Desenvovimento Hist Geront
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CALDAS, C. P. . O desenvolvimento histórico e teórico da Gerontologia. In:
Renato Veras; Roberto Lourenço. (Org.). Formação humana em Geriatria e
Gerontologia: uma perspectiva interdisciplinar. Rio de Janeiro, RJ: UnATI
UERJ, 2006, v. , p. 26-30.
O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO E TEÓRICO DA GERONTOLOGIA
Profa. Dra. Célia Pereira Caldas
A preocupação com o envelhecimento existe desde a mais remota antiguidade.
Referências podem ser encontradas em textos arcaicos em Sânscrito, em evidências
arqueológicas, na Bíblia, nas pinturas em cavernas, nos dramas clássicos, na poesia e
em alegorias medievais, nos relatos do início da era médica moderna e nos achados
dos alquimistas. Mas foi apenas no século XIX que se disseminou um pensamento
gerontológico.
Adolphe Quetelet e Jean-Martin Charcot são personagens importantes para o
desenvolvimento da gerontologia no século XIX. Adolphe Quetelet (1842) defendia que
"o homem nasce, cresce e morre de acordo com certas leis que precisam ser
investigadas". Jean-Martin Charcot (1867) em sua obra "Doenças dos idosos e suas
enfermidades crônicas", chamou a atenção nos Estados Unidos para o
envelhecimento, pois propunha paradigmas etiológicos e técnicas modernas.
O início do século XX foi marcado pelas formulações de Elie Metchnikoff, com
suas obras "A natureza do homem" (1903) e "O prolongamento da vida" (1908). A
Geriatria surge a partir de 1914, quando I.L. Nascher publicou "Geriatria". Embora no
formato se pareça muito com o compêndio de Charcot, o trabalho de Nascher é na
verdade, um precursor da sociologia médica. Seu subtítulo "as doenças da velhice e
seu tratamento, incluindo o envelhecimento fisiológico, o cuidado domiciliar e
institucional e relações médico-legais" - atesta a orientação trans-disciplinar. Esta obra
introduz o termo Geriatria e estabelece a agenda para análises abrangentes e
integrativas das condições de vida na velhice.
Em 1922, G. Stanley Hall publicou "Senescência". Metade desta obra recupera
os modelos pré-modernos de envelhecimento. Utiliza o conceito de "senectude bem-
sucedida", criticando os arranjos sociais contemporâneos. Em seu texto ele mescla
resultados da pesquisa básica sobre o envelhecimento, com sugestões práticas para
os idosos.
Nos anos anteriores à Segunda Grande Guerra, as abordagens "holísticas"
ganham força nos E.U.A. Os cientistas se preocupam com o estabelecimento de uma
"grande teoria" que abrangesse todo o conhecimento de outras disciplinas para
explicar o envelhecimento. A realização mais destacada deste período foi a obra
"Problemas do Envelhecimento", de 1939, organizada e editada por E.V.Cowdry, com
o apoio financeiro do Conselho Nacional de Pesquisa recrutou 25 cientistas. Esta obra
permanece como um marco, pelo qual se pode avaliar os esforços subseqüentes para
a construção teórica gerontológica.
Na verdade, ao longo de todo o século XX houve uma polarização entre os
teóricos e cientistas que se preocupavam com o envelhecimento: alguns especialistas
afirmaram que o envelhecimento resultava de "doenças degenerativas", enquanto
outros consideravam o envelhecimento como um processo natural sem relação com
qualquer particular patologia.
John Dewey, o mais importante filósofo americano nesta época, enfatizava a
dificuldade inerente ao fato de se desconectar dados "científicos” do contexto "social".
Ele foi um precursor do reconhecimento de que não importam os mecanismos
subjacentes, as expressões das nuances dos contextos sociais podem traduzir a
diferença entre o que Rowe & Kahn (1987) se referiram meio século após como
envelhecimento "normal" ou "envelhecimento bem-sucedido".
Na Segunda edição de "Problemas do envelhecimento", em 1942, Lawrence
Frank apontou que "o problema é multidimensional e irá requerer para sua solução,
não apenas uma abordagem multidisciplinar, mas também uma correlação sinóptica
de diversos achados e diversos pontos de vista". Estas posições emolduraram a
agenda do desenvolvimento da gerontologia no século XX.
Os esforços de Cowdry, John Dewey e Lawrence Frank para construir teorias
baseadas na multidisciplinaridade não foram continuados pelas gerações
subseqüentes de pesquisadores do envelhecimento. A maioria dos gerontólogos
construiu sua reputação aprofundando-se nos temas relativos ao envelhecimento, em
sua especialidade de origem. A partir de então, teorias inovadoras passaram a surgir
do trabalho realizado no interior de campos específicos, e não de investigações
conduzidas com lógica interdisciplinar. A American Geriatrics Society, fundada em
1942, complementaria a missão da Gerontological Society of América (1945), mas se
subscreve aos cânones das ciências médica, endossando apenas secundariamente os
princípios da pesquisa transdisciplinar.
No Pós-Guerra ressurge o esforço para gerar teorias. Só que agora, cada área
se preocupa com seus objetos próprios, sem buscar uma integração de
conhecimentos com as outras. Assim a Biologia desenvolve as Teorias Biológicas do
envelhecimento e as Ciências Humanas Sociais desenvolvem as teorias psicológicas
e sociais.
Os biólogos assumem como definição de envelhecimento “uma série de
mudanças letais que diminuem as probabilidades de sobrevivência do indivíduo” e
passam a se preocupar com a busca pelos determinantes ou marcadores do
envelhecimento. As teorias Biológicas mais conhecidas são as seguintes: Teoria do
envelhecimento celular (Weismann, 1882); Teoria do uso e desgaste (Pearl, 1928);
Teoria dos Radicais Livres (Harman, 1956); Teoria da mutação somática (Curtis,
1961); Teorias Imunológicas (Walford, 1969; Finch & Rose, 1995) e; Teorias
Hormonais- relógio biológico (Denckla, 1975).
Nas Ciências Sociais, principalmente na Psicologia e Sociologia tem havido
maior esforço para gerar teorias do envelhecimento. Na Sociologia existem três
gerações distintas de conceituações. A primeira geração (1949 a 1969) caracterizou a
Gerontologia Social cujos precursores são as obras “Personal Adjustment in old Age”
(1949) de Cavan, Burgess, Havinghurst & Goldhammer e “Older People” (1953) de
Havinghurst & Albrecht. São os marcos teóricos da Gerontologia Social.
Estes esforços se alinhavam com as abordagens da psicologia social e
tratavam das várias formas de atividade e satisfação de viver. Para explicar o ajuste
em face do suposto declínio entre os idosos, estas abordagens baseavam-se em
fatores de nível micro, como papéis, normas e grupos de referência. As teorias desta
geração destacam o indivíduo como a unidade de análise no seu esforço de explicar
os padrões ótimos e os padrões não funcionais de ajuste. Estas teorias foram
apresentadas como modelos aplicáveis universalmente, independentes de arranjos
contextuais ou sociais. Virtualmente sem exceção, os primeiros esforços se
concentraram no ajuste individual, com os fatores sociais considerados como
inquestionavelmente, dados. São alguns exemplos de teorias sociológicas da primeira
geração: Teoria do desengajamento (Cumming & Henry, 1961); Teoria da atividade
(Havighurst, 1968); Teoria da modernização (Cowgill & Holmes, 1972); Teoria da sub-
cultura (Rose, 1965).
A segunda geração das teorias sociológicas do envelhecimento (1970 a 1985)
adotou uma abordagem estrutural em nível macro e incluiu a estratificação por idade e
teorias de modernização. O foco estava nas formas pelas quais as condições
estruturais cambiantes ditam os parâmetros do processo de envelhecimento e a
situação do idoso como uma categoria coletiva. Reagindo aos seus pares da primeira
geração, os teóricos da segunda geração sugerem que o foco no nível individual é
reducionista e desnecessário. Nesta abordagem considera-se que as pessoas
envelhecem de acordo com a maneira que a sociedade se organiza, com a agenda
política, e com o posicionamento dos indivíduos na hierarquia social. A unidade de
análise nesta concepção é a circunstância estrutural e não os atributos derivados do
indivíduo. São alguns exemplos das teorias sociológicas da segunda geração: Teoria
da continuidade (Atchley,1989); Teoria do colapso de competência (Kuypers &
Bengtson, 1973); Teoria da troca (Dowd, 1975); Teoria da estratificação por idade
(Riley, Johnson & Foner, 1972); Teoria político-econômica do envelhecimento (Walker
e Minkler, década de 80)
A terceira geração de teorias sociológicas do envelhecimento (década de 90)
busca uma posição intermediária. Os atores são vistos como contribuintes ativos para
os seus próprios mundos. A perspectiva é fazer a síntese das duas gerações
anteriores. A terceira geração incorpora a preocupação estruturalista com a
distribuição de recursos, aspectos econômicos e os rumos da economia; mas também
reconhece que os atores criam significado e até a estrutura tem nuances distintas,
dependendo de como é vista pelos atores. Talvez a transição mais importante tenha
sido o reconhecimento que envelhecimento é um processo baseado em experiências,
não ocorre isoladamente e é altamente influenciado pelas condições do entorno.
Exemplos de teorias sociológicas da terceira geração: Teoria do construcionismo
social; Teoria Crítica; Perspectiva do curso de vida.
Na Psicologia, o envelhecimento é visto como parte do processo de
desenvolvimento humano. Algumas teorias psicológicas do envelhecimento visam
características amplas como a personalidade, enquanto outras exploram facetas
particulares da percepção ou memória. Em qualquer caso, o propósito da psicologia
de desenvolvimento adulto e do envelhecimento é explicar como o comportamento se
organiza no adulto e em que circunstâncias se torna ótimo ou desorganizado. As
teorias psicológicas do envelhecimento podem ser sistematizadas em três
paradigmas: o Paradigma da mudança ordenada (Bühler, 1935; Jung, 1930; Erikson,
1950); o Paradigma Contextualista (Neugarten, 1969; Havighurst, 1951) e; o
paradigma do desenvolvimento ao longo de toda vida- Life-Span Development de
orientação dialética (Riegel, 1973, 1975, 1976).