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Segundo livro de poemas de Wellington de Melo. Para adquirir a versão em papel, visite: www.wellingtondemelo.com.br

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[Wellington de Melo]

Wellington de Melo © Esta obra foi publicada sob uma licença Creative Commons.

Impresso no Brasil Printed in Brazil

Projeto Gráfico Wellington de Melo Capa Wellington de Melo (Imagem: A Máquina, óleo sobre tela) Fotos & Ilustrações Wellington de Melo Revisão Do autor Impressão e acabamento Viena Gráfi ca e Editora

M5282d Melo, Wellington de. Desvirtual provisório / Wellington de Melo – Bauru, SP : Canal6, 2008. 88 p. ; 21 cm.

ISBN 978-85-99728-73-4 1. Poesia. 2. Wellington de Melo. I. Título. CDD 155.4

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Wellington de MeloPlaneta Terra - 2008

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Wellington de Melo ©

Esta obra foi publicada sob uma licença Creative C

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[5]

A Terezinha Maria de Jesus (in memoriam), Guardiã do Silêncio,

Semeadora de Sonhos.

&

a Maria do Carmo Barreto Campello de Melo (in memoriam), Defensora do Homem,

Aniquiladora da M@quina.

Meu eterno obrigado.

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[PREFÁCIO]

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Maria do Carmo Barreto Campello de Melo

Com uma titulação em que se percebe a intenção da

identificação de um jogo de palavras, lidas de diferentes formas, mas todas identificadoras do virtual e do provisório, Wellington de Melo coloca-nos frente a duas concepções: se o provisório reflete um dos signos do nosso tempo, isto é, a ausência de um chão definitivo, de raízes de permanência, o virtual nos coloca frente à substituição do real pelo próprio virtual, ou seja, por uma realidade paralela.

“meu desejo agora vem de fora de mim é simulacro em que me escondo para não lembrar quem sou”

Guiando-nos por entre esses labirintos, preparando-nos com cuidados evidentes para os horrores de nosso tempo

“neste tempo de c@l & treva de concreto & silício

foi que finalmente a M@quina roubou de mim a palavra que me fazia humano, que me imprimia a dor:

o horror o horror o horror”

ele nos dá de beber o que seria um antes, um antes com sabor dos tempos primeiros, tempo germinal, um tempo de antes, como diz:

“antes de todo o caos depois de toda a paz em mim

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havia o poema”

e, com isso, declara a primazia do poema, como princípio e fim “centelha de vida que se eleva sobre a minha face como seiva primordial”.

A sua poesia em tudo diferente – pela temática única perseguida e pela linguagem despida de artifícios lingüísticos para se tornar mais grito e mais protesto: “não alimenta a paz minha pena” – que se fazia construída num crescendo, toda centrada e bem dividida e que nos leva da Proto-Máquina, à Máquina, à Anti-Máquina, à Hiper-Máquina e de volta ao Pó, de onde vem o Homem e para onde irá finalmente: “minha voz morre/ no momento em que a Máquina/ marcha sangrenta sobre o meu sonho”.

“penso-te, M@quina, Leviatã de meu tempo, amada opressora, esmagando naus cibernéticas que persistem no sonho.”

Utilizando uma linguagem contundente, propositalmente

despida de adjetivação, Wellington construiu a sua saga diante dos signos e paradoxos de nossos tempos, tempos de desumanização do homem e da máquina, que adquiriu o poder de pensar por ele.

Que poderei dizer do impacto que este instigante livro me causou? Estamos diante de uma lúcida consciência que detecta com aguda percepção a decadência do homem de agora frente aos desvalores e distorções simbolizados na figura desumanizadora da máquina.

“meu sonho sob os pés da M@quina escorre entre seus dedos”

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Essa máquina que pretende subir aos céus e se sentar à direita

do Pai? “é a língua do silêncio a do meu tempo é a sala de espera do Vazio o nosso tempo” (…) “& te sufoca o Verbo mudo & te arranca das entranhas erotizadas o nome secreto que nos far@ de novo livres.”

Mas, como no início, nele “havia o poema” e por isso resiste e

nos convida à resistência “em mim havia o poema & resisto à treva de meu tempo”

Bendito seja!

Recife, novembro de 2007.

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PERCURSO DA OBRA

[PREÂMBULO À MÁQUINA] [13]

[A proto-M@quina] [15]

[A M@quina] [27]

[A anti-M@quina] [41]

[A hiper-M@quina] [55]

[O pó] [69]

[PÓSFÁCIO] [79]

[ILUSTRAÇÕES] [83]

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[PREÂMBULO À M@QUINA]

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[13]

Eu acordo & j@ não me reconheço na face embaçada do

espelho. Eu, parafern@lia de números que se repetem, que dão conta de quem eu sou, de minha Fome, do Vazio que me devora. Eu, repetidas vezes ninguém, sufocado entre telas que nada me

dizem sobre mim. Eu, uma extensão de um Nada que se afasta cada vez mais da terra da qual roubo meu nome:

homem. Eu, homem, só me reconheço no Caos que me presenteia o

Verbo. Eu, translúcida sombra de mim, atravesso os dias como uma lâmina fugaz, mas não me sei a não ser na palavra que alguém me

empresta. Eu, avesso de uma possibilidade, Eu, mastigado pelo cotidiano herético dos Anjos, finalmente descubro que pesa sobre mim a herança de meu tempo, a única verdade que o Homem de

meu tempo entende:

a M@quina. É a ela que canto. É ela que odeiamo. É ela que mato & é ela

quem me renasce. É ela que me anula & porque me anula me faz mais homem. Mais homem, porque o homem de meus dias desconhece a úmida verdade sob o concreto escaldante; meus

dias de concreto & silício rolam para o precipício da insanidade. O homem de meus dias não é outro senão o

Não-Homem, a Besta que devora sua cauda, uróboro apocalíptico. O homem

de meus dias é a M@quina. Eu canto, pois, a M@quina: o que a precede, o que ela é, o que a mata, o que a supera & o Éter.

A proto-M@quina, a M@quina, a anti-M@quina, a hiper-M@quina & o Pó. Canto a M@quina, não porque a ame. É que

cantando-a a anulo & anulando-a anulo o que h@ de M@quina em mim, no homem sou, no Não-Homem que reconheço na face

embaçada daquele espelho. O velho espelho que é meu tempo. Anulando-me, alimento a M@quina que h@ em mim

& por fim não existo. Só assim, finalmente, serei livre.

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“É necessário possuir um caos dentro de si para dar à luz uma estrela brilhante.”

Nietzsche

[A proto-M@quina][A proto-M@quina]

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Antes havia o poema [17]Dor [18]

Auto-fl agelação [19]Boa vontade [20]

Identidade [21]Estéril [22]

Hipertexto [23]O seixo [24]

Peixe-tempo [25]Onda [26]

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[ANTES HAVIA O POEMA] antes do som das bestas de silício antes da chama que se verte pela beleza do s@bado antes da asa acesa do tempo que derrete o desejo

h@ uma centelha de vida que se eleva sobre minha face

h@ um suplício de folhas mortas & a seiva primordial de que se compõe o sonho

h@ um fio de sangue que escorre pela fria navalha da noite das eras antes de todo o caos depois de toda a paz em mim

havia o poema

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[DOR] antes do tempo essa dor que me rasga o estômago que me acompanha

latente a dor de existir

insistente a dor de não querer a dor mínima dor de ser outro de servir apenas a dor que me querem dor essa dor: mínima dor da lucidez

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[AUTO-FLAGELAÇÃO]

A Jéssika quando a dor te sangra profunda & queres cortar a carne que te aprisiona esquece toda & qualquer ferida leve larga punhal

navalhas :canivetes

toma l@pis

papel & lágrima

rasga fundo

em verso a alma.

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[BOA VONTADE] não alimenta a paz minha pena é no caos que borbulha o líquido essencial ferida aberta açoite que me faz letra.

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[21]

[IDENTIDADE] são tantas as que me batem à porta

as letras que as recebo

- silente martírio enquanto me arrebentam o peito

& passivo as observo dizer-me quem sou

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[ESTÉRIL] a higiene de minha letra assombra meus dias essa limpeza

cega insistente

me persegue busco a brancura no ralo demente de meu tempo minha letra

- semente de aço grita educadamente no corredor do porvir

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[23]

[HIPERTEXTO] desconstrói-me: minha ilusão de imortal se esvai com tua leitura quebra-me alado

o verso leva-me de novo ao berço da palavra encantada faz-me de novo sílaba d@-me um sopro de teu nada. recria-me infinito eis teu novo mundo: insone. apropria-te da linha que nova é tua Fome.

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[O SEIXO]

“Imagina-te um seixo um branco seixo” Helbe Oliveira de Melo

?quanto silêncio no centro de um seixo seca a solidão abandonada

na rocha fria eu seco

em silêncio sonâmbulo ao meio-dia

o mundo revolto & a revolta sem som o mundo compacto eu mundo eu mudo :nada muda só o sono eterno do seixo só

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[PEIXE-TEMPO] em alva litania aguardo ao sabor das horas a chegada da face cintilante da noite os minutos escorrem

sonolentos & entre as escamas duras do tempo peixe astral que me devora adormeço & te espero & te espero

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[ONDA] salgada minha voz se parte mil vezes num segundo momento em que penso salgada minha voz se multiplica

nas paredes de meu sono & me volta

dor renascida de maresia. salgada minha voz morre

no momento em que a M@quina

marcha mecânica sobre meu sonho.

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[A M@quina][A M@quina]

“Poderia Deus ter sonhado em criar o homem superior ao criador & em

enfrentá-lo num combate decisivo?”

Jean Baudrillard

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[29] desvirtual provisório[32] Leviatã[33] O Pisassonhos[34] Mundo plano[35] Trama[36] Simulacro[37] Babel[38] Autômato[39] Consuma[40] Osso-Silício

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[DESVIRTUAL PROVISÓRIO]

“Os textos, de certo modo, existem antes que sejam escritos. Vivemos imersos em textos virtuais.” Osman Lins, Avalovara.

I

& houve um tempo em que bastava um

clique para que a cabeça decapitada

sorrisse bits enfurecidos na tela semeada pelo tédio

para que o esqueleto subnutrido da menina asi@tica

fosse estuprado mil vezes num segundo para que línguas de fogo lambessem lascivas a carne rosada das duas torres de marfim para que meu sangue de alumínio escorresse pelo

Verbo & se deixasse abandonar na Fome.

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II

naquele tempo

meu sorriso pasteurizado devorou o Pânico minha pupila aqu@tica renunciou a tudo que é

sólido minha língua sem asas assistiu ao enterro do céu & adormeci

pl@cidamente adormeci com o último controle remoto sobre o primeiro monte de corpos carbonizados

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III

neste tempo um sonho metálico vomitou-me a verdade: nada mais importa nada além do não que repito ao Éter

nada além do meu umbigo banhado em mel que você lambe em finais de tarde meteóricos

nada além de meu sorriso dominic@l neste tempo de c@l & treva

de concreto & silício foi que finalmente a M@quina roubou de mim a palavra que me fazia humano, que me imprimia a dor:

o horror o horror

o horror

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[LEVIATÃ]

“Bellum omnia omnes.”

penso-te, M@quina, Leviatã de meu tempo, amada opressora, esmagando naus cibernéticas que persistem no sonho. porque nos destruimos te queremos. & seguimos, nave à deriva, sob teu olhar cinzento. porque j@ não somos te despertamos, & desperta nos enganas: teu signo não é outro senão o Caos.

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[O PISASSONHOS]

“But I, being poor, have only my dreams; I have spread my dreams under your feet, Tread softly because you tread on my dreams” W. B. Yeats

meu sonho sob os pés da M@quina escorre entre seus dedos & renasce na morte do dia-a-dia: o que me esmaga é da esperança a falta

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[MUNDO PLANO]

“The world is flat.” Thomas Friedman

desdobras o horizonte estrangulas topografias cegas - te faço plano ó mundo de palafitas mudas te destroço globo resgato a última letra de teu nome esquecido - te faço plano a vela da nau j@ não perfura o horizonte - te faço plano ó senhor do desconhecido revelado tuas mãos sangrentas me revelam o Nada que se verte sobre mim encarcerado & te faço plano Planimundo Imundamente Plano

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[TRAMA] a tessitura do sonho me leva ao absurdo de tua realidade a M@quina-navalha transpassa a música do tempo recorta o momento (&) est@tico observo a lâmina acre urdir a trama de som em que se desfaz meu desejo.

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[SIMULACRO] meu desejo agora vem de fora de mim meu desejo - me iludo não é meu meu desejo se vende na tela fria que alimenta minha Fome de ser meu desejo

(de alguém de algo)

não me pertence: é leito estanque em que me invento a cada dia é simulacro em que me escondo para não lembrar quem sou

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[BABEL] É tamanha a solidão ilha & tu a meu lado ilha & tu a meu lado É a língua do silêncio a do meu tempo É a sala de espera do Vazio o nosso tempo Te vejo, mundo, esmagado na tela Te vejo, mundo, simultâneo & multiplicado & tu a meu lado ilha & tu a meu lado É tamanha a solidão ilha É tamanha a solidão & essa torre que é meu dia-a-dia Essa torre que somos, n@ufragos Esse sonho que abandonamos é uma escotilha para outro sonho roubado & tu a meu lado ilha & tu a meu lado

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[AUTÔMATO] teu dedo move a M@quina move teu dedo & a M@quina movem o sonho imóvel a M@quina remove o sono.

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[CONSUMA] consumo & sou só número consumo & números

me consomem (consuma-se a pena) mas

apenas me diga: se consumo se sou ou se só existo (só) se com soma se consumo

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[OSSO-SILÍCIO] osso silício história

encarcerado simulada

papéis diurnos de dentes let@rgicos vagueio órfão pelo dia morno

& me descubro roubado :não me pertence meu nome

só sou se impresso registrado autenticado :enquanto isso

sou possibilidade mentira esquartejada em carne &

osso

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[A anti-M@quina][A anti-M@quina]

“Isso que vedes não sou eu, tão só as coisas que me anunciam.”

Maria do Carmo Barreto Campello de Melo

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Teia [43]Navego [44]

Solidão sem lastro [45]Mensagem [46]

Imagem [47]Verbo [48]

Deus ex machina [49]Obrigado [51]

Eu me abandono [52]Subcutâneo [54]

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[TEIA] não, amigo essa rede nada tece entrecortada só espalha fragmentos de gente que anula é essa trama etérea que eternamente te afasta

- vasta malha é essa besta de letras que dissimulada te afaga

- canalha é essa noite de bits que novamente te esmaga

- mortalha não, amigo essa rede nada tece é ela que te separa do peso das horas de teus dias mortos

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[NAVEGO] a palavra escorre pela janela & com a fúria de um n@ufrago minha voz na rede sucumbe mas navego o mar cobra seus afogados & renuncio a uma lua castanha que se verte em espadas de infâmia mas navego as vozes semeiam um céu de brigadeiro mofado enquanto se perdem numa tempestade de navalhas de sal mas navego

& não h@ horizonte & não h@ porto & não h@ pó.

apenas um sonho só.

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[SOLIDÃO SEM LASTRO] lugar triste

para uma

palavra:

o ciberespaço

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[MENSAGEM] quero-te palavra muda

compacta múltipla em cadeias de dígitos quero-te nula plena

intacta interligada a esse último momento

na verdade não

quero-te renascendo

inv@lida nos dedos de um inútil conectado quero-te nua pura

açoitada entrecortada por um sem-fim finito quero-te Zero quero-te Medo quero-te Nada

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[IMAGEM] palavrapalavrapalavrapalavrapalavrapalavrapalavra i palavrapalavrapalavrapalavrapalavrapalavra im palavrapalavrapalavrapalavrapalavra ima palavrapalavrapalavrapalavra imag palavrapalavrapalavra image palavrapalavra imagem

palavra imagemimagem palavr imagemimagemimagem palav imagemimagemimagemimagem pala imagemimagemimagemimagemimagem pal imagemimagemimagemimagemimagemimagem pa imagemimagemimagemimagemimagemimagemimag p imagemimagemim mimag imagemimage agemi age em mim imagem?

miragem

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[VERBO] nasces a cada dia verbo & te propagas

imagem nas retinas fl@cidas dos que te devoram

M@quina: se te nomeio morta morres? se multiplico tua morte sonora no abismo da consciência ainda existes? não sabias: o Verbo é teu veneno último.

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[DEUS EX MACHINA]

I

é um abismo sangrento este em que te esvais de súbito, exijo que te assomes M@quina & me reveles a verdade de tua ilusão & te assomas & não te reconheço na opressão dos dias na cegueira das telas na cegueira do ter na cegueira de um shopping lotado. és um abismo sangrento em que me esvaio não tens as respostas que quero não quero tuas respostas estou no limiar de tua Fome estou no precipício de teu nome és o deus de meu tempo és o deus renascido da cal és o deus estéril de meu tempo

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II

& é em tua esterilidade met@lica que reside meu sonho: renasce a palavra

(Norte de papoulas vingadas) no centro de teu vulcão de silício & te sufoca o Verbo mudo & te arranca das entranhas erotizadas o nome secreto que nos far@ de novo livres. seremos o abismo sangrento em que te esvais.

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[OBRIGADO] é um desejo roubado do aço o que te assalta entre suores diante da tela é o que não é teu o que de novo te traz velhas memórias alheias numa tarde inoxid@vel percebes por fim o nada. então de nada necessitas. de nada.

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[EU ME ABANDONO] Múltiplas vozes me conduzem pelo abismo televisivo eu me abandono a vontade & à vontade de não ser eu me abandono, neste festim de estupidez eu me abandono a culpa & repetido no nada desejando ser outro eu me abandono, na vala comum do futuro eu me abandono à sorte enquanto pelicanos de terno na tela sorriem de minha pintura de palhaço eu me abandono, eu me abandono num domingo cítrico entre sorrisos forçados & sonhos intermitentes eu me abandono, entre um comercial & outro eu me abandono esquecendo de minha Fome de minha ira

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[53]

eu me abandono & te desejo morta, M@quina, & enquanto te esqueço, te ignoro, eu me abandono eu me abandono

eu me abandono

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[54]

[SUBCUTÂNEO] debaixo do teclado do pl@stico estéril

do teclado sob a superfície fria & rombuda de cada tecla ainda h@ restos de pele pelo & sonho.

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[A hiper-M@quina][A hiper-M@quina]

“Cientistas esquartejam Púchkin & Baudelaire.Exegetas desmontam a máquina da linguagem.

A poesia ri.”

Ferreira Gullar

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[57] Casa[58] Presente[59] O gato[60] Firewall/Farewell[61] Ogum high-tech[62] Dezessete[63] Punhal[64] Outro[65] Aérea[67] Centelha

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[CASA]

A meus pais, José Geraldo de Melo & Iraci Terezinha de Melo.

“A casa onde vivemos a nossa infância jamais nos abandona, tornando-se a primeira grande experiência de transmutação poética.” Gaston Bachelard

essa casa que me habita & que me faz paredes abertas –

me acompanha & se verte sombra em meu presente –

exerce sobre mim a influência que a M@quina em vão aplaca. essa casa que me habita & que me faz medo & sonho me lembra que meu nome impresso em tua sina não se desfaz como o metal sangrento: é lume é terra é vento.

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[PRESENTE] meu presente não passa por mim: meu passado é presente que me guardo para sobreviver às ondas de nãos aos abismos a que me condenam - a que me condeno é porque fui que não me destroça o aço que é teu signo é porque sou que resisto ao verbo múltiplo da M@quina & suas cabeças múltiplas

pelas tardes de jasmins pecuniários & porque $ólido ainda me $into é que serei etéreo quando além de mim & de meu nome ainda me sobrar a Fome.

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[O GATO]

“Sonhando eles assumem a nobre atitude Da esfinge que no além se funde à infinitude, Como ao sabor de um sonho que jamais termina;” Charles Baudelaire, Os gatos.

atravesso o gato no asfalto

esmagado no asfalto cintilantes suas vísceras :um sonho que não chega do outro lado da pista :a inocência ceifada ao sol do meio-dia toneladas de estupidez rolando sobre quatro rodas ao telefone

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[FIREWALL/FAREWELL] eis que minha face líquida no sem@foro fechado se distorce eis que meu mórbido pesadelo nas pétalas abandonadas no p@ra-brisas se assoma eis que toda a lógica se afoga mil vezes quando percebo que sou cada vez menos eu mais os outros.

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[OGUM HIGH-TECH] sob o signo de Ogum ferro em brasa minha era se desmancha & sua forma

agora é o olhar líquido

dum menino celestial na Conde da Boa Vista puxando uma bolsa vazia vazia como o sonho como o estômago vazio o medo vazio o futuro

vazio como minhas palavras vazias vazio como meu sorriso de domingo vazio eu como meu sorriso de domingo :a Fome não é high-tech

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[DEZESSETE]

A minha avó, Terezinha Maria de Jesus dezessete tijolos te detêm imóvel dezessete & teu silêncio petrificado no fio da tarde dezessete me transporta à tua voz m@gica & a lendas dessangradas dezessete as nove hastes de teu seio imp@vidas te observam distante

dezessete no p@tio de tua espera vejo escorrer uma l@grima de diamante

dezessete enquanto um a um inexor@veis dezessete tijolos

dezessete te apartam do universo te banham de treva & olvido dezessete & te seguimos em cortejo silente na hora fria do adeus & do pânico dezessete com a argamassa dos anos com amargura & sem pranto dezessete te dou as costas, te abandono te sepulto neste dia de estanho.

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[PUNHAL]

o aço corta o verbo escorre a faca aponta o vento inverte a ponta aflora o verso

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[OUTRO]

“Je est un autre.” Rimbaud

o espelho de minha era me devolve imagens minhas que não sou não me pertence nem a mentira que vivo o espelho de minha era me quer nulo eu me vivem eu me morrem eu me acovardam & fora de meu eu

é outro eu mim

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[AÉREA]

A Maria do Carmo Barreto Campello de Melo porque tua voz aérea des@gua no turbilhão de imagens fossilizadas das tevês ligadas num domingo fl@cido porque teu verbo atroz recorta a história & a dor que te precedem & seus anjos ébrios, dementes asas, lúcidas sombras porque os minutos rastejam nos porões de tua vontade & teu l@bio guarda o nome de Hélios, eternamente brisa, ternamente intacto porque tua pupila incandescente revela a leveza que os anos te imprimem como que ancorada naquele barco ancestral porque esta besta cega de mil olhos sucumbe diante de teu verso etéreo, lume, & tua forma de nomear mil sóis é que mil telas explodem diante de tua verdade anti-M@quina é que ouço o grito cinza de um mudo esfacelado em teu chão-semente é que percebo o fedor da hora-morta impregnando o que não tocas é que o pão & o vinho daquele cais infante selaram o norte de tua senda

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é que tua palavra atravessa eras de bits & dilacera

precisa a M@quina.

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[67]

[CENTELHA] em mim havia o poema & resisto à treva de meu tempo sugando-lhe do estômago o líquido aceso que transformo em sina que transformo em sim em mim havia o poema t@cita mensagem do infinito perdido na m@quina. vencida minúscula

m@quina em mim

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[O pó][O pó]

“não há máquinanão há homem

não há nada:o pó.”

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I [71]II [72]

III [73]IV [74]V [75]

VI [76]

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[O PÓ]

I em vez de um poema uma gaivota intumescida no calcanhar da virgem em vez de um poema um sinal atônito de conjuntivites glaciais em vez de um poema pedidos de desculpas no funeral embriagado da tarde em vez de um poema rugas de lodo num chá de gralhas maquiadas em vez de um poema um vírus de papel semeado em lâminas de alcatrão em vez de um poema um grito doce no fundo de um copo cheio de Fúria em vez de um poema a dor do parto etílico de todos os poetas medíocres em vez de um poema o dia enterrado numa sitcom fálica em vez de um poema meu nome escrito nas vísceras de um livro fossilizado em vez de um poema essa voz essa voz que não sacia que sorve a Fome de não dizer nada de devorar as entranhas de tudo as entranhas de tudo

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[Wellington de Melo]

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II

após a máquina após o homem não a lama

:o pó que é lama extinta lama devorada pelo tédio

lama mineral-gargalhada-semente lama palafita intelectual lama arrastando-se pelos corredores dilacerados lama asmática do cataclisma

:o pó

madrugada de chuva causticada

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III

há um horizonte fosforescente de papoulas esterilizadas há o que restou de nós pós-modernos

depois do café da manhã atômico das marés cínicas do Capibaribe

há uma atmosfera senil & a pachorra de um cão paralítico cruzando a avenida enfurecida não há máquina não há homem não há nada

:o pó.

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[Wellington de Melo]

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IV

?o que depois do pó

atmosferas viciadas de insônia desejo de superar o silêncio

dos papéis diurnos gaiolas invocadas pela cabeça hereditária de uma velha janela aberta (a mesma janela do anonimato)

reverberam nos ossos postos à prova a sina o incesto o alumínio que é o que somos a era do alumínio que é metal sem ser eu vomito o alumínio lunar de que se tece esse Nada que me talha o nome eu, semeador do Nada uma caverna visceral recriada nós

o pó dos frangalhos do sonho de um louco

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V

eu, pós-moderno pós-clichê sou clichê por excelência

releio clássicos de meia página recrio lixo rebatizo o belo

(que o belo não existe o belo é uma promessa na porta carcomida de tua retina uma fechadura enferrujada na veia de teus flamboyants)

eu, pós-vanguarda na retaguarda permaneço tiro o meu da reta assisto a banda passar

vomito smirnoff ice nos que estão fora das cordas de proteção (que a proteção não existe a proteção é um óvulo fecundado de uma adúltera na sala de espera de uma clínica de abortos)

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VI

eu pós-fronteiras fronteira de mim mesmo não me sei senão retalhos senão caleidoscópio embaçado eu pós-moderno pós-pó sou o pó do que resta do que reza a consciência de meu tempo

:o Vazio :o Nada

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[POSFÁCIO]

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PROVISORIAMENTE TAMBÉM FALO DE POESIA

Artur Rogério

Não falo sobre bons poemas. Ninguém fala, vejo assim. Quando

fala, fala qualquer coisa. É que qualquer coisa cabe a partir dum bom poema. Certamente não é adicional essa inclinação. Tudo é a partir da poesia, portanto tudo é o chapéu dum bom poema. Inda mais essa nova estação muito bem intencionada e muitíssimo equilibrada arranjada por Wellington. Provisoriamente, inverto a minha convicção. Troco, então, algumas inúteis impressões, virtuais relações, já que o companheiro me solicitou umas palavras. Qualquer coisa que eu lançar aqui não valerá mais que a trivialidade duma conversa de internet, não passará duma tentativa embaraçosa de me comunicar, achando ser eficiente, achando ser moderno, inteligente e doismileoito.

Acabo de ler o desvirtual provisório e o gosto que ainda tá na minha boca é, inesperadamente, dos mais saborosos. Não que eu tenha receios com relação à sagacidade e sensibilidade de Wellington, mas porque tenho todos os preconceitos diante de quase todos os poemas e poetas. Os poemas sempre me parecem saídos da mesma barriga, como se quase todos os poetas transassem com a mesma mulher, fizessem as mesmas viagens, falassem um único dialeto. Costumo ver os poetas (escritores que escrevem poemas) como se fossem uns alienados, uns condenados que seguem uma idéia do que seja um poema, apesar das aparentes diferenças que os teóricos costumam apontar como identificadoras de tais e tais períodos históricos e tal. Tenho certeza de que esse meu preconceito é filho da minha admiração sem fim pelos poetas e suas obras a ponto de eu considerar o poema a manifestação literária mais radical, a indefectível, é uma explosão semiótica imperdoável, irrevogável, absoluta, o tiro ao alvo infalível, é a morte e a vida unidas, sem blá blá blá. Também é a escrita mais difícil. Os bons poemas são definitivos, estão para o silêncio e tudo o que existe dentro do silêncio, revelam um novo céu mudamente.Wellington

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aborda, em seus poemas, com muita ousadia, o que está aí, as realidades em que vivemos nesses inícios dos anos 2000. A frustração e o orgasmo abraçadinhos no mesmo assento, todo mundo sentado na sala de espera, um salão de paredes apagadas, todos os olhos vidrados nas paredes impolutas, cada um grafitando e montando mosaicos como desejar. Trata-se dum hospital público, duma faculdade particular, duma igreja particular, cada um sabe o que quer, taí pra qualquer um. Só que ninguém comete o pecado de dizer onde está, o que tanto aguarda, o que inventou. Wellington quebra o silêncio e repassa os seus óculos a todos.

Num livro nada extenso, como cabe aos poetas ajuizados, Wellington nos dá a seqüência: A Proto-Máquina, A Máquina, A Anti-Máquina, A Hiper-Máquina, O Pó, mas não vejo nada parecido com linearidade no livro. Lendo os títulos das partes assim, só eles, também fica meio que aparente uma crítica voraz sobre tecnologia, Internet, realidade virtual etc., que nos leva a uma desumanização (despoetização). No entanto, quando caímos nos versos, encontramos o elemento vacilante, o que nos salva da pré-impressão duma já flácida crítica do mundo contemporâneo. A relação entre o, no caso, poeta e a tecnologia se complexifica, fica dúbia, toca a margem da reverência, volta ao oposto apocalíptico, prefere passar mais tempo numa outra paragem onde se exercite, como princípio, a poesia. Depois de chegar a essas conclusões foi que voltei ao nome desvirtual provisório e, finalmente, notei que Wellington já resume a alma do livro no título, e é tão evidente a dica!

A pegada do livro bateu em mim mais pras últimas páginas, pro último poema, o que tem mais versos, O Pó (que, sem dúvida, teria reduzida a sua força de impacto se lido isoladamente, sem o percurso de todo o corpo do livro). O Pó talvez seja o texto mais direto, isso lhe dá uma característica mais agressiva. É quando, no lugar de nos despedirmos do livro, somos levados a um ápice que se parece muito mais com a porta da frente dum ambiente nada apocalíptico. É num ápice que os textos chegam ao fim, mas o livro não pára, fica pro leitor o livro em aberto e o início duma manifestação poderosamente silenciosa. Sem saber, me sentei num

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carro de montanha-russa que subiu lentamente a mais alta parte. Aqui, no mais alto, o carro brecou. Estou aqui em cima amando toda essa vulnerabilidade da situação, adorando a visão. Depois desses textos tão delicados e que me enlaçaram pelo minimalismo, pelo inesperado óbvio dum olhar nada comum, fico com esse gosto refinadíssimo na língua. É o fino da bossa da nova literatura pernambucana, é o peso do maracatu desse tal de “Uélinton”, esse Wellington de Melo.

Recife, 08 de agosto 2008.

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A Máquina (2008), nanquim sobre canson, 21 x 29,7 cm.

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A anti-Máquina (2008), nanquim sobre canson, 21 x 29,7 cm.

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Esta obra foi composta na fonte Book Antiqua e impressa em papel offset 75g, formato 14,8 por 21,

na primavera de 2008,

ano da passagem de Maria do Carmo Barreto Campello de Meloe de aniversário de 70 anos da passagem de

Alfonsina Storni &César Vallejo.