DIA NACIONAL DO EDUCADOR Baptista Domingos virou...

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Nilza Massango Antes de ser educador de infância, Baptista Domingos foi protecção física no Centro Infantil das “Bolinhas”, no bairro Nelito Soares, Distrito Urbano do Rangel. A rotina e os cuidados a ter com as crian- ças no centro, despertaram nele o interesse de fazer carreira como educador infantil. Determinado a atingir os seus objectivos, fez o curso básico de Educador Social no Instituto de Ciências Reli- giosas (ICRA) e, nesta altura, é estudante do curso de Edu- cação Infantil, no Instituto Superior de Serviço Social. Apesar da zombaria e das críticas dos amigos, Baptista Domingos sublinha que a educação de infância é uma profissão digna, que pode ser exercida tanto por mulhe- res como por homens. Hoje, ele trabalha com uma turma de 45 crianças, com quatro e cinco anos, no Centro Infantil “Bolinhas”. O trabalho do “Tio Baptista”, como é carinhosamente tra- tado, vai para além do pro- cesso de ensino. Ele dança, salta, pinta, grita e faz piruetas com as crianças. Apesar de ser homem, garante que é fácil ser edu- cador infantil e assegura que as crianças sentem-se à von- tade com ele. Baptista Domingos apenas não muda as fraldas das crianças, na medida em que esta tarefa é da inteira responsabilidade das vigilantes do berçário. Ele orienta e acompanha a hora das refeições, do sono e da higiene das crianças. O trabalho do “Tio Bap- tista” começa logo pela manhã, com a ginástica mati- nal, que envolve jogos, a len- galenga (uso repetido de palavras ou rimas) e histórias, que estimulam o lado físico e psico-emocional das crian- ças, assim como desenvolve as suas capacidades de ima- ginação e interpretação. Depois, seguem-se as actividades dirigidas, onde aprendem sobre comunica- ção linguística, matemática, meio físico e social e edu- cação musical. “Se falamos de um animal, então somos obrigados a cantar sobre esse animal, trabalhar com ilus- trações, gestos, ou mostrar o próprio animal, para que as crianças aprendam com mais facilidade”, explicou. Pai de quatro meninas, “Tio Baptista” reconhece que a experiência adquirida ao longo da formação e como educador tem ajudado a lidar com as filhas em casa. “Lidar ou cuidar de crianças não é difícil. É preciso muita dedi- cação e paciência”, refere. Baptista Domingos defende uma aposta séria no ensino pré-escolar e uma melhor remuneração do edu- cador de infância. “Somos mal remunerados”, queixa- se, acrescentando que até os educadores de infância licenciados ainda auferem salários baixos. A directora do Centro Infantil das “Bolinhas”, Domingas Sete Gomes, afir- mou que têm recebido mui- tos educadores de infância como estagiários, vindo do Centro de Formação Tec- nológica do Rangel (Cinfo- tec), de Cacuaco e do Centro Dom Bosco. Formação de educadores de infância A Escola de Formação Básica de Técnicos de Serviço Social formou, em seis meses, 350 técnicos básicos de Educação de Infância, dos quais dez são homens. Depois do está- gio, poucos conseguiram um posto de trabalho definitivo. Feliciano Neto, formador do curso de Educadores Pré- escolares, disse que a escola recebia mais candidatos do sexo masculino para o curso de educador de infância quando existia o sistema de internato. Devido à crise económica e financeira que o país atravessa, a instituição recebe apenas formandos externos. “Este ano, a escola tem oito homens a fazerem o curso de Educador de Infância, com a duração de seis meses”, disse. Feliciano Neto considera que os homens são melhores educadores de infância que muitas mulheres, mas estas acabam por se destacar devido ao seu carinho e à sua sensibilidade, que acaba por influenciar na hora de admissão para o emprego. “Mas os homens têm tido as melhores referências no processo de ensino durante os estágios”, referiu. Mais atenção Feliciano Neto defende que o Executivo, através do Minis- tério da Educação, que agora passa a tutelar o Ensino Pré- escolar, deve dar maior aten- ção a este nível de ensino. “As debilidades nos ensinos subsequentes devem-se à falta de aposta no ensino pré- escolar. Uma criança que passa pelo pré-escolar tem melhor aproveitamento nas classes seguintes”, referiu. Feliciano Neto apela ao Ministério da Educação que invista cada vez mais em técnicos formados na área. “É bom ser educador”, disse, referindo que os pais não fazem ideia da marca que um educador deixa na vida das crianças. DIA NACIONAL DO EDUCADOR Baptista Domingos virou protector de infância Há mais de 20 anos, Baptista Domingos, 45 anos, dedica-se à educação de infância, uma actividade que muitos consideram ser para mulheres. Numa altura em que o país assinala o Dia Nacional do Educador, que hoje se comemora, a reportagem do Jornal de Angola conta a história de vida de uma pessoa que deixou para trás a profissão de protecção física para cuidar de crianças 10 DESTAQUE Sexta-feira 22 de Novembro de 2019 Os educadores de infân- cia têm como maiores desafios ter uma tabela salarial definida a nível da sua uniformização, e o acesso aos materiais didácticos, uma vez que o curso é novo e há pouco conteúdo no país, bem como a criação de cursos de mestrado e doutoramento, o acesso ao emprego e mais cen- tros infantis públicos e escolas de formação. Feliciano Neto disse, quanto à sua actividade, que o normal é um edu- cador ter sob seus cui- dados entre 20 ae25 crianças por sala. Mas, acrescentou, tal não acontece, principalmente nos centros públicos, devido à demanda. Segundo referiu, o edu- cador de infância defende maior fiscalização da acti- vidade, principalmente nas instituições privadas, que admitem e despen- dem os funcionários sem cumprir os requisitos da Lei Geral do Trabalho. Desafios Feliciano Neto disse que um educador de infância deve ser sensível, prestativo, criativo, carinhoso, amoroso e, acima de tudo, ter um alto sentido de humanismo, na medida em que não é fácil lidar com crianças. “A nível de competên- cias, o candidato deve ter um conhecimento vasto sobre sociedade e natureza. Ser responsável, porque vai trabalhar e transmitir valores a uma faixa crucial do desenvolvimento do homem. Tem de ser uma pessoa com boas capaci- dades intelectuais; mentais. Não pode ser alguém que acarreta problemas emo- cionais, porque pode afec- tar a criança”, sublinhou. Os educadores de infância são preparados para traba- lhar com crianças dos 0 aos cinco anos, no Ensino Pré- escolar. Um dos critérios para frequentar o curso de Educador Infantil, na Escola de Formação de Técnicos Básicos de Serviço Social, é ter o curso de Vigilante de Infância e ser técnico médio e para o curso básico de Vigi- lante é ter até a nona classe. Perfil do educador de infância Apesar de ser homem, garante que é fácil ser educador infantil e assegura que as crianças sentem- se à vontade com ele. Baptista Domingos apenas não muda as fraldas das crianças, na medida em que esta tarefa é da inteira responsabilidade das vigilantes do berçário CONTREIRAS PIPA | EDIÇÕES NOVEMBRO CONTREIRAS PIPA | EDIÇÕES NOVEMBRO CONTREIRAS PIPA | EDIÇÕES NOVEMBRO Formador Feliciano Neto defende uma melhor remuneração Baptista Domingos é o único educador de infância do Centro Infantil das “Bolinhas” no bairro Nelito Soares, no Distrito Urbano do Rangel

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Nilza Massango

Antes de ser educador deinfância, Baptista Domingosfoi protecção física no CentroInfantil das “Bolinhas”, nobairro Nelito Soares, DistritoUrbano do Rangel. A rotina eos cuidados a ter com as crian-ças no centro, despertaramnele o interesse de fazer carreiracomo educador infantil.

Determinado a atingir osseus objectivos, fez o cursobásico de Educador Socialno Instituto de Ciências Reli-giosas (ICRA) e, nesta altura,é estudante do curso de Edu-cação Infantil, no InstitutoSuperior de Serviço Social.Apesar da zombaria e dascríticas dos amigos, BaptistaDomingos sublinha que aeducação de infância é umaprofissão digna, que podeser exercida tanto por mulhe-res como por homens.

Hoje, ele trabalha comuma turma de 45 crianças,com quatro e cinco anos, noCentro Infantil “Bolinhas”.O trabalho do “Tio Baptista”,como é carinhosamente tra-tado, vai para além do pro-cesso de ensino. Ele dança,salta, pinta, grita e faz piruetascom as crianças.

Apesar de ser homem,garante que é fácil ser edu-cador infantil e assegura queas crianças sentem-se à von-tade com e le . Bapt i s taDomingos apenas não mudaas fraldas das crianças, namedida em que esta tarefaé da inteira responsabilidade

das vigilantes do berçário.Ele orienta e acompanha ahora das refeições, do sonoe da higiene das crianças.

O trabalho do “Tio Bap-tista” começa logo pelamanhã, com a ginástica mati-nal, que envolve jogos, a len-galenga (uso repetido depalavras ou rimas) e histórias,que estimulam o lado físicoe psico-emocional das crian-ças, assim como desenvolveas suas capacidades de ima-ginação e interpretação.

Depois, seguem-se asactividades dirigidas, ondeaprendem sobre comunica-ção linguística, matemática,meio físico e social e edu-cação musical. “Se falamosde um animal, então somosobrigados a cantar sobre esseanimal, trabalhar com ilus-trações, gestos, ou mostraro próprio animal, para queas crianças aprendam commais facilidade”, explicou.

Pai de quatro meninas,“Tio Baptista” reconhece quea experiência adquirida aolongo da formação e comoeducador tem ajudado a lidarcom as filhas em casa. “Lidarou cuidar de crianças não édifícil. É preciso muita dedi-cação e paciência”, refere.

B ap t i s t a Dom ingo sdefende uma aposta sériano ensino pré-escolar e umamelhor remuneração do edu-cador de infância. “Somosmal remunerados”, queixa-se, acrescentando que atéos educadores de infâncialicenciados ainda auferemsalários baixos.

A directora do CentroInfantil das “Bolinhas”,Domingas Sete Gomes, afir-mou que têm recebido mui-tos educadores de infânciacomo estagiários, vindo doCentro de Formação Tec-nológica do Rangel (Cinfo-tec), de Cacuaco e do CentroDom Bosco.

Formação de educadores de infânciaA Escola de Formação Básicade Técnicos de Serviço Socialformou, em seis meses, 350técnicos básicos de Educaçãode Infância, dos quais dezsão homens. Depois do está-gio, poucos conseguiram umposto de trabalho definitivo.

Feliciano Neto, formadordo curso de Educadores Pré-escolares, disse que a escolarecebia mais candidatos dosexo masculino para o cursode educador de infância

quando existia o sistema deinternato. Devido à criseeconómica e financeira queo país atravessa, a instituiçãorecebe apenas formandosexternos. “Este ano, a escolatem oito homens a fazeremo curso de Educador deInfância, com a duração deseis meses”, disse.

Feliciano Neto consideraque os homens são melhoreseducadores de infância quemuitas mulheres, mas estasacabam por se destacardevido ao seu carinho e àsua sensibilidade, que acabapor influenciar na hora deadmissão para o emprego.

“Mas os homens têm tidoas melhores referências noprocesso de ensino duranteos estágios”, referiu.

Mais atenção Feliciano Neto defende queo Executivo, através do Minis-tério da Educação, que agorapassa a tutelar o Ensino Pré-escolar, deve dar maior aten-ção a este nível de ensino.“As debilidades nos ensinossubsequentes devem-se àfalta de aposta no ensino pré-escolar. Uma criança quepassa pelo pré-escolar temmelhor aproveitamento nasclasses seguintes”, referiu.

Feliciano Neto apela aoMinistério da Educação queinvista cada vez mais emtécnicos formados na área.“É bom ser educador”, disse,referindo que os pais nãofazem ideia da marca queum educador deixa na vidadas crianças.

DIA NACIONAL DO EDUCADOR

Baptista Domingos virouprotector de infância

Há mais de 20 anos, Baptista Domingos, 45 anos, dedica-se à educação deinfância, uma actividade que muitos consideram ser para mulheres. Numaaltura em que o país assinala o Dia Nacional do Educador, que hoje se

comemora, a reportagem do Jornal de Angola conta a história de vida de uma pessoa que deixou para trás a profissão de

protecção física para cuidar de crianças

10 DESTAQUE Sexta-feira22 de Novembro de 2019

Os educadores de infân-cia têm como maioresdesafios ter uma tabelasalarial definida a nívelda sua uniformização, eo acesso aos materiaisdidácticos, uma vez queo cu r so é novo e hápouco conteúdo no país,bem como a criação decursos de mestrado edoutoramento, o acessoao emprego e mais cen-tros infantis públicos eescolas de formação.

Feliciano Neto disse,quanto à sua actividade,

que o normal é um edu-cador ter sob seus cui-dados entre 20 ae25crianças por sala. Mas,acrescentou, tal nãoacontece, principalmentenos centros públicos,devido à demanda.

Segundo referiu, o edu-cador de infância defendemaior fiscalização da acti-vidade, principalmentenas instituições privadas,que admitem e despen-dem os funcionários semcumprir os requisitos daLei Geral do Trabalho.

Desafios

Feliciano Neto disse queum educador de infânciadeve ser sensível, prestativo,criativo, carinhoso, amorosoe, acima de tudo, ter um altosentido de humanismo, namedida em que não é fácillidar com crianças.

“A nível de competên-cias, o candidato deve terum conhecimento vastosobre sociedade e natureza.Ser responsável, porquevai trabalhar e transmitirvalores a uma faixa crucialdo desenvolvimento dohomem. Tem de ser umapessoa com boas capaci-

dades intelectuais; mentais.Não pode ser alguém queacarreta problemas emo-cionais, porque pode afec-tar a criança”, sublinhou.

Os educadores de infânciasão preparados para traba-lhar com crianças dos 0 aoscinco anos, no Ensino Pré-escolar. Um dos critériospara frequentar o curso deEducador Infantil, na Escolade Formação de TécnicosBásicos de Serviço Social, éter o curso de Vigilante deInfância e ser técnico médioe para o curso básico de Vigi-lante é ter até a nona classe.

Perfil do educador de infância

Apesar de ser homem, garante que é fácil sereducador infantil e assegura que as crianças sentem-

se à vontade com ele. Baptista Domingos apenasnão muda as fraldas das crianças, na medida

em que esta tarefa é da inteira responsabilidadedas vigilantes do berçário

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Formador Feliciano Neto defende uma melhor remuneração

Baptista Domingos é o único educador de infância do Centro Infantil das “Bolinhas” no bairro Nelito Soares, no Distrito Urbano do Rangel

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Sexta-feira22 de Novembro de 2019

César Esteves

Moradora da centralidadedo Kilamba, “Tia avó”, comoé carinhosamente tratadapelos mais próximos, gastadiariamente mil kwanzaspara deslocar-se ao seu localde trabalho. Este dinheiro,multiplicado por 22 dias úteisde trabalho, dá 22 mil kwan-zas, por mês, gastos com otransporte. Para atender assuas necessidades, restam-lhe apenas 46 mil kwanzas.“O nosso salário é muitobaixo”, desabafou.Embora seja educadora deinfância, o salário que agoraaufere é de uma vigilante.“O salário de uma educadorade infância varia entre 80 e90 mil kwanzas”, disse,acrescentando: “trabalhamosmais por amor à camisola”.

Aliado a isso, prosseguiu,está o facto de não bene-ficiarem de consultas médi-cas. Natural de Luanda, “Tiaavó” aponta que essas,entre outras, situações des-motiva muitas pessoasabraçar a profissão de edu-cadora de infância.

“O nosso trabalho aindanão é valorizado, emboradependa dele a formação debase das crianças”, lamentou.

Apesar disso, não pretendedeixar a profissão que muitoama. “É algo que sempredesejei fazer”, realçou, comum sorriso nos lábios.

O interesse pelo trabalhocomeçou em casa, quandotinha 14 anos. A mãe, impos-sibilitada de cuidar de umirmão mais novo, devido aotrabalho, deixava essa res-ponsabilidade com ela. Desse

contacto permanente, nasceuo amor por crianças.

Após ter completado 18anos, decidiu procurar porum emprego que lhe dessea possibilidade de trabalharcom crianças. Nessa altura,em 1987, ouviu falar do Cen-tro Infantil das “Bolinhas”,no Nelito Soares. Sem perdertempo, deslocou-se até lá,falou com os responsáveise, surpreendentemente, foiadmitida para trabalhar comovigilante, função exercidadurante sete anos. “Mas antesfui submetida a um teste deavaliação, com a duração deum mês”, lembra.

Apostada em aprendermais sobre o trabalho quefazia, começou a frequentar

uma formação de educadorade infância, uma vez não dis-por de nenhuma desde quefoi admitida. “A formaçãoteve a duração de três mesese foi ministrada por espe-cialistas cubanos”, frisou.

Nessa formação aprendeua cantar e a tratar melhor ascrianças dos dois aos cincoanos. Naquela altura, aindavivia no bairro Tala Hady,município do Cazenga. Coma frequência dessa formação,foi promovida para exercera função de educadora deinfância, mas, infelizmente,não ganha como tal.

Jornada laboralA primeira actividade querealiza, quando chega ao

centro, é a ginástica matinal.O objectivo dessa actividade,que é acompanhada de umamúsica, cuja letra envolvepartes do corpo humano,é proporcionar boa dispo-sição às crianças. Depoisda ginástica, as criançasentoam o Hino Nacional.“As crianças devem sabercantar o Hino Nacionaldesde cedo”, realçou.

As actividades continuamcom a lavagem das mãospara o pequeno-almoço.Terminado o pequeno-almoço, começam as aulastemáticas e independentes,seguida do almoço. Depoisdesse momento, as criançasfazem um repouso que vai atéàs 15h00, período em que

começam a preparar-se pararegressar a casa. A jornadalaboral de “Tia Avó”, quecomeça às sete horas, terminaàs 16 horas.

Fruto da experiência acu-mulada ao longo dos anos, “Tiaavó” nota, através de leiturasfaciais, quando uma criançapassa por algum problema. Àreportagem do Jornal de Angola,Domingas Sardinha Borgescontou que, durante exercícios,notou que uma criança estavabastante desanimada. Depoisde uma conversa, acrescentou,a criança revelou estar tristepor ter presenciado uma brigaentre os pais. “A criança disse-me que o pai havia expulsadoa mãe de casa, depois de terembrigado”, disse.

“Tia avó” reconheceunão ser fácil desempenharas funções de educadora deinfância, mas com o tempoacaba por se tornar fácil.Admitiu ser mais difícillevar uma criança a apren-der a segurar o lápis. “Ascrianças saem daqui já aescrever”, garantiu.

Hoje, apaixonada pelotrabalho que faz, diz nãogozar totalmente a sua licençadisciplinar, sem tirar algunsdias para ir ao centro infantilpara ver as crianças. Domin-gas Sardinha Borges revelouque hoje cuida de crianças,cujos pais também estiveramsob seus cuidados na infân-cia. “Quase sempre que medirijo às instituições, soureconhecida por pessoas queestiveram sob os meus cui-dados”, aclarou.

A directora do CentroInfantil, Domingas SeteGomes, considera “Tia Avó”uma trabalhadora exemplare uma referência para todasas funcionárias. “Pretende-mos colocá-la como coor-denadora pedagógica. Elatem carácter e é uma fun-cionária muito dedicada. Éexemplar e referência paratodas nós. É uma peça fun-damental da casa”, disse.

Embora Domingas Sardi-nha Borges esteja quase a irpara a reforma, a directorado Centro Infantil disse contarainda com ela, devido a suaexperiência.“Tia Avó, pelasua personalidade e o papelque desempenha como edu-cadora de infância, continuaa ser a mesma. Não muda.Sabes que trabalhamos poramor à profissão. Continuaa ser esta pessoa especial”.

A 22 de Novembro de 1977,o primeiro Presidente deAngola, António AgostinhoNeto, declarou aberta a cam-panha de alfabetização, nafábrica Textang II, em Luanda,e ficou na História do paíscomo data consagrada ao pro-fessor e, em 1978, foi institu-cionalizado como Dia Nacionaldo Educador.

Esta data constitui umaimportante ocasião para asautoridades afins, os educadorese os discentes reflectirem sobreos principais problemas do sec-tor, visando encontrar fórmulasou modelos eficazes e eficientespara a sua superação.

Reconhecendo o papel doprofessor como elemento pre-ponderante na comunidadee agente activo do desenvol-vimento social, a melhoria dassuas condições impõem-se

como uma obrigação de todaa sociedade, em geral, e dasinstituições governamentais,em particular.

Ser educador é uma dasprofissões mais antigas e maisimportantes pelo seu papelna formação do cidadão.

Crianças e adolescentesnecessitam de modelos parase construírem na sua liber-dade e serem autónomos. Nosprimeiros anos de vida, osmodelos, as referências, sãoos pais; posteriormente, osmodelos são buscados naescola, na sociedade.

Certas coisas só se apren-dem na escola, com a media-ção de um ser mais experiente:

o professor. Os professoressão como mestres que levampela vida afora, que ensinamo saber da vida num quadrode giz.

Ser professor hoje é vivero seu tempo com sensibilidadee consciência, precisa saberlidar com as diferenças, terflexibilidade e ajudar o seualuno a reflectir, é ser umemancipador do saber.

O professor é um parceirode visão e experiência na cons-trução do conhecimento,assumindo o papel de pro-motor, orientador, mediador,motivador e gestor da apren-dizagem, deve ser fonte demotivação para o aluno. Como

promotor da aprendizagem,facilita o acesso aos dadose informações, ao conheci-men to a cumu lado pe l asociedade, orientando, exe-cutando e avaliando eventos,experiências e projectos,para que ocorra a construçãodo conhecimento.

A sociedade e, principal-mente, o poder público devemconvencer-se de que necessi-tam de professores bem pre-parados e capacitados paraque a educação melhore.

A humanidade precisa deeducadores com visão eman-cipada, que possibilitem trans-formar as informações emconhecimento e em consciên-cia crítica, para formar cida-dãos sensíveis e que busquemum mundo mais justo, maisprodutivo e mais saudávelpara todos.

Dia Nacional do Educador

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DESTAQUE

Depois de 32 anos dedicados a educação de infância, Domingas Sardinha Borges viu o seu salário passar de 36mil para 68 mil kwanzas. Hoje, aos 50 anos, ela continua a trabalhar no Centro Infantil das “Bolinhas”,

no bairro Nelito Soares, em Luanda, onde chegou há mais de três décadas, como vigilante

“TIA AVÓ”

Educadora de infânciacom salário de vigilante

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