Devaneios
-
Upload
alonsoafonso -
Category
Documents
-
view
212 -
download
0
description
Transcript of Devaneios
-
Inacio Filho, 2013
Devaneios
Corpos cados, de sangue banhados,
Cheiro ftido de carne estragada,
Ratos e moscas sobre os homens bbados,
Homens que morreram na madrugada.
L estava eu, coa faca em minha mo,
Faca que refletia a luz da lua,
Rubra faca amante da solido,
Resplandecia na minha mo nua.
O vento brio, rpido soprava,
E eu l estava, na rua mais dura,
Na rua mais sbria que eu imaginava,
Maldita esta rua longnqua, escura.
Sentia o cheiro da morte. Pingava
No cho meu negro sangue que escorria,
Minha ferida aberta que sangrava,
Escorria o sangue turvo, e eu sorria.
Sorria e sorria, pois a loucura
Essa bastarda, amiga e vadia,
Tomando para si minha amargura
Levava-me consigo, e louco eu ia.
E eu ia, ia com tanta vontade,
Jogava-me nos braos da loucura,
Minha nica amiga, na verdade
Era o oposto da bela candura.
Eu matei os fracos enquanto bbados.
E continuo brio a respirar
Ares negros, ftidos, incendiados,
Que me fazem viver a me drogar.
E minhalma cancerosa, e a rosa...
Rosa vermelha, rosa branca... e a negra
Atinge meu peito, to rancorosa;
Mata-me e foge mais maldita regra:
A nossa vida deve ser vivida
To cheia de amor. O maldito amor,
O que enfraquece ou fortalece a vida
E mascara muito bem a vil dor,
Cante e ria e sorria. Os desgarrados
Anunciam o bem e o mal e a morte.
Belos e bbados e assassinados
Belos abandonados pela sorte
E a loucura me levava consigo
E eu louco sorria, e eu louco ia.
E eu tambm levava a morte comigo
E ela louca sorria, louca ia.