design livro infantil

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Universidade Federal do Rio Grande do Sul Faculdade de Arquitetura Curso de Design Visual THAIS ARNOLD FENSTERSEIFER DESIGN EDITORIAL: OS LIVROS INFANTIS E A CONSTRUÇÃO DE UM PÚBLICO-LEITOR Porto Alegre 2012

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  • Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    Faculdade de Arquitetura Curso de Design Visual

    THAIS ARNOLD FENSTERSEIFER

    DESIGN EDITORIAL: OS LIVROS INFANTIS E A CONSTRUO DE UM PBLICO-LEITOR

    Porto Alegre 2012

  • Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    Faculdade de Arquitetura Curso de Design Visual

    THAIS ARNOLD FENSTERSEIFER

    DESIGN EDITORIAL: OS LIVROS INFANTIS E A CONSTRUO DE UM PBLICO-LEITOR

    Trabalho de Concluso de Curso submetido ao Curso de Design Visual, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como quesito parcial para a obteno do ttulo de Designer. Prof. Orientadora: Sara Copetti Klohn

    PORTO ALEGRE

    2012

  • FOLHA DE APROVAO

    THAIS ARNOLD FENSTERSEIFER

    DESIGN EDITORIAL: OS LIVROS INFANTIS

    E A CONSTRUO DE UM PBLICO-LEITOR

    Trabalho de Concluso de Curso submetido ao Curso de Design Visual, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, como quesito parcial para a obteno do ttulo de Designer. Prof. Orientadora: Sara Copetti Klohn

    Porto Alegre, 11 de julho de 2012.

    _________________________________________________ Prof. Sara Copetti Klohn

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul Orientadora

    _________________________________________________ Prof. Fabiano Scherer

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    _________________________________________________ Prof. Maria do Carmos Curtis

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul

    _________________________________________________ Prof. Jaire Passos

    Universidade Ritter dos Reis

  • Dedico este trabalho aos meus pais,

    Luiz Gaspar Fensterseifer e Margit

    Arnold Fensterseifer, aos meus

    irmos, Wagner e Victor, e a

    Rodrigo Baraldo Mendona.

  • RESUMO

    Este trabalho consiste na pesquisa e no desenvolvimento de uma srie de

    livros voltados ao pblico infantil em fase de alfabetizao, de modo a estimular

    o interesse desse pblico pelos livros e buscando facilitar a leitura, auxiliando na

    aquisio do hbito de ler desde os primeiros anos de vida. Como base para o

    desenvolvimento do projeto, foram realizadas pesquisas de fundamentao

    terica, abordando-se temas como desenvolvimento infantil, tipografia,

    diagramao, formato e adequao ergonmica, tcnicas e estilos de ilustrao,

    dentre outros aspectos. Alm dessa fundamentao, que contou tambm com

    anlise de similares e com pesquisa de campo, o presente trabalho aborda,

    detalhadamente, o processo de desenvolvimento do projeto editorial da coleo

    de livros, com enfoque em um dos livros que compem a coleo.

    Palavras-chave: Design, Design Editorial, Design de Livros, Livros Infantis.

  • ABSTRACT

    This paper presents a research on childrens books and the development

    of a series of books aimed at children in the literacy phase, with the primal

    objectives of stimulating the interest of this public in books and encouraging the

    acquisition of reading skills from the earliest years of life. As a basis for the

    development of the graphic project, a theoretical research was developed,

    approaching topics like child development, typography, layout, format and

    ergonomy and styles of illustration. Beyond these items, the research also covers

    an analysis on childrens books available in the market and a field research. The

    paper also discusses, in detail, the process of developing the editorial project of

    the collection of books, focusing on one of the books that composes the

    collection.

    Keywords: Design, Editorial Design, Book Design, Childrens Books.

  • SUMRIO

    INTRODUO ................................................................................................................ 11

    1. PROJETO DE PESQUISA ............................................................................................ 13

    1.1 OBJETIVOS ................................................................................................................ 13

    1.2 METODOLOGIA ........................................................................................................ 14

    2. DESIGN DE LIVROS ................................................................................................... 18

    2.1 Livro: definio .......................................................................................................... 18

    2.2 As origens do livro ..................................................................................................... 19

    2.3 Atributos em Design de Livros ................................................................................. 23

    3. A CRIANA, O APRENDIZADO E A LEITURA .......................................................... 31

    3.1 Estgio de desenvolvimento da criana ..................................................................... 31

    3.2 Alfabetizao e Letramento ...................................................................................... 33

    3.3 Legibilidade e Leiturabilidade .................................................................................. 34

    3.4 O papel do designer na formao do leitor ................................................................37

    4. DESIGN EDITORIAL: LIVROS INFANTIS ............................................................... 39

    4.1 Evoluo do livro infantil .......................................................................................... 39

    4.2 O interesse das crianas pelos livros ........................................................................ 48

    4.3 Adequao ergonmica: formato e tipografia .......................................................... 52

    4.3.1 O formato dos livros infantis teoria e antropometria ......................................... 52

    4.3.2 Tipografia para livro infantil ................................................................................. 58

    4.4 A ilustrao no livro infantil ..................................................................................... 64

    4.4.1 Funes da imagem ............................................................................................... 65

    4.4.2 Tcnicas de ilustrao............................................................................................ 66

    4.4.3 Estilos de ilustrao ............................................................................................... 67

    4.5 A diagramao dos livros literrios infantis .............................................................72

    5. ANLISE DE SIMILARES E PESQUISA DE CAMPO ................................................ 75

    5.1 Anlise de Similares ................................................................................................... 75

    5.2 Pesquisa com amostragem do pblico-alvo ............................................................. 88

    5.2.1 Participantes .......................................................................................................... 89

    5.2.2 Instrumentos de pesquisa ..................................................................................... 90

    5.2.3 Metodologia de pesquisa e coleta de dados ........................................................... 90

    5.2.4 Resultado, anlise e interpretao de dados .......................................................... 91

  • 6. ANLISE DE DADOS E CONCEITUAO ..............................................................103

    6.1 Levantamento de necessidades e de requisitos de projeto ......................................103

    6.2 Formulao do conceito .......................................................................................... 105

    6.3 Gerao de alternativas .......................................................................................... 108

    6.4 Seleo de alternativas ............................................................................................. 111

    6.5 Conceituao geral ................................................................................................... 113

    6.6 Definio da temtica das histrias ......................................................................... 113

    6.7 Composio da Coleo Irmos Grimm .................................................................. 117

    6.8 Diferenciais da proposta.......................................................................................... 118

    6.9 Escopo do Projeto .................................................................................................... 119

    7. ESTUDOS & DEFINIES FORMAIS ......................................................................120

    7.1 Formato ....................................................................................................................120

    7.2 Seleo Tipogrfica .................................................................................................. 122

    7.3 Paleta de Cores ......................................................................................................... 124

    7.4 Mancha Grfica e Grade Estrutural ......................................................................... 125

    7.5 Diagramao ............................................................................................................ 128

    7.6 Ilustraes ................................................................................................................ 134

    7.7 Papel, Impresso, Acabamentos e Encadernao.................................................... 137

    8. PROJETO GRFICO .................................................................................................140

    8.1 Apresentao grfica do ttulo .................................................................................140

    8.2 Famlia de Selos ....................................................................................................... 141

    8.3 Padres de fundo ..................................................................................................... 142

    8.4 Organizao editorial do livro ................................................................................. 144

    8.5 Layout ...................................................................................................................... 145

    8.5.1 Capa, contracapa, guardas e lombada .................................................................. 145

    8.5.2 Folha de ante-rosto, crditos e folha de rosto ...................................................... 147

    8.5.3 Pginas da narrativa ............................................................................................. 149

    8.6 Cartela de adesivos .................................................................................................. 154

    8.7 Boneco de Testes ..................................................................................................... 154

    9. EMBALAGEM ........................................................................................................... 156

    9. 1 Estojo de lpis de cor .............................................................................................. 158

    9.2 Embalagem principal .............................................................................................. 162

    10. MANUAL DE EDITORAO .................................................................................. 166

  • 11. RESULTADO FINAL ................................................................................................ 167

    CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................... 170

    REFERNCIAS.............................................................................................................. 172

    APNDICE A Pesquisa com amostragem do pblico-alvo: Entrevista Geral............ 181

    APNDICE B Pesquisa com amostragem do pblico-alvo: Entrevista Individual .... 182

    APNDICE C - Documento de apresentao do projeto de pesquisa Prof. Teresinha

    de Ftima ....................................................................................................................... 183

    APNDICE D Briefing de Projeto A/C Henrique Hbner ...................................... 185

    APNDICE E Os Msicos de Bremen: texto e distribuio por pgina .....................186

    APNDICE F Manual de Editorao ........................................................................ 190

    ANEXO A Ilustraes, por Henrique Hbner ........................................................... 200

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: As sete etapas do design ................................................................................... 14

    Figura 2: Metodologia de Projeto Fonte: Munari, 2008. ................................................ 15

    Figura 3: Metodologia Final de Projeto ........................................................................... 17

    Figura 4: Grade e linhas de formao da mancha grfica. ............................................. 26

    Figura 5: Logotipo do metr de Londres. ....................................................................... 35

    Figura 6: Capa clssica da Editora Penguin. .................................................................. 36

    Figura 7: Juvenile Libraries ............................................................................................ 40

    Figura 8: Rodolphe Tpffer, Monsir Crpin .................................................................. 41

    Figura 9: Lorenz Frlich, La Journe de Mademoiselle Lili ........................................... 41

    Figura 10: Kate Greenaway, Under the Window ............................................................ 42

    Figura 11: ABC: An Alphabet .......................................................................................... 43

    Figura 12: The Banbury Cross Series .............................................................................. 43

    Figura 13: Macao et Cosmage, Edy-Legrand .................................................................. 44

    Figura 14: Number Four Joy Street, sobrecapa de Alec Buckels .................................... 45

    Figura 15: The Box of Delights, John Masefield ............................................................. 45

    Figura 16: Pippi Lngstrump, ilustraes de Ingrid Vang Nyman ................................. 46

    Figura 17: Onde vivem os monstros, Maurice Sendak ................................................... 47

    Figura 18: Projetos grficos direcionados ao pblico de seis a nove anos ..................... 50

    Figura 19: Formao do retngulo ureo ....................................................................... 53

    Figura 20: Relao constante entre o quadrado e o retngulo ureo ............................ 54

    Figura 21: Correspondncia entre as propores de pgina e a escala cromtica. ........ 54

    Figura 22: Pginas do livro Le Modulor ..........................................................................55

    Figura 23: Parte de srie de formatos retangulares. ...................................................... 56

    Figura 24: Caracteres adultos e caracteres infantis ....................................................... 59

    Figura 25: Pouca diferenciao entre caracteres da fonte Avant Garde Gothic. ............ 60

    Figura 26: Algumas das fontes da famlia Sassoon e ...................................................... 61

    Figura 27: Bree Font, por Veronika Burian e Jos Scaglione (2008) ............................ 62

    Figura 28: Sasson Primary Font, por Rosemary Sassoon (1985)................................... 62

    Figura 29: Llona Font, por Jenni Ahonen (2007) .......................................................... 63

    Figura 30: Estilo Tradicional - Aya et sa petite soeur, ................................................... 69

    Figura 31: Estilo Cartunista - Les Fils de l'ogre, Franois David e Andr Franois ....... 69

    Figura 32: Estilo Caricatural - L'Art du pot, Michelle Nikly e Jean Claverie ................. 69

    Figura 33: Escola francesa - Un Jour, un loup, Grgoire Solotareff .............................. 70

    Figura 34: Esttica Fauvista - Premire Anne sur la Terre (detalhe), Alain Serres Za

    ........................................................................................................................................ 70

  • Figura 35: Expressionismo - Madame Butterfly Klavierstunde, Susanne Janssen ........ 71

    Figura 36: Materialismo - La Caresse du Papillon, Christian Voltz ................................ 71

    Figura 37: Minimalismo - Les Jours btes, Delphine Perret...........................................72

    Figura 38: Grafismo - Attention Extraterrestres, Benot Jacques ..................................72

    Figura 39: Tipos de diagramao conforme Linden (2011). ...........................................73

    Figura 40: Livros selecionados para a anlise de similares ........................................... 76

    Figura 41: Capa do livro Achados e Perdidos .................................................................. 77

    Figura 42: Pgina interna do livro Achados e Perdidos .................................................. 77

    Figura 43: Capa do livro Biblioburro.............................................................................. 78

    Figura 44: Pgina interna do livro Biblioburro .............................................................. 79

    Figura 45: Capa do livro Branca de Neve e as Sete Verses ........................................... 80

    Figura 46: Pgina interna do livro Branca de Neve e as Sete Verses ............................ 81

    Figura 47: Capa do livro Dois Ursos Famintos............................................................... 82

    Figura 48: Pgina interna do livro Dois Ursos Famintos ............................................... 82

    Figura 49: Capa do livro O Alvo ..................................................................................... 84

    Figura 50: Pgina interna do livro O Alvo ...................................................................... 84

    Figura 51: Capa do livro O Buraco do Cu ...................................................................... 85

    Figura 52: Pgina interna do livro O Buraco do Cu ...................................................... 86

    Figura 53: Capa do livro 365 pinguins ........................................................................... 87

    Figura 54: Pgina interna do livro 365 pinguins ............................................................ 87

    Figura 55: Capas de livro apresentadas s crianas ....................................................... 92

    Figura 56: Crianas apoiam o livro sobre a mesa para ler ............................................. 94

    Figura 57: Manuseio de livro em formato retangular .................................................... 94

    Figura 58: Criana abre o livro sobre o cho para ler .................................................... 95

    Figura 59: Detalhe das ilustraes em branco com contorno preto............................... 96

    Figura 60: Principais aspectos positivos do livro 365 pinguins .................................. 97

    Figura 61: Respostas dos entrevistados quanto a lerem ou no em casa. ...................... 98

    Figura 62: Respostas dos entrevistados quanto a lerem ou no no ambiente escolar ... 99

    Figura 63: Respostas dos entrevistados quanto histria que mais lhes atrai o

    interesse, dentre as quatro citadas. ...............................................................................102

    Figura 64: Painel I Um livro com algo a mais... ....................................................... 106

    Figura 65: Painel II ...mas sem deixar de ser um livro ............................................. 106

    Figura 66: Mapa Mental I ............................................................................................. 108

    Figura 67: Mapa Mental II ........................................................................................... 108

    Figura 68: Gerao de alternativas .............................................................................. 109

    Figura 69: Alternativa #01 Para encenar .................................................................. 109

    Figura 70: Alternativa #02 Para colorir ..................................................................... 110

  • Figura 71: Alternativa #03 Para brincar ..................................................................... 111

    Figura 72: Alternativas de formato................................................................................120

    Figura 73: Propores pr-selecionadas para o livro .................................................... 121

    Figura 74: Aproveitamento do formato 30cm x 22,5cm na folha BB ........................... 121

    Figura 75: Pr-seleo de fontes para o projeto grfico ................................................ 122

    Figura 76: Diferenciao entre caracteres em cada uma das fontes ............................. 123

    Figura 77: Famlias tipogrficas selecionadas Sasson e Bree Serif ............................ 124

    Figura 78: Paleta principal de cores, em CMYK. ........................................................... 125

    Figura 79: Paleta completa de cores, em CMYK............................................................ 125

    Figura 80: Margens e rea de sangra ............................................................................ 126

    Figura 81: Grade estrutural ........................................................................................... 127

    Figura 82: Linhas de base para o texto ......................................................................... 128

    Figura 83: Posicionamento do texto em relao s linhas de base ............................... 128

    Figura 84: Esquema de diagramao pgs. 02 a 05................................................... 129

    Figura 85: Esquema de diagramao pgs. 06 a 09 ..................................................130

    Figura 86: Esquema de diagramao pgs. 10 a 13 .................................................... 131

    Figura 87: Esquema de diagramao pgs. 14 a 17 .................................................... 131

    Figura 88: Esquema de diagramao pgs. 18 a 21 ................................................... 132

    Figura 89: Esquema de diagramao pgs. 22 a 25 ................................................... 133

    Figura 90: Esquema de diagramao pgs. 26 a 27 ................................................... 134

    Figura 91: Ilustraes no estilo cut-out ......................................................................... 135

    Figura 92: Estudo inicial de personagens ..................................................................... 137

    Figura 93: Resultado digitalizado dos personagens ...................................................... 137

    Figura 94: Apresentao grfica do ttulo Opo I .................................................... 141

    Figura 95: Apresentao grfica do ttulo Opo II ................................................... 141

    Figura 96: Famlia de Selos ........................................................................................... 142

    Figura 97: Padres de fundo.......................................................................................... 143

    Figura 98: Estudos de aplicao das imagens sobre os padres de fundo .................... 143

    Figura 99: Espelho esquemtico do livro ...................................................................... 144

    Figura 100: Capa, contracapa e lombada, incluindo rea prevista de sangra ............... 146

    Figura 101: Guardas I - Abertura ................................................................................... 147

    Figura 102: Guardas II - Fechamento ........................................................................... 147

    Figura 103: Folha de ante-rosto .................................................................................... 148

    Figura 104: Crditos e Folha de Rosto .......................................................................... 148

    Figura 105: Pginas 8-9 ................................................................................................. 149

    Figura 106: Pginas 10-11 .............................................................................................. 150

    Figura 107: Pginas 12-13 .............................................................................................. 150

  • Figura 108: Pginas 14-15 .............................................................................................. 150

    Figura 109: Pginas 16-17 .............................................................................................. 151

    Figura 110: Pginas 18-19 .............................................................................................. 151

    Figura 111: Pginas 20-21 .............................................................................................. 151

    Figura 112: Pginas 22-23 ............................................................................................. 152

    Figura 113: Pginas 24-25.............................................................................................. 152

    Figura 114: Pginas 26-27 .............................................................................................. 152

    Figura 115: Pginas 28-29 ............................................................................................. 153

    Figura 116: Pginas 30-31 ............................................................................................. 153

    Figura 117: Pginas 32-33 .............................................................................................. 153

    Figura 118: Cartela de adesivos ..................................................................................... 154

    Figura 119: Execuo e resultado do boneco de testes .................................................. 155

    Figura 120: Pesquisa - Embalagens de lpis de cor ...................................................... 156

    Figura 121: Pesquisa Outros conceitos de embalagem ............................................... 156

    Figura 122: Alternativas de embalagem ........................................................................ 157

    Figura 123: Alternativa selecionada de embalagem ...................................................... 158

    Figura 124: Faca de corte e de dobra do estojo de lpis de cor ..................................... 159

    Figura 125: Layout do estojo de lpis de cor, aplicado sobre a faca .............................. 161

    Figura 126: Esquema para guiar o layout da embalagem principal .............................. 163

    Figura 127: Layout da embalagem principal ................................................................. 163

    Figura 128: Embalagem principal simulao 3-D ...................................................... 164

    Figura 129: Facas de corte e de dobra da embalagem principal .................................. 165

    Figura 130: Livro Os Msicos de Bremen Simulao ............................................. 167

    Figura 131: Livro Os Msicos de Bremen Pginas 26-27 Simulao ................... 167

    Figura 132: Livro Os Msicos de Bremen Pginas 28-29 Simulao ..................168

    Figura 133: Livro Os Msicos de Bremen Pginas 14-15 Simulao ...................168

    Figura 134: Livro Os Msicos de Bremen Pginas 16-17 Simulao ...................168

    Figura 135: Estojo de lpis de cor - Simulao .............................................................. 169

    Figura 136: Conjunto de livro, estojo de lpis de cor e embalagem - Simulao .......... 169

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Estilos de Ilustrao conforme Lus Camargo (1995).................................... 68

    Quadro 2: Tipos de Diagramao conforme Linden (2011) ........................................... 74

    Quadro 3: Dados tcnicos e atributos do livro Achados e Perdidos ............................ 78

    Quadro 4: Dados tcnicos e atributos do livro Biblioburro......................................... 79

    Quadro 5: Dados tcnicos e atributos do livro Branca de Neve ..................................... 81

    Quadro 6: Dados tcnicos e atributos do livro Dois Ursos Famintos ......................... 83

    Quadro 7: Dados tcnicos e atributos do livro O Alvo................................................. 85

    Quadro 8: Dados tcnicos e atributos do livro O Buraco do Cu ................................ 86

    Quadro 9: Dados tcnicos e atributos do livro 365 pinguins ...................................... 88

    Quadro 10: Necessidades e Requisitos de Projeto ........................................................104

    Quadro 11: Possibilidades de histrias .......................................................................... 114

    Quadro 12: Possibilidades de conjuntos de histrias .................................................... 115

    Quadro 13: Ttulos que iro compor a coleo de livros e materiais ............................. 118

    Quadro 14: Escopo de projeto ....................................................................................... 119

    Quadro 15: Listagem dos oramentos solicitados a empresas ...................................... 136

    Quadro 16: Resumo de materiais e de acabamentos ..................................................... 139

    Quadro 17: Especificaes tcnicas para embalagem de lpis de cor .......................... 160

    Quadro 18: Especificaes bsicas para a produo do estojo de lpis de cor .............. 161

    Quadro 19: Especificaes bsicas para a produo da embalagem principal.............. 164

  • LISTA DE TABELAS Tabela 1: Tabela Antropomtrica .................................................................................... 57

    Tabela 2: Recomendaes tipogrficas para livros infantis ........................................... 63

    Tabela 3: Preferncia das crianas quanto paleta de cores ......................................... 92

    Tabela 4: Livros selecionados como favoritos ................................................................ 95

    Tabela 5: Atividades de lazer citadas pelas crianas ...................................................... 98

    Tabela 6: Motivos para ler/no ler em casa. .................................................................. 99

    Tabela 7: Motivos para ler/no ler na escola................................................................ 100

    Tabela 8: Resultados das questes sobre hbitos de leitura e ..................................... 100

    Tabela 9: Livros preferidos dos entrevistados............................................................... 101

    Tabela 10: Personagens preferidos dos entrevistados................................................... 101

    Tabela 11: Avaliao das alternativas de acordo com os critrios definidos ................. 112

  • 11

    INTRODUO Considerando-se a relevncia do projeto editorial durante o curso de

    Design Visual e a importncia da aquisio do hbito da leitura desde a infncia,

    considera-se bastante pertinente fazer um elo entre estes dois temas. De acordo

    com Munari (2008), durante a infncia que se desenvolvem os hbitos que

    sero levados com o indivduo durante toda a sua vida, motivo pelo qual se

    torna to relevante incentivar o gosto pelos livros desde os primeiros anos de

    vida: a quantidade de pessoas que nunca leram um livro muito maior do que se imagina. Outras foram obrigadas a comprar e a ler os livros da escola, depois do que disseram: Basta de Livros. (...) No sabem que nos livros est o saber, que graas a eles o indivduo pode conhecer e compreender melhor os fatos, que os livros podem despertar outros interesses, que ajudam a viver melhor. O que fazer para que essas pessoas percebam que perderam o interesse nos livros apenas porque, na escola, foram obrigadas a l-los, muitos dos quais aborrecidos e difceis? (...) A soluo desse problema, de aumentar o conhecimento e de formar pessoas com mentalidade mais elstica e menos repetitiva, est em nos ocuparmos dos indivduos no perodo em que se forma sua inteligncia ou seja, segundo Piaget, nos primeiros anos de vida (MUNARI, 2008,p.221-3).

    A percepo da importncia do tema, norteada pela afirmao de

    Chartier (1994), apud FARBIARZ e FARBIARZ (2010), que enfatiza que a forma

    do livro pode tanto interferir no sentido dado ao texto quanto no uso que esse

    livro possa ter para o usurio, caracteriza-se como a principal justificativa e

    motivao para o desenvolvimento desse projeto, cujo objetivo geral foi definido

    como o desenvolvimento de uma coleo de livros voltados ao pblico infantil

    em fase de alfabetizao. Conforme a perspectiva de Chartier, o designer atua

    como mais um agente no processo de formao do leitor e pode, por meio do

    desenvolvimento de um projeto editorial coerente e alinhado com as

    necessidades do pblico-alvo, incentivar a leitura e o interesse pelos livros:

    dessa forma, tambm cumpre seu papel social.

    Para embasar o desenvolvimento de uma coleo de livros infantis que

    atinja os objetivos de facilitar o acesso leitura e de incentivar o gosto pelos

    livros, fez-se necessrio realizar uma reviso bibliogrfica, abrangendo os

    diversos aspectos que permeiam o universo do desenvolvimento do projeto

  • 12

    grfico de um livro. Inicialmente, pesquisou-se o livro: suas origens e as

    principais decises de projeto envolvidas na atividade do designer em um

    projeto editorial desse tipo de publicao. Em seguida, partiu-se para a temtica

    da criana, procurando-se compreender o estgio de desenvolvimento em que se

    encontram as crianas em fase de alfabetizao e como acontecem os processos

    de alfabetizao e de letramento, a fim de entender como o designer pode

    interferir positivamente nessas etapas de formao. Partiu-se, ento, para a

    pesquisa focada no design editorial de livros infantis, abrangendo aspectos

    como tipografia, adequao ergonmica, formato, diagramao e estilos e

    tcnicas de ilustrao, procurando estabelecer quais as mtricas mais

    adequadas, em cada um dos tpicos, para que se possibilite atrair o interesse do

    pblico e facilitar a leitura e o contato com o livro. Ao trmino da reviso

    bibliogrfica, realizou-se uma pesquisa com amostragem do pblico-alvo, que

    permitiu um contato mais prximo com as crianas, com o objetivo de verificar

    requisitos e restries para o desenvolvimento dos livros. A partir da pesquisa

    bibliogrfica e da pesquisa de campo, foi possvel reunir subsdios para a etapa

    de desenvolvimento prtico do projeto, que possui enfoque em um dos livros

    que compem a coleo. Essa etapa descrita, neste trabalho, desde a anlise de

    dados, passando pela conceituao, pelos estudos e definies formais, pelo

    projeto grfico e pelas definies de materiais, at chegar ao resultado final do

    projeto.

  • 13

    1. PROJETO DE PESQUISA

    1.1 OBJETIVOS

    Esta seo apresenta o objetivo geral e os objetivos especficos do

    presente trabalho.

    OBJETIVO GERAL

    Desenvolver a conceituao e a concepo de uma srie de livros infantis

    voltados ao pblico infantil em fase de alfabetizao, incluindo o projeto

    editorial completo de um dos livros que a compem, com foco na facilitao do

    contato com a leitura e no incentivo ao gosto pelos livros desde a infncia.

    OBJETIVOS ESPECFICOS

    Integram os objetivos especficos deste trabalho:

    - realizar pesquisa bibliogrfica com vistas a identificar os principais

    parmetros em design editorial de livros, a entender o mercado editorial para o

    pblico infantil em fase de alfabetizao e a identificar fatores que possam

    atrair/no atrair o interesse pelos livros junto a esse pblico;

    - entender as caractersticas do pblico-alvo, seus interesses e as

    necessidades que podero ser atendidas por meio do projeto;

    - identificar os atributos de projeto mais adequados para facilitar o acesso

    leitura junto ao pblico-alvo determinado;

    - definir e descrever a conceituao da coleo de livros;

    - desenvolver o projeto grfico completo de um dos livros que compem a

    coleo, de acordo com os parmetros identificados por meio da pesquisa;

    - desenvolver um manual de editorao que liste as diretrizes e padres a

    serem seguidos na editorao dos demais livros da coleo.

  • 14

    1.2 METODOLOGIA O design , antes de tudo, o esforo criativo para solucionar determinado problema. Alcanar a soluo mais adequada para esse problema significa

    analisar e pensar a composio das partes envolvidas e a maneira como

    componentes, partes ou elementos so usados, organizadamente. Nesse

    processo, o designer executa um conjunto de operaes de forma lgica,

    utilizando-se de metodologia e de planejamento (FONSECA, 2008).

    De acordo com Ambrose & Harris (2011), o design justamente esse

    processo, que transforma um briefing em uma soluo de design. Os autores

    destacam que, embora a criatividade seja importante e necessria -, o

    desenvolvimento do design pode ser realizado de uma maneira controlada e

    direcionada pelo processo, canalizando a criatividade para a produo de uma

    soluo prtica e vivel para o problema. Nesse sentido, o processo de design

    pode ser compreendido em sete etapas: definir, pesquisar, gerar ideias, testar

    prottipos, selecionar, implementar e aprender (Figura 1).

    Figura 1: As sete etapas do design

    Fonte: Ambrose & Harris, 2011.

    No processo metodolgico de Ambrose & Harris (2011), o designer inicia

    definindo o problema de design e o pblico-alvo, buscando compreender o

    problema e as suas restries. Parte, ento, para a etapa de pesquisa, em que

    busca reunir informaes relativas ao histrico do problema e s variveis

    envolvidas, podendo valer-se de pesquisas de usurio final, de entrevistas de

    opinio orientadas e de pesquisas de campo. A partir do que for constatado,

    parte para a gerao de ideias, em que identifica as motivaes e as

    necessidades do pblico-alvo e comea a gerao de alternativas que possam

    atender a essas necessidades. No teste de prottipos, o designer passa a resolver

    e a desenvolver as ideias geradas, apresentando-as para anlise do grupo de

    usurios. Na etapa de seleo, analisa as solues geradas, selecionando a mais

  • 15

    adequada de acordo com o objetivo de design do briefing. Finalmente, realiza a

    implementao da soluo selecionada, desenvolvendo-a at a finalizao do

    projeto. Por ltimo, na etapa de aprendizado, o designer deve buscar entender

    se a soluo implementada atingiu os objetivos, por meio do feedback do cliente

    ou do pblico-alvo, a fim de perceber melhorias que podero ser aplicadas em

    trabalhos futuros.

    Paralelamente, cabe tambm apresentar o mtodo de design descrito por

    Bruno Munari (2008). De acordo com Munari, o objetivo do mtodo de projeto

    em design atingir o melhor resultado com menor esforo, utilizando-se de

    valores objetivos. O autor ressalva, no entanto, que a metodologia em design

    no deve ser absoluta ou definitiva, podendo ser modificada/aprimorada pelo

    designer, se necessrio.

    Figura 2: Metodologia de Projeto

    Fonte: Munari, 2008.

  • 16

    Munari (2008) divide o mtodo em design em onze etapas distintas

    (Figura 02), iniciando, tambm, pela identificao e pela definio do problema,

    que servir para definir os limites dentro dos quais o projetista ir trabalhar.

    Parte-se, ento, para a decomposio do problema em seus diversos

    componentes operao que facilita o projeto e que permite melhor conhecer o

    problema em questo. Na etapa de coleta de dados, so recolhidas todas as

    informaes necessrias para estudar, um a um, os componentes do problema.

    Passa-se, ento, a analisar esses dados, observando o que foi levantado e

    verificando sugestes para as prximas etapas.

    Nesse ponto, Munari (2008) defende a substituio da gerao de uma

    ideia por outro tipo de operao, definida como criatividade etapa em que

    so levantadas solues levando-se em conta todas as operaes necessrias que

    se seguem anlise de dados. Em seguida, parte-se para uma nova coleta de

    dados, relativa aos materiais e s tecnologias disponveis para a realizao do

    projeto. A partir de ento, j possvel experimentar os materiais e as tcnicas

    disponveis para, ento, obter amostras, concluses e outras informaes que

    podem levar construo de modelos demonstrativos.

    Nessa altura, torna-se necessria uma verificao do modelo (ou dos

    modelos, caso haja mais de uma soluo possvel). Apresenta-se o modelo em

    funcionamento a certo nmero de provveis usurios e, a partir do que for

    comentado por eles, faz-se um controle do modelo, verificando o que pode/deve

    ser modificado. Tambm importante realizar, ento, um controle econmico

    para averiguar o custo de produo do objeto. Com base em todos esses dados,

    inicia-se a preparao dos desenhos de construo, com todas as medidas e

    indicaes necessrias produo. Se os desenhos no bastarem, o projetista

    poder fazer um modelo em tamanho real, utilizando materiais semelhantes aos

    definitivos.

    Para o desenvolvimento do presente trabalho, foi utilizada a metodologia

    apresentada na Figura 03, adaptada das metodologias de Ambrose & Harris e de

    Munari. Este esquema divide as etapas metodolgicas entre as realizadas no

    Trabalho de Concluso de Curso I (TCC I) e no Trabalho de Concluso de Curso

    II (TCC II).

  • 17

    Figura 3: Metodologia Final de Projeto

    Fonte: Autor

    Na metodologia proposta para o desenvolvimento do trabalho, a etapa de

    Criatividade, proposta por Munari, foi dividida em duas etapas: Estudos &

    Definies Formais e Projeto Grfico, por critrio de organizao. A primeira

    etapa tem foco nos elementos que compem o projeto grfico, tais como

    formato, tipografia e paleta de cores, alm de englobar as definies de

    materiais; e a segunda aborda o desenvolvimento do projeto grfico

    propriamente dito.

  • 18

    2. DESIGN DE LIVROS

    Para que se pudesse ter os subsdios necessrios para o desenvolvimento

    do projeto editorial, foi necessrio compreender, primeiramente, o universo dos

    livros, sua histria e sua relevncia para o desenvolvimento de nossa sociedade.

    Assim, este captulo apresenta o livro como se define esse objeto, suas origens

    e sua histria introduzindo, logo aps, os principais parmetros em design de

    livros, para contextualizar o processo de trabalho dos designers grficos durante

    o desenvolvimento do projeto editorial desse tipo de publicao.

    2.1 Livro: definio

    Em definio dicionarizada, o livro caracteriza-se como uma coleo de

    folhas de papel, impressas ou no, cortadas, dobradas e reunidas em cadernos

    cujos dorsos so unidos por meio de cola, costura etc., formando um volume

    que se recobre com capa resistente (HOUAISS, 2008, p.467). J as normas

    tcnicas da Associao Brasileira de Normas Tcnicas ABNT (2006) - definem

    o livro como uma publicao no peridica que contm acima de quarenta e

    nove pginas, excludas as capas, e que objeto de Nmero Internacional

    Normalizado para Livro (ISBN). Para a UNESCO1

    Muito alm dessas definies tcnicas, entretanto, um livro preserva,

    anuncia, expe e transmite conhecimento ao pblico, ao longo do tempo e do

    espao (HASLAM, 2007). consenso que os livros so muito mais do que um

    conjunto de pginas e que carregam muito mais do que muitas palavras, uma

    aps a outra. Os livros carregam grande parte da histria e do conhecimento da

    humanidade so fontes de sabedoria e guardam consigo informaes valiosas

    sobre os mais variados temas. Segundo Fonseca (2008), o livro ultrapassa o

    tempo e o espao para divulgar, expor, preservar e transmitir o conhecimento.

    Para Haslam (2007, p. 12), o livro impresso tem sido um dos meios mais

    poderosos para a disseminao de ideias e mudou o curso do desenvolvimento

    intelectual, cultural e econmico da humanidade.

    (1964), livro uma

    publicao com um mnimo de quarenta e nove pginas, excludas as capas.

    1 Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura.

  • 19

    2.2 As origens do livro

    Pode-se considerar como um passo preliminar para o surgimento da

    escrita a arte rupestre, cujos desenhos vo evoluindo e, pouco a pouco, por meio

    da esquematizao, transformando-se em smbolos. Segundo Labarre (1981,

    p.7), essas imagens-smbolos evoluem, e da pictografia surgem todos os velhos

    sistemas de escrita: desde os pioneiros sumrios, passando pelos mesopotmios,

    egpcios, creto-minoicos, hititas e chineses. O aparecimento do livro, no

    entanto, est ligado aos suportes da escrita. Fonseca (2008) afirma que os mais

    antigos suportes parecem ser a pedra, desde as pictografias rupestres, e a

    cermica, em que foram gravados os caracteres sumrios, datados de 3200 a.C.,

    na Mesopotmia.

    Conforme Labarre (1981), materiais muito diversos foram igualmente

    usados como suporte para a escrita nos tempos antigos. Os chineses utilizaram o

    osso, as carapaas e o bronze; os semitas e os gregos gravavam tambm breves

    textos em conchas ou fragmentos de cermica, os straca; nas ndias, folhas de

    palmeira secas e untadas com leo tambm serviam de suporte. No entanto, os

    principais suportes do livro antigo eram o papiro e o pergaminho o papiro

    permaneceu o suporte essencial do livro no Egito e difundiu-se no mundo grego

    e no imprio romano, mantendo-se at o sculo X ou XI. A prpria origem da

    palava livro, em diferentes idiomas, est ligada aos suportes da escrita.

    Segundo Haslam (2007), o termo book derivado de uma antiga palavra

    inglesa bok oriunda de beech tree (faia, tipo de rvore). Em portugus, a

    palavra livro deriva do latim liber. Labarre (1981) ainda cita o vocbulo

    biblos, em grego, que, assim como liber, tinha, no seu sentido primrio, o

    significado de casca de rvore. O caractere que ainda designa livro em chins

    figura-o, tambm, sob a forma de tabuinhas de madeira ou bambu.

    Em certa perspectiva, possvel afirmar, conforme Haslam (2007), que

    os primeiros designers de livros foram os escribas egpcios, que redigiam seus

    textos em colunas e j faziam uso da aplicao de ilustraes. O rolo de papiro,

    principal suporte do livro nesta poca, chamava-se, em latim, volumen. Entre os

    sculos II e IV da nossa era, no entanto, o volumen foi sendo substitudo

  • 20

    progressivamente pelo cdex, feito de folhas encartadas e dobradas para

    constiturem cadernos juntos uns aos outros. A respeito disso, salienta-se que

    as origens do cdice parecem estar ligadas s antigas prticas gregas e romanas de conectar, ao longo de uma das margens, blocos de madeira cobertos por cera. A dobra das grandes folhas de pergaminho ao meio criou dois flios; quando se continuou a dobrar a folha ao meio, foram criadas quatro pginas, conhecidas como in-quarto ou 4to; dobrando-se novamente ao meio, foram criadas oito pginas in-oitavo ou 8to. Todos esses termos so usados atualmente para descrever tamanhos de papel derivados de folhas dobradas (HASLAM, 2007, p.6-7).

    Conforme Labarre (1981), a forma do livro atual ainda a do cdice do

    fim da Antiguidade. O mesmo autor observa que, para compreender o livro

    antigo, cumpre libertar-se das concepes modernas sobre edio. Cada livro

    era, ento, uma entidade, visto que no existiam mtodos para produzir

    vontade numerosos exemplares idnticos (LABARRE, 1981, p. 13). As escassas

    tcnicas de gravao dos caracteres escritos eram, ento, um empecilho para a

    popularizao do livro.

    Com o fim da Antiguidade e o desenvolvimento do cristianismo, a

    necessidade de livros foi gradativamente crescendo. Foram surgindo bibliotecas

    monsticas e, no sculo IV, o papa Dmaso constituiu uma biblioteca em Roma.

    No sculo seguinte, vastas bibliotecas surgiram na Glia e foram-se

    multiplicando no Imprio do Oriente. A composio dessas bibliotecas era

    imposta pelas necessidades prticas da comunidade religiosa, tendo os

    manuscritos litrgicos grande importncia. Quase todas as obras eram em

    latim, mas encontravam-se, ainda, alguns textos em grego, em hebraico e em

    lnguas vernculas. At o aparecimento da impresso, conforme Katzenstein

    (1986), cada fase individual da produo de livros copiar, iluminar2

    No entanto, o aprimoramento das tcnicas de gravao e de impresso foi

    possibilitando melhorias considerveis na produo de livros. Segundo Bacelar

    , rubricar e

    encadernar era realizada na mesma oficina ou pelo mesmo arteso, tanto nos

    mosteiros quanto nas oficinas laicas.

    2 O verbo iluminar faz referncia produo de iluminuras, ornamentos que funcionam em apoio visual ao texto, bastante utilizados na poca (MEGGS; PURVIS, 2009).

  • 21

    (1999), a inveno da imprensa s foi possvel pela inveno e pelo renamento

    das tcnicas de fabrico de papel na China ao longo de vrios sculos.

    Em 105 d.C., os Chineses (sic) desenvolveram o papel de farrapos, fabricado com bras vegetais e trapos velhos, constituindo uma alternativa econmica s pesadas pastas de bambu e cascas de rvores ou ao precioso e dispendioso papel de seda. Os segredos desta tcnica foram revelados aos rabes por prisioneiros chineses no sculo VIII, sendo posteriormente introduzidos na Europa nos sculos XII e XIII. Muito antes de Gutenberg, as inovaes chinesas nas tintas, impresso xilogrca e impresso com caracteres mveis de argila, tinham j prestado o seu contributo para a divulgao da palavra impressa (BACELAR, 1999, p.1-2).

    Conforme Fonseca (2008), desde o tempo em que a tradio oral saltou

    para o desenvolvimento de sistemas formais de escrever, nenhuma

    transformao ocorrida na comunicao exerceu tamanho impacto quanto a

    tecnologia da imprensa iniciada por Gutenberg. A brilhante inovao de

    Gutenberg foi produzir caracteres individuais, reutilizveis, em vez de fundir

    uma pgina inteira como uma pea slida. (FONSECA, 2008, p. 43-44).

    importante ressaltar, no entanto, que, embora a bibliografia mais

    tradicional considere Gutenberg como o pai da impresso, h posies

    divergentes: Haslam (2007) refere que os tipos mveis fundidos em moldes de

    areia j tinham sido usados na Coreia em 1241, e que os chineses usavam a

    impresso em blocos de madeira desde o sculo VII. Sobre o mesmo tema,

    Katzenstein (1986) afirma que os primeiros impressos eram annimos e no se

    conhecia quem poderia ter sido seu possvel produtor, razo pela qual a

    inveno da imprensa terminou por ser atribuda a Gutenberg, embora essa

    hiptese fosse altamente duvidosa. Apesar das discusses acadmicas a

    respeito, inegvel o impacto do livro impresso sobre o desenvolvimento da

    Europa Ocidental. Conforme Haslam (2007), o tipo mvel e seu descendente, o

    livro impresso, tornaram os textos economicamente acessveis e bastante

    disponveis.

    A nova inveno foi, ento, rapidamente divulgada. Conforme Labarre

    (1981), quando Gutenberg morreu, em 1468, a imprensa j estava instalada em

    vrias cidades: duas oficinas funcionavam em Mogncia, e outras estavam

  • 22

    estabelecidas em Estrasburgo, Bamberg, Colnia, Subiaco, Eltville, Roma e

    Augsburgo, disseminando-se, em seguida, por toda a Europa.

    No sculo XIX, houve uma revoluo da imprensa: cresceu

    vertiginosamente sua audincia, impulsionada, segundo Labarre (1981) pelos

    progressos na instruo primria, pelo alargamento do corpo eleitoral e pela

    concentrao urbana. Em 1884 e em 1887, respectivamente, o Monotipo e o

    Linotipo, mtodos mecnicos de fundio e de composio de tipos mveis,

    alternativos composio manual, foram lanados, marcando um salto

    significativo na velocidade de produo de impressos (BACELAR, 1999).

    O livro produzido e vendido em larga escala, no entanto, nasceu apenas

    em 1935, na Inglaterra, com os Penguin Books, vendidos, na poca, a seis

    pence. Seu convidativo preo nunca excedia o valor do salrio correspondente a

    uma hora de trabalho, o que contribuiu grandiosamente para a popularizao

    do livro impresso. Na Frana, o Livro de Bolso, coleo comum a vrios

    editores e que deu o seu nome ao gnero, tambm promoveu, por meio do

    aumento das tiragens, a popularizao do livro, publicando cerca de 3.700

    ttulos desde 1952 (LABARRE, 1981).

    Atualmente, conforme Haslam (2007), o mercado editorial um negcio

    que envolve grandes cifras. O nmero de livros impressos no mundo aumenta a

    cada ano, embora seja difcil precisar o valor exato de publicaes. Ainda sobre a

    grandiosidade do mercado editorial e da produo de livros na atualidade, cabe

    citar que o catlogo da Library of Congress3 exibe 119 milhes de itens em 460

    lnguas, e a British Library4

    Cabe colocar, por fim, que a tecnologia digital e o advento da internet tm

    revolucionado a escrita, o design, a produo e a venda de livros. Paralelamente

    ao mercado editorial impresso, os livros eletrnicos ebooks vm ganhando

    adeptos graas portabilidade e ao preo, geralmente mais baixo em

    comparao ao preo de um livro tradicional, j que o custo de produo

    tambm menor. O aprimoramento tcnico dos e-readers (leitores de ebooks)

    declara possuir 150 milhes de itens nas lnguas

    mais conhecidas em comparao, a Grande Biblioteca de Alexandria, a mais

    extensa biblioteca do mundo antigo, tinha algo entre 428mil e 700mil

    pergaminhos (HASLAM, 2007).

    3 Biblioteca Nacional dos Estados Unidos. 4 Biblioteca Nacional da Gr-Bretanha.

  • 23

    tambm vem contribuindo para o crescimento desse novo mercado, com

    aparelhos que permitem ler os livros digitais com cada vez mais conforto e

    praticidade. H quem afirme que as novas tecnologias iro tomar por completo

    o lugar dos livros, no futuro. H, no entanto, quem alegue o contrrio:

    argumenta-se que a tecnologia ir coexistir com o livro impresso tradicional, o

    qual sempre ter seu espao. Sobre isso, em face das novas tecnologias que

    surgiam sua poca (como o telefone, o rdio e a televiso), Louis Armand

    afirmou, muito antes do surgimento do ebook, que:

    o livro perdeu o seu monoplio, um pouco como a estrada de ferro. Mas vejamos o que se passa com esta. Poder-se-ia imaginar que o avio e o automvel provocariam o seu desaparecimento. De alguma forma. Ao lado do congestionamento das estradas, os trens permitem chegar a horas... (...). Antigamente, as pessoas careciam de informao, hoje d-se o contrrio... O impresso indispensvel para quem pretenda ser responsvel pela sua informao e assumir uma atitude ativa perante a cultura. Neste mundo inundado de ondas e imagens, o livro representa um esforo pessoal e salutar (ARMAND, 1969, apud LABARRE, 1981, p.105).

    De fato, no mesmo sentido, Haslam (2007, p.12) afirma que as novas

    tecnologias podero ser uma alternativa ao livro tradicional, mas defende que

    este continuar tendo seu espao: ler na tela do computador continua a ser

    menos prazeroso que ler uma pgina de papel. Cabe aqui observar que, a

    despeito de, nesta seo de abordagem histrica, este trabalho mencionar o

    advento dos livros digitais, tal tecnologia no ser abordada no projeto: tem-se

    por objetivo, como j referido, a elaborao de um projeto impresso de um

    conjunto de livros para o pblico infantil.

    2.3 Atributos em Design de Livros

    Conforme Tschichold (2007, p.31), o trabalho de um designer de livro

    difere essencialmente do de um artista grfico. O autor afirma que, enquanto

    este est buscando constantemente novos meios de expresso, aquele deve ser

    um servidor leal e fiel da palavra escrita. Ele afirma que a tarefa do designer

  • 24

    de livros deve ser criar um modo de apresentao cuja forma no ofusque o

    contedo e nem seja indulgente com ele. Em outra definio para a tarefa que

    cabe aos designers de livros, Hendel (2003, p.33) afirma que os designers esto

    para os livros assim como os arquitetos esto para os edifcios. Os designers

    escrevem especificaes para fazer livros do mesmo modo que os arquitetos

    escrevem-nas para construir edifcios. O autor ressalta, ainda, que mesmo o

    detalhe mais aparentemente trivial precisa ser decidido pelo designer para que o

    projeto seja bem-sucedido.

    Em termos mais objetivos, Haslam (2007) afirma que o designer

    responsvel pelo projeto da natureza fsica do livro, seu visual e sua forma de

    apresentao, alm de determinar o posicionamento dos elementos na pgina e

    de, juntamente com o editor, decidir o formato do livro e os acabamentos que

    sero utilizados: os designers planejam grades, selecionam a tipografia e o estilo do layout da pgina. Eles tambm trabalham com os pesquisadores de fotos, ilustradores e fotgrafos fazendo a direo de arte e preparando imagens. O designer recebe um briefing do editor e encaminha a arte-final, geralmente em formato digital, para um gerente de produo ou diretamente para uma grfica. O designer e o editor trabalham juntos no processo de prova (HASLAM, 2007, p.16).

    Fonseca (2008) defende que a forma como o livro produzido por si s

    confere importncia e distino a seu contedo, passando ao leitor a sensao

    de que o texto foi escrito, editado e impresso com autoridade e cuidado,

    devendo o design exprimir essas mesmas qualidades.

    As decises de projeto tomadas pelo designer devem adequar-se ao

    pblico-alvo e finalidade da publicao. Desses fatores depende o formato, o

    tamanho, a grade, a tipografia, a estrutura, o layout e at mesmo os

    acabamentos que sero utilizados na publicao. Tschichold (2007, p. 61)

    afirma que h duas categorias principais de livros: os que pomos em cima de

    uma mesa para estudo srio e os que lemos reclinados numa cadeira, numa

    poltrona, ou enquanto viajamos de trem. O projeto grfico e todas as definies

    de projeto envolvidas devem, ento, adequar-se ao uso especfico do livro,

    tornando-o cmodo para o manuseio pelo usurio e cumprindo a sua funo.

  • 25

    Torna-se necessrio, ento, apresentar, brevemente, as principais

    decises de projeto que precisam ser tomadas pelo designer, bem como as

    variveis e os determinantes envolvidos. Expor esses critrios configura-se

    como tarefa importante para que fique claro, em termos prticos, no que

    consiste a atividade do designer em um projeto editorial de livro.

    Tamanho e Formato

    O formato de um livro determinado pela relao entre a altura e a

    largura da pgina. Conforme Haslam (2007), esse termo algumas vezes usado

    erroneamente, fazendo referncia a um determinado tamanho. Entretanto,

    livros de diferentes dimenses podem compartilhar de um mesmo formato.

    Tschichold (2007) ressalta a importncia da proporo definida para o formato

    do livro, defendendo que a utilidade e a esttica de qualquer material impresso

    desde um livro at um folheto dependem, em ltima instncia, da relao da

    pgina, decorrente do tamanho do papel usado. O mesmo autor ressalta, ainda,

    a importncia da utilizao de uma proporo definida5

    Segundo Haslam (2007), os livros so geralmente projetados em trs

    formatos principais: paisagem, formato cuja altura da pgina menor que a

    largura; retrato, formato cuja altura da pgina maior que a largura; e

    quadrado. Conforme o autor, um livro pode ter qualquer formato e tamanho,

    mas por razes prticas, estticas e de produo faz-se necessria uma

    considerao minuciosa para que o formato seja adequado leitura e ao

    manuseio do livro, alm de economicamente vivel, ou seja, que permita o bom

    aproveitamento da matria-prima durante a produo.

    , afirmando que o ser

    humano acha os planos de propores definidas e intencionais mais agradveis

    ou mais belos do que os de propores acidentais (TSCHICHOLD, 2007, p.64).

    5 O autor considera claras, intencionais e definidas as propores de pginas irracionais geometricamente definveis como 1:1,618 (Seo urea), 1:2, 1:3, 1:5, 1:1,538 e as simples propores racionais de 1:2, 2:3, 5:8 e 5:9.

  • 26

    Grade e Mancha Grfica

    Para que o designer possa manter a consistncia visual do projeto,

    conferindo unidade e identidade ao design geral da publicao6

    Figura 4

    , um dos

    mtodos aplicados o estabelecimento de uma grade estrutural ( ),

    tambm chamada de grid, que possa servir de guia para o posicionamento dos

    diversos elementos que compem os espaos-formatos. Essa rede pode ser

    definida como uma malha padronizada de linhas horizontais e verticais,

    colocadas uniformemente para a localizao de pontos, ou posies, por meio de

    coordenadas (FONSECA, 2008).

    Figura 4: Grade e linhas de formao da mancha grfica

    Fonte: Haslam, 2007.

    Haslam (2007) destaca que, enquanto o formato do livro define as

    propores externas da pgina, a grade determina suas propores internas e o

    layout, por sua vez, estabelece a posio a ser ocupada pelos elementos.

    Assim como a definio da grade estrutural, a definio da mancha

    grfica influencia diretamente na harmonia da composio e no conforto de

    leitura, diretamente ligado s reas de arejamento e ao posicionamento dos

    elementos na pgina. Conforme Tschichold (2007), a harmonia entre o tamanho

    da pgina e o da mancha alcanada quando ambos tm as mesmas propores.

    6 Sobre essa consistncia formal, Haslam (2007) acrescenta que tal coerncia visual permite que o leitor concentre-se no contedo do livro, em detrimento da forma.

  • 27

    Tipografia

    No desenvolvimento do projeto de um livro, o designer dever

    considerar, ainda, como a tipografia ser disposta na pgina, dentro da

    estrutura de grade. Bringhurst (2005, p.23) afirma que a tipografia um ofcio

    por meio do qual os significados de um texto (ou sua ausncia de significado)

    podem ser clarificados, honrados e compartilhados, ou conscientemente

    disfarados. O autor ressalta, tambm, que o mais importante princpio da

    tipografia durvel a legibilidade.

    Para que o texto tenha boa legibilidade e permita uma leitura agradvel, o

    designer precisa tomar as decises corretas quanto ao(s) tipo(s) a ser(serem)

    utilizado(s), aos espaamentos, profundidade das colunas de texto, aos

    alinhamentos, s marcas de pargrafo e quebras de linha e aos espaos

    entrelinhas.

    Estrutura Editorial

    A estrutura editorial de um livro diz respeito definio, pelo designer,

    de como os elementos da paleta tipogrfica sero usados em relao ao

    contedo editorial, examinando, por exemplo, como o texto e a imagem sero

    posicionados, um em relao ao outro, para comunicar uma mensagem ao leitor

    (HASLAM, 2007). A estrutura editorial compreende, ainda, conforme Fonseca

    (2008), a sequncia estrutural do livro, ou seja, a ordem lgica em que so

    apresentados os contedos editoriais, desde a capa at a contracapa, passando

    pelas guardas, folha de rosto, dedicatria, agradecimentos, prefcio, sumrio,

    introduo, captulos, concluso, referncias, anexos etc.

    Seleo e preparao de imagens

    De acordo com Haslam (2007), tambm funo do designer na

    elaborao de um livro garantir que a informao fornecida pelo autor seja

    apresentada da maneira mais adequada possvel ao leitor, o que envolve um

    conjunto de responsabilidades relativas interpretao da informao,

  • 28

    direo de arte, preparao e edio visual. Assim, o designer trabalha em

    conjunto com pesquisadores de fotos, fotgrafos e ilustradores, selecionando as

    imagens mais adequadas para o livro e realizando a preparao das mesmas

    para insero no material. Conforme Ambrose & Harris (2011), as imagens tm

    o poder de transmitir uma idia ou vrias informaes rapidamente e podem ser

    usadas para comunicar de diferentes maneiras. Ainda sobre o mesmo tema, os

    autores ressaltam que o mtodo utilizado para reproduzir a imagem tambm

    tem impacto sobre a sua leitura: um rascunho em preto e branco passa uma

    sensao diferente de uma impresso em papel couch, por exemplo, e cabe ao

    designer definir que tipo de sensao o impresso deve passar ao leitor.

    Layout

    O processo de execuo do layout de um livro envolve todas as decises

    sobre o posicionamento exato de todos os elementos da pgina. Os dois plos

    que constituem o layout de um livro so o texto, organizado em torno de uma

    sequncia de leitura; e as imagens, cujos arranjos so determinados pelas

    consideraes relativas composio (HASLAM, 2007). Conforme o autor, o

    equilbrio entre esses dois princpios que orienta a descrio dos vrios modelos

    de layout da pgina. Ele ainda ressalva que um layout mal-resolvido, somado a

    uma impresso ou acabamento de m qualidade, podem desvalorizar o texto e

    afastar o leitor.

    White (2006) acrescenta que as solues de layout podem ser simtricas

    ou assimtricas, sendo a primeira mais tradicional e padronizada e a segunda

    mais flexvel e expressiva.

    Capa, Sobrecapa, Lombada e Guardas

    Haslam (2007, p.160) define duas funes principais para a capa de um

    livro. So elas proteger as pginas internas e indicar o contedo. Sobre a

    segunda funo, o autor ressalta que a capa funciona como uma arma de

    seduo para que o livro seja aberto e/ou comprado. Alguns livros podem

  • 29

    contar, ainda, com uma sobrecapa cobertura mvel de papel que protege a

    capa do livro e que tambm traz material informativo sobre a obra7

    De acordo com Fonseca (2008), o projeto grfico da capa de um livro

    precisa ser atraente e comunicar ao usurio alguma informao sobre o

    contedo, a fim de que o leitor seja persuadido a abrir o livro e a l-lo. O autor

    observa, ainda, que, alm do aspecto grfico da capa, o livro julgado

    fisicamente tambm pelo tato: os materiais da capa e do papel do corpo do livro,

    bem como o seu peso, so parte dessa experincia.

    .

    A lombada do livro, por sua vez, tem grande importncia comunicativa

    quando o livro posicionado em uma estante, servindo como uma espcie de

    etiqueta para localiz-lo e identific-lo. Normalmente, a tipografia da lombada

    corre da cabea para o p, com a linha de base adjacente ltima capa. As folhas

    de guarda, por fim, so coladas na pasta de carto na frente e no final do livro de

    capa dura, e tem a finalidade de prender o bloco do miolo capa dura

    (HASLAM, 2007).

    Seleo de Materiais

    Cabe ao designer, ainda, definir e especificar os materiais que iro

    compor cada parte do livro. O papel, que compe a forma fsica do bloco do

    livro, a superfcie impressa e as pginas, precisa ser cuidadosamente

    selecionado, levando-se em considerao o formato, a gramatura, o corpo, o

    sentido da fibra, a opacidade, o acabamento e a cor (HASLAM, 2007). Alm de

    definir os papis a serem utilizados na capa, sobrecapa, guardas e pginas

    internas, o designer precisa, tambm, especificar o tipo de encadernao que o

    livro ter: encadernao em espiral, costura, costura lateral, costura em sela,

    encadernao com grampo, grampo lateral, entre outras (FONSECA, 2008).

    7 Tschichold (2007, p.197) concebe que a sobrecapa tem a funo no apenas de chamar a ateno do pblico, mas tambm de proteger a capa da luz, da sujeira e das abrases at que o livro esteja a salvo nas mos do comprador.

  • 30

    Acabamentos O designer pode selecionar, ainda, diversas tcnicas e processos de

    acabamentos para aplicao total ou parcial nas superfcies de impresso. Entre

    os processos mais comumente utilizados esto o verniz, o verniz UV, a

    plastificao, a laminao, o hot-stamping, a serigrafia, o relevo e o relevo seco.

    Outro tipo de tcnica que pode ser usada pelo designer o corte ou faca

    especial , processo que usa uma matriz de ao para cortar uma seo especfica

    do papel, fora dos padres de corte em esquadro com a guilhotina. Esse tipo de

    acabamento usado principalmente para fins decorativos e, tambm, para

    melhorar o desempenho visual de uma pea. Alm de alterar a forma de um

    projeto para o aprimoramento visual, o corte especial pode servir a um

    propsito funcional, como a criao de uma abertura que permite ao usurio

    enxergar de uma pgina a outra (AMBROSE & HARRIS, 2006).

    Impresso Pode, por fim, caber ao designer definir o processo de impresso por

    meio do qual o livro ser produzido. O conhecimento sobre os diferentes tipos

    de impresso importante para que se possa avaliar as vantagens e restries de

    cada um, considerando, tambm, que a tiragem e o oramento sero fatores

    decisivos para essa seleo. Entre os principais processos de impresso

    disposio do designer para produo de livros em larga escala esto a

    impresso offset e a rotogravura.

    A impresso offset um dos processos mais amplamente utilizados, fato

    que se deve em muito sua grande versatilidade, capaz de imprimir sobre os

    mais diferentes suportes com excelente qualidade e permitindo, tambm, a

    produo de impressos dos mais diversos formatos. A impresso em

    rotogravura, por sua vez, o processo mais comumente utilizado para a

    execuo de impressos em tiragens mais elevadas, devido ao alto custo para a

    confeco das matrizes. Existem, ainda, outras opes de impresso, como a

    flexografia e a tampografia, menos utilizadas na impresso de livros

    (FERNANDES, 2003).

  • 31

    3. A CRIANA, O APRENDIZADO E A LEITURA

    Sendo o objeto deste trabalho o desenvolvimento do projeto conceitual e

    editorial de um conjunto de livros voltados ao pblico infantil em fase de

    alfabetizao, importante detalhar o estgio de desenvolvimento em que se

    encontra a criana desta faixa etria (seis a sete anos), quais as habilidades que

    j possui, quais seus interesses e suas capacidades. Posteriormente, necessrio

    analisar a questo da legibilidade e da leiturabilidade e, ainda, da alfabetizao e

    do letramento, buscando entender o processo em que a criana adquire tais

    habilidades. Essas informaes so relevantes para permitir que se minimizem

    os obstculos que dificultam a leitura e a compreenso infantil, facilitando o

    processo perceptivo, estimulando o olhar e a percepo visual da criana e

    encorajando a interao do leitor com o texto.

    3.1 Estgio de desenvolvimento da criana

    A teoria de Piaget define quatro estgios do desenvolvimento infantil: o

    perodo sensrio-motor dos bebs; o perodo pr-operatrio do incio da

    infncia (fase de preparao para as operaes concretas); o perodo operatrio-

    concreto posterior na infncia e o perodo operatrio-formal da adolescncia

    (FLAVELL et al, 1999)8

    Conforme essa teoria, o desenvolvimento cognitivo das crianas entre

    dois e sete anos descrito como estgio pr-operacional, fase em que as

    crianas adquirem habilidades representacionais e se tornam mais proficientes

    em diferentes reas, incluindo a linguagem. Nessa faixa etria, as crianas tm,

    tambm, dificuldade de imaginar o ponto-de-vista de outras pessoas: so

    simplesmente incapazes de enxergar o mundo pelos olhos de outra pessoa

    (BERAN; BROWN, 2008).

    .

    8 Cabe frisar que todo e qualquer dado relativo s fases de desenvolvimento infantil considera uma mdia entre as crianas. Dessa forma, esses dados podem variar de acordo com o meio em que a criana est inserida e com o tipo de acompanhamento e de estmulo que ela recebe tanto dos pais quanto da escola. Alm disso, cada criana possui uma capacidade prpria, que pode influenciar em seu desenvolvimento, fazendo com que seja mais ou menos avanado. O presente trabalho ir basear-se na mdia de desenvolvimento descrita pelos estudiosos da rea.

  • 32

    Crianas entre trs e quatro anos comumente conhecem entre 900 e 1600

    palavras. Quando chegam aos seis anos, normalmente j so capazes de falar

    2600 palavras: conseguem responder questes simples, conversar e contar

    histrias, fechando o ciclo que as inclui no estgio pr-operacional. Nessa fase

    final, entre os seis e os sete anos, elas j so capazes de concentrar-se por

    perodos mais longos, possuindo, tambm, maior capacidade de memria

    (OWENS apud BROWN; BERAN, 2008). Conforme Beran & Brown (2008),

    nesta idade as crianas j conseguem entender cerca de 20.000 a 24.000

    palavras, e comeam a interessar-se pela leitura.

    tambm apenas a partir dos seis anos de idade que as crianas

    comeam a entender que o conhecimento pode ser adquirido por inferncia. Por

    exemplo, em estudo realizado com crianas de quatro e de seis anos, foram

    apresentados a elas dois brinquedos de cores diferentes. Depois, cada um dos

    brinquedos foi guardado em uma caixa opaca. Ao abrir uma das caixas e revelar

    qual dos brinquedos ela continha, apenas as crianas de seis anos conseguiram

    inferir a cor do brinquedo que restava na caixa fechada (PILLOW apud BEE;

    BOYD, 2010). Da mesma forma, entender a natureza do pensamento humano

    uma habilidade que parece se desenvolver entre os cinco e os sete anos, na

    maioria das crianas. Esse passo importante, pois ser necessrio para que as

    crianas comecem a criar laos de amizade nos primeiros anos de escola

    (SULLIVAN; ZAITCHIK; TAGER-FLUSBERG apud BEE; BOYD, 2010).

    Quanto ao desenvolvimento motor, que inclui habilidades de movimento

    do corpo e de manipulao de objetos, Bee & Boyd (2010) afirmam que crianas

    com idade em torno de seis anos j so capazes de correr, de pular e de escalar.

    J conseguem segurar o lpis corretamente, mas ainda escrevem e desenham

    com alguma rigidez: ou seja, esto em fase de desenvolvimento e de

    aprimoramento de sua coordenao motora.

    Falando-se especificamente em livros, estudo de Beran & Brown (2008)

    aponta que as crianas entre quatro e cinco anos j so capazes de reconhecer

    palavras familiares e smbolos em livros e em outros materiais impressos. Nessa

    fase, j conseguem, tambm, compreender que as histrias possuem comeo,

    meio e fim percebem a ordem lgica dos fatos e conseguem entender os

    conceitos de antes e depois.

  • 33

    3.2 Alfabetizao e Letramento

    de extrema importncia entender as particularidades que envolvem os

    conceitos de alfabetizao e de letramento para que seja possvel, durante a

    etapa de desenvolvimento do livro infantil, utilizar esse conhecimento como

    facilitador na mediao entre usurio e livro. Soares (1998) destaca a

    importncia e a necessidade de se partir, nos processos educativos de ensino e

    de aprendizagem da leitura e da escrita voltados para crianas, de uma clara

    concepo dos fenmenos da alfabetizao e do letramento. De acordo com a

    linguista Leda Tfouni (1995, p.9), apesar de estarem indissolvel e

    inevitavelmente ligados entre si, escrita, alfabetizao e letramento nem sempre

    tm sido enfocados como um conjunto pelos estudiosos. Ela pondera que

    a relao entre eles aquela do produto e do processo: enquanto os sistemas de escrita so um produto cultural, a alfabetizao e o letramento so processos de aquisio de um sistema escrito. A alfabetizao refere-se aquisio da escrita enquanto habilidades (sic) para leitura, escrita e as chamadas prticas de linguagem. (...) O letramento, por sua vez, focaliza os aspectos scio-histricos da aquisio da escrita. Entre outros casos, procura estudar e descrever o que ocorre nas sociedades quando adotam um sistema de escritura de maneira restrita ou generalizada; procura ainda saber quais prticas psicossociais substituem as prticas letradas em sociedades grafas (TFOUNI, 1995, p.9-10).

    Ainda sobre a diferenciao entre alfabetizao e letramento, a autora

    destaca que a alfabetizao levada a efeito, em geral, por meio do processo de

    escolarizao e de instruo formal pertence, assim, ao mbito do individual.

    O letramento, por sua vez, tem por objetivo investigar no somente quem

    alfabetizado, mas tambm quem no alfabetizado, e, nesse sentido, centraliza-

    se no mbito social (TFOUNI, 1995). Corroborando com os apontamentos de

    Tfouni, Soares (1998) afirma que a criana que ainda no se alfabetizou, mas j

    folheia livros, finge l-los, brinca de escrever, ouve histrias que lhe so lidas,

    est rodeada de material escrito e percebe seu uso e sua funo, ainda

    analfabeta, porque no aprendeu a ler e a escrever, mas j penetrou no mundo

    do letramento, j , de certa forma, letrada. Britto (2007, p.24) acrescenta,

    ainda, que o letramento inseparvel do conhecimento formal e de mundo,

  • 34

    no sendo possvel sustentar a hiptese de que seja uma competncia especfica

    nos moldes de um saber abstrato.

    Quanto ao aprendizado da leitura e aquisio do hbito de ler na escola,

    Soares (2009) concebe que, ao seis anos de idade, quando ingressa no primeiro

    ano do Ensino Fundamental, a criana j deve ter sido colocada na situao de

    alfabetizao e letramento por meio do contato com livros e com material

    escrito, que acontece, conforme a autora, at mesmo nas camadas menos

    privilegiadas economicamente. Dessa forma, o professor poder colocar um foco

    maior na aprendizagem do sistema de escrita, mas sempre no contexto do

    letramento, criando situaes de leitura de histrias para crianas. No mesmo

    sentido, Britto acrescenta que

    aprender a ler e escrever na escola deve, portanto, ser muito mais que saber uma norma ou desenvolver o domnio de uma tecnologia para us-la nas situaes em que ela se manifesta: aprender a ler e escrever significa dispor do conhecimento elaborado e poder us-lo para participar e intervir na sociedade (BRITTO, 2007, p.30).

    A partir dos apontamentos aqui apresentados, possvel concluir que,

    para que possa contribuir para a construo do alicerce que o domnio da

    escrita e da leitura para a educao e para a aprendizagem, o livro infantil

    precisa estabelecer uma ponte entre o mundo da leitura e da escrita e o mundo

    concreto para a criana: seja o mundo real, seja o seu mundo da imaginao.

    necessrio fazer com que, por meio do livro, a criana seja envolvida nas

    prticas sociais de leitura e de escrita, estabelecendo, nas palavras de Frank

    Smith (1999), uma leitura significativa.

    3.3 Legibilidade e Leiturabilidade

    Igualmente importante para o desenvolvimento deste projeto perceber

    as diferenas conceituais entre legibilidade e leiturabilidade conceitos que

    influenciam diretamente na compreenso do texto junto ao pblico infantil e

    que podem, sendo utilizados como base para a projeto tipogrfico, facilitar a

    interao desse pblico com a obra impressa.

  • 35

    A legibilidade, segundo Strunck (apud Loureno, 2011) refere-se

    facilidade de identificao de um grupo de caracteres por parte do leitor, e

    influenciada por uma srie de fatores, que incluem o espao entrelinhas, o

    espao entre letras e a prpria seleo tipogrfica. Lund (apud Loureno, 2011)

    afirma que o termo legibilidade tem sido usado para mensurar, sob uma

    variedade de condies, a velocidade de leitura de um texto corrido, combinado

    com vrios tipos de testes de compreenso. Bringhurst (2005), assim como

    Strunck, tambm aponta para o fato de que a legibilidade das letras tipogrficas

    no depende apenas de sua forma ou da tinta que as imprime, mas tambm do

    espao vazio esculpido entre elas e sua volta. Niemeyer (2003) acrescenta que

    a legibilidade tambm afetada por fatores ambientais, como o nvel de

    iluminao, o grau de contraste entre a letra e o fundo e o nvel de fadiga visual

    do leitor. Como um exemplo de boa legibilidade, de acordo com David Jury

    (2006), pode-se citar o logotipo do metr de Londres (Figura 5), e as clssicas

    capas dos livros da Editora Penguin (Figura 6).

    Figura 5: Logotipo do metr de Londres

    Fonte: Broadband Expert Blog, 2011.

  • 36

    Figura 6: Capa clssica da Editora Penguin

    Fonte: JURY, 2006. Quando se fala em legibilidade para o pblico infantil, a utilizao de um

    espaamento entre letras, entre palavras e entrelinhas consistente de extrema

    importncia. Da mesma forma, deve-se evitar a utilizao de alinhamento

    justificado, de acordo com Sassoon & Williams (2000), de modo a otimizar a

    legibilidade do texto.

    A leiturabilidade9

    , por sua vez, um passo alm da legibilidade

    (BINNS, 1989, apud Loureno, 2011). Um texto pode ser legvel, mas no ter

    boa leiturabilidade, o que significa que sua leitura no confortvel e torna-se,

    muitas vezes, cansativa. Frascara (2003) aponta que a leiturabilidade ocupa-se

    da compreenso dos textos e coloca, ainda, que a primeira tarefa de um designer

    deve ser a organizao da informao em si a apresentao visual deve ser

    pensada aps essa etapa. De acordo com o autor, a organizao de pargrafos, a

    pontuao, o comprimento de linha e as quebras de linha contribuem, como um

    todo, para facilitar a compreenso, a memorizao e a observao do texto.

    9 Embora de aceitao relativa, o termo leiturabilidade, como se demonstra neste trabalho, tem repercusso em diferentes autores que abordam o tema da leitura.

  • 37

    3.4 O papel do designer na formao do leitor

    Juntando-se os conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil, sobre

    alfabetizao e letramento, e sobre legibilidade e leiturabilidade, pode-se

    perceber que o designer tem nas mos muitos instrumentos para trabalhar no

    sentido de facilitar o contato com a leitura, aproximando o leitor da obra.

    Quando Chartier (apud FARBIARZ; FARBIARZ, 2010) enfatiza que a forma do

    livro pode tanto interferir no sentido dado ao texto quanto no uso que esse livro

    possa ter para o leitor, ele fortalece uma viso na qual o designer se torna mais

    um agente no processo de formao do leitor. No segmento de livros infantis, a

    atuao do designer exerce influncia ainda maior, uma vez que o aspecto

    grfico do livro e os recursos visuais utilizados so considerados fatores

    determinantes na conquista do pblico infantil (AMNCIO apud FARBIARZ;

    FARBIARZ, 2010).

    Farbiarz & Farbiarz (2010) acrescentam, ainda, que

    o designer pode gerenciar a linguagem visual utilizada na elaborao de livros, para facilitar o processo perceptivo, minimizando obstculos que dificultam a leitura e a compreenso. Se o designer, durante o projeto, tiver conhecimentos (sic) dos mecanismos de construo de significados desses elementos, o receptor compreender melhor seu contedo verbal e no verbal (FARBIARZ; FARBIARZ, 2010,p.149).

    O livro literrio auxilia a criana em diversos aspectos, influenciando sua

    socializao, sua criatividade e a expresso de suas idias. Alm disso, auxilia

    na formao de um cidado com senso crtico e fator fundamental para que

    seja possvel o desenvolvimento da aprendizagem de outras disciplinas. Se o

    designer consegue perceber a maneira como a criana enxerga o livro, pode, por

    meio do projeto grfico, incorporar o livro infantil ao cotidiano desse pequeno

    leitor, facilitando a introduo da leitura como um hbito na vida da criana

    (LOURENO, 2011).

    No que cabe ao designer, de extrema importncia a compreenso do seu

    papel ativo como agente modificador na atual relao entre o livro e o leitor. Um

    livro, hoje, congrega diferentes interlocutores autores, ilustradores, designers,

    tradutores, impressores, vendedores, distribuidores, educadores, leitores, entre

  • 38

    outros , tendo cada um a sua parcela de influncia modificadora do resultado

    final da obra. No considerar, assim, a influncia do designer, que responsvel

    por todo o projeto editorial da obra, implicaria restringir a produo de livros

    que participem mais solidamente da formao do leitor no Brasil e que

    minimizem a resistncia de parcela importante da populao frente leitura do

    livro de fico (FARBIARZ; FARBIARZ, 2010)

  • 39

    4. DESIGN EDITORIAL: LIVROS INFANTIS

    4.1 Evoluo do livro infantil

    De acordo com Sophie Van der Linden (2011, p.11), a histria do livro

    ilustrado [infantil] ainda est por ser escrita: suas prprias origens permanecem

    indefinidas. Conforme a autora, foi com a xilogravura que se realizaram os

    primeiros livros para crianas que continham imagens, pois, at o final do

    sculo XVIII, era a nica tcnica que permitia compor, com versatilidade,

    imagens e texto em uma mesma pgina. Moraes (apud PONTE, 2008) afirma

    que justamente no final do sculo XVIII que nasce o livro infantil

    propriamente dito, juntamente com a ideia de infncia como um universo

    singular, separado do adulto. As publicaes anteriores a essa data, embora

    muitas vezes manuseadas e lidas por crianas, no eram projetadas

    especificamente para esse pblico. Alan Powers (2008) destaca, nesse contexto,

    o chapbook, espcie de gnero secundrio de edio comercializado a partir do

    sculo XVI e que era constitudo por uma nica folha impressa dobrada em doze

    ou dezesseis pginas. Apesar de esse tipo de publicao, que trazia pequenas

    ilustraes em xilogravura emolduradas por bordas decorativas, no ser

    desenvolvida especificamente para crianas, muitos dos chapbooks traziam

    contos folclricos que atraam o interesse infantil e com os quais muitas

    crianas comeavam a aprender a ler.

    Ao longo d