DESENVOLVIMENTO DO PROJETO CONCEITUAL DE UM … · ... foi concebido um método para o projeto do...
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DESENVOLVIMENTO DO PROJETO
CONCEITUAL DE UM PARAPODIUM DE
BAIXO CUSTO PARA CRIANÇAS COM
PARALISIA CEREBRAL
Altemir Tomaz de Carvalho Garcia (UFPB)
Marcel de Gois Pinto (UFPB)
Francisca Alixandrina Lonardo Alencar (UFPB)
As Tecnologias Assistivas, são concebidas e aplicadas para minimizar
as dificuldades funcionais dos indivíduos com deficiências. Porém,
muitas vezes essas pessoas ficam impossibilitadas de adquirir tais e-
quipamentos, ora pela carência de prrodutos no mercado, ora pelo alto
custo dos produtos. Aplicando técnicas utilizadas no Processo de De-
senvolvimento de Produtos (PDP) desenvolveu-se um produto com cus-
to reduzido, e consequente acesso do público, através da utilização de
materiais alternativos como é o caso dos tubos de PVC. Este trabalho
apresenta o desenvolvimento conceitual de um parapodium de baixo
custo construído predominantemente com tubos e conexões de PVC,
voltado para os usuários infantis que sofrem com a Paralisia Cerebral.
Para isto, foi concebido um método para o projeto do produto, em três
fases: (1) conhecimento da realidade do portador de PC, (2) identifica-
ção dos produtos existentes no mercado, bem como seus pontos fracos
e fortes, e (3) desenvolvimento de um novo conceito de Parapodium,
sendo apresentado um protótipo virtual confeccionado através de soft-
wares CAD, de acordo com, os conceitos desenvolvidos. A próxima e-
tapa do trabalho de desenvolvimento será a construção do produto e a
realização de testes de campo com usuários com paralisia cerebral.
Palavras-chaves: Desenvolvimento conceitual, Parapodium, Processo
de Desenvolvimento de Produtos, Tecnologia Assistiva
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
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1. Introdução
O desenvolvimento de produtos deve levar em conta a melhoria da vida das pessoas, buscan-
do incluir também aqueles que são portadores de deficiências. De acordo com o Censo De-
mográfico realizado em 2000, os deficientes representam 14,4% da população, considerando
os indivíduos apresentam ao menos uma das deficiências investigadas (IBGE, 2000).
Em muitas ocasiões, estas pessoas ficam impossibilitadas de realizar tarefas básicas, como
sentar, ficar em pé, locomover-se ou higienizar-se. Tais restrições levam os deficientes e suas
famílias a terem suas vidas limitadas em diversos aspectos, tais como social, profissional,
lazer ou educação.
Para as pessoas com paralisia cerebral (PC), objeto de estudo deste trabalho, não é diferente.
Crianças portadoras de PC ficam em posições inadequadas durante muito tempo, sofrendo
inclusive riscos de acidentes devido à falta de equipamentos de suporte às suas atividades.
Tais equipamentos desenvolvidos para o público deficiente são denominados de Tecnologias
Assistivas (TA). Segundo Cook e Hussey (1995) elas representam uma ampla gama de equi-
pamentos, serviços, estratégias e práticas concebidas e aplicadas para minorar os problemas
funcionais encontrados pelos indivíduos com deficiências.
Alguns destes artefatos foram recomendados para a criança com PC por profissionais de saú-
de, tais como triciclo e carrinho adaptados e o parapodium. Usualmente, são de difícil aquisi-
ção, ora por conta da carência de produtos no mercado, ora pelo alto custo de alguns produtos.
No entanto, aplicando técnicas utilizadas no Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP)
pode-se desenvolver um destes produtos, reduzindo seus custos e aumentando o acesso aos
interessados. Segundo Rozenfeld et al. (2006), PDP é um processo em que, a partir das neces-
sidades do mercado, das possibilidades e restrições tecnológicas, se buscam as especificações
de um produto e se dá condições para a sua produção.
Nesse sentido, verificaram-se os equipamentos citados anteriormente, identificando a possibi-
lidade do projeto do parapodium. Este produto auxilia a criança na manutenção da postura
bípede, de forma simétrica, garantindo a integridade dos tecidos. Diante do exposto, este tra-
balho visa apresentar o desenvolvimento conceitual de um parapodium de baixo custo cons-
truído predominantemente com tubos e conexões de PVC, voltado para os usuários infantis.
2. Paralisia Cerebral
A Paralisia Cerebral (PC) é um distúrbio sensorial e senso-motor gerado por uma lesão cere-
bral, que perturba o desenvolvimento normal do cérebro. Essa perturbação é estacionária e
não progressiva. O distúrbio do cérebro é estacionário, mas o comprometimento dos movi-
mentos é progressivo quando não se faz tratamento. (FISCHINGER, 1970).
A PC é multifatorial, podendo ser causada por qualquer lesão no sistema nervoso durante a
gestação até os primeiros anos de vida, sendo irreversível e não progressiva. Suas causas são:
- Pré-natais: infecções, rubéola, sífilis, toxoplasmose, AIDS, uso de drogas, desnutrição, al-
terações cardiocirculatórias maternas, má formações do sistema nervoso central;
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- Perinatais: traumatismos no parto; sofrimento fetal; distúrbios circulatórios cerebrais;
nascimento prematuro; recém-nascidos de baixo peso etc.;
- Pós-natais: traumas cerebrais; Meningites; convulsões; desnutrição; falta de estímulo; hi-
drocefalia entre outras.
De acordo com Souza e Ferraretto (1998) e Allegretti (2002) existem dois tipos de classifica-
ção para a PC, quais sejam:
- Tipo de disfunção motora: movimentos involuntários ou descoordenados dos músculos,
tremores, diminuição da força muscular e aumento do tônus etc.;
- Topografia da lesão: tetraplegia ou paraplegia (membros inferiores ou superiores).
O tratamento da PC tem como objetivo controlar as crises convulsivas e demais distúrbios
associados às lesões, prevenção de doenças e fisioterapia para diminuir a atividade reflexa
anormal, o enrijecimento muscular e para melhorar a flexibilidade e amplitude do movimento.
3. Tecnologia Assistiva
O número de tecnologias utilizadas para ampliar a capacidade das pessoas com alguma defici-
ência vem crescendo muito nos últimos anos, sendo possível encontrar alguns catálogos na-
cionais e internacionais com acervo muito vasto de produtos.
Segundo a ADA (American with Disabilities Act), TA consiste em “qualquer item, peça de
equipamento, sistema de produto, seja adquirido comercialmente, modificado ou customiza-
do, utilizado para aumentar, manter ou melhorar capacidades funcionais dos indivíduos com
deficiência”. (BERSCH, 2008).
No que tange à tecnologia, a TA varia de itens de baixa tecnologia, tais como bengalas, mule-
tas, e andadores, a equipamentos de alta tecnologia, como sintetizadores de voz ou aparelhos
para surdez. (BRUMMEL-SMITH e DANGIOLO, 2009). Em outras palavras, Leung et al.
(2009) afirmam que TA pode ser tão complexo, como uma comunicação informatizada ou tão
simples quando a incorporação de alças em utensílios de cozinha.
A ADA também divide as TAs em onze categorias: auxílio para a vida diária e vida prática,
comunicação aumentativa e alternativa, recursos de acessibilidade ao computador, sistemas de
controle de ambiente, projetos arquitetônicos para acessibilidade, órteses e próteses, adequa-
ção postural, auxílios de mobilidade, auxílios para cegos ou para pessoas com visão subnor-
mal, auxílios para pessoas com déficit auditivo e adaptações em veículos. (BERSCH, 2008).
Bersch e Tonolli (2006) explicam que a TA “visa melhorar a funcionalidade de pessoas com
deficiência” e advertem que funcionalidade não é apenas a habilidade em realizar tarefas. Os
autores afirmam que, a fim de compreender e explicar a incapacidade e a funcionalidade pro-
puseram-se vários modelos conceituais: médico (considera a incapacidade como um problema
que requer tratamento de saúde), social (considera a questão como um problema de integra-
ção) e a biopsicossocial (busca a integração dos modelos anteriores).
Os referidos autores argumentam que o modelo de intervenção deve ser biopsicossocial e diz
respeito à intervenção em: funções e estruturas do corpo (deficiência), atividades e participa-
ção (limitações) e fatores contextuais (ambientais e pessoais).
Tais recomendações têm relação com a aceitação do produto por parte do usuário. Nesse sen-
tido, Phillips e Zhao (1993) pesquisaram quais as maiores causas do abandono de TA pelos
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deficientes: falta de consideração pela opinião dos usuários, aquisição fácil do produto, baixo
desempenho do produto e mudanças nas necessidades dos usuários.
O conceito do parapodium desenvolvido e apresentado neste trabalho pode ser classificado
como um produto que visa à adequação postural, auxílios de mobilidade e auxílio para a vida
diária e vida prática. Deste modo, alinha-se com alguns tipos de TA da categorização exposta.
4. Desenvolvimento de Produtos
O Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP) são as atividades e decisões que envol-
vem o projeto de um novo produto ou serviço, ou a melhoria em um já existente. Este proces-
so inicia-se desde a identificação dos desejos dos clientes, passando pelas especificações de
soluções técnicas, lançamento, até a retirada do produto no mercado. (BACK, 1983; PAHL et
al., 2005; ROZENFELD et al., 2006; SALGADO et al, 2010).
Muitas metodologias de projeto foram criadas ao longo do tempo, sugerindo formas diferentes
de desenvolvimento de produtos. Neste campo de pensamento é possível encontrar diversas
correntes, tais como o desenvolvimento sequencial, simultâneo e integrado, bem como abor-
dagens novas como o desenvolvimento lean e o eco-design. (ROZENFELD et al., 2006).
Por conta desta variedade, nos últimos anos uma atenção maior tem sido dada à construção de
modelos de PDP. Eles são a junção das melhores práticas num processo de desenvolvimento,
representadas de uma maneira perceptível às equipes. Muitos modelos já foram desenvolvi-
dos, pois a depender do segmento do produto e da estrutura organizacional, haverá alterações.
Usualmente os modelos de referência dividem o PDP em fases. Essa divisão é uma forma de
lidar com o complexo processo de desenvolvimento e propondo estabelecer pontos de contro-
le para garantir o aumento da eficácia do projeto. (ROMEIRO et al, 2009).
Um modelo de referência em destaque na literatura é o proposto por Rozenfeld et al (2006). O
PDP sugerido (Figura 1) abarca desde a ideia inicial, o levantamento de informações do mer-
cado e de potencialidades tecnológicas, estratégias da empresa, projeto, prototipagem e homo-
logação de produtos que atendam aos clientes, no tempo ideal e a um custo aceitável.
O modelo apresentado na Figura 1 compreende três macroprocessos: pré-desenvolvimento
(identificação a oportunidade), desenvolvimento (projeto do produto e processo) e pós-
desenvolvimento (onde é verificado o seu desempenho), além dos processos de apoio: geren-
ciamento de mudanças e melhoria do PDP.
Devido o grau de aceitação na comunidade acadêmica, este modelo foi utilizado como base
para o desenvolvimento do parapodium, com as devidas adaptações e simplificações inerentes
à simplicidade do produto e à proposta de desenvolver apenas um conceito. Assim, nos subtó-
picos que se seguem, são apresentados os temas utilizados no decorrer deste trabalho
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Figura 1 – Modelo de desenvolvimento de produtos
Fonte: Rozenfeld et al. (2006)
4.2 Pesquisa Tecnológica
Tecnologia é entendida como um conjunto de conhecimentos técnicos, ordenados cientifica-
mente, que permitem projetar e criar bens e serviços que facilitam a adaptação ao meio ambi-
ente e visam satisfazer as necessidades essenciais e o desejo das pessoas.
Rozenfeld et al. (2006) indicam que no planejamento estratégico de produtos (Figura 1) deve
ser realizado uma pesquisa tecnológica com a finalidade de entender quais são as tendências.
Segundo os autores, há diversas fontes para tal pesquisa tais como bases de dados de patentes,
produtos concorrentes, institutos de pesquisa ou universidades.
Baxter (2000) indica que a análise dos produtos concorrentes objetiva: descrever como os
produtos existentes concorrem com o novo produto previsto, avaliar as oportunidades de ino-
vação e fixar as metas do novo produto. Tal análise comumente utiliza a engenharia reversa.
O autor afirma ainda que empresas inovadoras realizam análises sistemáticas dos produtos
disponíveis no mercado, mantendo até mostruários, para identificar tendências tecnológicas.
Quando o desejo por inovação é maior, a empresa a busca em artigos, patentes ou investe em
P&D. Rozenfeld et al. (2006) indicam que, após a coleta de dados, as informações precisam
ser analisadas, usualmente a partir da construção de cenários.
4.3 Projeto Conceitual
Segundo Rozenfeld, et. al. (2006), a fase do projeto conceitual é a busca, criação, representa-
ção e seleção de soluções para o projeto. Tal busca pode ser feita pela observação de produtos
concorrentes ou similares. O processo de criação é livre de restrições, porém direcionado pe-
los requisitos do cliente e auxiliado por métodos de criatividade.
Segundo os autores, a fase conceitual é iniciada com uma modelagem funcional do produto.
Warell (2001) apresenta uma metodologia em que são explicitadas funções técnicas (estrutu-
rai e operativas) e interativas (ergonômicas e comunicativas).
Após isso, são buscadas as soluções para cada função através da matriz morfológica. Este é
um método que busca encontrar a melhor solução para cada função do produto (visão cartesi-
ana) e a melhor solução total (visão sistêmica).
Nesta fase também são definidos os aspectos semânticos do produto, diretamente relacionados
com sua estética e ergonomia. É, também, o estudo das qualidades das formas no contexto
cognitivo e social e a aplicação do conhecimento aos objetos de desenho industrial.
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Segundo Baxter (2000), a ergonomia tem por objetivo entender as relações entre as pessoas,
os artefatos e o meio-ambiente, usando conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia,
direcionando isto ao projeto de objetos. Por fim, a representação das soluções pode ser feita
por meio de esquemas, croquis ou desenhos.
5. Método
Este trabalho pode ser classificado, quanto aos fins, em aplicado (devido seu valor prático) e
intervencionista (ligado à mudança da realidade), e, quanto aos meios, é um estudo de caso,
pois procura conhecer profundamente uma realidade. (VERGARA, 1997).
A partir desta classificação e da revisão da literatura foi possível conceber um método para o
projeto do produto, sendo realizado em três fases: (1) conhecimento da realidade do portador
de PC, (2) identificação dos produtos existentes no mercado, bem como seus pontos fracos e
fortes, e (3) desenvolvimento de um novo conceito de parapodium.
Na primeira fase realizaram-se visitas à família da criança portadora de PC. Nestas oportuni-
dades entrevistaram-se pais e cuidadores e foram feitas observações in loco das dificuldades
enfrentadas. Afora isto, os pais da criança mantém um blog onde foram obtidas informações
sobre o dia-a-dia da criança com PC. Um dos resultados desta etapa foi a identificação do
produto a ser desenvolvido: o parapodium.
Posteriormente, foram identificados por meio de pesquisas em websites os tipos de produtos
disponíveis no mercado, suas características, pontos positivos e negativos. Foi realizada, ain-
da, uma pesquisa de patentes no INPI e Google Patents. Nesta pesquisa foram encontrados
cinco tipos de parapodium e apenas uma patente (US 4.296.761) de 1981.
Por fim, foi elaborado um projeto conceitual de um parapodium a ser construído predominan-
temente de tubos de PVC. Para tal, fizeram-se uso de reuniões de projeto com sessões de bra-
instorming, uso de softwares CAD (AutoCAD 2010), chegando à elaboração de um protótipo
virtual do produto. Nos próximos tópicos são apresentados os resultados desse trabalho.
6. Desenvolvimento do Parapodium de PVC
No Desenvolvimento de Produtos, de modo geral, não deve existir uma metodologia rígida,
mas uma metodologia adequada a cada realidade específica. Além disso, um dos segredos de
um bom projeto de produto é garantir a minimização das incertezas através da qualidade das
informações coletadas sobre a realidade de mercado e tecnológica envolvida.
Deste modo, com o objetivo desenvolver um novo conceito, foi realizada uma pesquisa tecno-
lógica sobre parapodium e uma pesquisa a respeito da realidade de crianças portadoras de PC.
Após isso, foi possível ter um ponto de partida para o novo produto, definir suas funções, en-
contrar soluções e apresentar o novo conceito.
6.1 Pesquisa Tecnológica
Na Pesquisa Tecnológica realizada, a partir de buscas em sítios na internet especializados,
foram identificados diversos tipos de parapodium. Na Tabela 1 são apresentados alguns tipos
do equipamento citado e suas características, pontos fortes e fracos.
Produto Identificado Características Pontos fortes e fracos
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(a) Parapodium de madeira - construído
de madeira, com base para o tronco
acolchoada e a sustentação por fitas. A
mesa de atividades possui bordas para
dificultar a queda de objetos e permite
o ajuste de altura. Na base há rodízios
para o deslocamento.
Pontos Fortes: Segurança do
usuário.
Pontos Fracos: Produto pesa-
do e manutenção especializa-
da.
(b) Parapodium de aço-carbono - prin-
cipal material são tubos de aço carbo-
no. Possui rodízios e mesa de ativida-
des ajustável e removível, faixas ajus-
táveis de sustentação (quadril, tronco e
joelhos) e encostos acolchoados.
Pontos Fortes: Produto leve e
alta resistência do material.
Pontos Fracos: Custo alto.
(c) Parapodium de tubo e com mesa
reclinável - estruturada por tubos metá-
licos, possui mesa de atividade com
altura regulada, apoio para os pés em
MDF. Possui faixas de sustentação
ajustáveis (tronco, quadril e joelho).
Pontos Fortes: a mesa de ati-
vidades com ajuste de altura e
de inclinação.
Pontos Fracos: Custo alto
(d) Parapodium de PVC sem mesa -
construído na sua maior parte de tubos
e conexões de PVC e base em deriva-
dos de madeira (MDF).
Pontos Fortes: Baixo custo,
facilidade de montagem e
manutenção.
Pontos Fracos: resistência do
material de construção, au-
sência de mesa de atividades.
(e) Parapodium de PVC com mesa de
atividades - construído prioritariamen-
te de tubos e conexões de PVC e mesa
em MDF.
Pontes Fortes: Baixo custo,
facilidade de manutenção e
montagem.
Pontos Fracos: Pouca resis-
tência e ausência de ajuste da
altura da mesa e rodízios.
Fonte: (a) http://imoveis.culturamix.com/moveis/parapodium; (b) http://www.casaortopedica.com.br; (c)
http://www.viareabilitacao.com.br; (d) http://www.fcee.sc.gov.br; (e) http://www.fcee.sc.gov.br
Tabela 1 – Identificação de alguns tipos de parapodium existentes no mercado
6.2 Modelagem Funcional
Na modelagem funcional do parapodium, a função principal do produto foi decomposta em
funções menores. A primeira função é auxiliar a criança na manutenção da postura bípede de
forma simétrica para garantir a integridade dos tecidos. Estas funções foram decompostas
conforme as proposições de Warell (2001), estando apresentadas no Quadro 1.
Funções Técnicas Funções Interativas
Funções Estruturais Funções Operativas Funções Ergonômicas Permitir apoio para os pés Possibilitar trabalho com os mem-
bros superiores apoiados
Sustentar a Criança com PC, per-
mitindo manter a postura correta
Impedir o cruzamento involuntário
das pernas
Possibilitar deslocamentos realiza-
dos pela criança
Quadro 1 – Modelagem Funcional do Produto
Fonte: Elaboração Própria
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Estas funções permitirão o projeto de um parapodium que possibilite a uma criança com PC
usufruir aos benefícios que um equipamento como este oferece a baixo custo, sendo conside-
rada a facilidade de fabricação e manutenção, sem dispensar o conforto e a segurança.
6.3 Desenvolvimento das alternativas de solução
Para cada uma das funções elencadas no Quadro 1 foram buscadas alternativas de solução
com base na pesquisa tecnológica que foi realizada anteriormente. O resultado deste trabalho
de busca está apresentada na Matriz Morfológica (Quadro 2).
Após serem verificadas estas alternativas de soluções, foi selecionada a alternativa apresenta-
da na primeira coluna no Quadro 2.
FUNÇÕES ALTERNATIVAS DE SOLUÇÕES
1 2 3
Sustentar a criança, per-
mitindo a manutenção de
uma postura correta
Alças acolchoadas simi-
lares às cadeirinhas au-
tomotivas para bebês
Correias ou faixas para
contenção do tronco
Alças acolchoadas simi-
lares as de cadeirinhas de
bebê automotivas
Possibilitar trabalho com
os membros superiores
apoiados
Mesa de atividades Suporte para braços Mesa de atividades
Permitir um apoio está-
vel para os pés
Tapete antiderrapante
similar ao usado em
banheiros
Tapetes emborrachados
utilizados em automóveis
Tapetes emborrachados
utilizados em automóveis
Impedir o cruzamento
involuntário das pernas
Correias
Divisória em madeira
envolvida com espumas Almofada
Possibilitar deslocamento
realizado pela criança
Pequenas rodas na base,
com travas
Rodas similares a de
bicicletas de crianças
Roletes
Quadro 2 – Desenvolvimento de Alternativas de Soluções Globais
(Fonte: Elaborados pelos autores)
6.4. Arquitetura, ergonomia e estética do produto
O tipo de arquitetura empregada no produto em desenvolvimento é classificado como modu-
lar, pois cada componente desempenha poucas funções. (ROZENFELD et al., 2006). Visão
compartilhada por Baxter (2000), que acrescenta que a melhor arquitetura modular é quando
cada parte funcional é realizada por um bloco físico. A mesa de atividades é um exemplo,
pois tem apenas a função de possibilitar trabalhos com os membros superiores apoiados.
No caso do desenvolvimento deste produto, a fim de possibilitar que ele seja ergonomicamen-
te correto, foram realizadas medições de uma criança já citada e construído um modelo antro-
pometricamente adequado utilizando softwares CAD (AutoCAD 2010).
Este modelo foi confeccionado em duas posições, sendo a primeira em pé (Figura 2) e a se-
gunda sentada, ambas com braços apoiados na mesa de atividades. Isto porque o parapodium
desenvolvido possibilita a alternância de posições, sendo necessário para isto colocar ou reti-
rar o assento removível e ajustar a altura da mesa, inserindo ou retirando conexões de PVC.
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Figura 2 – Modelo de criança com PC em pé
Fonte: Elaboração Própria
Aplicando os princípios de ergonomia no produto, foram seguidas recomendações observadas
em Slack et al. (2002), referentes inicialmente para serem aplicadas no ambiente de escritório,
mas que foi considerado como compatível com os casos de usuários com PC, tais como: pos-
sibilitar que os antebraços fiquem aproximadamente na horizontal, possibilitar bom apoio
lombar, evitar excesso de pressão sobre as coxas e atrás dos joelhos, além disto, foram respei-
tadas a área normal e máxima de trabalho, considerando os aspectos antropométricos da usuá-
ria.
Para Rozenfeld et al. (2006), a estética do produto, se relaciona a tudo aquilo que o consumi-
dor considera na apresentação (aparência, formas, superfícies e cores). No caso do parapodi-
um deste trabalho, o que mais foi considerado era um produto que o responsável pelo usuário
com PC, não julgasse que suas dimensões, servissem de obstáculo para as pessoas que transi-
tam no mesmo local onde o equipamento seria localizado.
Estas informações foram vitais para a elaboração de um protótipo virtual do produto (Figura
3), que foi elaborado através do AutoCAD 2010.
(a) (b) (c)
Figura 3 – Diversas vistas do protótipo virtual do parapodium
Fonte: Elaboração Própria
Para a elaboração deste Protótipo Virtual, após a identificação e medição do usuário modelo,
foi realizada a modelagem em 3D das peças de PVC (Figura 4). Foi comprado um exemplar
de cada peça – luva, curva 90º, bocal de ligação, tubo; conexão “T” e cruzeta, conforme Figu-
ra 4 – e realizadas medições que serviram de apoio para a confecção do protótipo.
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(a) (b) (c) (d) (e) (f) Figura 4 – Material construtivo de PVC do parapodium Virtual
Fonte: Elaboração Própria
Quanto às peças de madeira ou material similar, foi realizada uma pesquisa, identificando as
espessuras disponíveis no mercado. Na Figura 5a é apresentada a mesa de atividades, que
possui um anteparo em suas margens para dificultar a queda de objetos; na Figura 5b, o assen-
to que será retirado no momento em que a criança ficar de pé; e, na Figura 5c, a base para os
pés que poderá ser retirada para o usuário ter acesso ao chão.
(a) (b) (c)
Figura 5 – Material construtivo de madeira do parapodium virtual
Fonte: Elaboração Própria
Neste projeto todas as peças constantes na Figura 5 são removíveis. Quando todas elas são
removidas o equipamento fica como está descrito na Figura 6, representando a estrutura pro-
priamente dita, encosto e alças.
Figura 6 – Parapodium virtual sem as partes de madeira ou similar
Fonte: Elaboração Própria
As Figuras 3 e 6 apresentam o protótipo virtual do parapodium feito predominantemente de
PVC. Neste conceito, buscaram-se atender todas as funções desejadas pelo público-alvo,
quais sejam: permitindo a manutenção de uma postura correta, possibilitar trabalho com os
membros superiores apoiados, permitir um apoio estável para os pés, impedir o cruzamento
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involuntário das pernas e possibilitar deslocamento realizado pela criança. Além disso, consi-
dera-se que tais requisitos foram atendidos dentro de patamares de melhoria de custo.
7. Considerações Finais
Ampliar a capacidade das pessoas com alguma deficiência é o que se propõe com a TA, bus-
cando aperfeiçoar a funcionalidade dos indivíduos com deficiência. O volume de produtos
com este conceito vem aumentando muito, mas continuam sendo de difícil acesso, devido ao
seu custo. Entretanto, o uso da criatividade e de materiais como o PVC tenta a reduzir o custo
de equipamentos como o parapodium.
Foi apresentado neste trabalho uma das maneiras que pode ser realizado o projeto conceitual
de um parapodium de baixo custo construído predominantemente com tubos e conexões de
PVC. Isto foi possível a partir de pesquisas e análises de alguns produtos que já havia no mer-
cado, o que deu suporte para a realização da modelagem funcional e para o desenvolvimento
das alternativas de solução, culminando da elaboração de um protótipo virtual.
Finalmente, ressalta-se a necessidade de avaliar a eficácia do produto através do seu projeto
detalhado, construção do protótipo e testes. Entretanto, um entrave para a avaliação é o fato
do usuário não conseguir expressar opiniões. Neste caso, sugere-se a busca de parâmetros que
permitissem avaliar os efeitos cognitivos da utilização do parapodium em um portador de PC.
Referências
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