempo de tratamento térmico e eficiência do processo produtivo. Palavras-chave: Melhoria da qualidade, Controle Estatístico de Processo, Ponto Crítico de Controle, Segurança de Alimentos XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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DESENVOLVIMENTO DE UM PROJETO

DE MELHORIA PARA UM PROCESSO

DE TORREFAÇÃO DAS AMÊNDOAS DE

CACAU PARA ATENDER À PADRÕES

SANITÁRIOS

FABIANO RODRIGUES SORIANO (UESC )

[email protected]

Vinicius CArdoso da Silva Lopes (UESC )

[email protected]

O cumprimento dos padrões microbiológicos sanitários de alimentos é

obrigação legal. Por isso, um Ponto Crítico de Controle (PCC)

responsável pela adequação do produto a estes padrões, deve permitir

variações, nos seus parâmetros de controlle, em torno das dimensões

adequadas para a segurança de alimentos. Nesse sentido, o objetivo

deste trabalho é a melhoria da qualidade em um PCC responsável pelo

tratamento térmico do nibs de cacau. De acordo com a proposta

metodológica desta pesquisa-ação, foram utilizadas técnicas

estatísticas e gerenciais para a resolução de problemas. Na aplicação

desta pesquisa obteve-se um aumento de 2,01 minutos no tempo de

tratamento térmico para determinada quantidade de aditivo.

Observou-se também que a quantidade de aditivo reflete no tempo

necessário e na temperatura de estabilização e consequentemente no

tempo de tratamento térmico e eficiência do processo produtivo.

Palavras-chave: Melhoria da qualidade, Controle Estatístico de

Processo, Ponto Crítico de Controle, Segurança de Alimentos

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1. Introdução

Uma organização que busca a satisfação dos seus clientes deve possuir um processo de

produção estável, permitindo apenas variações em torno das dimensões normais das

características de qualidade do produto (MONTGOMERY, 2013). Ao se tratar de qualidade

em produtos do setor alimentício, Santos & Antonelli (2011) consideram que o conceito está

fortemente associado com a segurança à saúde do consumidor. Esta segurança, conforme a

FSSC 22000 e ISO 22000, baseados no Codex Alimentarius, relaciona-se com a produção de

um alimento que não causará danos ao cliente quando consumido em conformidade ao uso

pretendido.

A resolução n° 12 da ANVISA estabelece padrões microbiológicos sanitários para alimentos

tornando-os uma obrigação legal e está evidenciada pelo controle dos padrões das etapas da

produção do alimento. Um torrador, por exemplo, pode ser considerado um mecanismo para

diminuir a ocorrência de contaminações microbiológicas. Em conformidade ao Codex

Alimentarius aplica-se um tratamento térmico ao produto, influenciando nos padrões

microbiológicos do alimento.

Por meio do Controle Estatístico de Processo (CEP) pode-se obter melhorias na sua

qualidade, tornando o processo estável (SAMOHYL, 2005). Assim, quando aplicado ao

tratamento térmico do torrador, podemos propiciar um melhor controle dos parâmetros, de

forma a variarem, em sua maioria, em torno dos padrões aceitáveis para a segurança do

alimento.

Devido à legislação, à importância do ponto crítico de controle (PCC) torrefação e os

benefícios do CEP, este trabalho tem por objetivo a melhoria da qualidade no processo de

torrefação de uma indústria moageira de cacau. Nesse intento, serão utilizadas ferramentas

CEP alinhando sua finalidade à etapa correspondente do método de pesquisa-ação.

No desenvolvimento deste trabalho, na etapa de revisão de literatura, foram apresentados

diversos estudos referentes ao uso do CEP em indústrias alimentícias. Entretanto, nota-se a

escassez de estudos específicos envolvendo a sua utilização na sistemática de segurança do

alimento, mais especificamente, aplicado a um PCC torrefação. Neste ponto, o presente

trabalho propõe ser uma possibilidade de melhoria em um PCC e um acréscimo à literatura a

respeito.

2. A MELHORIA DA QUALIDADE NA PRODUÇÃO DE ALIMENTOS

Para Paladini (2007), o conceito de qualidade mais bem aceito é o de Juran & Gryna de

“adequação ao uso”, pois engloba as muitas variáveis que o consumidor considera (uso), e a

necessidade de melhoria (adequação), mantendo o foco no cliente. Por outro lado,

Montgomery (2013) afirma que ela é oposta à variabilidade de maneira proporcional. Nesse

sentido, o teórico conceitua que a melhoria da qualidade consiste na “redução da variabilidade

nos processos e produtos”, pois se a variabilidade decresce nas características importantes de

um processo ou produto, o nível de estabilidade e conformidade aumenta, resultando assim,

em um maior nível de qualidade.

O conceito de qualidade, na indústria do setor alimentício, está fortemente associado com a

segurança à saúde do consumidor (SANTOS e ANTONELLI, 2011). Vale ressaltar que a

fabricação do alimento seguro é uma exigência legislatória, decretada pela resolução n° 12 da

ANVISA, na qual os produtos alimentícios devem estar dentro dos padrões microbiológicos

sanitários estabelecidos, e seu descumprimento, além de expor o cliente a uma possível

contaminação, constitui infração sanitária, sujeitando os infratores às penalidades da Lei nº

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6.437, de 20 de agosto de 1977, que vão desde advertência ao cancelamento do alvará de

licenciamento de estabelecimento.

Neste sentido, baseando-se na definição de Montgomery e na legislação, pode-se entender que

a melhoria da qualidade em indústria do setor alimentício, está ligada, dentre outros fatores, à

obtenção da estabilidade nos processos críticos para o controle de microrganismos (PCC).

Dessa forma, os equipamentos do PCC, segundo o Codex Alimentarias, devem permitir o

eficaz controle e monitoramento das características influenciadoras destes padrões.

3. MÉTODO DE PESQUISA

Para a melhoria da qualidade no processo de esterilização mediante o processo de torrefação,

foi utilizado o método pesquisa-ação juntamente com ferramentas estatísticas de acordo com

as recomendações de Coughlan e Coghlan (2002). Em uma primeira etapa consistiu no

planejamento da pesquisa-ação: foi criada uma equipe na qual buscou entender melhor o

processo de torrefação, qualificar as causas de variação e parâmetros.

Na segunda etapa, o momento de coletar de dados: foi testada a confiabilidade do sistema de

medição (sensores), as causas de variação e os parâmetros foram registrados em uma folha de

controle. A terceira etapa consistiu da análise: foi utilizado o diagrama de Pareto e o diagrama

de causa-efeito, de forma a identificar principais causas de variação. A seguir, se iniciou-se o

planejamento das ações: foi criado um plano de baseado nas causas prioritárias. Por

conseguinte, este plano foi implementado e seus resultados analisados. Por fim, as principais

soluções foram registradas e documentadas no Procedimento Operacional Padrão.

Nesse sentido, a pesquisa foi implementada em uma empresa moageira de cacau da região

cacaueira, e teve duração de três meses, no qual abrangeu os meses de outubro, novembro e

dezembro de 2015.

Figura 1 - Ciclos da pesquisa-ação

Fonte: Adaptado de Coughlan e Coghlan (2002)

4. Desenvolvimento da pesquisa-ação

4.1 Planejar a pesquisa-ação

Primeiramente, baseando-se na experiência da equipes para a implantação de certificação e

programas de melhoria, foi formada uma equipe de trabalho composta pelo gerente de

produção, engenheiro de produção, operadores do setor e o estagiário.

Por meio de verificações anteriores a este trabalho, detectou-se casos de contaminação

microbiológica relacionados ao tratamento térmico do nibs (parte interna da amêndoa de

cacau). A relação tempo x temperatura de exposição do nibs para seu tratamento térmico é de

100 °C por 33 minutos, não devendo estar abaixo do Limite Inferior de Engenharia (LIE).

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Vale ressaltar que, por motivos de receita interna da empresa, esses dados são referentes à

umidade entre 1 e 2,5%, solicitada pelo cliente.

A equipe buscou entender melhor o processo de torrefação, bem como o processo anterior e

posterior, respectivamente Reação e Resfriação. No reator que é o equipamento responsável

pela reação, são adicionadas determinadas quantidades de aditivo ao Nibs para que seja

regulado o seu Ph e coloração. Depois de descarregado no tambor, onde de fato ocorre

tratamento térmico e após atingir temperatura máxima de exposição, para sua correta

torrefação (receita interna da empresa), é descarregado no Resfriador, equipamento

responsável pela resfriamento. Para a geração de calor para o processo de torrefação é

utilizado um maçarico. Conforme processo representado na figura 02.

Figura 2 - Etapa anterior e posterior à torrefação

Fonte: Próprio autor

A visualização dos dados do processo no sistema supervisório, é feita unicamente por meio de

um gráfico e seu acompanhamento e operação é realizado pelos operadores do setor. No

mesmo gráfico são apresentadas diversas relações e para a visualização de um momento

específico, faz-se necessário “clicar” como mouse em cima deste momento, e na parte inferior

será mostrada a temperatura e a hora. Além disso, a única forma de visualização dos dados é

por meio do gráfico da figura 3, tornando-se difícil a visualização dos dados e a percepção de

variações. O sistema não dispõe os dados em forma de tabela e não os exporta.

Figura 3 - Visualização através do sistema supervisório

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Fonte: Próprio autor

4.2 Coleta de dados

Primeiramente, foi realizada uma reunião de brainstorm com a finalidade de identificar os

agentes de variação nos tempos de tratamento térmico (TTT). Estes são demonstrados na

figura 4.

Figura 4 - Diagrama de Ishikawa para as causas da variação dos TTT’s obtidas por meio de reunião de

brainstorm

Regulagem de alguns parâmetros de

forma empírica e reativa;

Regulagem de alguns parâmetros feita

apenas pela gerência;

Falta de atenção por parte dos operadores

Gráfico não demonstra claramente o quanto ao TTT;

TTT Pouco conhecimento por parte dos operadores

sobre o PCC Torrefação.

Método Máquina

Material Mão de obra

Variação

do TTT

Fonte: Próprio autor

Após a identificação, foi estabelecido como parâmetro para registro o TTT. Criou-se uma

folha de registro para o preenchimento diário deste parâmetro por cada batelada do torrador e

também da ocorrência das causas descritas acima. Não foi possível coletar dados retroativos.

Além disso, também foi solicitado à manutenção que efetuasse um teste no sistema de

medição (sensores) e visualização (Sistema Supervisório).

4.3 Análise dos dados

Durante a primeira fase de análise foi constatado que 45% das bateladas estavam abaixo do

LIE (não conformes) e que as causas de variação do TTT, obtidas na reunião de brainstorm,

conforme figura 4, não foram suficiente para explicar. Logo foi necessário um novo

levantamento das causas de variação baseando-se em dados conforme figura 5.

Figura 5 - Novo Diagrama de Ishikawa para as causas da variação dos TTT obtidas por meio de dados

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Regulagem de alguns parâmetros de forma

empírica e reativa; Oscilação em TC máxima estabelecida;

Regulagem de alguns parâmetros feita Quedas em TTB e TC durante o início do

apenas pela gerência; do processo.

Início do processo com TTB acima do LIE;

Paradas no equipamento;

Falta de atenção por parte dos operadores

Gráfico não demonstra claramente o quanto ao TTT;

TTT Pouco conhecimento por parte dos operadores

sobre o PCC Torrefação.

Método Máquina

Material Mão de obra

Variação

do TTT

Fonte: Próprio autor

Também foi necessário acrescentar mais alguns parâmetros a serem coletados e registrados,

estes foram: quantidade de aditivo, TTB mínimo no início do processo de torrefação e TC

estabelecida quando o maçarico está em chama baixa. Devido à percepção de novas causas de

variação e a necessidade de coleta de outros parâmetros, foi necessária uma nova fase de

coleta e análise dos dados.

Por meio do Diagrama de Pareto para as causas de variação mensuráveis, figura 6, pode ser

observado que a causa mais recorrente é o TTB no início do processo acima de LIE,

ocorrendo 11 vezes, o que representa 45,83% das causas. Portanto, faz-se necessária uma

análise mais aprofundada sobre TTB no início do processo, a fim de replicar sua inicialização

acima do LIE, por ser a causa mais recorrente, por aumentar em TTT e à grande margem de

bateladas conformes na sua ocorrência. A figura 6 representa o comparativo entre a contagem

de TTT quando TTB, curva verde, inicia abaixo do LIE e quando inicia acima do LIE.

Figura 6 - Gráfico de Pareto para causas

mensuráveis

Fonte: Próprio autor

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Figura 7 - Comparativo entre a contagem do TTT quando TTB inicia abaixo, figura da esquerda, e quando inicia

acima do LIE, figura da direita

Fonte: Próprio autor

Além destas, outra causa de variação em TTT é quantidade de aditivo inserida no nibs na

etapa reação. Vale ressaltar que ela foi identificada na primeira fase de coleta de dados,

entretanto foi descartada na reunião de brainstorm devido ao conhecimento empírico de um

dos membros respeitado pela equipe. A sua influência nos TTT’s só foi percebida porque a

média dos tempos aumentavam e diminuíam com o passar dos dias, e as causas listadas e

encontradas até o momento não foram suficiente para explicar este fenômeno. Por isso, a

quantidade de aditivo foi reconsiderada nesta segunda fase de coleta e análise de dados.

Com o seu acréscimo, percebe-se que há um aumento nos TTT’s e no número de bateladas

conformes, já com o seu decréscimo, há também uma diminuição nos TTT’s e no número de

bateladas conformes. A figura 8 representa a relação entre a quantidade de aditivos e TTT, a

figura 9 representa o percentual de bateladas não conformes por aditivo e a Tabela 1 apresenta

a relação entre aditivo, TTT e bateladas não conformes.

Figura 8 - Relação entre TTT para quantidades de aditivos

A A+25 A+35 A+45

3035

40

Quantidade de aditivo (Kg)

tE (m

in)

Fonte: Próprio autor

TTT

(min

)

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Figura 9 - Percentual de bateladas não conformes (abaixo do LIE) por

aditivo

Fonte: Próprio autor

Tabela 1 - Relação entre aditivo, TTT e bateladas não conformes

Quantidade de aditivo (Kg) A A+25 A+35 A+45 Média

Bateladas Não Conformes 53% 28% 17% 8% 28%

TTT Médio (min) 31,9 34,2 35,45 37,01 34,39

Fonte: Próprio autor

Entretanto, devido ao aditivo regular o pH e a coloração do nibs, testes em suas quantidades

poderem gerar grandes quantidades de nibs com pH e coloração fora do padrão, portanto foi

definido que não haveriam alterações na quantidade de aditivo a fim de aumentar ou diminuir

o TTT. Evidencia-se a dificuldade em atender a especificação ao diminuir a quantidade de

aditivo. Neste sentido, foi realizada uma nova reunião de brainstorm com a equipe a fim de

qualificar as causas para que o TTB, no início do processo, esteja acima do LIE. Elas foram

definidas e compiladas no Diagrama de Ishikawa da figura 10 e suas influências são descritas

a seguir.

Figura 10 - Diagrama de Ishikawa para as causas de TTB no início do processo acima do

LIE

Temperatura do nibs no reator, ao carregar

forma empírica e reativa;o tambor, acima do LIE; e Não ocorrência de quedas em TC durante o

TTB andes do carregamento acima início do processo de torrefação.

do LIE.

Sistema permitr clara visualização da TTB Percepção de variações em TTB e na

antes do carregamento, e da temperatura do temperatura do nibs no reator.

nibs reator antes do carregamento.

Método Máquina

Material Mão de obra

TTB no início

do processo

acima do LIE

Fonte: Próprio autor

4.4 Planejar ações

A partir das causas apontadas na figura 5 foram definidas como prioridade a regulagem dos

parâmetros de forma empírica e reativa, com TTB no início do processo acima do LIE, e cujo

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gráfico não demonstou claramente os TTT’s, a falta de atenção por parte dos operadores

quanto aos TTT’s e pouco de conhecimento, com respeito ao PCC Torrefação, por parte dos

operadores.

Quanto à representação visual dos TTT’s e a falta de atenção dos operadores, é necessária a

elaboração de um gráfico especificamente para os TTT’s por batelada. De forma a evidenciar

quando os tempos apresentam comportamento normal ou especial, e principalmente quando

os tempos se aproximarem ou ultrapassarem o LIE.

Devido à dificuldade de obtenção de dados retroativos e à influência de aditivo nas médias

dos tempos, e tendo em vista a ocorrência de variações nas quantidade de aditivo, por vezes,

no mesmo dia e que para cada quantidade de aditivo, são necessários limites de controle

distintos. Assim, foi elaborado um gráfico com o registro dos TTT’s por batelada e destacada

uma linha representando o LIE, figura 11.

O gráfico deve ser preenchido manualmente e inserido na folha de controle. Isto foi

determinado porque não foi possível a sua elaboração no Sistema Supervisório, devido à

necessidade da contratação de especialista para o mesmo, pedido este negado pela empresa

durante o período da pesquisa, além da não exportação dos dados para outros programas.

Figura 11 - Proposta de gráfico para a visualização dos TTT’s por Batelada

Fonte: Próprio autor

Quanto ao pouco conhecimento a respeito PCC Torrefação por parte dos operadores, é

necessário treiná-los e conscientizá-los novamente. E para a regulagem dos parâmetros de

forma empírica, é necessário o estabelecimento de mais alguns parâmetros de regulagem,

estendendo-se ao TTT. Acredita-se que está relacionado com o início do processo acima do

LIE, e será explicado mais detalhadamente a seguir.

As causas prioritárias para que a TTB permaneça acima do LIE no início do processo foram

definidas como: a temperatura do nibs no reator antes do carregamento do tambor e a

temperatura do tambor antes do início do carregamento. Entretanto, devido ao fato que

alterações na temperatura do reator envolvem receita interna da empresa, foi definido que os

testes ocorreriam apenas com TTB.

Assim, os parâmetros a serem registrados são TTB mínimo no início do processo e TTT.

Serão aumentados 10°C a cada dois dias em TC no início do processo. A Figura 12 representa

a proposta para que o TTB permaneça acima do LIE no início do processo.

TTT não deve e ser inferior ao LIE

Bat 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

TE (min)

LIE

34

35

36

37

38

39

32

31

30

TTT (min)

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Figura 12 - Curva de TTB com

início abaixo do LIE e proposta

de seu início acima do LIE.

Fonte: Próprio autor

4.5 Implantar, analisar e registrar resultados

O primeiro passo foi o trabalho de retreinamento e reconscientização dos operadores. A

equipe optou por um “bate-papo” no setor, sem utilização da sala de treinamento. O gráfico de

controle adaptado foi inserido juntamente à folha de controle. Percebeu-se que a visualização

dos TTT’s ficou mais clara e objetiva, quando comparada à visualização no Sistema

Supervisório, entretanto não houve grande aceitação por parte dos operadores, visto que

reclamaram e não preencheram nem o gráfico, nem os parâmetros da folha de controle.

Quanto aos resultados dos testes com aumentos em 10°C em TC no início do processo,

percebe-se que houve aumento em TTB no início do processo em 1,11°C, passando de 97,98

para 99,09 °C, conforme demonstrado na Figura 13.

Figura 13 - Relação entre aumento em TC e TTB mínimo durante início do processo

Fonte: Proprio Autor

Entretanto, a curva de TTB ainda está abaixo do LIE no início do processo, fazendo-se

necessário, portanto, novos testes com aumentos em TC, mas devido a razões técnicas

internas, não se pode continuar com os testes em TTB. Além disso, mesmo com o aumento

em 2,01 min no TTT, passando de 20,71 para 22,72 min, figura 14, todos as bateladas, para

essa quantidade de aditivo, estão não conformes.

Figura 14 - Relação entre aumento em TC e TTT

LIE

TTT

InícioFim

Tem

pe

ratu

ra

Tempo

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Fonte: Próprio autor

Tabela 1 - Relação entre aditivo, TTT e bateladas não conformes baseada na suposição de aumento em 2,01 min

no TTT independente da quantidade de aditivo.

Quantidade de aditivo (Kg) A A+25 A+35 A+45 Média

Bateladas Não Conformes 32% 9% 5% 4% 12%

TTT Médio (min) 33,91 36,21 37,46 39,02 36,40

Fonte: Próprio autor

Vale ressaltar que, durante o experimento, por razões de receita interna da empresa, houve

grande diminuição na quantidade de aditivos, passando a A-40 Kg. Supondo que aumentando

10°C em TC no início do processo ocorra o aumento em TTT de 2,01 min, independente da

quantidade de aditivo, apenas 12% das bateladas seriam não conforme, representando uma

redução na ordem de 57%, dados apresentados na Tabela 3.

Não foi possível a alteração do Procedimento Operacional Padrão da empresa porque, devido

à impossibilidade de aumentos em TC no início do processo por razões técnicas internas, não

foram comprovadas todas as relações de TC no início do processo com TTT e TTB mínimo

durante o início do processo, levando-se em consideração as diferentes quantidades de

aditivo. Por isso, não foi possível também estabelecer padrões de operação com alterações em

TC no início do processo para cada quantidade de aditivo, visando o TTB mínimo durante o

início do processo acima do LIE.

5. CONCLUSÕES

A abordagem baseada em dados, para a obtenção das causas de variação dos tempos de

tratamento térmico, foi relevante para a empresa estudada, uma vez que as causas obtidas

apenas pelo conhecimento empírico da equipe não foram suficientes para explicar a variação

neste processo. Todavia, ambas favoreceram qualificação das causas de variação.

Entretanto, no que se refere à influência da quantidade de aditivo nos tempos de tratamento

térmico, o conhecimento empírico da equipe descartou esta possibilidade. Novamente a

TTT (min)

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abordagem baseada em dados constatou algo que não se percebeu empiricamente, a qual a

quantidade de aditivo exerce grande influência nos tempos de esterilização. Foi percebido que

com o aumento da quantidade de aditivo, houve também um aumento nos tempos de

esterilização e no número de bateladas conformes, o que não ocorreu com a sua diminuição,

pois os tempos de esterilização diminuíram e o número de bateladas não conformes

aumentaram.

Embora os operadores do setor tenham passado por um novo treinamento e conscientização a

cerca do Ponto Crítico de Controle Torrefação, percebeu-se que eles não preencheram a ficha

de controle, logo não foi melhorada a visualização dos tempos de tratamento térmico no nível

operacional.

Buscou-se a permanência da temperatura do tambor durante o início do processo de torrefação

acima do LIE, para que houvesse um aumento no tempo de tratamento térmico de forma a

aumentar também o número de bateladas conformes. Para isso, foi acrescentado 10°C à

temperatura da camisa no início do processo, e obteve-se um aumento de 2,01 minutos no

tempo de tratamento térmico e de 1,11 °C na temperatura mínima do tambor durante o início

do processo de torrefação. Acredita-se que devido a pouca quantidade de aditivo durante o

teste, A-40 Kg, não se obteve a permanência da temperatura do tambor durante o início do

processo acima do limite inferior de engenharia, pois essa passou de 97,98 para 99,09 °C.

Baseando-se na suposição de que, independente da quantidade de aditivo, com um acréscimo

em 10°C na temperatura da camisa no início do processo, ocorra um aumento no tempo de

tratamento térmico em 2,01 minutos, se obteria uma redução na ordem de 57% no número

médio de bateladas não conformes, passando de 28% para 12% das bateladas.

A pesquisa limitou-se investigar a relação entre apenas um acréscimo de 10°C na temperatura

da camisa no início do processo, para apenas uma quantidade de aditivo, e sua influência na

temperatura mínimas do tambor durante o início do processo e no tempo de tratamento

térmico. Tendo isso em vista, em uma futura pesquisa, pode-se investigar esta mesma relação

para diversas temperaturas da camisa no início do processo e quantidades de aditivos. Outra

oportunidade é a investigação referente à formulação do aditivo, de forma a ser alterado para

atingir não somente o pH e coloração, mas também o tempo de tratamento térmico necessário,

e após isso, automatizar esse processo.

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