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    789FEMINA | Dezembro 2007 | vol 35 | n 12

    ATUALIZAO

    Resumo

    Setor de Endoscopia Ginecolgica do Servio de Ginecologia e Obstetrcia do Hospital do Servidor Pblico Estadual Francisco

    Morato de Oliveira1 Aluna do Curso de Especializao em Endoscopia Ginecolgica2 Encarregado do Setor de Endoscopia Ginecolgica3 Mdica do Setor de Endoscopia Ginecolgica4 Chefe da Seo de Ginecologia5 Diretor do Servio de Ginecologia e Obstetrcia

    Abstract

    Palavras-chaveDismenorria

    EndomtrioDistrbios Menstruais

    KeywordsDysmenorrhea

    Endometrium

    Menstruation Disturbances

    Ptia Crita de Godoy Borges 1

    Jos Francisco Dria Ramos

    2

    Daniela Baptista Depes 3

    Salete Yatabe 3

    Rievani de Sousa Damio 3

    Reginaldo Guedes Coelho Lopes 4

    Umberto Gazi Lippi 5

    Dysmenorrhea and endometrium

    Dismenorria e endomtrio

    A dismenorria caracteriza-se por dor intensa, sob forma de clica, durante a menstruao, manifestando-

    se habitualmente no baixo ventre ou regio lombar. causa de substanciosos prejuzos econmicosdevido perda de horas de trabalho e/ou diminuio na produtividade das mulheres acometidas. Adismenorria primria, diferente da secundria, no es t associada a uma doena orgnica plvica, mascertamente a um processo patognico em nvel bioqumico. O objetivo deste trabalho , a partir delevantamento bibliogrfico (base de dados PUBMED-MEDLINE), avaliar a literatura mdica sobre arelao entre a dismenorria e o endomtrio. Mui tas linhas de evidncias destacam o endomtrio como

    responsvel pela dismenorria, devido ao aumento na produo e secreo de prostanides e tambmpelo desbalano entre seus componentes (prostaglandinas, leucotrienos, tromboxanos e prostaciclinas).

    Alterar a sntese e/ou o metabolismo dessas substncias ou, ainda, excisar o endomtrio por histeroscopia

    cirrgica proporcionam melhora da dismenorria.

    Dysmenorrhea is characterised by painful uterine cramps during menstruation, habitually occurring in

    the suprapubic region or back. It is the cause of substantial economic losses because of missed working

    hours and/or decrease in the productivity of affected women. Primary dysmenorrhea, unlike secondary

    dysmenorrhea, is not associated to a visible organic pelvic pathology, but it is surely with a pathologic

    process occurring in a biochemical level. The objective of this study is to demonstrate the relationship

    between dysmenorrhea and endometrium. Several lines of evidence point to the endometrium as

    responsible for dysmenorrhea due to an increase in the synthesis and release of prostanoids . In addition,

    there is an imbalance among prostanoid components (prostaglandins, leukotrienes, tromboxanes, and

    prostacyclins). Dysmenorrhea is relieved by modifying the metabolism of these substances or performing

    an endometrial resection guided by hysteroscopic surgery.

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    Dismenorria e endomtrio

    Introduo

    O endomtrio a mucosa que reveste a cavidade uterina,

    derivada do epitlio celmico dos canais de Mller e sua espessura

    varia conforme a idade e a fase do ciclo menstrual. Histologica-

    mente, pode-se distinguir trs camadas no endomtrio: profunda

    ou basal, mdia ou esponjosa e superficial ou compacta.

    No endomtrio humano adulto ocorrem alteraes de forma

    ordenada, em mdia a cada 28 dias, como resposta produo

    hormonal cclica dos ovrios.

    O termo dismenorria derivado de palavra grega que

    significa fluxo mensal difcil. usado para denominar as clicas

    menstruais dolorosas e ocorre durante a menstruao ou algumas

    horas antes desta (Dawood, 1995). Caracteriza-se por dor, sobforma de clica, habitualmente no baixo ventre ou na regio

    lombar. Sintomas como nuseas, diarria ou cefalia podem ou

    no acompanh-la (Dawood, 1995).

    A dismenorria classificada como primria (intrnseca,

    essencial ou idioptica) se ocorrer em mulher sem doena pl-

    vica; e secundria (extrnseca, adquirida) se estiver relacionada

    a uma afeco orgnica plvica como endometriose, leiomioma

    uterino, doena inflamatria plvica ou presena de dispositivo

    contraceptivo intra-uterino (Bastos & Borges, 2002).

    A freqncia da dismenorria conforme relatos mais antigos era

    de 3 a 90%. Miller encontrou, em 1930, que 46% de 785 estudantescolegiais avaliadas tinham dismenorria. A afeco era algumas vezes

    incapacitantes em 17% e em 3% sempre incapacitante. Em 1947,

    McArthur relatou que 10% das meninas em idade escolar sofriam

    de dismenorria incapacitante. Svennerud referiu que 31% de um

    grupo de estudantes e trabalhadoras tinham mesntruao dolorosa.

    Destas, 8% ficavam ocasionalmente restringidas de suas atividades

    normais e 6%, regularmente (Ylikorkala & Dawood., 1978).

    Um estudo de amostra representativa da populao de

    mulheres de 19 anos de idade na cidade sueca de Gothenburg

    mostrou que 72% relataram dismenorria, sendo que 15% referiam

    diminuio de suas atividades durante os dias de dor e necessi-

    tavam de analgsicos, 8% faltavam ao trabalho ou escola todo

    ms e 38,2% usavam regularmente tratamento medicamentoso

    (Benedetto, 1989). Bulletti & Ziegler (2005) verificaram em jovens

    norte-americanas que 60% daquelas de 12 a 17 anos relatavam

    dor ou desconforto durante os perodos menstruais, o mesmo

    ocorrendo em 39% das pacientes com at 12 anos e 72% das

    pacientes com 17 anos. Neste estudo, 14% faltavam s aulas

    em decorrncia de clicas. Do total, apenas 15% das jovens com

    dismenorria procuraram ajuda mdica, menos de 1/3 das que

    relatavam dor intensa.

    A dismenorria primria ocorre nos ciclos ovulatrios e

    geralmente comea seis a 12 meses aps a menarca, com 88%delas ocorrendo nos primeiros dois anos. A dismenorria que se

    inicia mais de dois anos aps a menarca costuma ser secundria

    e a causa deve ser investigada (Dawood, 1995).

    Ainda que a dismenorria primria seja definida como dor

    menstrual no associada a alguma doena plvica, essa definio

    deve ser questionada, pois a dor pode no estar associada do-

    ena plvica macroscpica ou clinicamente detectvel. possvel

    que haja um processo bioqumico patognico nas mulheres com

    dismenorria primria.

    Os sintomas podem durar de poucas horas a um dia, mas

    raramente excedem dois. Em uma pequena proporo de pacientes

    h tendncia ao alivio espontneo da dismenorria com o avanarda idade, o que no regra geral (Ylikorkala & Dawood, 1978).

    A dismenorria primria mais freqente em mulheres sol-

    teiras do que nas casadas (61% versus 51%) e tende a melhorar e

    diminuir com a idade, mais rapidamente nas casadas do que nas

    solteiras. Geralmente no desaparecem aps gestao ou parto e

    o exerccio fsico tambm no tem efeito significante (Ylikorkala

    & Dawood, 1978; Dawood, 1990).

    O objetivo deste trabalho avaliar a relao entre a disme-

    norria e o endomtrio.

    Casustica e mtodos

    A partir de levantamento bibliogrfico de publicaes cien-

    tficas e da base de dados PUBMED MEDLINE, pesquisou-se

    a relao entre dismenorria e endomtrio. Foram selecionados

    artigos relevantes no perodo entre 1976 e 2002. Alguns artigos

    bsicos e clssicos anteriores foram incluidos para melhor com-

    preenso do tema.

    Reviso da l iteratura

    A relao entre a elevao das prostaglandinas no endomtrio

    e a existncia de clicas parece ter base gentica. As jovens cujas

    mes tiveram dismenorria primria so significativamente mais

    propensas a tambm apresentarem tal manifestao.

    As mulheres com dismenorria tm, em geral, baixo limiar de

    percepo dor. Algumas adolescentes tm outros sintomas e os

    relacionam s clicas menstruais, o que s vezes desproporcional

    intensidade da dor. Ocasionalmente, problemas psicossociais

    subjacentes, como fobia pela escola, estupro ou abuso sexual, e

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    Dismenorria e endomtrio

    outros transtornos pessoais ou familiares srios podem contribuir

    para a diminuio da tolerncia dor e o aumento da ansiedadeem torno das menstruaes (Bastos & Borges, 2002).

    Fatores comportamentais e psicolgicos, isquemia uterina, atividade

    uterina intensa, produo e liberao aumentada de prostaglandinas

    uterinas tm sido implicados na patognese da dismenorria prim-

    ria. O aumento na produo e secreo de prostanides durante

    a menstruao causa atividade e contratilidade uterinas anormais,

    resultando em clicas dolorosas (Dawood, 1995).

    Os sintomas da dismenorria primria so similares aos

    efeitos clnicos da administao de prostaglandina E2

    (PGE2)

    ou F2 (PGF2): ocorrem contraes uterinas, diarria, nuseas

    e vmitos (Dawood, 1995). Bonney et al. (1987) relataram que

    muitas linhas de pesquisa destacam a produo uterina aumen-tada de prostaglandinas como causa da dismenorria primria.

    Evidncias diretas baseadas na dosagem das prostaglandinas

    no endomtrio (lavado do tero e estudos do fluido menstrual)

    tm mostrado que os nveis de prostaglandinas esto signifi-

    cantemente elevados nas dismenorricas em relao a mulheres

    no dismenorricas (Dawood, 1990). As prostaglandinas so

    encontradas em alta concentrao na mucosa uterina humana,

    particularmente no endomtrio secretor e no tecido menstrual

    (Bonney et al.,1987).

    Kurzrock & Leib (1930) descreveram que o plasma seminal

    causava contraes no miomtrio. Em 1935, o agente ativo foiidentificado como um lpide, um cido graxo insaturado, nomeado

    prostaglandina por Von Euler porque ele acreditava ser elaborado

    pela glndula prosttica. Estudos independentes realizados por

    Goldblatt, no mesmo periodo, confirmaram a presena da substncia

    afetando o msculo liso uterino. Em 1959, Eliasson demonstrou

    que a prostaglandina era produzida pelas vesculas seminais e

    em 1960 Bergstrom e Sjovall isolaram as prostaglandinas E e F.

    Em 1962, a estrutura quimica foi elucidada por Bergstrom et al.

    (Bastos & Borges, 2002).

    Estes estimulantes menstruais so hoje conhecidos como

    prostaglandinas F2 e E2. Tornou-se claro que a prostaglandina

    F2 a que predomina e encontrada durante a fase ltea e no

    endomtrio menstrual, podendo ser a responsvel pelas contra-

    es uterinas. Os efeitos da prostaglandina E2 no miomtrio so

    variveis, podendo causar contraes aumentadas, particularmente

    na gravidez. Em grande quantidade, a PGE2

    causa inibio da

    atividade e relaxamento do miomtrio de no-grvidas. Com

    extrato de f luido menstrual, Pickles demonstrou que a PGF2 e a

    PGE2 causam contraes do miomtrio (Pickles et al., 1965).

    Esse autor, em estudo de pacientes durante a puberdade,

    observou que a quantidade de prostaglandinas em pacientes com

    ciclo menstrual anovulatrio era 1/5 das com ciclo ovulatrio

    (Pickles et al., 1965).Prostaglandinas so hidrocarbonos C-20 com anel ciclopen-

    tano, presentes em tecidos humanos e produzidas a partir do

    cido aracdnico e do cido eicosanide (cidos graxos livres e

    insaturados), sob controle de enzimas microssomais coletiva-

    mente chamadas de prostaglandinas sintetases (ciclooxigenase,

    isomerase, e redutase). Esta via em que o cido aracdnico

    convertido em prostaglandina freqentemente referida como

    via da ciclooxigenase. O cido aracdnico derivado da hidrlise

    de fosfolpides pela enzima lisossomal fosfolipase convertido

    em endoperxidos cclicos pela ao das enzimas ciclooxigenases

    (COX-1, COX-2 e COX-3) - (Dawood, 1990).

    Endoperxidos ciclicos so convertidos, pela ao das enzimas,em PGE2, PGF2, prostaciclina, ou tromboxano A2. Dois fatores

    importantes promovem a via da ciclooxigenase com conseqente

    produo de prostaglandinas. So eles o trauma e a disponibilidade

    do cido aracdnico (Dawood, 1990).

    Com a diminuio da progesterona durante a lutelise, ocorre

    instabilidade lisossomal, que resulta na liberao da fosfolipase

    A2, levando gerao de cido aracdnico e ativao da via da

    ciclooxigenase. Nas mulheres com dismenorria primria, pode

    haver liberao aumentada de prostaglandinas (primariamente

    PGF2) pelo endomtrio na menstruao. H evidncias de que a

    prostaciclina, que um potente vasodilatador, relaxante da clulamuscular e antiagregante plaquetrio, estaria reduzida. Por isso,

    o aumento da prostaglandina com concomitante diminuio na

    prostaciclina promove contraes uterinas fortes e vasoconstrio,

    levando hipxia uterina e dor (Dawood 1986,1990).

    Pickles et al. (1965) mostraram que mulheres dismenorricas

    produzem oito a 13 vezes mais PGF do que as assintomticas.

    Nas mulheres com dismenorria primria, significantemente mais

    prostaglandinas so produzidas e liberadas a cada menstruao,

    especialmente durante as primeiras 48 horas, o que origina dor

    intensa durante o primeiro ou segundo dia (Dawood, 1995).

    Ainda no bem compreendido o papel dos prostanides

    como o tromboxano A2, a prostaciclina e os leucotrienos na

    dismenorria primria. A produo uterina aumentada de leu-

    cotrienos por meio da enzima 5-lipoxigenase, mais do que pela

    via da cicloxigenase, pode contribuir para algumas formas de

    dismenorria no responsiva aos antiinflamatrios no esteroidais

    (NSAIDs) - (Dawood, 1995).

    Resultados preliminares de pesquisas indicam que a atividade

    da via da 5-lipoxigenase est aumentada em algumas mulheres

    com dismenorria primria que no tm produo e liberao

    aumentada de prostaglandinas uterinas. A cultura in vitro de

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    Dismenorria e endomtrio

    tecido endometrial obtida de tais mulheres demonstrou aumento

    na biosntese de leucotrienos (Dawood, 1990).Segundo Dawood (1990), as concentraes de PGF2 no fluido

    menstrual so altas no primeiro dia da menstruao e a razo

    PGF2/PGE2 est aumentada. Por outro lado, a concentrao do

    metablito da PGI2 to baixa no fluido menstrual de mulheres

    dismenorricas como no grupo-controle. No existe tambm

    qualquer diferena significante na concentrao de tromboxanos

    (TX) nos dois grupos.

    Lundstrom & Grn (1978) investigaram a relao entre a concen-

    trao plasmtica de PGF2 e a contratilidade do tero nas mulheres

    dismenorricas. Encontraram concentraes de metablitos da PGF2

    e da 13,14-dehidro-PGF2 significantemente aumentadas no plasma,

    no primeiro dia da menstruao, de mulheres com dismenorria.Isto foi confirmado por Stromberg et al. (1984), que tambm de-

    mostraram aumento na concentrao de vasopressina.

    A PGF2

    est envolvida no controle da vasoconstrio no

    endomtrio durante a menstruao e pode participar na induo

    do sangramento. No miomtrio, a PGF2 estimula a musculatura

    lisa e os vasos, produzindo contraes que levam isquemia

    (Halbert et al., 1965).

    O elevado nivel plasmtico de PGF2 encontrado na dismenorria

    intimamente relacionado contratilidade uterina e induzir a

    isquemia e dor. Tambm o aumento da PGE2 durante a dismenorria

    tem o papel de induzir a liberao de catecolaminas, levando acontraes uterinas importantes (Dawood, 1990).

    Os efeitos in vitro das prostaglandinas no miomtrio humano

    so relacionados com a dose e a durao do ciclo menstrual. As

    prostaglandinas PGE1 e PGE2 produzem relaxamento, cujo efeito

    mximo no meio do ciclo. A PGF2 pode aumentar a amplitu-

    de e a freqncia das contraes no miomtrio humano, com

    pico de atividade na fase pr-menstrual. Na crvix, a PGE2 pode

    produzir relaxamento, mas o efeito da F2 variavel, produzindo

    estmulo em 20%, inibio em 30% e nenhuma resposta em 50%

    (Halbert et al., 1976).

    A quantidade de PGF2

    encontrada no fluido menstrual

    aproximadamente 10 vezes a encontrada em curetagem do

    endomtrio secretor, o que sugere que a maior parte formada

    pouco antes ou durante a menstruao. Substncias similares de

    origem seminal so conhecidas e so absorvidas pela mucosa

    da vagina. Tambm as prostaglandinas endometrial ou mens-

    trual podem ser absorvidas pelo prprio tero. Isto explicaria o

    aumento de contraes do miomtrio durante a menstruao

    (Halbert et al., 1965)

    Durante a menstruao de mulheres no dismenorricas, o

    tnus basal do tero menor que 10 mmHg e a presso no

    excede a 120 mmHg. A freqncia das contraes, que so bem

    coordenadas, de trs a quatro em 10 minutos. Com as mudanasnos nveis hormonais descritas anteriormente, o tnus basal

    elevado, a presso pode exceder a 120-150 mmHg e as contraes

    podem aumentar de freqncia e tornarem-se incoordenadas ou

    disrtmicas. Quando a atividade uterina aumentada e anormal, o

    fluxo sanguneo uterino reduzido e a hipxia se inicia. A isquemia

    uterina ou hipxia importante componente no mecanismo da

    dor que surge na pelve. As contraes aumentadas constituem

    outro componente da dor em clica. Certos tipos de prostaglan-

    dinas como a PGE2 e os endoperxidos cclicos e possivelmente

    os leucotrienos hipersensibilizam as fibras sensoriais da dor no

    tero para a ao das bradicininas e outros estmulos fsicos e

    qumicos da dor. Adicionalmente, mudanas nos prostanides eleucotrienos podem causar diretamente vasoconstrio e por isso

    tambm iniciar a isquemia ou hipxia uterina (Dawood, 1990).

    Segundo Bulletti & Ziegler (2005), a progesterona exerce papel

    importante no mecanismo de contrao e relaxamento uterino.

    Para os mesmos, alteraes nos mecanismos de contratilidade

    uterina podem levar a gestaes ectpicas, abortamentos, f luxo

    menstrual retrgrado, dismenorria e endometriose.

    As prostaglandinas poderiam estar envolvidas em diferentes

    mecanismos na patognese da dismenorria, a saber: a) sntese

    aumentada ou liberao no endomtrio ou miomtrio resultando

    em hipertonicidade uterina e/ ou constrio vascular e isquemia(Pickles et al., 1965; Halbert et al., 1976); b) indisponibilidade de

    dehidrogenases no tero resultando em diminuio no metabo-

    lismo e acmulo de prostaglandinas (Lundstrom & Grn, 1978);

    c) sensibilidade adicional s prostaglandinas no miomtrio ou no

    sistema vascular uterino (Dawood, 1990); d) alta taxa de PGF2/

    PGE2 resultando em estimulao miometrial aumentada (Pickles et

    al., 1965); e) fluxo de saida do f luido menstrual atravs da crvix

    alterado e reabsoro aumentada de prostaglandinas da cavidade

    uterina (Moghissi, 1972); f) sensibilizao da inervao uterina

    induzida pelas prostaglandinas levando reao aumentada da

    dor (Lundstrom & Grn, 1978) .

    estimado que 10-30% das pacientes com dismenorria nomelhoram com a administrao de inibidores de prostaglandinas

    sintetase (Benedetto, 1989). As concentraes de PGF2 e PGE2

    no fluido menstrual dessas pacientes so muito similares quelas

    encontradas em pacientes assintomticas (Rees et al.,1987). Por

    isto, as prostaglandinas podem no ser a causa da dismenorria

    dessas mulheres.

    Para Jabbour & Sales (2004), as prostaglandinas so importan-

    tes lpides bioativos com funo autcrina e parcrina. Segundo

    os autores, exercem aes no processo reprodutivo tais como

    Femina Dezembro.indb 792Femina Dezembro.indb 792 3/6/08 4:27:04 PM3/6/08 4:27:04 PM

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    Dismenorria e endomtrio

    ovulao, implantao e menstruao. Embora seu mecanismo

    de ao ainda no seja muito claro, so importantes na gneseda dismenorria e da menorragia.

    Estudos in vitro tm demonstrado que a produo de leucotrienos

    pelo endomtrio de mulheres com dismenorria significantemente

    alta comparada com aquela de mulheres sem dismenorrria (Sun-

    dell et al., 1990; Hofer et al., 1993; Bieglmayer et al., 1995). Se a

    dismenorria primria modulada por este caminho alternativo,

    concebvel que antagonistas dos produtos da lipoxigenase possam ser

    teis no controle das pacientes com dismenorria primria refratria

    aos inibidores de ciclooxigenase (Dawood, 1986).

    Alm do mais, os leucotrienos estimulam as contraes uterinas

    e, por meio de ao vasoativa (Peck et al.,1981), podem controlar o

    sangramento uterino. O endomtrio humano e o miomtrio tm acapacidade de liberar e metabolizar leucotrienos (Dawood, 1986).

    O padro de liberao dos leucotrienos similar ao das

    prostaglandinas, cujas concentraes endometriais variam com

    o ciclo menstrual e sempre com valores mais altos do que os

    valores miometriais (Rees et al., 1984). As mudanas cclicas na

    liberao concordam com a observao de que os leucotrienos

    induzem contraes uterinas e so influenciados pelos esterides

    ovarianos (Dawood, 1986).

    Matsuzaki et al. (2004) avaliaram a expresso da ciclooxige-

    nase-2 (COX-2) no endomtrio tpico de pacientes portadoras de

    endometriose grave e dismenorria. Segundo os autores, a expres-so elevada da COX-2 nas clulas estromais do endomtrio exerce

    importante papel na gnese da dismenorria.

    Tambm Maia et al. (2005) avaliaram a expresso da ciclooxige-

    nase-2 (COX-2) no endomtrio de pacientes com ciclos ovulatrios.

    Tambm segundo eles, a COX-2 exerce importante papel na gnese

    da dismenorria e o uso de anticoncepcionais hormonais orais diminui

    esta expresso, melhorando sensivelmente o quadro clnico.

    A secreo da ocitocina e vasopressina em mulheres no gr-

    vidas estimulada pelo estrognio, efeito que contraposto pela

    progesterona. Tambm os niveis de hormnios ovarianos parecem

    influenciar osmoticamente a secreo da vasopressina.

    Segundo Dawood et al. (1995), os nveis de vasopressina na

    circulao perifrica esto aumentados em mulheres com disme-

    norria primria durante a menstruao, sem o concomitante e

    proporcional aumento nos nveis de ocitocina. Nveis aumentados

    de vasopressina causam contraes uterinas disrtmicas, que pro-

    duzem hipxia uterina e isquemia. Um antagonista da vasopressina

    ministrado a pacientes, segundo um estudo preliminar, foi capaz

    de alivi-las da dismenorria primria.

    Segundo Dawood (2006), a utilizao de inibidores da cicloo-

    xigenase melhora a dismenorria, diminuindo a concentrao de

    prostanides no endomtrio e, como conseqncia, a hipercon-

    tratilidade uterina.A vasopressina um estimulante uterino poderoso em mulheres

    no grvidas e a sensibilidade a este peptdeo varia conforme o

    ciclo menstrual, sendo mais pronunciada na fase pr-menstrual. Em

    algumas mulheres, o leve aumento da concentrao plasmtica de

    vasopressina, por infuso salina hipertnica, aumenta marcadamente

    a atividade miometrial e a dor.

    Outro estudo interessante o de Molnar et al. (1997), que

    mostra que, excisando-se ou destruindo-se o endomtrio terapeu-

    ticamente com a proposta de melhorar a menorragia h, na maioria

    dos casos, melhora da dismenorria preexistente. Observaram

    tambm diminuio na durao da dismenorria, que ocorreu

    mais durante a menstruao do que no pr-menstruo. Em nenhumcaso os sintomas reapareceram aps a resseco transcervical do

    endomtrio (TCRE).

    Existem varias explicaes para a melhora da dismenorria

    com a TCRE, mas todas so provavelmente relacionadas sensvel

    reduo do endomtrio. Clicas menstruais ocorrem tambm pela

    passagem de cogulos atravs da crvix no dilatada. Por reduzir

    o sangramento menstrual excessivo e tambm a formao de co-

    gulos, de se esperar reduo nesse tipo de dor. Indiretamente,

    o balano entre sangramento menstrual e atividade fibrinoltica

    corrigido (Molnar et al., 1997).

    A destruio do endomtrio tambm altera a produo de pros-taglandinas e componentes relacionados, favorecendo o relaxamento

    uterino e a vasodilatao, aliviando as dores menstruais. A destruio

    endometrial mais efetiva do que o tratamento medicamentoso,

    pelo maior efeito inibitrio na formao dos leucotrienos que no

    so afetados pelos medicamentos inibidores de prostaglandinas

    (Molnar et al., 1997).

    Firmado o diagnstico de dismenorria funcional, pode-se utilizar

    os antiinflamatrios no hormonais (AINH) para tratamento. Todas

    as medicaes desse tipo diminuem a quantidade de prostaglandinas

    no endomtrio e no lquido menstrual ao interferir na sua sntese

    (Ylikorkala & Dawood, 1978; Bastos & Borges, 2002).

    Os inibidores de prostaglandinas sintetase (PGSI) reduzema presso intra-uterina e a freqncia das contraes uterinas

    por relaxamento da musculatura lisa; ao mesmo tempo, a dor

    diminuida particularmente devido reduo da isquemia e ao

    efeito analgsico.

    A seleo do mais apropriado AINH baseada na ef iccia clnica

    comprovada, rpida absoro para produzir o incio do alivio, ampla

    margem de segurana com baixo ndice ulcerognico, efeitos colaterais

    mnimos, tolerveis e inconseqentes e meia-vida longa. O AINH

    ministrado no inicio da menstruao no afeta o desenvolvimento

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    Dismenorria e endomtrio

    estenose do canal cervical, cistos ovarianos, sndrome da congesto

    plvica e sindrome de Allen-Master. A apario da dor tipo clicamenstrual mais que um a dois anos aps a menarca pode ser sinal

    de dismenorria secundria, freqentemente devida endometriose

    (Dawood, 1995).

    Segundo Li et al. (2006), as metaloproteinases nas mulheres

    com adenomiose causam angiognese na musculatura uterina,

    desencadeando dismenorria.

    As dores da dismenorria secundria, por estarem associadas

    tambm ao aumento de prostaglandinas, podem ser tratadas com

    inibidores de prostaglandinas e anticoncepcionais orais (Bastos

    & Borges, 2002). As prostaglandinas so mediadoras de reao

    inflamatria e, conseqentemente, seus niveis podem ser altos

    na presena de doena inflamatria plvica, condio em que adismenorria secundria ocorrncia freqente. As concentraces

    de PGE2 e PGF2so elevadas no endomtrio de pacientes com

    endometriose, leiomioma e carcinoma endometrial, todas podendo

    ser acompanhadas de dismenorria secundria.

    Concluses

    Vrias evidncias apontam o endomtrio como responsvel

    pela dismenorria, devido ao aumento na produo e secreo de

    prostanides e tambm pelo desequilibrio entre seus componentes(prostaglandinas, leucotrienos, tromboxanos e prostaciclinas). Uma

    grande evidncia que, excisando-se ou destruindo-se o endomtrio por

    histeroscopia cirrgica, h melhora acentuada da dismenorria.

    Segundo a literatura pesquisada, clara a relao etiopatog-

    nica endomtrio/ dismenorria. As pesquisas sobre a gnese da

    dismenorria devem sinalizar melhora teraputica dessa afeco,

    que interfere na qualidade de vida de mulheres em idade de estudo

    e trabalho.

    endometrial, mas inibe a produo pelo endomtrio de prostaglandinas

    e alivia as dores pela inibio enzimtica da cicloxigenase, caminhopara a sntese de prostaglandinas (Dawood, 1995).

    No caso da paciente ter vida sexual ativa e no querer engravi-

    dar, til a prescrio de anticoncepcionais orais que, atendendo

    finalidade contraceptiva, tambm inibem a ovulao, bloqueando

    o mecanismo ovulao-progesterona-dismenorria. A contracepo

    oral uma boa opo teraputica, combinando anticoncepo com

    melhora da dismenorria, do fluxo e eventualmente das irregulari-

    dades menstruais. O uso dos contraceptivos orais tambm uma

    boa opo teraputica para a dismenorria mais intensa e rebelde

    terapia com analgsicos e antiinflamatrios, mesmo naquelas jovens

    sem vida sexual ativa. A explicao para o benefcio visto com os

    contraceptivos orais a diminuio da sntese de prostaglandinasassociada ao endomtrio decidualizado atrfico (Dawood 1995;

    Bastos & Borges, 2002 ).

    Contraceptivos orais aparentemente diminuem os nveis elevados

    de vasopressina encontrados em mulheres dismenorricas. A reduo

    das prostaglandinas do fluido menstrual e dos niveis plasmticos

    de vasopressina leva diminuio da atividade uterina excessiva

    (Dawood 1990,1995).

    Se o alivio da dor inadequado, a laparoscopia pode ser

    indicada. Geralmente o AINH alivia as dores em 80 a 85% das

    pacientes dismenorricas, sendo necessria a laparoscopia num

    pequeno grupo de mulheres. Se alguma doena plvica causa-dora de dismenorria encontrada, a terapia apropriada deve ser

    instituda. Se nenhuma afeco for detectada, podem ser tentadas

    terapias ainda no bem estabelecidas (bloqueadores de canal de

    calcio, estimulao eltrica neural por via transcutnea, magnsio

    e abordagens psicolgicas) - (Dawood, 1995).

    A dismenorria secundria pode ser devida endometriose,

    presena de DIU, doena inflamatria plvica, adenomiose, miomas

    uterinos, plipos, aderncias, malformaes congnitas mllerianas,

    Leituras suplementares

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    Local: Goinia -GoisRealizao: SGGOTel.: 55(62)3285-4586Fax: 55(62)3285-4607Site: www.sggo.com.br

    34 Jornada Goiana deGinecologia e Obstetrcia

    II Simpsio InternacionalGinecologia e Obstetrcia de Gois

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