Desvelando o Cotidiano Dos Cuidadores Informais de Idosos MONTES CLAROS

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    Desvelando o cotidiano dos cuidadores informais de idososDesvelando o cotidiano dos cuidadores informais de idososDesvelando o cotidiano dos cuidadores informais de idososDesvelando o cotidiano dos cuidadores informais de idososDesvelando o cotidiano dos cuidadores informais de idosos

    Revelando el cotidiano de los cuidadores informales de ancianos

    Unveiling the routine of informal caregivers for the elderly

    Michel Patrick FMichel Patrick FMichel Patrick FMichel Patrick FMichel Patrick Fonseca Rochaonseca Rochaonseca Rochaonseca Rochaonseca RochaIIIII, Maria Aparecida Vieira, Maria Aparecida Vieira, Maria Aparecida Vieira, Maria Aparecida Vieira, Maria Aparecida VieiraIIIII, Roseni Rosngela de Sena, Roseni Rosngela de Sena, Roseni Rosngela de Sena, Roseni Rosngela de Sena, Roseni Rosngela de SenaIIIII

    CorCorCorCorCorrespondncia:respondncia:respondncia:respondncia:respondncia: Maria Aparecida Vieira. Rua Jasmim, 127. Bairro Sagrada Famlia. CEP 39.401-028. Montes Claros, MG.

    Submisso:Submisso:Submisso:Submisso:Submisso: 30/07/2008 AprAprAprAprAprovao:ovao:ovao:ovao:ovao: 15/11/2008

    PESQUISAPESQUISAPESQUISAPESQUISAPESQUISA

    RevistaBrasileira

    de Enfermagem

    REBEn

    RevRevRevRevRev Bras Enferm, Braslia 2008Bras Enferm, Braslia 2008Bras Enferm, Braslia 2008Bras Enferm, Braslia 2008Bras Enferm, Braslia 2008 nov-deznov-deznov-deznov-deznov-dez; 61(; 61(; 61(; 61(; 61(66666):):):):):801-8801-8801-8801-8801-8.....

    IUniversidade Estadual de Montes Claros. Departamento de Enfermagem. Montes Claros, MGKellog Foundation. Belo Horizonte. MG

    801801801801801

    RESUMORESUMORESUMORESUMORESUMOEste artigo objetivou descrever como os cuidadores informais de idosos interpretam e constroem o seu cotidiano. Estudo qualitativo,descritivo-exploratrio, tendo como orientao terico-metodolgica, a dialtica. O instrumento de coleta de dados foi a entrevistaindividual, com cinco cuidadores de idosos dependentes em domiclios de um Programa Sade da Famlia, em Montes Claros MinasGerais. Resultados evidenciaram situaes adversas enfrentadas pelos cuidadores relacionadas ao sofrimento e sacrifcios na prestaodos cuidados e a falta de assistncia para atender as necessidades do ser cuidado e do ser cuidador. Porm, exercem o cuidar comamor, carinho e dedicao, utilizando a f e a espiritualidade como busca do equilbrio biopsicossocial. Recomenda-se que essesprofissionais tenham um olhar respeitoso e cooperativo ao trabalho desses cuidadores.Descritores:Descritores:Descritores:Descritores:Descritores: Cuidados domiciliares de sade; Cuidadores; Assistncia a idosos.

    ABSTRACTABSTRACTABSTRACTABSTRACTABSTRACTThis article intends to describe how the informal caregivers interpret and build their daily routine. It is a qualitative study using dialecticsas the theoretical-methodological framework. The instrument for data colection was individual interviews with five caregivers forelderly in homes in the Family Health Program, in Montes Claros, Minas Gerais State, Brazil. The results demonstrated adversesituations faced by caregivers in terms of suffering and sacrifice in providing care and a lack of support meeting the needs of thecaregivers and those receiving care. However, they provided care with love and dedication using faith and spirituality in search of bio-psychosocial balance. It is recommended that health workers should have a respectful and cooperative approach to the work of theseinformal caregivers for the elderly.Descriptors:Descriptors:Descriptors:Descriptors:Descriptors: Home nursing; Caregivers; Old age assistance.

    RESUMENRESUMENRESUMENRESUMENRESUMENEl propsito del presente artculo ha sido describir cmo los cuidadores informales de ancianos interpretan y construyen su rutina. Setrata de un estudio cualitativo, descriptivo y exploratorio, con orientacin terico-metodolgica. La recogida de datos se realizmediante entrevistas individuales a cinco cuidadores de personas mayores dependientes que viven en domicilios incluidos en unPrograma de Salud de la Familia de Montes Claros, Estado de Minas Gerais. Los resultados revelan que los cuidadores enfrentansituaciones hostiles que tienen que ver con sufrimiento y sacrificios en la prestacin de los cuidados y con la falta de asistencia paraatender a las necesidades del anciano y del cuidador. Pero, ejercen su tarea con amor, cario y dedicacin y, a travs de la fe y de laespiritualidad, buscan su equilibrio biopsicosocial. Se aconseja que el trabajo de estos profesionales sea considerado com respecto ycooperacin.Descriptores:Descriptores:Descriptores:Descriptores:Descriptores: Atencin domiciliaria de salud; Cuidadores; Asistencia a los ancianos.

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    802802802802802 Rev Bras Enferm, Braslia 2008Rev Bras Enferm, Braslia 2008Rev Bras Enferm, Braslia 2008Rev Bras Enferm, Braslia 2008Rev Bras Enferm, Braslia 2008 nov-deznov-deznov-deznov-deznov-dez; 61(; 61(; 61(; 61(; 61(66666):):):):): 801-8801-8801-8801-8801-8.....

    Rocha MPFRocha MPFRocha MPFRocha MPFRocha MPF, Vieira MA, Sena RR., Vieira MA, Sena RR., Vieira MA, Sena RR., Vieira MA, Sena RR., Vieira MA, Sena RR.

    IIIIINTRODUONTRODUONTRODUONTRODUONTRODUO

    A populao mundial est envelhecendo em ritmo acelerado,apresentando demandas e necessidades no campo da sade e daassistncia social. Nos ltimos anos, cerca de um milho de pessoas

    cruzaram a barreira dos 60 anos, a cada ms e em todo o mundo,provocando mudanas importantes na estrutura etria daspopulaes em praticamente todos os pases(1).

    Ainda que a velhice no seja sinnimo de doena e dependncia,o crescimento dessa populao leva ao aumento do nmero depessoas com debilidades fsicas e emocionais e, em muitos casos,podem depender de um cuidador.

    De acordo com Sanchz(2), a dependncia pode ser consideradaem trs nveis: a dependncia estruturada, resultante da circunstnciacultural que atribui valor ao ser humano em funo do que e doquanto produz; a dependncia fsica que decorre da incapacidadefuncional, ou seja, a falta de condies para realizar as tarefas da

    vida diria em diferentes graus de severidade e a dependnciacomportamental, que socialmente induzida, pois advm dojulgamento e das aes de outrem. A dependncia da pessoa idosaocorre quando se torna incapaz de realizar as atividades da vidadiria e, quando isso acontece, um cuidador assume a funo deapoio, por meio do cuidado que pode ser permanente ouespordico(3).

    Na maioria dos casos de pessoas idosas dependentes, a demandapor cuidados assumida pela famlia e, em conseqncia, anecessidade freqente de se recorrer assistncia social e de sadepara apoio aos familiares. O Sistema Pblico de Sade do Brasil,entretanto, ainda no fornece o suporte adequado ao idoso queadoece nem famlia que dele cuida(4).

    A ateno domiciliar surge como modelagem de atenoespecialmente para idosos com doenas incapacitantes,dependentes do apoio de cuidadores. Essa modalidade de ateno to antiga quanto os agrupamentos sociais mas tem se tornadomais visvel com o envelhecimento da populao e a reconfiguraodo domiclio como lcus do cuidado.

    No contexto da ateno domiciliar, os cuidadores so, em suamaioria, informais; geralmente um integrante da famlia que adotao papel de cuidador do idoso ou portador de enfermidadedebilitante, assumindo assim a responsabilidade pela prestao decuidados no domiclio ou em instituies que oferecem ateno aoidoso.

    Os cuidadores, profissionais ou no, realizam as mais variadastarefas, cuidando e restabelecendo a qualidade de vida do idoso(3).So classificados, segundo Papaleo Neto(1), como cuidadores formaise informais.

    Os cuidadores formais prestam cuidados no domiclio comremunerao e com poder decisrio reduzido, cumprindo tarefasdelegadas pela famlia ou pelos profissionais de sade que orientamo cuidado. So profissionais capacitados para o cuidado,contribuindo de forma significativa para a sade das pessoascuidadas. Esses cuidadores tm, em geral, formao de auxiliar outcnico de enfermagem, com formao orientada para o cuidadoem sade dos portadores de patologia fsica ou mental, em funodo atendimento de necessidades especficas(1).

    Os cuidadores informais so os familiares, amigos, vizinhos,membros de grupos religiosos e outras pessoas da comunidade.

    So voluntrios que se dispem, sem formao profissionalespecfica, a cuidar de idosos, sendo que a disponibilidade e a boa

    vontade so fatores preponderantes(5).O conhecimento do perfil dos cuidadores e de suas dificuldades

    no processo de cuidar permite, aos profissionais da sade, planejar

    e implantar polticas e programas pblicos de suporte social famlia, voltados realidade do cuidador. Isso porque o cuidadorest em condies de sobrecarga de trabalho, o que contribuipara o adoecer e para o desenvolvimento de situaes de conflitoentre o cuidador e o idoso dependente(6).

    Em 19 de outubro de 2006, o Ministrio da Sade instituiu aPortaria n 2.529, que regulamenta a Internao Domiciliar nombito do SUS. A internao domiciliar definida por um conjuntode aes realizadas no domiclio, a pessoas clinicamente estveisque precisam de cuidados, mas que no necessitam da internaohospitalar. O objetivo o de proporcionar um atendimentohumanizado que promova maior autonomia da pessoa cuidada ede sua famlia(7).

    O cuidador dever tambm receber ateno a sua sade pessoal,considerando-se que a atividade de cuidar de um adulto dependente desgastante e implica em riscos sade do cuidador. Porconseguinte, a funo de prevenir perdas e agravos sadeabranger, igualmente, a pessoa do cuidador(8).

    Esta pesquisa teve como objetivo compreender como oscuidadores informais de idosos enfrentam, no cotidiano, as situaesde conflito, as tenses, os desgastes fsicos e emocionais, asalteraes de planos de vida, o isolamento social, a sobrecarga detrabalho, os dilemas e o estresse, em um territrio do Programade Sade da Famlia (PSF), em Montes Claros - MG.

    Segundo Santos(5) primordial que se ofeream condies de

    infra-estrutura e de suporte para que os familiares possamefetivamente exercer o papel de cuidadores informais. necessrioque, alm de se conhecerem as necessidades de cuidado da pessoadependente, tambm se conhea a situao dessas famlias: suasdemandas, suas crenas, seus valores e suas prticas scio-culturais.

    Espera-se que os profissionais de sade do Programa Sade daFamlia, do municpio de Montes Claros-MG, onde foram coletadosos dados deste estudo, sintam-se instigados a voltar sua ateno realidade enfrentada pelos cuidadores informais que, muitas vezes,so ignorados pela sociedade e afastados das discusses familiares.

    Assim, ao analisar os desafios vividos pelo cuidador, os profissionaisda sade podero participar ativamente da assistncia ao cuidador

    de idosos, valorizando-o e dando-lhe suporte nos cuidados,oferecendo capacitao a ele e a sua famlia sobre como lidar comsituaes potencialmente geradoras de conflitos e tenses a fim decontribuir para a qualidade de vida do ser cuidado, cuidador e afamlia no domiclio.

    Espera-se que os resultados desta pesquisa tornem visveis ossignificados da vivncia desses cuidadores informais de idosos.

    METODOLOGIAMETODOLOGIAMETODOLOGIAMETODOLOGIAMETODOLOGIA

    O presente estudo optou pela abordagem qualitativa para captaro cotidiano dos cuidadores de idosos. Segundo Trivios(9) essaabordagem responde a questionamentos extremamente particulares,

    alm de oferecer a possibilidade de conhecer pela percepo,vivncia, experincia de vida e reflexo a realidade, afim de

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    803803803803803RevRevRevRevRevBras Enferm, Braslia 2008Bras Enferm, Braslia 2008Bras Enferm, Braslia 2008Bras Enferm, Braslia 2008Bras Enferm, Braslia 2008 nov-dez;nov-dez;nov-dez;nov-dez;nov-dez;61(61(61(61(61(66666):):):):): 801-8801-8801-8801-8801-8.....

    transform-la. Para o autor, a pesquisa qualitativa parte dadescriodos fenmenos, procurando captar no s a sua aparncia comotambm a sua essncia. Busca as causas, aorigem, as relaes, asmudanas e suas conseqncias paraa vida humana.

    Compreende, ainda, as representaes sociais na vivncia das

    relaes objetivas doscuidadores de idosos de um territrio desade em Montes Claros, atribuindo-lhes significado no universodos motivos, aspiraes, crenas e valores e na intencionalidadeligada aos atos, s relaes e s estruturas sociais(10). Essa escolhajustifica-se, tambm, pela concepo de que a abordagem qualitativa capaz de captar a realidade concreta e subjetiva da interaodialgica e dialtica entre cenrios, sujeitos e pesquisadores.

    Nesse sentido, este estudo foi orientado pelo referencial terico-metodolgico da dialtica que, para Gadotti(11), contempla osfenmenos como um todo coerente, no qual os objetos, atores, eos prprios fenmenos condicionam-se reciprocamente, einteragem entre si. Segundo Minayo(10), a dialtica representa ocaminho terico que aponta a dinmica do real na sociedade,contextualizando o processo histrico com seu dinamismo,provisoriedade e transformao, buscando apreender a prtica socialemprica dos indivduos na sociedade e realizar a crtica dasideologias do binmio sujeito/objeto, ambos histricos ecomprometidos com os interesses e as lutas sociais de seu tempo.

    A opo por essa orientao terico-metodolgica permitiu umaaproximao da realidade objetiva a partir dos significados sobreser cuidador de idosos dependentes, revelando as contradiesinerentes ao cotidiano dos cuidadores.

    Trata-se tambm de uma pesquisa descritiva, que descreveum fenmeno ou situao, mediante um estudo realizado emdeterminado contexto espacial e temporal(12). Esta investigao

    foi realizada nos domiclios dos cuidadores informais e locais deresidncia dos idosos dependentes sob seus cuidados, localizadosem um territrio do Programa de Sade da Famlia, em MontesClaros Minas Gerais. Os sujeitos deste estudo foram cincocuidadores informais de idosos dependentes, dos quais trs somulheres e dois so homens, domiciliados na rea adscrita de umaequipe do Programa de Sade da Famlia (PSF).

    A seleo dos cuidadoresocorreu por meio de amostragemno-probabilstica, optando-sepor uma amostra por acessibilidade,ondeo elemento pesquisado auto-selecionado ou selecionadopor estar disponvel no local e no momento em que a coleta realizada(12).

    Buscando atingir o objetivo proposto, foram utilizados, comoinstrumentos de coleta de dados, a pesquisa bibliogrfica e aentrevista individual com roteiro semi-estruturado.

    As entrevistas individuais foram realizadas nos domiclios doscuidadores e dos idosos dependentes, em condies adequadasde comodidade e privacidade, proporcionando a espontaneidadenecessria. Essa modalidade de coleta de dados permite que opesquisador esteja presente no momento da entrevista e que osujeito da pesquisa tenha a possibilidade de responder aosquestionamentos com liberdade, enriquecendo a investigao(13).

    Para o registro das entrevistas, foi utilizada a gravao dasinformaes fornecidas pelos participantes. O uso do gravador dao pesquisador a certeza de que obter a reproduo fiel e integral

    da fala, evitando-se, assim, o risco de interpretaes equivocadas(14).Permite, tambm, que o pesquisador fique atento fala do

    entrevistado, intervindo quando se fizer necessrio. Esclareceu-seaos entrevistados que no se preocupassem em dar respostasconsideradas corretas, pois o que se deseja captar a sua maneirade pensar e perceber o tema abordado(13).

    Anteriormente entrevista foi realizado o pr-teste com a

    inteno de assegurar a validade e a preciso das questesnorteadoras da entrevista. Ocuidadorentrevistado no pr-testenofoi includo no estudo(13).

    O Projeto de Pesquisa foi aprovado pelo Comit de tica emPesquisa da Universidade Estadual de Montes Clarosque emitiu oParecer Consubstanciado Processo n 294, de 17 de maro de2006. Foram observadasas orientaes da Resoluo 196/96 doConselho Nacional de Sade. Tambm foi solicitada, Gernciado Programa de Sade da Famlia,autorizao para a realizaodeste estudo.

    Os entrevistados foram informadosquanto aos objetivos dapesquisa, autonomia individual, privacidade, confidencialidadedas informaes e de que os resultados seriam utilizadosexclusivamente para fins cientficos. Aps os esclarecimentos,assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para segarantir o anonimato dos sujeitos, foram utilizados nmeros deidentificaoe ascodificaes esto presentes na anlise dos dados.

    A anlise dos dados empricos foi organizada segundo a tcnicade anlise do discurso na qual, segundo Minayo(10), os dados soclassificados a partir de um questionamento com base nafundamentao terica e elaboradas as categorias que se referema um conceito que abrangem elementos ou aspectos comcaractersticas comuns ou que se relacionam entre si. Dessa forma,constituram-se trs categorias empricas: tornando-se um serdependente de cuidados; dificuldades do ser cuidador:

    aprendizagem e superao; as estratgias do cuidar de idososdependentes.

    RESULRESULRESULRESULRESULTTTTTADOS E DISCUSSOADOS E DISCUSSOADOS E DISCUSSOADOS E DISCUSSOADOS E DISCUSSO

    TTTTTornandoornandoornandoornandoornando-se um-se um-se um-se um-se um SSSSSererererer DDDDDependente deependente deependente deependente deependente de CCCCCuidadosuidadosuidadosuidadosuidadosSegundo Elias(15), o envelhecimento um processo dinmico e

    progressivo no qual ocorrem modificaes tanto morfolgicasquanto funcionais, bioqumicas e psicolgicas que determinam adiminuio de adaptao do indivduo ao meio-ambiente,ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidncia de processospatolgicos. Para Carvalho Filho(16), o envelhecer aquele perodo

    da vida que sucede fase de maturidade, caracterizado por declniodas funes orgnicas que acarreta maior susceptibilidade aosurgimento de doenas, terminando por levar o idoso morte.Essa diminuio da capacidade funcional linear, em funo dotempo. O indivduo perde progressivamente sua capacidadeocorrendo a necessidade de adaptaes a uma nova situao, sejafsica, emocional ou econmico-social. O Brasil, talvez emdecorrncia do sistema de sade pblica, no se encontra preparadopara fornecer o suporte populao que envelhece nem a suafamlia(4). Os relatos a seguir contribuem com essa anlise:

    O tempo foi passando e ele foi ficando mais ruim, no tavaconseguindo nem andar n! Eu cuidei dele, fiquei carregando

    ele um ano e meio [...]. Nas minhas contas tem 11 anos que ele doente(C1).

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    804804804804804 Rev Bras Enferm, Braslia 2008Rev Bras Enferm, Braslia 2008Rev Bras Enferm, Braslia 2008Rev Bras Enferm, Braslia 2008Rev Bras Enferm, Braslia 2008 nov-deznov-deznov-deznov-deznov-dez; 61(; 61(; 61(; 61(; 61(66666):):):):): 801-8801-8801-8801-8801-8.....

    Rocha MPFRocha MPFRocha MPFRocha MPFRocha MPF, Vieira MA, Sena RR., Vieira MA, Sena RR., Vieira MA, Sena RR., Vieira MA, Sena RR., Vieira MA, Sena RR.

    Ela tem 96 anos, t a firme, desse jeito, sofrendo, pode serque daqui umas curtas horas... Mas ainda demora muito, aindavive [...] e pior que no enxerga quase nada mais, escuta, masno sabe quem que t falando(C5).

    Para Carvalho Filho(16)

    o envelhecer um processo seqencialda vida humana, individual, cumulativo, irreversvel, no-patolgico,de deteriorao de um organismo maduro, prprio a todos osmembros de uma espcie. O tempo torna-os menos capazes defazer frente ao estresse do meio ambiente e, portanto, aumenta suapossibilidade de morte(17). O discurso a seguir revela tal situao:

    Ele vai ficar paraplgico, e uma doena que infelizmente amedicina ainda no descobriu um remdio para combater, s

    pode fazer pra resolver, seria uma fisioterapia, mas no casodele j passou muito tempo [...] Hoje j est da cintura pracima, ele sente muita dor nos braos, no corpo todo, do pescoo

    pra baixo ele no sente nada, tudo dormente, ele coa, elemachuca, no v e no sente nada, s v quando est sangrando,n! Ou ento, quando eu vou dar o banho nele, eu vejo as

    pernas machucadas, e fora isso tem as fraquezas nos ossos,pega gripe com muita facilidade, sente dor demais [...](C1).

    A presena de imobil idade, instabilidade, incont inncia,insuficincia cerebral e iatrogenia implicam em prejuzo para aindependncia funcional, impedindo a pessoa de atendersuficientemente as necessidades da vida diria como alimentares,higinicas e sociais(18), como expresso a seguir:

    Dou os medicamentos que o mdico passou, tudo certinho,

    e a comida tambm, fao a sopinha e coloco na boca dele, elet com uma tremura na mo que no consegue segurar nada...onde ele tiver faz xixi, coc na roupa [...] chega na sala e fazcoc, a eu tenho que pegar a mangueira, d um banho nele,ensaboar, mas bobagem dar banho nele, que da um instanteele t todo mijado que nem criana, t mijado! Fazia coc naroupa! Voc precisa ver como que ... Ele foi curado, voltou

    pra casa fortezinho, mas parecia que estava assim meioabestaiado [...] mas a depois ele ficou mal mesmo! Ficouabestaiado mesmo! Babando! Assim sem saber onde ele tava!Fazia xixi no meio da casa! Pra banhar a gente banhava, foi aele arruinou de vez... Parecia que ia morrer(C2).

    Assim, a faml ia passa a ter uma co-responsabil idade, nomomento em que ocorrem alteraes nas condies de vida deum dos seus integrantes, principalmente no caso de adoecimento.Os familiares so os primeiros a reconhecer essas necessidades e aoferecer os cuidados essenciais aos idosos que se tornamdependentes. Estes tambm iro necessitar de cuidados(19).

    Uma grande dificuldade no processo de cuidar est em rompercom os valores adquiridos desde a infncia do cuidador: o pudorem invadir a privacidade e a intimidade do outro, que seu pai, asua me, o sogro. At ento era proibido ou no era aceito comonatural(20). Isso est presente nos discursos dos cuidadoresentrevistados:

    [...] nada disso minha filha, pode ajudar a, seu pai um homem

    igual outro qualquer, vamos juntar ns duas e banhar, no temproblema no, tiramos a roupa dele! Demos o banho!Enxugamos! Vestimos a roupa! E levamos pro hospital... (C2).

    [...] j tentei dar banho, mas ela no quer, ela tem vergonha,

    fica a suja, toma as prestaes (dia sim, dia no), [...] tem umpreconceito danado (C5).

    Dar o banho, fazer a toalete e vestir um idoso podem representarmuito mais nus para o cuidador, visto que a falta de cooperaoe as alteraes de comportamento do idoso acentuam-se nessassituaes e geram muita angstia. O cuidado prestado pelo cuidadorinformal marcado pelo despreparo psicolgico e emocional quepode gerar, em vrias ocasies, conflito, insatisfao, inseguranae sensao de desespero(19). Assim, o cuidar pode causar desgastefsico e emocional, pois muita energia vital cedida para que ocuidado passe a alimentar, educar e cultivar o crescimento dooutro(21).

    Dificuldades doDificuldades doDificuldades doDificuldades doDificuldades do SSSSSererererer CCCCCuidador:uidador:uidador:uidador:uidador:AAAAAprendizagem eprendizagem eprendizagem eprendizagem eprendizagem e SSSSSuperaouperaouperaouperaouperaoDiversos so os desafios que se apresentam no cotidiano do

    cuidador tais como a dificuldade para lidar com os quadros deagitao e de agressividade do ser cuidado, com a deambulaoconstante e especialmente noturna, provocada pelas alteraes noshbitos de sono e repouso, com os esquecimentos, a repetitividade,a teimosia e as solicitaes constantes, com a falta de etiqueta mesa e no trato social e com os comportamentos bizarros, como,por exemplo, despir-se(16). O mais difcil no processo de cuidarest nesse convvio dirio com os distrbios de comportamentoapresentados pelos idosos, como expresso nos discursos:

    [...] tem que ficar de cima, tomou o caf? no tomei no porque no tomou o caf ainda? Porque s vezes tem que tratarque nem criana! - quero tomar no no, tem que tomar! [...]Deus me curou tudo bem, Deus te curou, mas deixou osmdicos aqui pra isso, tem que tomar. A daqui a pouco Ah!Ento vou tomar entendeu? Parece uma criancinha (C4).

    A gente pergunta: qu ch? No quer, daqui a pouco, cincominutos, j quer, s d tempo de esfriar na panela, tem quetornar esquentar de novo, caf com leite, biscoito, t semprea, toda hora (C5).

    As principais dificuldades encontradas ao lidar com o idosoreferem-se ao enfrentamento da teimosia de sua resistncia emseguir as orientaes, ficando o cuidador freqentemente abaladoemocional, psquica e fisicamente(22). A maneira negativa como oidoso trata o cuidador pode revelar a no-aceitao da relao dedependncia(23).

    O cuidador informal expe-se a uma srie de fatores estressantescomo o peso das tarefas e as doenas advindas das exigncias dotrabalho e das caractersticas do idoso. Alm disso, faltam-lheinformaes. Falta-lhe apoio fsico, psicolgico e financeiro paraenfrentar a rotina(8), conforme indicam os depoimentos:

    [...] Ah... Tem dia que a gente t nervoso, tem dia que dvontade de chutar tudo, tem hora que fico meio nervoso, o

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    805805805805805RevRevRevRevRevBras Enferm, Braslia 2008Bras Enferm, Braslia 2008Bras Enferm, Braslia 2008Bras Enferm, Braslia 2008Bras Enferm, Braslia 2008 nov-dez;nov-dez;nov-dez;nov-dez;nov-dez;61(61(61(61(61(66666):):):):): 801-8801-8801-8801-8801-8.....

    povo fala muita coisa com a gente, presso sobe, mas nervosoque eu passo de vez em quando, mas tem que fazer n, no

    pode judiar n! Tem que fazer conforme at o dia que Deusquiser (C5).

    [...] ela tia de minha me, e meu marido fala assim: voc notem que fazer isso no! Quem tem que fazer isso os filhosdela! A eu falo: no tem nada a ver no! No pode deixar elaa desse jeito, tem que cuidar! como se fosse um filho mesmo,

    porque seno, ningum faz, e fica essa coisa a acabando. Ah! Mas cad os filhos dela? Ah! Os filho dela no importacom ela, ningum no quer nem saber como ela t (C4).

    Em relao ao discurso de C4, Elsen(24)afirma que o fato de umfamiliar assumir o cuidado pode representar a falta de apoio e decomunicao entre os membros da famlia o que, na prtica, podeafetar a sade familiar.

    Para Scazufca(25), as dificuldades das pessoas cuidadas emexecutar atividades da vida diria podem causar problemas na casae estresse nos familiares e, por isso, tm sido apontadas comogeradoras do sentimento de sobrecarga nos cuidadores informais.

    As atividades que necessitam de espao fsico so as que causammaior dificuldade para o cuidador porque, para cuidar de um adultodependente, necessrio ter condies fsicas, espao adeqadoe equipamentos que ajudam nas tarefas pesadas, como a locomooe que permitam ao cuidador recuperar-se rapidamente, porexemplo, de uma noite mal dormida(20). Essas dificuldades estoexpressas nos seguintes relatos:

    [...] pessoa destrenada pra mexer com esse tipo de coisa no

    fcil no! Pior que sou sozinho [...] ela pesada tambm [...]se ela cair, d um trabalho danado pra levantar, pesada! Gentefraca que nem eu (problema fsico) muito difcil mexer comoutra s (C5).

    A eu peguei ele, pelejei pra colocar ele na cama sozinha enada! Pelejava, ele escorregava, o corpo dele pesa demais n!(C2).

    Para Alvarez(26), a habilidade e o conhecimento da atividade decuidar so construdos na prtica diria, na qual a famlia aprendecom os seus erros e acertos, sendo que a falta de preparo para o

    cuidado gera, uma ansiedade que substituda por segurana apartir do momento em que consegue organizar-se. Essa situao,porm, no estvel, posto que o estresse leva uma mesma pessoaa passar por experincias ambguas em relao ao mesmo evento.

    O cuidador informal sofre, se fere, perde, se entrega e sedesgasta. Ocorre a desestruturao de sua vida(27)..... Nesse sentido,o cuidar de um idoso dependente exige muito mais que tempo,carinho, disponibilidade, abnegao de uma outra vida(3).

    Segundo Nri(28), as tarefas evolutivas que correspondem aodesempenho de papis sociais, ao exerccio de atividades e exibiode competncias, crenas e valores, transcorrem de modoimprevisto, como acidentes, doenas e perdas que so vividas comocrises, pelo fato de as pessoas no estarem preparadas para

    enfrent-las. Os discursos dos cuidadores informais mostram suasdificuldades no enfrentamento dessas crises:

    Porque quando com uma criana a voc tem aquela coisa!Todo um cuidado e no caso dela, ela uma senhora, mais

    pesada, s vezes ela fica com vergonha da gente ficar mexendonela, no quer deixar, ento tem que arrancar a roupa, ficar nuana frente nossa, n!

    [...] gua ela tem que tomar de duas vezes,

    ela treme a mo toda e derrama a gua na roupa, a comidatambm (C4).

    Qualquer um sabe que o sofrimento no pouco n! difcil,muito difcil... (C2).

    [...] mas moo... me tava era morrendo! voc que no v,eu t vendo, t aqui, eu que sei! Me no tava comendonada (C5).

    Os cuidadores apresentam essas dificuldades principalmenteporque convivem com as limitaes. Sentem-se envolvidosemocionalmente na situao. Alm de desempenhar novos papise tarefas associadas ao problema do idoso cuidado no domiclio,os cuidadores informais freqentemente relatam um sentimentode sobrecarga e tambm problemas relacionados sua sademental, como depresso e ansiedade(21):

    s vezes as pessoas preocupam com ele, mas no sabem o queest passando na minha cabea, no tem aquela ateno dechegar, filha, vamos conversar um pouquinho, tinha vez queeu ia para o banheiro e ia chorando, minha cabea danava adoer. Uma vez o Dr. falou que esse problema meu cansaomental, porque quem cuida de doente, ele sofre mais que odoente, ele t sofrendo com aquela pessoa ali e no pode fazer

    nada, n! E no acha uma pessoa para poder partilhar com eleo que passa na cabea dele (C1).

    E nesse movimento os cuidadores vo construindo seu cotidianode co-responsveis pelo ser cuidado em situaes adversas e dealta imprevisibilidade.

    As dificuldades vivenciadas pelos cuidadores no domiclio soa falta de transporte para os servios de sade, a resistncia doidoso aos cuidados, o ambiente inadequado, a falta deconhecimento para prestar os cuidados e para distinguir entreuma necessidade orgnica e uma necessidade emocional porcarncia afetiva e a falta de pacincia(29), evidenciadas no conjunto

    discursivo:[...] a quando ela passa mal [...] assim... uma loucura n!Porque tem que sair pra procurar um carro pr levar pro hospital,vaga tambm no tem! Tem muita gente na frente (C4).

    [...] eu tenho que arranjar um carro pra levar ela no hospital,qualquer coisa que ela precisa tem que levar, no tem jeito, o

    jeito, o jeito (C5).

    [...] s vezes tenho n! Porque pesa muito, n! E s vezes eleficava assim sem querer que a gente cuidava dele, ficava mexendoesperneando pra gente no mexer nele, teve um dia a que eu

    fiquei com dor no corpo, nas perna e nos braos porque eu noagentava mexer com ele, minha filha trabalha, eu fico aqui

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    sozinha com ele [...] (C2).

    Para Creutzberg(30)o aumento do grau de dependncia do idosogera para o cuidador dificuldade na mobilidade. As dificuldades

    vm desde a falta de condicionamento fsico para realizar a

    movimentao at o medo de no conseguir realiz-la de formaadequada.Os cuidadores relatam dificuldades financeiras, de moradia, de

    falta de assistncia sade e a falta de uma rede de suporte social(5):

    [...] tenho um pouco de dificuldade nesse ponto, porque svezes d vontade de comer uma carne e no tem dinheiro pracomprar, isso di, porque triste ver aquela pessoa que precisade tanta coisa e voc d vontade de comprar e no d, n! Di,di muito...(C1).

    [...] e tambm t gastando numa remedaiada, a caixinha deremdio 33 reais, ele toma duas por ms, s de um que oda cabea, e toma outro do estmago que 130 comprimidos

    por ms, tambm tudo comprado, e outro de presso, s umque manipulado, 70 comprimidos, d uns trinta e poucosreais, mas mesmo assim caro n! A gente tirar da onde notem (risos) fica muito caro, mas vai levando...(C2).

    Uma das principais dificuldades apontadas por Creutzberg(30)a escassez de recursos financeiros. A falta de dinheiro pode gerarangstia no cuidador que quer dar o melhor para o seu parenteidoso.

    Santos(5)relata que h, ainda, outros problemas decorrentes doato de cuidar, como o estresse secundrio atividade do cuidado,

    a sobrecarga provocada pelo exerccio da funo de cuidador e aprevalncia de depresso, ocasionando alteraes na qualidade de

    vida ou de seu bem-estar fsico, psicolgico e social.Scazufca(25)acrescenta que a maneira como a pessoa percebe

    uma situao contribui para a sua habilidade em mobilizar formasefetivas para se adaptar a ela. O cuidador informal, geralmentelida com a perspectiva de um maior isolamento social, falta detempo para si prprio e para o contato com a famlia e os amigos,possveis interrupes na carreira profissional, gastos excessivos efalta de tempo para lazer. Os relatos, a seguir, corroboram essasafirmaes:

    [...] Diverso minha j acabou tem tempo, sbado, domingoe segunda pra mim uma coisa s, minha vida mudou demais,acabou depois que ela veio pr c, acabou, agora no possosair mais pra canto nenhum, no agento mais, e eu tambmfiquei desse jeito, difcil demais, emprego no arranja mais[...](C5).

    Nunca viaja todo mundo junto em funo dela, tem que ficarde olho, se minha me sai, eu fico, se eu saio, fica minha me,meu marido(C4).

    [...] e sempre tem que ficar uma pessoa aqui com ela, quandoeu no t, meu irmo t(C3).

    [...] quando ele trabalhava, n! De vez em quando eu saa, no

    domingo eu ia a missa, mas depois que ele ficou assim, eufiquei sem tempo pr sair, porque eu no vejo, eu no sintovontade de sair, e por exemplo: deixar ele aqui? E se eu levarele? Ele tambm no gosta de sair mais, ento fico aqui com ele[...] ele depende de mim, o problema dele foi agravando ento

    eu preferi ficar aqui com ele. No posso trabalhar porque tenhoque cuidar dele(C1).

    O cuidador de idosos dependentes aquele que pe anecessidade do outro em primeiro lugar e, pressionado pornecessidades imediatas, esquece-se de si mesmo(31), porque ocuidado constante toma praticamente todo o seu tempo, as suasforas, o seu lazer e at suas emoes. Assim, a rotina diria quedetermina os afazeres do cuidador exclui a sua vontade oupreferncia. Abre mo de sua vida para aquele de quem estcuidando(23).

    AsAsAsAsAs EEEEEstratgias dostratgias dostratgias dostratgias dostratgias do CCCCCuidar deuidar deuidar deuidar deuidar de IIIIIdososdososdososdososdosos DDDDDependentesependentesependentesependentesependentesAs crenas em um ser superior, a f, a espiritualidade e as

    prticas religiosas so percebidas pelos cuidadores como estratgiasmuito eficazes de enfrentamento da sobrecarga do cuidado, daangstia, do estresse e da depresso decorrentes do processo decuidar(5).

    Para Goldstein(32), as crenas existenciais, espirituais ou religiosasno s auxiliam no enfrentamento das dificuldades mas do sentido vida, velhice, dependncia e ao cuidar. Contribuem tambmpara que os eventos sejam interpretados de forma mais positiva eenfrentados de forma mais eficaz:

    [...] O caso do seu esposo grave, tem que conformar, pedir

    Deus, e ns estamos suspeitando de cncer, e cncer maligno,e eu falei: mas tem um mdico que cura, n! Deus maior,Deus vai tocar a mo a e ele vai ser curado, em nome de Jesus.Neste momento eu clamei ao Senhor: meu Pai socorre aqui,segura na mo do meu esposo, no deixa ele morrer assim [...]t vendo como Deus bom, n! Deus maravilhoso, todafamlia muito religiosa, no s eu mas toda a Igreja estavaorando por ele [...] as coisas que permitido por Deus, a gentetem que conformar porque Deus, ele no pe a doena no,mas ele permite, n! s vezes a mo de Deus pesa sobre a

    gente, s Deus sabe(C2).

    Eu me sinto bem, dar uma tranqilidade, n! Tem que buscarforas naquele que maior [...] ento eu encaro o meu problema,porque d trabalho! E mau conselho todo mundo d, agora...Eu sigo o meu corao e agradeo a Deus tambm por isso,

    porque eu no imagino, eu morro de medo de chegar o dia delevantar, eu olhar pra ele e ele estiver morto do meu lado, euno aceito, eu brigo comigo mesma, eu quero que ele vive!Ns dois assim bem velhinhos

    (C3).

    Outro aspecto importante da religiosidade a possibilidade deo cuidador e de seus familiares receberem mais suportes espirituais,emocionais, sociais e at materiais, quando participam ativamentede comunidades religiosas organizadas que se preocupam com

    seus membros(5). A religiosidade e a espiritualidade no sfuncionam como estratgias de enfrentamento ao estresse e

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    depresso, como tambm auxiliam na subsistncia, no bem-estarpsicolgico e no processo de reintegrao social desses cuidadores.

    A convivncia com os demais membros de sua igreja e o suporterecebido fortalece-os e d novo sentido para suas vidas. Nessascircunstncias, a religiosidade e a espiritualidade funcionam como

    fatores explicativos e protetores para a sade e para a estabilidadeemocional dos cuidadores:

    [...] Ah... Ontem mesmo tive que ir na igreja, domingo noposso faltar! - Mas voc vai me deixar s? Assiste aqui nateleviso. - Eu falo: no! Tem que ir l(C5).

    O cuidar mais que um ato; uma atitude. Representa umaatitude de ocupao, de preocupao, de responsabilizao e deenvolvimento afetivo com o outro. O cuidado perpassa toda aexistncia humana com ressonncias em diversas atitudesimportantes(33).

    Alvarez(26) afirma que a percepo do cuidador de estar sesacrificando gera um sentimento de estar cumprindo com suaobrigao, o que torna o cuidado gratificante. Cuidar do seu idosofragilizado como misso proporciona sentimentos de gratido, dereciprocidade e comprometimento entre as geraes. ParaCostenaro e Lacerda(19), ter cuidado com algum ou alguma coisa um sentimento inerente ao ser humano, ou seja, natural daespcie humana, pois faz parte da luta pela sobrevivncia e tambmdo cotidiano dos cuidadores informais de idosos.

    Eu cuido dele com muito amor, carinho, muita dedicao, porquequando ele era sadio e trabalhava, tudo que eu pedia ele medava, ento por tudo que ele j fez por mim, eu tenho que

    fazer por ele, eu vivo praticamente para cuidar dele [...] nomais no meu modo de pensar, a gente tem que ter muito carinhocom ele, a gente tem que ficar sempre em alerta, qualquercoisa diferente, a gente pra o que est fazendo e vai cuidardele, fazer uma massagem [...](C1).

    Eu tenho esperana, muita f em Deus, de um dia ele puder

    levantar e sair andando. Se for a vontade de Deus que ele ande,vou ficar muito feliz, e se no for da vontade de Deus, eu peoque me d fora, pra mim no me curvar diante das dificuldadese da dor, porque tem dia que eu estou toda dolorida que no

    pode nem encostar em mim [...](C3).

    Esses discursos esto repletos de valores que, independen-temente do enfoque, priorizam a paz, a liberdade, o respeito, oamor, a dedicao e o zelo. So frutos de um trabalho sensvel ehumano que fortalece sentimentos e conserva a relao entre quemcuida e quem cuidado(34), porque [...] eu vivo praticamente paracuidar dele (C1), com [...] muito carinho, maior amor, n! (C2).

    CONSIDERAES FINAISCONSIDERAES FINAISCONSIDERAES FINAISCONSIDERAES FINAISCONSIDERAES FINAIS

    A interpretao dos discursos dos cuidadores envolvidos nestapesquisa e a possibilidade de interagir com os autores que produzemna rea foram gratificantes e levaram elaborao de algumasrecomendaes.

    Visto que os cuidadores esto em condies de sobrecarga detrabalho e vivenciam situaes de conflito em seu ambiente familiarque contribuem para o seu adoecimento, cabe aos profissionais desade propor polticas e implantar programas de suporte social famlia, voltados para a realidade desses cuidadores.

    Os profissionais de sade devem oferecer, aos cuidadores, asorientaes necessrias ao cuidado, principalmente em relao spessoas portadoras de doenas crnico-degenerativas de quemesto cuidando. Devem, ainda, proporcionar ateno sade doscuidadores, considerando que a atividade de cuidar de um idosodependente desgastante e implica riscos sade.

    Recomenda-se tambm que as famlias sejam incentivadas aatuar junto com o cuidador do idoso dependente, dividindo tarefase procurando proporcionar um clima de satisfao no ambientefamiliar.

    Os cuidadores de idosos dependentes precisam tambm doaporte dos profissionais a fim de que possam dispensar o cuidadoadequado e assegurar, a si prprios, satisfatria qualidade de vida.

    REFERNCIASREFERNCIASREFERNCIASREFERNCIASREFERNCIAS

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