No dia 15 de novembro comemora-se o Dia Mundial da Filosofia, instituído pela

UNESCO desde 2002. A comemoração ocorre sempre na terceira quinta-feira do mês

de novembro e pretende valorizar a formação de cidadãos reflexivos, capazes de as-

sumir posições e responsabilidades nos grandes problemas contemporâneos.

Porquê um dia da filosofia?

Muitos pensadores afirmam que o espanto, a dúvida e o desejo de saber são a raiz

do pensamento humano. De facto, a filosofia deriva da tendência natural dos humanos

para serem surpreendidos por eles mesmos e pelo mundo em que vivem.

Esta área, que se vê como uma forma de sabedoria teórica e prática, ensina-nos a

refletir sobre a própria reflexão, sobre os saberes produzidos pelas ciências, sobre a

tecnologia por elas produzida e sobre a ação humana e o mundo dos valores para con-

tinuamente questionar as verdades estabelecidas, para verificar hipóteses e encontrar

conclusões cuja verdade possa ser racionalmente estabelecidas.

Durante séculos, em cada cultura, a filosofia deu origem a conceitos, ideias e teori-

as e, por isso, fixou a base para o pensamento reflexivo, crítico, independente e criati-

vo. A UNESCO, ao instituir o Dia da Filosofia, pretendeu celebrar, em particular, a im-

portância da reflexão filosófica, e incentivar as pessoas em todo o mundo a comparti-

lhar a sua herança filosófica.

Para a UNESCO, a filosofia fornece as bases conceptuais de princípios e valores, fun-

damentos da paz mundial: democracia, direitos humanos, justiça, inclusão e igualda-

de. A filosofia ajuda a consolidar essas fundações para uma vida com dignidade e

qualidade.

Porquê um dia mundial da filosofia?

DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA

F I L O S O F I A / H U M A N I D A D E S 1 0 º C C U R S O P R O F I S S I O N A L T É C N I C O D E A P O I O P S I C O S S O C I A L

Existe apenas um bem, a sabedoria, e apenas um mal, a ignorância.

SÓCRATES (ATENAS, 470-399 A C)

Segundo Sócrates, há

três critérios simples,

que deves usar sem-

pre, antes de dizeres

ou fazeres alguma

coisa:

O critério da

verdade: estás

absolutamente

seguro de que o

que vais dizer é

certo ou, pelo

menos, pode

ser testado pe-

los outros?

O critério da

bondade e da

beleza: o que

vais dizer é algo

bom e belo?

O critério da

utilidade: o que

vais dizer é útil,

não apenas para

ti mas em si

mesmo?

Se o que queres di-

zer não é verdadeiro

nem bom ou belo e

nem sequer é útil,

então para quê dizê-

lo?

A Filosofia é uma atividade de discussão de problemas. Se não percebermos ou se perdermos de

vista os problemas que estão a ser discutidos, nunca conseguiremos compreender satisfatoriamente as

matérias ou os autores estudados.

A Filosofia abrange muitos temas diferentes, como a arte, a política, a religião, a ciência, a ação hu-

mana ou a ética. Por isso, os problemas filosóficos são muito diversificados, mas têm em comum o facto

de não poderem ser resolvidos pelos métodos das ciências. Eis alguns exemplos de problemas filosó-

ficos: O que é agir livremente? Será que o bem e o mal dependem da sociedade? O que é o conheci-

mento? Será que Deus existe? Qual é o valor da arte? O que têm de especial as teorias científicas? O

que é uma sociedade justa?

Nem todos os problemas filosóficos são imediatamente compreensíveis e mesmo os que o são pre-

cisam de ser esclarecidos. Por exemplo, quando perguntamos o que é o conhecimento, a que género

de conhecimento estamos exatamente a referir-nos? E quando perguntamos se Deus existe, o que en-

tendemos ao certo por "Deus"? Esclarecer os problemas a discutir é uma parte importante da ativida-

de filosófica.

Um problema ético — o problema do livre arbítrio

Problemas

Há uma cidade onde o único barbeiro, um homem,

faz a barba a todos os homens da cidade, e apenas aos

homens que não se barbeiam.

O barbeiro faz a barba a si mesmo? Se fizer a barba a

si mesmo, então não pode fazer a barba a si mesmo.

Se não fizer a barba a si mesmo, faz a barba a si

mesmo.

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Se um homem tenta fracassar e é bem sucedido , que é

que lhe aconteceu?

Página 2 DIA MUNDIAL DA FILOSOFIA

Como compatibilizar a crença de que

todos os acontecimentos, incluindo

as ações humanas, são causalmente

determinados, segundo as leis da

natureza, com a crença de que o ser

humano tem a capacidade de esco-

lher livremente, podendo por isso

ser responsabilizado pelas suas

ações?

Viver sem filosofar é o que se chama ter os olhos fechados sem nunca os haver tentado abrir.

René Descartes (1596-1650)

Um otimista pensa que este é o

melhor dos mundos possíveis. Um

pessimista teme que isso seja

verdade.

Página 3

Filosofia, António Aleixo

Eu não tenho vistas largas,

nem grande sabedoria,

mas dão-me as horas amargas

lições de filosofia.

Tal qual me sucede a mim:

sem ter vulto, sem ter voz,

vive qualquer coisa em nós

que manda fazer assim.

Quem me vê dirá: não presta,

nem mesmo quando lhe fale,

porque ninguém traz na testa

o selo de quanto vale.

Sei que pareço um ladrão...

mas há muitos que eu conheço

que, sem parecer o que são,

são aquilo que eu pareço.

Tu, que tanto prometeste

enquanto nada podias,

hoje que podes -- esqueceste

tudo quanto prometias...

Sem que discurso eu pedisse,

ele falou, e eu escutei.

Gostei do que ele não disse;

do que disse não gostei.

O meu merceeiro é um santo

e há quem diga que ele é mau!

Digo-lhe só: -- dou mais tanto,

já me arranja bacalhau.

HOJE EM DIA AS PESSOAS

SABEM O PREÇO DE TUDO

E

O VALOR DE NADA

ÓSCAR WILDE

MIXÓRDIA DE TEMÁTICAS FILOSÓFICAS

Um homem está a rezar a Deus.

- Senhor - reza -, gostaria de te fazer uma pergunta.

O Senhor responde:

- Não há problema. Podes perguntar.

- Senhor, é verdade que, para ti, um milhão de anos é apenas um segun-

do?

- Sim, é verdade.

Bem, nesse caso o que é um milhão de dólares para ti?

- Para mim, um milhão de dólares é apenas um cêntimo.

-Ah, nesse caso, Senhor - diz o homem -, podes dar-me um cêntimo?

- Claro - responde o Senhor. - Só um segundo.

Lógica

&

Humor

Um argumento indutivo

Holmes e Watson estão a fazer

uma viagem de campismo. A meio

da noite, Holmes acorda e dá uma

cotovelada ao doutor Watson.

- Watson - diz ele - olhe para o céu e

diga-me o que vê.

- Vejo milhões de estrelas, Holmes -

responde Watson.

- E que conclui a partir daí, Watson?

Watson pensa durante alguns

instantes.

- Bem - diz -, astronomicamente,

concluo que existem milhões de ga-

láxias e, potencialmente, biliões de

planetas. Astrologicamente, observo

que Saturno está em Leão. Horaria-

mente, deduzo que serão, aproxima-

damente, três e um quarto. Meteoro-

logicamente, suspeito que amanhã

teremos um dia lindo. Teologica-

mente, vejo que Deus é todo-

poderoso e que nós somos peque-

nos e insignificantes. Hum, que é

que você conclui, Holmes?

- Watson, seu idiota! Alguém nos

roubou a tenda!

Um argumento dedutivo

Um velho cowboy entra num bar e pede uma bebida. Quando

está a beber o seu uísque, uma jovem senta-se ao seu lado. A

mulher volta-se para o cowboy e pergunta-lhe:

- O senhor é um cowboy a sério?

- Bem, passei a vida inteira num rancho a criar cavalos, a repa-

rar vedações e a marcar gado, por isso acho que sim - respon-

de ele.

Eu sou lésbica - diz ela. - Passo o dia inteiro a pensar em mu-

lheres. Quando me levanto de manhã, penso em mulheres.

Quando tomo duche ou vejo televisão, tudo parece fazer-me

pensar em mulheres.

Algum tempo depois, um casal senta-se ao lado do velho

cowboy e pergunta-lhe:

- O senhor é um verdadeiro cowboy?

- Sempre pensei que sim — disse ele — mas acabo de desco-

brir que sou lésbica!

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Um argumento por analogia

Três estudantes de engenharia estão a debater que tipo de

Deus terá concebido o corpo humano. Diz o primeiro:

- Deus deve ser um engenheiro mecânico. Reparem em todas

as articulações.

- Eu acho que Deus deve ser um engenheiro eletrotécnico. O

sistema nervoso tem milhares de ligações elétricas - defende

o segundo.

- Na verdade. Deus é um engenheiro civil. Quem mais passa-

ria um tubo de desperdícios tóxicos através de uma área re-

creativa? - diz o terceiro.