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1 Design Science: Perspectivas Paradigmáticas e Comparações com Estudo de Caso e Pesquisa-Ação Autoria: Sérgio Henrique de Oliveira Lima, Francisco Durval Oliveira, Karlo Eugênio Romero Fialho, Davi Ferreira Muniz Deusdara, José de Paula Barros Neto RESUMO Embora ainda não tenha conquistado lugar definitivo na pesquisa em Ciências Sociais Aplicadas, a metodologia Design Science vem sendo cada vez mais utilizada. Alguns artigos publicados no Brasil já abordam a relevância e aplicações desta metodologia sem, contudo, realizar paralelos paradigmáticos comparativos com métodos “primos”, como o Estudo de Caso e a Pesquisa-Ação. Reside aí o objetivo central e a primeira contribuição do presente artigo, abordando as semelhanças e distinções, nas esferas ontológica, epistemológica e metodológica. Também se pretende contribuir para o campo apresentando questões históricas acerca da metodologia Design Science e seu potencial de aplicação nas Ciências Sociais Aplicadas.

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Design Science: Perspectivas Paradigmáticas e Comparações com Estudo de Caso e Pesquisa-Ação

Autoria: Sérgio Henrique de Oliveira Lima, Francisco Durval Oliveira, Karlo Eugênio Romero Fialho,

Davi Ferreira Muniz Deusdara, José de Paula Barros Neto

RESUMO Embora ainda não tenha conquistado lugar definitivo na pesquisa em Ciências Sociais Aplicadas, a metodologia Design Science vem sendo cada vez mais utilizada. Alguns artigos publicados no Brasil já abordam a relevância e aplicações desta metodologia sem, contudo, realizar paralelos paradigmáticos comparativos com métodos “primos”, como o Estudo de Caso e a Pesquisa-Ação. Reside aí o objetivo central e a primeira contribuição do presente artigo, abordando as semelhanças e distinções, nas esferas ontológica, epistemológica e metodológica. Também se pretende contribuir para o campo apresentando questões históricas acerca da metodologia Design Science e seu potencial de aplicação nas Ciências Sociais Aplicadas.

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1 Introdução A metodologia Design Science, embora ainda pouco frequente na pesquisa

acadêmica brasileira nas áreas de ciências sociais aplicadas (DE SORDI; MEIRELES; SANCHES, 2010), tem relevantes contribuições a oferecer no que se refere à solução de problemas da vida real das organizações. Por seu viés pragmático, detém-se prioritariamente à investigação de problemas de natureza prática, em vez de, por outro lado, focar na verificação de leis naturais ou teorias comportamentais (HEVNER et al., 2004).

Definir Design Science requer certa cautela. Primeiramente, é necessário posicioná-la dentro do contexto epistemológico, investigando as questões paradigmáticas, tipológicas e metodológicas. Para tanto, interessa também apresentar comparações com outras metodologias, a fim de melhor delimitar seu conceito e suas aplicações.

Desta forma, os objetivos deste estudo são (i) reunir um referencial teórico sobre a pesquisa Design Science, abordando uma análise de seu histórico no Brasil e no mundo, seu enquadramento ontológico, epistemológico e metodológico no campo de estudos organizacionais, (ii) investigar suas principais características e (iii) realizar comparações em relação a outros métodos de pesquisa de natureza similar, precisamente o Estudo de Caso e a Pesquisa-Ação, com o intuito de estabelecer fronteiras e identificar interseções entre elas. 2 Questões terminológicas

As diversas nomenclaturas adotadas ao longo dos últimos quarenta anos têm tornado difusa a compreensão do que de fato é Design Science. Vê-se na bibliografia pesquisada o uso de várias expressões, dentre as quais constam (i) Design Science, (ii) Design Science Research, (iii) Design Research, (iv) Design-based Research, (v) Information System Research, (vi) Design Theory, (vii) Design-oriented Research, (viii) Information System Design Theory. Embora nem todas essas expressões sejam usadas com a mesma finalidade, as interseções de significados e algumas divergências quanto ao campo de aplicação terminam por gerar certa ambiguidade em seu uso e compreensão.

Inicialmente, propõe-se uma investigação analítica da expressão “Design Science”. Considere-se o primeiro termo, “Design”. Seria possível considerar o design, per se, um tipo de pesquisa? Manson (2006) argumenta que não. Segundo o autor, porque o design é um processo que se vale do conhecimento já estabelecido, e não se propõe à geração ou construção de novo conhecimento, ele não pode ser considerado uma pesquisa científica. Entretanto, deve-se levar em consideração que o design pode dar suporte à construção de artefatos que, por meio de sua aplicação, podem contribuir para a construção de novos conhecimentos, a ampliação de fundamentações teóricas já postas e, até mesmo, comprovação empírica de teoria ainda não testada por inviabilidades de qualquer natureza. Em estando atendidas estas condições determinantes, poder-se-ia atribuir caráter científico ao design.

(…) the process of using knowledge to design and create an artifact, and then carefully, systematically and rigorously analyzing the effectiveness with which the artifact achieves its goal is a knowledge generating process that can accurately be called research (MANSON, 2006, p. 165).

A partir da afirmação acima, vê-se a adoção do Design como instrumento para estruturação de artefatos que visarão a solucionar problemas de cunho prático, em ambiente real, e, desta maneira, conduzir à geração de conhecimento, podendo ser considerado um tipo de pesquisa, a Design Research (KUECHLER; VAISHNAVI, 2008).

Aparece, então, uma denominação alternativa: Design Research. Em seu blog na internet (http://desrist.org/desrist/), Kuechler e Vaishnavi (2011) propõem uma útil distinção entre Design Research no sentido discutido acima, a que se detém este artigo, e as pesquisas que têm o design – de qualquer gênero – como objeto de estudo. Em síntese, a expressão Design Research pode também ser adotada quando um pesquisador estiver interessado em

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avaliar a importância de uma disposição adequada do ambiente físico (design de ambientes e interiores, por exemplo) para a produtividade de um grupo de trabalhadores; da mesma forma, quando outrem estiver a investigar a participação dos consumidores no processo de criação de artigos de moda (fashion design) e seus efeitos para a lealdade em relação à marca.

Dadas as inúmeras áreas de aplicação do design, e para evitar possíveis ambiguidades, Kuechler e Vaishnavi (2011) utilizam a expressão Design Science Research, para referir-se ao processo de construção de conhecimento a partir da aplicação do Design como meio de construir e testar artefatos para buscar soluções de problemas reais, nos moldes ora discutidos.

Já Winter (2008) sugere uma distinção mais sutil entre Design Science e Design Research a partir de outro ponto de vista, em que uma seria um mecanismo para incrementar o rigor durante a aplicação da outra. Por este prisma, segundo Winter (2008), embora a Design Research busque criar soluções para problemas relevantes específicos pelo uso de rigorosos processos de construção e avaliação, a Design Science reflete o processo de Design Research e tem a finalidade de criar padrões para o seu rigor.

Por sua vez, Venable (2006) não se preocupa com a distinção entre Design Science e Design Research. Ao defender o engajamento e a observância dos pesquisadores em Design Science com a atividade de proposição de teorias, ao invés de deixá-las apenas a cargo das ciências naturais e sociais, o autor utiliza ambas as denominações. Portanto, de forma a simplificar o entendimento, a expressão mais conveniente para referir-se ao método de pesquisa é Design Science, a qual será usada ao longo deste estudo.

Uma vez discutidos os aspectos terminológicos, passa-se a buscar entendimento a respeito do enquadramento paradigmático da Design Science, em que paradigma ela encontraria seus pressupostos amparados? 3 Análise histórica e paradigmática

As primeiras aplicações reconhecidas por adotar a metodologia estão naquelas voltadas à educação, no início dos anos de 1920 com De Stijl e Bauhaus (BAYAZIT, 2004) e, posteriormente, ao revisar as raízes históricas, verificou-se a aplicação da metodologia, por vezes denominada Design Method ou Design Research, em outros campos de conhecimento como a de pesquisas na área militar e espacial. Logo após a Segunda Guerra Mundial, dos anos 50 aos 60, novamente ressurge no meio civil com publicações de livros que retomam a metodologia através de uma abordagem sistêmica bem definida, aplicada principalmente nas áreas de química, arquitetura e engenharia.

De Sordi et al. (2013) enfatizam a obra seminal de Herbert Simon, a Ciência do Artificial, de 1968, como um dos pilares para o desenvolvimento de uma ciência do design, quando o autor buscou atribuir caráter científico ao estudo do artificial (artefatos relevantes, sistemáticos e formalizados), em distinção àquele da ciência tradicional, do natural.

A partir dos anos 1970 com a introdução dos sistemas computacionais e o aprimoramento da metodologia, outros campos como a economia passaram a aplicar a metodologia. Atualmente a metodologia é bastante explorada nas pesquisas relacionadas aos Sistemas de Informação (SI) e de Inteligência Artificial. Outro campo de aplicação bastante explorado pela metodologia é a área educacional. No início dos anos 1990 foi denominada de Experimental Research (COLLINS; JOSEPH; BIELACZYC, 2004), sendo a metodologia utilizada para realização de estudos sobre intervenção educacional nos quais são clássicos os estudos de Campione, Brown e Jay (1992) e Joseph, Edwards e Harris (2002) ambos desenvolvendo modelos para aumentar o desempenho dos estudantes.

Os estudos que aplicam a metodologia Design Science ocorrem com maior predominância na área de Sistemas de Informação (SI). Para Hevner et al. (2004), a predominância de sua aplicação em estudos de Sistemas de Informação se deve ao fato de esta disciplina estar na confluência entre pessoas, organizações e tecnologia. Assim, a solução de

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problemas complexos da vida cotidiana das organizações torna-se campo prolífico de aplicação do Design Science. Por essa razão, a análise histórica e paradigmática a que se propõe esta seção recorrerá a diversos trabalhos publicados, em sua maioria, no campo da disciplina de Sistemas de Informação.

Não é tão recente a preocupação de se acomodar o Design dentro de um paradigma da pesquisa científica. Em uma rica investigação histórica e filosófica do design, Cross, Naughton e Walker (1981) buscaram esclarecer que design e método científico são duas atividades completamente distintas. Para eles, trata-se de um grande equívoco tentar criar uma “Ciência do Design”, ou seja, a Design Science, pois design não se trata de um método científico, mas sim, de um modelo tecnológico, cujo real valor reside na extensão em que permite aos acadêmicos incrementarem o ensino e a prática de pesquisa, para só então, poder construir algum novo saber.

Gregory (1967, apud Cross, Naughton e Walker, 1981) defende que enquanto o método científico é um padrão de solução de problemas orientado à descoberta da natureza das coisas existentes, o método de design, por seu turno, é empregado para inventar coisas de valor, logo, que ainda não existem. Para ele, “ciência é analítica; design é construtivo.” (GREGORY, 1967 apud CROSS; NAUGHTON; WALKER, 1981, p. 195).

Como exposto anteriormente, a Design Science tem por finalidade a solução de problemas relevantes do mundo real por meio da construção de artefatos que permitam investigar tais problemas, propor soluções e, assim, incrementar o conhecimento por meio da proposição – ou teste – de teorias. Considerada a existência do caráter científico, surge a natural necessidade de identificar, diante das alternativas paradigmáticas, em qual ela se encaixaria.

Como ponto de partida, pode-se considerar sacramentada uma característica da Design Science: o seu viés empírico, notado tanto pelo ambiente da prática da pesquisa (problemas do mundo real) quanto pela aplicação de artefatos ou protótipos, físicos ou abstratos, para chegar à solução de tais problemas. Esta é uma importante delimitação para o esforço heurístico da averiguação paradigmática.

De Sordi et al. (2013) deixam evidente sua percepção de inadequação da Design Science ao paradigma positivista, que representa a pesquisa empírica tradicional. Recorrendo a Creswell (2007), os autores afirmam:

Epistemologicamente, a abordagem design science incorpora características típicas de paradigmas de pesquisa pragmáticos: centradas em problemas, voltadas para consequências e orientadas para prática do cotidiano, do fazer. Ao comparar a pesquisa empírica tradicional, de paradigma de pesquisa positivista, com outras abordagens de pesquisas, associadas a outros paradigmas de pesquisa, como o pragmático, o construtivista e o reivindicatório-participante, observa-se que as abordagens de pesquisa associadas a estes últimos paradigmas estão em fase de desenvolvimento, estruturação e divulgação (CRESWELL, 2007). A abordagem de pesquisa design science, de natureza pragmática, é uma dessas recentes abordagens científicas; pouco conhecida e, consequentemente, pouco praticada pelos pesquisadores. (DE SORDI et al., 2013, p. 2, grifo dos autores).

Em relevante estudo para a pesquisa na área de estudos em Sistemas de Informação (SI), Hevner et al. (2004, p. 76) ponderam a existência de dois paradigmas predominantes: um de caráter comportamental (behavioral science), que pretende desenvolver e verificar terias que explicam ou predizem o comportamento das pessoas e das organizações; e outro mais voltado ao desenho e construção de artefatos inovadores (design science) com o intuito de estender os limites das capacidades das pessoas e organizações para solucionar problemas. Outra maneira para abordar a questão paradigmática é recorrer ao já consagrado modelo dos

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quatro paradigmas da investigação social e estudos organizacionais, de Burrel e Morgan (1979), representado pela Figura 1:

Figura 1 – Os quatro paradigmas de Burrel e Morgan Fonte: Burrel e Morgan (1979).

Este modelo serve como referência para Manson (2006), que traça um paralelo entre a Design Science e os metaparadigmas positivista e interpretativista. O autor propõe uma interessante discussão, à luz dos aspectos ontológicos (que dizem a respeito da natureza do fenômeno observado), epistemológicos (da natureza do conhecimento sobre esses fenômenos investigados) e metodológicos (da natureza das formas e métodos aplicados na pesquisa). 3.1 Ontologia

Do ponto de vista ontológico, há similaridade entre a Design Science e a visão positivista, visto que tomam pressuposta a existência de uma única e estável realidade. Por outro lado, por meio da introdução de artefatos para solucionar problemas relevantes, os pesquisadores em Design Science reconhecem as diferentes possibilidades (estados de mundo) que esta realidade pode assumir, admitindo, assim, um caráter transformador característico das atividades de pesquisa interpretativistas (MANSON, 2006).

De uma perspectiva mais teórica, Iivari (2007) também aborda a questão ontológica da Design Science argumentando sua relação com o construto dos três mundos de Popper (1978 apud IIVARI, 2007), a saber: o Mundo 1, objetivo, das coisas materiais; o Mundo 2, subjetivo, da consciência e dos estados mentais; e o Mundo 3, dos produtos da ação social do homem. Este, segundo Gregor e Jones (2007, p. 321), “é um mundo objetivamente existente, embora abstrato, de entidades criadas pelo homem, como a linguagem, a matemática, o conhecimento, as ciências, a arte, a ética e as instituições”. Assim, a natureza dos fenômenos na pesquisa com Design Science estaria claramente associada ao Mundo 3 de Popper, onde os artefatos criados pelo homem para a solução dos problemas poderiam ter sua utilidade rigorosamente avaliada ou medida.

Para Gregor e Jones (2007) e Iivari (2007), os artefatos ou protótipos são instanciações que permitem expor, comunicar e ilustrar os princípios de uma Design Theory, e por sua natureza mutável, intercambiável e flexível, estes artefatos proveem maior caráter de interação à pesquisa Design Science. 3.2 Epistemologia

Epistemologicamente, Manson (2006) não relaciona diretamente as interseções com os metaparadigmas positivista e interpretativista. Contudo, nota-se semelhança com a visão positivista no momento em que o conhecimento é apreendido a partir da observação e dos resultados obtidos pelo artefato inserido na realidade objetiva. Por outro lado, aproximando-se da pesquisa interpretativista, o processo iterativo (ciclos sucessivos de tentativa – erro – nova

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tentativa) traz à tona os significados do fenômeno a partir de uma construção e participação artefato e usuário. O conhecimento emerge através do “fazer”.

A correta delimitação do conhecimento obtido com a Design Science e, especificamente, o domínio da utilização de artefatos com objetivos semelhantes, aplicados em realidades similares, podem levar à demarcação e sedimentação da metodologia no território epistemológico da ciência (GREGOR; JONES, 2007).

Iivari (2007) sugere três tipos de conhecimento decorrentes da pesquisa Design Science, aos quais pode, ou não, ser atribuído algum valor de verdade, no sentido de sua verificação e validação:

- conhecimento conceitual, que não possui valor de verdade, uma vez que ainda não foram testados e validados. Trata-se dos frameworks, conceitos, taxonomias e tipologias. Têm sua utilidade em um nível mais descritivo, de desenvolvimento de teorias;

- conhecimento descritivo, que visa a descrever, compreender e explanar um fenômeno ou objeto observado, no que reside seu valor de verdade.

- conhecimento prescritivo, que “está interessado em como as coisas poderiam ser e como atingir os fins especificados de uma maneira efetiva.” (p. 46, tradução nossa).

Hevner et al. (2004) também lidam com a questão do valor de verdade. Para os autores, as ciências comportamentais procuram descobrir o que é verdadeiro, ao passo que a Design Science visa criar, valendo-se dos artefatos, aquilo que é útil e eficaz. Daí decorre que ambas podem se complementar para garantir relevância e eficácia à pesquisa, pois utilidade e verdade estão intrinsecamente relacionadas. “Embora se possa argumentar que a utilidade depende da verdade, a descoberta da verdade pode retardar a aplicação da sua utilidade.” (p. 98, tradução nossa).

Manson (2006) sumariza a questão das verdades asseverando que, enquanto os positivistas valorizam a busca de verdade de uma realidade objetiva, medida pela sua capacidade de predição dos fenômenos, e, por seu turno, os interpretativistas valorizam o entendimento das profundezas de um fenômeno, os pesquisadores em Design Science valorizam ambas, a verdade e a compreensão de uma realidade, além da prerrogativa de manipulação e controle do ambiente em que a realidade se dá. 3.3 Metodologia

Hevner et al. (2004) afirmam que nas ciências comportamentais, os aspectos metodológicos estão fundamentados nos processos de coleta de dados e nas técnicas empíricas de análise. Em Design Science, a construção e avaliação de qualidade e efetividade dos artefatos são orientadas por modelos matemáticos e computacionais – principalmente em pesquisas na disciplina de Sistemas de Informação – embora possa haver também aplicação de técnicas empíricas para tanto.

Manson (2006) argumenta que a Design Science incorpora tanto os métodos experimentais e quantitativos tipicamente praticados nas pesquisas positivistas, quanto os procedimentos qualitativos, heurísticos e fenomenológicos característicos do paradigma interpretativista, conforme as fases do processo de pesquisa. O autor menciona Purao (2002) para evidenciar a natureza ambivalente da metodologia.

During the design and construction phase, the methodology may be characterised as “a creative process that involves generation of new thoughts and imaginative jumps to future possibilities” (PURAO, 2002). During the evaluation phase, a variety of techniques, both quantitative and qualitative, may be used to measure the effectiveness and impact of the artifact. (MANSON, 2006, p. 168)

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O Quadro 1 sintetiza a análise dos aspectos ontológicos, epistemológicos e metodológicos da Design Science. Quadro 1 – Semelhanças entre a Design Science e os paradigmas positivista e interpretativista

Dimensão Semelhanças com Paradigma

Positivista Semelhanças com Paradigma

Interpretativista

Ontologia

- Pressupõe a existência de uma única e estável realidade subjacente ao fenômeno observado.

- Caráter transformador decorrente da aplicação de artefatos para a solução de problemas desta realidade.

Epistemologia

- O conhecimento é apreendido a partir da observação dos resultados obtidos pelo artefato inserido na realidade objetiva; - Descoberta do que é verdadeiro.

- O conhecimento emerge através do “fazer”. O aprendizado e a compreensão do fenômeno ocorrem por um processo de construção iterativo (tentativa e erro) e participativo (artefato e usuário); - Criação do que útil e eficaz.

Metodologia - Aplicação de métodos tipicamente quantitativos, como survey e experimentos.

- Uso de métodos qualitativos para avaliação e compreensão do fenômeno a partir do desempenho do artefato.

Fonte: Os autores, com base em Hevner et al. (2004), Manson (2006) e Iivari (2007). É possivelmente devido a esta aproximação com os métodos qualitativos

consagrados que surgem as dúvidas e as tênues fronteiras entre a Design Science, os Estudos de Caso e a Pesquisa-ação. Suas principais semelhanças e distinções serão adequadamente abordadas nas seções 5 e 6 deste estudo. 4 Diretrizes da Design Science

A Design Science consiste de basicamente duas etapas fundamentais: construir e avaliar. Construir é o processo de desenvolver um artefato para um propósito específico. Avaliar diz da ação de aferir o desempenho do artefato na execução daquilo a que ele se propõe, no ambiente para o qual ele foi planejado para atuar (MARCH; SMITH, 1995).

Os estudos de Hevner et al. (2004) foram de especial importância por terem delimitado o conjunto das sete diretrizes que devem nortear o planejamento e a execução de qualquer pesquisa que tem como metodologia a Design Science, resumidas no Quadro 2: Quadro 2 – Diretrizes da pesquisa Design Science

Diretriz Descrição Detalhamento

1 Design como um artefato A pesquisa deve produzir um artefato viável na forma de um construto, um modelo, um método ou uma instanciação.

2 Relevância do problema O objetivo é o desenvolvimento de soluções de base tecnológica para importantes e relevantes problemas organizacionais.

3 Avaliação do design

A utilidade, qualidade e eficácia de um artefato de design devem ser rigorosamente demonstradas através de métodos de avaliação bem executados.

4 Contribuições à pesquisa

Design Science eficaz deve fornecer contribuições claras e verificáveis nas áreas do projeto de artefatos, ampliação dos fundamentos e bases de conhecimentos já existentes.

5 Rigor da pesquisa

O rigor da pesquisa encontra-se na aplicação de métodos rigorosos, tanto na fase de construção do artefato quanto na sua fase de avaliação, em relação aos dados que se pretende obter e à realidade a ser observada.

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6 Design como um processo de busca

A busca por um artefato eficaz requer utilizar os recursos disponíveis para atingir os fins desejados, satisfazendo as leis no ambiente a que pertence o problema.

7 Comunicação da pesquisa

A comunicação eficaz dos resultados da pesquisa Design Science deve ser feita conforme o público alvo, quer para uma audiência orientada à tecnologia, quer para uma orientada à gestão organizacional e negócios.

Fonte: Hevner et al. (2004). No Brasil, diversos estudos que afirmam utilizar a metodologia Design Science não

atendem, de fato, a todas estas diretrizes, conforme observado em trabalho de levantamento bibliométrico realizados por De Sordi, Meireles e Sanches (2010). Um estudo semelhante, porém investigando publicações internacionais, constatou também a frequente inadequação de estudos ditos Design Science às diretrizes básicas mencionadas (DE SORDI; MEIRELES; SANCHES, 2011). 5 As fases de execução da pesquisa e aplicações típicas

Uma importante abordagem é apresentada por De Sordi et al. (2013), consistindo em três tipos de conhecimento gerados com a aplicação do Design Science, aplicados nas fases de desenvolvimento da metodologia. O conhecimento descritivo contribui, no início da pesquisa, sugerindo soluções para a resolução de um problema, seguindo, o conhecimento prescritivo definindo o artefato adequado e o conhecimento conceitual com as estruturas e conceitos projetados para a aplicação na solução do problema.

Neste contexto, as fases de desenvolvimento do Design Science são, de forma ampla, definidas por três momentos: o primeiro que corresponde ao desenvolvimento do artefato a partir do problema, o segundo momento requer a operacionalização do artefato, e a terceira, apresentada por Hevner et al. (2004), quanto verificação da utilidade do artefato pela rigorosa validação.

É importante salientar que cada momento fecha um ciclo de desenvolvimento, onde o artefato é testado na funcionalidade, até atingirmos o momento do teste que encerra a última fase através do teste de utilidade para verificação da abrangência da aplicação e a relevância teórica.

Para Hevner et al. (2004), Design Science é um processo de pesquisa no que envolve uma solução implementada para um problema em um ambiente de negócio, sendo esta implementação projeta em um ciclo de alternativas/testes e verificação como representado na Figura 2.

Figura 2 – O ciclo de generalização/teste Fonte: Hevner (2004).

A fase inicial, conforme Hevner (2007), a partir da identificação e representação das oportunidades e problemas observados no ambiente de aplicação da pesquisa abrem o ciclo. Na próxima fase, o ciclo requer a definição do contexto de aplicação com suas limitações, determinadas por regras e restrições do negócio e a definição, neste momento, dos critérios

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aceitáveis de avaliação dos resultados a partir de um artefato projetado e aplicado. A verificação de resultados adequados a funcionalidade, abrem outro ciclo de verificação dos limites de utilidade e a relevância do artefato, derivando desta análise, a formação de soluções aplicáveis e a possibilidade novas teorias, representadas na Figura 3.

Figura 3 – As fases da pesquisa Design Science Fonte: De Sordi et al. (2013).

Para Cross (1999), a metodologia Design Research cresce e se desenvolve em muitos lugares e esta afirmação é embasada pelo número crescente de revistas especializadas na aplicação design que são lançadas desde 1979, abrangendo diversas disciplinas de conhecimento. Cross (1999) acredita que a aplicação pode ter uma tendência a ser utilizada nas áreas de informação, mas este método possui três fontes de origem básicas para ser aplicada: pessoas, processos e produtos.

É importante ressaltar que esta metodologia pode ser adaptada a diversas disciplinas de conhecimento. Conforme Eder (1998), os modelos e métodos recomendados na aplicação do Design Research são generalistas e em nível abstrato, devendo ser adaptados à situação-problema, empresa, tempo e demais condições próprias do local de pesquisa.

Aplicações da metodologia em relação às pesquisas nas áreas de organização e gerenciamento nas empresas começaram a aparecer a partir de 2000, e, ainda hoje, é tímido. Contudo, Van Aken (2004) deixa claro que a metodologia, assim como aquela aplicada na medicina e engenharia, deve ser importante na missão de desenvolver conhecimentos que possam ser usados pelos profissionais na solução de seus problemas, sendo bem diferente do método exploratório, que mais se preocupa em validar um conhecimento.

Por ter surgido em um ambiente de pesquisa dos Sistemas de Informação (SI), a metodologia Design Science têm sido mais fortemente aplicada nesta área. Apesar de pouco explorada no Brasil, mesmo em pesquisas sobre SI’s, há diversas publicações em trabalhos realizados fora do país com a adoção do método.

Pode-se afirmar que a metodologia Design Science é a que oferece maiores oportunidades para que profissionais e acadêmicos consigam atuar em pesquisa com maior inclinação prática e com potencial para aproximar a academia e a sociedade. Assim, a área de ciências administrativas torna-se um importante campo para a aplicação da Design Science, por lidar diretamente com a solução de problemas organizacionais a partir da utilização de soluções baseadas em sistemas de informação, portanto, por meio de artefatos (VAN AKEN; ROMME, 2009).

Iivari (2007) e Hevner et al. (2004) reforçam que a Design Science tem orientação filosófica pragmática, cujo conhecimento gerado tem grande potencial para fixar um elo entre ciência e ação prática. Para De Sordi et al. (2013) a abordagem Design Science é uma

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característica de países onde a capacidade inovadora é mais presente e utilizada com mais intensidade, logo, esta metodologia de pesquisa se apresenta interessante para um país como o Brasil, onde a fomentação da produção científica, aplicada e direcionada a questões práticas são importantes para a solução de problemas em áreas organizacionais e sociais.

Venable (2006) propõe um framework para o processo de execução de pesquisa Design Science, representado na figura abaixo:

Figura 4 – Framework para a pesquisa Design Science Fonte: Venable (2006).

A construção teórica é central para o desenvolvimento da metodologia Design Science. No framework acima, problema e solução são colocados em um mesmo espaço onde é possível, pela confrontação, a proposta de novas teorias ou hipóteses. Ainda que as atividades possam se desenvolver sem uma definição teórica, durante o desenvolvimento do problema-artefato-validação, a construção teórica ocorre (i) quando da análise das interações para o entendimento do problema, suas causas e consequências, (ii) ao definir e testar o artefato e (iii) com a validação dos resultados obtidos pela aplicação do artefato. Assim a construção de teoria ou hipóteses é importante, pois passa a reunir todas as atividades em uma única construção de pesquisa sem os riscos de uma condução direcionada a uma só das atividades.

Toda a discussão acerca do enquadramento ontológico, epistemológico e metodológico da Design Science, assim como sobre suas características, diretrizes e aplicações, suscitam a necessidade de uma análise comparativa com pesquisas que encontram-se em regiões de fronteira com a Design Science, especialmente os Estudos de Caso e a Pesquisa-Ação, e é o que se pretende explorar a seguir. 6 Uma comparação com o Estudo de Caso

Segundo Yin (2010), o Estudo de Caso trata-se de uma investigação empírica que verifica um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto, especialmente quando os limites entre fenômeno e contexto não são bem definidos, deferentemente de experimentos, pesquisas históricas e levantamentos, por exemplo.

Segundo Nabukenya (2012), o estudo de caso é definido por uma pesquisa empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre fenômeno e contexto não são tão evidentes. Podendo ser classificado como predominantemente qualitativo e observatório. Sendo assim o estudo de

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caso muito útil quando a intenção do pesquisador quer observar detalhadamente a visão do contexto agindo no objeto em estudo.

De acordo com Goode e Hatt (168, p. 421) o estudo de caso se caracteriza por um método de olhar a realidade social por meio de uma gama de técnicas, como entrevistas, observações, investigações e coleta de dados, se constituindo em um...:

[…] meio de organizar os dados sociais preservando o caráter unitário do objeto social estudado […] uma abordagem que considera qualquer unidade social como um todo […] [e] inclui o desenvolvimento dessa unidade, que pode ser uma pessoa, uma família ou um grupo social, um conjunto de relações ou processos (como crises familiares, ajustamento à doença, formação de amizade, invasão étnica de uma vizinhança etc.) ou mesmo uma cultura [...]. (GOODE; HATT, 1968, p. 422).

Então, pode-se observar que o estudo de caso está intrinsecamente pautado pela

investigação de um evento já ocorrido, não possibilitando mudanças para um estado supostamente desejável. Em contrapartida, como observado ao longo do artigo, estudos baseados na metodologia Design Science vêm acrescentar por meio de artefatos, construtos, possibilidades de testes, e uma mudança na realidade, agindo como fato modificador de uma situação preexistente indesejável.

Nabukenya (2012) defende o uso de pesquisas mistas, com a apropriação dos três métodos de pesquisas citados neste artigo, Design Science, Estudo de Caso e Pesquisa-ação, ampliando assim o campo de pesquisa e deixando-o mais complexo, pois para os gaps na aplicação de uma metodologia, outra pode atuar como ponte e superá-los.

Uma questão difusa é a caracterização de artefatos como pesquisa Design Science ou como mera descrição qualitativa da sua aplicação prática, o que poderia se caracterizar como um Estudo de Caso. Buscando diferenciar estas duas vertentes, Gregor e Hevner (2013) afirmam que somente será considerada uma pesquisa Design Science quando a aplicação do artefato visar à extração de princípios subjacentes à realidade, criando a possibilidade de generalização para outras situações.

Nabukenya (2012) compara as características relevantes do Estudo de Caso e da Design Science, conforme demonstrado no Quadro 3: Quadro 3 – Comparativo das características relevantes entre Design Science e Estudo de Caso

Método de pesquisa Características Relevantes

Estudo de caso

Oferece visões contextuais detalhadas sobre o fenômeno de interesse, ou seja, o conhecimento de referência no domínio da aplicação Identifica as melhores práticas do conhecimento no campo de estudo

Design Science Constrói conhecimentos e artefatos Desenha o protótipo usando as melhores práticas do conhecimento no campo de estudo

Fonte: Adaptado de Nabukenya (2012) Há também semelhanças entre Design Science e Pesquisa-Ação. Tais semelhanças

podem advir da perspectiva prática de ambos os métodos, que se voltam à mudança de uma realidade específica, da qual se deseja evoluir para um patamar almejado. É o que se discute na próxima seção. 7 Uma comparação com a Pesquisa-Ação

Diversos autores têm abordado as semelhanças e diferenças entre Design Science e Pesquisa-Ação. Papas, O’Keefe e Seltsikas (2012) asseveram que enquanto alguns autores consideram que são métodos muito similares, outros identificam maiores particularidades em cada um deles. A maioria destas comparações tem sido eminentemente conceitual e não fundamentada na prática.

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Tratando de sistemas de informações gerenciais, após analisar e descrever as principais características das duas formas de pesquisa, Järvinen (2007) considera que ambas são absolutamente similares. O autor preparou um quadro onde coloca lado a lado estas características como forma de demonstrar a sua conclusão. O Quadro 4 sintetiza esta comparação: Quadro 4 – Comparação das principais características de Pesquisa-Ação e Design Science

Pesquisa-ação Design Science Enfatiza o aspecto da utilidade do futuro sistema do ponto de vista das pessoas.

Seus produtos são avaliados conforme os critérios de valor e utilidade.

Produz conhecimentos para guiar prática em modificação.

Produz desenho de conhecimento (conceitos, construtos, modelos e métodos).

Pesquisa-ação significa praticando a ação e avaliando ao mesmo tempo.

Construção e avaliação são as duas principais atividades.

É conduzida em colaboração entre o pesquisador e o sistema do cliente.

É iniciada pelo pesquisador interessado em desenvolver soluções tecnológicas para um certo tipo de problema. Cada caso individual é primariamente orientado para resolver um problema local em estreita colaboração com as pessoas deste local.

Modifica uma realidade posta ou desenvolve um novo sistema.

Resolve problemas de construção (produzindo inovações adicionais) e problemas de melhorias (incrementando o desempenho de entidades existentes).

O pesquisador intervém no cenário do problema.

É iniciada pelo pesquisador interessado em desenvolver soluções tecnológicas para um certo tipo de problema. Cada caso individual é primariamente orientado para resolver um problema local em estreita colaboração com as pessoas deste local.

Conhecimento é gerado, usado, testado e modificado no curso do projeto de pesquisa-ação.

Conhecimento é gerado, usado e avaliado através da ação de construção.

Fonte: Adaptado de Järvinen (2007) Järvinen (2012) reconhece, entretanto, que existem características que diferenciam a

pesquisa-ação de design science. Em sua opinião, além de outros pontos, a diferença marcante consiste na participação do pesquisador e dos participantes nas principais fases da pesquisa, conforme demonstrado no Quadro 5, a seguir: Quadro 5 – Os papéis dos pesquisadores e participantes da Pesquisa-Ação e Design Science

Pesquisa-Ação Método Papel do Pesquisador Papel dos Participantes

No início da pesquisa Não dominante Dominante Durante a pesquisa Colaborativo Colaborativo

No final da pesquisa Dominante quanto à avaliação científica (rigor).

Dominante quanto à avaliação prática (relevância).

Design Science Método Papel do Pesquisador Papel dos Participantes

No início da pesquisa Dominante Não dominante

Durante a pesquisa Dominante Não dominante quanto ao experimento real.

No final da pesquisa Dominante quanto à avaliação científica (rigor).

Dominante quanto à avaliação prática (relevância).

Fonte: Adaptado de Järvinen (2012)

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Baskerville, Pries-Heje e Venable (2009), por sua vez, consideram que as metodologias de Pesquisa-Ação e Design Science são bastante diferentes. Segundo os autores, enquanto a primeira tem por objetivo uma ação organizacional para criar mudança no intuito de descobrir novos conhecimentos de um modo clínico (imersão, diagnóstico, proposição, mudança), a Design Science tem por objetivo criar um artefato no intuito de descobrir novos conhecimentos de um modo generativo, iterativo (construção, aplicação, aprendizagem, mudança). A Figura 4 demonstra claramente esta diferença:

Figura 5 – Diferença entre Pesquisa-Ação e Design Science Fonte: Baskerville, Pries-Heje e Venable (2009)

Baskerville, Pries-Heje e Venable (2009) reconhecem que, em um nível mais elevado de abstração, as semelhanças entre Pesquisa-Ação e Design Science são mais nítidas, pois ambas geram conhecimento científico ao intencionalmente modificarem um cenário real e ao cuidadosamente avaliarem o resultado. Evidências da similaridade também aparecem quando se avaliam os resultados de cada abordagem de pesquisa. Em certos casos, cada abordagem pode satisfazer os critérios aceitáveis pela outra. Isto, no entanto, não significa que estas abordagens são iguais, conforme demonstrado no Quadro 6: Quadro 6 – Diferenças entre as abordagens da Pesquisa-Ação e Design Science

Dimensão Pesquisa-Ação Design Science Raízes históricas Movimento sociotécnico Engenharia Intenções básicas de prática Trata de “doenças” sociais Constrói artefatos Diferenças ontológicas Nominalista, idealista e

construtivista Realista e materialista

Diferenças epistemológicas Tende a ser antipositivista Tende a ser positivista Diferenças metodológicas Idealiza situações do cliente Idealiza situações de laboratório

Fonte: Adaptado de Baskerville, Pries-Heje e Venable (2009) Iivari e Venable (2009) realizaram uma comparação entre Pesquisa-Ação e Design

Science em três situações diferentes: nenhuma sobreposição, ligeira sobreposição e significante sobreposição. No quadro a seguir são feitas as comparações destas três situações: Quadro 7 – Superposições entre Pesquisa-Ação e Design Science

Caso Interesse da Pesquisa-

Ação Interesse da Design

Science Atividades da Design

Science

1º caso de nenhuma sobreposição

Entendendo a realidade em um contexto organizacional.

Nenhum Nenhuma

2º caso de nenhuma sobreposição

Nenhum

Resolvendo um problema puramente técnico através do desenvolvimento e avaliação de uma nova solução tecnológica.

Formulação de teoria, invenção de solução tecnológica e avaliação artificial.

3º caso de nenhuma Nenhum Resolvendo um Formulação de teoria,

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sobreposição problema sociotécnico num contexto de não pesquisa-ação através do desenvolvimento de uma nova solução tecnológica mas avaliando-a por outros meios que não pesquisa-ação.

invenção de solução tecnológica e avaliação artificial e/ou natural.

Ligeira sobreposição

Avaliando uma solução tecnológica existente num contexto organizacional.

Avaliação de uma solução tecnológica desenvolvida separadamente.

Avaliação somente naturalista.

Significante sobreposição

Resolvendo um problema sociotécnico através de desenvolvimento e uma nova solução tecnológica e avaliando-a num contexto organizacional.

Resolvendo um problema sociotécnico através de desenvolvimento e uma nova solução tecnológica e avaliando-a num contexto organizacional.

Formulação de teoria, invenção de solução tecnológica e avaliação naturalista.

Fonte: Iivari e Venable (2009). Embora as duas abordagens seja compatíveis, suas assunções paradigmáticas, os

interesses de pesquisa e as atividades realizadas no processo de pesquisa em si as tornam “decisivamente diferentes” (IIVARI; VENABLE, 2009, p. 12). 8 Conclusões

Embora ainda não tenha conquistado lugar definitivo na pesquisa em Ciências Sociais Aplicadas, a metodologia Design Science vem sendo cada vez mais utilizada. Alguns artigos publicados no Brasil já abordam a relevância e aplicações desta metodologia sem, contudo, realizar paralelos paradigmáticos comparativos com métodos “primos”, como o Estudo de Caso e a Pesquisa-Ação.

Neste contexto, os objetivos do estudo foram alcançados. Reunindo referencial teórico relevante, o esforço de chegar a um enquadramento paradigmático para o tipo de pesquisa Design Science, sob as perspectivas ontológica, epistemológica e metodológica, mostrou-se desafiador. Primeiramente, devido ao risco, inerente à tarefa de investigação paradigmática, de incorrer em deslizes epistemológicos; não obstante, em virtude da pouca literatura disponível além das fronteiras da área de sistemas de informação, mais notadamente no cenário da pesquisa no Brasil. Portanto, para este intento, concluiu-se que a Design Science representa um tipo de pesquisa que perpassa ambos os metaparadigmas – positivista e interpretativista, evidenciando uma nova perspectiva para a atuação dos pesquisadores, habituados ao antagonismo metaparadigmático consagrado, terreno em que tese (habitualmente, o Positivismo) e a antítese (Interpretativismo) têm duelado por séculos.

Através das comparações entre os métodos foi possível atender ao segundo e ao terceiro objetivos do estudo, respectivamente, explorar as características de cada método e estabelecer as principais semelhanças e diferenças entre eles. Constatou-se, em primeiro lugar, que o aspecto que melhor diferencia Design Science de Estudos de Caso que adotam artefatos é o objetivo da aplicação deste, posto que somente será considerada uma pesquisa Design Science quando, por meio do emprego de tal artefato, se estiver buscando a extração de princípios subjacentes à realidade, o que criará a possibilidade de generalização para outras situações; em segundo momento, a comparação com a Pesquisa-Ação demonstrou que o papel do pesquisador no transcurso das fases da pesquisa é um dos principais elementos que a

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distinguem da Design Science, além do foco investigativo, que nesta, centra-se no que é artificial (artefato), o que não é parte do escopo da Pesquisa-Ação. Enquanto na Pesquisa-Ação o papel do pesquisador é mais colaborativo, na Design Science ele exerce papel dominante durante todo o processo. Além disso, o fluxo de intervenção e descobertas em ambas as pesquisas é também distinto: a primeira se faz de um modo clínico (imersão, diagnóstico, proposição, mudança), enquanto que a segunda, de um modo generativo, iterativo (construção, aplicação, aprendizagem, mudança).

Um importante gap neste artigo decorre da escassez de literatura sobre Design Science em Ciências Sociais Aplicadas. Isto inevitavelmente acarreta uma assimetria no esforço de sua comparação com metodologias de pesquisa já tão amplamente adotadas no campo, como o são o Estudo de Caso e a Pesquisa-Ação. Portanto, com o intuito de mitigar tal assimetria, futuras pesquisas poderão realizar comparações entre estudos específicos que tenham usado cada uma das metodologias aqui abordadas, e investigar as semelhanças e diferenças entre elas, à luz dos pressupostos discutidos neste artigo. REFERÊNCIAS BASKERVILLE R.; PRIES-HEJE, J.; VENABLE, J. Soft Design Science Methodology. In: International Conference on Design Science Research in Information Systems and Technology – DESRIST 2009, 4, Anais…, Nova York, 2009. BAYAZIT, N. Investigating Design: A Review of Forty Years of Design Research. Design Issues, v. 20, n. 1, p. 16-29, Inverno, 2004. BURRELL, G.; MORGAN, G. Sociological paradigms and organizational analysis. Londres: Heinemann, 1979. CAMPIONE, J.C.; BROWN, A.L.; JAY, L. Computers in a Community of Learners. In: DE CORTE, E.; LINN, M.; MANDL, H.; VERSCHAFFEL, L. (Eds.). Computer-Based Learning environments and problem solving, NATO ASI Subseries F: “Computer and System Sciences”, Springer: Berlin, v. 84, p. 41-66, 1992. COLLINS, A.; JOSEPH, D.; BIELACZYC, K. Design Research: Theoretical and Methodological Issues. The Journal of the Learning Sciences, v. 13, n. 1, p. 15-42, 2004. CROSS, N. Design Research: a disciplined conversation. Design Issues, v. 15, n. 2, p. 5-10, Verão, 1999. CROSS, N.; NAUGHTON, J.; WALKER, D. Design method and scientific method. IPC Business Press. v. 2, n. 4, p. 195-201, out. 1981. DE SORDI, J. O.; MEIRELES, M.; SANCHES, C. Design Science: Uma Abordagem Inexplorada por Pesquisadores Brasileiros em Gestão de Sistemas de Informação. In: ENCONTRO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 34, 2010, Rio de Janeiro, Anais..., Rio de Janeiro: ANPAD, 2010. DE SORDI, J. O.; MEIRELES, M.; SANCHES, C. Design Science aplicada às pesquisas em administração: reflexões a partir do recente histórico de publicações internacionais. Revista de Administração e Inovação, São Paulo, v. 8, n. 1, p. 10-36, jan./mar. 2011. DE SORDI, J. O.; AZEVEDO, M. C.; MEIRELES, M.; CAMPANÁRIO, M. A. A Abordagem Design Science no Brasil Segundo as Publicações em Administração da Informação. In: ENCONTRO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO, 37, 2013, Rio de Janeiro, Anais..., Rio de Janeiro: ANPAD, 2013. EDER, W. E. Design Modeling: A Design Science Approach and Why Does Industry not Use It. Journal of Engineering Design, v. 9, n. 4, p. 355-371, 1998. GOODE, W. J. e HATT, P. K. Métodos em pesquisa social. 2ª ed. São Paulo: Nacional, 1968. GREGOR, S.; HEVNER, A. R. Positioning and Presenting Design Science Research for Maximum Impact. . MIS Quarterly, v. 37, n. 2, p. 337-355, Jun. 2013.

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