Dia Municipal do Profissional de Jornalismo e da Imprensa

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A partir deste ano, Sorocaba passa a comemorar o Dia Municipal do Profissional de Jornalismo e da Imprensa. O 8 de maio foi escolhido porque era a data de aniversário do funda- dor do DIÁRIO DE SOROCABA, o jornalista Vitor Cioffi de Luca, primeiro profissional com formação acadêmica a atu- ar na cidade. Hoje, ele estaria completando 90 anos. Jornalistas renomados de TV, rádio e jornal impresso comentam sobre a data e a homenagem aos profissionais de comunicação. Dia Municipal do Profissional de Jornalismo e da Imprensa CADERNO ESPECIAL - 8 DE MAIO DE 2015

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A partir deste ano, Sorocaba passa a comemorar o DiaMunicipal do Profissional de Jornalismo e da Imprensa. O 8 demaio foi escolhido porque era a data de aniversário do funda-dor do DIÁRIO DE SOROCABA, o jornalista Vitor Cioffide Luca, primeiro profissional com formação acadêmica a atu-ar na cidade. Hoje, ele estaria completando 90 anos. Jornalistasrenomados de TV, rádio e jornal impresso comentam sobre adata e a homenagem aos profissionais de comunicação.

Dia Municipal do Profissionalde Jornalismo e da Imprensa

CADERNO ESPECIAL - 8 DE MAIO DE 2015

ESPECIAL2 DIÁRIO DE SOROCABA - DIA MUNICIPAL DO JORNALISTA

O jornalista Cláudio Grosso, edi-tor-chefe do DIÁRIO DE SOROCA-BA, conhece o jornal desde cedo. Ir-mão de Thereza Conceição Grosso deLuca, frequentou a redação ainda cri-ança e logo se apaixonou pela profis-são, que fala com entusiasmo. Semdúvida nenhuma, aprendeu muito comseu cunhado, Vitor Cioffi de Luca.

Para Cláudio, quando se fala em jor-nalismo, o mais importante de tudo é oprofissional focar a verdade acima detudo, qualquer que seja a circunstân-cia. “Enquanto a verdade prevalecer,sem qualquer tipo de tendência paraeste ou aquele lado, o jornalismo nun-ca deixará de triunfar”, avalia o editor.

Neste sentido, o jornalista recor-da que, ao longo de sua história devida, como fundador do jornal, “Vi-tor Cioffi de Luca nunca deixou derecomendar esse tipo de postura aosjornalistas do DIÁRIO” e foram mui-tos que passaram pelo jornal ao lon-go dos seus 57 anos.

ABSOLUTA ISENÇÃO - O edi-tor afirma que o “jornalista que se pre-

Verdade, nada mais do que a verdadeza deve se manter distante das forçaspolíticas e econômicas, isto para queas suas atividades profissionais pos-sam ser desenvolvidas com absolutaisenção, já que é dessa maneira quepoderá corresponder plenamente àsexpectativas do público leitor”.

Mas ele deixa claro que ter um re-lacionamento social e profissional, comquem quer que seja, é algo normal enecessário, “mas o que deve ser vistocomo condenável é o comprometimen-to inconsequente que, em muitas oca-siões, pode deturpar os fatos e esta-belecer uma postura tendenciosa emprejuízo da informação correta quedeve ser levada ao leitor”.

Cláudio Grosso, que foi prefeito deSorocaba, faz questão de sempre con-tar que, mesmo sendo irmão de There-za, quando administrou a cidade, rece-beu críticas do jornal, prova que é pos-sível existir isenção e que Vitor Cioffide Luca sempre buscou o jornalismono qual o leitor era o seu “patrão”.

DEDICAÇÃO, OBSTINA-ÇÃO E ENTUSIASMO - Podemos

avaliar que Cláudio é um jornalis-ta das antigas, em razão da dedi-cação que tem à profissão. Entreas caraterística que deve ter o pro-fissional da imprensa, ele colocaque o jornalista, “em sua mesa detrabalho, como se fosse o seu pe-queno sacrário, ele deve se dedi-car inteiramente às atividades quedesenvolve. Eu diria que ele deveser determinado, dedicado e atéobstinado em tudo que faz. É im-perioso que o profissional gostenão apenas do que faz, mas quemantenha de maneira permanenteo entusiasmo pelo que faz. É des-sa forma que sempre terá muitoprazer de apresentar aos demais osfrutos de seu trabalho diário”.

Concluindo a sua aula de comodeve atuar o bom jornalista, ele deixaclaro que “não se pode esquecer, tam-bém, que o leitor sempre é o melhortermômetro para medir a temperatu-ra do cidadão comum. Por isso, aosque há anos nos honram com sualeitura, queremos transmitir uma ex-periência recorrente: família, éticae valores aumentam o índice de lei-

tura. Dão ibope neste Brasil, sacu-dido por uma tremenda crise ética,alimentada pelo cinismo dos quedeveriam dar exemplos de integri-dade. Há, felizmente, uma amplamaioria sintonizada com valores eprincípios que podem fazer a dife-rença. E os jornalistas, com toda arazão, devem escrever para essagente, já que nela reside o alicerceda estabilidade democrática”.

Cláudio Grosso, editor-chefe do DIÁRIO DESOROCABA

Jornais têm de acompanhar a evolução digitalHoje, ao acessarmos o site de um

jornal, temos várias mídias juntas,com vídeos e imagens, sem contarque o próprio site também é uma mí-dia alternativa para um jornal impres-so. O DIÁRIO DE SOROCABAacompanhou a evolução tecnológicae, segundo o jornalista Maurício deLuca, diretor-executivo, foi o primeirojornal da região e um dos primeirosdo País a ter um site.

Maurício praticamente nasceudentro da redação do DIÁRIO. Fi-lho caçula de Vitor e Thereza deLuca, ele é o responsável pelas pla-taformas virtuais do jornal. Para o jor-nalista, “nós vivemos a era da cros-smedia e da transmedia, ou seja, anotícia é distribuída através de dife-rentes mídias, como o jornal impres-so, a internet e suas diversas possi-bilidades – sites, redes sociais, Twit-ter, Youtube, entre outros”.

O conceito de transmedia vem doinglês e significa “além da” mídia, noqual o conteúdo sobressai à mídia. “Osdiferentes meios coordenados por umjornal, por exemplo, podem ter con-teúdos diferentes para complementara informação”, explica Maurício, quecita o exemplo da TV DIÁRIO, cujosvídeos podem ser vistos na Fan Pagedo jornal, no Youtube e no site, com-plementando a notícia escrita.

VÍDEO CLIP E NOTÍCIA - Ain-da segundo Maurício, “a linguagemda TV DIÁRIO também tem um per-fil diferenciado. A ideia por nós in-troduzida seria uma mistura de vídeoclipe com notícia. Vídeos para mos-trar em poucos minutos acontecimen-tos relevantes ou de entretenimento.A notícia completa é contada atravésde texto. O vídeo transporta o inter-nauta para o local dos fatos, de for-ma concisa, na grande maioria das

vezes sem entrevistas, para que elepossa sentir o ‘clima’ do palco dosacontecimentos. É a informação atra-vés de imagens e sons”.

Maurício, que também é fotógra-fo, uma de suas paixões, tem o cui-dado, na TV DIÁRIO, de cuidar paraque as imagens tenham as caracterís-ticas inerentes ao fotojornalismo. “Ainformação é clara e objetiva, trans-mitida pela imagem, procurando va-lorizar também a plasticidade, comoum close de uma pessoa que trans-mite a emoção de todos que estão pre-sentes no local dos fatos”.

Especializado em diversas áreasda Comunicação, além da experiên-cia como repórter e editor, Mauríciosempre acompanha os avanços tec-nológicos, sendo quase um visioná-rio, mas reconhece que, “apesar detoda tecnologia que temos a nossa dis-

posição, nada seria possível sem o ele-mento humano, o jornalista. E hoje oprofissional da informação precisa teruma visão mais ampla de todos os ele-mentos da comunicação, pois sua ta-refa não está mais centrada em repor-tar os fatos e contar através do texto,ela é muito mais ampla”.

Maurício de Luca, diretor-executivo doDIÁRIO

Fernando Rezende

3ESPECIALDIÁRIO DE SOROCABA - DIA MUNICIPAL DO JORNALISTA

Vereador cria Dia Municipal dos Profissionais de Jornalismoe o Dia da Imprensa e homenageia Vitor Cioffi de Luca

O jornalista Vitor Cioffi de Lucacompletaria 90 anos no dia 8 de maiodeste ano. Formado na segunda tur-ma da Faculdade de Jornalismo Cás-per Líbero, em São Paulo, foi o pri-meiro jornalista diplomado a atuar emSorocaba, onde fundou o DIÁRIO DESOROCABA em 1958. Diante da suaimportância para o jornalismo de So-rocaba e região, o vereador Luís San-tos (Pros) decidiu homenageá-lo, es-colhendo a data do seu aniversáriopara que seja comemorado o Dia Mu-nicipal dos Profissionais de Jornalis-mo e o Dia da Imprensa.

Segundo Santos, a ideia surgiu aoanalisar o calendário cívico-social do mu-nicípio. “Observei que não havia uma datadestinada especificamente a essa valo-rosa categoria, que tanto fez e faz poruma sociedade cada vez mais democrá-tica e justa”, conta o parlamentar.

O vereador mudou-se para Soro-caba em 1993. Poucos anos depois,Vitor, juntamente com sua esposa,

Vereador Luís Santos

45 anos dedicados ao jornalismoO editor-executivo do DIÁRIO

DE SOROCABA, José Benedito deAlmeida Gomes, 59 anos, dedicou suavida ao jornalismo. No dia 1º de abrilde 1970, ele iniciou a sua carreira naárea, completando 45 anos em 2015,todos eles trabalhando no matutino.

A história de Almeida Gomes é mui-to rica. Apaixonado por filatelia, come-çou a escrever sobre a área por solicita-ção de Thereza da Conceição Grosso deLuca. Alguns meses depois, passou a es-crever sobre a Igreja Católica. Quatroanos mais tarde, em 1974, seus horizon-tes foram ampliados e passou a fazer re-portagens especiais e rádio-escuta.

CURIOSIDADES DA PROFIS-SÃO - A totalidade dos jornalistas temmuita história para contar. Imagine quemtem 45 anos de profissão? Pedimos paraele contar uma história que presenciouem razão da profissão. Em uma tarde,Zé Benedito, como é mais conhecido,estava na redação quando avisaram quehavia sido descobertas muitas ossadas

humanas na praça Dr. Carlos de Cam-pos, centro da cidade. “O fato assustoumuita gente, mas a explicação era ób-via: ali tinha sido o primeiro cemitérioda cidade”, conta o jornalista.

Outra história relatada foi um gran-de furo de reportagem. A ditadura mili-tar estava quase no fim e um juiz da ci-dade proibiu o beijo em público. Estu-dantes se reuniram e resolveram fazer aNoite do Beijo. Zé Benedito era o en-carregado de cobrir a pauta. Concluiu areportagem, quando avisaram que teveinício um quebra-quebra na praça Co-ronel Fernando Prestes. “Foi um furonacional. Enquanto os outros jornais no-ticiavam no dia seguinte que tudo ter-minou na maior calmaria, o DIÁRIOrelatava a confusão que ocorreu no fi-nal. Até o Fantástico noticiou o fato”.Na ocasião ele estava acompanhado doentão jovem repórter-fotográfico Mau-rício de Luca.

A ENTREVISTA - Pedimos para ochefe de reportagem citar uma entrevis-

ta que gostou de fazer entre as muitasao longo da sua carreira. Ele recordoude uma que fez com o ex-prefeito Flá-vio Chaves. Antigamente, a apuração deuma eleição demorava dias. A eleiçãosempre ocorria no dia 15 de novembroe a apuração acontecia no Ginásio doSesi (Serviço Social da Indústria).

No dia 16 de novembro de 1982, ZéBenedito conseguiu uma entrevista ex-clusiva com o então candidato a prefeitoFlávio Chaves que, pelas urnas apuradas,já estava eleito. Porém, parte da impren-sa, com base em pesquisas eleitorais denão muita credibilidade, insistia em apon-tar que o resultado ainda era duvidoso eoutro candidato seria eleito. “Flávio atéme informou a composição quase quecompleta de seu futuro secretariado”.

Já em âmbito nacional, o chefe dereportagem conta emocionado que en-tre os fatos que cobriu, não esquece“a noite memorável da cobertura daconcentração, noite adentro, na praçado Fórum Velho, para acompanhar a

votação, em Brasília, das ‘Diretas Já’,que mudaria os rumos do Brasil”. Ojornalista, na sua profissão, é obriga-do a cobrir muitas matérias que nãogostaria. Perguntamos a Zé Beneditose ele pudesse mudar uma notícia, qualmudaria das muitas que cobriu em suacarreira. A resposta: “A morte de seuVitor e dona Tereza, meus padrinhosde profissão e casamento”.

Thereza da Conceição Grosso deLuca, falecerem em outubro de 1998em um acidente automobilístico. Ape-sar do pouco contato, o parlamentarrecorda que acompanhava o trabalhodo jornalista e sua luta para manter oDIÁRIO DE SOROCABA, “jornalque simboliza sua dedicação e serie-dade com que trabalhou por nossa ci-dade”, detalha o vereador.

PILAR DA DEMOCRACIA -Questionado sobre o papel da im-prensa nos dias de hoje, principal-mente do interior do País, Luís San-tos afirma: “A imprensa é conside-rada como quarto poder, não espe-cificamente no aspecto econômicoou político, mas como um dos pila-res mais atuantes na defesa da de-mocracia, das liberdades coletivas edas garantias individuais de nossa so-ciedade”. E acrescenta: “Ela (a im-prensa) trabalha pela disseminaçãodos ideais democráticos, buscandolevar à população a informação deforma imparcial e comprometida

com a verdade, às vezes, com difi-culdades e enfrentamentos naturaisà sua missão”.

Na opinião do vereador, a impren-sa sorocabana vem crescendo nos úl-timos anos, “não só em quantidade,mas, principalmente, em qualidade, di-versificando-se em vários órgãos e mí-dias, sempre atuando e desempenhan-do seu papel, na transmissão dos fa-tos, informações e opiniões, cumprin-do, assim, o seu papel social com umaatuação de qualidade”. Para marcaro Dia Municipal dos Profissionais deJornalismo e o Dia da Imprensa, o ve-reador realizou no dia 27 de fevereiro,uma Sessão Solene na Câmara de So-rocaba, quando também foi comemo-rado 20 anos da primeira turma docurso de Jornalismo da Uniso (Univer-sidade de Sorocaba).

Luís Santos informou tambémque vai agendar uma outra sessãosolene para homenagear os profissi-onais da área de Fotografia e Cine-

matografia, que complementam o tra-balho dos profissionais do Jornalismoe da Imprensa.

José Benedito de Almeida Gomes, editor--executivo do DIÁRIO DE SOROCABA

Fernando Rezende

Fernando Rezende

ESPECIAL6 DIÁRIO DE SOROCABA - DIA MUNICIPAL DO JORNALISTA

Avanço tecnológicocontribui para o jornalismo

José Carlos Fineis, editor-chefe do jornalCruzeiro do Sul

O editor-chefe do jornal Cruzeirodo Sul, José Carlos Fineis, 52 anos, éjornalista há 34, tendo começado naTribuna de Sorocaba, quando tinha 16anos. “Eu era um misto de chargista,aprendiz de redator e carregador demala”, relembra com bom humor.

Já no Cruzeiro, entrou aos 18anos e trabalhou no jornal por 14 anose meio, depois montou uma empresacom sua esposa Sandra Nascimento.Já em 2005 integrou a primeira equi-pe do Bom Dia Sorocaba, onde ficouaté maio de 2006. “Por aqueles dias,abriu-se uma vaga de editorialista noCruzeiro do Sul. Fui convidado, acei-tei, e estou aqui. Então, são 24 anosde Cruzeiro do Sul e sete meses deBom Dia”, conta o jornalista.

Parafraseando o ex-ministroEduardo Portella, Fineis afirma “es-tar” editor-chefe do Cruzeiro do Sul.Questionado se vê diferença entre osjornalistas de quando começou a atu-ar na área e os que saem da faculda-de hoje, ele detalha que “pode pare-cer estranha a resposta, pois tudomudou, mas vejo pouca diferençaentre os jornalistas dos anos 1980 eos atuais”.

Para Fineis, “em essência, bonsjornalistas são entusiasmados comseu trabalho e procuram aprendersempre. Vibram com tudo o que fa-zem, têm um senso profundo deresponsabilidade, respeitam as fon-tes e o público que vai receber ainformação. Em essência, também,maus jornalistas são preguiçosos,desleixados com o texto, desin-formados e têm pouca ou nenhu-ma consciência dos efeitos queseu trabalho pode produzir navida das pessoas”.

Na avaliação do editor, “hojeexistem profissionais bons e ruins,assim como havia antes, pois oprincipal do jornalista – o caráter,a integridade, a ética – não tem a

ver com a prática profissional, astécnicas, o ensino ou as ferramen-tas utilizadas. O essencial vem danatureza humana”.

IDEALISMO - Já em relação aoidealismo, na opinião de Fineis, eleainda existe. “Não concebo o jor-nalismo fora da crença profunda,sincera, arraigada de que nossa ati-vidade é um instrumento eficaz paraaprimorar a sociedade, garantir di-reitos, corrigir injustiças. Mas, comoem toda profissão, temos os idea-listas e os que estão apenas atrás dasobrevivência. Respeito a todos,desde que não permitam a ausên-cia de ideal, sem prejudicar a qua-lidade do trabalho”.

Para ele, a tecnologia, ao con-trário do que muitos pensam, nãoestá deixando os profissionais dacomunicação mais frios, mas simaproximando as pessoas. “Paracada exemplo de coisas ruins quea tecnologia pode trazer, temosinúmeros exemplos de coisas boasque ela é capaz de realizar. Estátudo em nossas mãos, como sem-pre esteve. Acredito que a tecno-logia é apenas mais um ‘bode ex-piatório’ para os que procuram jus-tificar a própria frieza e distancia-mento”, filosofa.

APURAÇÃO DA NOTÍCIA - Ojornalista sempre buscou o furo dereportagem, mas, com o advento dainternet, o imediatismo aumentou emuitos profissionais não se preocu-pam em apurar a notícia. Para Fineis,isso é péssimo. “Basta ver os exem-plos de pessoas que foram ‘mortas’por jornalistas afoitos. Precisamosequilibrar o senso de urgência como de responsabilidade. E jamais pu-blicar uma informação que não es-teja devidamente apurada. Infeliz-mente, há uma parte das redaçõesque adota a política de publicar pri-meiro e apurar depois, mas esse nãoé o nosso caso”.

Fábio Rogério

Conforme o editor-chefe do Cru-zeiro, a democratização da comuni-cação em razão da internet, com asredes sociais e blogs, “realmente exis-te e é irreversível, graças a Deus. Ainternet deu existência real a um di-reito que era apenas teórico. O direi-to à livre expressão de ideias e pen-samentos só passou a existir no pla-no individual com a informática e asnovas tecnologias de comunicação.Antes, era um direito quase fictício,pois tudo o que se procurava expres-sar ou publicar precisava passar pelofiltro de alguém encastelado em umjornal, rádio ou TV”, analisa.

Fineis vai mais longe, expressan-do a sua teoria: “por isso digo que os‘nerds’ é que fizeram a grande revo-lução, talvez a maior de todas. E fi-zeram sem armas, sem slogans, semmanifestos. Usaram apenas o conhe-cimento na construção de uma gran-de obra coletiva que mudou a histó-ria da humanidade”.

Em relação ao enxugamento dasredações, o jornalista afirma que vêesse fato “com a angústia, o assom-bro e também o deslumbramento dequem tem consciência de viver ummomento histórico, com tudo de ruime de bom que isso implica. O enxu-gamento das redações ocorre quan-do o veículo não consegue desenvol-ver modelos de negócios que lhe per-mitam manter a lucratividade dosmodelos tradicionais”.

Por outro lado, analisa que “vi-

vemos um momento em que os em-presários e profissionais de jorna-lismo são obrigados a pôr em prá-tica sua ousadia, se quiserem so-breviver. Acredito firmemente queé possível manter o nível de ativi-dade e o lucro, desde que não sefique parado. E percebo que, sealgumas redações ficam mais en-xutas por um lado, por outro sur-gem inúmeras possibilidades denegócios e geração de renda, quejá são uma realidade para muitosjornalistas. Hoje a gente pode teremprego fixo ou não, ganhar bemou não, mas ficar sem trabalho émuito difícil. Com um computadore vontade de trabalhar, é possívelganhar a vida”, conclui.

Editor-chefe do jornal Cruzeiro do Sul, José Carlos Fineis começou na profissão aos 16 anos

CADERNO ESPECIALReportagens: Cida Muniz

Projeto gráfico: Felipe Tarifa

Edição: Maurício de Luca e Cida Muniz

Coordenação geral: Maurício de Luca

7ESPECIALDIÁRIO DE SOROCABA - DIA MUNICIPAL DO JORNALISTA

O jornalismo está passando poruma transformação. Tem que se en-tender o que é noticia e opinião, ob-jetivando não criar nenhum tipo decensura para o cidadão que faz usode tal ferramenta, “a internet”. Acomplexidade do tema é que a inter-net, através das redes sociais, apre-senta uma linha tênue entre estes doiseixos, permitindo que o cidadão pos-te um texto com características de in-formação, fazendo com que o inter-nauta dê crédito a tal conteúdo que,em muitos casos, não passa de umaopinião particular ou algo sem qual-quer base legal. Por outro lado, ou-tros de má fé utilizam-se desta pode-rosa ferramenta com finalidades des-conhecidas, podendo causar danos ir-reparáveis para quem é citado ou dácrédito a tal publicação.

Diante disso, os gestores do jor-nalismo profissional devem se colocarna vanguarda dos acontecimentos, va-lorizando o ser humano, a marca e oveículo, buscando adaptar-se às no-vas tecnologias disponíveis, visando aque seu fiel leitor, ouvinte ou telespec-tador, possa ter uma identificação pró-xima com o mesmo, sabendo ondeobter a notícia, apurada e com credi-bilidade que o interessado busca, paraestar sempre atualizado.

Já em relação ao Dia Municipaldo Profissional de Jornalismo, é da ca-

Profissionais de comunicaçãoanalisam o jornalismo na era da internet

Sem dúvida nenhuma o jornalismo está se transformando dia-riamente. Profissionais na área há 15 anos ou mais acompanha-ram essa mudança tecnológica. Sorocaba sempre se destacou pelacapacidade e comprometimento da imprensa pela busca da infor-mação. Diante disso, o DIÁRIO DE SOROCABA convidou trêsprofissionais da área para responderem a duas perguntas: “qual aimportância do jornalismo profissional nos dias de hoje, quandoa comunicação está cada vez mais democratizada pelo uso da in-ternet?” e “como você vê o município ter uma data para homena-gear os profissionais da imprensa?” Confira as respostas:

O papel do jornalista é ainda mais im-portante nestes tempos de comunicaçãodemocratizada pela internet. O profissionalé o responsável por apurar, checar, ouviro(s) lado(s) envolvido(s) no assunto e, prin-cipalmente, ter uma postura crítica diantedos fatos. Essa é uma conduta profissionalpara informar e prestar serviço à popula-ção. A internet e as redes sociais, hoje emdia, são ferramentas usadas no trabalho,mas não devem servir como a única fontepara elaboração das reportagens.

Acho válida uma data em nosso

Buscando soluçõesSimone Marquetto (diretora de

Jornalismo da TV Sorocaba – SBT)

Ter uma data para lembrar o dia doProfissional de Jornalismo faz com quepossamos refletir sobre o nosso papel e,mais do que isso, renovar nosso com-promisso de comunicólogos em retrataruma realidade de forma imparcial, apre-sentar discussões que não girem apenasem problemas, mas, sim, na busca porsoluções. Levar ao telespectador, ouvin-te ou leitor a informação com responsa-bilidade, para que faça a diferença navida das pessoas. Reconhecemos queessa propagação da informação coerentecom ética é o que tem feito este concei-tuado jornal DIÁRIO DE SOROCA-BA, que há anos tem expressiva partici-pação no desenvolvimento da região.

É uma empresa tradicional, que me-rece nosso respeito, e é justa a home-nagem em ter esta data; o dia de nasci-mento de Vitor Cioffi de Luca, funda-dor do DIÁRIO DE SOROCABA,para comemorar o dia do Profissionalde Jornalismo.

O Profissional de Jornalismo é aque-le que trabalha com a verdade da infor-mação, não se envolve apenas com oassunto para venda de notícia. É aqueleque tem a fonte segura, checa os dados

Comunicação democratizadaMateus Soares (chefe de

Reportagem da TV Tem – Rede Globo)

município para homenagear os jornalis-tas. Seria interessante que profissionaise estudantes de Comunicação aprovei-tassem este momento para debater so-bre a profissão. Trocas de ideias e ex-periências enriquecem as atividades.

antes de compartilhar e sempre ouve to-dos os lados envolvidos na história queestá sendo contada. Em muitos casos,mesmo com desejo de sair na frente doconcorrente, precisamos ter o controleem saber a hora certa para exibir umareportagem, por exemplo; em caso deinvestigação para não comprometer otrabalho da polícia. O Profissional deJornalismo tem o comprometimento coma repercussão dos fatos, já os aventurei-ros da comunicação colocam em risco acredibilidade do conteúdo, porque, namaioria das vezes, não seguem os pa-drões de Jornalismo. É nossa obrigaçãoapresentar um material com diferencial,para sustentarmos os anos de estudo eque no dia a dia são aplicados de manei-ra segura para que o público tenha o re-trato real e imparcial da notícia.

Jornalismo comunitárioOliveira Júnior (editor do Jornal

da Cidade da Rádio Cacique AM)

racterística do ser humano em todasas áreas buscar referências e estímu-los para desenvolver suas atividades,projetos e ações. Para desenvolver umjornalismo profissional, com qualida-de e credibilidade, não é diferente.Diante de uma profissão em que mui-tos desistem, devido às variáveis exis-tentes, como perseguições, censurase assassinatos de milhares de profis-sionais no mundo afora.

Diante disso vejo como salutarprestar homenagens a profissionaisdo jornalismo sorocabano, visto quenossa cidade tornou-se o grande ce-leiro no País na formação de profis-sionais na área da Comunicação e degrandes exemplos, como de Vitor Ci-offi de Luca, que deixou um legadoensinando a todos o “modo de fazero jornalismo comunitário” para umagrande cidade.

ESPECIAL8 DIÁRIO DE SOROCABA - DIA MUNICIPAL DO JORNALISTA

Jornalismo para quê?Vitor de Luca buscava na filosofia a inspiração para lutar por sua utopia

Walter de Luca

Vitor Cioffi de Luca ficou co-nhecido em Sorocaba e Regiãocomo diretor do DIÁRIO DE SO-ROCABA, jornal que fundou e di-rigiu por 40 anos. Poucos sabem,porém, o caminho que trilhou antes,ou mesmo do trabalho nos primei-ros anos de seu empreendimento.

Sétimo filho de uma família de 11irmãos, Vitor veio de Piraí do Sul, Pa-raná, para São Paulo aos 14 anos. Oobjetivo era cursar o ginasial, entãoinexistente em sua cidade, no início dadécada de 40. Seu pai, sapateiro quefabricava sapatos em uma pequenaoficina em casa, pouco podia fazerpara ajudá-lo com as despesas. Vitorteve que se virar com mais três ir-mãos, com quem passou a dividir umacasa de três cômodos na capital.

Seu primeiro emprego foi comoentregador de compras. Carregavacaixas de um armazém, subindo e des-cendo ladeiras da Bela Vista. Maistarde, lembrava-se e ria dessa época,quando, segundo dizia, tinha apenasuma camisa. Tinha de lavar a cadanoite para usar no dia seguinte.

Inteligente e perseverante, traba-lhou durante toda a adolescência, masestudou com afinco e sempre surpre-endia os filhos contando coisas quehavia aprendido ainda no ginásio. Fa-lava inglês com desenvoltura, só comas aulas da escola, declamava poe-mas inteiros de Camões e dominavaa língua portuguesa como poucos,usando palavras que a gente só en-contra em dicionários.

Fez a vida em São Paulo, conse-guiu empregos “de escritório”, e aca-bou numa casa bancária, como se di-zia na época. Com o tempo, chegou asubgerente, então um cargo almejadoe difícil de alcançar.

Era praticante de tênis de mesa –além de outras atividades, como oremo -, desses que levam o esporte a

sério. Jogou torneios e se tornou árbi-tro da Federação Paulista da modali-dade. Paralelamente, passou a colabo-rar com jornais da capital, enviandonotícias sobre partidas e campeonatos.Pegou gosto por jornal, e ficou entusi-asmado quando soube da inauguraçãoda Cásper Líbero, primeira faculdadede jornalismo do Brasil e até hoje umadas principais do país.

Em 1948 ingressou na faculdade,com a segunda turma que se formariana Cásper, Era provavelmente um“nerd”, como são chamados hoje, di-vertidamente, os alunos mais aplica-dos. Durante o curso, passou a escre-ver mais, principalmente sobre umassunto que sempre o empolgou, filo-sofia. Com um texto sobre o filósofoalemão Friedrich_Nietzsche, ganhouum prêmio pelo melhor artigo do anopublicado pelo jornal editado pela Fun-dação Cásper Líbero.

Leu muito sobre filosofia. Além deNietzsche, Espinosa, Platão e váriosoutros, conhecia profundamente os en-sinamentos de Cristo. Sempre citavanas conversas os grandes pensadoresda história. Usava frases ilustrativaspara expor suas ideias sobre o mun-do, fosse com pessoas intelectualiza-das ou mesmo com aqueles de origemmais simples. Tinha esse dom, de sim-plificar raciocínios brilhantes e torná-los princípios de vida.

Difícil saber como encontrava tem-po para refletir no dia a dia agitado dojornalista. Vitor veio para Sorocabaem 1952, convidado para dirigir o diá-rio Folha Popular, pertencente à Cu-ria. Instalou-se inicialmente em umapensão no centro e teve que batalharmuito para vencer as dificuldades queenfrentava o pequeno matutino. Trêsmeses depois, casou-se e trouxe aesposa para viver aqui.

Ambos adotaram a cidade comodeles. Tiveram filhos e fundaram o DI-ÁRIO DE SOROCABA em 1958.Era um tempo em que fazer jornal eradifícil, exigia equipamentos próprios

e gente preparada para operá-los. Dosprimeiros tempos de DIÁRIO, Vitorgostava de lembrar algumas histórias.De como investira tudo para instalar aempresa, a ponto de não ter absoluta-mente nada no bolso no primeiro diaem que o jornal foi às ruas. Sorte, di-zia, que alguém gostou tanto da pri-meira edição que às dez da manhã domesmo dia apareceu na redação e pa-gou a primeira assinatura.

Contava também do trabalho derepórter, editorialista, revisor e diretorque exercia simultaneamente nos pri-meiros anos. Mantinha um roteiro di-ário de reportagem, que fazia de ôni-bus. Passava cedo na delegacia depolícia para pegar os registros da noi-te, depois ia à Câmara, à Prefeitura ecirculava pela praça central (para son-dar o que estava acontecendo). No fi-nal da tarde recolhia os despachos dasagências de notícias que chegavam detrem na estação. Voltava para a reda-ção e tinha que redigir e revisar o jor-nal praticamente sozinho. A esposaThereza se incumbia de coordenar osjornaleiros que faziam a entrega e cui-dar de outras tarefas administrativas.

O DIÁRIO cresceu rápido e setornou um jornal de porte médio commuitos funcionários. Vitor e Therezasempre acompanharam tudo de perto,mas, com o passar dos anos, e a em-presa estabilizada, puderam se dedi-car a várias causas sociais. Colocaramo jornal a serviço delas, assim comodefenderam, por meio dele, importan-tes movimentos em prol de Sorocabae região. Vitor foi também líder católi-co e participou ativamente dos movi-mentos de Cursilho, como palestrantee organizador. Educou os quatro fi-lhos, e três deles seguiram seus pas-sos de jornalista.

Na década de 1990, o DIÁRIO,já com a participação dos filhos docasal, se tornou um jornal de grandeinfluência na região e um dos prin-cipais do interior do Estado. Desta-cava-se pela estrutura, pela equipede profissionais, pela modernidade

tecnológica e principalmente pelo jor-nalismo que praticava, sempre sério,ético e independente, numa linhaque Vitor havia implantado desde oinício e da qual jamais se afastou

Vitor e Thereza viveram poucoessa fase nova. Em 1996, perderamo filho mais velho, o que lhes causouenorme desgosto e transtornos para afamília e a empresa. Em 1998, parti-ram os dois, vitimados por um aci-dente de carro na volta da sua queri-da Piraí do Sul.

O legado e os ensinamentos quedeixaram são inestimáveis. Os exemplospara o jornalismo certamente serão úteispara várias gerações, assim como as li-ções de cidadania e de dedicação aobem comum. Já para os que viverampróximos, a lembrança do caráter e docoração deles parece ser eterna.

Em seus discursos e conversas,Vitor costumava surpreender commensagens que traziam à tona a suaintelectualidade e a sua alma. Uma dasfrases que mais gostava de citar dizia:“Amar é querer o bem do outro”. Elefora buscar em Aristóteles, o “pai daciência¨, um jeito singelo de dizercomo gostaria que fosse o mundo.

Walter de Luca é professor de Jornalismoda Uniso