Diagnóstico Demográfico, Socioeconômico e sobre Juventude ... DA JUVENTUDE Esteio... ·...
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Diagnóstico Demográfico, Socioeconômico e sobre Juventude do
Município de Esteio – RS
Coordenação
Dr. Carlos A. Gadea Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais – Unisinos
Pesquisador do CNPq Observatório Juvenil do Vale
Gabinete do Prefeito Coordenadoria de Juventude
Secretaria Municipal de Educação e Esporte
Equipe de Pesquisa
Msc. Marcia da Silva Cezar José Silón Ferreira
Fátima Sabrina da Rosa Jaqueline da Rosa
Dr. Hilário Dick
Esteio - abril de 2011
2
INTRODUÇÃO
É durante a juventude quando se dá início um processo continuado de tomada de
decisões que determinarão em forma concreta o futuro social das pessoas e das
sociedades. Também onde confluem as diferentes heranças culturais, sociais e
familiares para conformar processos de individualização e subjetivação concretos,
fatores centrais na constituição de sociedades modernas e democráticas. Por isso, as
políticas públicas destinadas à juventude se tornam necessárias e imprescindíveis
para atingir a equidade e o desenvolvimento humano, valores fundamentais de
sociedades orientadas a partir dos ideais de justiça social.
A partir de um processo coletivo de planejamento e consultas, decidiu-se traçar e
elaborar os lineamentos gerais do presente “Diagnóstico Demográfico, Sócio-
econômico e sobre Juventude do Município de Esteio – RS”, desenvolvido no
decorrer do ano de 2010 e inícios de 2011. O objetivo central é a realização de um
diagnóstico acerca da situação social e cultural dos jovens do município de Esteio–
entre os 10 e os 29 anos a partir de análises de dados quantitativos e qualitativos. As
variáveis temáticas abordadas se vincularam ao perfil sócio-demográfico e condição
familiar, o “ser jovem”, aos valores e referências pessoais, o trabalho, a cultura e
lazer, a percepção da educação/escola e à violência.
Para tais fins, o presente Diagnóstico parte de duas premissas analíticas
orientadoras: a primeira, que os jovens, na atualidade, enfrentam uma maior
dificuldade que as anteriores gerações na transição desde a saída da escola para o
ingresso ao mercado de trabalho, e a segunda, que estes jovens convivem com um
sentimento crescente de insegurança e incerteza concomitante a uma maior
exposição com a violência urbana, os riscos contemporâneos da vida social e os
desafios surgidos na construção das suas identidades individuais. Obviamente, estas
premissas não pretendem desconsiderar a heterogeneidade das condições objetivas
das suas vidas particulares, assim como das suas preferências individuais e as
referências culturais. Não obstante, existem aspectos comuns e generalizáveis que
podem permitir identificar princípios para a elaboração de políticas públicas para a
juventude. Destaca-se o relacionado às tecnologias da informação e a comunicação
3
(TICs), muito valorizadas entre os jovens. Por exemplo, as TICs podem se
constituir em ferramentas indispensáveis na capacitação, socialização e para o
encontro produtivo e socialmente integrador entre os jovens. Também é interessante
destacar a valorização dos espaços físicos e ambientes de inter-relação social,
levando a favorecer a existência de espaços públicos comuns para a construção de
oportunidades de convivência e contato entre aqueles de estratos sociais,
econômicos e culturais diferentes. Uma preocupação surge nesse sentido: a que se
vincula com a violência e a insegurança, associado ao tema do meio ambiente. Com
relação aos processos de “socialização primária”, os jovens, em geral, não parecem
buscar a confrontação direta no espaço familiar. Não descartam as experiências de
vida da geração anterior; muito contrariamente, parecem valorizar o diálogo com os
adultos próximos sobre os mais variados temas, fundamentalmente com os pais e os
professores. Não obstante, trata-se de jovens que não mantém um olhar conservador
nem medroso sobre o mundo: entusiasmam-se com o mundo interconectado, com
os processos de globalização cultural, as inovações tecnológicas e com as cidades
“mais abertas”, suscitando maior visibilidade e encontros.
O presente Diagnóstico busca alimentar a reflexão e gerar um debate que contribua
a superar eventuais problemas e suscitar uma visão compartilhada acerca dos jovens
no município de Esteio. Seu marco conceitual tem como referência uma revisão
crítica da literatura sobre o tema, enfatizando os aspectos relacionados com as
mudanças culturais, as sociabilidades e a construção das identidades juvenis. Numa
primeira instância, realizaram-se pesquisas relacionadas ao cenário urbano em
questão, obtendo conhecimentos gerais sobre a realidade sócio-espacial do
município (população, dados sócio-econômicos, emprego/desemprego, educação e
violência). A segunda etapa da pesquisa consistiu numa análise da situação sócio-
cultural dos jovens do município a partir da aplicação de um questionário com 68
perguntas que foram respondidas, proporcionalmente, de acordo às diferentes faixas
etárias de interesse. Uma série de reflexões finais conduziram a elaborar algumas
considerações relevantes para a implementação de políticas públicas dirigidas à
população jovem do município, considerando como foco principal de atenção,
medidas tendentes a uma melhoria na qualidade do convívio social entre os jovens e
o seu entorno.
4
Para compreender, em grandes linhas, o contexto urbano da pesquisa, resulta
importante destacar que a Região Metropolitana de Porto Alegre é das que mais tem
crescido nos últimos vinte anos no país. Como exemplo, o crescimento da sua
população é sintomático de uma transformação dos padrões urbanos
contemporâneos, tendo como principal característica um “eixo viário”, como a BR-
116, que atravessa uma série de cidades de considerável importância espacial e
sócio-econômica. Enquanto cidades como São Leopoldo e Novo Hamburgo têm
assumido características de cidade de médio e grande porte, outras, como Esteio,
experimentam um processo de desenvolvimento urbano muito especial. Além da
crescente importância sócio-econômica, o crescimento demográfico acelerado
evidenciou, talvez, a mais importante característica do município: a alta
concentração populacional – em 28 km² reside 80.669 habitantes (IBGE, 2010). Isto
significa que o município de Esteio tem aproximadamente 2.900 habitantes por
Km², um índice considerado bastante alto.
Estudos urbanos clássicos, como os desenvolvidos pela denominada Escola de
Chicago a fins do século XIX e início do XX, têm apontado para os problemas
urbanos decorrentes desta característica. O principal, a violência intersubjetiva,
define-se como desencadeada pela evidente proximidade espacial dos habitantes. O
segundo problema, e talvez mais preocupante, refere-se à delinqüência juvenil,
produto não só da proximidade aludida, mas também do perfil sócio-econômico de
cidades de pequeno porte que apresentam certas dificuldades de integração social
por meio do trabalho e da educação (fatores integradores por excelência). Sendo
assim, o município de Esteio propõe um desafio duplo: compreender como, ao ser
tão pequeno espacialmente, lida com os impulsos modernizadores do conjunto da
região metropolitana e, decorrente disso, compreender como a sua juventude lida
com uma realidade sócio-espacial muito contraditória, a saber: um ritmo urbano
“em aparência” ainda rural, e um ritmo social e econômico que parece reconstruir
os laços sociais primários e redefinir aqueles laços secundários de sociabilidade.
O presente diagnóstico parte de algumas premissas conceituais como eixo de
análise, a saber: valores individuais e sociais, sociabilidade urbana, representações
sobre o tempo e o espaço, representações sobre o mundo exterior e a construção da
própria subjetividade e questões de gênero e idade. A estas premissas se soma outra
5
de caráter contextual, relacionada com a pretensão de não perder de vista as
particularidades do município de Esteio, município inserido numa região
metropolitana de consideráveis dimensões espaciais, populacionais e de incessante
dinâmica urbana. Assim, a compreensão do universo sócio-cultural da juventude a
partir dos esforços representacionais estão pautados por uma noção “relacional” do
social, ou seja, de uma noção em que o ambiente (espacial e temporal) é
determinante nas percepções que os indivíduos realizam sobre sua condição sócio-
cultural e sobre os elementos valorativos inerentes a sua vivência enquanto jovens.
NOTAS METODOLÓGICAS
Na primeira etapa do diagnóstico se tratou das condições objetivas em que vive a
juventude de Esteio. Pesquisaram-se dados secundários sobre o município, obtidos
em várias fontes estatísticas (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE,
Fundação de Economia e Estatística do Estado de Rio Grande do Sul – FEE e
Ministério do Trabalho e o Emprego – MTE) referentes a variáveis demográficas,
sócio-econômicas, educativas, sobre trabalho e violência (considerando grupos de
idade, sexo e cor ou raça).
Na segunda etapa o diagnóstico teve como foco central pesquisar as dimensões
subjetivas da condição juvenil a partir da visão dos próprios jovens, sobre o
momento em que vivem e o seu espaço ocupado na sociedade atual. Nessa
perspectiva, foram contemplados seis (6) blocos temáticos: perfil sócio-
demográfico e condição familiar, ser jovem, valores e referências pessoais,
trabalho, cultura e lazer, percepção da educação/escola e violência. Realizou-se um
questionário com sessenta e oito (68) perguntas, tendo em algumas a possibilidade
de escolher-se até mais de uma opção de resposta. Consideraram-se, dessa maneira,
as escolhas mais recorrentes pelos entrevistados, excluindo nos dados coletados
aquelas que não foram citadas com expressiva freqüência. De um universo de 500
entrevistas aplicadas, foram analisadas 329, excluindo as outras 171 por
incompatibilidades na aplicação técnica. As entrevistas foram aplicadas durante os
6
meses de setembro de 2010 e janeiro de 2011, distribuídas por regiões geográficas
do município e grupos etários, a saber: 10-14, 15-17, 18-20, 21-24, 25-29 anos.
O universo representado corresponde a uma amostragem geral, e a uma que atende
o cruzamento entre as variáveis sexo e grupo etário, subdivisões que possibilitam
estratificar as respostas e os posteriores resultados a serem analisados. Como em
pesquisa por amostragem os números (em %) não têm a precisão que aparentam,
lembre-se que os parâmetros estatísticos que devem orientar uma análise dos dados
sempre apresentam desajustes que, embora não conspirem com a análise, não
devem ser negligenciados no momento de olhar as freqüências nas respostas a partir
de um ponto de vista meramente quantitativo. O enfoque qualitativo do presente
diagnóstico mede situações vitais individuais e situações sócio-culturais em função
de “tendências”, cuja base explicativa descansa na capacidade de perceberem-se os
“ritmos” valorativos do objeto pesquisado.
TEMA E MARCO ANALÍTICO
As experiências individuais dos jovens atuais tendem a ser caracterizadas a partir de
um novo panorama sócio-cultural. À estabilidade de outrora lhe substitui a incerteza
com o futuro e o risco nas vivencias cotidianas, chamando a atenção para o
imprescindível gesto por compreender novos questionamentos teóricos na
problematização dos modelos de transição para a vida adulta. Não se esgotando
numa simples “transição” cronológica na vida individual, trata-se de uma noção, o
da juventude, que remete a particularidades nos processos de individualização, tanto
com relação a valores e atitudes especificas quanto às estratégias operacionalizadas
na negociação dos caminhos para a vida futura. Várias pesquisas1 têm apontado a
emergência de modos reflexivos e criativos de construção biográfica, assim como a
adoção de éticas de vida mais expressivas (e menos participativas, no sentido
político clássico), conviviais e “hedonistas”, especialmente quando se faz referência
à importância atribuída a valores como a autonomia, a diversão e a experimentação.
1 ABRAMO, Helena Wendel e MARTONI BRANCO, Pedro Paulo (Org). Retratos da juventude brasileira. Análises de uma pesquisa nacional, São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2005.
7
Em grandes linhas, a sociologia da juventude se desenvolveu a partir de dois eixos
analíticos: em primeiro lugar, um eixo que procura definir e compreender as
características convergentes da juventude como categoria social generalizável, e
em segundo lugar, um eixo analítico que enfatiza as características divergentes que
configuram as diversas juventudes como grupos culturais autônomo, aderindo à
sentença da existência de múltiplas juventudes. Muitas preocupações de
pesquisadores e agentes políticos enfrentados com os atuais processos sociais de
transformação do mercado de trabalho, o sistema de ensino e as dinâmicas
familiares têm apontado da mesma forma, a necessidade de observar o que
representa o “prolongamento da juventude” como fase de vida2, o que se tem
denominado “geração suspensa”. Não obstante, esta idéia, freqüentemente
associada às dificuldades próprias da transição à vida adulta, parte de pressupostos
um tanto questionáveis: aquele que parte do princípio de que os jovens querem ser
adultos de forma compulsiva e, por outro lado, aquele que considera possível
“objetivar” com dados e eventos identificáveis a transição etária. Estes pressupostos
se deslegitimam num cenário de acentuada singularização de trajetórias e
comportamentos juvenis, desencadeando, conseqüentemente, a eliminação das
fronteiras simbólicas da juventude como grupo especifico.
A representação da juventude como fase da vida também é questionada pelas novas
mudanças sociais e econômicas, afetando a todos os grupos etários e, muito
especialmente, as novas gerações. Estas têm sido confrontadas, de maneira
particular, com a erosão de certos marcos de referências culturais historicamente
legitimados, muito especialmente com aqueles ligados aos mecanismos de
socialização e transição para a vida adulta. As referências culturais que serviam
como fios condutores das condutas e das trajetórias individuais se têm enfraquecido
sensivelmente: as transformações no mercado de trabalho (flexibilização,
precarização e imprevisibilidade), nas estruturas familiares (pluralização das formas
de organização familiar, o crescimento dos divórcios, etc.) e as novas dinâmicas
associadas ao consumo são exemplos disso. Esses fatos parecem ter pressionado os
jovens atuais a realizar usos ativos da sua capacidade de reflexividade individual
2 Por exemplo, ao prolongar a estadia na casa dos pais, adiantando a assunção plena do estatuto de adulto.
8
para criar novos estilos de vida e elaborar novas identidades, numa multiplicidade
de opções disponíveis ou inventadas. Claro está que as “escolhas racionais”
realizadas pelos jovens não podem ser consideradas fundamentos centrais da sua
vida social, já que a vida coletiva supõe, antes de tudo, limitações estruturais
(econômicas, políticas, normativas). De fato “ação” e “estrutura”, e a maneira como
ambas se articulam nas sociedades atuais, devem ser levadas em conta no momento
da análise das sociabilidades juvenis contemporâneas. Desta maneira, as trajetórias
juvenis devem ser contempladas pela perspectiva de um processo de
individualização estruturada sob os condicionamentos e limitações que nos impõe a
vida coletiva.
Um eventual exemplo dos “poderes de coerção” social contemporâneo e que impera
sob a lógica da sedução é a mídia. A diagramação dos programas de TV, dos jornais
diários e da publicidade é orientada por expectativas construídas pelo mundo adulto
sobre o que seria importante para os jovens. Nesse universo representacional, os
jovens são “filtrados” por adjetivações que, em muitas ocasiões, misturam
elementos negativos, estigmatizações e construções identitárias com evidente tom
discriminatório. Assim, na atualidade, parece que os meios de comunicação
apresentam duas opções sobre a construção simbólica da juventude: por um lado,
ancorada no universo da moda e da publicidade, e por outro, ligado à violência e à
delinqüência. No primeiro caso, assiste-se a uma espécie de colonização da mídia
dos estilos estéticos juvenis pelo sistema da moda e do marketing, em
correspondência à noção de consumismo impulsionado pela indústria cultural. No
segundo caso, assiste-se a um movimento generalizado em que a mídia constrói um
retrato da juventude com base ao “perigo urbano”, a violência e à insegurança.
De todas as maneiras, o olhar sobre a juventude contemporânea não pode cair
nestas simplificações interpretativas, e muito menos em manipulação oportunista
dos meios de comunicação. As sociedades contemporâneas são demasiado
diferenciadas e policontextuais, e onde as experiências dos jovens devem ser
analisadas a partir de múltiplas filiações identitárias correspondentes a necessidades
e negociações contínuas no seu cotidiano. Múltiplos mundos sociais desenham
múltiplas experiências sobre o ser jovem. Daí que a singularização das experiências
de vida dos jovens remete à especificidade de contextos e às múltiplas
9
oportunidades e estratégias elaboradas para o melhor convívio social, chamando a
atenção para os processos de mudança nas sociabilidades e nas suas formas que elas
começam a adquirir. Conseqüentemente: qual é o “olhar” privilegiado para análise
da experiência social e das formas das sociabilidades da juventude na atualidade?
Como resultado das novas tensões, frustrações, ansiedade e contradições da
juventude contemporânea, começa a esboçar-se uma sociabilidade marcada por uma
tipificação nova: a neotribalização3. Durante o anos 80 e 90, começa a perceber-se
que a neotribalização responde a um fenômeno complexo, de crescente
expressividade. Ela se apresentava como resposta social e simbólica à excessiva
racionalidade burocrática, ao isolamento individual urbano e à frieza de uma
sociedade competitiva. Adolescentes e jovens pareciam sentir, nas tribos, a
possibilidade de encontrar uma nova via de expressão, uma maneira de distanciar-se
da “normalidade” que não os satisfazia e, além disso, a ocasião de intensificar suas
vivências pessoais e encontrar um núcleo gratificante de afetividade. Como diria
Maffesoli4, a sociabilidade em transição que nos sugere este processo de
neotribalização anuncia a passagem de uma ordem e princípio comunicacional e
simbólico individualista para um relacional e, de forma análoga, a passagem de um
princípio político para outro, de caráter estético.
A estética contemporânea encontra uma forma de realização no estilo relacional,
numa sequência de co-presenças: com os diferentes ambientes de interação e seus
consequentes valores enraizados. A neotribalização sugere, então, uma reivenção de
elementos arcaicos ou pulsões primárias, no mais estrito critério não-individualista
da sociedade. Compreende que a busca de um espaço comunitário redefine o
indíviduo que só tem valor em função do grupo ao qual se integra. A transição
parece clara: de um princípio político para um princípio estético e relacional5 e, por
conseguinte, de uma geração “apolínea” para uma geração “dionísiaca”.
3 MAFFESOLI, Michel. (1989) O tempo das tribos. O declínio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de Janeiro: Forense Universitária. 4 MAFFESOLI, Michel. (1995) A contemplação do mundo. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 5 Ver GERGEN, Kenneth. (1997) El y o saturado. Dilemas de identidad en el mundo contemporâneo. Barcelona: Paidós,
10
A análise das “tribos urbanas” de Michel Maffesoli contribuiu muito para uma
frutífera revisão da literatura sobre o tema “juventude”. Em O tempo das tribos
preocupou-se em analisar o comportamento dos jovens urbanos na ótica do
nomadismo, do consumo, dos novos formatos associativos e afetivos e a
fragmentação social. O eixo central era demonstrar que os microgrupos emergentes
de jovens tomavam a forma de comunidades emocionais onde o valor do afetivo e
do “ estar junto”, a valorização do corpo e os laços de proximidade primários,
conduziam não mais a um princípio individualista do social mas a uma produção
cultural de grande complexidade. Neste emaranhado de sociabilidades emergentes,
Maffesoli chama a atenção para o caráter efêmero destes laços associativos ou
neotribais, sua fluidez e flexibilidade, a forte carga local de seu desenvolvimento e
o escasso formato organizacional segundo critérios em que o fator político é um
componente aglutinador privilegiado. O sociólogo francês realiza uma separação
conceitual de grande interesse para compreender as dinâmicas de sociabilidade da
juventude: por um lado, uma interação política, projetiva, racionalizada,
individualista; por outro, uma identificação estética, emocional, não-direcionada,
que se satisfaz em viver o dia-a-dia, no simples prazer de “viver com outros”. Este
renovado carpe diem tende à indistinção, à aparência, à indiferença para com os
“grandes temas” da agenda política, a um “estar junto antropológico”6 que eleva o
estético como fundamento-substituto de um princípio político de sociabilidade.
Praticamente, de forma simultânea, Gilles Lipovetsky7, embora não possa ser
considerado um ator que analisa os comportamentos juvenis contemporâneos, traz
uma serie de noções sociológicas que, sem dúvida, se apóiam numa observação
concreta das novas modalidades associativas e de comportamento dos jovens. Sem
mencioná-los, antecipa modalidades de socialização emergentes sobre a base de
uma espécie de narcisismo coletivo: solidariedade grupal, ”redes situacionais”,
retração dos objetivos universais. Para Lipovetsky, o atual processo de
personalização que protagonizamos supõe que a última figura assumida pelo
individualismo contemporâneo não reside numa “independência associal”, mas em
ramificações e conexões com interesses miniaturizados, hiperespecializados: grupos 6 MAFFESOLI, Michel. (1997) A transfiguração do político. A tribalização do mundo. Porto Alegre: Sulina. 7 LIPOVETSKY, Gilles. (1994) La era del vacio. Ensayo sobre el individualismo contemporâneo. Barcelona: Anagrama,.
11
de jovens que realizam trabalhos voluntários diversos ou as diferentes comunidades
emocionais das quais fala Maffesoli. Isso não significa um processo tendente a
conduzir os indíviduos, a reduzir a carga emocional investida no espaço público ou
nas esferas transcendentais e a aumentar as prioridades da esfera privada. A
valorização do imediato, dos temas cotidianos e das preocupações existenciais de
cada dia resulta serem os motores constitutivos dos novos valores emergentes nos
grupos de jovens atuais.
Muitas novidades aconteceram na década de 1990 até os nossos dias. Um dos
fenômenos mais importanes, no entanto, no campo da juventude, foi o da passagem
de uma geração apolínea movida pelo “racional”, pela vontade de “organização”,
pela crença na importância de estratégias resultantes de análises de conjuntura, para
uma geração dionisíaca movida pelo”corpóreo”, pelo prazer, pela estética e pelo
“sentimento”. Como referência para essa transição, a “queda do muro de Berlim”,
em 1989, e a entrada do discurso da “pós-modernidade” são muito significativos. Se
antes valia o “racional” e a “organização”, a não-importância política da
subjetividade e, muito menos, da vivência sexual, isto é, a forma apolínea de agir e
pensar, aos poucos foi entrando outra forma de encarar a vida, priorizando o
“corpo”, a “festa”, as manifestações “coloridas” e o “prazeroso” da vida, isto é, o
dionisíaco, o “pós-moderno”, marcando presença nas atividades e reflexões vitais.
Várias públicações importantes surgiram nessa época, procurando ler e
compreender a nova “realidade” que apresentava. Um sintoma desse fato amplo e
envolvente é a importância que adquiriu, especialmente para a juventude, a
despreocupação com o afetivo e o sexual.
Dos estudos de Maffesoli e, posteriormente, das análises de Lipovetsky, surgem
perguntas interessantes para compreender os novos contornos das práticas culturais
e das sociabilidades dos jovens atuais. Magnani8, por exemplo, adverte para a
necessidade de reavaliar o conceito de tribo desenvolvido amplamente na literatura
sobre jovens durante os anos 1980 e 1990, afirmando que uma de suas mais claras
limitações está em possibilitar um mal-entendido entre o sentido que se atribui ao
termo “tribo” nos estudos tradicionais de etnologia e seu uso para designar grupos
8 MAGNANI, José Guilherme (2005), Os circuitos dos jovens urbanos, In: Tempo Social, v.17, n.2, São Paulo.
12
de jovens no cenário da metrópole. Segundo Magnani, nada está mais longe da
realidade do que considerar os grupos de jovens como grupos bem definidos e
delimitados, com regras e costumes particulares. Por isso, propõe substituir o termo
“tribo urbana” por “cultura juvenil”, uma virada interessante no marco teórico que
deixa privilegiar perspectivas antropológicas, de corte atnográfico, para dar maior
ênfase aos contornos teóricos mais globais, ligados aos denominados “estudos
culturais”. A mudança terminológica sugere, também , uma mudança na forma de
encarar a questão juvenil, “que transfere a ênfase da marginalidade para a
identidade, das aparências para as estratégias, do espetacular para a vida cotidiana,
da deliquência para o ócio, das imagens para os atores”9. O que certamente pode ser
constatado é que ao falar de “tribo”, o objeto juventude parece reduzir-se à “forma”
da sociabilidade assumida, em que seu caráter particularmente fechado e sólido
negligencia a capacidade de movimento que os comportamentos juvenis vieram
assumindo. Talvez a noção de “rede” possa ser mais propícia para designar o tipo
de sociabilidade empreendida pelos jovens atuais, na medida em que se faz presente
o hibridismo e a contaminação de uma multiplicidade de códigos estéticos,
valorativos e de consumo generalizado entre a juventude.
Marcadas tendências de uma auto-responsabilização sobre os destinos sociais, de
uma reflexividade autonôma e certas preocupações com a “conetividade”, com os
aspectos relacionais da vida social, sugerem uma cultura juvenil a meio caminho
entre a “paixão” pelo contato na forma das neotribos e um processo de
individualização ciente de um mundo complexo, incerto e “presenteísta”. Os jovens
na atualidade parecem desenhar ações com forte viéis estratégico nas suas escolhas
e decisões, sem que isso represente uma subjetividade construída sob valores da
competitividade e o isolamento. Muito contrariamente, nos encontramos perante
uma cultura juvenil que se preocupa com seu ambiente, além de muito sensibilizado
com os desafios do mundo moderno.
9 MAGNANI, José Guilherme (2005), Os circuitos dos jovens urbanos, In: Tempo Social, v. 17, n° 2, São Paulo.
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CONTEXTO GERAL SOCIOECONÔMICO E DEMOGRÁFICO
1. Dados do Município
Nome Esteio
População Total (2010) 80.669 habitantes
Área (2008) 27,5 km²
Densidade Demográfica (2008) 2.901,0 hab/km² Taxa de analfabetismo (2000) 3,91 %
Expectativa de Vida ao Nascer (2000) 74,71 anos
Coeficiente de Mortalidade Infantil (2007) 7,20 por mil nascidos vivos
Exportações Totais (2008) U$ FOB 96.604.520
Data de criação: 15/12/1954 (Lei nº . 2520)
Município de origem: São Leopoldo Fonte: FEE - Fundação de Economia e Estatística
2. População Total
Ano 1999 2002 2005 2008 2010 População 79.191 80.051 79.481 79.902 80.669
Fonte: FEE - Fundação de Economia e Estatística (estimativa)
3. Idade / Sexo
Homens
Idade 1999 2002 2005 2008
10 a 14 3.736 3.529 3.357 3.292 15 a 19 3.975 3.836 3.477 3.305 20 a 24 3.531 3.830 3.779 3.568 25 a 29 2.891 3.036 3.387 3.605 Total 38.567 38.950 38.629 38.773
Mulheres
Idade 1999 2002 2005 2008
10 a 14 3.736 3.465 3.228 3.102
14
15 a 19 3.871 3.757 3.516 3.328 20 a 24 3.386 3.642 3.683 3.612 25 a 29 3.077 3.072 3.319 3.566 Total 40.624 41.101 40.852 41.129
Fonte: FEE - Fundação de Economia e Estatística (estimativa) 4. Cor / Raça
Rio grande do Sul Total Esteio Total
População total 10.582.840
População total 78.816
Branca 86,55 % Branca 88,96 % Preta 5,17 % Preta 5,19 %
Amarela 0,09 % Amarela 0,03 % Parda 7,48 % Parda 5,31 %
Indígena 0,38 % Indígena 0,24 % Sem declaração 0,32 % Sem declaração 0,27 %
Fonte: IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – 2000
A área geográfica e espacial do presente diagnóstico, o município de Esteio, é de
27,5 Km² (dados de 2008). Nessa área habitam 80.669 (censo 2010) pessoas, tendo
o município uma densidade demográfica considerada muito alta, de 2.901 hab/Km².
Segundo dados observados na Tabela 2, a população geral do município no decorrer
dos últimos 10 anos não experimentou um crescimento quantitativo de dimensões
consideráveis. Da população total atualmente residente, e tal qual demonstra a
Tabela 3, e segundo dados do ano de 2008, 38.773 habitantes são do sexo
masculino. Já 41.129 dos residentes são do sexo feminino, representando uma leve
maioria da população. Atendendo critérios de idade da faixa etária composta pelos
jovens, a maioria se concentra, no caso dos homens, entre os 25 e 29 anos, e no caso
das mulheres entre os 20 e 24 anos. Considerando a Tabela 4, e com dados do ano
de 2000, a soma da população afro-descendente (parda e preta) atinge um 10,5 %,
de certa maneira reproduzindo-se a média estadual desse grupo de população. Os
aspectos demográficos do município sugerem destacar, tal qual já foi mencionado
anteriormente, a alta concentração demográfica, talvez das mais altas do Estado.
Como também já foi mencionado, alguns inconvenientes relacionados com a
organização dos espaços de circulação públicos e com as relações intersubjetivas
podem sugerir esforços tendentes a minimizar impactos próprios de meios urbanos
15
das características de Esteio. Também é de destacar-se o pouco significativo
aumento da sua população. Da população jovem, a concentração atual está entre os
20 e os 29 anos, revertendo os processos demográficos dos censos de 1999 e de
2002 em que a maioria da população jovem se concentrava entre os 15 e os 19 anos.
5. Dados socioeconômicos 5.1 PIB – Produto Interno Bruto – 2002 até 2006
Ano
2002
2003
2004
2005
2006
PIB ($ mil)
1.186.944 1.358.348 1.414.372 1.525.405 1.686.721
Fonte: FEE – Fundação de Economia e Estatística
5.2 PIB per capta – 2002 até 2006 Ano
2002
2003
2004
2005
2006
PIB per capta (R$)
14.339 16.200 16.655 17.737 19.372
Fonte: FEE – Fundação de Economia e Estatística
5.3 IDESE (Renda) – variação porcentual e população dos 8 primeiros municípios segundo esse índice – 2005-2006
Estado e Municípios
IDESE 2006
Ordem IDESE 2005
Ordem Pop. variação
Habitantes Ordem
RS 0,781 - 0,766 - 2,0 10.536.009 - Canoas 0,944 1 0,932 1 1,3 323.705 4 Esteio 0,911 2 0,889 2 2,5 79.169 24 Nova
Alvorada 0,882 3 0,863 3 2,2 3.004 374 Porto Alegre 0,875 4 0,861 4 1,6 1.412.466 1
Teutônia 0,864 5 0,842 7 2,6 24.542 77 Triunfo 0,861 6 0,827 12 4,2 23.754 81
Salvador do Sul 0,856 7 0,847 6 1,1 6.493 223
Lajeado 0,856 8 0,837 9 2,2 66.341 28 Fonte: FEE / Centro de Informações Estatísticas (CIE)
16
5.4 PIB / Estado / Esteio / comparação com municípios de maior IDESE
ESTADO E MUNICÍPIOS
PIB 2006
PIBpc 2006
ESTRUTURA % do PIB 2006
Valor
(R$1.000) Ordem
Valor (R$)
Ordem Agrope- cuária
Indús- tria
Servi- ços
RS 156.882.623 - 14.310 - 9,3 28,2 62,6 Canoas 9.607.235 2 28.823 7 0,0 37,3 62,7 Esteio 1.686.721 16 19.372 33 0,0 23,9 76,1
Nova Alvorada 51.388 280 18.133 51 32,1 6,1 61,8 Porto Alegre 30.116.002 1 20.900 23 0,1 13,9 86,0
Teutônia 571.831 46 23.084 14 5,4 48,7 45,9 Triunfo 4.564.996 4 180,420 1 0,9 78,6 20,5
Salvador do Sul 119.207 149 19.549 32 20,4 26,4 53,1 Lajeado 1.299.260 21 19.232 37 1,0 34,9 64,0
Fonte: FEE / Centro de Informações Estatísticas (CIE)
5.5 IDESE – 2002 até 2006 / Variáveis
Ano/
Variável
Educação
Renda
Saneamento
Saúde
IDESE total
2002
0,883 0,892 0,630 0,847 0,813
2003
0,893 0,898 0,631 0,859 0,820
2004
0,900 0,891 0,633 0,869 0,823
2005
0,896 0,889 0,634 0,862 0,820
2006
0,898 0,911 0,635 0,864 0,829
Fonte: FEE / Centro de Informações Estatísticas (CIE)
Considerando os dados socioeconômicos do município, percebe-se que durante os
anos 2000 em diante houve um notório crescimento do Produto Bruto Interno (PIB).
Isso teve reflexos no PIB per capta, situando-se no ano de 2006 nos R$ 19.372,00
(segundo FEE). Trata-se de um crescimento considerável e que demonstra uma
destacada posição no ranking de municípios do Estado. Tal qual tabela 5.3, o Índice
de Desenvolvimento (IDESE) que considera unicamente o fator renda coloca o
17
município em 2° lugar (dados de 2006), apenas perdendo para a localidade de
Canoas.
Já considerando o PIB de Esteio em comparação com municípios de maior IDESE,
a Tabela 5.4 indica que se coloca no lugar 16°. Com relação ao PIB per capta a
situação é a 33°. A estrutura do PIB de Esteio situa o setor serviços intervindo com
um 76.1 % do total, e o setor indústria com os restantes 23,9 %, nada desprezível
considerando as características espaciais do município.
Considerar as diferentes variáveis que compõem o IDESE (educação, renda,
saneamento e saúde) merece um destaque analítico. Numa evolução cronológica
entre os anos de 2002 e 2006, os índices que se destacam positivamente são os de
educação e renda. No ano de 2004, por exemplo, o índice de educação chegou a
alcançar os 0,900 pontos. O índice relativo à saúde é também destacável
positivamente, não sendo efetivamente plausível de destaque positivo o índice
relativo a saneamento. Aparentemente, a infra-estrutura urbana associada ao
saneamento pode ser considerada digna de atenção por parte das autoridades
públicas.
5.6 População economicamente ativa / idade / sexo
PEA / Sexo
Masculino
Feminino
Total
PEA
23.222
16.436
39.658
PEA Ocupada
19.672
12.411
32.083
PEA Desocupada
3.550
4.025 7.575
PEA Jovem 16-24 anos 4.172 2.547 6.719
Rendimento Médio PEA jovem (em $) 843,84 461,51
Média 695,93
Fonte: IBGE/2000 – Elaboração MTE
18
5.7 Remuneração média de empregados formais / atividade / sexo
Atividade Masculino Feminino
Total
Todas as atividades 1.519,84
1.041,11
1.326,18
Pop. Jovem (16-24) Empregados formais
858,17
720,66
807,72
Indústria de
Transformação 1.982,60 1.196,00 1.714,10
Serviços Industriais de Utilidade Pública 3.033,60 2.892,16 3.002,17
Construção Civil 1.004,89 804,99 989,86
Comércio 1.268,38 847,30 1.113,25
Serviços 1.363,90 874,04 1.165,92
Administração Pública 1.315,73 1.282,41 1.292,20
Agropecuária 559,88 429,10 543,53 Fonte: RAIS/2008 – MTE
As Tabelas 5.6 e 5.7 se referem ao item trabalho, e atendem para a remuneração
média da população economicamente ativa. Destaca-se na Tabela 5.6 o rendimento
médio da população jovem (16-24 anos) e economicamente ativa (dados de 2000).
Percebe-se que a média total se situa nos R$ 695,93, e que a população feminina
recebe praticamente a metade da remuneração quando comparada com o universo
populacional masculino. Na Tabela 5.7, considerando todas as atividades
econômicas de emprego (com dados de 2008), percebe-se que o salário recebido
pela população feminina é de R$ 1.041,11, sensivelmente inferior aos R$ 1.519,84
da população masculina. Em todas as atividades pesquisadas, inclusive na
Administração Pública, a população feminina recebe um salário inferior aos
homens. Repete-se, assim, uma constante historicamente diagnosticada sobre o
mundo do trabalho e o emprego.
19
EDUCAÇÃO
1. Anos de estudo – Pessoas de 15 anos ou mais / sexo / raça – quantidade (n°) Anos de Estudo
Total Masc./ Fem.
Branca Masc./Fem.
Preta Masc./Fem.
Parda Masc./Fem.
Amarela Masc./Fem.
Indígena Masc/Fem.
2.265
Sem instrução e menos de 1 ano
944
1.321
813
1.090
87
89
45
116
--
--
--
26
5.321 1 a 3 anos
2.368
2.954
2.044
2.484
171
215
125
230
--
--
12
6
19.448 4 a 7 anos
9.142
10.306
7.819
9.065
601
578
636
622
9
--
50
14
14.814
8 a 10 anos
7.379
7.435
6.519
6.604
410
378
412
431
--
--
27
10
14.341 11 a 14
anos
7.222
7.119
6.633
6.604
328
249
252
202
--
--
--
27
2.455 15 anos
ou mais
1.059
1.396
1.017
1.355
--
40
33
--
10
--
--
--
Fonte: IBGE/2000
2. Anos de estudo – Pessoas de 15 anos ou mais / sexo / raça – porcentual (%) Anos de Estudo
Total Masc/ Fem.
Branca Masc/Fem.
Preta Masc/Fem.
Parda Masc/Fem.
Amarela Masc/Fem.
Indígena Masc/Fem.
Sem instrução e menos de 1
ano
1,59
2,23
1,37
1,84
0,15
0,15
0,08
0,20
--
--
0,02
Total 3,83 3,21 0,30 0,27 -- 0,04
1 a 3 anos
4,00
4,99
3,45
4,20
0,29
0,36
0,21
0,39
--
0,02
0,01
Total 8,99 7,65 0,65 0,60 -- 0,03
4 a 7 anos
15,44
17,41
13,21
15,31
1,02
0,98
1,07
1,05
0,02
--
0,09
0,02
20
Total 32,85 28,52 1,99 2,13 0,02 0,11
8 a 10 anos
12,46
12,56
11,01
11,15
0,69
0,64
0,70
0,73
--
0,05
0,02
Total 25,02 22,16 1,33 1,42 -- 0,06
11 a 14 anos
12,20
12,02
11,20
11,15
0,55
0,42
0,43
0,34
--
--
0,05
Total 24,22 22,36 0,97 0,77 -- 0,05 15 anos ou
mais
1,79
2,36
1,72
2,29
--
0,07
0,06
--
0,02
--
--
Total 4,15 4,01 0,07 0,06 0,02 -- Fonte: IBGE/2000
Como anteriormente se destacou o item educação no município colabora
significativamente com o índice geral do IDESE. Considerando os anos de estudo e
a população maior de 15 anos, observa-se que 19.448 habitantes têm entre 4 a 7
anos de estudo. A maioria da população maior de 15 anos do município se encontra
dentro deste grupo, levando a considerar uma faixa considerável de pessoas que
participam de atividades educativas voltadas para adultos. Destaca-se que entre os 8
e 10 anos de estudo se encontram 14.814 pessoas, e 14.341 entre os 11 e 14 anos.
Trata-se de uma excelente média no nível educativo do município, levando a crer
que o acesso a educação se corresponde com políticas que incentivam o ingresso e a
permanência no sistema.
A Tabela 2 demonstra as desigualdades no acesso à educação quando é considerada
a variável raça/cor. Pode-se constatar que a maior presença da população afro-
descendente (preta e parda) se encontra entre os 4 e 7 anos de estudo, para uma
população maior de 15 anos. Apresenta-se crítico o diagnóstico quando se constata
uma praticamente nula presença na medida em que se avança nos anos de estudo
cursados. No momento do ingresso ao ensino terciário (mais de 11 anos de estudo),
fica evidente a insignificante presença da população afro-descendente (pretos e
pardos), apenas chegando a 1, 74 % da população, enquanto a população branca
representa um 46,58 %.
21
VIOLÊNCIA E JOVENS 1. Mortalidade juvenil / natureza violenta / 2003-2008
Idade 2003 2004 2005 2006 2007 2008
10-14 anos 1 1 1 2 1 - 15-19 6 7 4 5 7 8 20-24 7 2 12 10 6 12 25-29 5 8 8 7 3 12
Fonte: IBGE/Informações do Registro Civil
2. Mortalidade juvenil / natureza violenta / sexo / 2008
Idade Homens Mulheres Total
10-14 anos - - - 15-19 7 1 8 20-24 11 1 12 25-29 10 2 12
Fonte: IBGE/Informações do Registro Civil
3. Mortalidade juvenil / natureza violenta / representatividade – RS/Esteio / 2008 Óbitos totais
(Esteio) Óbitos/natureza violenta (Esteio)
Óbitos juvenis por natureza violenta. (Esteio)
Comparação RS – Esteio / natureza violenta
524
54 pessoas 10, 29% dos óbitos totais, representam
mortes de causa violenta.
32 das vítimas de
mortes violentas são jovens de 10 a 29
anos.
2.238 jovens / RS
Esteio representa 1,42% do total de jovens mortos / natureza
violenta RS Fonte: IBGE/Informações do Registro Civil
Os dados relativos à violência denotam um crescente aumento da mortalidade
juvenil de natureza violenta se consideramos a passagem do ano de 2007 para o de
2008 (Tabela 1). Os dados indicam que desde o ano 2005 houve um aumento
considerável deste item, localizando-se na faixa etária dos 20 aos 24 anos o maior
22
número. No ano de 2008, por exemplo, duplicaram-se as mortes violentas de jovens
entre os 20 e os 24 anos, chegando a ser quatro vezes mais na faixa dos 25 aos 29
anos. Na Tabela 3 se destaca que das 54 mortes violentas acontecidas no Esteio, 32
das vítimas são jovens de 10 a 29 anos. Sem dúvida, o tema da insegurança urbana
e da violência é um tema preocupante entre a população jovem, como se verá nas
respostas obtidas do questionário aplicado.
23
PERFIL DA JUVENTUDE EM ESTEIO: REPRESENTAÇÕES E PERCEPÇÕES
Na sequencia se apresenta a análise das dimensões subjetivas da condição juvenil
em Esteio a partir do universo de percepções e representações que particularmente
os jovens elaboram. A ênfase está na interpretação subjetiva sobre os seus espaços
ocupados na sociedade, as diferentes expectativas vitais e projeções valorativas. Tal
qual mencionado nas notas metodológicas, foram analisadas 329 entrevistas,
distribuídas por grupos etários e de sexo. Os dados obtidos das entrevistas foram
tabulados pelo Software IBM SPSS Statistics Standard. Posteriormente se
elaboraram gráficos com fins de leitura e análise qualitativa dos dados
Perfil sócio-demográfico e condição familiar.
O Gráfico 1 apresenta a divisão por sexo dos 329 entrevistados: 57,10% eram do
sexo feminino e 42,90 % do sexo masculino. O Gráfico 2 atende às idades dos
entrevistados, destacando-se uma clara maioria na faixa dos 15 aos 20 anos
(53,79%). Em segundo lugar se encontram os jovens de 10 a 14 anos, e
imediatamente depois os de 21 a 24, para logo aparecer os de 25 a 29 anos. Neste
sentido, pode-se advertir que os resultados da análise possam estar influenciados
pelas escolhas realizadas pelos jovens dos 15 aos 20 anos, algo que não conspira
nos resultados totais finais sobre a análise como um todo. O Gráfico 3 informa
sobre o nível educativo cursado pelos entrevistados. Assim, 38,88 % dos jovens se
encontram no ensino médio, 38,27 % no ensino fundamental, 15,13 % no ensino
superior e apenas 7,7 % manifestaram que não estavam estudando. Interessante
destacar que a ampla maioria dos entrevistados faziam parte do sistema de ensino
do município.
24
Gráfico 1
a. ( ) Masculino b. ( ) Feminino
Gráfico 2
a. ( ) 10-14 anos b. ( ) 15-17 anos c. ( ) 18-20 anos d. ( ) 21-24 anos e. ( ) 25-29 anos
25
Gráfico 3
a ( ) no ensino fundamental b ( ) no ensino médio c ( ) no ensino superior d ( ) não estudo
Perante a pergunta “Já teve relação sexual?”, 45,28 % do total responderam
afirmativamente. Destaca-se que a maioria das respostas é proveniente do sexo
feminino, o que não representa, necessariamente, um dado qualitativo que possua
significados relevantes sobre o comportamento sexual das jovens em comparação
aos jovens homens. Deve-se lembrar que participaram dos questionários uma
maioria de jovens do sexo feminino, sendo fator desestabilizador no momento de
analisar números totais. Desse 45,28 %, a média de idade para a primeira relação
sexual entre as jovens é de 15,86 anos, e entre os jovens é de 14,72 anos. Percebe-se
que a vida sexual dos homens inicia-se, em média, antes que a das mulheres. Uma
das respostas entre os jovens do sexo masculino indicou que a primeira relação
sexual foi aos 10 anos, enquanto entre as jovens do sexo feminino, apesar de ter
uma significativa quantidade de respostas aos 12 e 13 anos, a média total terminou
elevando-se. È bom ressaltar que se trata de médias de idade, e não do resultado de
dados absolutos.
26
Gráfico 4
a. ( ) de cor branca; b. ( ) de cor negra; c. ( ) de cor morena; d. ( ) de cor indígena; e. ( ) de outra cor;
Sobre como se auto-percebe a “cor” entre os jovens, o 63,52 % dos entrevistados
manifestaram a opção “branca”, enquanto 27,98 % “morena” e 5,47% a cor
“negra”.
Gráfico 5
a. ( ) Sim b. ( ) Não Onde?
27
A ampla maioria dos entrevistados nasceu em Esteio (40,12 %), seguido pelos
nascidos em Porto Alegre, Sapucaia do Sul e outras localidades (em outros estados,
como Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso).
Gráfico 6
a. ( ) Sim b. ( ) Não
Gráfico 7
28
Não têm filhos 88,70 % dos jovens entrevistados. Do 6,70% que responderam
afirmativamente, na maioria tiveram o primeiro filho aos 17 e aos 21 anos.
Importante resulta destacar que algumas respostas manifestaram que aos 14 anos de
idade tiveram o primeiro filho, alertando para o caráter, talvez, prematuro dessa
vivência juvenil.
O Gráfico 8 retrata a estrutura familiar em que estão inseridos os jovens. Com os
seus pais moram 59,66 % dos entrevistados, com parceiro(a) moram 10,79 % e só
com a mãe moram 19,78 % dos entrevistados. Evidentemente, os dados indicam
que a ampla maioria dos jovens vive sob o mesmo teto dos pais, reproduzindo-se a
tendência mundial de “prolongamento da juventude” como fase da vida. Tanto é
que o Gráfico 9 demonstra que 20,62 %, perante a escolha de mudar para morar
sem seus pais, manifestaram-se afirmativamente. A ampla maioria, 54,56 % afirma
que esperaria mais um tempo para mudar, e 24, 82% não tem planos de morar sem
seus pais. Outro dado importante é o significativo número de jovens que moram
unicamente com a mãe (19,78 %). Interessante perceber como a estrutura familiar
tem na figura materna o núcleo básico de sustentação material e simbólica, sendo
um agente socializador primário destes jovens de maneira privilegiada.
Gráfico 8
a. ( ) com os pais b. ( ) com parceiro/a, ou marido/esposa.
29
c. ( ) só com a mãe d. ( ) só com o pai e. ( ) com outros parentes f. ( ) com amigo/a g. ( ) sozinho/a
Gráfico 9
a. ( ) mudaria já para morar sem seus pais? b. ( ) esperaria mais um tempo para mudar? c. ( ) não tem planos de morar sem seus pais
Os Gráficos 10 e 11 se relacionam com a vida religiosa e espiritual dos jovens.
Manifestam ter alguma religião 72,64 %, enquanto 25,53 % responderam
negativamente. Com esses dados, percebe-se que a escolha por assumir pertencer a
uma religião é majoritária entre os jovens. Não obstante, o Gráfico 11 indica que a
maioria, 37,70 % dos que manifestaram ter uma religião não especificaram qual
seria, sendo sim escolhida a religião católica 25,24% dos jovens. Se considerarmos
como praticamente pertencentes ao mesmo grupo àqueles que não especificam
religião e os que manifestam não ter nenhuma, pode-se inferir que mais de 50% dos
jovens não tem no universo religioso uma perspectiva que orienta as práticas sociais
cotidianas. Trata-se de uma mudança significativa com relação aos valores e
práticas que os jovens evidenciam com relação às orientações religiosas e às
práticas individuais e coletivas decorrentes?
30
Gráfico 10
a. ( ) Não b. ( ) Sim
Gráfico 11
( ) Católica ( ) Evangélica ( ) Espírita ( ) Umbanda ( ) Nação, Batuque, Candomblé, etc. ( ) Exu ( ) Outra Qual?
31
Ser Jovem
Gráfico 12
(Marque até 3 opções de resposta)
a.( ) independência financeira b.( ) atividades de lazer/entretenimento c.( ) aproveitar a vida/viver com alegria d.( ) ter liberdade e.( ) não ter preocupações/responsabilidades f.( ) estudar/adquirir conhecimentos g.( ) poder trabalhar h.( ) as amizades i. ( ) Saúde/força física j. ( ) apoio da família k.( ) lutar pelos objetivos l. ( ) não tem nada de bom
Na seção sobre o sentido e significado de “ser jovem”, o Gráfico 12 demonstra que
entre as “melhores coisas de ser jovem” se encontra “aproveitar a vida” (34,61 %),
seguido por “estudar” (25,35 %). Interessante destacar que, embora se reitere uma
resposta esperada entre as escolhas dos jovens, aludindo a aspectos muito juvenis e
próprios das formas de sociabilidade nesse grupo etário, que apareça “estudar”
como uma das citadas melhores coisas de ser jovem em segundo lugar é sintomático
de um perfil juvenil que combina, muito facilmente, o lúdico e hedonista do “ser
jovem” com crescentes graus de responsabilização do seu futuro imediato. Aliás, a
educação e estudar se tornam espécies de “privilégios” auto-assumidos. Nada
32
desprezível é a escolha da “amizade” e de “ter liberdade” (16,35 % ambas as
escolhas) como outras dimensões como melhores coisas de ser jovem. A
importância nos laços de confiança e estima imediatos advindos das amizades e a
noção de ser a juventude um “estágio” da vida que denota a ampliação dos
horizontes individuais com base a “ter liberdade” são fatores também importantes
na definição destes jovens. Mas, de igual importância, resulta destacar a pouca ou
quase nula escolha em considerar como melhores coisas de ser jovem ter o “apoio
da família” (só o 2,67 %). Em absoluto isto está demonstrando a pouca importância
da família nos processos socializadores desses jovens, mas sim que eles não
consideram o apoio da família na suas vidas como algo que se relaciona com a
melhor coisa de ser jovem. Em definitivo, para os jovens contemporâneos existe um
híbrido entre aspectos lúdicos e de “vivencias presenteístas” com base a se divertir
o máximo possível e os chamados à responsabilidade com os seus próprios futuros,
depositando “em estudar” uma vantagem relativa que só os jovens parecem ter por
razões etárias concretas.
Gráfico 13
(Marque até 3 opções de resposta)
33
a.( ) não tem nada de ruim b.( ) impedimentos por ser menor de idade c.( ) imaturidade/irresponsabilidade d.( ) falta de trabalho/de renda e.( ) desrespeito/incompreensão dos adultos f. ( ) conviver com riscos g.( ) drogas h.( ) más companhias i. ( ) violência j. ( ) controle familiar k.( ) falta de liberdade
No Gráfico 13 se percebe que os jovens parecem atribuir ao fato de “ser menor de
idade” (35,86 %) um elemento negativo da sua experiência. Trata-se de uma
resposta que indiretamente faz alusão à forma que o mundo adulto lida com a
experiência juvenil. Há limitações, negações ou incompreensões que os jovens
percebem por trás dessa resposta. Limitações no acesso a bens materiais e
simbólicos; negações de eventuais identidades culturais (sua exteriorização,
festividade e preocupações próprias), e incompreensões acerca do lugar que ocupam
na cena social. As drogas e a falta de trabalho (ambas em torno de 12 % das
escolhas) são, igualmente, fatores que preocupam a estes jovens enquanto auto-
percepção daquilo que mais os atinge diretamente.
Gráfico 14
(Marque até 5 opções de resposta)
a.( ) sexualidade
34
b.( ) emprego/desemprego c.( ) educação d.( ) drogas e. ( ) fome/miséria f. ( ) segurança/violência g.( ) família h.( ) crise econômica i. ( ) administração política do Brasil j. ( ) namoro/amizades k.( ) moradia l. ( ) meio ambiente m.( ) a pouca solidariedade
Dando continuidade ao Gráfico anterior, vemos que a preocupação maior entre os
jovens está no item “emprego-desemprego”. A ampla maioria, o 47,72 % dos
jovens, selecionaram ao binômio “emprego-desemprego” como sendo o problema
mais preocupante no presente. Destaca-se que são os homens de 15 a 20 anos os
que majoritariamente escolheram essa alternativa. A sexualidade (14,58 %), a
educação (14,58 %) e as drogas (12,76 %), foram consideravelmente mencionadas,
sendo as mulheres de 10 a 17 anos as que mais se preocuparam com o tema
relacionado à droga. Concluímos que os temas relacionados ao trabalho e ao
desemprego resultam muito presentes nas preocupações dos jovens.
Gráfico 15
(Marque até 5 opções de resposta)
35
a. ( ) segurança/violência b. ( ) saúde/cuidado do corpo c. ( ) emprego/profissional d. ( ) ciência e tecnologia/informática e. ( ) relacionamentos amorosos f. ( ) esportes/atividades físicas g. ( ) economia/finanças h. ( ) família i. ( ) amizades j. ( ) drogas k. ( ) moda l. ( ) política m. ( ) religião n. ( ) educação o. ( ) sexualidade p. ( ) cultura/lazer q. ( ) música/dança r. ( ) carros/motos
Novamente o tema do trabalho é recorrente nos temas que monopolizam o cotidiano
dos jovens. Como assunto que mais lhe interessa, o “emprego” aparece em primeiro
lugar das escolhas (29,55 %), seguido imediatamente por “família” (25,98 %) e
“saúde” (22,51 %). O “emprego” é um tema que lhe interessam, majoritariamente,
aos jovens homens de 15 a 17 anos, enquanto a “saúde” a maioria das mulheres
entre os 10 e os 17 anos. Destaca-se a família como espaço de sociabilidade que foi
considerado de interesse como “assunto” que lhe interessa aos jovens. Ao mesmo
tempo, reitera-se o mencionado anteriormente, relacionado ao baixo interesse na
“religião” (0,30 %) como tema de interesse.
36
Gráfico 16
(Marque até 3 opções de resposta)
a. ( ) guerra/catástrofes naturais b. ( ) AIDS/Doenças sexualmente transmissíveis c. ( ) fofocas/boatos/desprestigio social d. ( ) solidão e. ( ) miséria f. ( ) incompreensão na vida g. ( ) drogas h. ( ) violência
Questionados sobre o sentimento de “medo” na atualidade, 33,68 % apontaram a
violência, seguido das “drogas” e das “guerras e catástrofes naturais”. A percepção
dos medos é algo subjetivo e que responde, em grande medida, pela “sensação
generalizada” e coletiva sobre determinados temas. Nesse caso, o tema da violência
e da droga, ao ocupar o centro das atenções nos meios de comunicação, tendem a
ser considerados como importantes. Veremos, posteriormente, como estes temas
aparecem no universo dos valores e percepções dos jovens em graus de importância
diferentes.
37
Gráfico 17
(Marque 5 opções.)
a. ( ) educação b. ( ) política c. ( ) ética e moral d. ( ) racismo/discriminação e. ( ) drogas f. ( ) desigualdade e pobreza g. ( ) segurança h. ( ) futuro profissional i. ( ) ecologia e meio ambiente j. ( ) corpo e saúde k. ( ) sexualidade l. ( ) direitos sociais e cidadania
Para ser discutido coletivamente, o tema da educação foi escolhido 34,94 %. Se
somarmos nessa mesma inquietação o 18,63 % de escolhas realizadas sobre o
“futuro profissional”, pode-se considerar que mais da metade (53,57 %) dos jovens
considera oportuno discutir coletivamente o tema da educação relacionado com o
mundo do trabalho e das profissões. Temas relacionados com a segurança pública,
como ser a droga e a violência, são também muito destacados (mais de 46 % das
escolhas) para serem discutidos pela sociedade. Novamente, o tema da droga, na
sua maioria, é preocupação entre as mulheres de 10 a 17 anos de idade.
38
Gráfico 18
(Marque 5 opções.) a. ( ) infra-estrutura b. ( ) segurança/violência c. ( ) miséria d. ( ) desemprego e. ( ) educação f. ( ) drogas g. ( ) o lixo nas ruas h. ( ) as praças e parques em mau estado i. ( ) repressão j. ( ) vizinhos k. ( ) saúde l. ( ) administração política m. ( ) falta de controle n. ( ) não tem problemas de consideração o. ( ) outros Qual?
Indagados sobre o espaço geográfico e ambiente social que habitam, os jovens
manifestaram que o município de Esteio tem problemas relacionados,
fundamentalmente, com a sua infra-estrutura (31,32 %) e com a segurança-
violência (28,43 %). Obviamente que por infra-estrutura se entende uma
diversidade de temas vinculados à vida urbana e à convivência social,
impossibilitando admitir que pontuais problemas sejam visualizados
preferencialmente. Não obstante, no imaginário juvenil, especificamente, acusar
problemas de infra-estrutura significa que o município carece de uma estrutura que
possibilite facilidades práticas e lúdicas para uma qualitativamente melhor
sociabilidade entre os jovens. Reitera-se a preocupação com a segurança e a
39
violência, especificamente no município de Esteio, embora se veja que,
intersubjetivamente, o tema da violência não aparece como dado da realidade
prática, e sim simbólica (e coletiva), entre os jovens.
Valores e referências pessoais.
Gráfico 19
(Marque 3 opções.) a. ( ) melhorar relacionamentos humanos b. ( ) acabar com miséria/pobreza/fome c. ( ) mais e melhor educação d. ( ) uma cirurgia estética e. ( ) mudaria de cidade/país f. ( ) acabaria com a violência/criminalidade g. ( ) combater a venda de drogas h. ( ) combater as desigualdades sociais i. ( ) mais e melhor trabalho
40
Gráfico 20
(Marque 5 opções.)
a. ( ) liberdade política b. ( ) prazer sexual c. ( ) respeito ao meio ambiente d.( ) justiça social e. ( ) solidariedade f. ( ) igualdade de oportunidades g. ( ) dedicação ao trabalho h. ( ) conforto material i. ( ) obediência à autoridade j. ( ) respeito às diferenças k. ( ) liberdade individual l. ( ) temor a Deus m.( ) respeito às tradições
Os Gráficos 19 e 20 atendem a valores próprios da vida coletiva. Acabar com a
pobreza e a miséria, bem como com a violência e a criminalidade foram opções
escolhidas quando a pergunta era sobre potenciais transformações que se podiam
exercer sobre o mundo e na vida individual. Da mesma maneira que no Gráfico 19,
o Gráfico 20 chama a atenção para valores coletivos que se antepõem a valores
individualistas. O gráfico 27, 40 % das escolhas mencionaram a “solidariedade”
como valor fundamental numa sociedade ideal. Imediatamente, as preferências
caíram no “respeito ao meio ambiente”, seguido por “igualdade de oportunidades” e
“justiça social”. O significado destas escolhas recai na dimensão intersubjetiva
41
consolidada sob valorações coletivas e que supõem compromissos com a realidade
que se vive cotidianamente. Valores individuais ficaram a um segundo plano, como
ser a liberdade individual, o prazer sexual, etc. O grupo das mulheres entre os 10 e
os 14 anos é a que majoritariamente compõe o universo dos que escolheram a
solidariedade como valor para uma sociedade ideal.
Gráfico 21
(Marque 3 opções)
a. ( ) boa relação familiar b. ( ) ter um bom trabalho/emprego c. ( ) viver numa sociedade mais justa d. ( ) aproveitar a vida e. ( ) estar sempre com amigos f. ( ) ter um diploma g. ( ) ter muito dinheiro h. ( ) ser uma pessoa famosa i. ( ) ser querido pelas pessoas j. ( ) ter uma posição política/ideologia k. ( ) boa saúde l. ( ) outro Qual?
Interessante como uma “boa relação familiar” (48,54 %) se torna algo importante na
hora de avaliar, por parte dos jovens, a sua própria vida pessoal. Embora não se
apresente a família como sendo uma instituição privilegiada perante outros
questionamentos, manifesta-se que ela ainda possui elementos constitutivos na
42
construção das identidades juvenis. Evidentemente que o universo do trabalho e o
emprego aparecem, novamente, como algo importante na vida dos jovens,
reiterando-se as preocupações anteriormente vistas.
Gráfico 22
a. ( ) sim – com permissão dos pais b. ( ) sim – sem permissão dos pais c. ( ) não – nunca levei
Quando o assunto se refere às relações afetivas, os jovens responderam,
majoritariamente, que levaram namorado ou namorada para dormir em casa. O
40,07 % manifestaram que nunca levaram, mas o restante 60 %, aproximadamente,
sim o fizeram. Dos que responderam que nunca levaram namorado ou namorada
para dormir em casa, a maioria são mulheres, assim como também são mulheres de
21 a 24 anos as que o fizeram com permissão dos pais. Levar namorado ou
namorada para dormir em casa supõe um prévio estabelecimento de certos acordos
intra-familiares de mútua confiança e de amadurecimento relacional entre pais e
filhos. Tem relação com as novas dinâmicas de reconfiguração da intimidade numa
sociedade reflexiva e comunicacional, e que denota, sem enganos, a possibilidade
da produção de um “prolongamento da juventude”. Resta compreender as causas e
motivações desse fenômeno.
43
Gráfico 23
a. ( ) sim b. ( ) não
Gráfico 24
a. ( ) sim – sempre b. ( ) sim – algumas vezes c. ( ) não – não gosta d. ( ) não – previne-se de outra maneira
44
Gráfico 25
a. ( ) para prevenir doenças b. ( ) para evitar a gravidez c.( ) pelas duas razões
Os Gráficos 23, 24 e 25 se inserem nos questionamentos acerca dos valores
relacionados à vida sexual na sua dimensão coletiva e individual. Concretamente,
no Gráfico 23, o 59,60 % dos jovens interrogados manifestaram que não estavam a
favor da prática do aborto, enquanto o 38,60 % responderam positivamente. Não há
dúvidas que a maioria dos jovens se posicionou contra o aborto, mas isso não exclui
considerar que quase o 40 % dos jovens estão a favor do aborto, demonstrando certa
politização dos temas reprodutivos e suas implicações sociais. Quando se sentem
questionados acerca da prática sexual como escolha e prática individual, o 55,07 %
dos jovens manifestaram que “sempre” usam preservativo na sua relação sexual. Ao
somarmos os 20,33 % que indica que “algumas vezes” usa preservativo, temos
como resultado que mais do 75% dos jovens são “conscientes” da importância da
prevenção. Concomitante a isso, vemos que no Gráfico 25 o 66,66 % dos jovens
dizem que a razão principal de usar preservativo se deve à prevenção de doenças,
demonstrando um alto grau de comprometimento com a saúde individual e coletiva.
45
Gráfico 26
a. ( ) sim b. ( ) sim, mas já parou c. ( ) Não, nunca fumou
Esta “juventude” tem se socializado sob o impacto de campanhas contra o consumo
do tabaco, e isso fica evidenciado quando se lhes pergunta se fumam ou já fumaram
cigarro. O 77,32 %, uma ampla maioria, manifesta que nunca fumou, e tão só o
11,82 % responderam que sim fumam. Trata-se de uma prática social, o tabagismo,
muito pouco disseminada nos jovens de hoje.
Gráfico 27
46
a. ( ) sim b. ( ) já bebeu, mas não bebe mais c. ( ) nunca bebeu
Gráfico 28
antes dos 10 anos; ( ) 10 a 14 anos ( ) 15 a 19 anos ( ) 20 a 24 anos ( ) 25 a 29 anos ( )
O Gráfico 27 e 28 indicam o comportamento perante o consumo de bebidas
alcoólicas por parte dos jovens. A metade dos que responderam à pergunta sobre se
costumam beber bebida alcoólica (Gráfico 27) o fizeram de maneira afirmativa,
destacando-se que a idade de começo para essa prática se compreende entre os 15 e
os 19 anos (62,14 %). Por outro lado, 27,58 % dos respondentes manifestaram que
começaram a beber entre os 10 e os 14 anos. Valorizando dados de outras pesquisas
semelhantes, estes dados não representam um suposto “desvio” na prática
comumente desenvolvida pela faixa etária dos jovens aqui pesquisados. Os aspectos
lúdicos da vida juvenil supõem o consumo moderado de álcool, e isso não se deve
entender como algo próprio de “problemas” sociais.
47
Gráfico 29
sim ( ) não ( )
Gráfico 30
antes dos 10 anos ( ) 10 a 14 anos ( ) 15 a 19 anos ( ) 20 a 24 anos ( ) 25 a 29 anos ( )
48
Gráfico 31
sim ( ) não ( )
Sabe-se que o contato com as denominadas “drogas ilícitas” é muito maior entre a
população jovem atual se comparado há algumas décadas atrás. No Gráfico 29 se
evidencia que 19,50 % dos jovens já experimentaram alguma vez maconha. Não há
dúvidas de que as cifras indicam um ingresso tímido nessa prática social por parte
dos jovens. Assim, entende-se que não parece apresentar-se como uma prática que
possa se comparar, quantitativamente falando, com a que acompanha o consumo de
álcool. O Gráfico 30 nos demonstra, assim mesmo, que entre os que
experimentaram maconha, a grande maioria o fizeram pela primeira vez entre os 15
e os 19 anos. Interessante visualizar que mais de 20 % se iniciaram nessa prática
entre os 10 e os 14 anos, manifestando-se certa precocidade, em absoluto alarmante.
Só interessa esse dado como diagnóstico para desenvolver estratégias de pesquisa
que procurem compreender a razão dessa precocidade. Finalmente, o Gráfico 31
ilustra, quantitativamente, a porcentagem de jovens que tiveram contato direto com
drogas pesadas, como a cocaína e o crack. Obviamente, do ponto de vista do
diagnóstico, deve-se desligar as características implícitas nas práticas sociais que
representam experimentar e consumir cocaína ou crack. Este última vem sendo
associada a estigmas que vão desde a associação com o delito e a violência, até à
doença ou “um mal social”. 6,4 % dos jovens, e na sua maioria homens entre os 18
e os 20 anos, manifestaram que já experimentaram cocaína ou crack, sendo uma
49
ampla maioria, 90,30 %, os jovens que responderam negativamente. Reitera-se a
sentença que se realizou perante os dados sobre o consumo de álcool e de maconha:
não se apresentam dados que admitam a necessidade de políticas ou estratégias
concretas para inibir eventuais problemas surgidos por estas práticas sociais.
Gráfico 32
a. porque estão doentes ( ) b. porque traz satisfação momentânea ( ) c. porque o meio social em que vivem os obriga ( ) d. porque são delinqüentes ( ) e. porque querem “se exibir”/ “ser diferentes” ( ) f. porque são rebeldes ( )
O Gráfico 32 traz elementos interessantes para a reflexão. A ampla maioria dos
entrevistados escolheram a alternativa que associa o consumo de “drogas” à
satisfação pessoal, relegando alternativas que a associariam à delinqüencia ou à
“doença”. 63,59 % admitiram que aqueles jovens que consomem “drogas” o fazem
porque “traz satisfação”, 21,19 % porque querem “se exibir”, enquanto 15,22 %
porque o “meio social os obriga”. Fatores meramente subjetivos são considerados
como relevantes no momento de interpretar a razão pela qual os jovens realizam
essa prática social. A representação social que associa os aspectos lúdicos, próprios
do universo juvenil, com o consumo de drogas se torna visível nas respostas dadas
pelos entrevistados.
50
Gráfico 33
sim – bastante ( ) não é pra tanto ( ) menos que em outras cidades ( )
O Gráfico 33 aborda, também, as representações dadas ao consumo de drogas; nesta
oportunidade associado ao espaço geográfico e ambiente social do município. Para
uma ampla maioria, 68,83 % dos jovens, no município se consomem “bastante”
drogas, enquanto mais de um 30 % consideram que o tema não é tão relevante.
Veja-se que para uma ampla maioria (ver Gráficos 29, 30 e 31) a experiência do
consumo de maconha, cocaína ou crack não é significativa, enquanto logo,
instigados pelo tema associado ao município, manifestam que o consumo “sim é
bastante”. Aqui se percebe uma dissociação entre auto-percepção e percepção das
relações imediatas e intersubjetivas com relação ao tema das drogas e a circulação
que adquire nos meios massivos de informação, nos próprios “boatos” e no senso
comum. Sendo assim, resta identificar o porquê dessa percepção e as consequentes
implicações sociais e culturais. Interessante destacar que aqueles jovens que
majoritariamente manifestaram que existe bastante consumo de drogas no
município são mulheres de entre 18 e 20 anos de idade.
51
Gráfico 34
a. sim ( ) b. não ( )
Inserir o tema do consumo de maconha na agenda de políticas sobre direitos de
cidadania é um grande desafio atual. Daí que a pergunta sobre a sua eventual
legalização resulta interessante. Tanto é assim, que o universo juvenil atual tende a
minimizar o tema do consumo de maconha com inerente ao mundo do delito e a
delinqüência, associando-o a simples fatores de escolhas individuais e a motivações
subjetivas. Embora a maioria, 60,10 % das respostas, manifestou que não acham
que legalizando o consumo de maconha poderia evitar problemas sociais,
significativo é destacar que 39,9 % manifestaram que, efetivamente, a legalização
poderia inibir uma série de problemas da vida social. Virada interessante, no que os
jovens acreditam que na esfera da vida institucional reside a possibilidade de que a
própria sociedade decida sobre o tema e, fundamentalmente, regulamente esse tipo
de prática social.
52
Trabalho
Gráfico 35
(Marque apenas uma opção.)
exploração ( ) auto-realização ( ) independência ( ) crescimento pessoal ( ) necessidade ( )
Gráfico 36
(Marque apenas uma opção.)
53
a. falta de capacitação ( ) b. timidez ( ) c. acesso ao local de trabalho ( ) d. idade ( ) e. falta de experiência ( ) f. incompreensão ( )
Gráfico 37
(Marque apenas uma opção) a- boa presença ( ) b- formação profissional/educação ( ) c- bons contatos profissionais ( ) d- ter quem indique ( ) e- competência/saber trabalhar ( )
Os Gráficos 35, 36 e 37 se referem ao mundo do trabalho. Tal qual se aprecia no
Gráfico 35, 43,90 % dos entrevistados pensam que o trabalho é assimilável com o
“crescimento pessoal” e 26,86 % acham que o trabalho se associa à
“independência” pessoal, sendo duas das alternativas mais escolhidas pelos
entrevistados. Tanto o crescimento pessoal como a independência são percepções
sobre o trabalho que traduzem os interesses práticos que os jovens lhe atribuem. O
trabalho parece adquirir sentidos inerentes aos processos de individualização e um
fator determinante na constituição subjetiva da identidade. Entre aqueles que
escolheram estas alternativas, a maioria são mulheres entre os 21 até os 24 anos de
54
idade. O Gráfico 36 faz referência às percepções acerca das dificuldades para
ingressar no mercado de trabalho. A “falta de experiência” e a “falta de
capacitação” foram as alternativas majoritariamente escolhidas pelos jovens. As
duas alternativas chamam a atenção para a centralidade que adquirem tanto as
possibilidades de acessar o primeiro emprego (e assim possibilitar experiência
laboral) como a possibilidade da capacitação laboral para poder ser “competitivos”
na dinâmica do mundo do trabalho e o emprego na atualidade. Finalmente, o
Gráfico 37 desenha o que os jovens advertem como aquilo que outorgaria o “capital
simbólico” necessário para o êxito no mercado de trabalho. A dimensão subjetiva
que assume o “saber trabalhar” como sendo associado com a competência
profissional é destacável. Foram os jovens entre os 15 e os 17 anos os que mais
escolheram ambas alternativas.
Cultura e Lazer
Gráfico 38
(marque até 3 opções de resposta)
estudar ( ) namorar ( ) ouvir música ( ) ler um livro ( ) assistir à televisão ( ) encontrar amigos ( )
55
ajudar em tarefas de casa ( ) tocar instrumentos ou cantar ( ) praticar esportes ( ) jogar no computador ou usar internet ( ) falar ao telefone ( ) ir ao bar com amigos/as ( ) ir dançar ( ) ir a igreja ( )
Gráfico 39
(Marque até 3 respostas)
estudar ( ) namorar ( ) ouvir música ( ) ler um livro ( ) assistir à televisão ( ) encontrar amigos ( ) ajudar em tarefas de casa ( ) tocar instrumentos ou cantar ( ) praticar esportes ( ) jogar no computador ou usar internet ( ) falar ao telefone ( ) ir ao bar com amigos/as ( ) ir dançar ( ) ir a igreja ( )
56
Interrogados sobre as atividades culturais e de lazer, os jovens responderam que,
durante os dias da semana (Gráfico 38), o que mais fazem é estudar (69,70 %),
sendo os jovens entre os 10 e os 17 anos os que majoritariamente escolheram dita
alternativa. Posteriormente, no Gráfico 39 se manifesta que “namorar” tem sido a
alternativa mais escolhida nas atividades que se realizam nos finais de semana (35
%). Encontrar amigos (14,93 %), ouvir música (12,90 %) e assistir TV (12,78 %)
também se encontram como atividades mencionadas pelo jovens. No mesmo
gráfico sugere-se observar indicadores em cor vermelha como sendo aquelas
atividades menos escolhidas e, consequentemente, menos valorizadas para realizar
nos finais de semana (ler um livro, praticar esportes, ir à igreja, etc).
Gráfico 40
a. não faço parte ou não sinto simpatia por nenhuma ( ) b. sim ( ) Qual? patricinha/mauricinho ( ) pagodeiro/a ( ) sertanejo/a ( ) emo/gótico/a ( ) punk ( ) rockero/a ( ) funkeiro/a ( ) skateiro/a ( ) rapper/hip-hop ( ) outra ( ) Qual?
57
O Gráfico 40 descreve uma das características das sociabilidades destes jovens
pesquisados. 68,10 % dizem não fazer parte nem sentir simpatia por nenhuma
“tribo” urbana, o que representa considerar que, para uma grande maioria dos
jovens, os processos de individualização social e a concomitante construção das
identidades se materializam instituindo à individualidade (de escolhas, reflexiva,
estratégica, prática) no centro das preocupações. De todas as maneiras, 31,90 %
manifestaram que sim pertenciam ou simpatizavam por alguma “tribo” urbana,
destacando-se “pagodeiro/a” e “patricinha/mauricinho”. Em certo sentido, estas
escolhas não significam que a “sociabilidade neo-tribal” tenha sido detectavel entre
os entrevistados, já que não se podem considerar, tais escolhas, como próprias de
“tribos urbanas” reconhecidas como tais. Trata-se de meros critérios estéticos e de
gostos musicais, num caso, e de demarcação de estilos e moda (e de status
demarcador), no outro. Sendo assim, os jovens responderam negativamente perante
uma escolha que os identificava como “integrados” a coletivos mais amplos que a
que se desenvolve, propriamente, na não simpatia ou pertença em tribos urbanas e
juvenis. Assiste-se, entao, a um ar “individualizante” nas sociabilidades dos jovens,
sob critérios em que as supostas “simpatias estéticas” ou políticas são nomades ou
mutáveis o suficiente como para não admitir a “permanencia” identificadora de uma
sociabilidade menos restringida aos limites do próprio jovem e da sua vivência
particular.
Gráfico 41
58
campo de futebol ( ) quadra de esportes ( ) parques ( ) teatro ( ) danceteria ( ) “postinho” de gasolina ( ) clubes sociais e esportivos ( ) lan house ( ) rua ( ) outra ( ) Qual?
Dentro das opções de lazer existentes em Esteio (Gráfico 41), a maioria dos jovens
escolheram o “postinho” de gasolina (21,08 %). Imediatamente, 19,38 %
escolheram que o campo de futebol é outra das opções de lazer no município.
Parques e quadras de esportes também foram destacados. Perante isso, destacam-se
duas questões. Primeiramente, que a ausência de espaços livres “legítimos” para a
vida juvenil faz que no gesto de ocupação dos “postinhos” de gasolina sejam
resemantizados novos espaços de sociabilidade e diversão juvenil, tendência que
também prolifera em outras cidades. Em segundo lugar, que as danceterias e as
“lan-house” foram minimamente selecionadas. Se advertimos, na descrição do
universo juvenil, sobre a importância atribuida às TICs (teconologías de informação
e comunicação), trata-se de uma percepção dos jovens acerca dos poucos espaços
para desenvolver sociabilidades ligadas “à conectividade”.
Gráfico 42
59
não faltam opções ( ) sim faltam ( )
Questionados sobre se faltam opções de lazer em Esteio, uma ampla maioria dos
jovens (74,16 %) afirmam que “não faltam opções”, e tão só 25,84 % que “sim
faltam”. Dos que indicam esto último, realizam-se tímidas menções à falta de
atividades culturais (shows de música, cinema, teatro).
Gráfico 43
( )sim ( )não
Como era previsível, e como se percebe no gráfico 43, uma ampla maioria (86,12
%) dos jovens respondeu que estão no “Orkut” ou no “Facebook”, ou em alguma
outra rede de contatos. Reitera-se a sentença de que o espaço virtual da internet é
um âmbito sociocultural onde se desenvolvem diversas sociabilidades e interações
intersubjetivas.
60
Gráfico 44
sim ( ) não ( )
A “produção visual do corpo” por parte dos jovens tem sido bem demonstrada no
gráfico 44. 50,16 % dos jovens entrevistados manifestaram que fizeram tatuagem
ou colocaram um piercing no seu corpo. Nessa porcentagem, a maioria eram
homens entre 15 e 17 anos. Percebe-se, dessa maneira, como a “apresentação do
eu” está associada a práticas em que o imaginário visual dos jovens é fundamental.
Relacionado a isso, trata-se de uma prática social que representa a capacidade de
“agência” dos jovens, de escolhas e de ação individual, em consonância com os
critérios estéticos do universo juvenil globalizado. O corpo se associa à capacidade
de expressão individual e de participação social de imaginários estéticos juvenis em
que a “marca” e o “sinal” se transformam em linguagem identitária importante.
Resta seguir analisando as razões pelas quais nos jovens atuais o corpo adquire um
grau de significância tão alto como forma de produção de identidade.
61
Percepção da educação/escola.
Gráfico 45
(marque até 3 opções de resposta)
para fazer amigos ( ) não é importante ( ) é pouco importante ( ) para conseguir um bom trabalho ( ) para o futuro profissional ( ) para entender a realidade ( ) para se dar bem na vida ( ) porque assim não estou na rua ( )
Gráfico 46
muito ( )
62
pouco ( ) nada ( )
Gráfico 47
(marque até 3 opções de resposta)
a estrutura da escola, quadras, mais salas, computadores ( ) professores mais qualificados ( ) professores mais motivados ( ) maior e melhor dialogo com os professores ( ) mais atividades no turno inverso à escola ( ) mais segurança ( ) outra ( ) Qual? não precisa melhorar ( ) Os Gráficos 45, 46 e 47 se referem à percepção que os jovens tem da escola e da
educação em geral. Perante a pergunta “para que é importante o que você aprende
ou vive na escola” (Gráfico 45), a maioria dos jovens escolheu as opções “para
conseguir um bom trabalho” (44,68 %) e “para fazer amigos” (41,14 %). Há um
interesse prático concreto em associar educação com emprego, e as possibilidades
de “poder se dar bem” se a escola é levada a sério. Nesse sentido, pareceria que nos
jovens “ainda” persiste a idéia de que a escola (e a educação) são fatores potenciais
de “mobilidade social” e de “ascensão social”, legitimando a escola como
instituição “ainda” socializadora. Pelo menos, assim pode funcionar no imaginário
coletivo dos jovens atuais, na medida em que a passagem para o mercado de
trabalho exigiria atravessar a ponte da educação formal. Mas também a escola é um
“local de sociabilidade”, talvez o local por excelência dos encontros entre iguais e o
63
desenvolvimento de relações intersubjetivas intensas. Assim, na percepção dos
jovens, a escola não só está ligada com uma instituição voltada para fins educativos,
mas também como um local de interações privilegiado. Sugere-se, dessa maneira,
que as autoridades atuantes no âmbito educacional “explorem” ao máximo esta
percepção “positiva” da escola enquanto “local de sociabilidade”, na medida em
que possibilita uma aproximação mais intensa entre as políticas educativas e
culturais com a população jovem do município. O Gráfico 46 revela uma crítica
direta à escola entendida como instituição associada, estritamente, ao âmbito da
educação. A pergunta relacionada à capacidade da escola compreender ou entender
os jovens, 59,03 % admitem que “pouco” e 16,41 % afirmam que “nada”. Somando
estas respostas, temos que as ¾ partes dos entrevistados manifestam certa
desconformidade com a escola. Isto não reflete “distúrbios” nos planos de ensino,
nas capacidades enquanto docentes dos profissionais da educação nem de
“ausências” pedagógicas concretas. Talvez demonstre “carências” nas capacidades
de relacionamentos entre o universo adulto (professores) e o juvenil. Ser
“entendido” pela escola, neste caso, significa poder interagir de forma saudável por
um universo adulto que materializa a instituição no seu conjunto. De todas as
maneiras, a mencionada “desconformidade” se apresenta “difusa”, tênue, carente de
exigências pontuais. Isso fica evidente no Gráfico 47, quando 49, 37 % dos jovens,
instigados a responder sobre o que precisaria melhorar a escola, escolhem a opção
“não precisa melhorar”. Qual o significado da percepção dos jovens de uma
instituição que admitem não poder “entendê-los” e que, simultaneamente,
manifestam que “não precisa melhorar”? Resta refletir ao respeito. Não obstante,
32,36 % afirmam que a escola poderia melhorar com uma melhor infra-estrutura
(mais salas, computadores, quadras de esportes). Considerar que, tão só, 18,27 %
dos jovens sugerem “professores mais qualificados”, resultado importante para
poder determinar que supostos “problemas” na escola não dependem, diretamente,
da atuação dos docentes e das suas aulas em concreto.
64
Violência.
Gráfico 48
não ( ) sim ( ) Por quê? por ser jovem ( ) por questões raciais ( ) pela aparência ( ) por características corporais ( ) pela situação socioeconômica ( ) pela opção sexual ( ) por morar em determinado bairro ( )
Gráfico 49
65
não ( ) sim ( ) Qual? roubo ( ) briga na rua ( ) homicídio ( ) violência em casa ou vizinhos ( ) discriminação (sexual, racial, religiosa, etc.) ( )
Gráfico 50
sim ( ) não ( )
Gráfico 51
não ( ) sim ( )
66
Interrogados por um dos temas mais significativos da atualidade, a violência, os
jovens demonstraram fazer parte de um “clima” social que, por momentos, deixa
em evidência algumas contradições nas maneiras de percebê-la e representâ-la. O
Gráfico 48 não deixa dúvidas de que a discriminação social não se apresenta com
clareza alarmante. Só 25,54 % dos jovens manifestam que sim têm sofrido algum
tipo de discriminação. Os que mais escolheram essa alternativa são aqueles jovens
entre os 10 e os 14 anos, e admitem que as razões se correspondem com uma
discriminação do tipo socioeconômica. Será que os jovens de 15 anos ou mais têm
“internalizado” e “naturalizado” dispositivos discriminadores e, por tal motivo, não
admitem discriminação social? Concretamente, ao se falar da violência no
município (Gráfico 49), 67,18 % dos entrevistados afirmam que não presenciaram
atos de violência em Esteio, e entre os que sim presenciaram (32,82 %), sustentam
que são o roubo e as brigas nas ruas os mais visíveis. Em definitivo, os jovens, na
sua maioria, não presenciaram diretamente atos de violência em Esteio. Da mesma
forma (Gráfico 50), 63,23 % não foram assaltados, e responderam afirmativamente
36,77 % dos jovens entrevistados. Assim, em linhas gerais, um de cada três jovens
afirma ter sido assaltado no municipio. O Gráfico 51 mede a “sensação de
insegurança” que os jovens percebem no seu cotidiano. Não se consideram seguros
em Esteio 77,07 % dos entrevistados, porcentagem significativamente alta. Apenas
o 22,93 % percebem a cidade de Esteio como uma cidade segura. Mas isto não deve
nos confundir ou provocar reflexões apressadas. Perceba-se que a maioria dos
jovens não presenciaram, diretamente, atos de violência, bem como não foram
assaltados, mas admitem de maneira clara que a cidade de Esteio não é segura. A
noção de insegurança pareceria se entender como uma disseminação da própria
“sensação de insegurança” e não tanto pela experiência direta com ela. Pareceria
que a violência urbana ingressa, facilmente, ao universo das especulações associada
ao impacto simbólico que tem uma vida jovem “limitada” pela violência que a
mídia exibe cotidianamente. Dessa maneira, o importante é considerar como os
jovens se sentem “limitados” nas suas capacidades de circulação pela cidade em
função de um “clima” social generalizado de insegurança e potencial violência.
67
Gráfico 52
não ( ) sim ( )
Gráfico 53
(até 3 opções de resposta)
a intolerância ( ) o consumo de álcool ( ) a facilidade de ter acesso a armas ( ) a pobreza ( ) o crescimento da delinqüência ( ) a exibição de violência na televisão ( ) programas de televisão do tipo
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“Brasil Urgente” ou “Balanço Geral” ( ) o consumo de drogas ( ) a falta de policiamento ( ) a falta de respeito ( ) a competição pela sobrevivência ( )
O gráfico 52 demonstra como a violência pode ser uma prática social também
presente no âmbito da vida privada e doméstica. Embora a maioria dos
entrevistados (69,60 %) afirma que não houve atos de violência em casa, 30,40 %
dizem que já houve violência, principalmente através do que entendem como
“brigas” e “discussões”. Perguntados sobre os fatores que estariam incentivando a
violência na sociedade, o consumo de álcool (36,55 %) e a facilidade de ter acesso a
armas (26,23 %) se apresentam como as respostas mais evidentes. Percebe-se como
o binômio álcool e arma de fogo se institui na principal causa que detona a
violência urbana e, obviamente, o que pode representar a violência em casa
(principalmente quando o álcool se faz presente).
Gráfico 54
sim – sou a favor do desarmamento ( ) não – sou contra o desarmamento ( )
Já no Gráfico anterior (Gráfico 53) se podia perceber como os jovens atribuem à
facilidade de acesso a armas um fator determinante na expressividade da violência
69
cotidiana. Este gráfico 54 permite, de fato, consolidar a ideia que os jovens têm com
relação a uma sociedade que “tolera” a posse de armas de fogo como mecanismo de
autodefesa. Perante a pergunta chave sobre uma eventual “política de
desarmamento”, 62,50 % dos entrevistados se mostraram estar a favor, enquanto
37,50 % contra. Dos entrevistados que responderam afirmativamente ao
desarmamento a maioria são mulheres entre os 10 e os 17 anos. Alguns anos após o
plebiscito que deixou sem efeito uma “política de desarmamento”, os jovens atuais
parecem aderir à idéia sob a base de associar arma de fogo à violência urbana.
Gráfico 55
não – deve continuar como está ( ) sim ( ) Deveria diminuir até os: 16 anos ( ) 14 anos ( ) 12 anos ( )
O Gráfico 55 evidencia como se percebe uma eventual diminuição da idade de
imputabilidade entre os jovens. Uma clara minoria considera que não deveria se
diminuir a idade mínima para a punição de delitos (23,70 %), enquanto o resto,
quase 80 % manifestam que sim se deveria diminuir. A maioria destes últimos
(53,19 %) escolheu a alternativa que indica a diminuição da idade até os 16 anos. A
maioria que indicam não estar de acordo com a diminuição (23,70 %) são os jovens
homens com idade entre os 15 e os 17 anos, expressando o seu descontentamento
70
com, talvez, ver-se na faixa etária passível de punição penal por delitos. Foram as
mulheres entre os 15 e os 17 anos as que se manifestaram a favor da diminuição até
os 16 anos de idade. Em definitivo, toda a campanha que algumas forças políticas e
a própria mídia desenvolve com relação a este tema parece ter dado seu efeito na
população mais jovem do município. Tal qual organizações de direitos humanos
nacionais e internacionais, além de juristas e organizações dedicadas ao cuidado dos
direitos da criança e da adolescência têm abordado o tema com certa preocupação, e
fundamentalmente quando a percepção generalizada do jovem indica o desejo pela
diminuição da idade de imputabilidade. Resta compreender o fenômeno na sua
complexidade e, fundamentalmente, procurar, criticamente, gerarem-se espaços
para a discussão sobre o tema nas escolas e espaços públicos, chamando a atenção
para as suas implicações na violação dos direitos humanos e, em especial, para os
direitos dos jovens.
REFLEXÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS: POR UMA AGENDA DE POLÍTICAS PARA A JUVENTUDE. Uma atitude proativa que conduza a realizar reflexões sobre a situação sociocultural
dos jovens de Esteio traz consigo a possibilidade de enfatizar certas iniciativas que,
desde o poder público, poderiam ser projetadas e colocadas em prática no futuro
imediato. Obviamente, isto depende da vontade política e da capacidade de
mobilizar recursos técnicos e humanos e, principalmente, da capacidade por realizar
agendas políticas amplas e plurais conjuntamente com os próprios jovens. Apesar
de se difundir a idéia de que os jovens contemporâneos parecem ausentes no espaço
público e político, e a indiferença e o recuo para o âmbito do privado manifestar-se
de maneira generalizada, resulta imprescindível realização de uma busca daqueles
espaços que, efetivamente, têm ocupado e colonizado o universo juvenil, as suas
dinâmicas de comunicação, seus interesses práticos, as suas definições sobre uma
convivência social justa e as perspectivas desenhadas com base a preocupações
típicas da experiência do “ser jovem”. Apressados, alguns atores políticos tendem a
negligenciar práticas sociais que, ao não evidenciar um comportamento político
tradicional e esperado (ou desejado), terminam “transparecendo” o que,
concretamente, o jovem pensa sobre a vida em sociedade e sobre si mesmo.
71
No Diagnóstico, os jovens parecem indicar uma agenda de preocupações concretas
com a convivência coletiva desde uma perspectiva individual. À retórica
“coletivista” imaginada em tempos passados, substitui-lhe um processo de
individualização social crescente, na medida em que as práticas cotidianas
enfatizam olhares particulares sobre o mundo e alternativas à mudança desde um
viés que institui o individuo como entidade básica da vida em sociedade. Isto se
relaciona com a importância que se atribui a refletir sobre a necessidade de olhar
“dramas” sociais a partir da importância da responsabilidade individual, sem
receitas pré-fabricadas e elaboração de demandas vinculadas a atores sociais e
políticos institucionalizados. Há uma maneira de “ser jovem” percebida como auto-
responsável por seu destino individual, percebendo a possibilidade de padecer
riscos físicos e se sentirem inseguros perante “o que virá”. Esta realidade tem
determinado posicionamentos acerca das melhores maneiras de uma convivência
coletiva, imaginários coletivos que herdaram as conquistas obtidas por movimentos
sociais de décadas atrás. Estes jovens vivem “após” a liberação de todos os
discursos acerca da libertação feminina, da libertação dos jovens, dos movimentos
anti-racistas e pacifistas e dos avanços sociais ligados à possibilidade de escolhas
sobre práticas sexuais, estéticas e culturais. Estes jovens são os que têm se
socializado, fundamentalmente, sob o império da imagem como linguagem, das
redes sociais virtuais como espaços de sociabilidade e os avanços técnicos da
informática. Vivem menos na rua que os jovens de 10 anos atrás, mas
redimensionam o espaço público como inerente a uma sociabilidade urbana que
ainda persiste como importante e fundamental na experiência do “ser jovem”.
A individualização referida se relaciona à capacidade de participar de diversos
“círculos sociais”, aderindo a grupos de forma flexível, assim como à maneira de
querer apresentar “o corpo” (nas tatuagens, piercing, etc.) como escolha individual,
mas sem esquecer-se que se trata de uma linguagem que procura a comunicação
com o outro desde um “eu” que reflexiona, escolhe e deseja se expressar. Também,
de certa maneira, quando a religiosidade, enquanto experiência que sugere um
coletivo de pessoas, não se manifesta como algo tão central no cotidiano dos jovens.
Por exemplo, um interessante dado é aquele que nos indica como as mulheres
jovens entre os 10 e os 14 anos demonstraram um alto grau de responsabilização
72
por seus atos e um concomitante esforço reflexivo perante temas ligados à
educação, trabalho e os problemas sociais mais diversos. O cuidado do corpo, o
respeito às diferenças e a “conscientização” de uma vida individual e social sob
riscos contínuos faz deste grupo de jovens mulheres se destacarem no universo
juvenil.
No geral, o Diagnóstico demonstrou como os jovens se sentem preocupados com
temas como o emprego, a educação, a violência, as drogas, as armas de fogo, o
consumo de álcool, dando a entender que a vida coletiva não está esvaziada de
compromissos coletivos que se devem assumir. Nesse sentido, a família parece,
ainda, ser uma instituição importante, embora não como recurso ético ou de códigos
morais que lhe podem ser próprios, mas sim como espaço de relações afetivas e de
confiança mútua, e como receptáculo de valores sólidos num mundo tão “líquido”,
mutável e incerto. Mas há elementos políticos (ou potencialmente políticos)
interessantes neste perfil juvenil diagnosticado. Temas relacionados a uma nova
agenda política se tornam evidentes. Assim o demonstra o posicionamento perante a
violência e, em especial, a crítica a uma sociedade com facilidades ao acesso de
armas de fogo. Também o posicionamento perante o consumo de maconha, sendo
um número significativo de jovens que parecem “desmistificar” nesta prática uma
arbitrária associação com a violência e o delito. Estes exemplos, assim como outros
encontrados neste diagnóstico, traduzem uma politização interessante nestes jovens,
mais motivados por tornar o seu cotidiano livre de preconceitos e tolerante. O
Diagnóstico tornou possível visualizar como estes jovens valorizam a sua
capacidade individual e coletiva, mas sempre autônoma, de ação, aspirando
transformar suas metas em resultados práticos.
Sabemos das distâncias entre os problemas e as políticas públicas, mas deve-se
reconhecer que nos últimos anos se avançou consideravelmente, e que hoje existe
um melhor posicionamento dos jovens no espaço público e nos programas políticos
institucionais. As diferentes preocupações de governos locais e nacionais
demonstram vocação real pelos temas ligados à juventude por parte das instituições
do Estado. Não obstante, o status político-institucional e de poder é ainda
insuficiente para poder dar conta dos desafios contemporâneos. Estruturas
administrativas especificas, como secretarias ou diferentes formas de organização
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administrativa, não estão o suficientemente legitimadas, precisando de espaços
concretos na órbita dos poderes locais e nacionais. Nisso devemos estar: num
fortalecimento e potencialização da política e da institucionalidade estatal juvenil.
Para isso, é necessário impulsionar políticas municipais para a juventude, dotadas
de recursos financeiros e recursos humanos, orientadas em função do
desenvolvimento humano dos jovens e, fundamentalmente, de suas capacidades de
ação cidadã. Políticas para a juventude que não devem estar orientadas à simples
satisfação de demandas e à incorporação de lideranças momentâneas nas estruturas
administrativas do município. Devem-se, sim, acompanhar uma agenda de
temáticas que “emergem” das próprias preocupações e sociabilidades dos jovens,
dando forma e vazão através de canais institucionais o menos viciados de
compromissos políticos. Em definitivo, o desafio é promover “capacidade de ação”
dos jovens, interpretando aquilo que pode ser definido como político através de
conteúdos que, em aparência, não parecem sê-lo.
São três os eixos temáticos substantivos articuladores de uma política para a
juventude no município. Em primeiro lugar, uma universalização e expansão das
capacidades informacionais e comunicacionais entre os jovens. Ficou evidente
como as TICs são importantes no cotidiano dos jovens, podendo converter-se em
protagonistas de processos de capacitação e expansão educativa que trariam como
benefício o acesso a ferramentas importantes para a igualdade de oportunidades. Ao
mesmo tempo, o acesso às TICs pode facilitar processos de participação dos jovens,
tanto na sociedade civil como nas instituições de representação formal. Podem-se
utilizar como mecanismo de comunicação entre as autoridades municipais e a
população jovem e, fundamentalmente, podem ser um canal privilegiado para
gerarem-se eventos culturais que usem as TICs como objeto principal. Para os
jovens, a cidadania passa, irremediavelmente, pela linguagem e a comunicação nas
tecnologias de informação. Em segundo lugar, deve-se tentar buscar uma melhor
articulação entre educação e emprego. Percebeu-se como este binômio está
associado às principais preocupações dos jovens de Esteio, e que educação e
emprego estão indissoluvelmente ligados à construção subjetiva e identitárias dos
jovens. Deve-se ter em conta que a escola atravessa por críticas muito difusas entre
os jovens, mas que é ela a que mais adquire valor na medida em que estes mesmo
jovens admitem que a educação ainda conserva o status de principal agente
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socializador portador de eventual mobilidade social e ascensão social. E terceiro
lugar, deve-se procurar fortalecer uma cidadania ativa que articule interesse na
ordem do reconhecimento intersubjetivo, a participação e a distribuição. Por
reconhecimento intersubjetivo se entende a capacidade de mobilizar junto aos
jovens o respeito às diferenças individuais e culturais, numa ampla agenda política
de pluralidade cultural. Por participação se entende a capacidade por gerar
possibilidades efetivas de poder participar dos próprios programas a serem
impulsionados para os jovens. Finalmente, por distribuição se compreende o amplo
desejo dos jovens poder ter acesso aquelas ferramentas ou espaços sociais que
permitam a igualdade de oportunidades vitais. Resta depositar nas autoridades
públicas a confiança por desenhar políticas para a juventude acorde ao que eles
mesmos vivenciam dia após dia, livre de receitas deterministas e envasamentos
ideológicos restritivos.