DIA INTERNACIONAL DOS MONUMENTOS E SÍTIOS · Vila Nova de Gaia associa-se ao Dia Internacional dos...

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DIA INTERNACIONAL DOS MONUMENTOS E SÍTIOS | 18 de abril Vila Nova de Gaia associa-se ao Dia Internacional dos Monumentos e Sítios que se comemora no dia 18 de Abril, desde 1982, na sequência da implementação pelo ICOMOS – Conselho Internacional dos Monumento e Sítios, aprovada pela UNESCO. As celebrações do presente ano assentam no tema Património+Educação=Identidade, tendo em atenção o vastíssimo legado relacionado com a aprendizagem e o conhecimento, que encontra a sua materialização em inúmeros conjuntos e elementos de património arquitectónico, património móvel e património imaterial, de diferentes escalas e valor, e em diversos contextos espalhados por todo o País. Vila Nova de Gaia privilegia de um conjunto patrimonial de raro valor artístico e arquitectónico, preciosos contributos da formação e do reforço da identidade local. O Castelo de Gaia é o exemplo de excelência. Foi classificado como Imóvel de Interesse Público pelo decreto nº 29/90, DR, 1ª série, nº 163 de 17 de Julho de 1990. Sítio urbano com vestígios de interesse arqueológico, povoado fortificado proto-histórico romanizado e com ocupação medieval, que constitui o núcleo da formação da identidade local, o Castelo realça o cimo da colina de Gaia. Alguns historiadores defendem que a sua primitiva ocupação remonta à Idade do Bronze, a um castro celta. Já no período da romanização da Península Ibérica, existia uma pequena comunidade agrupada em torno do porto de águas fundas onde se situa atualmente a ribeirinha do Porto. O nome da povoação, posteriormente "Portus Cale", significaria "o porto" (em latim "portus") da cidade de Gaia. Ponto de passagem privilegiado, com o posterior desenvolvimento económico-comercial, a margem norte acabou por também crescer em importância, tendo-se aí estabelecido o núcleo administrativo, religioso e comercial.

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DIA INTERNACIONAL DOS MONUMENTOS E SÍTIOS | 18 de abril

Vila Nova de Gaia associa-se ao Dia Internacional dos Monumentos e Sítios que se comemora no dia 18 de Abril, desde 1982, na sequência da implementação pelo ICOMOS – Conselho Internacional dos Monumento e Sítios, aprovada pela UNESCO. As celebrações do presente ano assentam no tema Património+Educação=Identidade, tendo em atenção o vastíssimo legado relacionado com a aprendizagem e o conhecimento, que encontra a sua materialização em inúmeros conjuntos e elementos de património arquitectónico, património móvel e património imaterial, de diferentes escalas e valor, e em diversos contextos espalhados por todo o País. Vila Nova de Gaia privilegia de um conjunto patrimonial de raro valor artístico e arquitectónico, preciosos contributos da formação e do reforço da identidade local. O Castelo de Gaia é o exemplo de excelência. Foi classificado como Imóvel de Interesse Público pelo decreto nº 29/90, DR, 1ª série, nº 163 de 17 de Julho de 1990. Sítio urbano com vestígios de interesse arqueológico, povoado fortificado proto-histórico romanizado e com ocupação medieval, que constitui o núcleo da formação da identidade local, o Castelo realça o cimo da colina de Gaia. Alguns historiadores defendem que a sua primitiva ocupação remonta à Idade do Bronze, a um castro celta. Já no período da romanização da Península Ibérica, existia uma pequena comunidade agrupada em torno do porto de águas fundas onde se situa atualmente a ribeirinha do Porto. O nome da povoação, posteriormente "Portus Cale", significaria "o porto" (em latim "portus") da cidade de Gaia. Ponto de passagem privilegiado, com o posterior desenvolvimento económico-comercial, a margem norte acabou por também crescer em importância, tendo-se aí estabelecido o núcleo administrativo, religioso e comercial.

Após o período de reconquista cristã, a fronteira entre muçulmanos e cristãos fixou-se no Douro, mas devido às oscilações da linha fronteiriça, a povoação de Cale (Gaia) perdeu a sua população cristã, que se refugiou na margem norte do rio. O primitivo castelo terá sido erguido pelas forças muçulmanas, no contexto da reconquista cristã da Península, uma vez que é referido numa das mais antigas lendas de Gaia, que se refere ao confronto entre o rei cristão D. Ramiro e o rei mouro Alboazer.(*) Com a pacificação dos territórios a sul do Douro, assistiu-se ao repovoamento da antiga Gaia, incentivado pelo foral passado pelos novos senhores das terras conquistadas. A nova povoação denominou-se Vila Nova de Gaia, florescendo ao abrigo dos muros do antigo Castelo de Gaia. O Castelo de Gaia é mencionado ainda no Foral novo de Vila Nova de Gaia, passado por D. Manuel I, que refere: “Pello caseyro do castelo de Gaya setecentos reaaes”. O desaparecimento do Castelo de Gaia está associado ao conflito da Guerra Civil de 1828-1834, quando o Douro voltou a marcar a fronteira entre os beligerantes. Trata-se de um sítio urbano que, desde 1983, tem sido objecto de intervenção arqueológica da responsabilidade de Armando Coelho Ferreira da Silva, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. O sítio integra a delimitação do Centro Histórico de Gaia, aprovada pela Câmara Municipal em 1984, na sequência dos Estudos Prévios do Plano Director Municipal, elaborado pelo Departamento de Planeamento Urbanístico. No ano seguinte, a Assembleia Municipal de Gaia aprovou o Regulamento do Plano de Reabilitação e Salvaguarda do Centro Histórico de Gaia, que também se aplica ao Castelo de Gaia. Nos anos de 1988 e 1989 foram realizadas escavações arqueológicas dirigidas por Gonçalves Guimarães e Maria da Graça Peixoto, sob responsabilidade do Serviço de Arqueologia do IPPC. Em 1989 foi concluído o Plano de Pormenor do Castelo de Gaia, elaborado pela equipa do Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia. Neste mesmo ano, foi publicada a classificação da área do Castelo de Gaia como Imóvel de Interesse Público.

(*)A LENDA DO REI RAMIRO A lenda de D. Ramiro remonta ao século X e refere que o rei Ramiro II de Leão se apaixonou por uma bela

moura, irmã do seu rival Alboazer. Sob influência dessa paixão e pretendendo pedir a sua amada em casamento, Ramiro decidiu firmar a paz com Alboazer, sendo recebido no castelo deste, em Gaia, mas o mouro recusou o

pedido. Ramiro raptou a sua amada, mas após um combate armado Alboazer recuperou a sua irmã e levou para o Reino de Leão. Por vingança, Alboazer raptou a mulher legítima de Ramiro, mas este disfarçou-se de pedinte e foi entregue ao mouro como castigo pela infidelidade. Com a ajuda do seu filho, Ramiro acaba por matar o mouro e

arrasar o Castelo de Gaia. A lenda conclui informando que Ramiro voltou para Leão onde finalmente se casou com a

moura, de quem teve vasta descendência.

Gaia partilha, com a população, um conjunto de monumentos ímpares, de invulgar beleza e raro valor histórico, associados à identidade local e à modernização da cidade. A Ponte Luís I – Património Mundial da Humanidade, é um dos exemplos que importa evidenciar no âmbito do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios. A estrutura metálica com dois tabuleiros foi construída entre os anos 1881 e 1888, para substituir a antiga Ponte Pênsil que existia no mesmo local e para dar resposta às novas exigências dos fluxos comerciais entre o Porto e Gaia e com o sul do país.

O tabuleiro superior foi inaugurado em 1886 e o inferior em 1888, ano em que também entrou totalmente em funcionamento com vista a responder às novas exigências das relações comerciais entre as duas cidades e com o sul do país. Na sequência de uma proposta de lei de 11 de Fevereiro de 1879, o Governo determinou a abertura de concurso para a “construção de uma ponte metálica sobre o rio Douro, no local que se julgar mais conveniente em frente da cidade do Porto, para substituição da actual ponte pênsil”, que viria a consagrar o engenheiro Teófilo Sevrig, também autor da ponte D. Maria Pia. A estrutura da ponte Luís I é descrita como uma filigrana de ferro e pesa 3.045 toneladas. Juntamente com a Torre dos Clérigos, é o ex-libris da cidade do Porto. Em Junho de 2003, o tabuleiro superior da ponte foi encerrado ao trânsito para adaptação da estrutura do metro, inaugurado em Setembro de 2005.

O Mosteiro da Serra do Pilar – Património Mundial da Humanidade é outro monumento único no País. Foi fundado por frades agostinhos no século XVI. Começou a ser construído em 1538, mas apenas ficou concluído quase 130 anos depois, em 1670, apresentando um dos dois únicos claustros redondos na Península Ibérica (o outro é o do Palácio Carlos V, no Alhambra, em Granada). No século XIX, durante a guerra civil que opôs liberais e absolutistas, aquando do “Cerco do Porto”, o templo deu abrigo às tropas que vieram a vencer o conflito. Fruto dos constantes ataques, o mosteiro encontrava-se em estado ruinoso e ao abandono, tendo a sua reabilitação começado apenas durante a terceira década do século XX, no decurso da qual também ali se instalou um regimento de artilharia. No interior da igreja, salienta-se a existência de trabalhos em talha de imagens setecentistas. No Mosteiro da Serra do Pilar destaca-se o claustro em forma circular, único no país, e nele se encontra a estátua em gesso de D. Afonso Henriques, da autoria de Soares dos Reis. A partir de Dezembro de 2012 passou a acolher um portal de promoção do património da região junto dos turistas.

O Convento Corpus Christi traduz mais um monumento único no País, de raro valor patrimonial, cuja edificação remonta a 1345, por empenhamento de uma fidalga gaiense que mais tarde o doou à Ordem de S. Domingos. Nos séculos XVII e XVIII, o mosteiro sofreu bastantes alterações e foi extinto pela lei de 1834, sendo confiscados todos os seus bens. Já em 1930, o convento foi entregue às irmãs do Bom Pastor, tendo sido então criado um Instituto Feminino de Educação e Regeneração. O aumento das internadas obrigou à ampliação e reconstrução da parte velha do edifício que estava extinta desde o século XIX. Trata-se de uma construção de grande sobriedade, equilibrando e objectivando o fim prático da sua utilização usando gramática arquitectónica da época do Estado Novo. Durante 70 anos, este convento esteve a cargo da Irmandade, sendo a sua actividade continuada, a partir de 1992, pela Fundação Frei Manuel Pinto da Fonseca. Organização ligada à Ordem de Malta que tomou a responsabilidade de não interromper o apoio dado a menores em risco, fim esse que se prolongou até 2002, ano em que o instituto é definitivamente encerrado. A 6 de Agosto de 2002, a Câmara Municipal de Gaia e o Ministério da Justiça assinaram um protocolo para a sua recuperação, reabilitação e valorização, cujo investimento ultrapassou 1 milhão de euros. Em Março de 2009, e na sequência de um protocolo entre o Governo e a Câmara Municipal de Gaia, este património passou a ser propriedade do Município. Na ala do Estado Novo ficou instalada a sede da Gaiurb, estando o restante edifício do século XVIII sob administração da Gaianima. O Convento Corpus Christi possui enorme riqueza e valor artístico: a Capela, octogonal e rematada por uma cúpula, quatro altares laterais com imagens de rara beleza; o Côro-Alto, espaço da primeira fase do barroco, é constituído por um cadeiral distribuído em 2 andares em forma de U, com o tecto formado por 49 caixotões decorados com pinturas a óleo sobre madeira representando Santos, Doutores da Igreja, figuras Dominicanas; o cadeiral, da primeira metade do séc. XVII, para as horas do ofício e para as reuniões conventuais, com a particularidade de em cada assento existir uma carranca diferente, representando negros ou

exóticos, e espécies animais e vegetais e, cada voluta ser uma máscara esculpida, cada uma diferente das outras, sugerindo influências do Império Ultramarino. Encontra-se aqui a arca tumular de Álvaro de Cernache, alferes da bandeira da Ala dos Namorados na Batalha de Aljubarrota. O Convento Corpus Christi foi valorizado pelo Município de Gaia, não só pelas obras de reabilitação, mas também pela sua abertura à população e dinamização de importantes iniciativas culturais. O interior de Vila Nova de Gaia é, também, rico em monumentos históricos. Na Freguesia de Grijó, o Mosteiro de S. Salvador de Grijó replica o pendor religioso do concelho. A sua origem remonta a um mosteiro primitivo fundado em 922, no lugar de Murracezes, mas em 1112 foi transferido para a actual localização por iniciativa de dois clérigos que adoptaram as regras e o hábito da ordem de Santo Agostinho. No início do século XVI, o Mosteiro encontrava-se em ruínas e, em 1535, por autorização régia, os monges foram transferidos para a Serra de São Nicolau (Mosteiro da Serra do Pilar). Mas como nem todos os clérigos concordaram com a transferência, o Papa Pio V separou os dois mosteiros em 1566. Com o regresso dos monges a Grijó, e perante a necessidade de reformas no edifício, foram iniciadas obras em 1574, mas só em 1690 ficaram totalmente concluídas. Em 1770 o mosteiro foi extinto, passando os seus bens para o Convento de Mafra. Símbolo da religiosidade local, também o Mosteiro de Pedroso, localizado na freguesia com o

mesmo nome, assume relevância significativa. Trata-se de um antigo mosteiro da Ordem de S. Bento. De acordo com frei Luís de S. Tomás, foi fundado em 867, por doação de D. Gondezindo. Fontes documentais referem, entretanto, que foi fundado na passagem do século X para o século XI, com base numa escritura de doação com data de 24 de Fevereiro de 1046, onde Trastina Pinioliz afirma que, juntamente com seu esposo, Ederónio Alvitiz, tinham edificado o

Mosteiro de Pedroso. O mosteiro acolheu frei Pedro Julião, futuro Papa João XXI. Após a expulsão dos jesuítas do país (1759), a propriedade foi retalhada e vendida. A igreja permaneceu como matriz da freguesia, mas os restantes edifícios e terrenos passaram para as mãos de particulares. Em 1803 foi erguido um muro a separar a igreja da casa conventual e crê-se que o claustro terá sido demolido nessa altura.

O Solar Condes de Resende, antigamente designado por Quinta da Costa ou Casa de Canelas, é uma propriedade senhorial cuja notícia mais antiga é a Carta de Negrelos de 1042, tendo pertencido ao morgadio dos Baldaias, no final do século XVIII aos Pamplona Carneiro Rangel, depois viscondes de Beire e, já no século XIX, aos Condes de Resende. Aqui faleceu, em 1907, D. Manuel Benedito de Castro Pamplona, 6.º daquele título, cunhado do escritor Eça de Queirós, seu condiscípulo na juventude, que aqui se enamorou de sua irmã Emília, com quem o autor de Os Maias veio a casar em 1886. Ao longo do século XX a propriedade foi habitada por alguns membros da família e depois pelos seus caseiros, e também pela família Sarmento Pimentel, até que em 1984 a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia a adquiriu. Desde a sua aquisição pelo Município de Gaia, o Solar Condes de Resende foi optimizado enquanto casa de cultura, dinamizando importantes áreas de intervenção: História, Arqueologia, Antropologia, Património Cultural, Coleção Marciano Azuaga, Literatura e Confraria Queirosiana. Compõe-se a propriedade de dois núcleos ligados por um passadiço de pedra sobre a antiga rua de acesso: o núcleo senhorial, composto por casa de três corpos articulados em ângulo recto, definindo dois pátios, o de entrada, para o qual abre a ala norte por uma escadaria que desce da varanda alpendrada, fechado por forte muro com caminho de ronda, onde se abre a porta de entrada, e um outro com uma fonte no lado sul. Este pátio comunica com outro espaço através de um túnel ao nível do rés-do-chão, pelo meio do corpo central da Casa. A capela fica no exterior, abrindo a sua porta principal para a rua. Circundando a Casa, encontra-se a Norte o Jardim das Camélias, com imponentes exemplares centenários, e outras áreas ajardinadas, o grande tanque que recolhe a água da nascente de S. Mamede na Serra de Negrelos, e algumas áreas de cultivo. No pátio interior e socalcos anexos, localizam-se hoje o auditório e serviços de apoio. Do outro lado da rua fica o núcleo rural típico de família de caseiros pobres do Entre-Douro-e-Minho que Eça de Queirós imortalizou nas páginas de A Cidade e as Serras, ainda não visitável, composto por casa de habitação, casa da eira, espigueiro, estábulos e azenha, para além de um amplo terreiro, parte restante do extenso campo de cultivo de Leirez, onde se abriu uma ampla alameda.

Exemplar único do estilo Arte-Nova em Gaia, a Casa Barbot é um monumento classificado como “Imóvel de Interesse Público”, conforme despacho governamental publicado em Diário da República (I série, nº 47, de 25 de Fevereiro de 1982). A bela moradia foi mandada erigir pela classe burguesa da eufórica Belle Époque e, após aquisição e reabilitação pelo Município de Gaia, regressou à vida como pólo dinamizador de cultura. O nome Barbot não está relacionado com o seu primeiro proprietário, o vianense Bernardo Pinto Abrunhosa, que foi quem mandou construí-la em 1904. Os registos são o imóvel como pertencendo a Adelino Augusto Campos, por volta de 1911, e de novo a Bernardo Pinto Abrunhosa, em 1915, o que permite adivinhar algumas confusões ou, pelo menos, eventuais imprecisões. Mas o que parece certo é que o edifício foi baptizado a partir do nome da sua proprietária por alturas de 1945, Ermelinda Barbot. Apesar das obras e transformações sucessivas encomendadas pelos diversos proprietários, bem como das intervenções mais recentes, o edifício mantém a estrutura inicial de cave mais dois pisos. A recuperação do imóvel pela Câmara de Gaia contemplou o interior e a área envolvente, mas sempre respeitando os princípios enunciados pela Carta de Veneza, onde se refere expressamente que “a conservação de

monumentos é sempre favorecida pela sua utilização numa função útil”. Foi este o objectivo: torná-la útil para recordar a herança histórica de uma época, útil para a afirmação da identidade cultural dos gaienses e útil para o aprofundamento de uma importante vertente do desenvolvimento concelhio, metropolitano, regional e mesmo nacional. No imóvel predominam elementos característicos da Arte Nova e destacam-se o vidro, o ferro, a cantaria e o azulejo. A par das linhas curvas, sobressai a inspiração em elementos neo-clássicos (colunas, capitéis e medalhões, por exemplo), de motivos florais e zoomórficos, dos nus femininos e da Natureza em geral. Mas o conjunto não se esgota unicamente na casa. Passando pela escada do jardim, cuja cobertura de ferro e vidro se assemelha à do café portuense “A Brasileira”, temos acesso à propriedade. Esta inclui as áreas ajardinadas e envolventes, com os bancos em forma de tronco de árvore, a estufa, o lago, a gruta artificial, o mirante e a garagem, onde predominam, novamente, elementos que denunciam as misturas de inspirações artísticas que não coincidiram, antes se sucederam. E, em casos como este, como que se “fundiram”. É, assim, a propriedade como um todo dos vários elementos que está a fazer de novo parte da vida quotidiana de Gaia e desta vasta região.

A Casa-Museu Teixeira Lopes é um edifício oitocentista de aspecto regional, com um pátio povoado de obras de arte. Foi construída em 1895, projecto do arquitecto José Teixeira Lopes, para residência e oficina de escultura. Actualmente é Casa-Museu, detentora de valiosas obras de arte e de uma colecção importante de esculturas de bronze, mármore e maquetas de gesso da autoria de Teixeira Lopes (1866-1942). A Casa Museu Teixeira Lopes é composta por duas unidades complementares: a casa que foi de Teixeira Lopes e se mantém musealizada, de acordo com a tipologia de Casa Museu; as Galerias Diogo de Macedo, em edifício anexo, de construção mais recente, inauguradas em 1975, no decorrer da doação de grande parte da obra colecção deste artista, à Câmara Municipal de Gaia. As Galerias são entendidas como núcleo museológico da Casa Museu. As colecções de ambas as unidades permitem na sua globalidade uma visão abrangente das artes visuais do século XIX e das primeiras décadas de XX. Trata-se de um museu tutelado pela empresa municipal Gaianima, de vocação temática na área das artes plásticas e cujo acervo compreende as obras dos escultores António Teixeira Lopes e Diogo de Macedo e as colecções por eles reunidas. As origens da Casa Museu Teixeira Lopes remontam a 1933, quando o Mestre delibera a doação da casa e todo o seu espólio ao município de Vila Nova de Gaia. O edifício começou a ser construído nos finais do séc. XIX, destinado a residência e atelier de António Teixeira Lopes, que aí viveu até 1942. O autor do projecto de arquitectura da Casa foi José Teixeira Lopes, irmão de Teixeira Lopes. Na casa, que se divide em espaços de residência e trabalho, permanece o mobiliário original, os originais da obra do escultor (em gesso, mármore, bronze e vários desenhos a sanguínea, carvão, lápis e sépia), bem como obras de outros artistas na escultura (exemplo de Soares dos Reis e Oliveira Ferreira), e na pintura (como Gustavo Doré, Vieira Portuense, etc.). A Colecção é extensa, englobando também faiança portuguesa e estrangeira, tapeçarias, mobiliário e pequenas colecções de arte decorativa. Instaladas num edifício anexo ao atelier de Teixeira Lopes, as Galerias têm origem no acordo estabelecido entre a Câmara Municipal de Gaia e a viúva de Diogo de Macedo que doou grande parte da obra e colecção do artista. As Galerias foram inauguradas em 1975. No princípio de 2001, iniciaram-se obras de remodelação que levaram à sua re-inauguração em 2004. Incluídas também neste processo, estão as obras de uma parte da Casa Museu. Em 2000, a tutela pela Casa Museu/Galerias Diogo de Macedo passou para as mãos da empresa municipal Gaianima, que administra os equipamentos municipais de Vila Nova de Gaia, relativos à área de Cultura, Educação e Desporto. As Colecções de Arte existentes na Casa-Museu Teixeira Lopes e nas Galerias Diogo de Macedo enquadram, essencialmente, Pintura, Escultura e Artes Decorativas.

Para além dos monumentos referidos, importa evidenciar outros de igual valor histórico e pendor identitário, que testemunham o património eclético existente em Vila Nova de Gaia.

A Ponte da Arrábida, cujo projeto e construção é da autoria do arquitecto Edgar Cardoso, em colaboração com o arquitecto Inácio Peres Fernandes e do engenheiro José Francisco de Azevedo e Silva, completa no dia 22 de Junho 50 anos e encontra-se em processo de classificação como Monumento Nacional. Este notável exemplar da arquitectura de pontes foi inaugurado em 1963 e surgiu da necessidade de criar ligações alternativas às antigas pontes Maria Pia e D. Luís, de modo a responder ao crescente fluxo da circulação viária entre as cidades do Porto e Gaia. Naquele ano, a ponte tinha o maior arco em betão armado de qualquer parte do mundo. Tinha duas faixas de rodagem e duas faixas laterais para peões e ciclistas, mas na década de 90 foi alterado o número de faixas de rodoviárias. Dispunha, ainda, de dois elevadores para facilitar o acesso á cota baixa e a travessia pedonal. Nas torres dos elevadores, parte integrante da estrutura daquela obra de arte, podem observar-se quatro esculturas ornamentais com cinco metros de altura, fundidas em bronze. Duas do lado do Porto, do escultor Barata Feyo, simbolizando "O Génio Acolhedor da Cidade do Porto" e "O Génio da Faina Fluvial e do Aproveitamento Hidroeléctrico"; e duas do lado de Gaia, do escultor Gustavo Bastos, representando "O Domínio das Águas pelo Homem" e "O Homem na sua Possibilidade de Transpor os Cursos de Água". A construção representou um investimento de 240 mil contos (cerca de 1,2 milhões de euros). De autoria de outro arquitecto também já falecido, Fernando Távora, existe a Escola Primária do Cedro, um imóvel em vias de classificação, integrado na Quinta do Cedro. Segundo descreve Rute Figueiredo, em “Arquitectura moderna portuguesa - 1920-1970”, autor “propõe a arquitetura como projeto de comunicação, pressupondo o encontro inevitável entre o autor e os condicionamentos concretos do lugar. A escola organiza-se tomando como centro axial o amplo corpo da sala polivalente, superiormente iluminada por um engenhoso sistema de captação de luz, simultaneamente de quadrantes opostos, que lhe confere grande expressão volumétrica e proporciona uma peculiar ambiência interior. A partir deste centro desdobram-se as ligações aos núcleos feminino e masculino das salas de aula, abertos sobre as

áreas livres dos recreios cobertos e exteriores entre a zona arborizada. O projecto desta escola, não poderá ser individualmente considerado, mas, sobretudo, ligado às conjunturas culturais e sociais que o atravessaram e que, por sua vez, ele suscitou "porque as formas também criam circunstância" «Fernando Távora»”. Igualmente digna de registo, a Casa Oficina Soares dos Reis, um imóvel com uma traça fora do comum, de finais do século XIX, localizada na Rua Luís de Camões, a 100 metros da Avenida da República. De autoria do arquitecto José Geraldo Sardinha (1845-1906), o edifício foi construído a pedido do escultor Soares dos Reis, para sua casa-oficina. O imóvel já foi propriedade da Câmara Municipal de Gaia, na sequência da venda pelo director da empresa jornalística “O Primeiro de Janeiro”, Manuel Pinto de Azevedo Junior, em 1946. Mais tarde, a autarquia doa o edifício ao Estado que, após algumas obras, cedeu o imóvel ao ensino superior de Belas Artes para ficar afecto à Escola Superior de Belas Artes do Porto. De referir, ainda, a Capela Românica do Mosteiro de Vila Cova das Donas, localizado na

Freguesia de Sandim. Pensa-se que este mosteiro beneditino tenha sido construído antes da fundação de Portugal e foi extinto no século XVI, tendo as suas freiras sido transferidas para o Mosteiro de S. Bento da Ave Maria do Porto. De pendor religioso, histórico, ou artístico, os monumentos existentes em Vila Nova de Gaia refletem o valor da marca

identitária da região.