Desenvolvimento e Caracterização de um dispositivo à base ... · compósitos utilizados para...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS
INSTITUTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
CAMPUS AVANÇADO DE POÇOS DE CALDAS
KARINE CAPPUCCIO DE CASTRO
Desenvolvimento e Caracterização de um dispositivo à base de
Quitosana e Colágeno para potencial aplicação como substituto ósseo
Poços de Caldas
2015
1
KARINE CAPPUCCIO DE CASTRO
Desenvolvimento e Caracterização de um dispositivo à base de
Quitosana e Colágeno para potencial aplicação como substituto ósseo
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao curso de Engenharia Química da
Universidade Federal de Alfenas, Campus
avançado de Poços de Caldas.
Orientadora: Profa. Dra. Maria Gabriela
Nogueira Campos.
Poços de Caldas-MG
2015
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, que me concedeu o dom da sabedoria, para que fosse
possível a realização com êxito deste trabalho.
A minha orientadora Professora Maria Gabriela Nogueira Campos, pela amizade
durante todos esses anos, pela dedicação, orientação, confiança e conhecimento
compartilhado.
Ao Msc. Guilherme Maia Mulder Van de Graaf pela colaboração e realização dos
ensaios mecânicos.
Enfim, a todos que contribuíram direta ou indiretamente, para realização deste
trabalho.
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RESUMO
Biopolímeros como quitosana e colágeno apresentam excelente biocompatibilidade e podem
ser utilizados na remodelação do tecido ósseo. Os substitutos ósseos devem apresentar
resistência mecânica e alta compatibilidade com tecido original. O colágeno é a proteína mais
abundante no tecido ósseo, seu uso como biomaterial é extremamente favorável devido a suas
propriedades físico-químicas. A quitosana apresenta interessantes propriedades biológicas:
biodegradabilidade e atividades hemostáticas, fungistática e antitumoral. O glutaraldeído é um
agente reticulante capaz de interligar as cadeias de quitosana e colágeno, criando uma
estrutura tridimensional que favorece o crescimento de células. Neste contexto, o objetivo
deste trabalho foi formular um dispositivo a base de quitosana, colágeno e fosfato de cálcio
para aplicação como substituto ósseo. A adição de fosfato de cálcio à rede polimérica cria um
compósito com a força e flexibilidade dos polímeros e a resistência e dureza do mineral. O
dispositivo foi caracterizado quanto às propriedades mecânicas (resistência à compressão,
deformação relativa e módulo de elasticidade); química, através da técnica de espectroscopia
na região do infravermelho (FTIR), utilizada para identificar os grupos funcionais e confirmar
a reação de reticulação; e térmicas, pelas análises termogravimétrica e de calorimetria
diferencial exploratória, a fim de verificar as temperaturas características do material e as
perdas de massa envolvidas, respectivamente. Pela análise de FTIR foi possível observar um
pico característico relativo à reticulação de quitosana e colágeno. As análises de DSC e TG
mostraram duas faixas de temperaturas relativas à perda de massa o que era esperado para este
tipo de dispositivo na faixa de varredura realizada. O ensaio mecânico de compressão
forneceu módulo de elasticidade igual a 239,25±78,37 MPa e tensão máxima de -4,33±0,95
MPa o que se compara com alguns substitutos ósseos comerciais e com dispositivos
semelhantes ao estudado.
Palavras-chave: Quitosana. Colágeno. Fosfato de Cálcio. Tecido Ósseo. Regeneração.
6
ABSTRACT
Biopolymers, such as chitosan and collagen, have excellent biocompatibility and can be used
for bone remodeling. Bone substitutes must have mechanical strength and high compatibility
with original tissue. Collagen is the most abundant protein in bone tissue and its use as
biomaterials is extremely favorable due to the physicochemical properties of collagen.
Chitosan has interesting biological properties, such as biodegradability and hemostatic,
fungistatic and antitumor activities. Glutaraldehyde is a cross-linking agent capable of linking
chitosan and collagen chains, creating a three-dimensional structure, which favors the growth
of cells. In this context, the aim of this study was to formulate a chitosan, collagen and
calcium phosphate-based device for potential application as bone substitutes. The addition of
calcium phosphate to the polymeric network creates a composite with polymer’s strength and
flexibility and mineral’s hardness. The device was characterized by mechanical properties
(compressive strength on deformation and modulus of elasticity); by chemical composition,
using spectroscopy technique (FTIR) in order to identify the functional groups and confirm
the crosslinking reaction; and by thermal behavior, using thermogravimetric and differential
scanning calorimetry analyses, in order to verify characteristics temperatures of the material
and mass losses involved, respectively. By FTIR analysis, it was possible to observe a
characteristic peak relating to the crosslinking of chitosan and collagen. DSC and TG analyses
showed two temperature ranges for the weight loss that were expected for this type of device
in the studied scanning range. Mechanical tests provided an elastic modulus equal to
239.25±78.37 MPa and maximum straining of -4.33±0.95 MPa, which are comparable to
some commercial bone substitutes and other similar studied devices found in the Literature.
Keywords: Chitosan. Collagen. Calcium Phosphate. Bone Tissue. Regeneration.
7
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 8
2 OBJETIVOS ............................................................................................................... 11
2.1 GERAL ................................................................................................................. 11
2.2 ESPECÍFICOS....................................................................................................... 11
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................... 12
3.1 COLÁGENO ......................................................................................................... 12
3.2 QUITOSANA ........................................................................................................ 14
3.3 FOSFATO DE CÁLCIO ........................................................................................ 15
3.4 TECIDO ÓSSEO ................................................................................................... 15
3.5 PROPRIEDADE MECÂNICA DOS OSSOS ......................................................... 16
3.6 SUBSTITUTOS OSSÉOS COMUNMENTE UTILIZADOS ................................. 17
4 MATERIAIS E MÉTODOS ....................................................................................... 20
4.1 PREPARO DO DISPOSITIVO .............................................................................. 20
4.2 INFRAVERMELHO (FTIR) ................................................................................. 20
4.3 TESTE DE RESISTÊNCIA MECÂNICA .............................................................. 21
4.4 ANÁLISE TÉRMICA............................................................................................ 21
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................... 22
5.1 ANÁLISE MACROSCÓPICA .............................................................................. 22
5.2 FTIR ...................................................................................................................... 22
5.3 ANÁLISE TÉRMICA............................................................................................ 24
5.4 RESISTÊNCIA MECÂNICA ................................................................................ 25
6 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 30
8
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, um dos maiores problemas da ortopedia é a perda do tecido ósseo,
causados por acidentes ou doenças. Na busca de soluções para reconstrução de tecidos ósseos
os cientistas têm utilizado de enxertos (1).
Os enxertos autólogos (aloenxertos) estão dentre os mais utilizados, uma vez que
apresentam células osteogênicas e fatores de crescimento adequados a osteogênese por serem
enxertos provenientes do próprio indivíduo. Porém esses são restritos devido às diversas
complicações provocadas no local de retirada do osso (1).
Os enxertos heterólogos (xenoenxertos) têm sido bastante utilizados, esses enxertos são
obtidos de espécies distintas, desta forma são de fácil obtenção e se apresentam em grandes
quantidades. Todavia esses enxertos podem provocar contaminação e/ou rejeição (1).
Devido às restrições provocadas pelos enxertos autólogos e heterólogos, os enxertos
homólogos (homoenxerto) têm sido utilizados, esses enxertos são obtidos de indivíduos da
mesma espécie e tem como objetivo a diminuição dos sintomas pós-operatórios da enxertia
autógena. No entanto esses enxertos podem trazer riscos como os de transmissão de doenças,
reações imunológicas e infecções (1).
Nesse sentido a busca de biomateriais, como quitosana e colágeno, para este fim tem
sido altamente estudada, pois são substâncias ou combinações de substâncias utilizadas para
melhorar ou substituir qualquer tecido, órgão ou função.
Os dois materiais mencionados acima são derivados de fontes naturais e têm
características que os tornam um atrativo na medicina regenerativa, os fatores que tornam
esses materiais especiais incluem a compatibilidade com o implante e a capacidade de ser
degradado ao longo do tempo. O Colágeno do tipo I é a principal proteína estrutural de muitos
tecidos e contém uma variedade de locais bioativos que promovem a ligação de células e
regulam a diferenciação celular (2).
A quitosana tem sido explorada por causa da sua elevada adesividade e de suas
propriedades antibacterianas. O compósito destes materiais foi explorado porque eles
oferecem a oportunidade de integrar os benefícios de cada componente, aumentando a rigidez
mecânica de andaimes e induzindo a diferenciação osteogênica de células estaminais da
medula óssea, relativa a qualquer componente puro (2).
Desta forma a utilização da quitosana como biomaterial se justifica devido às suas
diversas propriedades, dentre elas destacam-se a biocompatibilidade e biodegrabilidade. O
uso do colágeno por sua vez se torna bastante pertinente para regeneração óssea, visto que o
9
tecido conjuntivo possui em torno de 85% de colágeno, o que favorece o desempenho dos
compósitos utilizados para correção de falhas, além de suas favoráveis propriedades. Já o
fosfato de cálcio é o componente principal do osso (hidroxiapatita), responsável
principalmente pela resistência mecânica do tecido ósseo (2).
A utilização de ácido cítrico e glucose na composição têm como objetivo aumentar a
resistência mecânica do dispositivo. Liu et al. demonstraram em seus estudos que a resistência
a compressão de dispositivos para substituição óssea aumentou devido à maior concentração
desses componentes (3). Além disso, o ácido cítrico pode oferecer maior cicatrização e
adesividade óssea e quando associado com a glucose funcionam como anticoagulante
sanguíneo (4).
A reticulação, ou seja, a ligação cruzada entre moléculas produzindo estruturas
tridimensionais com alta massa molar, também é uma alternativa para aumentar a resistência
mecânica dos materiais. De acordo com os grupos funcionais reativos disponíveis para a
reticulação, agentes reticuladores podem ser usados para unir as moléculas. Entretanto, o uso
de agentes reticuladores, que são moléculas altamente reativas, pode promover a reação de
diferentes grupos funcionais/moléculas (5). O glutaraldeído é um dialdeído saturado bastante
usado na reticulação de polímeros, devido a sua dupla funcionalidade. Na Figura 1 estão
representadas as fórmulas estruturais de todos os compostos e os grupos funcionais passíveis
de reticulação com glutaraldeído estão destacados em vermelho. Entretanto, espera-se que a
reticulação entre as cadeias de quitosana e colágeno seja favorecida, devido a reatividade dos
amino-grupos presentes em ambos polímeros.
10
Figura 1 – Possíveis interações entre os compostos e o agente reticulante.
Fonte: Autora.
11
2 OBJETIVOS
2.1 GERAL
Preparar e caracterizar um dispositivo à base de quitosana, colágeno, fosfato de cálcio,
glucose e ácido cítrico, para substituição de tecido ósseo.
2.2 ESPECÍFICOS
Reticular a quitosana e o colágeno utilizando glutaraldeído como agente reticulador;
Caracterizar o dispositivo quanto ao comportamento mecânico através de ensaio de
Tensão x Deformação;
Identificar os grupos funcionais presentes no dispositivo através da técnica de
espectroscopia na região do infravermelho;
Analisar a estabilidade térmica do dispositivo através das técnicas de calorimetria
diferencial de varredura e termogravimetria.
12
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O osso é um tecido altamente vascularizado e dinâmico, que tem extraordinárias
propriedades mecânicas e de capacidade de regeneração intrínseca. Nas últimas duas décadas
a engenharia de tecidos ósseos tem sido desenvolvida como um método alternativo para o
tratamento de deterioração deste tecido (6).
Este trabalho focou no uso do colágeno (a proteína mais abundante da matriz
extracelular), quitosana (um polissacarídeo natural estruturalmente semelhante aos
glicosaminoglicanos) e fosfato de cálcio que é capaz de promover a osteogênese e melhorar a
regeneração óssea através de um processo que envolve a dissolução e absorção, como
componentes principais para o desenvolvimento de matrizes com potencial aplicação como
substitutos ósseos (7).
Na produção destes sistemas compostos têm sido utilizados diferentes métodos de
reticulação, tais como a reticulação química ou física. Dentre elas, o glutaraldeído é um dos
mais utilizados agentes reticulantes para reagir os grupos –OH e –NH2 da quitosana e do
colágeno (6).
3.1 COLÁGENO
O colágeno é a proteína mais abundante em vertebrados e está presente principalmente
nos ossos, pele e tendões. Seu uso industrial é de especial interesse devido à grande
disponibilidade desta matéria-prima no Brasil, um dos grandes produtores mundiais de gado
bovino (8).
Este biomaterial, misturado ao fosfato de cálcio, é considerado com um bom substituto
ósseo, que pode ser combinado com o osso medular aspirado do local da fratura. As diferentes
organizações de fibras de colágeno (Figura 2) têm como consequência às diferentes
propriedades do tecido conjuntivo (9).
Esta proteína tem como principal finalidade a formulação de fibras insolúveis,
modulação das forças internas e externas exercidas no organismo, estrutura e orientação de
tecidos em desenvolvimento.
13
Figura 2 – Representação esquemática do arranjo das moléculas de colágeno em estruturas
fibrilares e de fibras.
Fonte: Moreira (2014) (10).
Como biomaterial o colágeno apresenta características bastante significativas, tais
como baixa irritabilidade, biodegrabilidade, biocompatibilidade, interação com plaquetas,
ativa o processo de coagulação sanguínea, promove o crescimento celular e ainda são
susceptíveis a modificações químicas, essas propriedades conferem a esse biomaterial
inúmeras aplicações.
O colágeno do tipo I vem despertando bastante interesse para engenharia de tecidos,
isso porque ele é a glicoproteína extracelular mais abundante no tecido ósseo, além de possuir
alta similaridade da sequência de aminoácidos entre as diversas espécies, alta estabilidade
conformacional e capacidade de suportar a adesão e proliferação celular (10).
Apesar das propriedades do colágeno serem favoráveis para sua utilização como
biomaterial, seu uso é limitado devido a sua baixa resistência mecânica. Dessa forma, se faz
necessário o estabelecimento de ligações cruzadas no material, tal procedimento geralmente é
realizado com o uso de glutaraldeído, porém é possível estabelecer esse tipo de ligação
através da produção de compósitos, como com a quitosana por exemplo. Neste caso, as
interações eletrostáticas são estabelecidas entre os grupos amino da quitosana e os grupos
carboxila do colágeno, o que estabiliza a estrutura do material e resulta em uma matriz com
propriedades mecânicas adequadas para utilização como ―scaffold‖ (Matriz (material poroso)
para crescimento, promove a estabilidade mecânica para a proliferação tridimensional das
células, serve como um suporte para o desenvolvimento do tecido) (11, 12).
14
3.2 QUITOSANA
A quitosana como sendo um polissacarídeo derivado da quitina é tradicionalmente
usada nos países orientais para o tratamento de queimaduras e cicatrização de feridas. A
quitosana foi isolada em 1859 pelo aquecimento da quitina em solução concentrada de
hidróxido de potássio, resultando na sua desacetilação. Pode ser encontrada naturalmente na
parede dos fungos, especialmente nas espécies do gênero Mucor. A maior fonte disponível de
quitosana é a partir da desacetilação alcalina da quitina (Figura 3) (13).
Figura 3 – Esquema da reação de desacetilação alcalina da quitina para obtenção da quitosana.
Fonte: Moreira (2014) (10).
Atualmente esse biomaterial tem sido altamente empregado na substituição do tecido
ósseo, Fakhry, Schneider, Zaharias, e Senel constataram que a quitosana apresentou maior
fixação e disseminação das células nos osteoblastos em relação aos fibroblastos. Mesmo com
os bons resultados obtidos no emprego deste material, ainda existe uma necessidade de
melhorar a sua afinidade pelo tecido ósseo e o desempenho das propriedades mecânicas (14).
A quitosana apresenta propriedades antimicrobianas e estimulantes do sistema imune,
as quais são manifestadas na aceleração de cicatrização (13). Outras propriedades que estão
presentes na quitosana incluem: inibição de células tumorais, efeito antifúngico,
imunomoduladora, estrutura cristalina altamente organizada, como comprovada por difração
de raios-X, baixa reatividade química, atividade antiácida e antiúlcera, ação hemostática,
hipocolesterolêmica e suas características físico-químicas como biodegrabilidade,
biocompatibilidade e bioatividade (9). As propriedades da quitosana dependem do seu grau de
desacetilação.
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3.3 FOSFATO DE CÁLCIO
Fosfato de cálcio é o nome dado a um grupo de minerais que contém íons de cálcio
(Ca2+
) juntamente com ortofosfatos (PO43-
), metafosfatos ou pirofosfatos (P2O74-
) e
ocasionalmente hidrogênio ou íons de hidróxido. Sua fórmula molecular é Ca3(PO4)2.
Os ―cimentos de fosfato de cálcio‖ (CPC) são materiais constituídos por um pó e um
líquido, os quais, ao serem misturados, formam uma pasta que endurece espontaneamente à
temperatura ambiente ou corporal como resultado da precipitação de um ou vários fosfatos de
cálcio (15, 16).
As características que determinam os CPC como biomateriais atrativos para a
reconstituição ou remodelação óssea, são a facilidade de manipulação e moldagem, sem ter de
dar forma prévia ao implante, adaptando-se totalmente à forma da cavidade óssea, obtendo
um íntimo contato entre o osso e o cimento desde os primeiros estágios da implantação; não
aquecem durante o processo de endurecimento, evitando a necrose tecidual no sítio de
implantação (17, 18).
Os CPCs têm sido amplamente utilizados como substitutos ósseos em aplicações
clínicas, seu uso se tornou interessante devido a sua boa biocompatibilidade, auto-definição e
suas propriedades de osteocondução (19).
3.4 TECIDO ÓSSEO
O tecido ósseo é uma forma especializada de tecido conjuntivo, onde a matriz
extracelular é mineralizada, esse é constituído por mais de 200 ossos de tamanho, forma e
composição variáveis. Além de sua função estrutural, que dá forma e rigidez ao corpo, os
ossos são responsáveis pela proteção de órgãos vitais, como o cérebro e órgãos sensoriais;
pela fabricação de células sanguíneas, que ocorre na medula óssea vermelha situada no tecido
esponjoso e pela homeostase que ajuda manter constante o nível de cálcio no sangue. O tecido
ósseo tem uma grande capacidade de remodelação, renovando-se constantemente para
responder às necessidades metabólicas do corpo e a manutenção da estabilidade da calcemina.
Vale ressaltar que tecido ósseo é formado por células e um material intercelular
calcificado, a matriz óssea. As células são: 1) osteócitos: situados em cavidades no interior da
matriz; 2) osteoblastos: responsáveis pela produção da parte orgânica da matriz; 3)
16
osteoclastos: células gigantes multinucleadas que auxiliam na reabsorção do tecido ósseo e
que participam dos processos de remodelação dos ossos (20).
Para a criação do tecido substituto, é necessário que um pequeno número de células
seja colhido do paciente e cultivado até que atinjam um número adequado em laboratório.
Essas células são necessárias para a geração do novo tecido pela produção de matriz
extracelular, sendo responsáveis pela manutenção em longo prazo dessa matriz (20).
Em seguida, as células podem ser então expandidas num arcabouço (molde), natural
ou sintético, que forneça estabilidade mecânica em curto prazo e uma organização
tridimensional para a fabricação do tecido. Conforme sejam estabelecidos sinais e condições
adequadas, as células secretarão vários componentes da matriz extracelular possibilitando a
formação de um tecido vivo que poderá ser implantado no sítio defeituoso do paciente. A fim
de se extinguir riscos de rejeição em longo prazo, o arcabouço deve se degradar na medida em
que o tecido substituto se forme (21).
3.5 PROPRIEDADE MECÂNICA DOS OSSOS
O osso é um compósito natural poroso e denso, sua composição não homogênea e
anisotrópica fornece diferentes valores para módulos de elasticidade quando o osso é testado
em variados locais. As propriedades medidas neste tecido serão dependentes da direção
realizada, sendo assim ele apresenta um valor para o módulo no sentido transversal diferente
do valor do módulo no sentido longitudinal. Esses valores diferentes devem-se em parte, a
composição não homogênea e as fibras colágenas que formam diferentes agrupamentos
dependendo do tipo do osso (22).
A propriedade frequentemente utilizada para caracterizar o comportamento mecânico
de substitutos ósseos é resistência à compressão. Para esta aplicação é importante ter em
mente que a força de compressão do osso cortical humano varia entre 90 e 230 MPa, enquanto
que a resistência à compressão do osso esponjoso varia entre 2 e 45 MPa (23).
O módulo de elasticidade é uma grandeza representada pela razão entre a tensão e a
deformação, dentro do limite elástico. A deformação nesta região é totalmente reversível e
proporcional à tensão. O módulo de elasticidade é aplicado tanto na tração quanto na
compressão e, refere-se ao coeficiente angular do gráfico de tensão/deformação obtido no
ensaio (24).
17
A curva da Figura 4 ilustra o comportamento de um material durante o ensaio de
compressão. Esse tipo de ensaio fornece parâmetros mecânicos, tais como, módulo de
elasticidade, tensão máxima e tensão de ruptura do material em estudo.
Figura 4 – Curva Tensão x Deformação.
Fonte: Callister (2000) adaptado pela autora (24).
3.6 SUBSTITUTOS OSSÉOS COMUNMENTE UTILIZADOS
Doenças, tais como osteoporose, e traumas podem causar a perda ou fratura do tecido
ósseo. Tratamento de defeitos ósseos ainda é um desafio para os cirurgiões ortopédicos (25).
O tratamento tradicional nestas circunstâncias especiais são os enxertos ósseos (26). Embora
os auto-enxertos sejam o método padrão-ouro de substituição óssea, eles possuem algumas
desvantagens, tais como complicações no local doador e morbidade (27). Os aloenxertos têm
sido altamente utilizados no tratamento de defeitos. No entanto, as limitações de aloenxertos
incluem potencial transmissão de doenças e reabsorção/rejeição (28). Outra alternativa para a
substituição são os xenoenxertos, mas as suas limitações são semelhantes ao dos aloenxertos.
18
No entanto, além de maior taxa de rejeição, a principal preocupação dos xenoenxertos é a
transmissão de doenças zoonóticas desconhecidas a partir de animais (28, 25).
Para superar os problemas de enxertos de base biológica, enxertos sintéticos têm sido
desenvolvidos devido à sua fonte ilimitada e não transmissão de doenças (29). O enxerto deve
apoiar, reforçar e organizar o tecido a ser regenerado e interagir com componentes da matriz
extracelular, fatores de crescimento e receptores celulares (30, 31). Outras características
desejáveis de enxertos sintéticos são altos potenciais osteoindutores e angiogênicos, segurança
biológica, biodegradabilidade, propriedades mecânicas e custo razoável (29).
Polímero, cerâmica, metal e materiais compósitos têm sido extensivamente estudados
como substitutos de enxertos ósseos (32, 33, 34, 35). Mais ainda, matrizes poliméricas
biodegradáveis têm sido investigadas como substitutos ósseos temporários devido a sua
integração com o tecido em crescimento durante o processo de cicatrização (36).
Na Tabela 1, estão relacionados alguns biomateriais disponíveis comercialmente,
utilizados como substitutos ósseos.
Tabela 1 - Visão geral das propriedades mecânicas.
Grupo Produto Origem Resistência à
compressão (MPa)
Módulo de
Elasticidade (MPa)
Fosfato de Cálcio/
Hidroxiapatita
Cerabone Bovina
4,2-5,6 -
Endobon 1-20 20-3100
Pro-
Osteon Coral 2-4 -
Compósito
Bone
Source
Sintética
6,3-34 3,6-4,7
Biopex 80 -
Cementek 20 -
Calcibon 60-70 -
Calcibon 35-55 2500-3000
HydroSet 14-24 125-240
Norian
SRS 23-55 -
Fosfato Tricálcico Biosorb Sintética 15-150 -
Sulfato de Cálcio MIIG X3
Sintética 0,6 -
OsteoSet 0,6-0,9 59
Vidro Bioativo Cortross Sintética 91-179 6400
Fonte: Van Der Stok et. al. (2011) (37).
19
Martínez et. al. estudou os efeitos causados no módulo de elasticidade após uso de
diferentes agentes reticulantes e diferentes proporções de quitosana (Qui) e colágeno (Col) na
formulação de ―scaffolds”. A Tabela 2 mostra os principais resultados de módulos de
elasticidades obtidos em seu estudo (7).
Tabela 2 – Módulos de Elasticidade (MPa).
Composição
Reticulador 80Qui/20Col 50Qui/50Col 20Qui/80Col
- 0,0045±0,0003 0,0069±0,0008 0,0055±0,0002
EDAC 0,0099±0,0004 0,012±0,001 0,023±0,002
Tripolifosfato de sódio 0,020±0,002 0,0117±0,0007 0,015±0,002
Fonte: Martínez et. al. (2015) (7).
Outros autores como Przekora; Palka; Ginalska obtiveram em seus estudos ―scaffolds”
de Quitosana/Hidroxiapatita com módulo de elasticidade e força de compressão igual a 0,46
MPa e 1,23 MPa, respectivamente. ―Scaffolds” de Quitosana/Glucana/Hidroxiapatita também
foram ensaiadas e apresentaram módulo de elasticidade de 0,25 MPa e força de compressão
de 0,26 MPa (38).
Serra et. al. concluiu através de suas análises de compressão que ―scaffolds”
Quitosana/β-TCP, Quitosana/Gelatina e Quitosana/Gelatina/β-TCP apresentaram uma
resistência a compressão maior que os ―scaffolds” de quitosana, ocasionando uma melhoria
de 0,07 MPa até cerca de 0,12 MPa (6).
De acordo com a literatura os polímeros utilizados para a produção de ―scaffolds”, tal
como a quitosana, apresentam fracas propriedades mecânicas, o que limita a sua
aplicabilidade na engenharia de tecido ósseo. Para superar esta desvantagem, a adição de
fosfato de cálcio em quitosana tem sido utilizada para melhorar as propriedades mecânicas
desses dispositivos. Além disso, vários estudos têm demonstrado que, quando a quitosana é
misturada com outros polímeros, tal como o colágeno, as propriedades mecânicas são também
melhoradas (6).
Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi o estudo das propriedades mecânicas de
um dispositivo a base de quitosana, colágeno e fosfato de cálcio e seu potencial para aplicação
como substituto ósseo.
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4 MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 PREPARO DO DISPOSITIVO
Inicialmente os reagentes apresentados na Tabela 3 foram pesados. O procedimento
consistiu-se na homogeneização de quitosana (alto peso molecular, Sigma-Aldrich), ácido
cítrico (Sigma-Aldrich), colágeno previamente extraído do tendão bovino (CASTRO, et. al.
2014) e glucose (Sigma-Aldrich) em um almofariz. Após tal procedimento, foram
acrescentados 4g de água a 20g da mistura obtida. As proporções dos componentes nas
amostras estão descritas na Tabela 3. Posteriormente, a massa obtida foi reticulada com
glutaraldeído 25% v/v. Em seguida, foi adicionado fosfato de cálcio na proporção de 1g da
mistura obtida inicialmente para 0,6g de fosfato de cálcio.
Tabela 3 – Composição do dispositivo.
Massa (g) Volume
(mL)
Formulação Colágeno Quitosana Ac. Cítrico Glucose GA
1,0 1,0 12,5 10,0 1,0
Fonte: Autora.
A etapa sequente consistiu na moldagem e secagem do material obtido anteriormente.
Foi utilizado um molde de teflon com dimensões 12 mm de comprimento por 6 mm de
largura e as amostras foram secas a 37ºC em estufa com ventilação forçada por 24 horas
4.2 INFRAVERMELHO (FTIR)
A espectroscopia de infravermelho (espectroscopia IV) é um tipo de espectroscopia de
absorção a qual se usa a região do infravermelho do espectro eletromagnético. Todos os
componentes utilizados na preparação do dispositivo, bem como o dispositivo foram submetidos à
análise de FTIR para confirmar a reação de reticulação e a identificação dos grupos funcionais. As
amostras foram inseridas diretamente no equipamento de análise, não houve preparo prévio das
amostras para leitura. O equipamento Agilent Technlogies modelo Cary 630 do Laboratório
Multiusuário do Programa de pós-graduação em Ciência e Engenharia de Materiais do campus de
Poços de Caldas da UNIFAL-MG foi utilizado. Os espectros foram coletados de 650 a 4000 cm-1
.
21
4.3 TESTE DE RESISTÊNCIA MECÂNICA
Os ensaios biomecânicos foram realizados no Laboratório de Biomecânica do
Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade
de São Paulo, seguindo a norma da ABNT NBR ISO 5833 alterada com relação à velocidade
de deslocamento para 5 mm/min (40).
Os ensaios compressivos foram realizados em máquina universal de ensaios
mecânicos KRATOS modelo KE 3000 MP dotada de célula de carga 3000 kgf. Antes da
realização de cada ensaio os valores de diâmetro e comprimentos dos corpos de provas foram
medidos com uso de paquímetro Mytutoyo modelo 530 – 104 – B10 com resolução de 0.05
mm e esses dados foram inseridos no programa da KRATOS antes do início dos ensaios.
4.4 ANÁLISE TÉRMICA
Para o estudo da estabilidade térmica do material, utilizou-se a técnica de calorimetria
exploratória diferencial (DSC), onde se mede o fluxo de calor entre a amostra e um material
termicamente inerte, enquanto ambos são submetidos a uma variação de temperatura. Este
ensaio foi realizado em um Calorímetro Diferencial de Varredura (NETZSCH - Modelo STA
449 F3Jupter). A fim de simular as condições de secagem e avaliar se alguma alteração
significativa ocorre a 37ºC que é a temperatura do corpo humano, o dispositivo foi preparado
de acordo com a metodologia descrita no item 4.1, porém a amostra foi seca somente por duas
horas antes do início da análise. Posteriormente foi feito uma isoterma a 37ºC por 2 horas e
em seguida um aquecimento a uma razão de 10°C/min na faixa de temperatura de 37 a 400°C.
Com este ensaio obteve-se também a curva de termogravimetria (TG). A análise de TG-DSC
foi feita em um cadinho de platina contendo 26mg de amostra e ensaiada em atmosfera de
nitrogênio.
22
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1 ANÁLISE MACROSCÓPICA
O molde de teflon foi preenchido com o auxílio de uma seringa descartável e levado
para uma estufa com ventilação forçada por 24h. Os corpos de prova foram retirados do
molde com o auxílio de um pino polimérico e martelo e acondicionados em frascos de vidro.
Após a secagem os corpos de prova apresentaram uma cor amarelada com formatos
cilíndricos e de fácil manuseio. Os corpos de prova após a secagem foram apresentados na
Figura 5.
Figura 5 – Corpos de prova após a secagem por 24h a 37ºC.
Fonte: Autora.
Foi possível observar irregularidade na superfície dos dispositivos, essas
irregularidades são defeitos ocasionados no processo de moldagem e desmoldagem.
5.2 FTIR
O espectro de FTIR da amostra preparada foi apresentado na Figura 6 juntamente com
os espectros da quitosana e do colágeno.
23
Figura 6 – Espectros de FTIR do colágeno, quitosana e do dispositivo.
Fonte: Autora.
Como pode ser observado na Figura 6, o espectro do dispositivo apresentou
divergência quando comparado com os espectros dos compostos separadamente, tal fato já era
esperado uma vez que houve adição de componentes como dextrose, fosfato de cálcio e ácido
cítrico, além da posterior reticulação desses componentes. Algumas bandas características se
mantiveram, porém foi possível observar o deslocamento das mesmas.
Os picos de 1653 cm-1
encontrados na quitosana e no colágeno são característicos de
amidas primárias, este pico corresponde ao estiramento C=O, o mesmo pico foi observado no
dispositivo preparado, porém o pico foi deslocado (1689 cm-1
). Vale ressaltar que a
reticulação é caracterizada pela presença de ligações do tipo imina (C=N) formadas a partir da
reação dos grupos –OH e –NH2 de quitosana e colágeno com os grupos –C=O do
glutaraldeído, porém é provável que esta banda sobreponha-se ao grupo C=O da amida I, uma
vez que ambos absorvem na mesma região do espectro infravermelho, estes picos podem ser
observados na região circulada em verde na Figura 6 (41).
O mesmo ocorreu com os picos 1546 cm-1
do colágeno e 1564 cm-1
da quitosana, que
correspondem à deformação axial de N-H e o estiramento da ligação CN (Amida II) nesse
caso o pico do material se manteve igual ao da quitosana.
O pico de 1236 cm-1
é característico da Amida III, onde ocorre o alongamento de C-N
juntamente com a flexão de N-H e o movimento rápido de CH2.
1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
40
60
80
100
Re
flect
an
cia
Frequencia (1/cm)
Colageno
Quitosana
Dispositivo
24
Também foi possível observar a presença da banda correspondente ao estiramento de
C-O cíclico da quitosana em 1030 cm-1
que se manteve presente também no dispositivo. A
banda de 1057 cm-1
correspondente a deformação simétrica de PO4 3-
é proveniente do fosfato
de cálcio. Finalmente a região de 840 cm-1
a 1000 cm-1
é característica dos grupos C-O e C-C
que são modos de vibração originados da dextrose.
5.3 ANÁLISE TÉRMICA
As curvas de TG-DSC do dispositivo estão apresentadas na Figura 7.
Figura 7 – Curvas de TG-DSC do dispositivo.
Fonte: Autora.
A 37ºC que é a temperatura de aplicação do dispositivo, o corpo de prova apresentou
estabilidade térmica, o material perde a água superficial que não está fortemente ligada em
sua estrutura. O mecanismo de perda de água ocorre por a transferência de calor e de massa
com o objetivo de remover grande parte da água presente no material poroso por meio de seu
transporte e evaporação em um meio gasoso que envolve o material, similarmente como
ocorre na estufa.
As curvas mostram que o dispositivo apresentou duas perdas de massa consecutivas. A
primeira perda de massa ocorreu entre 75ºC e 195ºC e a segunda ocorreu entre 200ºC e
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450
-1,0
-0,8
-0,6
-0,4
-0,2
0,0
DSC/(mW/mg)
Mass/%
Temperatura (°C)
DS
C/(
mW
/mg
)
60
70
80
90
100
Ma
ssa
(%
)
25
230ºC, essas perdas de massas são referentes à quebra de ligações de hidrogênio inter e intra-
moleculares seguida da perda de água adsorvida na superfície do material.
Já a perda de massa gradativa no intervalo de 230ºC a 400ºC ocorreu devido à
decomposição de espécies de baixo peso molecular, à desidratação dos anéis sacarídeos,
despolimerização e decomposição da matéria orgânica (42).
Du et. al. estudou a modificação de matrizes de colágeno e quitosana reticuladas com
alginato dialdeído, as temperaturas características de perdas de massa ocorreram entre 30 e
150ºC e 250 a 500ºC. Segundo o autor a segunda perda de massa está relacionada com a
destruição da tripla hélice do colágeno e a melhoria da propriedade de retenção de água (42).
As temperaturas características do dipositivo se assemelha as encontradas por Du et.
al., a divergência pode ser associada a composição e ao modo de reticulação por exemplo.
O ruído presente na curva de DSC na fase inicial se deve as condições de temperatura
utilizadas no ensaio, uma vez que o forno vertical tubular sofre interferências do meio quando
solicitado a baixas temperaturas.
5.4 RESISTÊNCIA MECÂNICA
Na figura 8 encontram-se as imagens do corpo de prova no início e durante o ensaio de
compressão.
Figura 8 – Ensaio de Compressão (a) início (b) durante.
Fonte: Autora.
O ensaio foi realizado com 10 corpos de prova e as curvas de força versus deformação
estão apresentadas na Figura 9.
26
Figura 9 – Curva de Força x Deformação.
Fonte: Autora.
O esperado é que houvesse sobreposição das curvas da Figura 9, isso não ocorreu
porque os corpos de prova apresentavam irregularidades na superfície, porém é possível
observar um comportamento semelhante entre as curvas.
Na Tabela 4 foi apresentado os valores de diâmetro e comprimento médio dos
cilindros submetidos ao ensaio de compressão
Tabela 4 – Diâmetro e comprimento médio dos corpos de prova.
Diâmetro Externo (mm) Comprimento (mm)
6,160±0,108 12,66±0,25
Fonte: Autora.
De acordo com a literatura o osso cortical apresenta Módulo de Elasticidade igual a
7500 MPa e resistência a compressão de 137,8 MPa enquanto que o osso trabeculado
apresenta Módulo de Elasticidade de 500 MPa e resistência à compressão de 41,4 MPa (43).
A Resistência a Compressão é dada pela força aplicada para causar fratura, ou carga
correspondente a 2% de deformação permanente (região elasto-plástica) dividida pela área da
seção transversal original do cilindro (44).
Na Tabela 5 foi apresentado o resultado de Tensão Máxima e Módulo de Elasticidade
obtido durante o ensaio mecânico do dispositivo preparado.
27
Tabela 5 – Resultados do ensaio de compressão.
Força Máx.
(N)
Tensão Máxima
(N/mm²)
Deformação Relativa
(%)
Módulo de
Elasticidade
(N/mm²)
Área do
Gráfico (N.mm)
-129,01±27,88 -4,33±0,95 3,74±0,97 239,25±78,37 249,59±54,35
Fonte: Autora.
Ao se calcular a tensão após 2% de deslocamento da reta de deformação elástica,
percebeu-se que o valor era inferior à tensão máxima atingida durante os ensaios. Tais
resultados indicam que o material apresentou grande rigidez e pouca deformação até o ponto
de maior tensão verificada no teste e por isso as análises foram feitas usando como parâmetro
a tensão máxima obtida no ensaio.
A resistência a compressão e o módulo de elasticidade do dispositivo preparado
apresentaram valores baixos quando comparados com a resistência a compressão de alguns
substitutos ossos comerciais como Calcibon (60-70 MPa), Biosorb (15-150 MPa), Biopex (80
MPa) e Cementek (20 MPa). Por outro lado existem alguns substitutos comerciais que
apresentam valores semelhantes com os valores obtidos experimentalmente como, por
exemplo, o Pro-Osteon (2-4 MPa) e o Endobon (1-20 MPa) (45).
Comparando o dispositivo em estudo com os dispositivos a base de colágeno e
quitosana apresentados por Przekora; Palka; Ginalska, Serra et. al. e Martínez et. al. foi
possível observar que a formulação apresentou resultados superiores de módulo de
elasticidade e resistência a compressão (6, 7, 38). Os dispositivos preparados por Graaf et.
al. se diferenciaram do dispositivo preparado nas proporções dos componentes da formulação,
na ausência de colágeno e glutaraldeído e na temperatura de secagem. O autor encontrou um
módulo de elasticidade de 400,53 MPa, resistência a compressão de 9,75 MPa e deformação
relativa igual a 8,31% para corpos de prova secos a 38ºC e ensaiados após 24h depois de
preparado. Já para os dispositivos secos a 38ºC e ensaiados após 48h a deformação relativa foi
de 3,95% que é semelhante à obtida pelo dispositivo em estudo (46).
Neste caso, supõe-se que a presença de colágeno e glutaraldeído reduziram os
parâmetros mecânicos de resistência a compressão, módulo de elasticidade e deformação
relativa, porém é possível que essa redução seja relativa ao tempo entre o preparo da amostra
e a realização do ensaio que para este caso foram dias, o parâmetro tempo é importante e gera
alterações significativas como foi descrito por Graaf et. al.
Uma potencial aplicação para este dispositivo é na regeneração de ossos esponjosos.
Apesar de não apresentarem elevada resistência mecânica, alguns autores relataram que
28
dispositivos semelhantes ao produzido foram capazes de agir como moldes durante as
primeiras fases de regeneração óssea, sendo biodegradado e substituído pela nova matriz
óssea a uma velocidade compatível com a formação do novo tecido (47, 48).
29
6 CONCLUSÃO
A análise de FTIR mostrou que as bandas características dos polímeros presentes na
formulação se mantiveram, porém o agente reticulante deslocou e/ou intensificou os picos
como já era esperado. Além disso, a banda característica da reticulação com glutaraldeído de
quitosana e colágeno foi observada no pico de 1689 cm-1
.
As temperaturas características apresentadas nas análises de DSC e TG correspondem
à perda de água e a degradação dos biopolímeros respectivamente. Outro aspecto importante
foi que o dispositivo apresentou estabilidade térmica a 37ºC que é a temperatura de aplicação
do material.
O ensaio mecânico mostrou bons resultados quando comparado com alguns substitutos
ósseos comerciais e com dispositivos a base de quitosana e colágeno.
30
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