DESPERTAR

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DESPERTAR, LIVRO LANÇADO PELA EDITORA LEXIA...

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Margareth Brusarosco

Despertar

são paulo - 2010

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Margareth Brusarosco

Despertar

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP

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Impresso no Brasil. Printed in Brazil.

© Editora Lexia Ltda, 2010. São Paulo, SPCNPJ 11.605.752/0001-00

www.editoralexia.com

editora

Editores-responsáveisFabio Aguiar

Alexandra Aguiar

Projeto gráficoFabio Aguiar

RevisãoJúlia Carolina de Lucca

DiagramaçãoEquipe Lexia

B912d

Brusarosco, Margareth

Despertar / Margareth Brusarosco. São Paulo: Lexia, 2010.

266p.

ISBN: 978-85-63557-13-1

1. Ficção - Brasileira. I. Título.

CDD – B869.3

Este livro é dedicado a algumas pessoas queridas que perderam a luta contra o câncer.Margareth.

Nunca permita que alguém o faça acreditar que você não é algo valioso, você vive no mundo em que cria e você é aquilo que acredita ser.

Sumário

Quem sou?

Recobrando a memória

Segredos de família

Melhorando a cada dia

Um dia de cada vez

Seja bem vinda!

Aprendendo com a vida

Estarei ao seu lado sempre

Acabou...

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251

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Quem sou?

Eu acordei, mas não reconheci o lugar, era tudo muito claro, olhei ao lado e pela janela pude ver que chovia, as gotas caíam nos vidros fa-

zendo desenhos ao escorrerem, até que eu não pudesse mais vê-las.Tentei me sentar, mas eu me sentia amarrada, havia alguma coisa em

meu rosto e eu instintivamente tentei arrancar, foi quando ouvi a voz de alguém perto de mim.

— Graças a Dios, você acordou, hija! Eu me virei ao ouvir a voz da mulher, eu apenas observava, sabia

que a conhecia de algum lugar, mas afinal quem era ela? Onde eu estava? Novamente fechei os olhos, tudo parecia muito confuso.

— Eu vou chamar o médico, não durma, por favor, não me deixe novamente.

Meus olhos se abriram assim que ela começou a sair, onde eu pode-ria ir se nem conseguia permanecer com os olhos abertos? Alguns minu-tos depois algumas pessoas entraram, parecia que eles falavam ao mesmo tempo, ao menos essa era a impressão que eu tinha, minha cabeça latejava como se estivessem gritando.

— Olá! Eu sou o Dr. Julio, vou examiná-la.Um médico alto, de pele clara e cabelos lisos e escuros, tão escuros

como seus olhos, lindo sorriso, o tipo galã.

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Ele retirou a máscara de oxigênio que estava em meu rosto, ergueu a cama para que eu ficasse sentada e abaixou um pouco o lençol que me cobria, a mulher que há pouco estava ao meu lado agora ficava no final da cama tentando não atrapalhar.

— Sente dor aqui? — Ele perguntava enquanto pressionava perto de minhas costelas.

— Ai! Sim eu sinto. — Lembra do seu nome?— Sim, Micaela.— Lembra do que aconteceu?— Não.— Lembra dela? — Ele apontou a senhora no final da cama.Eu fixei o olhar e assim que ela sorriu me lembrei. — Sim, tia Augusta.— Lembra onde mora?— Na Vila de Pescadores com meus irmãos e tia Augusta.— Lembra de mim? — Eu olhei confusa para ele.— Você...? Não...Ele guardou a lanterna que examinava meus reflexos e conti-

nuou a me olhar por alguns segundos, parecia querer confirmar mi-nha resposta.

— Você estava no barco e uma tempestade a pegou de surpresa, quando a encontraram você estava presa entre as redes de pesca, o mastro estava quebrado e acredito que foi nele que você machucou a cabeça, foi preciso dar alguns pontos, fizemos uma tomografia, a pancada parece não ter causado nenhum dano grave... E você deu entrada no hospital acompa-nhada de seu namorado...

— Namorado? — Esse eu não me lembrava... — Ele também se ma-chucou?

— Não, vocês não estavam juntos... Mas é normal que tudo pareça confuso por enquanto, em breve se lembrará, vou deixá-las sozinhas, seu almoço já deve estar chegando, procure se alimentar e beba muito líquido, mais tarde eu volto para vê-la.

Tia Augusta era amiga da minha mãe e nós a adotamos como tia depois que perdeu o marido e o filho há muitos anos, uma espanho-la forte e de bom coração, nos ajudou muito depois que minha mãe morreu, nos orientou, nos deu muito carinho e amor, esteve sempre ao

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nosso lado. Somos quatro irmãos, Mariana tem 26 anos, Pedro tem 30 anos, Rico tem 29 anos, somos gratos por tê-la ao nosso lado.

— Hija, eu pedi tanto a Dios para que você acordasse.Eu fechei os olhos, me sentia cansada, muitas cenas apareciam em

minha mente, tudo muito confuso, eu via o mar, via a chuva, via pessoas, então eu a vi, uma moça linda, cabelos negros, olhos verdes, pele bronze-ada e sempre sorrindo, um sorriso puro, e me via ao seu lado brincando. Tínhamos a mesma idade e era como se eu me olhasse no espelho, então seu nome apareceu.

— Mariana. — Eu disse em voz alta. — Onde está Mariana? — Ela estava no barco, nós íamos para a ilha, nós íamos até o farol, nós íamos jogar as flores, nós estávamos indo...

— Ainda não a encontraram hija, estão procurando nas ilhas.Comecei a levantar, tinha que ir buscá-la, minha cabeça roda-

va, pessoas entraram e falavam todas ao mesmo tempo fazendo tudo uma grande confusão, me lembro de ter saído da cama, mas depois eu apaguei.

Não sei por quanto tempo fiquei desacordada, quando abri os olhos já era noite, eu estava completamente desorientada. Assim que me mexi percebi que havia alguém no quarto, segurando minha mão.

— Oi, eu não quis acordá-la, apenas vim dar uma última olhada antes de ir embora, como se sente?

— Incompleta Dr. Julio. — Eu respondi, sem vontade de conversar.— Sente dor?— Não. — Respondi secamente. — Lamento que não tenham encontrado sua irmã, acredito que ela

deve estar em uma das ilhas, eles estão procurando...— Há quanto tempo estou aqui?— Você chegou hoje de manhã desacordada e permaneceu assim por

seis horas seguidas, recobrou a consciência por alguns instantes e depois desmaiou novamente, deve ter passado um pouco mais de quatro horas até que você acordasse agora.

Fechei os olhos e Mariana voltou em meus pensamentos, ela lem-bra muito minha mãe, sempre enfrentou a vida de maneira positiva, é sensível e sentimental, é uma pessoa boa naturalmente, nem parece que somos gêmeas.

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Não sei como, mas adormeci sem me despedir do Dr. Julio.No dia seguinte uma enfermeira me ajudou a tomar banho, reparei

muitos hematomas pelo corpo e ao passar o pente no cabelo quase retirei um dos pontos.

— Ei, cuidado, não queremos que volte a sangrar, deixa que eu te ajudo...

O nome da enfermeira é Linda, descobri que ela é uma das poucas amigas que tenho aqui no hospital, talvez pela pancada, não sei, mas não me lembro dela, é tudo muito confuso, me lembro de boa parte da minha vida, mas parece que aos últimos dias sumiram completamente da minha cabeça.

Uma coisa eu lembrei, sou médica! Estou perto de terminar meu segundo ano de residência, revezo entre a pediatria e ala de emergência, nesse mesmo hospital, pretendo me especializar em oncologia infantil, in-felizmente ainda não consegui uma vaga nessa área, e para ser sincera nem sei se ainda irei conseguir...

— Posso entrar? — Olhei em direção à porta e sorri quando vi tia Augusta. — Por que está fora da cama? Você precisa descansar...

Ela estava acompanhada de um rapaz, ele era alto e forte como Rico, meu irmão, seus cabelos castanhos dourados, olhos verdes e pele bron-zeada do sol o deixavam realmente bonito, seu jeito me lembrava meus irmãos, por isso deduzi que ele era um pescador, ele veio direto onde eu estava, se inclinou e me deu um beijo na boca.

— Micaela, você está melhor? Foi só eu virar as costas para você acordar.

Olhei na direção da tia Augusta, pedindo respostas e ela logo percebeu.— Micaela, querida, você se lembra do Gustavo? Pelo que sei você

tem saído com ele há algum tempo... Seu namorado eu acho, lembra?— Lamento Gustavo, eu não me lembro de quase nada. — Ele se

abaixou na minha frente.— Olha para mim Micaela, acho que a amo minha vida inteira, eu

a vejo há alguns meses, geralmente estou com o Pedro no barco ou na co-operativa, eu, eu, eu, sou apaixonado por você! Veja... — Ele ergueu uma corrente com um pequeno pingente de cristal e colocou entre meus dedos, conforme eu girava a pedra ela brilhava contra o reflexo da luz, como uma estrela no céu. — Você me deu isso, lembra?

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Eu me lembrava que estava com Mariana no dia em que comprei esse pingente, mas não me lembrava de ter dado isso a ele, nem me lem-brava dele! A porta se abriu novamente e o Dr. Julio entrou.

— Bom dia, eu vejo que está melhor, não está na cama, posso exa-miná-la?

Eu tentei levantar, mas o quarto girou e eu me desequilibrei, o Dr. Julio tentou me segurar, mas o Gustavo já me apoiava.

— Você está bem? — O Gustavo perguntou ainda me segurando.— Estou tonta... — O quarto todo rodava e meu estômago estava

revirando.— Venha vou ajudá-la a se deitar. — Gustavo segurou meu braço,

mas assim que perdi o equilíbrio novamente ele me carregou até a cama, depois se afastou dando passagem para o Dr. Julio me examinar, ele verifi-cou meu pulso, ouviu meu coração, examinou meus reflexos, recolocou o estetoscópio no bolso e virou para tia Augusta e Gustavo.

— Preciso fazer algumas perguntas, podem deixar o quarto?Gustavo começou a protestar, mas tia Augusta o arrastou para fora

dizendo que deveria deixar o médico trabalhar sossegado.— A Linda disse que não se lembra dela Micaela.— Tudo ainda é muito confuso doutor...— Doutor? — Ele riu. — É estranho que não se lembre dela, ela é

sua amiga! — Ela me disse, mas ainda não consegui me lembrar...— Não sabemos por quanto tempo esteve desacordada, vou pedir

novos exames... Tive esperanças que sua memória não sofresse nenhum dano, talvez amnésia dissociativa, ou seja, quando o paciente...

— Eu sei o que é amnésia dissociativa Dr. Julio. — Ah! Lembrou que é médica... Então quem sabe agora se lembre

de mim?— Sim, você é o Dr. Julio. — Ele riu.— Não, eu quero dizer, antes do acidente, você se lembra de mim antes?— Não... Deveria?— É deveria... Meu cristal... — Ele disse chegando mais perto, e eu

franzi a testa.— Não me lembro, desculpe. — Eu falei confusa e ele se afastou rin-

do contrariado.

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— Espere. — Eu o segurei pelo braço antes que ele se afastasse com-pletamente. — Há pouco... Quer dizer o Gustavo chegou... E eu nem sabia quem ele era até tia Augusta dizer seu nome e nem que era meu namorado. Ele disse que estamos juntos há alguns meses, quer dizer, eu achei que a amnésia fosse somente sobre o trauma, é muito confuso me lembro que sou médica e da minha família, mas não me lembro dele.

— Fique tranquila Micaela, o cérebro é muito complexo, em um mo-mento de choque algumas coisas simplesmente somem da memória, mes-mo que por conveniência, seu namorado deve ser o caso.

— Mas quanto a você! O que eu deveria lembrar de antes sobre você?— Como eu já disse, existem coisas que somem de nossas memórias

apenas por conveniência, eu também devo ser o caso. — Ele piscou para mim e saiu do quarto.

Logo em seguida, tia Augusta e Gustavo retornaram. — Alguém encontrou Mariana? Onde estão Rico e Pedro? — Hija, eles estão no mar à procura dela, acham que ela pode

ter ido para uma das ilhas perto do farol, você sabe, ela é uma exce-lente nadadora.

Ficamos conversando por algum tempo até que a enfermeira entrou para aplicar novos medicamentos e pediu para que eles saíssem.

Tia Augusta deixou uma sacola com roupas e sapatos antes de ir, o Gustavo ainda ficou mais um pouquinho ao meu lado, fez carinho no meu rosto e antes de sair me deu um beijo, eu não senti nada e quis acreditar que a preocupação bloqueou qualquer sensação agradável que eu pudesse ter em um beijo.

Os medicamentos eram fortes e eu mal tinha forças para ficar acor-dada, mas vi todas as vezes que o Dr. Julio ficou ao meu lado no quarto, ele sempre segurava minha mão e acariciava meus dedos, essa sensação era boa e me tranquilizava.

No dia seguinte aproveitei para usar roupas diferentes daquelas em-prestadas do hospital, eu havia acordado com fome, muita fome, por isso comi tudo rapidamente, se pudesse teria pedido outro café da manhã, era estranho, não sou de comer, ainda mais no café... Vai entender, um dia sem fome, no outro, fome demais.

A porta se abriu e por ela passou um amigo.— Dr. Paulo!

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— Micaela, eu cheguei de viagem ontem e soube sobre o acidente, como se sente?

— Aflita, ansiosa, perdida, incompleta e com muito, muito medo. — Eu dizia enquanto o abraçava, se eu pudesse ter escolhido eu o escolheria como pai.

— Vamos ter fé, o que aconteceu afinal?— Só me lembro que Mariana e eu íamos de barco ao farol, depois

tudo é muito confuso, ela está perdida...— Você bateu a cabeça, ficará confusa por um tempo, não se preo-

cupe, eles vão encontrá-la, acabo de ver os resultados de seus exames, não deu nada na tomografia, você deve ir embora logo.

— Assim espero, esses medicamentos me deixam zonza e nauseada. Ele sorria.— Mas que tipo de médico gosta de virar paciente? A porta voltou a abrir e eu vi o Dr. Julio entrando, mas alguém

o chamou e ele se virou para olhar no corredor, ele arrumava o jale-co enquanto conversava. Eu mesma fiz isso algumas vezes, enquanto estava de folga eu vinha ao hospital para ver algum paciente e só co-locava o jaleco na porta do quarto para que ninguém me notasse, mas acho que no caso dele não deu certo, afinal, esconder um homem alto e bonito como ele era difícil mesmo... E como ele era bonito, fiquei feito boba a admirá-lo.

— Boa tarde Paulo, não achei que o encontraria aqui!— Eu ia mesmo te procurar, fiquei sabendo que ela é sua paciente...

Você não é cirurgião? Por acaso ela foi operada? Vai se meter em encrenca! Vai meter os dois em encrenca...

— Ela é minha responsabilidade ok, está tudo sobre controle... — Dr. Julio respondeu sério a ele. — Está se sentindo bem doutora?

— Melhor Dr. Julio.— Doutora? Doutor? Mas o que está acontecendo aqui? — Dr.

Paulo perguntou. — A pancada na cabeça a fez se esquecer de mim! — Foi o suficiente

para o Dr. Paulo rir.— Ai se eu soubesse, já teria batido na cabeça dela... Desculpe, des-

culpe, eu não pretendia rir Julio, mas você tem que concordar que isso é engraçado. — Eu fiquei a escutá-los sem conseguir entender direito.

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— Realmente muito engraçado Paulo, muito mesmo! Posso exami-ná-la doutora?

— Vou deixar vocês sozinhos, mais tarde, subo novamente, se cuide Micaela.

— Obrigada Dr. Paulo, nunca imaginei que um dia fosse querer ir embora daqui tão rápido, gostaria de poder sair e procurar pela Mariana.

— Tenha paciência, as coisas se ajeitarão. — Ele me deu um beijo na testa antes de sair.

— Pelo que vejo nenhuma novidade sobre sua irmã doutora? — Não Dr. Julio, ninguém a encontrou... — Talvez ela tenha conseguido chegar a uma das ilhas perto do farol.— Assim espero, sinto tanta falta dela, sinto-me angustiada por não

poder ajudar... Sem querer comecei a chorar. — Tenho medo de nunca mais

poder vê-la. O Dr. Julio não fez qualquer gesto, nenhum carinho ou qualquer pa-

lavra de conforto, apenas respeitou meu desabafo. Quando pude me con-trolar ergui meus olhos e o encarei, ele enxugou algumas lágrimas no meu rosto e sorriu sem nem saber por que eu sorri de volta.

Ele parecia tão cansado e preocupado que eu precisei me segurar para não fazer carinho em seu rosto.

— Posso examiná-la agora? Levante sua blusa, por favor.Eu já quase não sentia dor, os pontos na cabeça já não incomo-

davam tanto.— Parece bem melhor, meu cristal...— Meu cristal? — Eu perguntei, ele sorriu. — Posso fazer uma per-

gunta? — Eu disse enquanto ele continuava a me examinar.— O que quer saber?— Por que esteve aqui ontem à noite segurando minha mão?— Você realmente não se lembra de mim? — Ele parecia achar en-

graçado isso.— Não Dr. Julio, não lembro, exatamente por isso estou perguntan-

do, você pode facilitar as coisas para mim? — Eu disse perdendo a paciên-cia, ele parou de me examinar e me olhou.

— É muito difícil explicar, sua mente me excluiu de sua vida, então eu me pergunto o que eu realmente significava para você!

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— Você tem um apelido para mim e somando com sua resposta eu pos-so deduzir que eu te conhecia... Como eu posso dizer... Eu te conhecia bem.

— É uma maneira de colocar a coisa toda. — Ele completava achan-do graça, eu suspirei, olhando para baixo irritada por ele rir, algo chamou atenção em sua mão.

— Você é casado? — Eu perguntei ao notar a aliança.— Para algumas pessoas ainda sou. — Ele sorria mexendo na aliança.— E eu saía com você...? — Bastou o sorriso para eu saber que saía.

— Não posso acreditar, e também tenho um namorado...?— É o que estão dizendo... — Ele continuava a sorrir com as mãos

no bolso do jaleco.— Dios, Mariana deveria estar aqui em meu lugar, como eu posso

ter sido tão baixa, saí com um homem casado! — Ele sorriu mais, como se não acreditasse no que ouvira.

— Crise de consciência Micaela? Se não se lembra, meu casamento já acabou, mas sobre seu namorado... Bem, ele também é novidade para mim. — Ele disse deixando claro seu descontentamento.

— Se acabou, por que você tem uma aliança?— Não sei, acho que chegamos à conclusão de que era melhor nin-

guém saber, certamente seria um problema para nossas carreiras, ou tal-vez, tudo fosse uma desculpa sua para poder continuar com seu namora-do? — Ele dizia com ironia na voz. — Também tem aquela desculpa de você ter medo de eu ser atacado por alguma enfermeira. — Ele sorria ao finalizar. — Aliás, onde está seu anel?

— Que anel?— O que eu te dei há alguns dias, não pode ter perdido, ficou justo

em seu dedo, pelo que estou vendo, você só usava quando estava aqui. Eu olhei em meu dedo, havia uma marca provavelmente onde o anel

ficava, mas eu não me lembrava dele.— Eu estou perdida, acabo de acordar em um hospital, minha irmã

está desaparecida e tenho dois homens que dizem fazer parte de minha vida, é tudo confuso...

— Dizem? Você está insinuando que estou inventando isso? Percebo o quanto eu era importante para você. — Agora ele ficou irritado.

— Não! Eu apenas não me lembro do que aconteceu. — Eu me adian-tei em falar, sentia como se precisasse me justificar com ele.

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