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“Palestra apresentada na 1ª Jornada Técnica em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeira Produtiva: Tecnologia, Gestão e Mercado, 28 e 29 de setembro de 2006” DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO APLICADO AO ACASALAMENTO AOS 18 MESES EM NOVILHAS DE CORTE 1 Júlio O. J. Barcellos 2 ; Ricardo P. Oaigen 2 ; Maurício D. da Silva 3 ; Yuri R. Montanholi 4 ; Eduardo C. Costa 5 ; Ênio Rosa Prates 2 ; Jorge López 2 . 2 - Professores do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPRO) – Departamento de Zootecnia – Faculdade de Agronomia – UFRGS. e-mail: [email protected] . 3 - Méd.Vet., M.Sc., Aluno de Doutorado do PPG-Zootecnia – UFRGS. 4 - Méd.Vet., M.Sc., Aluno de Doutorado do Departamento de Ciência Animal – Universidade de Guelph, Canadá. 5- Zoot., D.Sc., Pesquisador da Fundação de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio Grande do Sul. Introdução A pecuária de corte tem mudado substancialmente nos últimos anos e nestas mudanças uma das principais características foi o novo papel que a cria passou a desempenhar nos sistemas de produção. A queda substancial nos preços do terneiro e do boi exigiu uma maior eficiência produtiva na cria, mas agora com custos relativamente mais baixos. Portanto, assegurar uma elevada eficiência na cria passa pela obtenção de melhores índices de desmama. Neste sentido, na busca de melhorar a eficiência reprodutiva do rebanho, sem investimentos em alimentação extra, surge a necessidade de analisar a cria de forma mais sistêmica. Decorrente desta analise é notório que uma das categorias com maiores dificuldades de emprenhar é a primípara ou seja a novilha de primeira cria. Seus índices de prenhez no segundo acasalamento, seja aos 2 ou 3 anos, geralmente não ultrapassam aos 40%, quando mantidas em condições de campo natural sem introdução de melhorias ou de alimento extra. Portanto, a melhoria da taxa de prenhez global do rebanho passa obrigatoriamente pelo aumento da taxa de prenhez das primíparas. 1 BARCELLOS, J.O.J.; OAIGEN, R.P.; SILVA, M.D. et al. Desenvolvimento Tecnológico Aplicado ao Acasalamento aos 18 Meses em Novilhas de Corte. In: JORNADA TÉCNICA EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE E CADEIA PRODUTIVA: TECNOLOGIA, GESTÃO E MERCADO, 1. Porto Alegre, 2006. Anais... Porto Alegre: UFRGS – DZ – NESPRO, 2006. 1 CD-ROM. 1

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DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO APLICADO AO ACASALAMENTO AOS 18 MESES EM NOVILHAS DE CORTE1

Júlio O. J. Barcellos2; Ricardo P. Oaigen2; Maurício D. da Silva3; Yuri R.

Montanholi4; Eduardo C. Costa5; Ênio Rosa Prates2; Jorge López2. 2- Professores do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva

(NESPRO) – Departamento de Zootecnia – Faculdade de Agronomia – UFRGS. e-mail: [email protected]. 3- Méd.Vet., M.Sc., Aluno de Doutorado do PPG-Zootecnia – UFRGS. 4- Méd.Vet., M.Sc., Aluno de Doutorado do Departamento de Ciência Animal – Universidade de Guelph, Canadá. 5- Zoot., D.Sc., Pesquisador da Fundação de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio Grande do Sul.

Introdução

A pecuária de corte tem mudado substancialmente nos últimos anos e nestas

mudanças uma das principais características foi o novo papel que a cria passou a

desempenhar nos sistemas de produção. A queda substancial nos preços do terneiro e

do boi exigiu uma maior eficiência produtiva na cria, mas agora com custos

relativamente mais baixos. Portanto, assegurar uma elevada eficiência na cria passa

pela obtenção de melhores índices de desmama.

Neste sentido, na busca de melhorar a eficiência reprodutiva do rebanho, sem

investimentos em alimentação extra, surge a necessidade de analisar a cria de forma

mais sistêmica. Decorrente desta analise é notório que uma das categorias com

maiores dificuldades de emprenhar é a primípara ou seja a novilha de primeira cria.

Seus índices de prenhez no segundo acasalamento, seja aos 2 ou 3 anos, geralmente

não ultrapassam aos 40%, quando mantidas em condições de campo natural sem

introdução de melhorias ou de alimento extra. Portanto, a melhoria da taxa de prenhez

global do rebanho passa obrigatoriamente pelo aumento da taxa de prenhez das

primíparas.

1 BARCELLOS, J.O.J.; OAIGEN, R.P.; SILVA, M.D. et al. Desenvolvimento Tecnológico Aplicado ao Acasalamento aos 18 Meses em Novilhas de Corte. In: JORNADA TÉCNICA EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE E CADEIA PRODUTIVA: TECNOLOGIA, GESTÃO E MERCADO, 1. Porto Alegre, 2006. Anais... Porto Alegre: UFRGS – DZ – NESPRO, 2006. 1 CD-ROM.

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As estratégias para aumentar a taxa de prenhez das primíparas a partir de

índices em torno de 40% para níveis semelhante ao das vacas adultas (75-80%) são

bem conhecidas. A baixa carga, desmame precoce, pastagens cultivadas no pós-parto,

prolongamento da duração da segunda estação de acasalamento e o uso de

suplementação estratégica estão entre as principais alternativas para aumentar a

prenhez dessa categoria. Contudo, todas elas incorrem em aumento de custos ou na

pior das hipóteses num questionável relação custo benefício. Portanto, aumentar a taxa

de prenhez do rebanho sem incorrer em custos adicionais com as primíparas, partindo

da premissa que cada vez mais as vacas de cria ocuparão áreas de pior qualidade, é o

novo desafio da pecuária de corte.

Uma das alternativas que vem sendo estudada e com resultados bastante

promissores é a antecipação da idade ao primeiro acasalamento da novilha, para os 18

meses, no outono, para fugir do primeiro parto, na primavera, aos 3 anos, ocorrendo

pela primeira vez aos 2,5 anos, no final do verão. Com isto, na primavera somente

estarão em reprodução as vacas adultas, sabidamente de menores exigências

nutricionais. Este trabalho pretende demonstrar os processos tecnológicos que

envolvem esse processo e apresentar os principais resultados alcançados pelo Núcleo

de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva nos

últimos 5 anos. Estes resultados constitui uma tecnologia própria e de geração

exclusiva no Brasil.

Ciclo de Produção da novilha acasalada aos 18 meses

Na figura 1 é apresentado o ciclo de vida da novilha destinada ao acasalamento

aos 18 meses. Partindo do nascimento, a partir da época convencional de partos de

primavera, a terneira alcança o desmame aos 6-8 meses, no outono do ano seguinte.

Nessa época seu peso médio está em torno de 150 kg. Após o desmame, assegurando

um nível mínimo de ganho de peso ou mantença, a terneira atingirá ao ano de idade

em torno de 210 kg. Continuando seu ciclo de recria atingirá os 18 meses em março-

abril, portanto, já na estação de outono, um peso de aproximadamente 300 kg. Esse

pode ser considerado o peso mínimo para o acasalamento aos 18 meses.

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NascimentoS-O-N

Desmame (6-8 m)M-A

1 AnoS-O-N

18 MesesM-A-M

30 kg

150 kg

210 kg

300 kg

1o. Acasalamento

Ganho Desmame-Acasalamento = 0,400 kg/d

Segue um fluxo específico até o primeiro parto no

final do verão

Figura 1. Ciclo de recria da novilha acasalada aos 18 meses a partir do nascimento.

Ao alcançar o peso mínimo, a novilha deve iniciar a sua estação de

acasalamento por meio da monta natural ou inseminação artificial. Este período não

deve exceder os 60 dias e os resultados demonstram que deve estar compreendido

entre 10. de abril até 30 de maio, podendo ocorrer pequenas variações segundo o

biótipo da novilha, o clima (chuvas, geadas do cedo) e o tipo de reprodução (monta

natural ou inseminação).

Na figura 2 está representado esquematicamente o ciclo de produção da novilha

desde o acasalamento aos 18 meses até o seu 2º. período reprodutivo. Uma vez

finalizado o período reprodutivo, é realizado o diagnóstico de gestação e, as novilhas

prenhes deverão ser separadas das falhadas e manejadas com uma certa atenção no

que diz respeito a alimentação para evitar perdas embrionárias durante os meses de

inverno, por eventuais perdas de peso.

No final da primavera as novilhas prenhes entram na fase do pré-parto, onde a

melhora da condição corporal é visível. Nesta fase alcançam cerca de 80% do peso da

vaca adulta.

A parição ocorre em meados de janeiro (acasalamento de 1 de abril a 30 de

maio) e estende-se até final de fevereiro. Nesse período os cuidados com a parição

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são semelhantes aos cuidados com qualquer outra primípara. Uma vez concluída a

parição as novilhas são mantidas com cria ao pé sem grandes preocupações com

alimentação, pois seus objetivos nutricionais são exclusivamente garantir uma taxa de

ganho de peso dos seus terneiros.

A fase de lactação poderá estender-se de forma bastante flexível, ou seja o

desmame poderá ocorrer em idade bastante precoce, em maio-junho, em casos de

invernos muito rigorosos e uma perda muito acentuada da condição corporal da novilha

com riscos de sobrevivência da mesma. Por outro lado, se a situação é normal o

desmame poderá ser realizado até 15 de setembro como data limite. Essa data é

importante e exclusiva para os objetivos da novilha, cuja necessidade de recuperação

até o próximo acasalamento, que deverá ocorrer de novembro a janeiro. Esta

recuperação tem uma influência em todo o sistema, pois a medida em que a novilha

chega no segundo acasalamento, com uma boa condição corporal, conceberá nos

primeiros dias da estação. O resultado disto é que o seu segundo parto, na primavera

seguinte, será no cedo e com isto aumentam as suas chances de repetir a prenhez

para produzir o terceiro terneiro.

Pré-Parto (24 m)N - D

Parição (30 m)J - F

18 MesesM-A-M

400 kg

420 kg

1o. Acasalamento

300 kg

1o. Parto

Desmame 1o. terneiroJ – A - S

2o. Acasalamento(solteira) 48 m

N – D- J

340 kg

400 kg

Segue o fluxo normal das demais vacas do rebanho acasaladas na primavera/verão

Figura 2. Ciclo de produção da novilha acasalada aos 18 meses até o segundo acasalamento.

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Linha do tempo da novilha acasalada aos 18 ou 24 meses

O entendimento do objetivo principal do acasalamento aos 18 meses pode ser

mais bem compreendido quando se visualiza a linha do tempo (Figura 3), dentro de um

ciclo de produção, das duas novilhas, pois as demandas nutricionais no acasalamento

e primeiro parto são semelhantes, apenas diferenciando-se no segundo acasalamento,

quando a novilha oriunda dos 18 meses entra na sua segunda estação reprodutiva

desmamada e a dos 24 meses com cria ao pé. Esta é a diferença fundamental, não

para aumentar a produtividade da novilha ao longo de sua vida como matriz, mas para

assegurar uma maior taxa de repetição de prenhez no segundo acasalamento que é

principal problema que afeta a eficiência global do rebanho.

18 meses

24 meses

Idade deAcasalamento Nascimento

Primaveraset-out-nov

Primaveraset-out-nov

Desmame

Outonomar-abr

Outonomar-abr

12 meses

Primaveraset-out-nov

Primaveraset-out-nov

18 meses

Outonomar-abr

X

24 meses

X

Primaveraset-out-nov

30 meses

1o. Partomar-abr

Outonomar-abr

36 meses

1o. Parto2o. EntoureLactação

Set-out-nov

2o.EntoureDesmada

Set-out-nov

Figura 3. Diferenças na linha do tempo entre a novilha acasalada aos 18 meses e a novilha acasalada aos 24 meses.

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Resultados experimentais no acasalamento da novilha aos 18 meses

Neste tópico serão descritos os principais resultados obtidos a partir de projetos

de pesquisas conduzidos por alunos de mestrado e doutorado do Programa de Pós-

Graduação em Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Todos os

resultados aqui apresentados já foram publicados ou parcialmente publicados em

revistas científicas de relevância nacional.

Ganho de Peso na Recria e Taxa de Prenhez:

Projeto I Introdução

Os sistemas de produção de bovinos de corte dependem do desempenho dos

rebanhos de cria. Nestes, de 10 a 20% das vacas são substituídas anualmente por

novilhas (Bolze & Corah, 1993), para assegurar uma alta produtividade e eficiência do

sistema. As novilhas de reposição são necessárias para manter estável o tamanho do

rebanho e permitir o melhoramento ou alteração da sua base genética (Bagley, 1993).

A máxima eficiência biológica de um sistema de cria é obtida quando as fêmeas

são acasaladas aos 12 a 14 meses de idade (Short et al., 1994). Neste sistema existe o

mínimo de categorias improdutivas (Fries, 2003). Entretanto, os custos associados a

este sistema são os mais significativos, devido a sua alta tecnificação. Uma alternativa

aos sistemas de produção que buscam uma maior produtividade por meio da redução

na idade ao primeiro serviço, é o acasalamento aos 18 meses. Pois, os custos

envolvidos na produção de fêmeas para este sistema são reduzidos em relação ao

sistema 12 a 14 meses (Barcellos et al., 2003).

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O acasalamento aos 18 meses determina que a novilha seja acasalada em uma

estação do ano diferente do seu nascimento. Nas condições de produção brasileiras,

normalmente os nascimentos se concentram na primavera, logo, o acasalamento aos

18 meses ocorre no outono. O incremento da utilização desta idade ao primeiro

serviço, como prática de manejo, irá determinar a existência de dois rebanhos distintos

num mesmo sistema de cria, o de primavera e o de outono. Entretanto, deve-se

considerar que o acasalamento ao sobreano pode ser utilizado para assegurar um bom

desempenho das vacas primíparas, mediante o primeiro intervalo de partos de 540 dias

(Sampredo et al., 1995). Posteriormente, elas entram na estação reprodutiva da

primavera, aos 36 meses, e concorrem para um intervalo de partos de 365 dias.

O acasalamento no outono permite que as fêmeas iniciem a estação de monta

com uma melhor condição corporal em relação ao acasalamento na primavera,

considerando o valor nutricional das pastagens nas estações que as antecedem, o

verão e o inverno (Freitas et al., 1976). Deste modo, as fêmeas no outono apresentam

maiores chances de conceber no início da estação de monta. De acordo com

Lesmeister et al. (1973) novilhas que concebem no início do período de acasalamento

apresentam maior produtividade ao longo de suas vidas.

As novilhas de reposição para serem incluídas no rebanho de cria devem estar

aptas a conceber. Para que estas fêmeas jovens apresentem um adequado

desempenho reprodutivo, no primeiro acasalamento, devem apresentar atividade

cíclica antes do início da estação de monta. De acordo com Byerley et al. (1987)

novilhas acasaladas no terceiro ciclo estral apresentam melhor desempenho

reprodutivo do que as novilhas acasaladas no estro pubertal. Desta maneira, no

contexto de um sistema de produção, as novilhas devem estar púberes cerca de dois

meses antes do início da estação de monta.

Entre os fatores que influenciam o surgimento da puberdade nos bovinos,

destaca-se o peso vivo (Joubert, 1963). Associado a este fator, existem os efeitos da

intensidade do ganho de peso (Wiltbank et al., 1969) e da fase pós-desmame onde

ocorre esse ganho (Dufour, 1975). Do ponto de vista biológico deve-se salientar que a

puberdade não é determinada pelo peso, mas por uma série de condições fisiológicas

que resultam em um determinado peso.

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Com o objetivo de proporcionar uma atenção especial ao trato reprodutivo das

novilhas, Andersen et al. (1991) desenvolveram um sistema de escore do trato

reprodutivo, que permite avaliar o grau de amadurecimento do aparelho genital das

fêmeas de reposição. Este escore baseia-se na avaliação, por palpação retal, dos

ovários e dos cornos uterinos. Diversos são os propósitos da utilização deste escore

em sistema de cria, destacando-se sua aplicação como uma ferramenta para descartar

novilhas no processo de seleção para reposição e, para se definir ou adequar o

programa nutricional das fêmeas antes do início da estação de monta.

O objetivo deste trabalho foi verificar a existência de relações entre a taxa de

ganho de peso, durante o período da recria, e o desempenho reprodutivo de novilhas

de corte acasaladas aos 18 meses no outono.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido em propriedade particular, no município de Bagé,

região fisiográfica da Campanha do Estado do Rio Grande do Sul, situada entre os

paralelos 30° 30’ e 31° 56’ latitude sul e os meridianos 55° 30’ e 54° 30’ longitude oeste

de Greenwich. O período experimental foi compreendido entre 15/11/2002 a

20/09/2003. O clima da região, segundo a classificação de Köppen, é tipo subtropical,

da classe Cfa, com chuvas regularmente distribuídas durante o ano, podendo ocorrer

períodos de estiagem nos meses de janeiro e fevereiro. A precipitação média anual é

de 1350 mm, com variação de 1080 a 1620 mm. A temperatura média anual é de

17,6°C, a média do mês mais quente, janeiro, é de 24°C e a do mês mais frio, junho, é

de 12,5°C (Moreno, 1961). Os solos da região são, basicamente, representados pelo

tipo Cambissolo Háplico Ta Eutrófico Vértico (Embrapa, 1999), que apresentam

variabilidade quanto à profundidade.

A pastagem nativa do local é formada por espécies de gramíneas rizomatosas

e/ou estoloníferas com a presença de leguminosas, que crescem, preferencialmente,

na primavera/verão. Destacam-se, a presença de grama-forquilha (Paspalum notatum),

campim-melador (Paspalum dilatatum), grama-tapete (Axonopus compressus), capim

rabo-de-lagarto (Coelorachis selloana), capim-caninha (Andropogon lateralis), pega-

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pega (Desmodium pratensis) e trevo nativo (Tripholium polimorfum). Entre as espécies

hibernais, destaca-se o capim-flexilha (Stipa spp).

No dia 15/11/2002, foram selecionados os animais para alocação em cada grupo

experimental, de acordo com o peso médio. Os grupos foram denominados de G600

(30 novilhas), G700 (41 novilhas) e G800 (58 novilhas), cujos pesos foram 210, 195 e

175 kg, respectivamente. Nesta ocasião os animais também foram identificados através

de brincos numerados na orelha esquerda. Todos os animais pertenciam a raça Polled

Hereford, e apresentavam idade entre 13 e 14 meses e receberam, desde o desmame

até o início do experimento, as mesmas condições de manejo.

Os grupos foram mantidos em lotações de 300 kg/ha (G600); 200 kg/ha (G700)

e 150 kg/ha (G800), que se constituíram nos sistemas de alimentação, com o objetivo

de produzir distintos ganhos de peso nos animais de cada grupo, de maneira que todas

as novilhas atingissem pesos similares, 300 kg, ao início do acasalamento

(24/04/2003). Os animais foram pesados mensalmente e as cargas ajustadas,

conforme o ganho de peso no mês anterior de forma a garantir um ganho de peso

próximo do projetado. O ajuste da carga foi realizado com animais reguladores. A

Tabela 1 apresenta os valores projetados e obtidos de peso inicial (PI), peso ao início

do acasalamento (PIA) e de ganho diário médio (GDM).

Tabela 1. Valores do peso inicial (PI), ganho diário médio (GDM) e peso ao início do

acasalamento (PIA) projetados e obtidos, durante o período da recria, nos grupos

experimentais de novilhas de corte.

PI (kg) GDM (kg/dia) PlA (kg) Grupo(1)

Projetado Observado projetado observado projetado observadoG600 210 208 0,563 0,595 300 302

G700 195 197 0,656 0,637 300 298

G800 175 181 0,781 0,723 300 296 (1) G600: 30 novilhas mantidas na lotação de 300 kg/ha; G700: 41 novilhas mantidas na lotação de 200 kg/ha; G800: 58 novilhas mantidas na lotação de 150 kg/ha.

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Os piquetes utilizados eram bastante homogêneos quanto à topografia e

composição botânica, com fácil acesso a água e suplementação mineral. As novilhas

foram submetidas ao controle de endo e ectoparasitas e vacinadas contra as principais

enfermidades da região. O experimento foi dividido em dois períodos, o de recria de

15/11/2002 a 23/04/2003 (160 dias), e o de acasalamento de 24/04/2003 a 07/06/2003

(45 dias).

Durante a recria foi realizada, mensalmente, a pesagem dos animais, no período

da manhã mediante um jejum prévio de 12 horas. No dia 23/04/2003 foi realizada a

avaliação do escore do trato reprodutivo (ETR), por meio da palpação retal, conforme o

método proposto por Andersen et al. (1991) (Tabela 2).

Tabela 2. Descrição do escore de trato reprodutivo (ETR) em novilhas de corte.

ETR Cornos Uterinos Ovário

Comprimento Altura Largura Folículos

(mm) 1 imaturo < 20 mm de

diâmetro, sem tônus

15 10 08 Ausência

2 20-25 mm de diâmetro, sem tônus

18 12 10 8 mm

3 25-30 mm de diâmetro, leve tônus

22 15 10 8-10 mm

4 30 mm de diâmetro, bom tônus

30 16 12 >10 mm

5 > 30 mm de diâmetro, bom tônus, ereto

>32 20 15 >10 mm, com corpo lúteo

Fonte: Andersen et al., (1991).

No período de acasalamento, de 24/04/2003 a 07/06/2003, foram realizadas

duas pesagens, no período da manhã mediante um jejum prévio de 12 horas, nos dias

16/05/2003 e 07/06/2003, com a finalidade de obter os pesos na metade e no final da

estação de monta, neste período, as novilhas foram mantidas em uma carga de 300

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kg/ha. O acasalamento foi por meio de monta natural, utilizando-se um percentual de

5% de touros, os quais foram previamente selecionados mediante exame andrológico.

Foi realizado o diagnóstico de gestação, pela palpação retal, em 20/09/2003, 104 dias

após o fim da estação de monta.

As estimativas da disponibilidade de matéria seca (MS) por hectare foram

realizadas, mensalmente, por meio de quatro cortes rente ao solo com um quadrado de

0,25 m2. Foi realizada a separação das amostras em material senescido e material

verde. Também foram realizadas coletas de amostras nos locais que haviam sido

pastejados recentemente, para se obter maior precisão do alimento consumido pelos

animais.

As amostras coletadas da pastagem nativa foram processadas no Laboratório de

Nutrição Animal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foram realizadas as

análises de proteína bruta (PB), pelo método Kjeldahl, fibra detergente neutro (FDN)

conforme o método de Van Soest (1985) e dos teores de MS e cinzas (CZ).

Foram avaliados os pesos, os GDM durante a recria, a variação diária média de

peso durante o acasalamento (VDA), os valores do ETR e a taxa de prenhez (TP).

A TP foi determinada com base nos resultados do diagnóstico de gestação e foi

analisada pelo teste do Qui-quadrado. A análise das variáveis de resposta contínua foi

realizada usando a análise da variância. O efeito do ganho de peso médio sobre a TP e

o ETR foram determinados por meio da análise de regressão simples. As diferenças

entre as médias ajustadas foram testadas pelo teste de Tukey, segundo o modelo:

Yij = µ + Gi + εij

onde Yij: j-ésima resposta medida no i-ésimo grupo de novilhas; µ: efeito médio; Gi:

efeito do ganho de peso; εij: j-ésimo erro associado à i-ésima resposta.

Resultados e Discussão

O peso ao início do acasalamento (PIA) estabelecido pelo desenho

experimental, representa cerca de 65% do peso adulto (460 kg) das vacas do rebanho

utilizado (Tabela 3). De acordo com Bolze e Corah (1993), um PIA equivalente a 65%

do peso da vaca adulta, pode assegurar elevadas taxas de prenhez (TP) no primeiro

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acasalamento. Embora o PIA seja uma variável importante na determinação da

prenhez, no presente experimento o objeto de avaliação foi a taxa de ganho de peso

prévia ao acasalamento das novilhas que alcançaram um mesmo peso alvo.

As novilhas do G600 e do G700 apresentaram pequenos incrementos nos

valores do peso mensurado durante o período de acasalamento (PMA) em relação ao

PIA (Tabela 3). Por outro lado, houve queda no queda no peso das novilhas do G800,

que vinham de uma carga de 150 kg/ha e no início do acasalamento foram submetidas,

juntamente com o G600 e G700, a uma carga de 300 kg/ha, o que pode ter

influenciado os resultados deste grupo, determinando a diminuição no seu peso vivo.

Com relação à variação de peso durante todo o período de acasalamento é provável

que com o avançar do outono, onde as espécies estivais já se encontram em processo

de senescência, diminuindo o valor nutricional da pastagem nativa (Freitas et al., 1976),

o ganho de peso dos três grupos tenha sido prejudicado. Isto fica evidente quando se

observa a variação de peso na segunda metade do período de acasalamento, sendo

observadas perdas superiores a 0,220 kg/dia para os três grupos.

Tabela 3. Peso ao início do acasalamento (PIA), peso obtido durante a estação de

monta (PMA), peso ao fim do acasalamento (PFA), variação diária no peso durante o

acasalamento (VDA), escore de trato reprodutivo (ETR) e taxa de prenhez (TP), em

relação aos grupos experimentais de novilhas de corte (1).

Grupo(2) PIA (kg) PMA (kg) PFA (kg) VDA

(kg/dia) ETR TP (%)

G600 302,8a 304,4a 298,1a -0,103a 3,00a 30,0a

G700 298,0b 299,3a 293,1ab -0,108a 3,35ab 47,8a

G800 296,5b 291,1b 286,3b -0,228b 3,96b 50,0a (1): Médias seguidas por letras diferentes na coluna diferem entre si pelo teste Tukey (P<0,06), exceto em TP, analisada através do Teste de Qui-quadrado (P<0,05). (2) G600: 30 novilhas mantidas na lotação de 300 kg/ha; G700: 41 novilhas mantidas na lotação de 200 kg/ha; G800: 58 novilhas mantidas na lotação de 150 kg/ha.

A variação diária de peso durante o acasalamento (VDA) diverge do resultado

obtido por Silva (2003), que trabalhou em condições similares no mesmo local e

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observou uma VDA de 0,728 kg/dia. A magnitude desta diferença nos resultados de

VDA pode ser atribuída a estrutura da pastagem, uma vez que os dois experimentos

foram conduzidos com uma mesma carga animal (300 kg/ha), porém com diferentes

disponibilidades. De acordo com Correa & Maraschin (1994), o nível de oferta de

pastagem nativa apresenta um comportamento quadrático sobre o ganho de peso dos

bovinos. As condições climáticas também podem ter afetado a VDA. Durante a estação

de monta foram observados 11 dias com precipitações pluviométricas superiores a 10

mm, o que representa cerca de 25% do período da estação de monta. Segundo o NRC

(2000), a nutrição e o estresse ambiental são inter-relacionados podendo ser afetados

diretamente pelas condições climáticas, como a precipitação pluviométrica.

A TP não foi diferente entre os grupos experimentais (P>0,05), o que pode ser

atribuído ao reduzido número de animais utilizados (Tabela 3). Contudo, foi observada

uma tendência de maior TP para os grupos G700 e G800 em relação ao G600. Isto

sugere que embora estes grupos tenham apresentado menor (P<0,06) PIA, a maior

taxa de ganho de peso durante a recria parece ter proporcionado maior

desenvolvimento do aparelho reprodutivo destas novilhas, conforme observado nos

valores de ETR resultando em maior fertilidade. A análise de regressão entre ganho

diário médio (GDM) e TP demonstra uma tendência de comportamento linear (P<0,10)

entre estes dois parâmetros (Figura 1). À medida que se observa maior GDM na recria,

espera-se maiores TP para as novilhas.

Em novilhas agrupadas de acordo com os valores de ETR (Tabela 4) foi

evidenciada a associação entre o ETR e a TP, demonstrando a validade da ferramenta

para estimar o desempenho reprodutivo dos grupos de animais. Embora a diferença na

TP entre os grupos não tenha sido identificada (P>0,05), observa-se uma clara

tendência de maior TP conforme maior valor para ETR. Esta evidência está de acordo

com Rosenkrans & Hardin (2003) que recomendam a utilização do ETR em grupos de

animais, e não para avaliar os animais individualmente.

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Tabela 4. Escore de trato reprodutivo (ETR) e taxa de prenhez (TP), em novilhas de

corte agrupadas de acordo com o ETR (1).

Parâmetro Púbere

(ETR > 3)

Pré-pubere

(ETR = 3)

Infantil

(ETR < 3)

ETR 4,38a 3,00b 1,92c

TP (%) 50,0a 40,9a 30,8a (1): Médias seguidas por letras diferentes na linha, diferem entre si (P<0,05) pelo teste de Tukey (ETR) e pelo teste de Qui-quadrado (TP).

As TP observadas para as categorias de ETR consideradas são inferiores aos

resultados apresentados por Andersen et al. (1991). Isto pode ser atribuído aos

prejuízos causados pela VDA no desempenho reprodutivo das novilhas. Segundo

Andersen et al. (1991) novilhas com ETR igual a 3 apresentam condições de se

tornarem púberes e conceberem durante a estação de monta. Entretanto, a função

reprodutiva é limitada em condições de restrição nutricional, como a observada no

presente trabalho. De acordo com Day et al. (1986), a restrição do nível energético

deprime o eixo hipófise-hipotalâmico o que diminui a atividade ovariana. Desta

maneira, supõe-se que inclusive as novilhas púberes tiveram diminuído a atividade

cíclica o que proporcionou uma baixa TP para estas fêmeas. Esta argumentação é

reforçada mediante a observação dos resultados de Ferreira et al. (1999), que

observaram 56,2 e 84,5% de atividade cíclica em novilhas que apresentavam ETR 2 e

3, respectivamente, e que foram submetidas a moderados ganhos de peso durante o

acasalamento. A análise de regressão entre o GDM e o ETR demonstra

comportamento linear (P<0,05) entre estes dois parâmetros (Figura 1). À medida que

se observa um maior GDM na recria, espera-se maior desenvolvimento do aparelho

reprodutivo.

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0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

0,550 0,600 0,650 0

Ganho diário médio na recr

Esco

re d

o tra

to re

prod

utiv

o (E

TR)

40

60

80

100

pre

nhez

(TP)

(%)

Figura 1. Regressão do ganho diário m

reprodutivo e taxa de prenhez de novilhas de

O grande percentual de dias com pr

mm durante a estação de monta, també

etológica da atividade sexual dos anim

manifestação sexual é fortemente reduzi

causado, entre outros fatores, pela precipitaç

Em novilhas agrupadas de acordo c

nas categorias I, II e III, (Tabela 5), não foram

e PIA, evidenciando que a perda de peso du

estes parâmetros. Por outro lado, foram ver

nos 60 dias anteriores à estação de monta

apresentaram maiores perdas de peso na es

al. (2000), um período de alto nível nutricio

proporciona maiores perdas de peso nos

prévios a restrição, mais elevados.

TP = -127,5 + 249,1 GDM R2 = 0,31

ETR = 0,252 + 4,88 GDM R2 = 0,37

,700 0,750 0,800

ia (GDM) (kg/dia)

0

20 Taxa

de

édio na recria sobre o escore de trato

corte.

ecipitações pluviométricas superiores a 10

m pode ter prejudicado a manifestação

ais. De acordo com Hafez (1975), a

da em períodos de estresse fisiológico

ão.

om a variação do peso no acasalamento,

verificadas diferenças (P>0,05) para ETR

rante o acasalamento não foi associada a

ificados maiores ganhos (P<0,05) de peso

(GD60) nas categorias II e III, as quais

tação de monta. De acordo com Freetly et

nal seguido por um de restrição alimentar

animais mantidos em níveis nutricionais,

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Tabela 5. Escore de trato reprodutivo (ETR), peso ao início do acasalamento (PIA),

ganho diário médio dos 60 dias anteriores ao início da estação de monta (GD60),

variação do peso no acasalamento (VPA) e taxa de prenhez (TP), de acordo com as

categorias agrupadas pela VPA em novilhas de corte(1).

Variação de peso

(kg/dia) ETR PIA (kg)

GD60

(kg/dia) VPA (kg/dia) TP (%)

I até - 0,100 3,42a 300,9a 0,692a 0,036a 41,7a

II –0,100 a - 0,210 3,22a 297,2a 0,805b -0,157b 33,3a

III superior a - 0,210 3,64a 298,2a 0,816b -0,322c 52,0a (1): Médias seguidas por letras diferentes na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey (ETR, PIA, GD60 e VPA) (P<0,05) e pelo teste de Qui-quadrado (P<0,05) (TP).

Não foram identificadas diferenças (P>0,05) de TP nas categorias consideradas

(Tabela 5), embora exista uma diferença numérica de 18,7 pontos percentuais entre a

TP das categorias II e III. Sawyer et al. (1991) observaram que novilhas com VPA nas

faixas de -0,600 à -0,100, de -0,100 à 0,100 e 0,100 à 0,600 kg/dia durante a estação

de monta, apresentaram 43, 55 e 70% de TP, respectivamente. Esta relação

apresentada por Sawyer et al. (1991) também é evidenciada em fêmeas adultas

(Wiltbank et al., 1969; Montanholi et al., 2003). A tendência de maior TP em fêmeas da

categoria III (Tabela 5) se deve ao maior GD60 destas, que provavelmente

proporcionou um efeito de flushing, permitindo maior desenvolvimento das estruturas

ovarianas (Mourasse et al., 1985), conforme se observa à tendência de maior ETR

(P>0,05) nas fêmeas da categoria III, mas que vinham de maiores GD60. Este efeito

parece não ter ocorrido nas novilhas da categoria II, que embora tenham obtido um

GD60 similar ao das novilhas da categoria III, apresentaram tendência (P>0,05) de

menor ETR em relação às demais categorias, o que repercutiu em uma tendência de

menor TP para estas fêmeas.

A tendência (P>0,05) de maior TP para a categoria I em relação à categoria II,

pode ser explicada pela VPA. O fato das novilhas da categoria I terem apresentado um

pequeno ganho de peso no acasalamento e a tendência (P>0,05) de maior ETR ao

início da estação de monta para estas fêmeas, provavelmente, garantiu maior

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percentual de fêmeas ciclando ou que iniciaram a atividade cíclica durante a estação

de monta. Isto é melhor evidenciado quando se observa o ganho de peso de 0,143

kg/dia na primeira metade do período de acasalamento em fêmeas da categoria I. Por

outro lado, as novilhas da categoria II apresentavam, inicialmente, uma tendência de

menor (P>0,05) ETR e que foi associada à perda de, aproximadamente, 0,157 kg/dia.

Isto, provavelmente, prejudicou o desenvolvimento do aparelho reprodutivo destas

fêmeas.

Diante dos resultados obtidos no presente trabalho e as evidências de outros

autores, sugere-se que maiores taxas de prenhez, mantendo as vantagens de elevadas

taxas de ganho na recria, podem ser alcançadas por meio de melhores condições

ambientais e/ou nutricionais durante a estação de monta. Um dos caminhos para isto

pode ser o deslocamento do período de monta de outono para o início ou final da

estação. Contudo, seus efeitos ainda não foram completamente elucidados. Deve-se

ressaltar também, que práticas de manejo como a roçada da pastagem nativa e/ou a

suplementação com sal proteinado representam tecnologias aplicáveis nos rebanhos

de cria e que garantem um melhor desempenho reprodutivo de fêmeas acasaladas no

outono (Montanholi et al., 2003).

Conclusões

1. Novilhas recriadas em taxas de ganho mais altas apresentam maiores valores

de escore de trato reprodutivo, resultante do mais rápido amadurecimento do sistema

reprodutivo.

2. A intensidade da perda de peso no acasalamento é associada ao ganho de

peso nos 60 dias anteriores ao início da estação de monta.

3. A taxa de ganho de peso na recria é mais importante do que a variação de

peso durante o acasalamento na determinação da taxa de prenhez em novilhas de

corte acasaladas aos 18 meses de idade no outono.

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Projeto II

Introdução

O desempenho reprodutivo é a variável de maior importância no rebanho de cria

de bovinos de corte, pois em conjunto com a produtividade (WILTBANK, 1994)

determinam o desfrute geral do rebanho. WILLHAM (1983) demonstrou que a

reprodução, em termos de valores relativos, foi 10 vezes mais importante do que a

produtividade. Os índices reprodutivos de um rebanho são fortemente influenciados

pelo manejo adotado nas fêmeas de reposição, pois estas substituem cerca de 10-20%

das vacas anualmente (WILTBANK, 1994). Portanto, a seleção e o manejo destas

fêmeas envolvem decisões que afetam a produtividade futura de todo o rebanho

(PATTERSON et al. 1992).

A máxima eficiência biológica de um sistema de produção é obtida quando as

novilhas são acasaladas aos 14-15 meses de idade (SHORT et al. 1994). Entretanto, a

produção desta novilha é um processo característico de sistemas intensivos de

produção, com custos elevados, e que correspondem a uma pequena parcela dos

sistemas pecuários de cria existentes no Brasil (ANUALPEC, 2006). Por outro lado, o

acasalamento aos 18 meses pode ser considerado um dos possíveis elementos a

constituir um sistema semi-intensivo de produção de bovinos de corte. Desta maneira,

o acasalamento de novilhas ao sobreano é uma alternativa aos sistemas de produção

extensivos e intensivos, em processo de mudança no nível tecnológico adotado. O

acasalamento aos 18 meses normalmente ocorre durante o outono, em função dos

bezerros serem nascidos na maioria dos sistemas de produção de cria durante a

primavera.

A categoria novilhas é considerada como de baixa produtividade, devido ao

longo tempo compreendido entre o seu nascimento e o primeiro parto (BARCELLOS et

al. 2003). O manejo nutricional e o peso vivo destas fêmeas são os principais

elementos que afetam a seqüência de eventos que desencadeiam a puberdade

(PATTERSON et al. 1992). É sabido que novilhas de corte Hereford atingem a

puberdade com cerca de 60% do peso adulto (ARIJE & WILTBANK, 1971). Entretanto,

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existem os efeitos da intensidade do ganho de peso (GRASS et al. 1982) e da fase

pós-desmame onde ocorre esse ganho (CRICHTON et al. 1959). Medidas lineares

como a altura e o perímetro torácico constituem outros parâmetros de desenvolvimento

físico do animal que também são relacionadas ao desempenho reprodutivo (JOUBERT,

1954). Destaca-se a relação do perímetro torácico e da relação peso:altura com a

condição corporal (THOMPSON et al. 1983) e a forte relação entre a altura e o peso e

idade à puberdade (VARGAS et al. 1998). O escore de trato reprodutivo desenvolvido

por ANDERSEN et al. (1991) constitui uma importante ferramenta para avaliar o grau

de amadurecimento do aparelho genital das fêmeas de reposição.

O objetivo deste trabalho foi verificar as relações entre a taxa de ganho de peso

durante o período da recria e parâmetros de desenvolvimento relacionados ao

desempenho reprodutivo, representados por algumas medidas corporais e pelo escore

do trato reprodutivo. Tendo-se em foco a produção de novilhas de reposição para

sistemas de produção que utilizam o primeiro acasalamento aos 18 meses de idade.

Material e Métodos

O experimento foi conduzido em uma propriedade particular, no município de

Bagé, região fisiográfica da Campanha do Estado do Rio Grande do Sul, situada entre

os paralelos 30° 30’ e 31° 56’ latitude sul e os meridianos 55° 30’ e 54° 30’ longitude

oeste de Greenwich. O clima da região, segundo a classificação de Köppen, é tipo

subtropical, da classe Cfa, com chuvas regularmente distribuídas durante o ano,

podendo ocorrer períodos de estiagem nos meses de janeiro e fevereiro. A temperatura

média do mês mais quente é 24°C, em janeiro, e a do mês mais frio 12,5°C, em junho

(MORENO, 1961).

Os solos da região são, basicamente, representados pelo tipo Cambissolo

Háplico Ta Eutrófico Vértico (EMBRAPA, 1999), que apresentam variabilidade quanto à

profundidade. A pastagem nativa do local é formada por espécies de gramíneas

rizomatosas e/ou estoloníferas com a presença de leguminosas, que crescem,

preferencialmente, na primavera/verão. Destacam-se, as presenças da grama-forquilha

(Paspalum notatum), do campim-melador (Paspalum dilatatum), da grama-tapete

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(Axonopus compressus), do capim rabo-de-lagarto (Coelorachis selloana), do capim-

caninha (Andropogon lateralis), do pega-pega (Desmodium pratensis) e do trevo nativo

(Tripholium polimorfum). Entre as espécies hibernais, destaca-se o capim-flexilha (Stipa

spp).

No dia 15/11/2002, foram selecionados os animais para alocação em cada grupo

experimental, de acordo com o peso médio. Os grupos foram denominados de G800 (=

24 novilhas), G700 (= 23 novilhas) e G600 (=20 novilhas), cujos pesos foram 181+2,9,

197+3,4 e 208+4,5 kg, respectivamente. Nesta ocasião os animais também foram

identificados através de brincos numerados na orelha esquerda. Todos os animais

pertenciam a raça Polled Hereford, e apresentavam idade entre 13 e 14 meses e

receberam, desde o desmame até o início do experimento, as mesmas condições de

manejo. As novilhas foram submetidas ao controle de endo e ectoparasitas e vacinadas

contra as enfermidades da região.

Os grupos foram mantidos em diferentes lotações (G800: 150 kg/ha; G700: 200

kg/ha e G600: 300 kg/ha), que se constituíram nos sistemas de alimentação, com o

objetivo de produzir distintos ganhos de peso aos animais de cada grupo, de maneira

que todas as novilhas atingissem pesos similares, 300 kg (ou 65% do peso adulto), ao

final da recria (24/04/2003). Os animais foram pesados mensalmente e as cargas

ajustadas, conforme o ganho de peso no mês anterior de forma a garantir um ganho de

peso próximo do projetado. O ajuste da carga foi realizado com animais reguladores.

Os animais foram pesados mensalmente mediante um jejum prévio de 12 horas.

Nestas ocasiões também foi realizada a mensuração do perímetro torácico (PT) e da

altura da garupa (AG). No dia 23/04/2003 (final do período de recria) foi realizada a

avaliação do escore do trato reprodutivo (ETR), através da palpação retal, conforme a

metodologia proposta por ANDERSEN et al. (1991).

Foram avaliadas as seguintes variávies: peso vivo; GDM na recria; medidas da

AG e do PT; os valores do ETR e a relação peso:altura (PA). A análise das variáveis de

resposta contínua foi realizada usando o programa estatístico SPSS 11.5 (2002).

Foram realizadas as análises de correlação de Pearson entre peso, AG, PT e PA. As

diferenças entre as médias ajustadas foram testadas pelo teste Tukey, segundo o

modelo:

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Yij = µ + Gi + εij, onde: Yij = jésima resposta medida no iésimo grupo de novilhas; µ =

Efeito médio; Gi = Efeito do ganho de peso e; εij = jésimo erro associado à iésima

resposta.

Resultados e Discussão

Na Tabela 3 podem ser observadas as variações nas medidas do PT e da AG e

os valores da PA e do ETR ao final da recria para os três grupos experimentais. O

incremento na altura da garupa (GAG) não foi influenciado pelos tratamentos (P>0,05).

Este resultado está de acordo com as evidências de CRICHTON et al. (1959) e de

VARGAS et al. (1998). Para estes autores a altura é menos susceptível as variações

ambientais do que o peso vivo e, é atingida mais cedo na vida do animal do que o seu

peso adulto. Ou seja, o crescimento do esqueleto, representado pela AG (BARKER et

al. 1988), é pouco afetado pelo nível nutricional. De acordo com JOUBERT et al. (1954)

a medida da AG não evidencia retardo no desenvolvimento nem mesmo em períodos

de déficit nutricional. Deve-se considerar ainda que os ganhos de peso utilizados nos

três grupos do presente trabalho foram relativamente altos, o que também contribuiu

para não se verificar diferenças na GAG das novilhas.

As novilhas do G800 demonstraram uma tendência (P=0,12) de maior

incremento no PT (GPT) do que os grupos G600 e G700, como resultado do maior

ganho de peso no período de recria. Conforme BRODY (1945), o PT pode ser utilizado

com um indicador da condição nutricional dos animais. Estes efeitos foram observados

mais claramente nos valores de ETR, onde as novilhas do G800 apresentavam um

maior desenvolvimento do aparelho reprodutivo ao final da recria (P<0,05) em relação

ao G600. Com relação ao G700, provavelmente a diferença no ganho de peso não foi

suficiente para possibilitar um desenvolvimento do ETR de maior magnitude do que no

G600. Estes resultados sugerem que ganhos de peso superiores a 0,500 kg/dia não

provocam grandes modificações ponderais no trato reprodutivo da novilha. Este

resultado está de acordo com os encontrados por PEREIRA NETO et al. (1998), que

trabalhando com novilhas no sistema ponta e rapador encontrou valores de 3,8 e 3,2

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de ETR, respectivamente. Entretanto, após a estação de monta foi observado um maior

taxa de prenhez nas novilhas que apresentavam maiores ETR ao final da recria neste

mesmo grupo de animais (MONTANHOLI et al. 2004).

A relação PA (Tabela 1) foi similar para os três grupos (P>0,05), sendo os

valores encontrados semelhantes (2,56 kg/cm) aos recomendados por FOX et al.

(1988) (2,53 kg/cm) para novilhas aos 426 dias de idade, independentemente do

tamanho do animal. Entretanto, considerando a maior influência do peso nas idades

mais jovens sobre a atividade reprodutiva das novilhas (WILTBANK et al. 1994), pode-

se propor que as novilhas do presente trabalho, com cerca de 540 dias de idade,

apresentaram valores de PA, relativamente, superiores ao preconizado por FOX et al.

(1988). GRASS et al. (1982) observaram que novilhas recriadas num alto nível de

ganho (0,840 kg/dia) atingiram a puberdade aos 392 dias com 2,93 kg/cm de PA e,

novilhas recriadas num nível de ganho moderado (0,300 kg/dia) se tornaram púberes

aos 467 dias apresentando 2,52 kg/cm de PA.

Tabela 1 - Incrementos no perímetro torácico (GPT) e na altura (GAL), durante a recria,

relação peso:altura (PA) e escore de trato reprodutivo (ETR) ao início do acasalamento,

em relação aos grupos experimentais.

Grupos GPT (cm) GAL (cm) PA (kg/cm) ETR

G600 16,05a 9,20a 2,54a 3,00a

G700 16,13a 8,04a 2,57a 3,35ab

G800 18,83a 9,17a 2,56a 3,96b

a,b: Médias seguidas por letras diferentes na coluna diferem entre si pelo teste Tukey

(P<0,05).

Na Tabela 2 são apresentadas as correlações entre peso, AG, PT e PA na

recria, independentemente do grupo experimental, uma vez que a análise dentro dos

grupos apresentou resultados similares. O peso foi correlacionado com a altura, com o

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PT e com a PA, nos três períodos considerados (Tabela 4). Os valores da correlação

entre peso e AG observados durante a recria são inferiores aos 0,45 obtidos por

THOMPSON et al. (1983) e, a correlação entre peso e PT assemelha-se aos 0,62

observados por NESAMVUNI et al. (2000), embora estes sejam inferiores aos 0,91

obtidos por DUNN et al. (1983). A avaliação das correlações entre PT e altura com o

peso evidencia que o PT é uma medida linear mais adequada para se estimar o peso

do que a AG, o que está de acordo com os resultados de THOMPSON et al. (1983) e

de NELSEN et al. (1985).

Tabela 2 - Análise global das correlações entre peso, altura da garupa (AG), perímetro

torácico (PT) e relação peso:altura (PA), em três períodos da recria.

Periodo Parâmetro AG PT PA

Peso 0,331** 0,550** 0,897**

AG 1 0,229* ns Início da Recria

(novembro) PT --- 1 0,481**

Peso 0,383** 0,512** 0,868**

AG 1 0,224* ns Durante a recria

(fevereiro) PT --- 1 0,432**

Peso 0,307** 0,552** 0,474**

AG 1 ns -0,681** Final da recria

(abril) PT --- 1 0,348**

* P<0,05; ** P<0,01; ns P>0,05.

A alta correlação entre peso e PA nos períodos do início e meio da recria é

similar ao valor de 0,97 encontrado por THOMPSON et al. (1983). Entretanto, no

período final da recria foi observado um menor valor nesta correlação. Isto pode ser

atribuído à diminuição na intensidade do crescimento esquelético das novilhas,

representado pela AG. Pois, o incremento no peso foi de maior magnitude do que o

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aumento na AG, o que repercutiu em um maior incremento na PA neste período. Isto é

melhor evidenciado quando se observa a correlação entre AG e PA, nos dois períodos

iniciais, esta correlação não foi significativa, entretanto no período final esta se tornou

negativa (P<0,01). De maneira similar, pode-se propor que a correlação observada

entre AG e PT nos dois períodos iniciais, que se apresentou não significativa no

período final, também seja atribuída à diminuição do crescimento do esqueleto neste

período.

A PA e o PT são relacionados à condição corporal das novilhas (NELSEN et al.

1985). No presente trabalho foi evidenciada uma correlação positiva entre estes dois

parâmetros. Entretanto, esta correlação foi diminuindo com o avançar do período de

recria, evidenciando que no período de crescimento mais intenso estes parâmetros

estiveram mais correlacionados. O resultado da correlação entre PA e PT encontrada

no presente trabalho é inferior ao valor de 0,88 observado por THOMPSON et al.

(1983).

Conclusões:

A altura da garupa e a relação peso:altura de novilhas de corte não são afetadas

por ganhos de peso entre 0,600 e 0,730 kg/dia dos 13 aos 18 meses de idade. Sendo

as relações peso:altura observadas para os três grupos condizentes com um adequado

desenvolvimento corporal.

Novilhas recriadas em taxas de ganho mais altas apresentam maiores valores

de escore de trato reprodutivo para um mesmo peso alvo (300 kg) ao final da recria,

sugerindo melhores chances de concepção durante o acasalamento de outono aos 18

meses de idade

O perímetro torácico e a relação peso:altura são parâmetros mais adequados do

que a altura da garupa para se estimar o peso vivo.

24

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Projeto III

Introdução Na produção da novilha de reposição os procedimentos de desmame e

estratégias de recria são processos intermediários que conduzem à prenhez no

primeiro acasalamento ou, ainda, além dessa fase e de maneira mais efetiva, na

produtividade da vaca e do rebanho.

Uma característica da bovinocultura de corte é a observação de as unidades de

produção não apresentarem um padrão do sistema produtivo, em que cada unidade

tem uma particular combinação de características como: fertilidade e topografia do

solo, clima, genética animal, capacitação técnica e integração com diferentes cultivos

agrícolas. Isto resulta na dificuldade de formular e colocar em prática um padrão

tecnológico semelhante ao que ocorre nas cadeias avícola e suinícola tão reconhecidas

por suas padronizações de processo e de produto. Desta forma, nos sistemas

pecuários de ciclo mais longo, como nos que utilizam o primeiro acasalamento aos 18

ou 24 meses, existem inúmeras alternativas de alimentação no período entre o

desmame e o acasalamento, sendo que muitas delas propiciam semelhantes

desempenhos em ganho de peso (Beretta & Lobato, 1998; Semmelmman et al., 2001;

Rocha & Lobato, 2002). Contudo, cada alternativa ou sistema alimentar apresenta um

custo em função de suas peculiaridades de produção.

Atualmente, o foco dos experimentos tem sido o primeiro acasalamento aos 14-15

meses de idade. O acasalamento no outono e aos 18 meses, mesmo sendo

alternativas viáveis econômica e biologicamente que se ajustam aos sistemas

baseados em pastagens nativas (Silva et al., 2005; Salomoni & Silveira, 1996), têm

sido pouco estudados.

O conceito de peso alvo ao acasalamento equivalente a 65 % do peso adulto para

obtenção de elevada taxa de prenhez (Bolze & Corah, 1993) é utilizado também nos

acasalamentos aos 18 meses (Montanholi et al., 2004; Silva et al., 2005) como

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referência para o planejamento do ganho de peso a ser obtido durante a recria, mas o

ganho de peso que precede o acasalamento aos 18 meses também exerce efeito

importante na taxa de prenhez (Montanholi et al., 2004). Barcellos (2001) observou que

medidas como relação peso:altura e altura da garupa aos 11 meses de idade estão

relacionadas com a idade em que se manifesta a puberdade em novilhas da raça

Braford. Assim, a avaliação de determinada característica em determinado momento da

recria pode ser uma referência de como o processo está ocorrendo e quais medidas

serão necessárias para que as novilhas cheguem ao acasalamento capacitadas a

iniciar sua vida produtiva com alta probabilidade de concepção.

O objetivo deste experimento foi avaliar o efeito de diferentes seqüências de

ganho de peso em três períodos dos 7 aos 18 meses de idade e a importância de

medidas corporais em determinados momentos da recria sobre a probabilidade de

prenhez estimada de novilhas de corte acasaladas aos 18 meses de idade.

Material e Métodos O experimento foi realizado no município de Bagé, estado do Rio Grande do Sul,

no período de 16 de setembro 2004 até 29 de março de 2005. A área onde o

experimento foi desenvolvido pertence a uma propriedade particular. Foram

utilizadas 210 terneiras da raça Hereford nascidas na primavera de 2003 e

desmamadas no outono de 2004, com idade inicial média de 7 meses e peso médio de

171,1 kg, originadas de um rebanho comercial. No início do experimento os animais

foram submetidos à avaliação que incluiu pesagem, atribuição de escore de condição

corporal (escala de 1 até 5) e medidas da altura da garupa e perímetro torácico,

utilizando-se régua e fita métrica, respectivamente, ambas com precisão de 0,5 cm.

Após, os animais foram distribuídos aleatoriamente em três grupos experimentais de 70

animais e cada grupo foi submetido a um tratamento e permaneceu sempre no mesmo

piquete. Os lotes ocuparam uma área total de 230 ha. As avaliações seguintes foram

realizadas a cada 35 dias para as características: peso e escore de condição corporal

(ECC) e a cada 70 dias para as medidas de altura da garupa (AG) e perímetro torácico

(PT), sempre após jejum total de 14 horas. A variável relação peso:altura (PA) foi

gerada pela divisão do peso pela altura de garupa em cada avaliação.

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A variável espessura de gordura subcutânea (EGSP8) foi avaliada por ultra-som

no início do acasalamento. Foi utilizada uma unidade principal – eco-câmera da marca

Aloka SSD 500V (Eletro Medicina Berger, Ltda), equipada com um transdutor de

arranjo linear de 64 mm com 5 Mhz de freqüência e óleo vegetal como acoplante

acústico. As imagens foram interpretadas por meio do software Auskey4W (Animal

Ultrasound Service Inc, 1994). A medida foi realizada na região da picanha, chamada

sítio P8 (Position 8) ou rump fat (intersecção entre os músculos Gluteus medius e

Biceps femoris).

Os tratamentos foram denominados de acordo com o ganho de peso diário médio

(GDM) planejado no primeiro, segundo e terceiro período, respectivamente: Baixo

(0,000 kg/d), Alto (0,900 kg/d) e Moderado (0,650 kg/d) (BAM); Moderado (0,200 kg/d),

Moderado (0,490 kg/d) e Alto (0,760 kg/d) (MMA); Alto (0,480 kg/d), Baixo (0,460 kg/d)

e Baixo (0,480 kg/d) (ABB).

O método de acasalamento foi a monta natural com duração de 60 dias em que

cada lote de novilhas recebeu o serviço de 3 touros da raça Hereford aprovados em

exame andrológico, experientes e capacitados fisicamente a realizar a cópula. O

diagnostico de gestação foi realizado por palpação retal após 77 dias da retirada dos

touros.

Foi utilizado o delineamento experimental inteiramente casualizado com três

tratamentos onde a repetição foi o animal. Foram excluídos da análise os dados de 27

novilhas por motivo de morte (1 do tratamento MMA), doença (1 do tratamento MMA),

desempenho muito diferente da média do tratamento (7 do tratamento MMA e 10 do

tratamento ABB) ou prenhez antes do início do acasalamento causada pela invasão do

piquete por um touro (3 no tratamento MMA e 5 no tratamento BAM), resultando em 65,

58 e 60 repetições para os tratamentos BAM, MMA e ABB, respectivamente.

As análises estatísticas foram realizadas utilizando o programa estatístico SAS

versão 8.02 (SAS, 1999). Os dados de espessura de gordura no sítio P8 (EGSP8) e

ganho de peso durante o acasalamento foram submetidos à análise da variância e as

médias ajustadas foram comparadas pelo teste t pelo procedimento General Linear

Models (GLM). O peso inicial foi incluído no modelo como covariável e posteriormente

retirado por não apresentar efeito significativo (P> 0,05). A estimativa da probabilidade

de prenhez e a mudança na chance de prenhez (OR, odds ratio) em função da

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mudança nas variáveis independentes foram realizadas por meio da metodologia da

regressão logística, utilizando o procedimento LOGISTIC. As variáveis foram

selecionadas pelo método setpwise com níveis de probabilidade máximos de 0,25 para

entrar no modelo e 0,30 para permanecer. A qualidade de ajuste do modelo foi avaliada

segundo a estatística de Hosmer & Lemeshow (Hosmer & Lemeshow, 2000).

Resultados e Discussão

A evolução dos pesos das novilhas conforme o tratamento a que foram

submetidas pode ser visualizada na Figura 1.

Evolução do peso

165

215

265

315

21/4

/04

21/5

/04

21/6

/04

21/7

/04

21/8

/04

21/9

/04

21/1

0/04

21/1

1/04

21/1

2/04

21/1

/05

21/2

/05

21/3

/05

DataDate

Peso

, kg

Body

wei

ght,

kg

MMA 168,60 188,50 259,88 313,64

BAM 171,45 170,34 266,26 312,86

ABB 172,67 230,50 281,08 309,05

21/4/2004 16/9/2004 17/12/2004 29/3/2005

Figura 1- Evolução do peso de novilhas dos 7 aos 18 meses de idade. MMA, ABB e

BAM= seqüência de ganho de peso dos 7 aos 12; dos 12 aos 15 e dos 15 aos

18 meses de idade. Ganho alto (A), ganho moderado (M) ou ganho baixo (B).

Os ganhos diários médios observados se encontram na Tabela 1. O consumo

total de suplemento por novilha para obter os ganhos observados durante o

experimento foram de 301, 284 e 322 kg para os tratamentos MMA, BAM e ABB,

respectivamente. Nos períodos de outono-inverno e verão os ganhos foram inferiores

aos planejados nos três tratamentos, enquanto na primavera os ganhos planejados

foram superados pelos observados. O ganho de peso durante o acasalamento diferiu

28

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entre os tratamentos. As novilhas submetidas ao tratamento ABB apresentaram maior

ganho de peso que as demais (P = 0,09). Esses animais estavam em regime de menor

ganho de peso no período anterior ao acasalamento e, provavelmente, apresentaram

crescimento conpensatório quando foi oferecida condição de alimentação semelhante

aos demais grupos durante o acasalamento.

Tabela 1- Ganho de peso diário médio (GDM) observado durante o experimento.

GDM, kg ADG, kg

Tratamento

* Treatment*

21/04/04 - 16/09/04 04/21/04 -09/16/04

17/09/04 -

16/12/04 09/17/0 4- 12/16/04

17/12/04 -

29/03/05 12/17/04 - 03/29/05

Acasalamento Mating

BAM LHM

-0,01 1,04 0,46 0,27

MMA MMH

0,13 0,78 0,53 0,29

ABB HLL

0,39 0,55 0,27 0,34

* MMA, ABB e BAM= seqüência de ganho de peso dos 7 aos 12; dos 12 aos 15 e dos 15 aos 18 meses

de idade. Ganho alto (A), ganho moderado (M) ou ganho baixo (B).

Ao início do acasalamento a espessura de gordura de cobertura (EGS), na região

da picanha, diferiu entre os tratamentos (Tabela 2). Essa medida refletiu o ganho de

peso nos últimos dois períodos (P15 e P18), indicando que a gordura de cobertura ao

acasalamento foi acumulada tardiamente durante a recria e a gordura depositada

precocemente durante o P12 pode ter sido mobilizada, visto que os tratamentos

resultaram no mesmo peso final e os animais do tratamento ABB, que ganharam peso

antecipadamente e tiveram melhor ECC aos 12 meses de idade, chegaram ao

acasalamento com o equivalente a 73% da EGS P18 média dos dois outros

tratamentos.

29

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Tabela 2- Efeito da seqüência de ganho de peso na recria de novilhas sobre a

espessura de gordura subcutânea no sítio P8 (EGSP8) ao início do acasalamento aos

18 meses de idade e percentagem de prenhez.

Tratamento*

Treatment*

Característica

Caracteristic

BAM

LHM

MMA

MMH

ABB

HLL

EGSP8, mm

Rump Fat, mm

1,96±0,10a 2,19±0,11a 1,53±0,11b

Prenhez, %

Pregnancy, %

81,54B 94,83A 80,0B

a,b: Médias seguidas de letras diferentes na mesma linha diferem (P<0,05) pelo teste t.

A,B: Percentagens de prenhez seguidas de letras diferentes na mesma linha diferem (P<0,05) pelo teste

χ2.

A percentagem de prenhez foi maior no tratamento MMA, que apresentou maior

valor de EGSP8 associado ao pequeno ganho de peso no início da recria (P12). Todos

os animais que receberam os diferentes tratamentos apresentaram mesmos pesos

médios à desmama e ao acasalamento; portanto, descartado o efeito de peso à

desmama e peso ao acasalamento, o teor de gordura corporal ao acasalamento foi

associado ao melhor desempenho reprodutivo das novilhas acasaladas aos 18 meses

de idade. Muitos experimentos mostram o efeito positivo da EGS sobre a taxa de

prenhez, porém, maior EGS geralmente está associada a maior peso, como no

experimento de Barker et al. (1985) em que novilhas da raça Shorthorn tiveram ganho

de peso baixo ou moderado a partir do desmame aos 7 meses de idade até o

acasalamento aos 15 meses de idade. As novilhas que ganharam peso

moderadamente foram 25 kg mais pesadas, tiveram EGS 3 mm maior ao início do

acasalamento e tiveram taxa de parição 9 % maior que as que ganharam baixo peso.

Barcellos (2001) observou redução na idade à puberdade com maior EGS aos 11

meses de idade, mas essa relação não foi linear e, na medida em que a novilha foi

mais gorda, os efeitos da EGS foram menores, sugerindo que após atingir um nível

mínimo de gordura corporal outros fatores passam a interferir na manifestação da

puberdade. Com base nisto, Hall et al. (1995) não conseguiram provar que a

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puberdade ocorre a uma determinada composição corporal quando trabalharam com

novilhas com maiores espessuras de gordura de cobertura. Essas novilhas receberam

nível nutricional moderado ou alto produzindo valores para o EGS, sobre o músculo

Longissimus dorsi, de 4,4 e 6,8 mm no momento da puberdade. Considerando que os

valores das medidas realizadas no sítio P8 são normalmente maiores que sobre o

músculo Longissimus dorsi na altura da 13ª costela porque o sítio P8 é uma região de

deposição de gordura precoce, o teor de gordura corporal das novilhas em análise

neste experimento foi menor e, portanto, ainda podem estar dentro de um nível

limitante de energia de reserva.

Na seleção de variáveis no modelo completo de estimativa de prenhez, em que

foram disponíveis para seleção todas as variáveis nas quatro idades (7, 12, 15 e 18

meses), foram selecionadas as variáveis escore de condição corporal aos 12 meses

(ECC12) e perímetro torácico aos 18 meses (PT18), além do efeito de tratamento (y= -

30,6165 + 1,5294 ECC12 + 0,1701 PT11 + Trat (ABB= 0,0; BAM= 1,1699 e MMA=

2,2996); H&L=0,30) (Tabela 3). A estatística de Hosmer & Lemeshow (H&L) de 0,30

revela que a qualidade de ajuste do modelo não fornece uma estimativa precisa, pois

quanto mais próxima de 1,0 melhor será a qualidade de ajuste do modelo.

Tabela 3- Estimativa da razão entre chances (OR) para as variáveis perímetro torácico aos 18 meses de

idade (PT 18 meses), escore de condição corporal aos 12 meses de idade (ECC 12 meses) e

tratamento (BAM vs ABB e MMA vs ABB) para prenhez de novilhas aos 18 meses de idade.

Variável

Variable Unidade

Unit

Estimativa de OR

Estimate of OR

Probabilidade

Probability

PT18

HG18

1 cm 1,185 0,0010

ECC12

BCS12

0,5 ponto 2,148 0,1722

BAM vs ABB

LHM vs. HLL

- 3,222 0,1437

MMA vs ABB

LLH vs. HLL

- 9,970 0,0046

MMA, ABB e BAM são seqüências de ganho de peso dos 7 aos 12; dos 12 aos 15 e dos 15

aos 18 meses de idade. Ganho alto (A), ganho moderado (M) ou ganho baixo (B).

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Foi tomada como referência o tratamento ABB que propiciou menor percentagem

de prenhez. Segundo a estatística de razão de chances (OR), as novilhas que

receberam o tratamento BAM tiveram 3,2 vezes mais chances de conceber, enquanto

nas do tratamento MMA as chances foram 9,9 vezes maiores que as do ABB.

O ECC12 é definido pelo nível nutricional pós-desmama independentemente do

tamanho do animal. Para cada aumento de 0,5 pontos do ECC12, as chances de

conceber aumentaram em 2,14 vezes (114%); este efeito foi maior que os 34,1 %

encontrados por Grecellé (2005) ao início do acasalamento de vacas Nelore x

Hereford. Entretanto, desconsiderando a diferença de tempo entre os 12 meses e o

acasalamento, neste experimento os 0,5 ponto a mais aos 12 meses significou um

aumento de peso próximo a 50 kg nas novilhas, enquanto para vacas adultas esse

valor fica em torno de 25 kg tomando como base vacas da raça Aberdeen Angus no

período pré-acasalamento (Tennant et al., 2002). Com base nessa relação entre kg de

ganho de peso e ECC, para que uma novilha ganhe 0,5 ponto a mais durante o P12, o

GDM deve aumentar em 0,337 kg/dia. Ajustando a OR para cada 0,1 ponto de ECC12

a mais, a chance de prenhez aumenta em 16 %.

Para cada 1 cm a mais do perímetro torácico (PT18) a chance de concepção foi

18% maior. O efeito da variável PT18 mostrou maior significância no modelo na

estimativa da probabilidade de prenhez que o ECC12. Isto indica que alto PT18 mesmo

quando combinado com baixo ECC12 produz altas estimativas de probabilidade de

prenhez, mas o inverso não ocorre; os valores mais altos de ECC12 resultam em

maiores estimativas somente quando associados a altos PT18. Isto mostra validade

quando se considera que ECC12 é uma medida cronologicamente distante 6 meses do

acasalamento e o percentual de gordura corporal varia com o tempo, enquanto a

medida de PT associa o desenvolvimento dos tecidos ósseo, muscular e adiposo. De

qualquer forma, as duas variáveis de importância que foram selecionadas são

indicativos de condição corporal e desenvolvimento.

A variável perímetro torácico (PT18) foi novamente selecionada juntamente com

tratamento para formular o modelo para os 18 meses de idade no início do

acasalamento (Y= -28,215 + 0,1844 PT11 + Trat (ABB=0; BAM= 0,3210 e MMA=

1,7895), H&L= 0,89). Este modelo, entre os estudados neste experimento, foi o que

resultou em melhor qualidade de ajuste, sendo que o valor de 0,89 para a estatística de

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H&L significa grande confiabilidade na estimativa. O aumento de 1 cm no PT18

resultou em aumento de 20 % sobre a OR (Tabela 4), que foi próximo ao valor

estimado no modelo incluindo ECC12, modelo este que apresentou menor qualidade

de ajuste (H&L= 0,30). Apesar da variável ECC12 apresentar nível de probabilidade

suficiente para compor aquele modelo, ela não contribui para maior precisão na

estimativa da probabilidade de prenhez e seria descartada caso o critério de seleção de

variáveis adotado fosse uma menor probabilidade ou a máxima estatística H&L.

Entretanto, na regressão logística os níveis de significância entre 0,20 e 0,30 para a

variável entrar no modelo são os recomendados (Hosmer & Lemeshow, 2000).

Segundo o modelo, as novilhas do tratamento MMA tiveram maior chance de

prenhez que as do tratamento ABB, enquanto que esta chance não diferiu entre as

novilhas que receberam os tratamentos BAM e ABB (Tabela 4).

Tabela 4- Estimativa da razão entre chances (OR) para as variáveis perímetro torácico aos 18 meses de

idade e tratamento (BAM vs ABB e MMA vs ABB) para prenhez de novilhas aos 18 meses de

idade.

Variável

Variable Unidade

Unit

Estimativa de OR

Estimate of OR

Probabilidade

Probability

PT18

HG18

1 1,203 0,0003

BAM vs ABB

LHM vs. HLL

- 1,378 0,5090

MMA vs ABB

LLH vs. HLL

- 5,987 0,0104

MMA, ABB e BAM são seqüências de ganho de peso dos 7 aos 12; dos 12 aos 15 e dos 15

aos 18 meses de idade. Ganho alto (A), ganho moderado (M) ou ganho baixo (B).

Ao avaliar o efeito da seleção com base em diversas medidas a fim de melhorar a

taxa de prenhez, Whittier & Meek (1998) também identificaram o PT prévio ao

acasalamento como a medida mais importante, mesmo que nesse experimento o

acasalamento tenha sido conduzido aos 14 meses.

Muitos pesquisadores têm relatado que o peso ao início do acasalamento é o

principal fator determinante do desempenho reprodutivo, mas quando outras medidas

são incluídas na análise estas podem tomar grande importância. Conforme Wiltbank et

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al. (1966), peso é somente um dos fatores determinando a ocorrência da puberdade;

após certo peso crítico ser alcançado, a variação no peso não tem efeito ou este é

baixo. Entretanto, PT é uma medida altamente correlacionada com peso. Thompson et

al. (1983) encontraram coeficiente de correlação de 0,89 em vacas Angus e Hereford

para as duas características e neste experimento a correlação foi de 0,73 (P< 0,0001).

Aos 7 meses de idade, logo após o desmame, a relação peso:altura (PA7) foi a

medida que mostrou efeito significativo na estimativa da probabilidade de prenhez

(Tabela 5). Ao aumentar 100 g de peso por cm de altura aos 7 meses de idade, as

chances de prenhez aumentam 74% (Tabela 5) (Y= -7,7997 + 262,122 PA7 + Trat

(ABB=0; BAM= 0,1505 e MMA= 1,6313), H&L= 0,71). Neste modelo, quando as

novilhas têm 7 meses de idade, a chance de prenhez em relação ao tratamento ABB

não aumenta se a novilha receber o tratamento BAM, mas é 5,11 vezes maior se

receber o tratamento MMA.

Tabela 5- Estimativa da razão entre chances (OR) para as variáveis relação peso:altura aos 7 meses de

idade (PA7) e tratamento (BAM vs ABB e MMA vs ABB) para prenhez (OR) de novilhas aos

18 meses de idade.

Variável

Variable Unidade

Unit

Estimativa de OR

Estimate of OR

Probabilidade

Probability

PA7

WH7

0,1 kg/cm 1,745 0,0073

BAM vs ABB

LHM vs. HLL

- 1,162 0,7481

MMA vs ABB

LLH vs. HLL

- 5,111 0,0172

MMA, ABB e BAM são seqüências de ganho de peso dos 7 aos 12; dos 12 aos 15 e dos 15

aos 18 meses de idade. Ganho alto (A), ganho moderado (M) ou ganho baixo (B).

Para Whittier & Meek (1998), a seleção pela relação peso:altura pode ser mais

eficiente que por peso ou altura isoladamente. As novilhas com maior valor de PA têm

altura moderada em relação ao peso e este tipo de animal possivelmente é mais

precoce; entretanto, a seleção de animais ao desmame não melhorou o desempenho

reprodutivo aos 14 meses de idade. Segundo Nelsen et al. (1985), a relação

peso:altura é um bom indicativo da condição corporal de animais de mesmo histórico

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nutricional. No caso das novilhas com 7 meses de idade isto significa a fase pré-

desmame e qualquer redução no desempenho animal antes dos 7 meses de idade é

muito difícil de ser recuperada (Bagley, 1993). A fase pré-desmame tem efeitos sobre o

futuro desempenho reprodutivo, pois a maturação de órgãos como hipófise e ovários

ocorre bem antes da puberdade e alguns componentes do sistema endócrino-

reprodutivo são funcionais desde 1 mês de idade em novilhas (Kinder et al., 1994).

Nas fases intermediárias do experimento, aos 12 e aos 15 meses de idade, em

que os tratamentos aplicados diferiram quanto ao peso e demais características, o

peso foi a variável de maior efeito no modelo de estimativa de prenhez aos 18 meses

(Tabela 6 e Tabela 7).

Tabela 6- Estimativa da razão entre chances (OR) para as variáveis peso aos 12 meses de idade

(Peso12) e tratamento (BAM vs ABB e MMA vs ABB) para prenhez de novilhas aos 18

meses de idade.

Variável

Variable Unidade

Unit

Estimativa de OR

Estimate of OR

Probabilidade

Probability

Peso12

BW12

10 kg 1,491 0,0031

BAM vs ABB

LHM vs. HLL

- 11,356 0,0071

MMA vs ABB

LLH vs. HLL

- 23,941 0,0003

MMA, ABB e BAM são seqüências de ganho de peso dos 7 aos 12; dos 12 aos 15 e dos

15 aos 18 meses de idade. Ganho alto (A), ganho moderado (M) ou ganho baixo (B).

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Tabela 7- Estimativa da razão entre chances (OR) para as variáveis peso aos 15 meses de idade

(Peso15) e tratamento (BAM vs ABB e MMA vs ABB) para prenhez de novilhas aos 18 meses

de idade.

Variável

Variable Unidade

Unit

Estimativa de OR

Estimate of OR

Probabilidade

Probability

Peso15

BW15

10 kg 1,507 0,0005

BAM vs ABB

LHM vs. HLL

- 2,149 0,1432

MMA vs ABB

LLH vs. HLL

- 10,621 0,0012

MMA, ABB e BAM são seqüências de ganho de peso dos 7 aos 12; dos 12 aos 15 e dos

15 aos 18 meses de idade. Ganho alto (A), ganho moderado (M) ou ganho baixo (B).

O período crítico da recria, que é a fase pós-desmama, termina ao final do

inverno, quando as novilhas completam os 12 meses de idade. O resultado do

desempenho nesta fase é evidenciado no peso aos 12 meses. O tratamento MMA, que

apresentou maior peso aos 12 meses, também apresentou maior taxa de prenhez que

o tratamento BAM, mesmo que peso ao início do acasalamento e gordura de cobertura

tenham sido semelhantes. O baixo ganho de peso nesta fase comprometeu o

desempenho reprodutivo, mesmo que o peso tenha sido recuperado posteriormente.

Borges Pelaggio & Frick Capurro (2002) consideram que o conceito de peso crítico

perde a importância relatriva como indicador do desempenho reprodutivo no

acasalamento aos 18 meses frente a fatores como o ganho de peso no inverno. Estes

autores verificaram que o peso ao final do inverno teve maior importância na estimativa

da probabilidade de prenhez aos 18 meses que peso inicial ou peso ao acasalamento,

tanto para as novilhas Hereford como para as 2/3 Brahman 1/3 Hereford ou 2/3

Hereford 1/3 Brahman.

O peso de 312 kg ao acasalamento foi equivalente a 65 % do peso das vacas

adultas do rebanho de origem das novilhas, o que, segundo Silva et al. (2005), que

trabalharam com animais do mesmo rebanho, é de 480 kg. Conforme Bolze & Corah

(1993), este índice é adequado para obter elevada taxa de prenhez e inclusive o

percentual do peso de acasalamento pode ser levemente inferior aos 65% do peso

adulto. Funston & Deutscher (2004) observaram taxas de prenhez de 92 % e 88 % para

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novilhas acasaladas durante 45 dias com pesos iniciais equivalentes a 53 % e 58 % do

peso adulto.

A importância do peso ao início do acasalamento sobre taxa de prenhez depende

do grupo genético. Segundo Sawyer et al. (1991), em dez raças de corte e

cruzamentos estudados, a relação positiva entre peso ao início do acasalamento e taxa

de prenhez foi significativa em dois terços dos grupos genéticos, especialmente nos

cruzamentos e nas raças de maior tamanho adulto.

Foi formulado um modelo de estimativa da probabilidade de prenhez somente

com a variável ganho de peso nos períodos dos sete aos 12 meses (GP12), dos 12 aos

15 (GP15) e dos 15 aos 18 meses de idade (GP18), 30 dias antes do acasalamento e

durante o acasalamento. As duas últimas variáveis (30 dias antes e durante o

acasalamento) não apresentaram efeito significativo suficiente para compor o modelo

(P> 0,3) (y= -3,6131+ 0,0431 GP12 + 0,0432 GP15 + 0,0302 GP18; H&L= 0,77).

Sawyer et al. (1991) também não encontraram relação entre taxa de mudança de peso

ou de ECC durante o acasalamento e taxa de prenhez em 10 grupos genéticos

diferentes constituídos por raças puras e cruzamentos.

A mudança na OR para um aumento de 10 kg de ganho de peso nos períodos

P12 e P15 foi semelhante. Contudo, aos 18 meses ocorreu um aumento na taxa de

mudança de 54%. Durante o P18, que precedeu o acasalamento, esse aumento na

chance de prenhez foi de 35% a cada 10 kg a mais de peso ganhos no período. Esse

menor efeito do ganho de peso durante o P18 pode não ser devido à menor

importância do crescimento em si, mas porque o impacto de 10 kg de peso ganhos

quando os animais são mais leves, durante P12 e P15, é relativamente maior.

Conforme o peso médio em cada tratamento ao final de cada período, um aumento de

10 kg representa 5% do peso aos 12 meses; 3,7% do peso aos 15 meses e 3,2% do

peso aos 18 meses de idade.

O efeito de tratamento na estimativa de OR variou conforme o modelo, mas as

novilhas do tratamento MMA sempre tiveram maiores chances de prenhez em relação

às do tratamento ABB. As novilhas do tratamento BAM nem sempre tiveram chances

de prenhez significativamente maiores que as do tratamento ABB. A combinação de

um ganho de peso no inverno (19,5 kg no período de 148 dias ou GDM de 0,131

kg/dia) que possibilitou o ganho compensatório na primavera e o alto ganho de peso

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antecedendo o acasalamento foram os fatores que determinaram a maior taxa de

prenhez do tratamento MMA e não apenas o maior ganho de peso ao final da recria.

Este resultado foi semelhante ao observado por Montanholi et al. (2004), que

demonstraram que o maior ganho de peso dos 13 aos 18 meses de idade não resultou

em taxa de prenhez significativamente maior em novilhas Hereford, também

acasaladas aos 18 meses, mas permitiu melhor desenvolvimento do trato reprodutivo

das mesmas. Baptiste et al. (2005), num experimento repetido em dois anos,

alimentaram novilhas Angus, Hereford e Angus x Hereford durante 42 e 47 dias antes

da sincronização de estro e forneceram dietas de alta ou baixa energia. No primeiro

ano proporcionaram GDM de 0,23 e 0,68 kg/dia, respectivamente, e no segundo ano

de 0,46 e 0,79 kg/dia. O nível energético da dieta não interferiu na percentagem de

novilhas púberes ao final do período de alimentação, resposta em estro à sincronização

e taxa de prenhez, mas o diâmetro do maior folículo foi superior nas novilhas

recebendo dieta de alta energia.

Outros experimentos foram conduzidos com metodologia e objetivos

semelhantes, embora, visando o acasalamento aos 14-15 meses de idade. Clanton et

al. (1983) dividiram o período de recria de novilhas cruza Angus x Hereford

desmamadas aos 200 dias de idade em 2 fases de diferentes ganhos de peso a partir

de 45 dias após o desmame. Ao final do experimento que durou 185, 170 e 173 dias

nos três anos em que foi repetido, quando as novilhas tinham 12 meses de idade não

foram detectadas diferenças nas medidas de crescimento, altura de garupa e perímetro

torácico, no peso e na taxa de prenhez, e posteriormente, na taxa de parição. Os

autores concluiram não recomendando um sistema em particular, apenas ressaltaram

que o ganho de peso precoce na recria pode resultar em maiores gastos de

alimentação para manter animais mais pesados no final do período. Posteriormente

Lynch et al. (1997) conduziram experimento semelhante e também não encontraram

diferenças tanto no crescimento quanto no desempenho reprodutivo; entretanto, estes

autores mediram o consumo de alimentos e verificaram que nos dois anos em que foi

repetido o experimento, as novilhas que foram submetidas ao maior ganho de peso

tardiamente consumiram menor quantidade de matéria seca de alimento sendo a

economia de 12 % significativa no primeiro ano e a diferença de 2,5 % não significativa

no segundo ano. A semelhança no desempenho entre os tratamentos dos

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experimentos supracitados pode ser resultado do curto período em que foram

aplicados os diferentes ganhos de peso e da alta taxa de crescimento. Considerando

os resultados de outros pesquisadores e os dados observados no presente estudo, o

diferente desempenho entre os tratamentos pode ser atribuído à diferença na

composição corporal ao acasalamento, representado pela espessura de gordura de

cobertura no sítio P8 e ao ganho de peso dos 7 aos 12 meses.

Conclusões

A seqüência do ganho de peso entre os sete meses de idade e os 18 meses

influencia a taxa de prenhez e a espessura de gordura subcutânea de novilhas de corte

acasaladas aos 18 meses de idade.

A melhor condição corporal adquirida até os 12 meses de idade não se mantém

até o acasalamento e, a maior espessura de gordura de cobertura ao início do

acasalamento é efeito da maior taxa de crescimento ao final da recria.

Os pesos aos 12 meses e aos 15 meses de idade têm efeito semelhante sobre a

taxa de prenhez assim como o ganho de peso dos 7 aos 12 e dos 12 aos 15 meses de

idade..

A medida de perímetro torácico ao início do acasalamento é uma boa referência

para estimativas da taxa de prenhez.

Peso, Idade de Acasalamento e Taxa de Prenhez:

Projeto I Introdução

Um sistema de produção de bovinos de corte que visa a sustentabilidade,

baseada na viabilidade biológica e econômica, requer a compreensão de inúmeros

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fatores relacionados à produção, a implantação e utilização de novas tecnologias e

práticas de manejo que estimulem o aumento da produtividade.

A idade ao primeiro acasalamento em bovinos de corte é uma variável que afeta

a produtividade dos sistemas de cria à medida que reduz o número de novilhas em

recria e (Potter et al., 1998) e aumenta a produtividade da vaca (Chapman et al.,

1978). Contudo, este aumento da produtividade deve ser acompanhado pelo retorno

econômico resultante destas melhorias físicas do sistema (Faria, 1996; Barcellos et al.,

2003).

Até o início da primeira temporada de acasalamento, as novilhas encontram-se

em uma das etapas mais onerosas do ciclo de produção, pois esta categoria ainda

nada produz e tem grandes exigências nutricionais (Ferrel & Jenkins, 1988; Rocha &

Lobato, 2002). Quando se busca a máxima eficiência biológica da novilha, deve-se

fazer o acasalamento quando os animais estão com 14-15 meses de idade, porém para

isso são necessários elevados aportes alimentares durante a criação da novilha, os

quais normalmente têm custo elevado e muitas vezes não garantem desempenhos

satisfatórios (Freitas et al., 2003).

O elevado custo desse tipo de alimentação envolve utilização de sistemas

intensivos de criação, com utilização de pastagens cultivadas e suplementação

alimentar estratégica. No Estado do Rio Grande do Sul, em sistemas que utilizem

somente pastagens nativas, dificilmente a novilha atinge o desenvolvimento necessário

para o acasalamento aos 14 meses, pois mesmo com cargas animais ajustadas e

trabalhando-se com vedação de piquetes, alguns trabalhos demonstraram baixos

índices reprodutivos, os quais, limitaram o desejado aumento da produtividade do

sistema (Rocha & Lobato, 2002; Freitas et al. 2003). Por outro lado, Eller et al., (2002)

e Silva et al., (2003) em regiões tropicais, demonstraram a relevância do acasalamento

da novilha aos 14 meses para a obtenção de maiores produtividades em sistemas de

cria.

Como alternativa para reduzir a idade ao primeiro acasalamento dos 24 para os

14-15 meses de idade, pode-se utilizar sistemas intermediários com o primeiro serviço

aos 18 meses de idade, numa outra estação reprodutiva, no outono. Nesse sistema, os

custos com a criação das novilhas são menores que os obtidos no sistema 14-15

meses. Além da diminuição dos custos para recria da desmama até o acasalamento,

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por meio da antecipação da temporada normal, consegue-se a diminuição das

exigências nutricionais no segundo acasalamento, na primavera, buscando assim um

melhor desempenho reprodutivo dessa categoria, por não mais estarem lactando

(Sampedro et al., 1995). Contudo, o incremento da utilização desta idade ao primeiro

serviço, como prática de manejo, irá determinar a existência de dois rebanhos distintos

num mesmo sistema de cria, o de primavera e o de outono, podendo ser considerado

uma desvantagem ao sistema de produção. Além disto, os bezerros nascidos dos

partos de outono apresentam menor peso à desmama quando comparados aos de

primavera (Barcellos et al. 1996).

Visando avaliar a viabilidade dessa alternativa, foi desenvolvido este

experimento com o objetivo de avaliar o desempenho reprodutivo, a produtividade e

eficiência de novilhas acasaladas aos 18 ou 24 meses de idade.

Material e Métodos

Foram utilizadas 89 novilhas Hereford, nascidas na primavera de 1998, originadas

do rebanho comercial da propriedade cuja idade ao acasalamento ocorre aos 24 meses

de idade. Nesse rebanho toda a matriz, em idade apta à reprodução, que estiver vazia

no diagnóstico de gestação é sumariamente eliminada do programa de cria. Essas

novilhas foram separadas aleatoriamente em dois grupos experimentais em 05 de abril

de 2000. Um grupo, constituído de 46 novilhas, para o acasalamento aos 18 meses de

idade (18M), o qual ocorreu no outono (05/04 – 20/05/2000) e o outro, de 43 novilhas,

para o acasalamento aos 24 meses de idade (24M), na primavera/verão (04/11 –

19/12/2000), ambos por monta natural, utilizando 2 touros em cada grupo, sendo todos

com os mesmos valores esperados na progênie para a característica de peso à

desmama. Dentro dos grupos, a diferença de idade das novilhas era de, no máximo 60

dias, podendo variar , no grupo 18M, de 17 até 19 meses de idade e no de 24M, de 23

até 25 meses.

As novilhas foram pesadas no início (PIA) e no final de cada temporada de

acasalamento, permitindo medir o ganho de peso diário médio durante o acasalamento

(GDM). A cada pesagem, as novilhas foram submetidas a uma avaliação visual de sua

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condição corporal (CC), conforme os critérios adaptados da classificação de Lowman et

al. (1973), sendo CC= 1 muito magro e CC= 5 muito gordo.

Durante as temporadas de acasalamento foram coletadas amostras de pasto,

através do método descrito por t’Mannetje (1978), para medir a disponibilidade e a

qualidade dessa forragem.

Os bezerros nascidos no final do verão de 2000 e primavera de 2001, filhos das

novilhas dos grupos 18M e do grupo 24M, respectivamente, foram desmamados em 08

de setembro e 15 de março, com idades médias de 210 e 200 dias, respectivamente.

O cálculo dos índices de produtividade (P) para as duas idades de acasalamento

foi baseado no procedimento descrito por Baker & Carter (1976), onde: Produtividade =

(número de bezerros desmamados * peso médio dos bezerros a desmama) / número

de novilhas acasaladas. No presente experimento, para o cálculo da produtividade,

foram considerados o número de novilhas acasaladas, o número de bezerros

desmamados e o peso médio à desmama ajustado para a idade padrão de 205 dias.

A eficiência (E) dos dois sistemas de acasalamento também foi calculada a partir

de Baker & Carter (1976), onde: Eficiência = Produtividade / (Peso da vaca/100).

Como os dados e os erros experimentais de P e E não apresentaram uma

distribuição normal, pela ocorrência do valor zero atribuído às novilhas que não

conceberam, estes sofreram uma transformação logarítimica y = ln (x+0,5), onde y é a

variável transformada e x a variável na escala original (SPSS, 2002).

Uma análise preliminar, dentro de cada grupo, não demonstrou efeitos da idade

real da novilha sobre os parâmetros estudados. A porcentagem de prenhez (TP) foi calculada com base no diagnóstico de

gestação por palpação retal, 90 dias após o término do período de monta, sendo

comparada entre os dois grupos experimentais (18M e 24M) pelo teste Qui-quadrado

(SPSS, 2002).

A comparação entre tratamentos quanto às variáveis contínuas foi feita pelo teste

t usando o programa estatístico Statgraphics 4.1 (1999).

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Resultados e Discussão

Na tabela 1, estão apresentados os resultados de peso no início do

acasalamento (PIA) e taxa de prenhez (TP) dos grupos experimentais.

Tabela 1. Efeitos da idade e peso vivo (PIA) sobre a taxa de prenhez (TP) de novilhas

de corte

Idade (meses)

Age (months)

Grupo

Group PIA (kg)

LW (kg)

TP (%)

PR (%)

18 18M 286,7b 52,2B

24 24M 350,6a 86,7A

a,b: Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferem entre si pelo teste t

(P<0,05).

A,B: Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferem entre si pelo teste χ2

(P<0,05).

Analisando-se os resultados apresentados na tabela 1, pode-se observar que

houve diferença significativa da TP entre os dois grupos (idades) (P<0,05), 18 e 24

meses, sendo que as novilhas acasaladas aos 24 meses foi superior. Estes resultados

sugerem que a idade exerceu influência sobre o desempenho reprodutivo. Contudo,

num trabalho conduzido por Chapman et al., (1978) comparando as taxas de prenhez

de novilhas Hereford de 15 ou 24 meses, acasaladas com pesos semelhantes, não

foram observados efeitos da idade sobre os parâmetros estudados, o que evidencia

claramente ser o peso vivo a variável mais importante na manifestação da atividade

reprodutiva em novilhas (Hess et al. 2005). MORRISON et al. (1992), conduzindo um

experimento semelhante ao trabalho em análise, com novilhas nascidas no outono ou

na primavera para atingir o primeiro parto com 24 ou 30 meses de idade observaram

ao final do período reprodutivo semelhante percentagem de prenhez para ambas

idades. Assim, é provável que as diferenças na TP sejam atribuídas principalmente

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devido às diferenças de peso no início do acasalamento de cada grupo de novilhas.

Embora, uma análise dentro de cada grupo não tenha demonstrado diferenças no PIA

entre as novilhas que conceberam e as que falharam (289 vs 283 kg) e (349 vs 355

kg), para 18M e 24 M, respectivamente.

A maioria dos trabalhos, comparando efeitos de idade de acasalamento,

restringe-se em avaliar novilhas aos 14-15 meses em relação aos 24 meses, que é a

idade usual do primeiro acasalamento de novilhas de corte no Brasil. Assim, os

resultados deste trabalho, com novilhas acasaladas aos 18 meses demonstraram uma

menor taxa de prenhez nesta idade, provavelmente devido aos efeitos da estação do

ano ou do peso vivo.

A maior taxa de prenhez (P<0,05) do grupo 24M vai ao encontro dos resultados

obtidos por Pereira Neto & Lobato (1998), mostrando que há um efeito marcante do

peso ao início do acasalamento sobre a taxa de prenhez. Um peso no início do

acasalamento equivalente a 65% do peso da vaca adulta, em raças britânicas, pode

assegurar elevados índices de prenhez no primeiro acasalamento (Bolze & Corah,

1993).

Sampedro et al. (1995), trabalhando com novilhas 2/3 Hereford – 1/3 Brahman,

acasaladas aos 18 meses de idade, no outono, obtiveram taxas de prenhez de 80%,

portanto muito superior aos 52,2% obtidos neste trabalho. Entretanto, os animais

experimentais daqueles trabalhos eram de menor frame e provavelmente com a

exigência de menores pesos no início do acasalamento.

No presente trabalho, os PIA dos grupos 18M e 24M representavam 59% e 73%

dos pesos médios das vacas adultas, respectivamente, as quais, no local do

experimento, apresentam um peso de aproximadamente 480kg. O valor percentual foi

maior no grupo acasalado aos 24 meses de idade, superiores aos descritos por Bolze

& Corah (1993), como sendo os pesos críticos para o primeiro acasalamento. No

entanto, o grupo 18M teve um percentual do peso da vaca adulta menor que o sugerido

na literatura (NRC, 1996), havendo a possibilidade de prejuízo no desempenho

reprodutivo. Silva (2003), num comparando o desempenho reprodutivo de dois grupos

de novilhas Hereford acasaladas aos 18 meses, no outono, com pesos médios de 301

e 264 kg, observou uma taxa de prenhez de 73,3 e 26,7%, respectivamente. Isto

evidencia que no grupo 18M (286 kg) ocorreu uma limitação no desenvolvimento das

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novilhas para essa idade de acasalamento. Portanto, o fato da maioria das novilhas do

grupo 18M não ter alcançado o peso mínimo, associada a possível imaturidade

fisiológica de algumas delas, nas condições do presente experimento, pode ter limitado

o desempenho reprodutivo destas e dificultado uma análise mais aprofundada das

possíveis diferenças entre as duas idades de acasalamento.

Neste trabalho, as temporadas de acasalamento utilizadas foram de apenas 45

dias de duração, compreendendo neste período, somente dois ciclos estrais. É

provável que numa estação reprodutiva mais prolongada, com o aumento do peso vivo

e com uma maior maturidade das novilhas, as possibilidades de aparecimento de

estros seriam superiores (Cohen et al., 1980), resultando numa maior prenhez. Como

isto não ocorreu, a taxa de prenhez nas novilhas acasaladas aos 18 meses foi baixa e

insuficiente para uma produtividade mais elevada em relação às novilhas com 24

meses. A utilização de períodos curtos de acasalamento tem por objetivo concentrar a

parição e ainda alcançar uma maior homogeneidade dos produtos. Contudo, pode

limitar o desempenho reprodutivo de novilhas cujos pesos vivos encontra-se em um

limiar inferior ao exigido no início do acasalamento especialmente na estação outonal

(Barcellos et al., 2000).

Os efeitos da época do ano não foram considerados no desenho experimental,

pois o pressuposto básico da fêmea bovina é ser poliéstrica anual, não tendo

influências das estações do ano sobre a fertilidade, desde que o sistema alimentar seja

semelhante (Patterson et al., 1992; Schillo et al., 1992).

Na tabela 2 estão apresentados os resultados de condição corporal no início do

acasalamento (CCI) dos grupos experimentais.

Tabela 2. Condição corporal no início do acasalamento (CCI) e ganho diário médio

(GDM) segundo o grupo experimental

Idade (meses)

Age (months)

Grupo

Group CCI (1-5)

BCS (1-5)

GDM (kg)

ADG (kg)

18 18M 3,59b 0,728a

24 24M 3,86a 0,724a

a,b: Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferem entre si pelo teste t

(P<0,05).

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As novilhas acasaladas aos 24 meses de idade (24M), tinham melhores CCI

(P<0,05) que o grupo 18M. Com relação a CCI observada no grupo 18M, não foram

encontrados resultados obtidos em novilhas Hereford com mesma idade, porém

Semmelmann et al. (2001), obtiveram em novilhas Nelore aos 18 meses de idade, CCI

semelhantes aos encontrados no presente trabalho. Contudo, esse é um parâmetro de

menor relevância na avaliação do desenvolvimento de novilhas jovens, pois em

animais em crescimento as diferenças existentes na condição corporal são de difícil

visualização e por isso, muitas vezes, não são encontradas relações entre CCI e o

desempenho reprodutivo (Brooks et al., 1985; Beretta & Lobato, 1998; Vargas et al.,

1999).

É importante ressaltar que tanto o PIA quanto a CCI foram avaliações pontuais,

na ocasião do início das temporadas de acasalamento. A partir dessas datas,

ocorreram modificações no estado nutricional dos animais, resultante das variações de

peso (GDM) observadas durante o período de 45 dias, por ocasião do acasalamento,

as quais podem ter alterado o escore da condição corporal até o final do período

reprodutivo.

Os resultados expressos na tabela 2 mostram que não houve diferença

significativa (P>0,05) no GDM, entre 18 e 24 meses de idade. Também não ocorreram

diferenças no GDM, dentro de cada grupo, entre as novilhas que conceberam e as que

falharam, o que evidencia a ausência de relação entre essa variável e a taxa de

prenhez. Esses GDM são considerados altos para o outono e primavera, por ocasião

das épocas de acasalamento, evidenciando o potencial das pastagens naturais da

região onde foi desenvolvido o experimento.

Com relação ao GDM do grupo 18M, não foram identificados resultados de experimentos

semelhantes que permitissem uma comparação com os ganhos obtidos no presente

trabalho. Portanto, a discussão apresentada refere-se a experimentos desenvolvidos a

partir de outros protocolos.

Semmelmann et al. (2001), trabalhando com novilhas Nelore, acasalando-as aos

18 meses de idade no outono, sobre pastagens de braquiária (Brachiaria brizanta Cv.

Marandu), no Estado de São Paulo, obteve GDM de 0,481kg durante a temporada de

acasalamento. No grupo acasalado na primavera, os GDM foram superiores aos

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obtidos em animais acasalados na mesma idade e época, manejados em campo nativo

no Rio Grande do Sul (Marques et al., 2001).

Na tabela 3 são apresentados os resultados de produtividade e eficiência das

duas idades de acasalamento.

Tabela 3. Produtividade (P) e eficiência (E) de novilhas de corte de acordo com a idade

ao acasalamento

Idade (meses)

Age (months)

Grupo

Group P (kg)

P (kg)

E (kg)

E (kg)

18 18M 76,2b 26,6b

24 24M 135,2a 38,6a

a,b: Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferem entre si pelo teste t

(P<0,05).

A análise mostrou efeitos da idade ao primeiro acasalamento sobre os parâmetros

de produtividade e eficiência.

O grupo 24M apresentou uma maior produtividade (P<0,05) que o grupo 18M,

decorrente de uma maior taxa de prenhez e também de um maior peso a desmama

dos seus bezerros, produzindo então um maior número de quilogramas desmamado

por novilha exposta. Quando avaliada a eficiência das novilhas, também foi encontrada

diferença significativa (P<0,05) entre as idades, apesar das novilhas do grupo 24M

serem mais pesadas, elas foram mais eficientes para cada 100 kg de peso vivo do que

as 18M.

Os resultados obtidos no presente trabalho são semelhantes aos encontrados por

Barcellos et al., (1996), que avaliando primíparas, obtiveram resultados médios para

eficiência ao redor de 30 kg de bezerros desmamado para cada 100 kg de vaca

exposta. Por outro lado, a produtividade e a eficiência foram superiores aos resultados

encontrados por Ribeiro & Lobato (1988), os quais foram em média de 46,9 kg e 11,7

kg, respectivamente.

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Conclusões

A antecipação da idade ao primeiro acasalamento, dos 24 para os 18 meses de

idade, é viável biologicamente, porém para a obtenção de melhores índices

reprodutivos no acasalamento aos 18 meses, são necessárias melhorias na fase de

recria das fêmeas bovinas, para que estas alcancem um maior peso vivo no primeiro

acasalamento;

O primeiro acasalamento aos 18 meses, devido as menores taxas de prenhez,

apresenta uma menor produtividade e eficiência no sistema de cria do que aos 24

meses.

Projeto II

Introdução

Na produção de bovinos de corte, a eficiência da fase de cria é um dos fatores

determinantes da viabilidade bioeconômica do sistema de produção. Segundo Gregory

(1972) e Ferrel e Jenkins (1984), 65 a 75% da energia consumida no sistema é

utilizada pelas matrizes destinadas à cria. Assim, nos sistemas de produção de

bezerros torna-se fundamental a diminuição de categorias de novilhas em recria, o que

pode ser alcançado pela redução da idade de acasalamento, melhorando a eficiência

global da produção. Pois, as novilhas participam em proporção variando de 15 a 20%

do rebanho de matrizes, dependendo da necessidade de reposição. Portanto, no

primeiro acasalamento, a utilização de cerca de 10 a 15% de todo o recurso alimentar

disponível para um sistema de ciclo completo depende da idade e do desempenho

reprodutivo ao primeiro acasalamento.

A redução da idade de acasalamento, para reduzir a demanda nutricional da

etapa da cria, requer uma antecipação do acasalamento de 24 para os 14 meses

(Morrison et al., 1992; Potter et al., 1998). Contudo, esta diminuição pressupõe uma

melhor recria das bezerras, o que em muitos casos inviabiliza economicamente o

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sistema (Freitas et al., 2003). Assim, etapas intermediárias, como o primeiro

acasalamento aos 18 meses, na estação de outono, tem sido utilizada para melhorar a

eficiência do sistema (Sampedro et al., 1995; Semmelman et al., 2001), sem incorrer

num aumento substancial dos custos com alimentação (Barcellos et al., 2003).

Contudo, para viabilizar esta alternativa é fundamental que o desempenho reprodutivo

dessas novilhas mantenha uma eficiência similar ao das acasaladas aos 24 meses.

Além disso, torna-se estratégico conhecer os efeitos de parâmetros como o peso vivo

ao acasalamento sobre a taxa de prenhez, cuja relação é bem documentada em

novilhas acasaladas aos 14 ou 24 meses (Chapman et al., 1978; Cohen et al., 1980).

Entretanto, em se tratando de novilhas acasaladas aos 18 meses poucas informações

são disponíveis. O objetivo do experimento foi avaliar os efeitos da idade e do peso

vivo ao início do acasalamento sobre a taxa de prenhez de novilhas de corte.

Material e métodos

Foram utilizadas 119 novilhas Hereford, nascidas na primavera de 1999 e

mantidas no mesmo sistema de recria até o início do experimento, com 18 meses de

idade, distribuídas em quatro grupos experimentais em 05 de abril de 2001 (Tab.1),

conforme frame, peso, condição corporal e data de nascimento. Dois grupos foram

distribuídos no acasalamento aos 18 meses de idade, denominados leves (18ML) e

pesados (18MP), o qual ocorreu de 05/04 a 21/05/01, no outono. Os outros dois foram

selecionados para o acasalamento aos 24 meses de idade, constituídos por um grupo

denominado leve (24ML) e outro denominado pesado (24MP), ambos acasalados na

primavera/verão de 04/11 a 20/12/01.

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Tabela 1. Distribuição das novilhas de corte conforme o tratamento, idade de acasalamento, estação reprodutiva e peso vivo no início do acasalamento.

Tratamentos N1 Idade ao

acasalament

o

Estação de

acasalamento

Peso ao início do

acasalamento

18MP2 30 18 meses 05/04 – 21/05/2001 301kg

18ML3 30 18 meses 05/04 – 21/05/2001 264kg

24MP 29 24 meses 04/11 – 20/12/2001 331kg

24ML 30 24 meses 04/11 – 20/12/2001 285kg 1 – Número de novilhas. 2 – Novilhas com 18 meses pesadas. 3 – Novilhas com 18 meses leves.

O acasalamento foi realizado por meio de monta natural, utilizando-se dois

touros da raça Hereford em cada grupo experimental, em piquetes de campo nativo

com carga animal média de 300 kg/ha. Nesses piquetes foram mantidas

disponibilidades de forragem em torno de 2800 kg MS/ha. Após o acasalamento de

outono até o acasalamento de primavera, as novilhas permaneceram em um mesmo

piquete, quando então as novilhas do tratamento 24M foram acasaladas.

A taxa de prenhez (TP) foi obtida pelo diagnóstico de gestação, através de

palpação retal realizado 90 dias do término das temporadas de acasalamento.

As pesagens foram realizadas no início da manhã, após período de jejum de 12

horas, quando também foi realizada a avaliação subjetiva da condição corporal

conforme adaptação da escala de Lowman et al. (1973), com escores de 1 a 5, onde o

escore 1 representa um animal muito magro e o escore 5 um animal muito gordo. A

partir dessas medidas foram obtidos o peso no início (PIA) do acasalamento, ganho

diário de peso (GDM) durante o acasalamento e o escore de condição corporal (CCI)

no início do acasalamento.

Foi utilizado um delineamento completamente casualizado, com arranjo fatorial 2

x 2, com número desigual de repetições. A análise dos dados experimentais foi

realizada usando o programa estatístico SPSS (2002).

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Resultados e discussão

Na Tab. 2 são apresentados os efeitos da idade e da classe de peso no início do

primeiro acasalamento sobre a taxa de prenhez.

Os resultados demonstram que a TP foi afetada pela idade e pelo PIA (P <

0,05), ocorrendo uma interação entre as duas variáveis. As novilhas acasaladas aos 24

meses de idade, na primavera, apenas apresentaram maior TP do que as novilhas

leves (L) acasaladas aos 18 meses (P < 0,05). Essa diferença pode ser decorrente do

maior efeito do PIA em novilhas acasaladas em idades mais jovens.

No grupo 18ML, o peso no início da estação reprodutiva representava 55% do

peso da vaca adulta no mesmo rebanho (480 kg), o que pode explicar essa menor taxa

de prenhez em relação aos outros grupos experimentais (Cohen et al., 1980; Nicoll,

1990; Spire, 1997). Sampedro et al., (1995), ao analisar grande número de dados

experimentais de novilhas acasaladas aos 18 meses, em regiões subtropicais,

encontraram uma alta correlação entre o peso no início do outono e o índice de

concepção. Semmelmann et al. (2001) obtiveram em novilhas Nelore com 18 meses de

idade e peso de 262 kg, um índice de prenhez de 20%, semelhante ao alcançado pelas

novilhas do grupo 18ML. Tabela 2. Taxa de prenhez (%) de novilhas de corte segundo a idade e a classe de peso no início do acasalamento

Grupo experimental Leves (L) Pesadas (P)

18M 26,7aA 73,3bA

24M 72,4aB 83,3aA

a,b: Médias seguidas de letras diferentes na linha diferem entre si (P<0,05). A,B: Médias seguidas de letras diferentes na coluna diferem entre si (P<0,05).

Silva et al. (2005) observou uma taxa de prenhez de 52,2% em novilhas

Hereford, acasaladas aos 18 meses de idade, e com peso ao início da estação

reprodutiva de 286 kg. Portanto, valores intermediários entre as novilhas dos grupos

18ML e 18MP.

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Nardon (1985), ao avaliar o desempenho reprodutivo de novilhas acasaladas

aos 24 meses de idade, com peso médio aos dois anos, semelhante aos encontrados

nos grupos denominados “leves” do presente trabalho, observou taxa de prenhez

média de 58,5%. Wolfe et al. (1995) encontraram índices de prenhez em novilhas

Hereford com pesos iniciais de 286 a 323 kg que variavam de 77 a 90%,

respectivamente.

Uma análise entre os pesos das novilhas que conceberam e as que falharam

(Tab. 3) evidencia a relevância do PIA sobre a eficiência reprodutiva das novilhas. Aos

24 meses, as novilhas que conceberam, independentes da classe de peso (Pesadas ou

Leves) foram mais pesadas (P<0,05) ao início do acasalamento que as falhadas. Por

outro lado aos 18M ocorreu uma interação (P<0,05) entre PIA e classe de peso das

novilhas para a resposta prenhe ou falhada. Somente no 18ML, as novilhas que

conceberam foram mais pesadas do que as que falharam (P<0,05). Isso demonstra

claramente que aos 18 meses, após ser alcançado um peso mínimo, provavelmente o

que ocorreu com as novilhas do grupo 18MP, o PIA exerce um menor efeito sobre a

probabilidade de prenhez. Deste modo a taxa de prenhez pode estar sendo

influenciada por outros fatores, como o ganho de peso durante o acasalamento. Outros

autores (Wiltbank et al., 1985; Pereira Neto e Lobato, 1998; Semmelmann et al., 2001)

encontraram diferenças de outras magnitudes entre prenhes e vazias e, geralmente

associadas a outros fatores não diretamente ligados ao peso no acasalamento.

Essa análise dos pesos entre novilhas que conceberam ou não, é uma maneira

de mostrar a importância da necessidade de bons pesos ao início das temporadas de

acasalamento, para que sejam alcançados índices de prenhez compatíveis com o

aumento de produtividade e por conseqüência, melhor eficiência do sistema produtivo.

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Tabela 3. Peso no início do acasalamento (PIA) de novilhas prenhes e falhadas no Experimento 2

PIA (kg)

Grupo Experimental Prenhes Falhadas

18 ML 273,4a 261,0b

18 MP 302,1a 298,2a

24 ML 289,2a 271,4b

24 MP 334,5a 315,6b

a,b: Médias seguidas de letras diferentes na linha diferem entre si (P<0,05).

Quando analisado o ganho de peso no acasalamento (GDM) foi verificado

apenas o efeito da idade (P<0,05) sobre o referido parâmetro, sendo que as novilhas

do grupo 24M apresentaram maior GDM do que 18M (0,664 vs 0,537 kg/d).

Os dados do grupo 18M são semelhantes aos obtidos por outros autores que

conduziram experimentos avaliando desempenhos reprodutivos de novilhas

acasaladas no outono com uma carga animal de 320 kg/hectare (Barcellos et al., 2000;

Montanholi et al., 2003).

A diferença de GDM entre idades, provavelmente seja resultante das diferenças

metabólicas devido ao estágio de desenvolvimento decorrentes da idade das novilhas

(NRC, 1996), associadas às variações na qualidade da forragem, visto que são épocas

distintas, onde as novilhas do 24M pastejavam forragens com maior teor de PB (9,12

vs 7,44%) e menor de FDN (71,2 vs 81,0%) do que as do 18M.

Embora, as diferenças no GDM sejam de apenas 0,127 kg/d entre os dois

grupos (18M e 24M), elas podem ter afetado o desempenho reprodutivo. Foram

observadas diferenças no GDM entre novilhas que conceberam ou que falharam

apenas no grupo 18MP (0,621 vs 0,429 kg/d) o que pode explicar o fato das novilhas

desse grupo não terem demonstrado diferenças nos PIA entre prenhes e falhadas

(302,1 vs 298,2 kg). Portanto, como o grupo 18M apresentou um menor GDM, a

contribuição deste para que as mesmas alcançassem o peso mínimo para concepção

foi insignificante, especialmente nas novilhas leves. Por outro lado, nas novilhas

pesadas, as quais já apresentavam um peso mínimo para conceber, o GDM produziu

um efeito independente, o que demonstra a importância dessa variável durante o

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acasalamento para o sucesso reprodutivo, especialmente numa temporada reprodutiva

de curta duração como foi o caso deste experimento.

Não foram identificados efeitos (P>0,10) da idade e da classe de peso das

novilhas sobre o escore de condição corporal no início do acasalamento. Este é um

parâmetro de menor relevância na avaliação do desenvolvimento de novilhas jovens,

pois em animais em crescimento as diferenças existentes são de difícil visualização, o

que explica, muitas vezes, a ausência de diferenças no escore de condição corporal

entre tratamentos (Brooks et al., 1985; Beretta e Lobato, 1998; Vargas et al., 1999).

Uma análise do escore (CCI) entre as novilhas que conceberam e as falhadas,

demonstrou que as novilhas prenhes tinham maior (P<0,10) CCI (3,50) do que as

falhadas (3,24) no final do período reprodutivo. Entretanto, quando os dados foram

ajustados para a idade de acasalamento e peso inicial, foram identificadas diferenças

(P<0,08) na CCI de novilhas prenhas (3,63) e falhadas (3,48) somente no grupo das

novilhas pesadas (18MP e 24MP), ocorrendo uma maior magnitude dessa diferença

no grupo 18MP.

Os dados deste experimento evidenciam que, uma vez alcançado o peso

mínimo ao acasalamento, o CCI passa exercer um efeito positivo sobre a probabilidade

de prenhez da novilha, sendo mais importante nas novilhas acasaladas aos 18 meses

de idade. Por outro lado, quando as novilhas não alcançam um peso mínimo,

provavelmente o caso das novilhas dos grupos 18ML e 24ML, esses efeitos não são

demonstrados (Semmelmann et al., 2001).

É importante também ressaltar que tanto o PIA quanto a CCI foram avaliações

pontuais, na ocasião do início das temporadas de acasalamento. A partir dessas datas,

ocorreram modificações no estado nutricional dos animais, resultante das variações de

peso observadas durante o período de 46 dias de acasalamento.

Uma análise de regressão múltipla, incluindo no modelo o PIA, GDM, CCI e

idade da novilha, na tentativa de avaliar a contribuição de cada característica sobre a

taxa de prenhez demonstrou um efeito significativo (P<0,01) apenas do PIA, sendo que

as demais variáveis foram excluídas do modelo inicial (Fig. 1).

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0

20

40

60

80

100

246 261 276 291 306 321 336 351 366

PIA (kg)

Tax

a de

pre

nhez

(%)

Figura 1. Regressão do peso no início do acasalamento (PIA) sobre a taxa de prenhez.

Y= – 993,03 + 6,4543x – 0,0097x2 R2 = 0,981

Neste trabalho, as novilhas com PIA entre 246 e 332 kg demonstraram a

probabilidade de maiores taxas de prenhez como resultado do maior peso no início do

acasalamento. Entretanto, a partir desse ponto de máximo, ocorreu uma inflexão na

curva, o que evidencia que após um peso vivo ser alcançado, aumento nestes não

representam maiores probabilidades de penhez. Deste modo, é factivel concluir que

outros fatores possam estar influenciando a reprodução. Cohen et al. (1980),

analisando aspectos reprodutivos de novilhas Hereford, verificaram a manifestação de

cio de 5% e 95% em animais com pesos de 187 kg e 280 kg, respectivamente. Esses

autores observaram que nas novilhas com 231 kg, metade delas alcançaram a

puberdade. Segundo Ellis (1974), a relação entre peso ao início do acasalamento e

taxa de parição, foi linear dos 175 kg aos 265 kg. Nesta amplitude, para cada 10 kg de

incremento no peso, a taxa de parição aumentou 7%. Com base nos resultados

apresentados neste item, é possível sugerir que a variável “peso no início do

acasalamento” tenha fundamental importância na busca de melhores índices

reprodutivos. No entanto, deve-se ter clareza que para se obter maiores PIA, são

necessárias práticas de manejo e alimentação mais intensivas na criação da novilha,

assegurando assim, acasalamentos mais precoces e produtivos.

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Conclusões

A idade de acasalamento de novilhas de corte, aos 18 ou 24 meses, com peso

no início do acasalamento superior aos 60% do peso da vaca adulta, não afeta a taxa

de prenhez.

O peso no início do acasalamento é a variável de maior impacto sobre a

eficiência reprodutiva durante o primeiro acasalamento de novilhas de corte.

Entretanto, novilhas acasaladas aos 18 meses, com pesos inferiores aos 60% do peso

da vaca adulta, necessitam de maiores ganhos de peso no período reprodutivo para

atingir taxas de prenhez semelhantes às novilhas acasaladas aos 24 meses.

Considerações Finais:

Os resultados apresentados nos projetos descritos anteriormente estão

relacionados fundamentalmente com os aspectos relacionados com a eficiência

reprodutiva e os processos de recria da novilha. Contudo, informações relacionadas

com o desempenho dos terneiros, época de acasalamento aos 18 meses, custos da

recria e o acasalamento da novilha nascida desse sistema também estão em

desenvolvimento e muitas delas já estão a disposição dos criadores.

Referências Bibliográficas Básicas1

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Page 57: DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO APLICADO AO ACASALAMENTO AOS ... · aos 18 Meses em Novilhas de Corte. In: ... serviço, como prática de manejo, irá determinar a existência de dois

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1 (não estão citas as referências que originaram os projetos, pois estas estão nas publicações originais

listadas abaixo).

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